Afinal, quem é este tal de adolescente?

July 11, 2017 | Autor: Juliana Soares | Categoria: Education, Educación, Psicología, Psicologia
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QUEM SOMOS: O grupo de pesquisa PROCESSOS DE CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO EM PRÁTICAS EDUCATIVAS – PROSPED se vincula ao Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Psicologia da PUC Campinas. Desenvolve estudos que buscam compreender os aspectos envolvidos no desenvolvimento e aprendizagem dos sujeitos, no caso, aqueles que participam de práticas educativas em escolas ou outras instituições. Para desenvolver seus estudos, o grupo realiza atividades de intervenção nesses contextos, buscando contribuir com seus profissionais para a compreensão e superação dos desafios que enfrentam. As sugestões que apresentamos nesse livreto resultam de nossas experiências com essas intervenções e pesquisas e visam a atender um dos seus propósitos: contribuir para a transformação dos espaços educativos em que atuamos. Se você gostar de nossas idéias, entre em contato: http://prospedpuc.blogspot.com.br/

Ilustração e Projeto Gráfico: Marcos Guilherme – Estúdio Figuras

Este projeto é financiado pelo CNPq Distribuição gratuita

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“Aborrecentes”, “rebeldes”, “alienados”, “desinteressados”, dentre outras expressões, são utilizadas com frequência para caracterizar jovens da faixa etária de 12 a 18 anos. Esse modo de se referir aos adolescentes revela que os adultos em geral e os educadores em especial veem esse período do desenvolvimento como conflituoso e, algumas vezes, se sentem impotentes para atingir o interesse desse grupo em aprender ou se envolver em atividades educativas. Nossa experiência com esse público, sobretudo nas escolas, permite oferecer contribuições para apoiar professores e gestores no trabalho com adolescentes.

Mudança de papéis e interesses: a construção da identidade adolescente Novos papéis na família, na escola, na relação com os amigos, mais responsabilidade, são algumas das exigências dirigidas ao adolescente, e tudo isso contribui para mudar a forma como ele próprio se vê. O jovem dispõe nessa idade de mais autonomia, independência, e modos para enfrentar desafios, do que na infância, por exemplo. Estes e outros fatores possibilitam ao adolescente buscar formas de se colocar no mundo e de atender aos seus interesses particulares. A tão famosa rebeldia, que é vista como marca registrada desse período, tem sua base nessas mudanças e também no fato de que nessa idade a identidade está sendo afirmada. Muitas vezes o adolescente nega, se opõe ao adulto, para se afirmar e este é um processo necessário 2

para seu desenvolvimento, ganhando maior importância a diferenciação, que se expressa em questionamentos, recusas, embates, discussões e debates. A saída da infância rumo à idade adulta é marcada pela perda dos interesses infantis e pela busca de novos interesses que são fruto tanto das mudanças corporais e da maturação sexual, quanto dos novos papéis que o adolescente assume na sociedade. Neste sentido, no trabalho pedagógico é importante que se leve em conta estes processos. Diante de tantas mudanças, oscilações e oposições, como lidar com este jovem em sala de aula? É frequente que tanto na escola como na família, esses adolescentes, por não aparentarem mais a fragilidade de uma criança, sejam cobrados a se comportarem como adultos. Ocorre que eles ainda não possuem os recursos necessários para agir e pensar como adultos, o que resulta de um processo de desenvolvimento que está em curso. Em geral, essa falta de sintonia entre o que os adultos demandam e o que os jovens respondem é que está na base dos conflitos envolvendo a relação com adolescentes. Trazemos a seguir algumas sugestões para ajudar na convivência e no processo de ensino e aprendizagem dos jovens:

O Pensamento Pesquisas atuais têm demonstrado que é preciso investir no diálogo com os alunos, de modo a acessar o que e como pensam esses jovens. É preciso entender seus interesses, suas inquietações, seus valores e crenças e, para tal, a velha e boa conversa é a melhor forma. Entretanto, nossa experiência demonstra que não é comum 3

os jovens quererem se expressar, falar sobre suas coisas com os adultos – eles conversam muito entre si, mas não incluem os adultos na conversa, sobretudo os educadores. Despertar o interesse dos jovens para ampliar o diálogo, envolvendo um grupo maior, incluindo os professores, é um dos grandes desafios da escola. Enfrentar esse desafio é fundamental se entendemos que a linguagem é um dos principais meios de promoção do acesso a novos conhecimentos e, a apropriação de conhecimentos, por sua vez, é o que promove o desenvolvimento das funções psicológicas superiores rumo a modos mais complexos e elaborados de pensar. Se considerarmos que o pensamento complexo é essencial para o aprendizado de conhecimentos abstratos, justamente a natureza dos conteúdos ensinados no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, então não é possível nos furtar, enquanto educadores, de buscar formas de estabelecer o diálogo como característica das práticas escolares. Pensamos algumas ações a serem adotadas pelos professores de modo a favorecer o estabelecimento do diálogo nas práticas escolares e do entendimento deste universo adolescente. Ao ensinar dado conteúdo, busque fazer relações com a vida prática dos alunos; provoque reflexões sobre o tema estudado abrindo espaço para explicarem o que entenderam da matéria e/ou exposição do ponto de vista do estudante. Outra sugestão é a realização de seminários por grupos de alunos sobre uma determinada temática que faça parte do cotidiano dos adolescentes, de modo a sentirem-se envolvidos com a aula. Enfim, temos certeza que vocês dispõem de muitas ideias para desenvolver atividades diferenciadas, o que 4

queremos por em relevo é a IMPORTÂNCIA DE FAZER OS JOVENS PENSAREM e a PERGUNTA é sempre algo que MOBILIZA O PENSAR. Mãos à obra professor: transforme sua aula, criando um espaço que mais questiona do que responde. Deste modo seus alunos terão de buscar pensamento e criatividade.

Arte e imaginação O ensino oferecido na escola, que se caracteriza como local em que a cognição e a reflexão são privilegiadas, exigindo do estudante que pense, reflita e preste atenção, enfim, que dedique tempo e esforço para se apropriar dos conhecimentos veiculados em sala de aula, poderia ganhar em qualidade por meio de estratégias e conhecimentos que demandam a imaginação dos jovens, fazendo-os perceber que podem acessar espaços e conhecimentos que estão muito além do que podem alcançar presencialmente. Enfim, fazê-los perceber que a mesma função que utilizam para operar um jogo de vídeo game, ou para compreender um filme ou música é a que utilizam para aprender um novo conhecimento: a imaginação. O pensamento por conceito, necessário para a apropriação de conhecimentos abstratos, tais como os que constam do currículo do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, só se desenvolve por meio da imaginação. Ou seja, para pensar de modo abstrato precisamos imaginar, visto que o objeto a se conhecer não é concreto e, muitas vezes, não observável. Pensemos, por exemplo, em um episódio da história do Brasil: só podemos 5

conhecer tal episódio por meio da narrativa de um historiador e só o aprendemos pela via da imaginação, imaginamos os fatos, fazemos ligações com elementos que já conhecemos, compreendemos suas relações com outros fatos históricos que também imaginamos e, então, retemos na memória. Ou seja, é possível dizer que SEM IMAGINAÇÃO NÃO HÁ APRENDIZADO POSSÍVEL, sobretudo de conceitos abstratos. Na adolescência a imaginação se apresenta como uma via rica de aprendizado e de expressão de emoções. Algumas pesquisas apontam que a imaginação é desenvolvida com base na realidade, ou seja, quanto mais o aluno conhecer e experimentar, maiores serão suas possibilidades para imaginar e criar. É preciso, então, ampliar as experiências desses alunos, oferecendo o contato com diferentes linguagens e formas de conhecer, como as de natureza artística, por exemplo. Na adolescência, uma forma de arte que pode despertar o interesse do aluno é a Literatura, em especial as narrativas envolvendo os mais diversos temas que rodeiam o universo dos adolescentes. A criação de um espaço na rotina das aulas para se contar e ouvir histórias tem sido algo que temos lançado mão em nossas intervenções e que envolvem muito os adolescentes. A partir de histórias que contamos eles começam a querer também contar as suas e, depois de algum tempo, a produzir histórias escritas. Pelas histórias inventadas pelos jovens temos acesso a seus sentimentos e desejos, identificando elementos como medo, ansiedade, expectativas com o futuro, etc. A partir delas torna-se possível conversar sobre esses temas, generalizando-os de modo a não fixá-los em relação a uma ou duas pessoas. 6

E é possível fazer isso por meio de filmes, de música, de outras histórias ou poesias, de imagens. Após apreciar essas formas artísticas é possível propor reflexões aos alunos por meio de perguntas diretas e objetivas, problematizando a questão. A contação de histórias pode ser utilizada em várias disciplinas, sendo necessário buscar narrativas que ofereçam elementos relacionados à matéria. Para isto, pode-se criar um momento diferenciado da rotina, que subverta o modo de organização das aulas, como por exemplo: afastar as cadeiras e mesas, formando um espaço livre no centro da sala, onde pode ser estendido um pano ou colchonetes e os alunos poderão sentar-se em círculo. Também, pode-se inserir uma música de fundo, cuja melodia remeta ao tema da história e realizar algumas modificações na sala, escurecendo-a. Estas são algumas sugestões que podem deixar o ambiente mais interessante para os alunos. Após a contação de histórias, os alunos podem ser convidados a tecer seus comentários e expressar suas opiniões. Também pode ser trabalhada a biografia do autor, ampliando ainda mais o universo cultural dos jovens. O movimento de estudo de biografias é algo que costuma interessar os adolescentes que estão em um momento de constituição da identidade de si. Assim, trabalhar com as biografias de outrem os instiga a trabalhar a própria biografia, o que se constitui em projeto riquíssimo, envolvendo várias disciplinas do currículo, como história, geografia, língua portuguesa e artes. A organização de um sarau é outra sugestão de atividade festiva e pedagógica que contempla a arte, a imaginação e o diálogo, mobiliza todo o grupo escolar e favorece o interesse dos adolescentes. O sarau, por seu caráter colaborativo, permite que os 7

alunos se envolvam com sua preparação e organização, assim como permite que exponham para a comunidade seus talentos em poesia, vídeo, artes plásticas, contação de histórias, música, dança, teatro, etc. Trazer a arte para a sala de aula e fazer com que transborde para a comunidade costuma ser muito significativo para todos os envolvidos: alunos, professorese comunidade. Sugerimos também inserir filmes no conteúdo da disciplina ou a partir de demandas levantadas pelos adolescentes e depois conversar com eles sobre a experiência, garantindo que todos tenham espaço para se expressar. Antes de exibir o filme, é interessante pesquisar quem é o diretor, o roteirista, os atores principais, que outros trabalhos estes profissionais realizaram, quais prêmios o filme ou seus profissionais já ganharam, etc., assim como apresentar uma resenha ou sinopse do material que será exibido. Essa pesquisa pode ser feita com uma rápida busca na internet. Após a exibição do filme, disponha as cadeiras em círculo de forma que todos possam se olhar durante a discussão. Podem ser direcionadas perguntas como “do que trata o filme?”, “qual foi a cena que vocês mais gostaram?” “qual não gostaram?”, “qual relação do filme com o tema que estamos tratando?”. Promover um espaço como este é garantir a possibilidade de os adolescentes se expressarem, elaborarem suas ideias e dialogarem entre si e também com o professor. Isso favorece o desenvolvimento de uma melhor comunicação, do diálogo, e ampliação do vocabulário, de elaboração de ideias e melhor relação de grupo. Estas dicas são um pontapé inicial para a reflexão e 8

possível mudança que podem ser ampliadas e reformuladas a partir da experiência e necessidade de cada professor. Mas não se esqueçam: OS ADOLESCENTES SÃO NOVATOS NO MUNDO E NÓS ADULTOS SOMOS MEDIADORES DE SUAS RELAÇÕES E APROPRIAÇÕES. Tratemos de nos abrir mais para acessar suas falas, seus anseios e buscar a adequação às novas condições que regem as relações sociais, assumindo nosso papel de promotores do desenvolvimento dos jovens. Estas dicas são sugestões para a reflexão e a possibilidade de mudança. E você, professor, pode contribuir. Escreva aqui em forma de depoimento uma experiência que deu certo e partilhe com seus colegas. Talvez alguém do seu grupo de trabalho goste de conhecê-lo e o ajude a pensar em novas práticas:

Maiores esclarecimentos ou sugestões podem ser encaminhadas para nosso e-mail: [email protected] ou encontradas no blog do grupo:

http://prospedpuc.blogspot.com.br ou em nossa página no Facebook:

https://www.facebook.com/pages/Sentidos-da-Arte/5700 82809755000?ref=bookmarks .

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