Algumas considerações sobre L. Iulius Reburrinus olisiponensis (CILA I 38) e sobre as lucernas “mineiras” com a marca L.I.R

Share Embed


Descrição do Produto

AQUILINO DELGADO DOMÍNGUEZ

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

145

Algumas considerações sobre L. Iulius Reburrinus olisiponensis (CILA I 38) e sobre as lucernas “mineiras” com a marca L.I.R José CARDIM RIBEIRO

1. ¿Uma só narrativa? ¿Ou duas diferentes histórias em paralelo?

1.1. ¿Uma só narrativa? Logo que foi publicado o epitáfio do olisiponensis L. Iulius Reburrinus, descoberto na área das minas romanas de Rio Tinto, tal indivíduo passou a ser assumidamente relacionado, por parte de quase todos os investigadores que entretanto a ele se referiram, com a produção das lucernas “mineiras” assinadas com a marca L.I.R, maioritariamente oriundas daquele mesmo complexo industrial e arqueológico (cfr., em primeiro lugar, Luzón/Ruíz, 1970, pp. 137-138). Deste modo e a partir de então o reconstruído percurso vivencial e profissional de L. Iulius Reburrinus e o fabrico e distribuição das referidas lucernas confundem-se e entrelaçam-se numa única e solidária narrativa. Assim pode acontecer – ou ter acontecido –, na verdade, aparentemente não havendo anacronismos ou contradições explícitas entre os vários elementos daquela equação e, aliás, prestando-se ainda a tal interpretação os dados estatístico-onomásticos deduzidos da epigrafia imperial até agora registada na província de Huelva confrontados com os antropónimos constitutivos dos trianomina pertencentes àquele olisiponense. 1.2. ¿Duas diferentes histórias em paralelo? Porém, todas as referidas coincidências e compatibilidades não obrigam afinal e por si só a sustentar sem alternativa esta estabelecida explicação dos factos. Nada obsta, na realidade, a que nos possamos antes encontrar perante duas diferentes histórias, embora – pelo menos parcialmente – paralelas no tempo e no espaço. 1.3. Actual impossibilidade de decisão… Mas, no actual estado dos nossos conhecimentos, é ainda impossível dirimir esta questão e decidir taxativamente por uma ou por outra alternativa, ou seja, pelo discurso único e comum ou pela dualidade e independência das narrativas. Situaremos pois este nosso estudo na incerta tensão entre ambas estas perspectivas, procurando antes do mais indexar e analisar tão exaustiva e livremente quanto nos for possível toda a informação disponível, aferindo-a e experimentando-a numa abordagem que de modo algum se pretende afirmar como definitiva mas, apenas, lúcida e sem preconceitos, conclusiva embora em certos aspectos mas intencionalmente aberta em muitos outros. 146

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

2. O túmulo e o epitáfio de L. Iulius Reburrinus 2.1. O túmulo 2.1.1. Condições de descoberta: de forma fortuita, na zona da necrópole de La Dehesa (povoado mineiro de Corta del Lago, Rio Tinto), ao abrir-se uma estrada em Abril de 1968 (Luzón, 1975, p. 299). 2.1.2. Estado de conservação: intacto (id., ib., loc. cit.). 2.1.3. Tipo: sepultura de incineração (Luzón/Ruíz, 1970, p. 137). 2.1.4. Descrição: «enterramiento de incineración rodeado de un muro de sillares y cubierto con un gran losa de pizarra perforada en el centro» (id., ib., loc. cit.) – nenhuma descrição mais exacta da sepultura, ou desenho ou fotografia, se encontram publicados. 2.1.5. Espólio: 2.1.5.1. «algunos fragmentos de una pieza de hierro muy oxidada» (id., ib., p. 138) – nenhuma descrição mais exacta desta peça, ou desenho ou fotografia, se encontram publicados; 2.1.5.2. atramentarium em “terra sigillata”, Forma 51 (id., ib., loc. cit.); localização: Museo Arqueológico Provincial de Huelva; 2.1.5.3. qualquer outro espólio não é descrito nem assinalado, porém tal não significa necessariamente que não possa porventura ter existido (atente-se ao cariz aleatório e cientificamente não acompanhado da descoberta).

2.1.6. Indicação epigráfica: presença de uma tabella em mármore com epitáfio (id., ib., loc. cit. e fig. 8).

2.2. O epitáfio (CILA I 38) [Fig. 1] 2.2.1. Suporte: tabella rectangular de mármore, não moldurada (alt. 35 cm x larg. 40 cm). 2.2.2. Inscrição/texto: D(iis) . M(anibus) . S(acrum) . / L(ucius) . IVLIVS . REB/VRRINVS . OLISIP(onensis) / AN(norum) . XLI . H(ic) . S(itus) . E(st) . S(it) . T(ibi) . T(erra) . L(evis) /5 FORTVNA.TA. . CON/TVBERN.A.LIS . F(aciendum) . C(uravit) . // 2.2.3. Inscrição/tradução: «Consagrado aos deuses Manes. Lucius Iulius Reburrinus olisiponense, de 41 anos, está aqui sepultado. Que a terra te seja leve! Fortunata, (sua) companheira, mandou fazer.».

147

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Fig. 1 - Epitáfio de L. Iulius Reburrinus ( foto in Hispania Epigraphica Online Database)

148

2.2.4. Datação (com base nos formulários e na paleografia): Séc. II d.C., lato sensu (Luzón/Ruíz, 1970, p. 137; Luzón, 1975, p. 300; CILA I, p. 92). Quanto a nós, todavia, supomos poderem-se evidenciar algumas especificidades paleográficas que permitem, de forma mais estrita, colocar esta epígrafe ainda nos inícios da referida centúria: p. ex., o B com a curvatura superior menor que a inferior (cfr. Gordon/Gordon, 1957, pp. 98 fig. 9.1, e 210); o largo D (cfr. id., ib., p. 101 fig. 10.1); o E, com as três barras de idêntico comprimento – cerca de metade do traço vertical – e a medial centrada (E da linha 2) ou, noutros casos (EE das linhas 4 e 6), com essa medial apenas um pouco mais curta que os restantes traços horizontais (cfr. id., ib., pp. 101-102 e 210); o M largo e simétrico (cfr. id., ib., pp. 106-107 e 210); os NN relativamente largos e com os traços 1 e 3 bem verticais (cfr. id., ib., pp. 107-109); os OO – sobretudo o de OLISIP – circulares, com eixo vertical e, por vezes, de módulo algo menor do que o das restantes letras, denotando pois a extemporânea sobrevivência ou a influência de formas arcaicas (cfr. id., ib., pp. 109 e 211); o P do nexo IP assaz aberto, embora não em demasia (cfr. id., ib., pp. 110 e 211); ou os RR abertos e cuja oblíqua se inicia a partir da extremidade inferior do traço 2 (cfr. id., ib., pp . 113-115 e 211). A regularidade da escrita, a proporcionalidade das letras e a cuidadosa ordinatio, assim como o recurso parcimonioso a traços horizontais ondeados – sobretudo visíveis no E da linha 2 e nos LL –, são ainda características gerais que, em conjunto, parecem confirmar,

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

no âmbito da epigrafia bética e para o presente tipo de suportes – tábulas não molduradas de modestas dimensões e de índole funerária –, uma efectiva precocidade dentro do séc. II d.C.1. 2.2.5. Localização: Museo Arqueológico Provincial de Huelva. 3. As lucernas “mineiras” com a marca L.I.R Não é impossível que em vários fundos museológicos, espanhóis e portugueses, permaneçam inéditas lucernas ostentando a marca L.I.R. Porém, aquelas que estão já publicadas, ou que de qualquer dos modos se encontram identificadas e acessíveis, perfazem no seu todo um conjunto suficientemente vasto e, em determinados aspectos, assaz diversificado e representativo para, a partir dele, se esboçar uma primeira abordagem contextual de tais peças e do seu possível enquadramento e significado histórico – embora, como é evidente, alguns campos de investigação e certas conclusões continuem em aberto. Enunciemos pois os dados concretos de que temos conhecimento: 3.1. Proveniência 3.1.1. Baetica:

3.1.1.1. Rio Tinto (Huelva), 46 exemplares [pelo menos2] (Luzón, 1967, pp. 140-144,

1  Moreno Jiménez (1990, p. 329) afirma que «junto (à lápide de Lucius Iulius Reburrinus) aparecierón una moneda de Antonino Pio y Marco Aurelio y dos Faustinas». Se esta referência estivesse correcta, apesar do modo lacónico e algo equívoco com que a autora se expressa tratar-se-ia sem dúvida do sestércio cunhado em 144 d.C. comemorativo da oficialização do noivado entre Marco Aurélio e Faustina filha que, no anverso, reúne efectivamente os dois casais imperiais, um em primeiro plano o outro em plano recuado (cfr. RIC III 601; e Mattingly, 1968, est. 28.8). Porém, mesmo considerando – numa primeira análise – seguro este testemunho de Moreno, não permanecia nítido se tal numisma pertenceria ao espólio da sepultura ou se, apenas, teria surgido avulso perto da mesma. Nesta última hipótese, poderíamos tão só concluir que túmulo/lápide e moeda representariam, de um modo geral, evidências do séc. II d.C. naquele local, sem que porém lográssemos obter maiores detalhes. Todavia, se na verdade o referido sestércio fizesse parte intrínseca da suppellex depositada junto aos restos mortais de Reburrinus, então teríamos aqui um evidente terminus post quem que nos obrigaria a atribuir esta incineração – e inerentemente o respectivo epitáfio – aos exactos meados daquela centúria, ou mesmo já à sua segunda metade. O problema é que Moreno, noutro passo da sua tese (p. 133), declara que para a datação das olarias de Rio Tinto se deverá «tener en cuenta las monedas encontradas con las lucernas» aí descobertas, moedas «en las que aparecen las figuras de Antonino Pio, Marco Aurelio y dos Faustinas». ¿Estaremos, pois, perante uma só moeda figurando em conjunto estes quatro personagens e associada – ou pelo menos próxima – ao túmulo de Lucius Iulius Reburrinus, como parecia ser adequado entender no contexto da primeira alusão, ou antes na presença de vários numismas dos Antoninos, atribuíveis lato sensu a um largo período – 138-175 d.C. – e aqui fundamentalmente relacionáveis com as lucernas “mineiras”? Luzón (1967, p. 141), para quem remete em nota aquela autora, confirma-nos esta derradeira hipótese ao defender, nos seguintes termos, a cronologia das lucernas que classifica como de tipo B: «Para su datación hay hacer constar que entre las monedas aparecidas en estos ajuares funerarios [refere-se à necrópole de “Llano de los Tesoros”, caoticamente escavada por volta de 1930, e não à necrópole de La Dehesa, onde tão só em 1968 foi encontrada a incineração de Reburrinus] destacan, también con gran diferencia, las de Antonino Pio, Marco Aurelio y las dos Faustinas». A eventual relação de um numisma cunhado em 144 d.C. com o túmulo e a lápide em análise cai, pois, inteiramente pela base. 2  Moreno Jiménez (1990, pp. 3-4) diz-nos que, para escrever a sua tese sobre as lucernas romanas da Bética, «una vez recogida la información documental comenzó un segundo proceso (…): el rastreo de las piezas publicadas y el de todas aquellas de cuya existencia en diversos depósitos tuvimos conocimiento». Porém, no respectivo «Catálogo-Inventario no se encuentra la totalidad de las piezas de las cuales teníamos noticias porque algunas no pudieron ser localizadas por diferentes circunstancias». Esta condicionante explica, por certo, a não inclusão no corpus elaborado pela autora de todas as lucernas “mineiras” provenientes de Rio Tinto que constavam já no estudo de Luzón (1967). Aliás, não é fácil estabelecermos a correspondência entre as fichas de um e de outro destes investigadores, não só porque os respectivos critérios descritivos

149

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

n.os 1-27; Pérez Macías, 1998, pp. 115, 117 e figs. 16 e 23; Bustamante, 2011, p. 127 e lám. 1); ambiente mineiro; 3.1.1.2. Tharsis (Huelva), um exemplar (Domergue, 1987, p. 211); ambiente mineiro; 3.1.1.3. La Poderosa, Campofrío (Huelva), um exemplar (Luzón, 1975, p. 308, n.º 14); ambiente mineiro;

3.1.3.4. Peña del Hierro (Huelva), um exemplar (Bailey, 1998, Q1667); ambiente mineiro;

são bastante diferentes – p. ex., a ausência de dimensões precisas em Luzón, ou o facto deste autor se limitar a assinalar a cor do barro (sic) enquanto que Moreno nos refere as cores, por vezes diversas, da pasta e do engobo – mas ainda porque nos itens seriados por Moreno no âmbito da inventariação de cada exemplar não constam quase nunca referências bibliográficas relativas a essa exacta peça mas sim tão só uma indicação genérica ao definir-se previamente o conjunto que, depois, irá então ser analisado caso a caso. Assim, se Luzón estuda 27 lucernas de Rio Tinto com a marca L.I.R, Moreno Jiménez (1990, pp. 260-261) parte desde logo de um acervo de apenas 19 exemplares. Mas, ao percorrermos atentamente o seu corpus, verifica-se que dessas quase duas dezenas de peças nem todas correspondem a lucernas publicadas já por Luzón, divergindo com segurança cerca de metade, as quais deverão fazer parte dos depósitos ainda inéditos observados por aquela autora nos museus de Huelva e de Rio Tinto. Além destas que seleccionámos e contabilizámos (Moreno Jiménez, 1990, n.os 1547, 1548, 1554, 1558, 1559, 1570, 1573, 1575, todas do Museo Minero de Riotinto; n.º 1502, do Museo Arqueológico de Huelva; e n.º 1524, em posse particular e proveniente das “Necrópolis de Marismillas”), talvez algumas outras de entre as que descreve esta autora não constem também elas na monografia de Luzón, mas a sua aparente similitude descritiva com exemplares já aqui publicados aconselha-nos – na impossibilidade de confrontar elementos gráficos porventura esclarecedores atendendo à carência de acessibilidade dos tomos IV a VII da tese de Moreno, correspondentes aos materiais desse tipo concernentes ao corpus estudado – a não contar com eles, preferindo nós ainda assim apresentar um total incompleto do que um quantitativo com eventuais pleonasmos. Até porque não deixa de ser provável que nesses mesmos museus continuem a existir lucernas com a marca L.I.R ausentes quer do estudo de Moreno quer do de Luzón. ¿Não declara este último que, «dada la anómala circunstancia de que las piezas del museíllo de Riotinto no han sido registradas ni tienen número de inventario, prescindimos de estudiar en su totalidad las lucernas que allí se guardan» (Luzón, 1967, p. 139)? – (quanto à transferência de lucernas com as siglas L.I.R, levada a cabo nos anos de 1970, de antigos núcleos museológicos de Rio Tinto para o então recente Museu de Huelva, cfr. Delgado/Regalado, 2010, pp. 681-684). Assim, teremos sempre de atender aos dados que ora apresentamos como virtualmente imperfeitos, embora nos tenhamos esforçado por ser tanto quanto possível exaustivos; privilegiando, no entanto, a segurança quanto àqueles casos que aproveitámos e prescindindo, deliberadamente, de um possível aumento quantitativo ainda a partir da tese de Moreno Jiménez mas ora conseguido à custa de exemplos de duvidoso ineditismo. Entre estes compreendemos os que constam no seguinte quadro e que consideramos, embora com graus de certeza diferenciados, como patentes já no estudo de Luzón – ou seja, já a partir daí contabilizados: Moreno, 1990 n.º 1465 n.º 1466 n.º 1469 n.º 1470 n.º 1472 n.º 1481 n.º 1482 n.º 1505 n.º 1506

150

Luzón, 1967 n.º 10 n.º 16 n.º 6 n.º 19 n.º 21 n.º 12 n.º 4 n.º 20 n.º 2

Grau de segurança quanto à equivalência m.to alto médio médio alto baixo m.to alto médio m.to baixo baixo

Por outro lado, as escavações levadas a cabo sob a direcção de Juan Aurelio Pérez em Corta del Lago entre 1985 e 1990, durante as quais terão surgido pelo menos nove fragmentos de lucernas com a marca L.I.R, demonstra-nos à evidência que bastarão novas escavações na área mineira de Rio Tinto para que o número das lâmpadas em causa aumente exponencialmente (cfr. Pérez Macías, 1998, pp. 115, 117 e figs. 16 e 23; e Bustamante, 2011, p. 127 e lám.1).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

3.1.1.5. Italica (Sevilha), dois exemplares [pelo menos3] (Moreno Jiménez, 1990, n.os 3260 e 3265); ambiente urbano; 3.1.1.6. Cerro Muriano (Córdova), um exemplar (Luzón, 1967, pp. 143 e 144, n.º 30; Moreno Jiménez, 1990, n.º 0615; García, 2002, p. 534); ambiente mineiro; 3.1.1.7. Fuentes de León (Badajoz), dois exemplares (Moreno Jiménez, 1990, n.os 2358 e 2344); ¿ambiente votivo?; 3.1.1.8. Villafranca de los Barros (Badajoz), um exemplar (Monsalud, 1907, pp. 460-461, n.º 6); ambiente ignorado; 3.1.2. Sul da Lusitania: 3.1.2.1. Vipasca (Aljustrel), dois exemplares (Alarcão/Alarcão, 1966, pp. 37 n.º 118.1 e 80 n.º 353.1, e ests. IX e XXVI; Belchior, 1970, pp. 76-79); ambiente mineiro; 3.1.2.2. Santa Bárbara de Padrões (Castro Verde), quatro exemplares (Maia, 2014); ambiente votivo4; 3.1.3. Proveniência desconhecida5: 3 Moreno Jiménez (1990, p. 261) menciona três lucernas com a marca L.I.R como provenientes de Italica: as n.os 3260, 3264 e 3265. Porém, nas fichas descritivas (pp. 1294-1295) apenas a da primeira e a da última incluem alusões à respectiva marca, confirmando-se serem as siglas referidas, enquanto que na ficha correspondente à peça n.º 3264 não existe qualquer menção a este aspecto. Assim, pese embora poder constituir tal ausência um mero lapso da autora, entendemos no entanto preferível prescindir aqui desta lucerna com marca incerta. 4 Quanto aos milhares de lucernas acumuladas num depósito votivo secundário descoberto neste excepcional sítio arqueológico e referente a um santuário ainda não identificado, cfr. Maia/Maia, 1997, passim). 5 Moreno Jiménez (1990, pp. 134 e 1579) parece acreditar que a lucerna com a marca L.I.R conservada no Museo de Cervera, em Lérida, é originária daquela mesma região: «alguna pieza, incluso, llegó hasta la Tarraconense, como es el caso de Cervera». Porém, já José López (1981, p. 104) a considera «de improbable procedencia local». De facto, conforme nos esclarece Frederico Lara (1975, p. 933 n. 2), naquele museu «se acumulan numerosos objetos arqueológicos sin secuencia cronológica, artística ni pedagógica», acrescentando que «gran parte de los mismos son de procedencia foránea, singularmente de Andalucía, Extremadura e Ibiza». Na verdade, a lucerna em causa tem elevadas probabilidades de provir ou da Andaluzia ou da baixa-Extremadura – ou seja, da Baetica, de onde são oriundos 89% dos exemplares conhecidos portadores das referidas siglas. Contudo há que destacar o facto de a marca inscrita naquela peça se apresentar envolvida por cartela circular, conforme acontece em Santa Bárbara e contrariamente a todos os casos béticos L.I.R de que temos informação concreta quanto a tal característica (ver nota 6). Por outro lado, refira-se que a lucerna do museu de Lérida é do tipo Luzón A, do qual apenas estão registados sete exemplares na Baetica (um em Rio Tinto, dois outros em Italica e o restante em Fuentes de León) contra a clara predominância na mesma provincia do tipo Luzón B, 45 casos; já do conjunto de seis oriundos do sul da Lusitania, quatro – todos os de Santa Bárbara – revelam-se do tipo Luzón A. Virá ainda a propósito mencionar aqui algumas lucernas aludidamente portadoras das siglas L.I.R mas que, de facto, (a) ou não a apresentam, (b) ou são incertas, (c) ou pura e simplesmente não existem. (a) Moreno Jiménez (1990, p. 261) enumera uma peça proveniente de Huelva como contendo a referida assinatura (n.º 1459); mas, na respectiva ficha descritiva (p. 1114), corrige a leitura para RTI. (b) CIL II 496929 apresenta a marca L.L.R (pontuação aparentemente efectuada através de hederae) reportando-se a uma lucerna encontrada, ou apenas coleccionada, em Sevilha, marca que Monsalud (1907, p. 461) supõe má cópia por L.I.R. Ainda que consideremos tal hipótese bastante provável, não podemos no entanto ter certezas; aliás, Balil (1966, p. 121) mantém a leitura acreditada por Hübner [trocando por engano as referências entre as alusivas a tal marca e as daquela que em seguida enuncia]. Mas ainda a própria proveniência da lucerna é incerta. Monsalud (loc. cit.) dá-a como inclusa na «colección de Ariza, de Sevilla» – o que é diferente de afirmar ter sido encontrada nesta cidade. Antonio María Ariza (1820-1899), arqueólogo e coleccionador sevilhano, participou em várias escavações em sítios romanos andaluzes, nomeadamente em Italica e na área de Carmona, encontrando-se aliás em estreito e prolongado contacto com toda a realidade arqueológica regional na sua qualidade de secretário da Diputación Arqueológica Sevillana, de membro da Sociedad Arqueológica Sevillana e também da Comisión Provincial de Monumentos de Sevilla com especial delegação em Osuna, além de vogal da Sociedad Arqueológica de Carmona (cfr. Salas, 2011); a lucerna assinalada a Hübner poderia pois proceder de qualquer lugar dentro deste lato âmbito territorial. (c) O’Kelly (2013a, p.182) assinala a suposta existência de uma ou mais lucernas com a assinatura L.I.R na Casa de la Condesa de Lebrija, em Sevilha, citando a propósito o estudo de José Ramón López (1981) relativo às lucernas conservadas nessa colecção. Porém, em boa verdade, nenhum exemplar com aquelas siglas se encontra ali registado, como podemos ver no capítulo «Derivada de Dressel 9 (“Lucerna minera”)»,

151

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Colecção do “Museo de Cervera” (Lérida), um exemplar (Lara, 1975, pp. 936-937); ambiente ignorado. 3.2. Quantidades e percentagens, em geral 3.2.1. Total de exemplares conhecidos: 62 [Fig. 2]. 3.2.2. Em Rio Tinto: 46 (c. 74%). 3.2.3. Na Baetica: 55 (c. 89%). 3.2.4. No Sul da Lusitania: seis (c. 9,5%).

3.2.5. Em Santa Bárbara: quatro (c. 6,5 %); 3.2.6. Origem desconhecida: um (c. 1,5%)

3.3. Ambientes contextuais 3.3.1. Mineiro: 52 exemplares (c. 84 %); 3.3.2. Urbano: dois exemplares (c. 3,25 %); 3.3.2. Votivo: possivelmente seis exemplares (c. 9,5 %); 3.3.3. Ignorado: dois exemplares (c. 3,25 %). 3.4. Tipologia 3.4.1. Definição tipológica (efectuada com base no acervo de Rio Tinto, mas extrapolável para todas os exemplares de diferentes proveniências): 3.4.1.1. Luzón (1967, p. 141), Tipo A: «Lámparas e ejecución cuidada, hechas con barro relativamente depurado. Las marcas (…) suelen ir inscritas en un círculo6. Miden unos 11 cm de longitud por término medio». 3.4.1.2. Luzón (1967, p. 141), Tipo B: «Tipo derivado del anterior. Están hechas con barro poco depurado y su ejecución es más tosca. Las marcas [suelen ir] inscritas casi siempre en un elipse terminada en punta (…). Miden, por lo común, 15 cm de longitud y tienen, por consiguiente, mayor capacidad que las anteriores». 3.4.2. Distribuição tipológica: 3.4.2.1. Tipo A (12 exemplares): - Rio Tinto, quatro exemplares (embora, como vimos na nota 6, a marca esteja contida numa cartela amendoada, e não circular: Luzón, 1967, pp. 140 e 141 n.º 1; Bustamante, 2011, p. 127 e lám. 1, n.os 15, 17, 18); - Fuente de León, um exemplar (Moreno Jiménez, 1990, p. 771 n.º 2344);

- Italica, dois exemplares (Moreno Jiménez, 1990, pp. 1294 n.º 3620 e 1295 n.º 3265); - Santa Bárbara de Padrões, quatro exemplares;

- Proveniência incerta: um exemplar (lucerna conservada no Museo de Cervera, Lérida). 3.4.2.2. Tipo B (47 exemplares):

- Rio Tinto, 42 exemplares (Luzón, 1967, pp. 140-144 n.os 2 a 27; e Moreno Jiménez, 1990, n.os 1502, 1524, 1547, 1548, 1554, 1558, 1559, 1570, 1573, 1575;

152

pp. 103-106, onde apenas constam a marca T (n.º 30) e outra formada por quatro crescentes dispostos em cruz (n.º 16). O equívoco deverá ter sido originado pela citação que López, neste mesmo artigo (p. 104), faz à lucerna de Peña del Hierro, «que se halla inédita en el British Museum, com marca L.I.R». 6 Apesar desta afirmação de Luzón, válida para outras lucernas “mineiras” (p. ex., na série estudada por este autor, as n.os 28, 31, 32, 43, 46, 47, 48), a verdade é que a única lâmpada L.I.R de tipo A que desenha (n.º 1) exibe uma cartela amendoada, e não circular, em tudo idêntica pois às comummente gravadas nos exemplares de tipo B (cfr., aqui, fig. 3.a).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Fig. 2 - Distribuição dos achados de lucernas ditas “mineiras” marcadas com as siglas L.I.R., atendendo ainda aos seus diferentes tipos, oficinas e ambientes de utilização.

153

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Pérez Macías, 1998, pp. 115 e 117, e figs. 16 e 23; Bustamante, 2011, p. 127);

- Cerro Muriano, um exemplar; - Peña del Hierro, um exemplar; - Fuente de León, um exemplar (Moreno Jiménez, 1990, p. 773 n.º 2358); - Vipasca, dois exemplares. 3.4.2.3. Tipo desconhecido: três exemplares (Tharsis, La Poderosa e Villafranca de los Barros).

3.5. Características de fabrico Reunimos no quadro subsequente os itens descritivos quanto às características físicas das várias lucernas com a marca L.I.R. que nos pareceram primordiais para a distinção, relativamente a este conjunto no seu todo, de diversos tipos de fabricos e, mesmo, de diferentes fornos ou oficinas. A partir de vários dados objectivos e, ainda, da análise deste quadro e da Fig. 2, poderemos pois retirar as seguintes conclusões: Proveniência

Rio Tinto

Tipo

Côr da Pasta

Cartela

Sign. Dist.

N.º Ex.

Referências Bibliográficas

A

Castanha ? laranja laranja laranja alaranjada alaranjada-clara cinzenta cinzenta-clara cinzenta-escura acinzentada castanha-escura avermelhada ? castanha acinzentada ?

amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada amendoada

puncta ? puncta puncta puncta puncta puncta puncta puncta puncta puncta puncta puncta ? ? ? ?

1 3 11 12 1 1 2 1 2 1 4 1 2 1 3

Luzón, 1967, n.º 1 Bustamante, 2011, p. 127 e lám. 1, n.os 15-18 Luzón, 1967, n.o 14; Moreno Jiménez, 1990, n.os 1502, 1524 (e Pérez et al., 2012, p. 64-65), 1547, 1548, 1554, 1558, 1559, 1570, 1573, 1575 Luzón, 1967, n.os 2, 7-10, 11, 13, 17, 20, 21, 6, 17, 3, 15, 5, 24, 26, 19, 22, 23, 25, 27, 16 Pérez Macías, 1998, pp. 115 e 117 id., ib., p. 117 Bustamante, 2011, p. 127

?

1

Domergue, 1987, p. 211

Rio Tinto

B

Tharsis

?

?

?

La Poderosa

?

?

?

?

1

Luzón, 1975, p. 308

1

Bailey, 1998, Q1667 e fig. 127

Peña del Hierro Cerro Muriano Italica Fuentes de Léon Villafranca Barros

B

castanha

?

aparente falta

B

queimada

amendoada

puncta

1

Luzón, 1967, n.º 30

A A A B

ocre-amarelada amarela-clara laranja laranja

? ? ? ?

? ? ? ?

1 1 1 1

Moreno Jiménez, 1990, n.os 3260, 3265 Moreno Jiménez, 1990, n.os 2344, 2358

?

?

?

puncta

1

Monsalud, 1907, n.º 6

amendoada amendoada

puncta puncta

1 1

Alarcão/Alarcão, 1966, n.os 118.1, 353.1

brancaacinzentada rosa

circular circular

hederae hederae

3 1

Maia, 2014 “

amarelenta

circular

puncta

1

Lara, 1975, pp. 936-937

cinzenta-beije castanha Vipasca

Santa Bárbara ¿Baetica?

154

B

A A

(mas diferentes, nos dois casos, das de Rio Tinto; observação direta)

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

3.5.1. Positivas / afirmativas: 3.5.1.1. A observação directa de exemplares de Rio Tinto, Aljustrel e Santa Bárbara demonstra estarmos, nestes casos, perante três diferentes centros de fabrico. O primeiro localiza-se por certo na própria região mineira de Rio Tinto; para o segundo não temos pistas seguras; por fim e quanto ao terceiro, a presença de tons rosados nas pastas finas e claras, que apontam para barreiras brancas e salgadas (cfr. Maia, 2014), remeterão muito provavelmente para a faixa litoral sul da Lusitania ou para o seu prolongamento bético, onde se registam realidades geológicas compatíveis. 3.5.1.2. Encarada esta amostragem na sua globalidade, constata-se que a maioria, cerca de 5/6, provém de ambiente mineiro; a parcela restante surge noutros géneros de ambiente, designadamente votivos ou, ainda, urbanos. 3.5.1.3. Se observarmos o aspecto tipológico, verificamos, em geral, um claro predomínio quantitativo do tipo Luzón B. Porém, se analisarmos tal realidade com maior aproximação, constatamos que esse predomínio existe apenas nos exemplares procedentes de ambiente mineiro, sendo aqui, aliás, praticamente total – apenas um escasso número de peças (04, contra 48), se revela de tipo Luzón A. Em contrapartida, nos ambientes não mineiros, de novo com excepção de um único caso (um dos de Fuentes de León), apenas encontramos lucernas de tipo Luzón A. 3.5.1.4. No estado actual dos nossos conhecimentos parece que a utilização das lâmpadas com a marca L.I.R se terá circunscrito à Baetica e ao sul da Lusitania, faltando inclusive, até agora e por exemplo, em Augusta Emerita – onde, todavia, têm sido identificadas numerosas outras lucernas ditas “mineiras”, com diferentes marcas ou sem elas (cfr. Bustamante, 2014). Mas mesmo naqueles territórios meridionais a distribuição não é uniforme nem contínua, documentando-se apenas em alguns sítios, na sua maior parte vizinhos – ou relativamente próximos – uns dos outros. Assim encontramos um primeiro conjunto na Baetica ocidental, entre o Guadalquivir e o Guadiana, aparentemente centrado em torno do denso e abundante núcleo de Rio Tinto e áreas mineiras circundantes. Porém, a periferia deste conjunto, quer a norte quer a sudeste, é ocupada tão só por casos oriundos de ambientes não mineiros, principalmente – como vimos – do tipo Luzón A. Relacionado, quanto à origem de fabrico, com o referido núcleo, mas já no seu exterior e assaz afastado (para a zona de Córdova), aparece-nos ainda um exemplar, o de Cerro Muriano. Aparentemente destaca-se um segundo conjunto no centro do Conventus Pacensis, representado pelas lucernas de Vipasca e de Santa Bárbara dos Padrões. Contudo e em boa verdade, conforme constatámos já, as lucernas de um e de outro destes sítios diferenciam-se reciprocamente não apenas no que se refere aos respectivos ambientes – mineiro um e votivo outro – e tipologias, mas ainda, o que cremos mais importante, quanto à respectiva origem de fabrico. Assim, mais do que um conjunto coerente parece-nos antes preferível considerar aqui dois núcleos independentes, cada qual com características específicas e diferentes um do outro, embora – por razões atendíveis ou talvez mesmo aleatórias – próximos sob o estrito ponto de vista geográfico. 3.5.2. Negativas / dubitativas: 3.5.2.1. O primeiro aspecto negativo que ora importa salientar é a ausência, na bibliografia disponível, de dados importantes relativamente a um bom número

155

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

156

de exemplares. Assim, desconhecemos (a) qual o tipo concreto (Luzón A ou B) de três lucernas; (b) qual a cor da pasta de dez; e, ainda, (c) qual a forma da cartela de oito; e (d) qual o estilo de signa distinguentes de dezasseis. Ao todo temos dezoito lâmpadas com descrição deficiente. Destas, quanto a duas faltam-nos todos os referidos quatro itens; quanto a uma outra carecemos de três itens (a, b, c); quanto a mais onze peças não conhecemos dois itens (b, d; ou c, d); por fim, quanto a quatro está omisso um único item (c ou d). Tais defeitos fazem-se sobretudo sentir no que respeita ao caso de Villafranca de los Barros, do qual não sabemos também o contexto – que no entanto, pela localização geográfica, supomos não ser mineiro. Na mesma zona, em Fuentes de León, o contexto parece votivo. Se uma das duas lucernas deste último sítio apresenta o vulgar tipo Luzón B, a outra integra-se porém no muito menos frequente Luzón A. Por outro lado, quer no exemplar de Villafranca de los Barros quer nos de Fuente de León, quer ainda nos de Italica, não existem indicações quanto ao desenho da cartela. Tratando-se, maioritariamente, de lucernas Luzón A, seria muito interessante apurar se estas ostentariam cartela amendoada, como no caso das L.I.R de Rio Tinto com idêntica tipologia; ou se, conforme acontece em Santa Bárbara e na do Museo de Cervera, a apresentariam circular; ou ainda se documentariam ambas as situações. A não observação directa das lucernas de Italica, de Villafranca de los Barros e de Fuente de León, além das de La Poderosa, de Tharsis e de Peña del Hierro, e além da falta de informação bibliográfica no que ao subsequente aspecto concerne, impede de apurarmos o respectivo centro de fabrico. Este, no entanto, para os três últimos exemplares, todos eles descobertos em ambiente mineiro, deverá ser – praticamente sem dúvidas – o de Rio Tinto; e não nos custa ainda a admitir que estas lucernas fossem, com maior probabilidade, de tipo Luzón B e que ostentassem cartela amendoada. Mas já o mesmo não se poderá dizer quanto aos dois casos de Italica e aos três da faixa setentrional da Baetica. A carência de dados no que se refere ao tipo e/ou à forma da cartela, e ainda por vezes quanto à cor e depuração da pasta, assumem pois aqui superlativa gravidade, pois tais elementos constituiriam preciosos indicadores para o apuro da sua atendível filiação oficinal. Na verdade a questão pode colocar-se nos seguintes moldes: se estas lucernas Luzón A apresentassem cartela amendoada – e se as respectivas pastas fossem entre si compatíveis –, com maior probabilidade deveriam relacionar-se com os exemplares tipologicamente idênticos provenientes de Rio Tinto, e aí fabricados (Luzón, 1967, n.º 1; Bustamante, 2011, p. 127 e lám. 1, n.os 15-18); todavia, se as cartelas fossem circulares, como as de Santa Bárbara e a do museu de Lérida – e, de novo, se as respectivas pastas fossem entre si compatíveis –, então talvez, conjuntamente, apontassem para uma outra determinada oficina, ou pelo menos, e em alternativa, para vários fabricos entre si similares e, todos eles, distintos do de Rio Tinto. 3.5.2.2. Insista-se ainda na divergência de critérios verificável entre os vários autores que publicaram as lucernas aqui indexadas. Em primeiro lugar, (a) quanto ao maior ou menor número de itens incluídos nas fichas descritivas e, também, no que respeita o grau de exigência ao preenchê-las; depois, (b) quanto aos materiais gráficos disponíveis – tantas vezes incompletos ou, mesmo, por completo ausentes. Como se torna claro, esta inconveniente situação impede para já uma abordagem mais fina e rigorosa – mais profícua e conclusiva também – das lucernas

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

ora em análise, designadamente no que concerne às respectivas características de fabrico.

3.6. Cronologia (com base em contextos datados, critérios tipológicos e características de fabrico) 3.6.1. Propostas iniciais: Luzón (1967, p.141), por razões de contexto arqueológico lato e de utilização, data as lucernas de Tipo A da época limite entre os sécs. I-II d.C. e, as de Tipo B, de meados da segunda centúria. Antes, Jorge e Adília Alarcão (1966, p. 38), por critérios meramente tipológicos, atribuíram as lâmpadas de Vipasca com a marca L.I.R ao séc. I d.C., em geral; cronologia que Belchior (1970, pp. 77-78) circunscreve à primeira metade, pese embora o referido estudo, entretanto publicado, de Luzón, cujos argumentos contextuais são preteridos pela autora em favor dos pressupostos morfológicos. Porém, pelos mesmos anos Claude Domergue (1987, p. 80) opta por inserir estas peças no «extrême fin du Ier ou plutôt de la première moitié du IIe s. ap. J.-C.», aproximando-se assim de Luzón e acrescentando: «à Bolonia en effet, nous avons trouvé des fragments de lampes analogues dans des couches du IIe s.». E Frederico Lara (1975, p. 936) remete a lucerna do museu de Lérida, conquanto do Tipo A, para a «primera mitad del siglo II de nuestra era». 3.6.2. Cronologias alargadas e tardias: Porém José Ramón López (1981, pp. 103-104), cruzando e discutindo vários contextos em que surgem lâmpadas ditas “mineiras” – nem todos, aliás, patenteando exemplares com as siglas L.I.R –, acaba por afirmar parecer-lhe «que este tipo de lucerna (…) debe tener una duración dilatada, encuadrándose de un modo impreciso en todo el siglo II (especialmente en su segunda mitad) y penetrando ampliamente en el siglo III». E Bailey (1998, n.º 1667) avança o exemplar de Peña del Hierro para os «middle years to second half of the second century AD». Por sua vez Edmondson (1987, pp. 91-92 n. 36), procurando conciliar os testemunhos de Vipasca lidos por Belchior com os de Rio Tinto interpretados por Luzón, propõe a hipótese de estarmos perante dois distintos e independentes períodos de fabrico, relativamente distanciados no tempo, apesar de em ambos ser mantida a marca L.I.R; posição mais tarde adoptada, sem reservas, por José García (2002, p. 713). 3.6.3. Perspectivas recentes: Todavia, Campos/Pérez/Vidal (2004, p. 140) referem terem-se «hallado fragmentos de lucernas con el sello L.I.R tanto en la fase II-A, de época flávia, como en la II-B, trajano-adrianea», no âmbito das escavações levadas a cabo em Corte del Lago (cfr. ainda Pérez Macías, 1998, p. 139; Pérez/Delgado, 2011, p. 64; e Bustamante, 2011, p. 127). E O’Kelly (2013a, p. 180), reequacionando todos os dados, conclui podermos «confirmar que esta manufactura se desarrollaría en el área de Riotinto entre fines del siglo I d.C. y los inicios de la siguiente centuria, aunque parece que sería en el siglo II el momento de auge de esta producción». Por fim, Macarena Bustamante (2014), com base no estudo dos exemplares emeritenses deste tipo de lucernas provenientes de contextos bem datados (embora em nenhum deles conste a marca L.I.R), afirma tratar-se de um fabri-

157

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

co decorrente desde a dinastia flávia até aos finais do imperialato de Antonino Pio, período ao qual se seguiria uma ‘décalage’ de utilização – mas já sem factura activa – de mais 20 ou 30 anos. 3.6.4. O possível ponto da situação: Verdadeiramente, no nosso caso importaria apenas considerar a datação provável de atribuir às peças marcadas com as siglas L.I.R e não as cronologias dos vários eventuais fabricos – ou fases de fabrico – das lucernas “mineiras”, no seu todo. Neste aspecto destacam-se assim, sobretudo, as inferências retiradas por Pérez Macías et al. a partir dos achados contextualizados de Corte del Lago; as quais, aliás, nos parecem perfeitamente compatíveis com as conclusões mais gerais adiantadas por Bustamante7. 3.6.5. Dúvidas subsistentes: Dito isto e aceitando pois como segura tal amplitude cronológica na sua globalidade, não haveremos porém de escamotear a permanência de várias dúvidas sempre que pretendamos efectuar uma aproximação mais exacta e caso a caso. Neste aspecto, as perguntas – ainda hoje sem respostas evidentes – que deveremos colocar são as seguintes: 3.6.5.1. Estão incontornavelmente documentados, em Rio Tinto, fragmentos com a marca L.I.R nos níveis flávios e nos níveis trajano-adriânicos. Porém, referir estas épocas sem maiores detalhes representa, afinal, falar em quase sete décadas consecutivas. ¿Dilatar-se-á durante todo esse largo tempo a actividade da oficina designada através da referida marca, ou circunscrever-se-á antes tal produção a um período menor, por exemplo, de apenas cerca de 20 ou 40 anos? ¿E corresponderão as lucernas detectadas nos níveis mais tardios ainda a uma fase de fabrico ou, apenas, a uma continuidade de utilização pós-fabrico? 3.6.5.2. E, como supunha Luzón (1967), ¿haverá mesmo que colocar as lâmpadas de Tipo A numa fase anterior à das de Tipo B, ou poderão afinal tais diversos formatos ter sido simultaneamente fabricados, divergindo nas dimensões e na qualidade das pastas e acabamentos não por questões de cronologia mas sim em função, cada qual, de planeados diferentes usos e/ou distintas clientelas? – (cfr. já, nesta derradeira hipótese, Campos/Pérez/Vidal, 2004, p. 140; e Bustamante, 2011, p. 115). 3.6.5.3. ¿E quanto aos dois restantes centros de olaria identificados com a marca L.I.R e documentados através das lucernas de Vipasca e de Santa Bárbara? Serão eles, ou não, contemporâneos do de Rio Tinto? Ou tê-lo-ão sido apenas em parte? Ou não se sobreporão? E, entre si, terão funcionado essas duas outras oficinas, ou não, parcial ou totalmente, em simultâneo? Deverão assim considerar-se de modo diferenciado no confronto com a produção de Rio Tinto?

7 Convirá aqui salientar de novo que as datações recuadas propostas por Jorge e Adília de Alarcão e por Claudette Belchior se baseiam de forma estrita em critérios tipológicos, alheios pois aos específicos contextos funerários em análise, critérios não apenas em si mesmo assaz inseguros mas, hoje, claramente ultrapassados pelas objectivas referências arqueológicas de Rio Tinto.

158

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

4. ¿L. Iulius Reburrinus, oleiro de lucernas na área mineira de Rio Tinto? 4.1. Uma simples conjectura… A hipótese de L. Iulius Reburrinus e o indivíduo designado através da marca atendivelmente trianominal L.I.R constituírem uma e a mesma pessoa foi lançada, num primeiro momento como simples hipótese de trabalho, por José Luzón e Diego Ruíz (1970, pp. 137-138): «no sería aventurado suponer que este Lucius Iulius Reburrinus sea el alfarero L.I.R. de las lucernas mineras, no solo por coincidencia de iniciales, sino por la cronología». 4.2. …Transmutada em certeza… Porém, poucos anos mais tarde Luzón (1975, p. 299) passa a exprimir-se de forma peremptória: «no nos cabe duda que este Lucius Iulius Reburrinus es el alfarero L.I.R. de las lucernas mineras». A partir daqui esta plena afirmativa ganha raízes e, de um modo geral, foi – umas vezes mais outras menos acriticamente – repetida à exaustão (Sánchez, 1978, p. 117; Jones, 1980, p. 159; Edmondson, 1987, p. 64; González, 1989, p. 92; Moreno Jiménez, 1990, pp. 220 e 329; Pérez Macías, 1998, p. 217; Ruíz, 1999, p. 167; García, 2002, p. 155; Campos/Pérez/Vidal, 2004, pp. 140 e 141-142; Delgado, 2006, pp. 80, 89 e 213; Pérez/Delgado, 2007, p. 44; Serrano, 2008, p. 474; Bustamante, 2011, p. 127; Pérez/Delgado, 2012a, p. 316; Pérez/Delgado/ Regalado, 2012, p. 49; O’Kelly, 2013a, p. 206; id., 2013b, pp. 184-185 e 188; Delgado/Pérez, 2014, pp. 402-404; cfr. ainda, dentro desta mesma ordem de ideias, o título do artigo por publicar de Pérez Macías apud Campos/Pérez/Vidal, 2004, p. 159). 4.3. A falsa equação Reburrus + Reburrinus = figuli Mas, para além da inequívoca coincidência entre as siglas da marca em análise e as iniciais dos trianomina de Reburrinus, um outro factor contribuiu em muito para consensualizar aquela hipótese: a acreditada – embora falsa – premissa de que os indivíduos denominados Reburrus ou Reburrinus exerceriam, comummente, a profissão de oleiro. Tal ideia foi, mais uma vez, lançada por Luzón e Diego Ruíz (1970, p. 137 e n. 44; Luzón, 1975, p. 299 e n. 77) – «los Reburrini mencionados en otras inscripciones funerarias suelen dedicarse al oficio de alfareros» –, ora a partir de uma leitura totalmente equivocada da dissertação de Rubio (1959) sobre os referidos antropónimos. Aliás, a pretensa equação Reburrus (+ Reburrinus) = figuli foi na mesma época incentivada através de algumas frases ambíguas, também supostamente baseadas nas conclusões de José Rubio, subscritas por José María Blázquez: v.g., «a Galia y Germania emigraron muchos hispanos de nombre Reburrus, que debían ser en su mayoría alfareros» (1975, p. 195). Não admira pois que, a partir daqui, muitos dos subsequentes autores tenham repetido Luzón sem se preocuparem em aferir a veracidade da sua asserção directamente no estudo de Rubio. Havendo-se a dada altura chegado mesmo, neste âmbito, a produzir a incrível noção – aliás por completo insustentável à luz das estruturas parentais subjacentes às regras e evidências do sistema onomástico pessoal paleohispânico – de ter havido uma família (sic) denominada «los Reburrini», à qual teria pertencido o

159

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

olisiponense falecido em Rio Tinto, família essa «de tradición alfarera»8. Porém, Rubio (1959, p. 77ss.), ao analisar os 31 exemplos de indivíduos denominados Reburrus ou Reburrinus à época documentados em suportes epigráficos pétreos fora da Península Ibérica – considerados como potenciais «españoles por los caminos del Imperio romano» – e ao definir os territórios onde tais testemunhos mais se adensam, afirma que embora «no todos los que aparecen por estas regiones son legionarios y soldados, (…) hay que admitir en principio que esa repartición geográfica obedece en su mayor parte a motivos militares» (pp. 85 e 96). De facto, dentro dos 16 casos com expressa ou implícita menção de cargos ou profissões – ou seja, cerca de 50% da amostragem total –, não menos do que 13 podem com segurança ser considerados milites, veterani, etc. (pp. 85-95 e 117-120). Refere ainda o autor dois magistrados, ambos na Península Itálica (p. 97). E um artífice – um lintearius. Aliás, de entre os 15 casos restantes, embora desprovidos de indicações concretas, Rubio supõe – por razões várias que apresenta e defende – poder ainda identificar um arquitecto ou “mestre-de-obras” e, com maiores dúvidas, um agricultor (pp. 96-97). Sobrariam, assim, apenas 13 Reburri/Reburrini sem ocupação conhecida. Mas, para além de todos estes indivíduos, regista ainda José Rubio várias marcas de “terra sigillata” sud-gálica ostentando tais antropónimos. Aqui podemos distinguir diversas situações: (a) Reburri, gen.; (b) Reburrini, gen.; (c) Reburrus, nom.. Da primeira possuímos as seguintes principais variantes: Reburri, Reburri of., Reburri m(anu), C(aii) Iuni(i) Rebur(ri). Na verdade, este panorama leva a concluir que a maioria destas marcas se reporta ao «dueño del taller» (p. 104): as que se encontram em genitivo seguido da abreviatura de officina; e, muito provavelmente, também as outras apenas em genitivo – com excepção da de Reburri m(anu). Por sua vez esta última, bem como as expressas em nominativo, indicariam um simples oleiro. Quantitativamente Rubio indexa um total de 27 estampilhas. Destas, 14 referem-se a Reburri of. (e variantes); sete a Reburri (e variantes); uma a Reburri m(anu); três a Reburrus fec.; e outras três a Reburrini. Como é evidente, estes 27 exemplos não se reportam a um igual número de diferentes oficinas e/ou oleiros, devendo representar muitos deles, neste aspecto, uma só realidade. Se supusermos uma conjuntura limite em termos de economia de dados, poderiam teoricamente convergir todos em três situações apenas: uma oficina propriedade de um Reburrinus; uma outra – a melhor representada – pertença de um Reburrus; e, por fim, um oleiro com este mesmo nome. Supomos, porém, que não deveremos reduzir as coisas a tais ínfimos parâmetros; embora também não seja minimamente legítimo falar, a partir destes elementos, de uma genérica ou banal relação dos antropónimos em causa com a indústria figulina. Aliás, as marcas analisadas, apesar de registadas em peças dispersas pelas Gálias, Germânia, Itália e Britânia (p. 98, mapa), apontarão todas elas para uma única região produtora, com grande probabilidade a de Lezoux (p. 103). Afinal, como conclui José Rubio (p. 104), «el número de estos alfareros no es fácil deducirlo, aunque parecen varios. Las variantes de redacción de la

160

8 Estoutra ideia poderá igualmente derivar da descontextualização de outra frase de Blázquez, frase agora inserida ela própria num correcto e detalhado resumo que o autor faz das observações de Rubio: «El momento de máxima actividad del taller o de los talleres de los Reburrini, pues parece que hubo varios, cae en la primera mitad del siglo II» (Blázquez, 1970, p. 17).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

estampilla no son concluyentes, pues puedan obedecer a distintos obreros aunque perteneciesen al mismo taller. Tampoco queda claro si es uno solo taller o más que uno». Resumindo, dos múltiplos casos de Reburri e de Reburrini registados nas províncias não hispânicas tão só escassos e localizados exemplos remetem para a actividade oleira; esta, aliás, apenas uma de entre diversas outras laborações onde encontramos indivíduos portadores de tais antropónimos. De alguns não conhecemos a ocupação; mas sabemos que um elevado número exerceu cargos militares. No presente contexto, a ligação dos Reburri e Reburrini ao mundo das oficinas figulinas aparece-nos como meramente residual (cfr. ainda García Martínez, 1966, p. 207). Mais ainda: «No hemos podido hallar ninguna marca de cerámica en la Península [Ibérica] con dichos nombres» (Rubio, 1958, p. 195). E a dúvida impõe-se: «Ante la situación actual de los hechos hay que asegurar también que no hubo en la Península, de donde son originarios, ningún Reburrus o Reburrinus que fuera alfarero» (id., ib., p. 196). De outro modo, a explicação da sua presença «en talleres de la Galia no ofrece grandes dificultades. La Aquitania (…) era paso obligado de los ejércitos romanos y, sobre todo, de las tropas reclutadas en España. Los talleres de la Galia en plena producción les ofrecían a todos ellos una colocación fácil y un medio de ganarse la vida, primero como obreros, más tarde como empresarios» (id., ib., p. 197). A todos os hispânicos assim ali chegados: aos Reburri e aos Reburrini, decerto; mas também a quaisquer outros. Por tudo quanto vimos, deve pois cair de vez o “mito” subjacente à pretensa equação ora dissecada. 4.4. Nota complementar: análise filológica dos nomes Reburrinus e Reburrus Poderá porém alguém ser ainda levado a manter a referida ideia-feita com base numa outra falsa premissa: a de que o significado semântico de Reburrinus e de Reburrus haja a ver, de algum modo, com a actividade figulina. Impõe-se pois tratar, embora resumidamente, destoutro aspecto. 4.4.1. Reburr-inus: Em primeiro lugar atendamos ao facto de Reburrinus/-a ser em si mesma uma forma onomástica secundária derivada de Reburrus, por aposição do sufixo de cariz adjectival -inus/-a; talvez na origem, pois, um nome com valor patronímico (cfr., v.g., Vallejo, 2005, p. 388; 2008, p. 154). Assim, para o objectivo a que nos propomos deveremos concentrar a análise no antopónimo-base, Reburrus. 4.4.2. ¿Re-burrus? Re-burrus é a partição que tradicionalmente se tem praticado quanto aos componentes deste nome; ou seja, um radical burr- afectado pelo prefixo re-. Assim procederam os próprios escritores tardo-latinos que se apropriaram deste vocábulo lusitano-galaico, conferindo-lhe o sentido de “muito peludo” ou o de “com o cabelo eriçado”, ou mesmo o de “calvo à frente”, conforme considerem o prefixo re- como intensivo ou com o significado “para trás” e ainda baseados num alargamento semântico do adjectivo – também de origem exógena – burrus, -a, -um, “ruço”, “ruivo” (cfr. uma boa análise deste tema in Rubio, 1959, pp. 105-109; vd. ainda Vallejo, 2005, p. 389; e Ernout/Meillet, 19854, pp. 78-79 e 566).

161

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

É ainda acreditando neste tipo de etimologias que Kajanto (19822, p. 236) inclui Reburrus entre os cognomina latinos, designadamente aqueles que se reportam a «shaggy, bristling hair». Com Palomar Lapesa (1957, pp. 52 e 94), entende porém que na base daqueles vocábulos estão empréstimos talvez celtas, mas com idêntico ou similar significado; suposta origem que, evidentemente, não impede Palomar de considerar Reburrus e Burrus como antropónimos hispânicos. 4.4.3. Reb-urrus: No entanto, já Rubio (1959, pp.110-112) destaca o nome pessoal Rebbilus e a frequência do sufixo -urr- na onomástica paleohispânica como elementos filológicos concretos que aconselham, antes, à partição Reb-urrus. Análise que o autor desenvolve e fundamenta com rigor e que a breve trecho vem a colher eco nos estudos de Albertos Firmat (1966, p. 192; 1965, pp. 119-120). Hoje é esta, com plena razão, a postura consensual ou, pelo menos, largamente predominante – conforme podemos constatar, por exemplo, nos actualizados e metódicos estudos de José María Vallejo (v.g., 2005, pp. 389-390). 4.4.4. Reb-: Será pois a filiação semântica de Reb- que nos poderá esclarecer quanto ao significado-base destes antropónimos, Reburrus e Reburrinus. Não se trata esta, todavia, de uma tarefa fácil nem segura. Assim, na sua tese, Vallejo (2005, p. 390) limita-se a afirmar que «por tanto debemos considerarlo (a Reburrus) un nombre hispano, basado en un radical Reb-, aunque la etimología sea, en este caso, un ejercicio sin recompensa». Porém, mais recentemente (id., 2008, pp. 153-154) e baseado na constatação de que entre os actuais 157 registos hispânicos do nome Reburrus não se documenta nenhuma forma primária feminina – contrariamente ao que sucede com as formas derivadas, p. ex., Reburrina –, arrisca Vallejo, atendendo até às antigas glosas “de cabelos virados para trás” ou “rebelde”, que se poderia acaso pensar no PIE *rabh-/rebh-/rebh-, “violento”, “impetuoso”, “colérico”, como raiz subjacente ao antropónimo em estudo: «De esta manera, una característica física o psíquica, como la fuerza o la violencia, relacionadas preferentemente con lo masculino, impedirían formaciones primarias femininas.» Seja como for, é evidente que esta pesquisa filológica continua em aberto. 4.4.5. Poderão ser muitas – e são-no, na verdade – as dúvidas subsistentes quanto à presente matéria. Mas, convenhamos, nada – absolutamente nada – nos permite sequer sugerir a aproximação de Reburrus/Reburrinus de um qualquer campo semântico relacionado com a actividade figulina.

162

4.5. ¿E então? Vimos que o facto de alguém se chamar Reburrus, ou Reburrinus, e de simultaneamente se relacionar com uma olaria, não passa de uma pura e aleatória coincidência. O que não obsta, todavia, que alguns Reburri ou Reburrini, do mesmo modo que outros indivíduos diferentemente designados, possam acaso ter tido uma relação profissional com o mundo da produção cerâmica. Pois como é óbvio, se nada nestes nomes implica esta ou qualquer outra actividade, também nada o impede. Assim sendo, a eventual sustentação, ou não, da hipótese de equivalência entre a marca L.I.R e Lucius Iulius Reburrinus depende por inteiro de outros

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

factores, que não antroponímicos, factores que passam antes do mais (a) por questionar o alcance e o sentido desta coincidência e, consequentemente, (b) por ensaiar uma análise crítica (b’) dos vários níveis significantes subjacentes às referidas abreviaturas e (b”) da contextualização e representatividade onomástica regional dos antropónimos passíveis de se reflectirem nessas mesmas siglas. 5. O questionar das coincidências 5.1. Aceitando-se embora, para já, a correspondência entre L. Iulius Reburrinus e a marca L.I.R, ¿tratar-se-á ou não efectivamente de um oleiro? 5.1.1. Dúvidas já expressas:

Jones (1980, p. 159) designa L. Iulius Reburrinus como «main producer» e não como “potter”. Edmondson (1987, p. 64) diz que este olisiponense «came to Rio Tinto not to exploit the mineral resources, but to produce or sell mining lamps»; e acrescenta: «the distribution of his products raises the question as to whether Reburrinus was an itinerant potter or part of a firm of potters with branch workshops». O’Kelly (2013a) refere-o quase sempre como “alfarero” mas, pelo menos uma vez (p. 185), chama-lhe “proprietario”. De modo similar procedera já J. García (2002) que, além de “alfarero” (p. 536), o designa também com o termo mais vago e semanticamente mais amplo de “productor”; e, mais à frente (p. 713), traduz e adopta como suas as afirmativas de Edmondson, supra. Outros autores, como V. Mantas (1998, p. 227 n. 127) ou J. Pérez e A. Delgado (2007, p. 44; 2012a, p. 316), preferem expressões não comprometedoras ao falar da possível aproximação entre L. Iulius Reburrinus e a sigla em análise: «decerto relacionada», «que se identifico», vel simile. 5.2. ¿Ou entre aqueles trianomina e aquelas siglas haverá apenas uma simples coincidência literal?

Resta no entanto uma questão absolutamente decisiva, a seu tempo levantada já por Alarcão (1988a, p. 145; cfr. ainda id., 1988b, p. 86): «A existência, em Rio Tinto, de uma lápide funerária de um olisiponense chamado L. Iulius Reburrinus leva-nos a admitir ser este o desdobramento das iniciais L.I.R. Pode, porém, tratar-se de mera coincidência»… 6. A marca L.I.R. Circunscrevendo-nos portanto, sem quaisquer preconceitos ou prévias ideias-feitas, à marca L.I.R. patente em lucernas de vários fabricos e procedências [ fig. 3], há que afirmar deverem considerar-se potencialmente seguros dois aspectos quanto à sua interpretação: (a) o facto de constituir, com máxima probabilidade, uma singela sigla trianominal; (b) e o de apontar seguramente para um proprietário/ empresário. 163

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Fig. 3 - Alguns diferentes exemplos da marca L.I.R: a, b, c, d - Rio Tinto (respectivamente Luzón, 1967, n.os 1, 12, 22 e 27); e - Vipasca (Alarcão/Alarcão, 1966, n.º 353.1); f - Museo de Cervera (com base in Lara, 1975, fot.); g, h - Santa Bárbara dos Padrões (cortesia do Museu da Lucerna, desenho de Antónia Henriques).

6.1. Do cariz trianominal das siglas L.I.R A marca L.I.R não pode representar a abreviatura de um único antropónimo pelo decisivo facto de exibir puncta entre as respectivas letras. Essa clara e intencional separação das siglas, que se repete nas várias dezenas de exemplares inventariados independentemente de sua origem de fabrico e proveniência, indica com toda a evidência estarmos perante três diferentes nomes. Resta saber, porém, se esses três antropónimos equivalerão também a três diversos indivíduos ou, apenas, a um único. A pluralidade de oficinas testemunhada pela análise dos materiais – pelo menos três –, utilizando barros entre si dissemelhantes e assim, por certo, localizadas em regiões relativamente afastadas umas das outras, poderia contribuir para nos induzir a uma leitura da marca L.I.R como referente a três diversos proprietários/empresários co-associados neste negócio de produção figulina. Teríamos então de considerar cada qual designado através de um único nome, ou gentilícios [p. ex., L(ivius).I(ulius).R(utilius)], ou cognomina [p. ex., L(argus).I(nnus).R(ufus)]. Esta hipótese não é impossível9, no entanto a situação mais banal – e, assim, a interpretação mais provável – aponta à partida para uma formação trianominal identificativa de um só indivíduo. Além do mais a primeira letra, L, é uma das únicas oito de todo o alfabeto latino que servem de abreviatura aos mais vulgares praenomina, sendo pois quase intuitivo desenvolvê-la como L(ucius) – aliás, o segundo mais vulgar praenomen utilizado na Hispânia romana [31,38%], logo a seguir à ‘imbatível’ dupla C(aius)/ G(aius) [45,30%] (cfr. Abascal, 1994, p. 28). 6.2. Do estatuto profissional dessa entidade Seja como fôr, estejamos nós diante de três indivíduos associados ou apenas de um só, vários indícios levam a considerá-lo(s) não como simples oleiro(s) mas, sim, como proprietário(s)/empresário(s).

164

9 Por exemplo, deverá ser esta talvez a situação da marca R T V D, patente em três lucernas de Rio Tinto no âmbito da listagem efectuada por Luzón (1967, n.os 35-37), cujas quatro letras se encontram separadas umas das outras e colocadas em cruz à volta de uma hedera que ocupa o centro da cartela (quanto a esta marca cfr. ainda O’Kelly, 2013a, p. 183).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Em primeiro lugar avulta, como vimos, a pluralidade e admissível afastamento físico das oficinas, embora todas as três identificadas através da mesma marca, L.I.R. A genérica contemporaneidade das lucernas nelas fabricadas não permite equacionar, com um mínimo de segurança, que os referidos locais de produção hajam todos eles laborado em fases diferentes, embora sucessivas. Mas mesmo que a vida de cada um destes centros tenha porventura e em certa medida decorrido de forma autónoma e desgarrada dos restantes, é mais do que provável que pelo menos em determinado(s) período(s) funcionassem em simultâneo. Em segundo lugar – e mais relevante – evidenciemos a variedade paleográfica das siglas em análise, incisas e de cariz actuário. Detectam-se, de forma clara e evidente, várias mãos – e não apenas uma com diferenças aludidamente motivadas pela passagem dos anos. Por vezes, aliás, ao gravar as letras houve quem repetisse certos traços, como a vertical do R (cfr. Fig. 3c). E, ainda, quem desenhasse alguns outros a vários tempos: numa das marcas de Santa Bárbara (aqui não figurada) todos os traços verticais são feitos a dois tempos – e não de uma vez só, de cima para baixo, como é normal; e, noutra lâmpada desta mesma proveniência, um R exibe a vertical não só a dois tempos mas, ainda, com os segmentos resultantes algo desencontrados entre si, ou seja, sem unirem perfeitamente (observação directa efectuada à lupa e com conveniente luz rasante). Parece que nem todos os oleiros que reproduziam estas letras tinham igual facilidade e desenvoltura no acto da escrita. Destes dados poderemos retirar a conclusão de não constituir L.I.R a assinatura de um simples figulus, mas antes, necessariamente, as siglas identificativas do(s) proprietário(s) destas oficinas. Se este(s) haja(m) sido ele(s) mesmo(s) alguma vez oleiro(s), se cumulativamente ao seu estatuto de empresário(s) tivesse(m) acaso trabalhado o barro com as próprias mãos numa das suas oficinas, tal é questão de todo insolúvel através das evidências subsistentes e que, de qualquer dos modos, em nada afecta a interpretação funcional que deveremos passar a fazer desta marca. Assim, neste contexto, as letras L.I.R representarão, muito provavelmente, nomes em genitivo: «(oficina) de L.I.R». 7. Os antropónimos subjacentes à marca L.I.R: certezas e probabilidades Neste exercício tomaremos como ponto de partida a interpretação destas siglas como abreviaturas de um conjunto onomástico uno e coerente de cariz trianominal, designativo pois de um só indivíduo. Nesta acepção, apenas a primeira letra, a sigla do praenomen, oferece um desenvolvimento incontestável. Quanto às restantes, indicativas do nomen e do cognomen, cingir-nos-emos a ponderar probabilidades tendo em conta a realidade onomástica regional passível de deduzir da significativa e vasta amostragem epigráfica bética subsistente10. 10 Entendemos aqui por realidade onomástica regional a da Baetica, pesadas embora as diversidades neste domínio observadas entre vários dos seus territórios. Assim, para os objectivos em causa, que não visam a realização de índices antroponímicos exaustivos mas sim, apenas, um conclusivo avaliar de tendências, servimo-nos das seguintes fontes: índices dos vários volumes do Corpus de Inscripciones Latinas de An-

165

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

7.1. O praenomen L(…) Aqui, como vimos, não há lugar para dúvidas. A sigla L corresponderá a L(ucii). 7.2. O nomen I(…) 7.2.1. Em todo o Império é de longe Iulius o gentilício melhor representado. Na listagem de Mócsy (1985, pp. 25-26), que envolve 104 nomina, Iulius vem à frente com o destacado quantitativo de quase 3500 casos. Iunius, o gentilício iniciado por i- que lhe sucede em popularidade, apresenta aqui no entanto apenas pouco mais de 300 casos e, nessa listagem, situa-se já em 17.º lugar. Mais abaixo ainda vem Iuvenius, em 60.º lugar, com menos de 100 casos. E assim sucessivamente… 7.2.2. Quanto à generalidade da Península Ibérica (utilizando Abascal, 1994, p. 29), Iulius/-a surge de novo na dianteira, com 803 casos, no âmbito do conjunto dos dez gentilícios mais abundantes na Hispânia romana. Nesta lista apenas consta mais um nomen começado por i-, porém já quase no fim, em 9.º lugar: Iunius/-a, com 203 casos. 7.2.3. Na Baetica a situação repete-se, embora com matizes: 7.2.3.1. no Conventus Cordubensis temos 26 Iulii/-ae e 13 Iunii/-ae, faltando qualquer outro nomen em i- (CIL II2/7, p. 234); 7.2.3.2. no Conventus Astigitanus surgem 47 Iulii/-ae contra 23 Iunii/-ae, limitando-se Ignatia, Iuclia e Iuventia a um exemplo cada (CIL II2/5, p. 387). 7.2.3.3. na Província de Cádiz, 18 Iulii; mas aqui os Iunii/-ae atingem 22 casos; isolado aparece Irrius (González, 1982, p. 291; López de la Orden/Ruiz Castellanos, 1995, p. 119; López de la Orden, 2001, p. 123); 7.2.3.4. na Província de Sevilha temos 22 Iulii/-ae, 18 Iunii/-ae e, por fim, 04 Iuventii/-ae (González, 1991-1996, pp. 357-358); 7.2.3.5. na Província de Jaén, 24 Iulii/-ae e 07 Iunii/-ae (González/Mangas, 1991, pp. 713-714); 7.2.3.6. na Província de Granada, 10 Iulii/-ae e 06 Iunii/-ae (Pastor, 2002, p. 336); 7.2.3.7. finalmente, na Província de Huelva, a 06 casos de Iulii corresponde apenas 01 de Iunius, não se apurando nenhum outro nomen começado por i- (Gonzalez, 1989, p. 163). 7.2.4. Destes resultados podemos pois retirar as seguintes conclusões: 7.2.4.1. Na generalidade da Baetica apenas são frequentes dois gentilícios em i-, Iulius e Iunius. 7.2.4.2. Com excepção da Província de Cadiz, os Iulii excedem sempre em muito os Iunii. A ordem média de grandeza é de 63% para os primeiros e de 37% para os segundos. Em Huelva, porém, a proporção atinge o índice, respectivamente, de 06 para 0111.

166

dalucía – províncias de Huelva (González, 1989), de Sevilha (id., 1991-1996), de Jaén (González/Mangas, 1991) e de Granada (Pastor, 2002); dos índices de CIL II2/5 e de CIL II2/7, correspondentes aos conventus Astigitanus e Cordubensis; por fim, dos índices de três monografias complementares para a Província de Cádiz, de González (1982), de López de la Orden e Ruiz Castellanos (1995) e de López de la Orden (2001). Contámos apenas com os exemplos seguros e de época imperial. Quer os anacronismos administrativos – províncias modernas vs. conventus –, quer a pontual sobreposição de algumas das áreas geográficas tratadas em diversos daqueles corpora, quer ainda a carência de dados actualizados para alguns outros territórios béticos aqui omissos, são factores que não transtornam o tipo de abordagem efectuado nem relativizam os seus resultados. 11 Recentemente surgiu um novo membro da gens Iunia na Província de Huelva – agora em território aruccitano –, mas também um outro da gens Iulia (cfr. Bermejo, 2012).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

7.3. O cognomen R(…) 7.3.1. Utilizaremos aqui a mesma metodologia que seguimos ao abordar a sigla gentilícia. Na listagem de Mócsy (1985, pp. 27-28) referente aos cognomina – 224 nomes aí indexados – Rufus detém o 5.º lugar, com mais de meio milhar de casos. Segue-se-lhe, em 15.º lugar, o seu derivado Rufinus, com menos de 400 exemplos. Vem depois Restitutus, já em 57.º lugar e com menos de 200 casos; Rusticus, em 62.º lugar; Romanus, em 86.º; Respectus, em 130.º; Reburrus, em 141.º; abaixo vêm ainda Romulus e Restutus. 7.3.2. No que respeita a Península Ibérica, em geral (e utilizando de novo Abascal, 1994, p. 31), entre os 25 cognomina com maior representação encontramos apenas quatro começados por r-: Rufus, que ocupa o 2.º lugar de toda a lista, com 203 exemplos; o seu derivado Rufinus, em 5.º lugar e com 163 casos; Rusticus, em 16.º lugar e com 89 casos; por fim, Reburrus, em 18.º lugar e com 86 exemplos. É interessante notar que a Península se comporta, neste aspecto, de modo tendencialmente similar à generalidade do Império, embora apresente alguma especificidade. Esta prende-se, sobretudo, com o muito maior destaque ainda assim aqui assumido por Reburrus – facto aliás absolutamente natural já que nos encontramos perante um antropónimo hispânico. 7.3.3. Vejamos agora os comportamentos onomásticos de vários territórios béticos quanto a cognomina começados por r-: 7.3.3.1. no Conventus Cordubensis (CIL II2/7, p. 240) Rufus/-a e Rusticus/-a predominam e equivalem-se, com 11 casos cada; segue-se Rufinus/-a, com 05 casos; vêm depois Reburrus e Restitutus/-a, com 02 casos cada; por fim, representados apenas por um exemplo, Rectina, Rectus, Rhodine, Rhodo, Rhodoe, Rocianus, Romana, Rome, Romulus, Rossia, Rufio, Rullina, Rusticula e Rutilianus; 7.3.3.2. no Conventus Astigitanus (CIL II2/5, p. 394) vem de novo à frente Rufus/-a, com 15 casos; logo depois surge Rusticus/-a, com 11 exemplos; e Rufinus/-a, com 07; com 03 casos cada temos Restitutus/-a e Romanus; e, com 02, Reburrus, Romulus/-a e Ruga; apenas com um, encontramos Raucus, Remus, Repentinus, Rhodope, Romulensia, Rufilla, Ruso, Rutilianus e Rutilus; 7.3.3.3. na Província de Cádiz (González, 1982, p. 296-297; López de la Orden/Ruiz Castellanos, 1995, p. 120; López de la Orden, 2001, p. 123-124) o panorama é o seguinte: Rusticus/-a destaca-se, com 08 casos; imediatamente depois vêm Restitutus e Rogatus, ambos com 07; Rufus surge aqui a par de Romulus/-a, com apenas 03 casos cada; abaixo vem Rufinus/-a, com 02 exemplos; e, com um único, Rectus, Regillus, Restuta, Rocianus, Romana, Rosciana e Rufilla; 7.3.3.4. na Província de Sevilha (González, 1991-1996, IV, p. 368) constatamos a simultânea predominância de três diferentes cognomina, Rufinus/-a, Rufus/-a e Rusticus/-a, todos eles com 10 testemunhos; Restitutus e Romulus/-a aparecem com 05 casos cada; Restutus com 02; e, isolados, temos Rarus, Rectina, Ripanus, Romanus, Romulensia e Rhodine; 7.3.3.5. na Província de Jaén (González/Mangas, 1991, p. 730) os cognomina começados por r- não assumem grande frequência: 03 exemplos de Rusticus; em seguida e par a par surgem Romanus/-a, Rufinus/-a e Rhodope, com 02 casos cada; e, com apenas um, Repentinus, Robia, Rufilla, Rufus, Ruga e Rusticilla; 7.3.3.6. na Província de Granada (Pastor, 2002, p. 339) os cognomina em rapresentam-se ainda com um menor número de casos: Restitutus, Rufus/-a e Rusticus/-a, todos eles com 02 exemplos; e, com apenas um, Regenus, Rogatus, Romula e Ruso;

167

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

7.3.3.7. por fim, no que concerne à Província de Huelva (González, 1989, p. 164), por r- apenas sobressaem Reburrus e Reburrinus, com 02 exemplos cada; limitam-se a um único caso Restituta, Rufinus e Rustica. 7.3.4. As principais conclusões que estes dados nos permitem retirar são as seguintes: 7.3.4.1. Se contarmos com todas as amostragens, em conjunto, verificamos que, com mais de quarenta casos, se evidenciam os cognomina Rusticus/-a, com 46, e – note-se, aqui apenas em segundo lugar – Rufus/-a, com 42; com vinte ou mais exemplos destaca-se outra dupla, formada por Rufinus/-a, com 27, e Restitutus/-a, com 20; por sua vez, entre cinco e dez casos, temos Romanus/-a e Rogatus, cada qual com 08, além de Reburrus, com 06; abaixo encontramos, com 03 exemplos, Rhodope, Ruga e Rufilla; e, com 02, Reburrinus, Rectina, Rectus, Repentinus, Restutus, Rhodine, Rocianus, Ruso e Rutilianus; todos os demais cognomina iniciados por r- assinalados na totalidade das anteriores alíneas circunscrevem-se a um testemunho isolado. 7.3.4.2. Porém, esta perspectiva geral não se repete individualmente em todas as regiões analisadas: nos conventus Cordubensis e Astigitanus, Rufus/-a sobrepõe-se a Rusticus/-a; em Sevilha e em Granada equiparam-se; em Cádiz e em Jaén inverte-se a ordem. Por sua vez, às quatro mais comuns predominâncias – Rufus e Rusticus, Rufinus e Restitutus – opõem-se, de uma forma ou de outra, algumas situações de excepção: p. ex., em Cádiz, Rogatus – que, fora desta região, apenas nos surge num caso isolado em Granada – situa-se imediatamente em segundo lugar, a par de Restitutus; Romulus, ausente nas listagens de Jaén e de Huelva, tão só residual nas do Conventus Cordubensis e de Granada, ou pouco mais na do Conventus Astigitanus, destaca-se todavia em Sevilha, onde, com Restitutus, ocupa o segundo lugar, e em Cádiz, onde compartilha com Rufus o terceiro; na região de Huelva, os únicos cognomina em r- com mais do que um exemplo são Reburrus e Reburrinus, par a par, ficando-se aqui os geralmente tão populares Restitutus, Rufinus e Rustica por apenas um caso cada.

7.4. Os trianomina L(ucii) I(…) R(…) Das análises onomásticas apresentadas podem pois equacionar-se as seguintes hipóteses: 7.4.1. Diríamos a priori que o gentilício das siglas em estudo seria, com maior probabilidade, Iulius; embora, tendo em conta a perspectiva geral da Baetica, Iunius não deixasse também de poder ser pertinentemente considerado. Todavia, conforme constatámos, no caso particular de Huelva prevalece de forma muito expressiva o primeiro destes gentilícios. Ora, inserindo-se a marca L.I.R neste preciso contexto, aumenta assim consideravelmente a possibilidade de estarmos de facto perante um Lucius Iulius R(…). 7.4.2. Quanto ao cognomen pareceriam convir, antes do mais e de uma forma genérica, Rusticus ou Rufus, ou mesmo Rufinus ou Restitutus. No entanto, atendendo de novo à específica realidade onomástica da região de Huelva, torna-se muito provável que tenha sido afinal Reburrus ou Reburrinus.

168

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

8. Probabilidade vs. Admissibilidade Ponderados agora, de forma isenta e objectiva, todos os dados e condicionantes, verificamos não deixar de ser conjectura admissível que o desenvolvimento das siglas L.I.R pudesse de facto corresponder a L(ucii) I(ulii) R(eburrini). Partindo desta possibilidade, a que chegámos sem preconceitos e através da exclusiva análise das fontes onomásticas disponíveis, difícil se torna aventar que esse atendível Lucius Iulius Reburrinus, com oficina figulina em Rio Tinto, pudesse ser simplesmente homónimo e nada tivesse pois a ver com o Lucius Iulius Reburrinus olisiponensis, o qual viveu e foi sepultado também em Rio Tinto. Porém, para darmos esse passo de cariz identificativo – mesmo que nunca ultrapassando ainda assim o mero nível da hipótese –, ter-se-ão antes de averiguar três aspectos decisivos e de verificar se eles se revelam, ou não, conciliáveis com tal proposta: (a) qual o estatuto social de Lucius Iulius Reburrinus olisiponensis; (b) qual o seu provável estatuto profissional; (c) qual o grau de compatibilidade cronológica entre este indivíduo e as lucernas produzidas nas oficinas L.I.R.

9. O estatuto social de L. Iulius Reburrinus Lucius Iulius Reburrinus é identificado, no seu epitáfio, através da clássica estrutura onomástica trianominal e da menção da origo, olisiponensis. Não se indica, porém, qualquer filiação e inscrição na tribo. 9.1. ¿Lucius Iulius Reburrinus, cidadão? Devido à referida estrutura onomástica, este indivíduo tem sido considerado um homem livre, um ingenuus, um cidadão. Assim, Domergue (1990, p. 339) inclui-o (n.º 13) no quadro intitulado «Les personnes de condition libre dans les mines de la Péninsule Ibérique à l’époque impériale» e salienta-lhe a «dénomination romaine traditionnelle» na qual «les hommes sont désignés par les tria nomina» (p. 343). Pérez Macías (1998, p. 217) refere-o como sendo de «condición libre». Aquilino Delgado (2006, p. 89) insere Reburrinus no âmbito dos «trabajadores jurídicamente libres (ingenui), aunque sin un estatuto privilegiado». E O’Kelly (2013a, p. 178), sem mencionar especificamente o olisiponense em estudo, afirma que em Rio Tinto «algunas (…) tumbas portaban inscripciones» que, pela presença de formações onomásticas trianominais, «indicaban la condición de libre» dos seus utentes, os quais corresponderiam a «trabajadores libres cuyo status queda evidenciado en la riqueza de sus ajuares funerarios». 9.2. Lucius Iulius Reburrinus, liberto 9.2.1. Todavia, a ausência de filiação e tribo, além do mais num epitáfio – tipo de epígrafe que, por definição, serve não só para perpetuar o nome do defunto mas também, quanto a realidade o permita, o seu reconhecido estatuto social, cursus honorum e demais detalhes biográficos prestigiantes –, induz-nos a considerar L. Iulius Reburrinus como um liberto. 9.2.2. Poder-se-ia porventura argumentar que o período vivencial deste indivíduo correspondesse a uma época de desvalorização desses indicadores

169

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

de cidadania, justificando assim a sua omissão; ou que o facto de ser sepultado longe da sua terra natal haja de alguma forma contribuído para tal ‘esquecimento’. Mas, na verdade, não é defensável qualquer uma destas eventuais suposições. A primeira, porque a cronologia credível quanto à sepultura em análise nos aponta para um contexto demasiado precoce para que pudesse ter já ocorrido a referida depreciação – a qual de facto mais tarde se verifica, porém apenas a partir de finais do séc. II d.C. e, sobretudo, durante o séc. III. No que se reporta ao segundo argumento, recorde-se não só que o estatuto de cidadania não se perde nem se secundariza quando se vai viver para fora da respectiva civitas ou mesmo para outra provincia, mas que, pelo contrário, se torna então ainda mais premente e necessário evidenciá-lo a fim de assegurar, evidentemente não no jus mas sim na praxis, a plena preservação e protecção dos inerentes direitos. Veja-se o caso do também olisiponense e contemporâneo M. Cassius M. f. Gal. Sempronianus, diffusor olearius, igualmente radicado na Baetica (CILA II 281). Repare-se ainda que Sempronianus terá – com grande probabilidade – contraído matrimónio com uma sua liberta, Cassia Zoe (CILA II 282), enquanto através da inscrição de Reburrinus ficamos a saber que este, por sua vez, manteve uma mera relação de contubérnio com uma indivídua denominada por um único antropónimo, Fortunata, decerto pois ainda (sua) escrava (cfr. Gongález, 1989, p. 92). Estas duas situações poderão assim ser colocadas em paralelo, mas cada qual no seu nível: o cidadão M. Cassius M. f. Gal. Sempronianus unido pelo matrimonium à sua liberta Cassia Zoe; e, um ponto abaixo na escala social, o liberto L. Iulius Reburrinus vinculado pelo contubernium à sua escrava Fortunata. 9.2.3. É bem verdade que, entre a epigrafia de origem servil documentada na Hispânia romana, não são demasiado frequentes os indivíduos que mantêm um nome de tipo paleohispânico, como é o caso de Reburrinus. Mas Julio Mangas (1971, p. 55 e ss.) indexa ainda assim algumas dezenas. Mesmo que a sua lista abranja numerosos antropónimos hoje dificilmente classificáveis como indígenas e que nem todos os casos onomasticamente válidos e com nome único se reportem aqui necessariamente a escravos, podendo antes alguns deles representar peregrini [conforme, p. ex., o Reburrinus lapidarius da região de Bracara Augusta (p. 220)12], não há dúvida que ainda assim subsistem significativos exemplos de indivíduos de origem servil com nomes indígenas. Por exemplo, Minucia Aranta (p. 459), sepultada nos agri olisiponenses. 9.2.4. Pérez/Delgado (2012b, p. 60 col. 2) salientam a «promoción económica» de L. Iulius Reburrinus, «cuya lápida funeraria de mármol se diferencia de la sencilla lápida de pizarra de la esclava imperial Faustilla», igualmente sepultada em Rio Tinto (CILA I 35). Ora a ideia-feita, acaso aceite por alguns autores, de que a riqueza material está, na época romana e inclusive imperial, directa ou exclusivamente ligada à cidadania, ou à condição de ingenuus, é consensual e amplamente contradita por numerosos e mesmo ostensivos exemplos concretos de libertos muitíssimo ricos – como, p. ex., para continuarmos no âmbito olisiponense, o do augustalis perpetuus C. Heius Primus (quanto a este notável cfr., ultimamente, Fernandes, 2005; e Edmondson, 2009).

170

12 «La condición social de los artesanos [de actividades lapidares na Hispânia romana] es diversa: encontramos libres, libertos y siervos»; «los indígenas (…) predominan al norte del Duero, sobre todo en la zona de Braga» (Gimeno, 1988, p. 75).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

9.2.5. Por tudo quanto acabámos de expor não vemos pois qualquer razão em não considerar L. Iulius Reburrinus um liberto, apesar dos seus sinais de relativa – embora modesta, convenhamos – riqueza. Bem ao contrário, a omissão de filiação e de tribo, assim como a explícita assumpção de um relacionamento de contubernium são, no contexto em causa, factores decisivos que apontam de forma que cremos inequívoca para a origem servil deste personagem. 10. O estatuto profissional provável de L. Iulius Reburrinus Quanto ao possível estatuto profissional de Reburrinus subsiste um importante – embora indirecto – indício que, pura e simplesmente, tem sido ignorado: a presença de um atramentarium de “terra sigillata” no interior do seu túmulo – peça que, fora um pequeno e deteriorado objecto de ferro não identificado, constitui afinal, como vimos, toda a supellex desta incineração. 10.1. O atramentarium de L. Iulius Reburrinus [Fig. 4] Quando surgiu, esta peça era a segunda no seu género registada em toda a Península Ibérica. Hoje porém conhecem-se algumas dezenas de casos, completos ou, com maior frequência, simples fragmentos. O respectivo suporte é quase sempre em “sigillata” hispânica ou sud-gálica. Contudo, também se documentam escassos exemplares em “sigillata” itálica (um), em “paredes finas” (três), em vidrado a verde (um) e em cerâmica comum (dois). A forma é sempre a 51 (cfr. Mezquírez, 1961, p. 70) – correspondente a Hermet 18 ou a Ritterling 13 –, embora com variantes. 10.1.2. A difusão da Forma 51 na Hispânia romana: Actualmente conhece-se algo mais de 80 atramentaria deste tipo registados nas províncias hispânicas: 10.1.2.1. Baetica: (a) 01 em Rio Tinto (é o da sepultura de Reburrinus e carece ainda de uma publicação especializada; creio tratar-se de uma peça em “sigillata” hispânica); (b) 01 em Italica (Mayet, 1983-1984, I, p. 80 e II, p. 30 e pl. LXXVIII.257; em “sigillata” hispânica); (c) 04 em Baelo (Bourgeois/Mayet, 1991, p. 84 e pl. XIV.1; todos em “sigillata” sud-gálica). 10.1.2.2. Lusitania: (a) 31 em Augusta Emerita (Bustamante, 2013, pp. 124-128 e lám. 156 n.os 1-17; Bustamante/Bello, 2004, pp. 533-534 e figs. 8 e 9; dois em cerâmica comum, três em “paredes finas” emeritenses, oito em “sigillata” sud-gálica, dezoito em hispânica); (b) 15 em Conimbriga (Alarcão, 1975, pp. 94, 102 e pl. XXV, n.os 172-173; Quinteira, 1984, pp. 106-107 e est., n.º 2; um em vidrado a verde, catorze em “sigillata” sud-gálica); (c) 01 em Scallabis (Viegas, 2003, p. 151; em “sigillata” hispânica); (d) 01 em Collipo (Oleiro/Alarcão, 1969, p. 8 e est. I, n.º 9; em “sigillata” hispânica); (e) 01 em Vipasca (Leite de Vasconcellos, 1913, p. 188 n. 2 e p. 190 fig. 82; Brandão, 1961, p. 31 n.º 1; em “sigillata”). 10.1.2.3. Tarraconensis: (a) 02 em Carthago Nova e arredores (Castellano, 2000, pp. 156 e 157; Ramallo e al., 2010, p. 301 e 315 fig. 9 n.º 12; um em “sigillata” sud-gálica marmoreada, outra em itálica); (b) 09 em Bilbilis (Martín Bueno, 1976, p. 73 e lám. I, n.os 18 e 19; Saénz, 1997, p. 261 e lám. 48, n.os 344-350: dois em “sigillata” sud-gálica; sete em hispânica); (c) 01 em Emporiae (Mayet, 1983-1984,

171

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Fig. 4 - O atramentarium de L. Iulius Reburrinus, exposto no Museu Arqueológico de Huelva (cortesia de Aquilino Delgado).

I, p. 80 e II, p. 30 e pl. LXXVIII.258; em “sigillata” hispânica); (d) 01 em Arcobriga (Juan, 1992, pp. 46 e 58 e fig. 1.3.9, n.º 110; em “sigillata” hispânica); (e) 01 em Bezares, Logroño (Mezquíriz, 1976, pp. 301 e 304 est. Hermet 18; em “sigillata” hispânica); (f) 04 em Bracara Augusta (Morais, 2004, I-II, pp. 276-277 e 298, III, p. 105 n.º 204 e p. 200 n.os 406-407; um em “sigillata” sud-gálica, três em hispânica); (g) 01 em Tongobriga (Brandão,1991, pp. 29-30 e est.; em “sigillata”); (h) 01 no Castro de Chao Samartín, Astúrias (Hevia/Montes, 2009, p. 35 e fig. 7 n.º 2; Menéndez/Sánchez, 2009; em “sigillata” sud-gálica); (i) 01 em Torre Llauder, Mataró (Ribas, 1972, p. 161, fig. 35 n.º 6; em “sigillata” sud-gálica); (j) 01 em Lancia (conservado no Museo Arqueológico de León, supomos que inédito, referido por Bustamante/Bello, 2004, p. 532 col. 2; e por Bustamante, 2013, p. 126); além de mais alguns distribuídos por (k) León (Fernández, 2003, pp. 67-68), (l) Asturica Augusta (Morillo/Amaré, 2005, p. 128 col. 2, “sigillata” sud-gálica), (m) Solar de Torres, Calahorra (Tirado, 2000, fig. 8), (n) Complutum (Rascón et al., 1998, p. 263, n.º 223), ou (o) porto romano de Irun (Urteaga, 2005, p. 97). 10.1.3. A cronologia da Forma 51:

172

Existem, e também na Península Ibérica, antecedentes cerâmicos para este tipo de peças, designadamente em “campaniense” (p. ex., em Valencia: cfr. Martín, 1962, pp. 94 e 95 fig. 3, n.º 15); como também se registam derivados tardios, em “sigillata” clara (p. ex., em Cercadilla, Córdoba; ou em Lucentum: cfr., respectivamente, Moreno, 1998, p. 256; e Reynolds, 1987, pp. 106 e 107, n.º 889).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Porém, no que respeita em concreto à Forma 51, o seu fabrico e uso limitam-se ao período que vai da época proto-flávia à antonina. Aliás, será apenas durante a dinastia flávia que estes atramentaria atingirão uma verdadeira popularidade, conforme parece deduzir-se dos exemplos descobertos nas províncias hispânicas, designadamente em contextos arqueológicos fechados (cfr. Bustamante, 2013, pp. 125-128). 10.1.4. Atramentaria e circunstâncias funcionais:

Estes objectos empregam-se sobretudo em actividades de feição escriturária, ou escriturário-burocrática. As pequenas dimensões do presente tipo de tinteiros sugerem ainda um uso individual dos mesmos (id., ib., p. 342; e Bustamante/Ramón, 2004, pp. 524 e 535). 10.2. O estatuto profissional provável de L. Iulius Reburrinus considerado à luz do seu atramentarium Decididamente, a presença de um atramentarium como peça destacada no espólio da sepultura em análise revela, por si só, que L. Iulius Reburrinus teria, pelo menos na derradeira etapa da sua vida, um estatuto profissional condizente com um tipo de trabalho que implicasse actividades escriturárias e, talvez também, de contabilidade; porventura, a gestão de um negotium. 11. Questões de cronologia 11.1. A morte de Reburrinus, a julgar pelas características morfológicas, paleográficas e formulares da sua lápide funerária, deverá ter ocorrido nos inícios do séc. II d.C.. Havendo perdurado 41 anos, este personagem terá nascido pois nos inícios do imperialato de Vespasiano, ou mesmo um pouco antes, e falecido ainda durante o de Trajano. O seu período de vida profissional activa, como homem feito, não haverá excedido em muito os 20 anos, iniciando-se assim apenas por meados da dinastia flávia. 11.2. A presença, no seu túmulo, de um atramentarium em “sigillata” inserível numa tipologia sobretudo fabricada e utilizada no período flaviano, prolongando-se embora pela época antonina, coaduna-se com a datação que propusemos para o epitáfio de Reburrinus e, ainda, com as atendíveis balizas cronológicas do seu percurso vivencial. 11.3. Conforme vimos (cfr. alíneas 3.6.3. a 3.6.5.), contextos arqueológicos fechados emeritenses proporcionaram a Macarena Bustamante datar o período de fabrico das lucernas ditas “mineiras” desde os Flávios até finais do imperialato de Antonino Pio. Por sua vez e agora em concreto quanto a exemplares marcados com as siglas L.I.R, Pérez Macías encontrou-os em níveis flavianos e trajano-adriânicos de Rio Tinto; sem que evidentemente lhe tivesse sido possível definir, com os elementos de que dispunha, (a) se esse relativo largo tempo poderia todo ele corresponder ao fabrico activo de tais lâmpadas ou, em alternativa, (b’) ao seu fabrico e simultânea utilização num primeiro período e (b”), numa fase ulterior, apenas à regular continuidade de utilização pós-fabrico de peças ainda em circulação. 173

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

11.4. O denominador comum das cronologias apontadas, considerando-se todas as respectivas condicionantes, centra-se assim entre meados da dinastia flávia e inícios do período antonino; ou seja, aproximadamente entre 85 e 105 d.C.. 12. Condições de compatibilidade teórica entre o personagem L.I.R e Lucius Iulius Reburrinus Teoricamente existem, pois, condições de compatibilidade entre o personagem L.I.R e Lucius Iulius Reburrinus: 12.1. L.I.R viveu e trabalhou na zona mineira de Rio Tinto no período de transição entre o séc. I d.C. e o séc. II; Reburrinus também. 12.2. o estatuto profissional de L.I.R na época em que esteve ligado à produção de lucernas marcadas com as suas siglas parece ter sido o de proprietário/empresário; o de Reburrinus, ao menos na(s) derradeira(s) parte(s) da sua vida, encontrar-se-ia num idêntico patamar; 12.3. o praenomen de L.I.R é evidentemente Lucius, o seu gentilício tem a maior das probabilidades de ser Iulius e, no contexto antroponímico da Província de Huelva, o respectivo cognomen possui largas e entre si idênticas hipóteses de ser Reburrus ou Reburrinus; os trianomina de L(ucius) Iulius Reburrinus correspondem na perfeição a estas precisas circunstâncias onomásticas; 12.4. a condição social de Lucius Iulius Reburrinus é, certamente, a de liberto; o enquadramento sócio-económico que poderemos supor para determinado indivíduo que desempenhe uma actividade idêntica à de L.I.R coaduna-se bastante bem com aquele estatuto. 13. Evidências e possibilidades: proposta de síntese quanto a Lucius Iulius Reburrinus e (quanto) às lucernas com a marca L.I.R Recoloquemos as interrogações com que iniciámos este estudo: ¿Estaremos perante factos pertencentes a uma só narrativa ou, antes, diante de duas diferentes histórias em paralelo? Na impossibilidade de responder ainda agora de forma absolutamente categórica num ou noutro sentido – apesar de entretanto termos revisto atenta e demoradamente todos os pontos e matérias relacionados com estas questões –, ensaiemos pois aqui três diferentes sínteses: as duas primeiras menos arriscadas, apenas coincidentes no tempo e no espaço, conformes pois com uma isenta perspectiva individualizadora; a última, mais vulnerável quão aliciante, de acordo com uma mais subjectiva embora viável leitura globalizante dos dados.

174

13.1. Quanto a L. Iulius Reburrinus, independentemente da questão das lucernas com a marca L.I.R Como a origo prevalece sobre a condição social, podemos ter a certeza de que Reburrinus, fosse qual fosse então o respectivo estatuto, era de facto natural da civitas de Felicita Iulia Olisipo, porquanto explicitamente se afirma olisiponensis. Pode porém ter nascido ainda peregrinus, ou já escravo. No primeiro caso havemos de

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

supor que, em certo momento da sua vida – provavelmente cedo –, tenha sido reduzido à condição servil e, mais tarde, libertado pelo seu dominus, ora patronus – um membro da gens Iulia, tão bem representada naquele município (cfr. AALR, pp. 199-200 e mapa 158); neste contexto haveria que notar ter-lhe sido sempre mantido o seu nome paleohispânico, pese embora o vulgar hábito de serem conferidos aos escravos antropónimos ‘novos’ escolhidos pelos seus donos – tantas vezes, aliás, alusivos a uma prestigiante onomástica de feição helenística (cfr., v.g., Cardim Ribeiro, 2000, passim). Mas, de acordo com outra hipótese, pode antes aventar-se que Reburrinus tenha sido designado à nascença por outro qualquer antropónimo – ficando assim para nós oculta a sua ancestral origem, paleohispânica ou não – e que acabe por ser adquirido por um dominus chamado L. Iulius Reburrus13, o qual, como coisa expectável, lhe haverá assim conferido o nome de Reburrinus; ou seja, “o de Reburrus”, “o que pertence a Reburrus”. Uma terceira conjectura deriva da anterior: Reburrinus foi assim chamado porque nasceu, já escravo, na domus de um L. Iulius Reburrus. De qualquer dos modos, como vimos, foi-lhe em determinada ocasião concedido o estatuto de liberto. Desconhecemos o exacto momento da sua vida e quais as específicas circunstâncias em que L. Iulius Reburrinus veio para a zona mineira de Rio Tinto. Mas, na decorrência dos seus 41 anos de vida, teve decerto tempo suficiente para se enraizar neste destino que, fruto das excepcionais oportunidades conferidas pelas actividades mineiras – e por todas as outras, tão diversas, que lhes estão directa ou indirectamente associadas –, atraiu um bom número de migrantes, sobretudo oriundos da Lusitânia e da Galécia (cfr. Domergue, 1990, p. 339 tabl. XVII e 344; Pérez Macías, 1998, pp. 31 e 217; Ruíz, 1999, p. 167; e Martineau/Tranoy, 2000, p. 236). Aí (¿ou já antes?) contraiu vínculo de contubernium com uma escrava, Fortunata, a qual lhe sobreviveu. Também em Rio Tinto exerceu profissão compatível com a prática escriturária e, talvez ainda, contabilística e de gestão. Ora muitas funções adequadas a este perfil tinham lugar nos territórios mineiros de maior importância; sem esgotar, como é natural, todas os casos possíveis, tomemos como exemplo as seguintes profissões e cargos codificados na tabula I de Vipasca (vid. os desenvolvidos análise e comentário de Domergue, 1983, pp. 48-109; cfr. ainda, em síntese, Encarnação, 1984, pp. 204-211 n.º 142): os banqueiros-comissários (argentarii) que organizam os leilões (auctiones) – de poços de exploração, nomeadamente –, os adjudicatários (emptores), vários comerciantes que vendem múltiplos artigos essenciais à actividade mineira – sobretudo escravos e, ainda, animais de tiro e de carga –, os fornecedores de serviços regulares – como os balneae –, os negociantes de escórias (scaurarii) e de pedra (testarii), respectivos sócios (socii) e agentes (actores), os mestres-escola (ludi magistri)14… Mesmo que não possamos considerá-lo propriamente um homem rico, o desafogo económico de Reburrinus – pelo menos durante os últimos anos – espelham-se 13 No Município Olisiponense são relativamente vulgares os cidadãos identificados através de praenomen e gentilício latinos, filiação e tribo, mas ostentando cognomen hispânico, revelando-nos assim a sua mais ou menos remota ascendência peregrina. Alguns, como p. ex. L(ucius) Iulius Maelo Caudicus, flamen Divi Augusti, evidenciam porém um elevado estatuto económico e uma inequívoca importância político-social no âmbito das elites regionais e da romanidade suas contemporâneas (cfr. Cardim Ribeiro, 1982-1983, passim). 14 Recorde-se a «curiosa coincidência» notada por Leite de Vasconcellos (1913, p. 188 n.2) de um atramentarium de “sigillata” «ter aparecido na mina metalífera de Aljustrel, e de na respectiva tábula 1.ª, § 8 (…) se falar de mestr’escolas ou ludi magistri».

175

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

na própria morfologia da sua sepultura e na relativa qualidade, material e epigráfica, do respectivo epitáfio (cfr. Pérez/Delgado, 2012a, p. 337). Note-se, por fim, que as cerca de quatro décadas que lhe foram dadas viver correspondem a uma média muito comum na sua época, designadamente nas províncias hispânicas, e a um índice de longevidade considerado já afortunado (cfr. Encarnação, 2000, passim). Aliás, nos ambientes mineiros como os de Rio Tinto, «del examen de la epigrafía y de las edades en ellas expresadas se colige un promedio de vida muy corto», que em muitos casos não ultrapassaria os 25 anos (Pérez Macías, 1998, p. 31).

13.2. Quanto às lucernas com a marca L.I.R, independentemente de L. Iulius Reburrinus Não é impossível que L.I.R haja sido, em determinada etapa da sua vida, um mero oleiro. Porém os testemunhos materiais que nos deixou, as lucernas marcadas com as suas siglas, apontam-nos já para um outro e mais elevado patamar económico-profissional: o de proprietário de oficinas figulinas. Na verdade L.I.R terá possuído pelo menos três diferentes olarias, cujo funcionamento não sabemos com rigor se foi sucessivo ou simultâneo. O “ar de família” que une a produção de Rio Tinto com a das lucernas utilizadas em Vipasca – tons escuros, predominância do tipo Luzón B, cartelas amendoadas e singelos puncta entre as letras – sugere que estas duas oficinas possam quiçá ter laborado ao mesmo tempo. De forma bem diferente, as lâmpadas “votivas” de Santa Bárbara, com as suas pastas de tom claro e rosado – moldadas pois em barros brancos salgados –, todas de tipo Luzón A e com as cartelas circulares e pontuação efectuada através de hederae, indicam talvez um fabrico levado a cabo numa outra fase, acaso anterior. Poder-se-á ainda questionar se a lucerna do Museu de Lérida, igualmente com pasta clara e cartela circular – embora com puncta simples –, foi ou não moldada também ela na mesma oficina das de Santa Bárbara, ou se afinal constitui residual vestígio de uma quarta olaria L.I.R. De qualquer dos modos, a principal e mais produtiva empresa deste personagem parece ter sido, com evidência, a de Rio Tinto. Aqui se fabricaram a maioria das lucernas L.I.R que até nós chegaram. E ainda, ao que tudo leva a crer, várias outras formas de cerâmica comum com pastas similares, designadamente jarras piriformes com uma ou duas asas e vasos para libações (cfr. Campos/Pérez/Vidal, 2004, pp. 140-141; O’Kelly, 2013a, pp. 186-188; Delgado/ Pérez, 2014, pp. 404-407). Além do mais, no contexto da vasta manufactura de lucernas ditas “mineiras” desenvolvida em várias oficinas de Rio Tinto desde a época flávia à antonina, entre aquelas que exibem marcas triliterais – com fortíssima hipótese correspondentes às assinaturas trianominais dos respectivos proprietários/ empresários –, as L.I.R sobressaem de forma muito expressiva em quantidade: considerando como significativa amostragem a vasta série publicada por Luzón (1967), encontramos nela 28 exemplares com as siglas L.I.R contra apenas três assinados G.T.G (n.os 38-40), dois G.A.G (n.os 44-45) e um R.T.I (n.º 46)15.

176

15 Não incluímos aqui as marcas MVS (n.º 41) e LAT (n.º 43), cada qual aliás com apenas um exemplo no âmbito desta série, porquanto a aparente ausência de puncta distinguentes dificulta a percepção de eventualmente nos encontrarmos, de igual modo, perante siglas trianominais, ou tão só na presença de abreviaturas de um único nome – ou mesmo, na caso de MVS, diante de um curto antropónimo escrito por inteiro, em nominativo (cfr. Kajanto, 19822, pág. 328).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

Como é evidente, não subsistem dúvidas que o personagem em causa logrou um manifesto êxito no negotium figulino, nomeadamente na zona mineira de Rio Tinto. 13.3. Quanto a L. Iulius Reburrinus como possível fabricante das lucernas “mineiras” com a marca L.I.R Partindo porém da hipótese possível de L. Iulius Reburrinus olisiponensis ter sido ele próprio o fabricante das lucernas ditas mineiras com a marca L.I.R, e tomando em consideração os dados antes analisados assim como as conclusões parcelares a que chegámos, esbocemos a concluir a seguinte narrativa – embora, como é evidente, a título meramente teórico e ‘experimental’: Reburrinus nasce em Olisipo, ou ainda na condição de peregrinus ou já escravo. Não é impossível que então, na sua condição servil, haja aprendido e exercido a profissão de oleiro. A dada altura libertado por um Iulius – ou Iulia – seu senhor, passar-se-á a chamar, no normal cumprimento das regras jurídicas estabelecidas para a transmissão onomástica entre patronus e libertus, L. Iulius Reburrinus. À aquisição desse novo estatuto social deverá ter correspondido, também, uma condição económica favorável. Porventura no âmbito destoutro contexto ter-se-á a dado momento deslocado para o Sul da Lusitania ou para o litoral da Baetica e montado aí, ora na posição de empresário, uma primeira indústria figulina, na qual porventura terão sido moldadas as lucernas de barro branco-rosado descobertas em Santa Bárbara e que levam a marca L.I.R. Algum tempo depois haverá seguido para a área mineira de Rio Tinto, rica de oportunidades, estabelecendo então uma outra officina. Nesta fase de expansão económica Reburrinus poderá ainda ter montado mais algumas olarias menores em diferentes lugares, como aquela que produziu as lucernas L.I.R de Aljustrel. A dada altura deste percurso vivencial Lucius Iulius Reburrinus ligou-se pelos laços de contubernium a uma (sua?) escrava. Foi esta que acabou por lhe mandar fazer o túmulo e o epitáfio quando ele morreu, aos 41 anos. Neste não demasiado longo ciclo de quatro décadas teremos de compreender todo o percurso vivencial de Reburrinus/L.I.R, nascido nos começos da dinastia flávia e vindo a morrer por meados do imperialato de Trajano. A sua officina de Rio Tinto poderá talvez ter-lhe sobrevivido e continuado ainda durante alguns anos a produzir lucernas mantendo a marca do fundador, à qual estaria ligado um inequívoco prestígio. Entretanto, junto às cinzas de L. Iulius Reburrinus um fino tinteiro de “sigillata” assinalava-lhe a ascensão sócio-económica e o consagrado estatuto de negotiator – mas nenhuma lâmpada da sua lavra recordaria aí os tempos distantes de um eventual simples e servil oleiro… 14. Algumas propostas e recomendações 14.1. Quanto a L. Iulius Reburrinus 14.1.1. Propostas: 14.1.1.1. passar a referi-lo de forma não imperiosamente relacionada com as lucernas L.I.R ou com a produção figulina – apesar de tudo uma simples hipótese, embora em nada impossível –, destacando-lhe antes o estatuto profissional compatível, tudo leva a crê-lo, com uma actividade de cariz escri-

177

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

turário, eventualmente mesmo com a gestão de um negotium; 14.1.1.2. porém, se – ou quando – de alguma forma se considerar pertinente continuar a relacioná-lo com as oficinas L.I.R, deverá então abandonar-se por completo a ideia de nos encontrarmos perante um singelo oleiro, ainda que eventualmente itinerante, e substitui-la pela muito mais provável suposição de estarmos diante de um proprietário/empresário. 14.1.2. Recomendações: 14.1.2.1. publicação de notas descritivas, desenhos e/ou fotografias porventura ainda existentes (¿no Museu de Huelva?) e reportáveis à descoberta da sepultura de Reburrinus; 14.1.2.2. identificação e, tanto quanto possível, publicação da «pieza de hierro muy oxidada» (Luzón/Ruíz, 1970, p. 138) contida na referida sepultura; 14.1.2.3. publicação detalhada do atramentarium também aí depositado. 14.2. Quanto à marca L.I.R 14.2.1. Propostas: 14.2.1.1. passar a referi-la não como necessariamente relacionada com L. Iulius Reburrinus – pese embora a eventual possibilidade dessa ligação; 14.2.1.2. evitar classificar a marca L.I.R, restritamente, como “de oleiro”, substituindo tal designação por uma de sentido mais abrangente, p. ex., “de officina”. 14.2.2. Recomendações: 14.2.2.1. revisão de antigas publicações e exame de reservas museológicas designadamente relacionadas com a Baetica e com o Sul da Lusitania, procurando localizar novos exemplares de lucernas com as siglas L.I.R, com especial atenção aos que eventualmente procedam de sítios diferentes daqueles já identificados; 14.2.2.2. definição de um corpus tão exaustivo quanto possível das lâmpadas com a marca L.I.R oriundas de todas as proveniências; e elaboração de um estudo monográfico de conjunto, uniformizando critérios descritivos, apurando e definindo diversidades de fabrico, estabelecendo possíveis tipos e sub-tipos, apresentando material gráfico rigoroso e exaustivo não apenas quanto às peças no seu conspecto geral mas, também, no que respeita às respectivas cartelas e siglas – observando ainda, nomeadamente, os aspectos paleográficos ( formas, ductus, lapsos de escrita…); apurar e indicar, sempre que possível, as condições de descoberta e os contextos arqueológicos. Bibliografia

178

AALR = NAVARRO CABALLERO, M.; RAMÍREZ SÁDABA, J. L.; et alii (2003): Atlas Antroponímico de la Lusitania Romana, Mérida-Burdeos: Fundación de Estudios Romanos. ABASCAL, J. M. (1994): Los Nombres Personales en las Inscripciones Latinas de Hispania, Murcia: Universidad. ALARCÃO, A. M. de (1975): «Les Sigillés Sud-Galliques», in M. Delgado et al., Fouilles de Conimbriga, IV: Les Sigillées, Paris: Boccard, pp. 67-149. ALARCÃO, J. de (1988a): O Domínio Romano em Portugal, Mem Martins: Publicações Europa-América.

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

ALARCÃO, J. de (1988b): Roman Portugal, I: Introduction, Warminster: Aris & Phillips Ltd. ALARCÃO, J. de; ALARCÃO, A. M. de (1966): «O espólio da necrópole luso-romana da Valdoca (Aljustrel)», Conimbriga, V, Coimbra, pp. 7-104 e ests. I-XXXVIII. ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1965): «Nuevos antropónimos hispánicos. (Continuación)», Emerita, XXXI.1, Madrid, pp. 109-143. ALBERTOS FIRMAT, M. L. (1966): La Onomástica Personal Primitiva de Hispania. Tarraconense y Betica, Salamanca: CSIC. BAILEY, D. M. (1998): Catalogue of the Lamps in the British Museum, III: Roman Provincial Lamps, London: British Museum Publications. BALIL, A. (1966): «Materiales para un índice de marcas de ceramista en lucernas de fabricación hispánica», Pyrenae, II, Barcelona, pp. 117-123. BELCHIOR, C. (1970): «Duas notas sobre lucernas da necrópole romana de Valdoca (Aljustrel)», Conimbriga, IX, Coimbra, pp. 75-79 e est. I. BERMEJO, J. (2012): «Nuevas inscripciones Aruccitanas. Los Iulii, Iunii y otras gentes del Territorio Aruccitano», in M. de Deus (coord.), Actas do V Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular, Almodôvar: Município. BLÁZQUEZ, J. M. (1970): «Migraciones en la Hispania romana en época imperial», Anuario de Historia Económica y Social, 3, Madrid, pp. 7-25. BLÁZQUEZ, J. M. (1975): La Romanización, II, Madrid: Ediciones Istmo. BOURGEOIS, A.; MAYET, F. (1991): Fouilles de Belo, VI: Les Sigillées, Madrid: Casa de Velázquez. BRANDÃO, D. de P. (1961): «Atramentarium e stilus do Museu de Penafiel», Lucerna, Porto, pp. 29-34. BUSTAMANTE, M. (2011): «Red de distribución de cerámica en poblados mineros», in J. A. Pérez et al. (eds.), Río Tinto: Historia, Patrimonio Minero y Turismo Cultural, Huelva: Universidad, pp. 113-142. BUSTAMANTE, M. (2013): La Terra Sigillata Hispánica en Augusta Emerita. Estudio Tipocronológico a partir de los Vertederos del Suburbio Norte, Mérida: Instituto de Arqueología. BUSTAMANTE, M. (2014): «Nuevos datos cronológicos de las lucernas conocidas como mineras, a partir de los contextos de Augusta Emerita», in Actas da Mesa-Redonda “As Lucernas ditas Mineiras e a sua Origem de Fabrico”, Castro Verde [trata-se do presente volume]. BUSTAMANTE, M.; BELLO, J. R. (2004): «La corriente imitativa cerámica en los alfares de Augusta Emerita: el caso concreto de los atramentaria», in T. Barrientos e F. Lavado (coords.), Mérida. Excavaciones Arqueológicas, Memoria 10, Mérida: Consorcio Ciudad Monumental Histórico-Artística y Arqueológica, pp. 523-537. CAMPOS, J. M.; PÉREZ, J. A.; VIDAL, N. de la O (2004): «Alfares y producciones cerámicas en la provincia de Huelva. Balance y perspectivas», in D. Bernal e L. Lagóstena (eds.), FIGLINAE BAETICAE. Talleres Alfareros y Producciones Cerámicas en la Bética Romana (ss. II a.C.-VII d.C.), Oxford: John and Erica Hedges Ltd. (B.A.R., int. ser., 1266), pp. 125-160. CARDIM RIBEIRO, J. (1982-1983): «Estudos histórico-epigráficos em torno da figura de L. Iulius Maelo Caudicus», Sintria, I-II, Sintra, pp. 151-476. 179

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

180

CARDIM RIBEIRO, J. (2000): «Antroponímia e helenização cultural na Hispânia Romana», in Homenagem a Mário Gomes Marques, Sintra: Instituto, pp. 419-454. CASTELLANO, J. J. (2000): «La Terra Sigillata Sudgálica del área del anfiteatro romano de Carthago Nova», Saguntum, 32, València, pp. 151-168. CIL II = HÜBNER, E. (1869-1892): Corpus Inscriptionum Latinarum, II: Inscriptiones Hispaniae Latinae, Berlin: apud Georgium Reimerum. CIL II2/5 = STYLOW, A. U.; et alii (1998): Corpus Inscriptionum Latinarum, vol. II (editio altera): Inscriptiones Hispaniae Latinae, pars V : Conventus Astigitanus, Berlin: Gualterus de Gruyter et Socii. CIL II2/7 = STYLOW, A. U.; et alii (1995): Corpus Inscriptionum Latinarum, vol. II (editio altera): Inscriptiones Hispaniae Latinae, pars VII : Conventus Cordubensis, Berlin: Gualterus de Gruyter et Socii. DELGADO, A. (2006): «Época romana», in A. Delgado (coord.), Catálogo del Museo Minero de Riotinto, Sevilla: Gandulfo Impresores, pp. 69-89. DELGADO, A.; PÉREZ, J. A. (2014): «Artífices e industrias auxiliares en las minas hispanas», in M. Bustamente e D. Bernal (eds.), Artifices Idoneos. Artesanos, Talleres y Manufacturas en Hispania, Mérida: CSIC, pp.389-419. DELGADO, A.; REGALADO, M. C. (2010): «Musealización del patrimonio minero en Riotinto (Huelva, España)», in E. Romero Macías (coord.), Patrimonio Geológico y Minero. Una Aposta por el Desarrollo Local Sostenible, Huelva: Universidad, pp. 677-693. DOMERGUE, C. (1983): «La mine antique d’Aljustrel (Portugal) et les tables de bronze de Vipasca», Conimbriga, XXII, Coimbra, pp. 5-193. DOMERGUE, C. (1987): Catalogue des Mines et des Fonderies Antiques de la Péninsule Ibérique, I, Madrid : De Boccard. DOMERGUE, C. (1990): Les Mines de la Péninsule Ibérique dans l’Antiquité Romaine, Rome : École Française. EDMONDSON, J. C. (1987): Two Industries in Roman Lusitania. Mining and Garum Production, Oxford: British Archaeological Reports (=BAR International Series, 362). EDMONDSON, J. C. (2009): «New light on doctors, medical training and links between Augusta Emerita and Olisipo in the mid-first century A.D.», in Espacios, Usos y Formas de la Epigrafía Hispana en Épocas Antigua y Tardoantigua: Homenaje al Dr. Armin U. Stylow, Madrid: CSIC (= Anejos de Archivo Español de Arqueología, 48), pp. 117-130. ENCARNAÇÃO, J. d’ (1984): Inscrições Romanas do Conventus Pacensis, Coimbra: Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras. ENCARNAÇÃO, J. d’ (2000): «Morrer aos 40 anos na Lusitânia romana», in J.-G. Gorges e T. Nogales (coords.), Sociedad y Cultura en Lusitania Romana (IV Mesa Redonda Internacional sobre Lusitania Romana), Mérida: Junta de Extremadura, pp. 241-247. ERNOUT, A.; MEILLET, A. (19854): Dictionnaire Étymologique de la Langue Latine, Paris: Éditions Klincksieck. FERNANDES, L. da S. (2005): «C. Heius Primus, augustalis perpetuus. Teatro e encenação do poder em Olisipo», Máthesis, 14, Viseu, pp. 29-40. FERNÁNDEZ, M. I. (2003): León, I: La Época Romana en León. Aspectos Arqueológicos, León: Universidad (=Arqueología Leonesa, II).

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

GARCÍA, J. (2002): El Papel de la Minería y la Metalurgia en la Córdoba Romana, Córdoba: Universidad (Tesis Doctoral). GARCÍA MARTÍNEZ, M. R. (1996): «Evidencias epigráficas de población hispana en la Gallia en época romana», Memorias de Historia Antigua, 17, Oviedo, pp. 203-214. GIMENO, H. (1988): Artesanos y Técnicos en la Epigrafía de Hispania, Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona. GONZÁLEZ, J. (1982): Inscripciones Romanas de la Provincia de Cádiz, Cádiz: Diputación. GONZÁLEZ, J. (1989): Corpus de Inscripciones Latinas de Andalucía, I: Huelva, Madrid: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía (=CILA I). GONZÁLEZ, J. (1991-96): Corpus de Inscripciones Latinas de Andalucía, II: Sevilla, Madrid: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía (=CILA II). GONZÁLEZ, J.; MANGAS, J. (1991): Corpus de Inscripciones Latinas de Andalucía, III: Jaen, Madrid: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía (=CILA III). GORDON, J. S.; GORDON, A. E. (1957): Contributions to the Palaeography of Latin Inscriptions, Berkeley-Los Angeles: University of California Press. HEVIA, S.; MONTES, R. (2009): «Cerámica romana altoimperial de fabricación regional del Chao Samartín (Grandas de Salime, Asturias)», Cuadernos de Prehistoria y Arqueología, 35, Madrid, pp. 27-190. JONES, G. D. B. (1980): «The Roman mines of Riotinto», The Journal of Roman Studies, LXX, London, pp. 146-165. JUAN, L. C. (1992): «La Terra Sigillata Hispánica», in L. Caballero (dir.), Arcobriga, II: Las Cerámicas Romanas, Zaragoza: Institución Fernando el Católico, pp. 35-303. KAJANTO, I. (19822): The Latin Cognomina, Roma: Giorgio Bretschneider Editore. LARA, F. (1975): «Estampillas romanas inéditas del Museo de Cervera (Lérida)», in XIII Congreso Nacional de Arqueología, Zaragoza, 1975, pp. 933-938. LEITE DE VASCONCELLOS, J. (1913): Religiões da Lusitania, III, Lisboa: Imprensa Nacional. LÓPEZ, J. R. (1981): «La colección de lucernas de la Casa de la Condesa de Lebrija (Sevilla)», Boletín del Seminario de Estudios de Arte y Arqueología: BSAA, 47, Valladolid, pp. 95-141. LÓPEZ DE LA ORDEN, M. D. (2001): De Epigraphia Gaditana, Cádiz: Agrija Ediciones. LÓPEZ DE LA ORDEN, M. D.; RUIZ CASTELLANOS, A. (1995): Nuevas Inscripciones Latinas del Museo de Cádiz, Cádiz: Universidad. LUZÓN, J. M. (1967): «Lucernas mineras de Riotinto», Archivo Español de Arqueología, 40, Madrid, pp. 138-150. LUZÓN, J. M. (1975): «Antigüedades romanas en la provincia de Huelva», in VV. AA., Huelva. Prehistoria y Antigüedad, Madrid: Editora Nacional, pp. 271-320. LUZÓN, J. M.; RUÍZ, D. (1970): «El poblado minero romano de Riotinto», Habis, I, Sevilla, pp. 125-138.

181

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

MAIA, M. (2014): «Marcas de lucernas ditas mineiras de Santa Bárbara de Padrões», in Actas da Mesa-Redonda “As Lucernas ditas Mineiras e a sua Origem de Fabrico”, Castro Verde [trata-se do presente volume]. MAIA, M.; MAIA, M. (1997): Lucernas de Santa Bárbara, Castro Verde: Edição Cortiçol. MANGAS, J. (1971): Esclavos y Libertos en la España Romana, Salamanca: Universidad. MANTAS, V. G. (1998): «Navegação, economia e relações interprovinciais: Lusitânia e Bética», Humanitas, L, Coimbra, pp. 199-239. MARTÍN, G. (1962): «Estudio de los materiales arqueológicos hallados en el subsuelo del palacio de la Generalidad de Valencia», Saitabi, 12, Valencia, pp. 89-109. MARTÍN BUENO, M. A. (1976): «Aportaciones al conocimiento de la terra sigillata de Bilbilis», Príncipe de Viana, ano 37, n.º 142-143, Pamplona, pp. 67-118. MARTINEAU, B.; TRANOY, A. (2000): «Migrations et courants migratoires dans le conventus Scallabitanus», in J.-G. Gorges e T. Nogales (coords.), Sociedad y Cultura en Lusitania Romana (IV Mesa Redonda Internacional sobre Lusitania Romana), Mérida: Junta de Extremadura, pp. 229-239. MATTINGLY, H. (1968): Coins of the Roman Empire in the British Museum, IV: Antoninus Pius to Commodus, London: British Museum. MAYET, F. (1983-1984): Les Céramiques Sigillées Hispaniques, Paris: Boccard. MENÉNDEZ, A.; SÁNCHEZ, E. (2009): «Tintero de Terra Sigillata», in A. Villa (ed.), Museo Castro de Chao Samartín. Grandas de Salime, Asturias: Catálogo, Mieres-Siero: Gobierno del Principado de Asturias, p. 376 n.º 123. MEZQUÍRIZ, M. A. (1961): Terra Sigillata Hispánica, Valencia: The William L. Bryant Foundation. MEZQUÍRIZ, M. A. (1976): «Hallazgo de un taller de sigillata hispánica en Bezares (Logroño)», Príncipe de Viana, 144-145, Pamplona, pp. 299-304. MÓCSY, A. (1985): Beiträge zur Namenstatistik, Budapest: Múzsák Közmu ´´velo ´´dési (=Dissertationes Pannonicae, ser. III, vol. 3). MONSALUD, M. de (1907): «Epigrafía romana de Extremadura. Marcas de alfareros y grafitos», Boletín de la Real Academia de la Historia, 50, Madrid, pp. 460-462. MORAIS, R. M. L. de S. (2004): Autarcia e Comércio em Bracara Augusta no Período Alto-Imperial. Contribuição para o Estudo Económico da Cidade, Braga: Universidade do Minho (Tese de Doutoramento). MORENO, M. (1998): «Importaciones e imitaciones de cerámica romana en el yacimiento de Cercadilla (Córdoba). Siglos I al III d.C.», Anales de Arqueología Cordobesa, 9, Córdoba, pp. 247-272. MORENO JIMÉNEZ, F. (1990): Lucernas Romanas de la Bética, vols. I-III (estudo, catálogo e quadros; paginação seguida), Madrid: Universidad Complutense (Tesis Doctoral). MORILLO, A.; AMARÉ, M. T. (2005): «Asturica Augusta como centro de producción y consumo cerámico», in C. Fernández e P. García (eds.), III Coloquio Internacional de Arqueología de Gijón “Unidad y Diversidad en el Arco Atlántico en Época Romana”, Oxford: Archaeopress, pp. 121-143. 182

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

O’KELLY, J. (2013a): «Lucernas mineras de Riotinto (Huelva)», in D. Bernal et al. (eds.), Hornos, Talleres y Focos de Producción Alfarera en Hispania, II, Cádiz: Universidad, pp. 177-192. O’KELLY, J. (2013b): «Lucernas Dressel 4-Vogelkopflampen en el Andévalo (Huelva)», SPAL, 22, Sevilla, pp. 199-208. OLEIRO, B. ; ALARCÃO, J. de (1969): «Escavações em S. Sebastião do Freixo (Concelho da Batalha)», Conimbriga, VIII, Coimbra, pp. 1-12 e ests. I-V. PALOMAR LAPESA, M. (1957): La Onomástica Personal Pre-Latina de la Antigua Lusitania, Salamanca: CSIC. PASTOR, M. (2002): Corpus de Inscripciones Latinas de Andalucía, IV: Granada, Madrid: Consejeria de Cultura de la Junta de Andalucía (=CILA IV). PÉREZ MACÍAS, J. A. (1998): Las Minas de Huelva en la Antigüedad, Huelva: Diputación Provincial. PÉREZ MACÍAS, J. A. (no prelo): «L.I.R.: Lucius Iulius Reburrinus, alfarero de Riotinto (Huelva, España)» – [cfr. Campos/Pérez/Vidal, 2004, p. 159]. PÉREZ, J. A.; DELGADO, A. (2007): «Los metalla de Riotinto en época Julio-Claudia», in J. A. Pérez e A. Delgado (eds.), Las Minas de Rotinto en Época Julio-Claudia, Huelva: Universidad, pp. 37-182. PÉREZ, J. A.; DELGADO, A. (2012a): «Las cupae de Riotinto (Huelva)», in J. Andreu (ed.), Las Cupae Hispanas, Tudela: Fundación Uncastillo, pp. 303-341. PÉREZ, J. A.; DELGADO, A. (2012b): «Paisaje y territorio de Riotinto en época romana», in M. Zarzalejos et al. (eds.), Paisajes Mineros Antiguos en la Península Ibérica. Investigaciones Recientes y Nuevas Líneas de Trabajo – Homenaje a Claude Domergue, Madrid: Universidad Nacional de Educación a Distancia, pp. 47-67. PÉREZ, J. A.; DELGADO, A.; REGALADO, M. C. (2012): «El asentamiento romano en el paraje de Marismilla (Riotinto-Nerva, Huelva)», in J. A. Pérez, J. L. Camiazo e B. Gavilán (eds.), Paisajes, Tiempo y Memoria. Acercamientos a la Historia de Andalucía, Huelva: Universidad, pp. 45-82. QUINTEIRA, A. J. F. (1984): «Duas peças de vidrado a verde achadas em Conimbriga», Conimbriga, XXIII, Coimbra, pp. 103-110 e est. I. RAMALLO, S. F.; MURCIA, A. J.; RUIZ, E.; MADRID, M. J. (2010): «Contextos de la segunda mitad del siglo I a.C. en Carthago Nova», in V. Reville e M. Rocca (eds.), Contextos Cerámicos de Época Augustea en el Mediterraneo Occidental, Barcelona: Universidad, pp. 294-321. RASCÓN, S.; et alii (1998): Complutum: Roma en el interior de la Península Ibérica, Alcalá de Henares: Ayuntamiento. REYNOLDS, P. (1987): El Yacimiento Tardorromano de Lucentum (Benalua-Alicante): Las Cerámicas Finas, Alicante: Museo Arqueológico Provincial. RIBAS, M. (1972): «La villa romana de Torre Llauder de Mataró», Noticiario Arqueológico Hispánico. Arqueología, 1, Madrid, pp. 115-180. RIC III = MATTINGLY, H.; SYDENHAM, E. A. (1930): The Roman Imperial Coinage, III: Antoninus Pius to Commodus, London: Spink & Son. RUBIO, J. (1958): «Españoles en los talleres de cerámica del sur de la Galia», Archivo Español de Arqueología, XXXI, Madrid, pp. 195-197.

183

JOSÉ CARDIM RIBEIRO

RUBIO, J. (1959): «Españoles por los caminos del Imperio romano. Estudios epigráfico-onomásticos en torno a Reburrus y Reburrinus», Cuadernos de Historia de España, 29-30, Buenos Aires, pp. 5-124. RUÍZ, J. (1999): «Los itinerarios y la red viaria de época romana en Huelva», Huelva en su Historia, 2ª época, 7, Huelva, pp. 149-176. SALAS, J (2011): «Ariza y Montero-Coracho», in Diccionario Biográfico Español, V, Madrid: Real Academia de la Historia, pp. 393-394. SAÉNZ, J. C. (1997): La Terra Sigillata Hispánica del Municipium Augusta Bilbilis, Zaragoza: Universidad (Tesis Doctoral). SÁNCHEZ, M. L. (1978): Economía de la Hispania Meridional Durante la Dinastia de los Antoninos, Salamanca: Ediciones Universidad. SERRANO, E. (2008): «El mundo de las cerámicas comunes altoimperiales de Hispania», in D. Bernal e A. Ribera (eds.), Cerámicas Hispanorromanas. Un Estado de la Cuestión (XXVI Congreso Internacional de la Asociación Rei Cretariae Romanae Fautores), Cádiz: Universidad, pp. 471-488. TIRADO, J. A. (2000): El Yacimiento del Solar Torres: Niveles de Ocupación Prerromano y Romano, Calahorra: Amigos de la Historia de Calahorra. URTEAGA, M. M. (2005): «El puerto romano de Irun (Gipuzkoa)», in M. M. Urteaga e M. J. Noain (eds.), Mar Exterior: El Occidente Atlántico en Época Romana, Roma: CSIC, pp. 87-103. VALLEJO, J. M. (2005): Antroponimia Indígena de la Lusitania Romana, Vitoria/ Gasteiz, Universidad del País Vasco (Veleia. Anejos. Series Minor, 23). VALLEJO, J. M. (2008): «El género en la antroponimia antigua. Algunas consideraciones galas e hispanas», Palaeohispanica, 8, Zaragoza, pp. 143-163. VIEGAS, C. (2003): Terra Sigillata da Alcáçova de Santarém. Economia, Comércio e Cerâmica, Lisboa: Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia, 26).

184

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.