Algumas Notas sobre TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

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O que é uma criança com TDAH, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade? Como há transtornos e diagnósticos que são modismos, devemos desbastar o território dizendo o que "não é uma criança com TDAH", numa espécie de "nosologia negativa", do tipo "nem isso, nem aquilo", até chegarmos ao que, de fato, corresponderia a uma criança nessas condições.

Uma criança capaz de ficar concentrada por horas em videogames, mas incapaz de se sentar para assistir suas aulas em classe não tem TDAH: uma criança com tal diagnóstico, se correto, simplesmente não consegue se dedicar a nada por horas, nem a videogames. Essa criança está aborrecida, desmotivada, mas não tem TDAH.

Bored.

Uma criança que se levanta para atrapalhar as outras crianças que brincam, sistematicamente, tirando as coisas [brinquedos, papéis, lápis de cor, giz de cera] dessas outras crianças, rabiscando ou apagando o que elas escrevem na lousa, essa criança demonstra inveja, exibicionismo e uma série de sintomas psicodinâmicos, que em nada se assemelham a TDAH. Talvez, para os pais soe mais "bonitinho" considerar sua criança com tal diagnóstico, em vez de considerá-la um bebê birrento e imaturo, tenha ele dois ou nove anos de idade. Ou onze. Ou quinze. Ou vinte e oito!


Jealous.


Uma criança com TDAH não consegue parar quieta. Se ela estiver diante de mim conversando, balançará a cadeira onde se senta, roerá a mesa diante de mim como se fosse um esquilo. Ela simplesmente não consegue parar. Quando ela faz uma cirurgia de garganta com anestesia geral e o médico previne a mãe, "olha mãe, seu filho poderá passar o dia dormindo, é normal", ele chega "aceso" à garagem de sua casa e chuta a primeira bola que encontra pelo caminho. Este exemplo que dou é factual. Aliás, todos os exemplos que dei o são, inclusive o de balançar a cadeira e roer a mesa.

Uma criança com TDAH não consegue se deter em uma só brincadeira, ela se distrai, quer sair, mudar de ambiente, abre porta, fecha porta, anda de lá pra cá, começa uma conversa e se dispersa, etc.


Em cerca de seiscentas crianças atendidas, encontrei duas com diagnóstico exato de TDAH. Para ambas, sugeri encaminhamento a psiquiatra, porque suspeitava que ritalina lhes seria prescrita. Para ambas, a medicação foi recomendada. Ambas foram capazes de se concentrar a partir disso. Melhoraram enormemente, se focaram e se acalmaram.

Apenas duas crianças num universo imenso de meninos e meninas dispersivos [muito mais meninos], aborrecidos, invejosos, ciumentos, reivindicativos de seus supostos direitos de hegemonia de atenção, etc e tal. Para crianças sem o quadro nosológico exato e específico [um quadro hormonal, neuroquímico, inclusive], ritalina só atrapalharia, não ajudaria em nada. Faria o efeito exato de qualquer anfetamina, acelerando ainda mais a criança. O fato de terem, os dois meninos em questão, se beneficiado enormemente da medicação mostra sua exata moldura prescritiva. E sua eficácia nos quadros que merecem este nome. Muito menos dos que os que são assim chamados indevidamente.



Marcelo Novaes

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