Almanaque O Encanto das Trovas - Tomo V – vol. 2 - Estado do Paraná

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O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 1

SUMÁRIO Olga Agulhon (Maringá) ............................................................................... 3 Nei Garcez (Curitiba) ................................................................................... 7 Lucília Trindade Decarli (Bandeirantes) ......................................................11 Apollo Taborda de França (Curitiba) ...........................................................15 Amália Max (Ponta Grossa) ........................................................................19 Dari Pereira (Maringá) ................................................................................23 Wandira Fagundes Queiroz (Curitiba) .........................................................27 Fernando Vasconcelos (Ponta Grossa) ........................................................31 Dinair Leite (Paranavaí) ..............................................................................35

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 2

Olga Maria Agulhon

1 Aquele “sim” que ele disse, na igreja, diante do altar, não suportou a velhice, que enrugou o nosso olhar.

2 As dores e os desencantos, lancem ao pó das estradas… - Façam dos lares recantos que lembrem contos de fadas! 3 Carrego pouca bagagem porque, na vida, aprendi que, mesmo longa a viagem, preciso apenas de ti. 4 Como enchente, o amor invade as margens do coração… - Quando passa a tempestade, só nos sobra a solidão! 5 Coragem: medo vencido… Fé em Deus, em nós, na lida. Nunca nada está perdido se há amor em nossa vida.

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6 De nada vale uma imagem de Cristo em sua parede, se você nem tem coragem de dar água a quem tem sede. 7 De viver não tenha medo; todo receio é bobagem… Dessa receita, o segredo é a pitada de coragem. 8 Diante do encanto desfeito por promessas não cumpridas, eu sempre encontro outro jeito de entrelaçar nossas vidas. 9 Em algo simples se encerra raro prazer e emoção: - O cheiro que emana a terra quando a chuva cai no chão.

10 Faça chuva ou faça sol, barro ou poeira na estrada, se você for meu farol, continuo a caminhada. 11 Mantinhas longe o olhar, e eu, tola, não percebi… Mesmo dizendo me amar, aos poucos eu te perdi. 12 Mesmo das lutas vencidas, restou-me tanto cansaço, que nas armas recolhidas só vi renúncia e fracasso. 13 Meus sonhos não morrerão! São em verso eternizados. Não deixe os seus, meu irmão, em baús, abandonados.

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14 Mil sonhos num embornal, tantas pedras no caminho… Era a sina do “imortal” que nunca encontrou seu ninho. 15 Mira a “boneca” o “pendão” que a contempla lá de cima… – É o milho em fecundação pra safra que se aproxima! 16 Não há fronteira na vida que separe um grande amor, quando a ponte foi erguida pelas mãos do Criador. 17 Na roça em trabalho duro aos filhos sonhou bem mais… - Pra colher melhor futuro plantou livros e jornais!

18 Nas capelas, a candura das esposas nas novenas. Fora delas, a aventura dos maridos “noutras” cenas… 19 Natal! A ceia na mesa e os presentes que trocamos não refletem a grandeza da data que celebramos. 20 Neste mundo conturbado, todos nós, mesmo os ateus, temos encontro marcado no fim da vida, com Deus. 21 No colo do solo bruto, se a semente é bem tratada, por prêmio colhe-se o fruto da esperança ali plantada.

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22 No começo de um namoro, quanta promessa se faz… Mas tudo termina em choro quando o sonho se desfaz. 23 No coração trago a estrada e no olhar terras sem fim… Mas a rotina, malvada, fez cercas no meu jardim. 24 No rosto, um leve sorriso disfarça a dor da saudade… – Há vezes em que é preciso fingir a felicidade. 25 Quando é longa e dura a estrada, nós sempre aprendemos tanto, que as conquistas, na chegada, têm sempre o dobro do encanto

26 Quando o amor fica em ruína, sem chão, paredes… ou teto, o alicerce nos ensina que só o carinho é concreto. 27 Quanto sonho não vivido do jeito que foi sonhado! Mas tudo tem mais sentido quando, enfim, é conquistado. 28 Sangra a terra quando arada: fica frágil, tão exposta… Mesmo sofrendo calada, com seus frutos dá a resposta. 29 Sei que é bom mudar o rumo dos meus passos na jornada… Mas só achamos o rumo no final da caminhada.

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Nei Garcez

2 A maior sabedoria de quem sabe o seu saber, é saber que a cada dia sempre tem o que aprender. 3

Amizades que são boas e, atitudes tão singelas, é gostarmos das pessoas bem assim como são elas.

1 A justiça nos ensina o equilíbrio que nos deu: - O teu direito termina, bem onde começa o meu!

4 Com a trova se diz tudo em fração de oito segundos e, seus temas, sobretudo, são precisos e fecundos. 5 Com dois cães dentro de mim, um que é manso, cem por cento e, um feroz, mas tão ruim... Vence o que mais alimento! O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 7

6 Construtor de propriedade, João-de-Barro, arquiteto, sem cursar a faculdade cria e monta o seu projeto. 7 Da poesia, ou da cantiga, a Trova, em repercussão, é, na história, a mais antiga e de lírica expressão! 8 Deus criou toda a ciência para que a investigação, através da inteligência nos conduza à evolução. 9 Deus fez tudo o que quisera, fez o céu e fez as flores, fez mais linda a primavera e depois, os trovadores!

10 Enfim, que é o partir da pessoa querida de cá, senão, o chegar, o vir, visto do lado de lá! 11 Escrever é um simples conto que não é grande epopeia: - maiúscula, mais o ponto e, no meio, só a ideia! 12 Evitando o próprio enfarte, o amor é o único bem que, quanto mais se reparte bem maior fica também. 13 Foi no embalo, tão silente, de teu ventre, aquecido, que ganhei maior presente só por ter de ti nascido.

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14 Há emoções que a gente sente e, que encantam tanto, tanto, que, se expressas, verbalmente, perdem parte deste encanto. 15 Meu refúgio predileto, onde eu livro o que angustia, tem as letras do alfabeto, muita prosa e poesia. 16 No livro, cheio de graça, que o Mestre, na sala, edita, cada Criança que passa é a sua página escrita! 17 Nunca ligue o celular dirigindo ao seu volante, mas se acaso ele tocar, não atenda, siga adiante.

18 O altruísmo da amizade, quando em nossa vida ocorre, tem a mesma intensidade de um amor que nunca morre. 19 Quando a lua ao céu levita, toda cheia, e faz luar, forma a imagem mais bonita que só Deus nos pode dar. 20 Quase preso como um réu, muitas vezes sem ninguém, todo cão vai para o céu... e algumas pessoas também! 21 Quem pratica a temperança e cultiva o dom do amor, tem, na imagem, semelhança com seu próprio Criador.

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22 Que o trinar dessa "Araponga" que hoje nasce pra trovar, leve a trova, em viagem longa... Do Brasil para além mar! 23 Sempre ao ver que a bola rola guie o carro em segurança porque, sempre atrás da bola, vem correndo uma criança. 24 Sem saber de quando em quando, face aos fatos imprecisos, vive, o homem, oscilando entre lágrimas e risos. 25 Tão pequena na estrutura, muito esbelta na linguagem, a Trova, em nossa cultura, tem grandeza na mensagem.

26 Toda trova que, bem feita, respeitando-se a elisão, haverá de ser eleita em qualquer competição. 27 Toda trova tem, na rima, e na métrica, a riqueza, tendo ainda, assim por cima, na elisão, a sutileza. 28 Toda trova tem, por meta, eloquente descrição, numa síntese completa, dando, ao tema, a compreensão. 29 Trago a trova estruturada que apresento, hoje, a vocês, para ser aproveitada nas lições de português.

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Lucília Alzira Trindade Decarli

1 A mensagem do poeta, por muitos despercebida, de forma sábia e completa exalta a essência da vida!

2 Antes que a vida se acabe, não seja vão o viver e aquilo que não se sabe, que se comece a aprender. 3 Da sua casa ao cartório apenas um quarteirão... Dada a preguiça, o casório se fez por procuração. 4 Desde os tempos mais pagãos, mulher, revelas quem és... O mundo sempre nas mãos e sempre um homem... aos pés! 5 Desprovida de coragem não pude o amor declarar, mas minha muda mensagem estava escrita no olhar!

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6 Esta paixão, minha e tua, transcende em cada arrebol… Se é noite, ao clarão da lua, e se é dia, à luz do sol! 7 Este ciúme, meu tormento, brota em lágrimas veladas, que, independente do intento, revolvem "águas passadas"... 8 Foi pirraça inusitada aquela da sogra à nora: - Ficou com ela abraçada para passar catapora!... 9 Levo pela vida afora este dilema sem fim: - O "sim" que eu neguei outrora fez mal ou bem para mim?!...

10 Musa de tantos amores, neles, inspirada a lua, repete ao sol sem temores: – “Incendeia-me… sou tua”! 11 Não conhece despedidas, nem discórdias, nosso teto: - é que ligam nossas vidas os laços fortes do afeto! 12 Não sei se todos ponderam a troca que o livro traz: - grandes homens o fizeram, grandes homens ele faz! 13 Na rua a multidão passa... Humanos, juntos - é certo -, mas, vejo, pela vidraça, cada qual no seu deserto.

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14 Nau partindo – céu aberto,– nas verdes águas do mar; navega com rumo certo na incerteza de chegar!… 15 Nem sempre vamos vencer nessa ou naquela disputa... O que importa é não perder a coragem para a luta! 16 No bilhete em que disseste: "vou, mas volto sem demora", por descuido não puseste nem o dia nem a hora... 17 Nos ombros dilacerados Tu carregaste, Senhor, o peso dos meus pecados e o meu vazio... de amor!

18 Nossa amizade é tão forte que eu ouso exemplificar: – se um corre risco de morte, o outro morre em seu lugar!… 19 O destino, em nossas vidas trouxe o reencontro, depois das distâncias percorridas nos caminhos de nós dois. 20 O terapeuta sugere: - “Apimente” a relação! Mas a mulher interfere: - “Tô fora! Pimenta não! 21 Para enxergar a cobiça e amparar prejudicados, não deveria, a Justiça, manter seus olhos vendados!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 13

22 Por nunca amar quem me ama e amar quem nunca me quis, as feridas do meu drama deixam dupla cicatriz... 23 Quando fingir é preciso, seriamente eu me concentro: – levo na face um sorriso, enquanto eu choro por dentro. 24 Quem julga o seu semelhante carrega pedras na mão e o que odeia a todo instante, as guarda em seu coração! 25 Repasso o livro da vida... Nessas páginas viradas, reverti muita partida em momentos de chegadas!..

26 Sanar miséria contida no coração do indigente, não consiste em dar comida, mas tratá-lo como gente! 27 Sendo a existência pautada com regras de retidão, que a marca maior da estrada seja os passos do perdão!… 28 Todo homem tem na mulher um mistério a desvendar: - sempre ela sabe o que quer, mas nem sempre quer falar!... 29 Vigiando o companheiro ela fica no seu pé; só se afasta indo ao banheiro, mesmo assim, de marcha a ré...

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Apollo Taborda França

1 “A moda não incomoda” clama incauta a sociedade... Enquanto isso corre a roda e se esvai a probidade!

2 Amor à primeira vista, das loucuras a maior… Nos abaixa muito a crista e nos cega, o que é pior! 3 “Amor com amor se paga”, que emotiva sensação… No coração sempre há vaga, pra atender esse refrão! 4 A silhueta do Pinheiro é expressão de elegância… Tão bela como um cruzeiro, se destaca na distância! 5 A Trova boa, sentida, fluindo com emoção… É como a prece florida que brota do coração!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 15

6 A Trova não morre nunca, retempera a humanidade e vence a tristeza adunca, alegrando a mocidade! 7 A Trova que tem valor é muito simples, singela… E diz um mundo de amor, com tintas de uma aquarela! 8 Borboletas, aves, flores, que bem nutrem os florais... Dão contornos às silhuetas Dos esbeltos pinheirais! 9 Cada página da vida, Faz lembrar um grande amor... É você, minha querida, a que guardo com fervor!

10 Com garra de trovador, vou seguindo meus caminhos... Venturoso e com amor, num roseiral sem espinhos! 11 Coração que ama não chora males que afligem a gente; exalta e nunca deplora a mágoa dura, pungente! 12 Das rosas do meu jardim, Maria sempre a mais bela... Perfuma mais que o jasmim, que floresce em torno dela! 13 E no afã da economia, “Barato sempre sai caro”... Pãodurismo, que mania, só nos leva ao desamparo!

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14 Eu sinto as trovas nas veias, meu sangue todo alvoroço… Verso me envolve nas teias, meu coração é de moço! 15 Meu coração é valente, não chora o mal que me fez... E diz que bem de repente, termina a sua altivez! 16 Minhas trovas são pingentes, incrustadas no aranhol… São ideias imanentes, lindas gemas sob o sol. 17 Na limpeza e na saúde, os sucessos dessa lida… Valorizam certo, amiúde, as asperezas da vida!

18 Nossa marca é o Pinheiro, soberano sobre a mata… É esbelto, sobranceiro, seu murmúrio uma sonata! 19 O bem não dura sem fim, como o mal também não dura… Então, vivamos assim, na amizade e na brandura! 20 O teu sorriso menina é feiticeiro demais... Tão forte qual vitamina, muito alvoroça meus ais! 21 Para fazer boa trova, verso puro que se integra, cuide a rima, como prova, e respeite bem a regra!

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22 Por trovador, eu me esmero, no rito de bem compor… Nas minhas trovas sou mero, puro instrumento do amor! 23 Pra você vencer na vida, ter vitória assim perfeita… Leve a sério a sua lida, esta é a melhor receita! 24 “Quem espera sempre alcança”, é hoje outra a verdade… Quem espera só se cansa e perde a oportunidade! 25 Que reluz nem sempre é ouro, que cai nem sempre balança… Por isso, chega de agouro, não percamos a confiança!

26 Sempre “o santo desconfia quando a esmola é por demais”... Refinada hipocrisia, a ilustrar nossos anais! 27 Sou trovador e entendo a rima, em forma de flor… E tal qual um reverendo, só rezo trovas de amor. 28 Sou trovador sem remendo, o verso meu é de cor… Vou com assombro dizendo as minhas trovas de amor! 29 Sou trovador, tenho senso da importância da poesia: - Encerra tudo o que penso, realidade e fantasia.

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Amália Max

1 A ermida à beira da estrada plange seu sino de um jeito que eu sinto a corda amarrada na saudade do meu peito…

2 A esperança em nossa vida, pelo valor que ela ostenta, pode até ser resumida como o pão que nos sustenta. 3 A fonte, singelo fio, contorcendo-se em cansaços, encontra por fim um rio e então se atira em seus braços. 4 A gota d'água nascida de veio farto e profundo, é a fonte da nossa vida e a própria vida do mundo. 5 Ao cortar a trança loura, minha infância em despedida deixou na fria tesoura saudosos fios de vida.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 19

6 As estrelas consteladas, por mais que se ache esquisito, são simples tachas douradas prendendo o céu no infinito. 7 Chegaste, assim de repente, na minha vida vazia trazendo um sol ainda quente quando já entardecia. 8 Com as piruetas que faço a escapar da solidão, apareço um novo palhaço aprendendo a profissão. 9 Com mil retalhos tristonhos, que rasguei do coração, fiz uma colcha de sonhos e agasalhei a ilusão.

10 Depois do enxerto a coitada, que quis o rosto alisar, agora vive assustada… Seu rosto só quer sentar! 11 Depois, que um dia, partiste nesta rua só choveu. Será que esta rua é triste ou triste nela sou eu? 12 Disfarçando... Disfarçando... o sol, malandro das horas, vai aos poucos levantando a saia azul das auroras. 13 Fico em silêncio e ouço os passos de quem não vai mais chegar… Então abraço os meus braços e não paro de chorar.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 20

14 Galanteios, que em verdade, quis dizer-te ou ter escrito, hoje, finda a mocidade, sinto dor por não ter dito. 15 Laranjais de minha infância, frutos que alegre colhi, hoje olho para a distância e choro porque cresci! 16 Levo na face enrugada e na fronte embranquecida a passagem, comprovada, de que viajei pela vida. 17 Lindas flores de ilusão dentro de vaso sem água logo, logo murcharão passando a chamar-se “mágoa”.

18 Maria partiu... Maria que nunca disse a verdade mas era, quando mentia, bem melhor que esta saudade. 19 Meus olhos azuis se embaçam, acabando por chorar, quando meus braços se abraçam por não ter quem abraçar. 20 Minha vida é tão vazia tão cheia de solidão que a sombra que eu possuía não mais me segue no chão. 21 No instante em que nossa prece sobe a escada do infinito, pela mesma escada desce a paz que acalma o conflito.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 21

22 O tempo em sua investida, como sentença, suponho, rouba-me um pouco da vida e muito de cada sonho. 23 Para os que seguem sozinhos, descalços e combalidos, que importa ter mil caminhos se todos são proibidos? 24 Pergunto frequentemente: - Felicidade, onde estás? Será que corres na frente ou ficaste para trás? 25 Quando o passado é turista no trem do meu coração, a saudade é maquinista e o meu peito uma estação.

26 Ralhando com seus porquinhos a porca, mãe exemplar, vendo-os, assim, bem limpinhos… - Já pro barro se sujar !!! 27 Relógio, fique parado! Não deixe o tempo passar… Eu quero ser enganado quando a velhice chegar! 28 Se é por um amor que choras enxuga os olhos... Repara: - Se o relógio para as horas, nem por isso a vida para. 29 Também o céu triste estava no momento em que eu partia: - Não sei se o céu que chorava ou dos meus olhos chovia!

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Dari Pereira

1 Cem anos já são passados… Mas só vendo que riqueza… Aqui, por todos os lados, a luz se mantém acesa !…

2 Contendo ideia completa e pregando o bem geral, um só verso de um poeta pode torná-lo imortal. 3 Contra toda a malvadeza, que causa tantos horrores, em resposta, a natureza vem cobrir o chão de flores! 4 Descortinar horizontes, buscar a estrada florida, cruzar os vales e os montes, eis a viagem da vida… 5 É mesmo um ‘cabra” de sorte meu festejado vizinho: - deixou a sogra no Norte e veio pro Sul... sozinho.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 23

6 E não tem nada de louco, De ciúmes ou de medo… Contador conversa pouco Pra não revelar segredo… 7 Enquanto a vida contorna e enfrenta tudo o que vem, o tempo, que não retorna, vai cada vez mais além… 8 Eu quero um salário justo, previdência competente, pra não levar tanto susto, que custa a vida da gente! 9 Foi o maior humorista… e toda gente acolheu… Chico Anísio foi o Artista que só pela arte viveu…

10 Ganhou “bem” na loteria, hoje a festa continua... Nasceu com a sorte em dia e o tal virado pra lua… 11 Gritaram: “fogo”… eu corri só de cueca… e descalço… Na hora nem percebi que o tal alarme era falso… 12 Já pela hora da morte, com algibeiras vazias, consegue emprego, por sorte, na casa de loterias. 13 Longe, longe, na campina, na hora em que a noite desce, o céu, fechando a cortina, reza conosco uma prece…

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14 Mesmo tachado de antigo, ainda espalho esperança ao mundo sincero e amigo do coração da criança. 15 Namorou e mandou brasa, e pensou que era o terror. Levou um aperto em casa. Cadê o conquistador? 16 O alarme desconcertante chacoalhou o seu abrigo, que até o próprio alarmante também correu do perigo… 17 Ouvi conselho de um monge achei-o mais do que certo: Quem quiser chegar ao longe tenha sempre Deus por perto!

18 Poeta não faz escolha, desafia qualquer tema, desdobra folha por folha e compõe o seu poema. 19 Quem é de Deus não padece no caminho dos ateus… E a cada dia, na prece, tem novo encontro com Deus. 20 Quem faz o bem com prazer, mesmo que seja um incréu, reserva, sem perceber, um bom tesouro no céu. 21 Quem quiser boa acolhida pela graça do perdão, não pode negar, na vida, um abraço para o irmão.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 25

22 Querendo passar por bamba lá no Arraial do Bacana, meu amigo levou “samba”… Por pouco, não leva “cana”. 23 Recordando a mocidade e o meu tempo de criança, faço trova da saudade e poema da lembrança. 24 Sai de mim, tropeço antigo… Vai procurar o teu canto… se tropeço fosse amigo eu teria amigo… e tanto! 25 Sonhei que a vida compunha a melodia dos sonhos, revendo Euclides da Cunha dos velhos tempos risonhos.

26 Um cinzeiro descorado, restos de cinza contém, o fumante inveterado já se mudou para o além. 27 Um simples acolhimento a uma pessoa perdida... Tornou-se o melhor momento que passei na minha vida… 28 Vendo a vizinha chegar, ouvindo a porta bater, Meu amigo, sem pensar, pulou a cerca e foi ver… 29 Viva, irmão, com alegria e deixe os sonhos banais, que eles voltarão, um dia... E a vida não volta mais!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 26

Wandira Fagundes Queiroz

1 A esmo, na multidão, tentando esconder meus ais, meu fardo de solidão pareceu pesar bem mais.

2 A esposa numa pirraça diz ao marido "rueiro": - Se de "graça" não tem graça, me passa a grana primeiro. 3 A estrela guia parece aos meus olhos de criança, minha mãe dizendo, em prece: - Não me abandone, Esperança! 4 A Fé, a Escola, a Família, caminhando de mãos dadas, são três faróis, em vigília, iluminando as estradas. 5 A grande riqueza humana consiste em se perceber quando a luz do “ter” profana e ofusca a imagem do “ser”.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 27

6 Amigo, não tenha pressa, pois a vida é um bem precioso. A treva às vezes começa em um sinal luminoso! 7 As nuvens choraram tanto, que o sol compensa o escarcéu, tecendo com doce encanto mais sete cores no céu! 8 A trova é mais que um recado escrito por nossa mão, é um lindo cartão timbrado pela voz do coração. 9 A vida é uma bela viagem se o excesso de “informação” não excluir da bagagem “enlevos” do coração.

10 Comida sem “exagero” disse o médico ao doente: - Não me leve ao desespero… dotô, sou um rico emergente…! 11 Completando o doce enleio entre a rosa e o beija-flor, o sabiá faz, de permeio, o seu papel de tenor. 12 Cumpre a lua a sua meta de “musa” da inspiração, no momento em que o poeta transforma luar em canção. 13 Das águas os desafios, ao deixarem as nascentes, não são transbordar os rios mas… mantê-los transparentes.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 28

14 Deus em sua maravilha foi capaz de harmonizar a quietude de uma ilha com a turbulência do mar. 15 Finge o sol, quando declina, que se cansou do fulgor, dando à estrela pequenina seu momento de esplendor. 16 Já não sei se nos dói mais na estrada de tantos trilhos, soltar-se da mão dos pais... ou soltar a mão dos filhos. 17 Mesmo em trovas mais dispersas, por laços universais, identidades diversas congregam sonhos iguais.

18 Meu coração, “paparazzo”, guardou imagens tão belas, que mesmo as sombras do ocaso são manhãs, ao lado delas. 19 Mulheres, que o amor fecundo faz sublimar seu pendor, são “mãos que embalam o mundo,” independentes de cor. 20 Não deixe que maus momentos ofusquem seus ideais. Sobre “velhos” tons cinzentos, “novas” cores brilham mais. 21 Não sei como Deus sabia, mas deu-me, quando nasci, a família que eu queria e os amigos que escolhi.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 29

22 Não teme a seca inclemente quem confia em seu labor; planta a pequena semente sentindo o cheiro da flor. 23 No lençol, que era perfeito, entre os “motivos florais”, o tempo foi sem respeito bordando “saudade” a mais. 24 O fogaréu da queimada Nem “despacho” ele respeita… -Atravessa a encruzilhada – “e já deixa a janta feita”. 25 O guarda chega algemando: - Não quero saber de arruaça! - De que rua está falando… se eu só bebi nesta praça?

26 O lar que planta amizade não se expõe aos temporais, dos tais conflitos de idade que afastam filhos de pais. 27 Quando aos luzeiros da fama se agregam luzes do Bem, há um brilho, a mais, que se inflama e imortaliza também. 28 Saudosismo, este legado, que o tempo deixou-me a esmo, guarda o encanto do passado, em saudades de mim mesmo. 29 Somente o tempo é que ensina que alguns momentos da idade, ele apenas data e assina, mas... quem descreve é a saudade.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 30

Fernando Sílvio Roque de Vasconcelos

1 “Água mole em pedra dura” meu amor, como se vê, repetindo a mesma jura, tomou conta de você.

2 As trovas são coisas boas, por um dom vão inspiradas, deviam unir pessoas, não fazê-las separadas. 3 Cada vez que tenho um sonho, formas, luzes, cores, som, é você que lá eu ponho, para o sonho ficar bom! 4 Deixa a tristeza, vizinho, que chorar, não lhe compensa, só se sentirá sozinho quem do amor perdeu a crença. 5 É cada estrela cadente, tendo o seu curto escarcéu, um traço fosforescente com que Deus rabisca o céu!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 31

6 Faça este bom sonho arder, no fundo do coração… quando o querer é poder, desejo se faz ação. 7 Fio dental, trajezinho que a rapaziada adora… esconde só um pouquinho, deixando o resto de fora. 8 Há sempre, no imaginável, dois termos fundamentais: - Teu amor inigualável, os outros todos iguais. 9 Inocência é pranto e riso, que puro nossa alma alcança, vindo lindo e sem aviso do sentir de uma criança.

10 Lindas estrelas acesas, quadro que prende e seduz… É Deus dizendo belezas num alfabeto de luz! 11 Menina namoradeira, que brincava escondidinha, quis tanto da brincadeira, que acabou barrigudinha! 12 Não há quem se esforce à toa, é rotina o desafio, sendo a vida uma canoa que atravessa o grande rio. 13 Na roça não se complica a higiene rotineira: - começa na velha bica e um gamelão é banheira!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 32

14 No ocaso, sem alarde, liberto de todo afoite, sou tarde, dentro da tarde, o dia, na boca da noite. 15 O Gildo se fez de louco, pra bular aquele “tira”, depois passou um sufoco, pra sustentar a mentira. 16 O meu peito, um campanário consagrado em seu louvor, onde se reza em rosário feito de contas de amor. 17 Ó meus irmãos trovadores, quanta vida podem dar, rimando sonhos e amores, plantando cantigas no ar.

18 O pobre homem só se fere, ao meter-se com a bebida… não é a pinga que ele ingere, ele bebe a própria vida. 19 Os pombos, sem ter zoeira, foram a primeira prova que, no arrulho, na figueira, fez a natureza a trova. 20 Palavras são universos, aqui mesmo está a prova, ao prender em quatro versos o infinito de uma trova. 21 Passadas pinga e arruaça, disse ao ser interrogado: - Foi depressão, não cachaça, que me deixou transtornado!

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 33

22 Plano de deixar a pinga sempre na flauta levou… estava enchendo a moringa, quando a cirrose o matou. 23 Pra pegar elevador, quando todo mundo avança, mais se destaca o humor, quanto maior for a pança. 24 Quem do verso tem a lida, a trova trazendo a lume, porta a lâmina da vida e usa bem certo o seu gume. 25 Registrando alguma ausência, contabilidade ingrata, nosso amor pediu falência, desistiu da concordata!

26 Tão louco prazer sentindo, o fumante é uma raça que não vê vida fugindo, no disfarce da fumaça. 27 Todo cara bem papudo, que dá de valente, acorde, só na aparência é peitudo… é cão que ladra e não morde. 28 Trabalhador brasileiro tem que viver tiririca, com uns nadando em dinheiro e o salário uma titica. 29 “Vamos sonhar e sorrir”, esse é o remédio ideal, não nos preocupe o porvir, pois só o presente é real.

O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 34

Dinair Leite

1 A dor o meu peito invade, ao ver tudo assim deserto Mas lembro a sua saudade de ouvir estrelas de perto.

2 A mão que corta a madeira, também corta o coração, dessa floresta altaneira, parte de um verde pulmão. 3 Aquela trova me encanta, ao declarar num só traço, que o mal, a justiça espanta e, em sigilo, ganha espaço! 4 A trova que chora a dor, mas é com lirismo dita, acaba enfeitando o amor, com róseo laço de fita. 5 A raiz que nutre a flor, desabrochada e feliz, lembra o homem que rega o amor que a mulher sonha e bendiz!

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6 A voragem da paixão é como um barco sem rumo, deriva sem direção, sem timoneiro e sem prumo… 7 Da inocência e da virtude Deus capacitou o ser, e deu-lhe franca atitude do livre-arbítrio exercer! 8 Essa mão que lavra a terra planta no chão a semente. A benção de Deus encerra, pois mata a fome da gente. 9 Inocência adorna a fronte de toda pessoa nova, depois se esvai no horizonte mas, volta perto da cova.

10 Mulher que trabalha e sonha mudar a realidade, mesmo cansada é risonha, pois planta a felicidade! 11 Murchou rosa, chorou trova e o poeta emudeceu… Despertou em vida nova, onde a rosa reviveu 12 Não pule do trem do tempo em desembarque apressado. Viaje sem contratempo e não pare adiantado. 13 Naquela trova que eu lia, senti minha redenção, pois sem punir, redimia, mostrando a libertação.

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14 No morno sopro do vento, passarinho em revoada, para viver novo evento, cantar a Deus em toada. 15 No último canto o queixume, por ele que foi embora Na terra a flor, e o perfume um anjo recolhe agora. 16 O destino foi a mó e jardineiro da estrada e o vento varreu o pó, das pedras da caminhada. 17 Os dois velhinhos no ocaso relembram com nostalgia, noites tórridas e o caso de amor que inda hoje existia.

18 Poesia é a arte maior de um Espírito divino – nossa alma sabe de cor aflorada em sons de sino. 19 Quando o poeta atravessa para o outro lado da vida Chega ao céu leve e com pressa de prosseguir sua lida. 20 Quando seu trem dá partida, já saindo da estação, seu destino é outra vida, deixando atrás a ilusão. 21 Quem nasceu pra dar amor fraternal e compaixão, é feliz se tira a dor do que é seu próximo irmão.

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22 Quem só visa o próprio bem, agredindo a Natureza, com desrespeito e desdém, sei que é um tolo, com certeza! 23 Quero ser sempre a criança com desejo de estudar, curiosa e na esperança de nunca me completar… 24 Raiz? O que são raízes? São alinhavos de Deus, juntando os homens felizes, quer sejam cristãos ou ateus… 25 Se a violência o esfola, tristeza no peito cresce de quem fez do crime escola sem ver, que o que sobe desce…

26 Trovador e passarinho, dois arautos da poesia: Se perdem amor ou ninho gorjeiam dor…todavia. 27 Trovador fica sedento, quando a inspiração renova. Bebe da alma o sentimento e o derrama em sua trova. 28 Trovador por ironia, quando a trova terminou, da pena viu que escorria pranto que a trova borrou. 29 Trovador quando ama a rosa respeitando seus espinhos, da flor carinho ele goza perfumando seus caminhos.

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NOTA As trovas foram obtidas em livros, boletins de trovas, jornais, trovas enviadas pelos trovadores e em alguns sites, como www.falandodetrova.com , www.poesiasemtrovas.blogspot.com.br, www.singrandohorizontes.blogspot.com.br Biblioteca J. G. de Araújo Jorge, as Mensagens Poéticas enviadas pelo falecido trovador potiguar Ademar Macedo, etc. Montagem da Capa da Revista sobre imagem obtida na internet, não foi encontrada a autoria. Caso perceba uma trova errada, seja por razões várias, por favor, en tre em contato com [email protected], para que possamos corrigir a tempo ou fazer uma errata no próximo número. Esta revista não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização de seus autores ou representantes legais. Pode ser copiado, desde que se coloque o autor das trovas, caso contrário pode ser caracterizado como crime e ser enquadrado nas sanções legais. Respeite os direitos do autor. O Encanto das Trovas . . . Tomo V – Paraná vol. 2......... Página | 39

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