ANÁLISE COMPARATIVA DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO NA ARQUEOLOGIA URBANA NO MUNICÍPIO DE LORENA, SÃO PAULO, BRASIL. Pâmela Sabrina Barbosa Bento1, Bianca Siqueira Martins Domingos², Natalha Gabrieli Moreira Carvalho³, Brenda Maria de Carvalho França¹, Rosinei Batista Ribeiro1, Sônia Maria Gonçalves Siqueira¹ 1
Faculdades Integradas Teresa D’Ávila/Instituto Superior de Pesquisas e Iniciação Científica, Avenida Peixoto de Castro – nº 539, Vila Celeste – Lorena/SP,
[email protected];
[email protected];
[email protected];
[email protected]
2
Universidade Federal de Itajubá/Instituto de Engenharia de Produção e Gestão, Avenida BPS, 1303, Bairro Pinheirinho – Itajubá/MG,
[email protected] 3
University of Strathclyde/16 Richmond Street, Glasgow, Scotland, United Kingdom,
[email protected]
Resumo - O trabalho em questão trata sobre a interação de arquitetura e arqueologia urbana nas práticas de levantamento arquitetônico e como cultivar a preservação do espaço construído por meio do resgate de materiais construtivos, considerando a carência de abordagem interdisciplinar nas pesquisas. O foco desta pesquisa é a uma Instituição Hospitalar do interior do Vale do Paraíba, São Paulo, sendo considerada uma das construções mais antigas da cidade. A metodologia deste trabalho contempla inicialmente o estudo teórico e revisão bibliográfica, e em seguida a análise habitacional, nos âmbitos histórico e arquitetônico na cidade de Lorena, São Paulo, visando à implementação, planejamento e dimensionamento dos materiais construtivos coloniais e modernos. Com o objetivo de colaborar com as técnicas de preservação da arqueologia urbana e promover o resgate da arquitetura local, a análise considerou aspectos importantes, como materiais e técnicas utilizadas segundo as tipologias arquitetônicas na época de sua construção, a fim de contrastar com os procedimentos dos dias atuais com interações e a utilização de conceitos de ciências dos materiais. Palavras-chave: Arquitetura e Urbanismo, Ciência dos Materiais, Arqueologia Urbana, História. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução A cidade nos proporciona conhecimento não apenas nas suas construções, mas também em seus elementos construtivos que atua como junção para o passado favorecendo a integração das relações sociais e espaciais da cidade. O trabalho consiste na análise comparativa de materiais construtivos datados, aproximadamente, dos séculos XIX e XX, e os atuais, procurando estender um paralelo da evolução dos materiais empregados, visando à preservação e exibição do material arqueológico, explicam-se pela busca de identidade entre o antigo e o atual. Conforme explica SOUZA SANTOS (2014): “Os achados arqueológicos permitem a construção de narrativas relativas aos processos de origem e alteração das cidades. A cultural material permite a complementação, a negação ou a comprovação das
fontes escritas e dos relatos orais. Desse modo, a arqueologia urbana busca debater questões relativas à gênese e ao desenvolvimento do espaço urbano, dialogando com o princípio de modernização urbana que rege nossa sociedade e buscando alternativas que conciliem a preservação do patrimônio arqueológico urbano com o desenvolvimento das áreas urbanas.” A justificativa é elucidada pelo contraste entre a modernidade e o crescimento acelerado das cidades, que criou uma ruptura com o passado, substituindo rapidamente o antigo para o novo e, como consequência da não preservação da memória, temos perdas irreparáveis do cenário urbano. A metodologia consistirá em levantamento de material bibliográfico, coleta de materiais para o estudo de caso e procedimentos experimentais que servirão de base para a análise comparativa
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
1
(ensaios mecânicos, sketching, pesagem e microscopias). A arqueologia urbana sustenta nesta pesquisa a leitura da materialidade, nos permitindo entender as ações do passado ao mesmo tempo preservando sua história, assim regenerando espaços e configurando novos cenários urbanos. Além disso, em seu âmbito é possível reconhecer transformações que ocorreram com o tempo, a partir do que a sociedade consumiu e modificou com os anos. Metodologia A metodologia desta pesquisa perpassa por revisão de literatura dos principais autores das áreas de Arquitetura, Engenharia dos Materiais e Arqueologia Urbana visando embasar e auxiliar nos objetivos propostos. A segunda etapa da pesquisa consistiu em coleta de amostras, neste caso, tijolos, na Instituição Hospitalar de Lorena e em uma Cerâmica na cidade de Canas, São Paulo. Com os tijolos coletados, foram procedidas as seguintes etapas experimentais: Etapa de Pesagem utilizando balança digital de uso de rotina, Figura 1 (a) e (b).
Figura 1 (b) – Etapa de pesagem do tijolo moderno (atual) Em seguida as fases experimentais consistiram na mensuração das medidas dos tijolos, descrevendo os elementos dimensionais, projetuais e a geometria entre eles, que servirão de base para o sketching (desenho a mão dos objetos), Figura 2 (a) e (b).
Figura 2 (a) – Sketching do tijolo antigo
Figura 1 (a) – Etapa de pesagem do tijolo colonial (antigo)
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
2
Figura 2 (b) – Sketching do tijolo atual As etapas posteriores compreenderão as visitas técnicas em locais históricos para avaliação in loco, desenvolvimento de questionário aplicado à arqueologia urbana e a realização das sessões de microscopia óptica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e ensaios mecânicos nas Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila – FATEA, Escola de Engenharia de Lorena – EEL/USP e Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI. Resultados Parciais Os resultados preliminares deste projeto de pesquisa baseiam-se no compartilhamento, análise teórica e documental dos dados referentes a investigação dos dados históricos, arquitetônicos e propriedades física e mecânica do tijolo de construção colonial obtida pela Instituição Hospitalar de Lorena e o tijolo moderno por meio de visitas técnicas numa empresa de pequeno porte situada em Canas, São Paulo. De acordo com SANTOS (2009): “Todas as cidades brasileiras – tanto as pequenas cidades e lugarejos do interior como as capitais - vêm sofrendo transformações em seus traçados, estéticas e densidades a partir dessa cadeia de transformações urbanas, sociais, econômicas e culturais. E em todas elas uma grande porção da materialidade, testemunha de sua gradativa evolução, vai se modificando e desaparecendo nas renovações e nas modernizações, processo em que desaparecem muitas marcas evocativas das memórias de diferentes grupos sociais.”
Figura 4 - Tijolo Colonial (antigo) Neste tijolo observarem-se em seu centro as iniciais do nome do provedor que eram feitas com uma espécie de carimbo, representando o seu símbolo de poder na época. Esse tijolo é totalmente artesanal com as dimensões: Altura= 12, Largura= 6, Comprimento= 26, sua massa total é de 2,5 kg e possui forma geométrica irregular.
Figura 5 – Tijolo Moderno (atual) O tijolo atual é totalmente industrial e cortado, em seu centro há um relevo que ajuda a segurar a argamassa. Foram observadas as medidas de: Altura= 10, Largura= 5, Comprimento= 22, sua é de 1,7 kg e possui forma geométrica retangular. A diferença entre eles encontra-se no seu processo de fabricação, no caso, os tijolos coloniais eram feitos à mão, prensando a matériaprima em moldes de madeira, no qual o tijolo não tinha nenhuma padronização e eram secados de forma robusta e artesanal. Sua dimensão era larga para que o telhado da casa fosse sustentado pelas paredes. Na visita técnica realizada numa empresa produtora dos tijolos, o processo de fabricação é feito a partir da obtenção da matériaprima (argila e areia), a mistura mecânica pelo
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
3
processo de extrusão, conformação mecânica em moldes com medidas normatizadas e encaminhadas ao forno para seu processo de sinterização, Figura 6.
Figura 7– Matéria-prima: Argila e Areia
Figura 6 – Fluxograma do atual processo de fabricação do tijolo de cerâmica
Toda a matéria-prima é retirada do próprio local, expostas ao ar para ser encaminhada ao processo de mistura dos componentes de construção dos tijolos.
Umas das matérias-primas cerâmicas mais empregadas é a argila, “este ingrediente barato, encontrado na natureza em grande abundância, às vezes é usado na forma como minerado sem nenhuma melhoria de qualidade. Outra razão para sua popularidade reside na facilidade com que os produtos de argila podem ser conformados; quando misturados nas apropriadas proporções, argila e água formam uma massa plástica que é muito susceptível à conformação. A peça formada é seca para remover alguma umidade, após o que é queimada numa temperatura elevada para melhorar sua resistência mecânica.” (CALLISTER, 1991) Neste contexto, ZORRAQUINO (2006, p. 6) coloca que o território do Brasil possui uma imensa abrangência e uma grande variedade de regiões. Predomina um clima tropical úmido, com escassa altitude, muita umidade, chuva, vegetação e insolação. O solo está composto fundamentalmente de materiais aluviais (terras e argila) e também de rochas metamórficas (granito e gnaisses) e calcárias ou caliças. Estes condicionantes do território marcaram sempre as características da arquitetura e da moradia mais tradicionalmente brasileira.
Figura 8 – Misturador Mecânico O misturador facilita a trituração da matériaprima, principalmente da argila que muitas vezes é encontrada em grãos, e com esse processo é possível melhorar as características e propriedades das peças produzidas.
As Figuras 7, 8, 9 e 10 demonstram o processo de fabricação dos tijolos atuais para melhor entendimento do objeto de estudo:
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
4
com as questões relativas à preservação de seus exemplos mais significativos. Desta, nasceu uma preocupação, quase constante - comum a todos aqueles que trabalham nesse campo - com possibilidade de se encontrarem caminhos para que as manifestações de nosso patrimônio de arte e história, conservadas com tantos cuidados e sacrifícios, venham a ser utilizadas, mais largamente, para o enriquecimento da vida cultural de nossa população, bem como com a possibilidade de serem obtidos recursos mais amplos para o desenvolvimento de programas atualizados nesse setor. Conclusão Figura 9 – Conformação Mecânica dos tijolos A conformação mecânica ocorre por meio da massa úmida e colocada no misturador, em que compactada e obtêm-se o formato e dimensões adequadas e desejadas.
Trata-se de um projeto interdisciplinar e interinstitucional que como produto final, ter-se-á a definição de um panorama e fichas técnicas com as características de forma, geometrica, propriedades mecânicas e projetuais dos tijolos do período colonial e moderno. Colaborando com a arqueologia urbana do município de Lorena, São Paulo, Brasil, com a elaboração de análises comparativas dos materiais de construção e técnicas construtivas, promover o resgate da arquitetura local para engrandecer a história da cidade e da arquitetura brasileira. Conclui-se que os tijolos de construção colonial possui massa especifica maior que os tijolos modernos e dimensões diferentes em relação a sua largura, espessura e comprimento. Agradecimentos
Figura 10 – Armazenamento e Processo de Sinterização dos tijolos Para as considerações finais do processo, compreende as etapas de secagem e queima que é de extrema importância para obter-se de um produto cerâmico. Com as peças conformadas existe água em sua composição de maneira retida, e para evitar o surgimento de defeitos e artefatos superficiais e dimensionais. Em seguida, realiza-se a etapa de sinterização nas peças visando a melhoria na propriedade mecânica da argila, por meio do aquecimento a temperatura de 800º C durante 24 horas. De acordo com REIS FILHO (1983, p. 192) o trato com os problemas da arquitetura brasileira trouxe-nos, com o tempo, uma certa familiaridade
Os autores agradecem ao CNPq pela concessão da Bolsa ATNM – Apoio Técnico de Nível Médio/Processo: 377005/2013-4 e a FATEA – Faculdades Integradas Teresa D’ Ávila/Programa Quero Ser FATEA. Referências - SANTOS, N. F. Interface entre Arquitetura e Arqueologia na Preservação do Patrimônio Cultural Urbano. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Memória Social e Patrimônio Cultural) – Universidade Federal de Pelotas, 2009. - ZORRAQUINO, L. D. A Evolução da Casa no Brasil. Programa para Análise de Revalidação de Diplomas - Universidade Fereral do Rio de Janeiro, 2006.
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
5
- REIS FILHO, N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. Debates. São Paulo. 5ª Edição, 1983, P. 192. - SOUZA SANTOS, G. C. Arqueologia Urbana. Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais. Universidade Estadual de Campinas. Disponível em : . Acesso em: 6 de agosto 2014 - CALLISTER, William. Introdução às Ciências dos Materiais, Nova York, 1991. P. 223.
XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba
6