Análise da dimensão econômica da sustentabilidade sob a ótica do design presente em um projeto de embalagens desenvolvido com base nos princípios da dimensão ambiental da sustentabilidade

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Análise da dimensão econômica da sustentabilidade sob a ótica do design presente em um projeto de embalagens desenvolvido com base nos princípios da dimensão ambiental da sustentablidade Analysis of the economic dimension of sustainability from the perspective of design present in a packaging design developed based on the environmental principles of sustainability Rosa, Ivana Marques; mestranda; Universidade Federal do Paraná [email protected] Pozza, Fernanda; MSc; Universidade da Região de Joinville [email protected]

Resumo Este artigo reporta um projeto que tratou do desenvolvimento de cinco conceitos para embalagens de um micro-ondas, desenvolvidos pelos alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná – UFPR em parceria com a empresa de eletrodomésticos Whirlpool. O presente artigo visa analisar os resultados de uma pesquisa ação sob os critérios da Dimensão Econômica da Sustentabilidade, tendo em vista os princípios da Dimensão Ambiental desta. Como resultado pôde-se perceber que uma atitude que obedece os princípios econômicos é igualmente importante no que se refere aos princípios ambientais, e vice versa. Palavras Chave: embalagem; sustentabilidade; dimensão econômica.

Abstract This article reports a project of the development of five concepts for a microwave packaging, developed by students of the Masters Program Graduate Design, Federal University of Parana - UFPR in partnership with Whirlpool Home Appliances. This article aims to analyze the results of an action research under the criteria of the Economic Dimension of Sustainability, in view of the principles of this Environmental Dimension. As a result it could be seen that an attitude that follows economic principles is equally important with regard to environmental principles, and vice versa. Keywords: packaging; sustainability; economic dimension.

1 Introdução Desde o surgimento do autosserviço, em meados da década de 50, a embalagem adquiriu novas funções além de acondicionar, proteger e transportar. Ela passou a ser também um agente de comunicação e promoção de vendas (MESTRINER, 2008). Atualmente, com o grande volume de produção e consumo, a embalagem tornou-se um elemento efêmero do produto, de descarte rápido, o que contribui para o acúmulo de resíduos pós-consumo (PEREIRA e SILVA, 2010). Diante dessa situação, há diversas pesquisas e projetos relacionados à embalagem com foco no design sustentável. O design para a sustentabilidade, assim chamado por Manzini e Vezzoli (2008), deve abordar, segundo os autores, os aspectos técnicos, econômicos e sociais na concepção de produtos e serviços. Acredita-se que a principal preocupação no design de embalagens com vistas à sustentabilidade seja referente à diminuição na quantidade e diversidade de materiais utilizados, além da reciclabilidade ou reutilização destes. No entanto, muitas vezes as estratégias traçadas não levam em conta a sustentabilidade econômica. De acordo com Pereira e Silva (2010), há que se considerar, além da viabilidade financeira da produção, a geração de trabalho e renda para, com isso, contribuir com o desenvolvimento econômico, de modo que este contribua para as questões ambientais e sociais. Há que se pensar no estilo de produção e consumo da sociedade contemporânea, pois o crescimento econômico sempre se deu em detrimento da conservação da natureza (VEIGA, 2008). Sabe-se que o mundo atual atravessa sérios problemas econômicos, sociais e ambientais que requerem novas soluções, novos conhecimentos e novas formas holísticas de pensamento (KAZAZIAN, 2005). Nesse sentido, o presente artigo relata uma pesquisa ação realizada pelos alunos de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Design da UFPR em parceria com a empresa de eletrodomésticos Whirlpool. O projeto aconteceu durante a disciplina trimestral “Design e Sustentabilidade” com foco no desenvolvimento de embalagens para um micro-ondas, obedecendo aos princípios ambientais da sustentabilidade. Porém, além de demonstrar as soluções propostas ao fim da pesquisa, este artigo visa analisar os resultados obtidos, sob a ótica do Design, com base nos critérios da Dimensão Econômica da Sustentabilidade.

2 Design como agente de mudança Conforme ICSID (2008), o design tem a missão de tomar conhecimento e avaliar as interconexões estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas e econômicas com o objetivo de reforçar a sustentabilidade global e a proteção ambiental. Faz parte de seu papel, também, propiciar benefícios e liberdade para toda a comunidade humana, individual e coletiva, incluindo usuários, produtores e protagonistas do mercado, apoiando a diversidade cultural apesar da globalização mundial e, fornecendo produtos, serviços e sistemas, que são as formas expressivas e coerentes com sua própria complexidade (ICSID, 2008). A sustentabilidade, segundo Bardaglio (2007), envolve não apenas a minimização do impacto negativo da atividade humana na biosfera, mas também visa transmitir o conhecimento e promover o entendimento das causas ambientais, além de buscar distribuir, de 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

forma mais justa, recursos e poderes para uma economia saudável. A soma desses fatores, então, contribui para o aumento da qualidade de vida, abrangendo as dimensões ambiental, sócio-ética e econômica. Sendo assim, o ampliado escopo de atuação do design, possibilita sua inserção, de maneira positiva, nas principais questões de cunho social, ambiental e econômico, transitando entre essas três dimensões, a fim de gerar equilíbrio entre elas. Considerando-se que o projeto de embalagem do micro-ondas fundamentou-se nos cinco princípios da dimensão ambiental da sustentabilidade, é relevante defini-los, conforme o tópico seguinte.

2.1 Dimensão ambiental da sustentabilidade A sustentabilidade ambiental, de acordo com Manzini e Vezzoli (2008), refere-se às condições sistêmicas segundo as quais, em nível regional e planetário, as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia tudo que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras. Somado a isso, Vezzoli (2010) ressalta a importância da coesão e equidade social, onde cada pessoa, em uma distribuição justa dos recursos, tem direito ao acesso à mesma disponibilidade de recursos naturais globais ou ao mesmo nível de satisfação que pode ser obtido a partir destes recursos. Tendo em vista o conceito de sustentabilidade ambiental citado anteriormente, cabe apresentar, de acordo com Manzini e Vezzoli (2008), os cinco princípios ambientais da sustentabilidade que nortearam o desenvolvimento dos conceitos elaborados na pesquisa ação, foco deste artigo. I) Minimização de recursos O princípio de minimização de recursos compreende o consumo reduzido de materiais e energia, levando em conta todas as fases do projeto e todo o ciclo de vida de um produto ou serviço (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Segundo Manzini e Vezzoli (2002), com a adoção desse princípio, o impacto ambiental tende a diminuir, uma vez que são utilizados menos materiais e, consequentemente, não há necessidade da transformação destes, tampouco de seu transporte e descarte. As diretrizes para a minimização de recursos enunciadas pelos autores envolvem o consumo de materiais e energia. Entre elas se pode citar a minimização de: conteúdo material de um produto; perdas e refugos; consumo de energia na produção; consumo de recursos no desenvolvimento do produto. II) Seleção de Recursos de Baixo Impacto A escolha por recursos e processos de baixo impacto ambiental deve levar em conta todo o ciclo de vida de um produto ou serviço, considerando tecnologias de transformação e beneficiamento de materiais, distribuição dos produtos, além dos recursos, materiais e aditivos a serem utilizados (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Pode ser que um material

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apresente um impacto ambiental pouco significativo em uma certa fase do ciclo de vida do produto e, ainda assim, apresente um elevado impacto ambiental na fase seguinte. Conforme Vezzoli (2010), um recurso é entendido como renovável, apenas quando a taxa de recuperação natural é comparável à taxa de consumo por humanos. Desse modo, Manzini e Vezzoli (2008) ressaltam que o designer deve preocupar-se com a escolha e a aplicação dos materiais de um produto, ainda que esse profissional não esteja envolvido com a origem ou com o fim do ciclo de vida dos produtos. III) Otimização do Ciclo de Vida dos Produtos A análise da vida útil varia conforme o produto e em relação a determinadas funções que, de acordo com Manzini e Vezzoli (2008) são: a previsão do tempo de vida de um produto; a quantidade de uso; o tempo de duração das operações ou a vida na prateleira (armazenamento). O que ocorre atualmente, é que o descarte prematuro decorrente, ou não, da obsolescência estética, tecnológica ou cultural, contribui com os atuais problemas ambientais enfrentados pela sociedade (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Manzini e Vezzoli (2008) sugerem duas estratégias no que se refere à otimização da vida dos produtos: o aumento da durabilidade e a intensificação do uso dos produtos e/ou de alguns dos seus componentes. O aumento da durabilidade, possivelmente, terá menor impacto ambiental, pois evitará a geração precoce de lixo, bem como a produção e distribuição de novos produtos, que também afetam a cadeia produtiva (extração de novos recursos, emissões, transporte etc.). No caso da intensificação do produto, quando o seu uso é intenso, proporciona uma redução da quantidade de produtos em um determinado momento e local, o que determina uma redução do impacto ambiental (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Desta forma, os autores ressaltam a importância de se pensar mais propriamente no resultado do que no usufruto que os produtos possam oferecer; pensar na satisfação de uma necessidade sem, necessariamente, haver a posse de um produto para que isso aconteça. Nessa perspectiva, a intensificação do uso de um determinado produto segundo Manzini e Vezzoli (2008), poderá se manifestar ao usuário mais como forma de um serviço do que em forma de produto (produtos de uso coletivo e compartilhado). Nesse contexto, Hirschl et al. (2003) afirmam que os critérios de sustentabilidade atribuídos aos serviços oferecidos para os produtos existentes, que visam à otimização do ciclo de vida dos bens e dos componentes são manutenção, reparação, up-grading e re-fabricação. No caso dos serviços de substituição ou uso-orientado, são locação ou arrendamento. IV) Extensão do Ciclo de Vida dos Materiais Este princípio sugere que os materiais tenham seu ciclo de vida ampliado por mais tempo do que duram os produtos que eles compõem (MANZINI e VEZZOLI, 2008). Para tanto, os autores apontam dois processos fundamentais: o reprocessamento (materiais são transformados em matéria-prima secundária) e incineração (recuperação do conteúdo energético). Portanto, a extensão da vida dos materiais trata da ampliação do nível de

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utilização de um dado material pelo homem, não necessariamente para a função original para a qual foi extraído da natureza. V) Facilidade de Montagem e Desmontagem Manzini e Vezzoli (2008) definem a facilidade de montagem e desmontagem como sendo o princípio de tornar ágeis e econômicos o desmembramento das partes componentes e a separação dos materiais de um produto. Com isso, pode haver uma redução dos custos de manutenção, reparação, atualização e refabricação do mesmo, além de reduzir, também, os custos de reciclagem, compostagem ou incineração. Portanto, este princípio do design sustentável tem repercussões diretas em todos os outros princípios (MANZINI e VEZZOLI, 2008).

2.2 Dimensão econômica da sustentabilidade De acordo com Schmidt (2007), a Dimensão Econômica da Sustentabilidade trata do capital artificial. Esta dimensão é decorrente de atividades que provêm produtos e serviços para aumentar tanto a renda monetária, como o padrão de vida dos indivíduos e grupos, tanto na economia formal, como também na informal. Porém, a performance econômica contemporânea tem sido medida através de números. Considera-se que o crescimento econômico, a produtividade e o emprego são as melhores formas de mensurar o bem-estar e a felicidade dos indivíduos e, que todas as variáveis relevantes estão disponíveis nos números referentes ao Produto Interno Bruto - PIB (MAAS et al. 2010); (VEIGA, 2008). Porém, Maas (2010) atenta para uma falha nessa forma de avaliar o bem estar e felicidade dos indivíduos: o PIB não considera fatores como recursos naturais, ecossistemas, capital humano e social. Nesse sentido, em 1990 economistas criaram o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), incluindo dimensões não contempladas pelo PIB. O índice é hoje calculado para 177 países e configura-se em uma média aritmética de três indicadores sintéticos considerados indispensáveis para que haja desenvolvimento: renda por habitante, saúde e educação, tendo em vista que não há possibilidade de acesso a outras dimensões sem estes indicadores básicos (VEIGA, 2008). Contudo, é comum medir o desempenho de uma solução de design, dentre outras formas, pelo retorno financeiro e aumento do valor agregado. Schmidt (2007) afirma que este ponto de vista convencional da economia tem como objetivo principal o uso eficiente dos fatores de produção: capital, trabalho, conhecimento e recursos naturais. Todavia, a Dimensão Econômica da Sustentabilidade tem como objetivos atributos que vão além da eficiência buscada pelo modelo convencional. Nesse caso, há uma preocupação sistêmica do impacto econômico de produtos e serviços. Nesse sentido, a melhoria na qualidade de vida das pessoas pela renda, saúde e educação não deve ser obtida em prejuízo das gerações futuras, o que pode vir a ocorrer, caso as bases naturais dos sistemas econômicos sejam degradadas (VEIGA, 2008). Ao encontro desta perspectiva, há diversas formas de avaliar o bem estar humano e o bem estar do ecossistema. Para tal, Mass (2010) cita ferramentas como Pegada Ecológica (Ecological Footprint); Índice de Desenvolvimento Humano (Human Development Index); 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA)

Índice de Planeta Feliz (Happy Planet Index) e Abordagem de Poupança Genuína (Genuine Savings Approach). Estas ferramentas, de acordo com o autor, fornecem elementos pós PIB para que se possa visualizar, medir e agir conforme as necessidades globais contemporâneas. A partir das ferramentas de avaliação mencionadas é possível perceber a importância de se levar em conta a preservação ou a melhoria dos sistemas econômicos em todo o ciclo de vida de um produto ou serviço. Nesse sentido, Krucken (2009) apresenta cinco princípios do Design Sustentável, no que se refere à Dimensão Econômica da Sustentabilidade: I) Fortalecer e valorizar recursos locais: utilizar sempre que possível recursos materiais e energia local, contribuindo para que estes recursos alcancem maior vantagem competitiva em relação aos recursos exógenos à região; II) Promover a economia local: envolver possíveis atores locais no processo de negócio, contribuindo para a ampliação das oportunidades de renda e fortalecendo o empreendedorismo local; III) Promover organizações em rede: reduzir as demandas materiais e capital para o desenvolvimento de um produto ou serviço, assim como disseminar o benefício econômico para um número ampliado de pessoas e organizações através da articulação em rede; IV) Valorizar a reintegração de resíduos: implantar estratégias que transformem resíduos em fontes de renda quando da produção de bens e serviços, reduzindo o volume de capital requerido para a exploração de matéria prima virgem; V) Respeitar e valorizar a cultura local: transformar a cultura local em bem econômico, passível de contribuir para a melhoria da performance econômica dos atores locais, integrando a comunidade no processo de desenvolvimento de produtos e serviços. Tendo como fundamento esses princípios enunciados por Krucken (2009) foram analisadas as propostas de design de embalagem desenvolvidas com base nos princípios da dimensão ambiental da sustentabilidade, conforme descrito no tópico seguinte.

3 Interface entre as dimensões sob a ótica do Design O ponto de partida do projeto se deu com a análise da embalagem atualmente utilizada pela empresa parceira, considerando-se seu manuseio e os materiais que a compõem. Com isso, percebeu-se que o transporte individual do produto embalado é dificultado pelo seu peso e tamanho. Após a separação, contagem e pesagem dos componentes da embalagem, notou-se que há excesso de materiais e que estes são de naturezas diversas. Além da caixa de papelão que envolve externamente o produto, foram encontrados em seu interior, materiais como poliestireno, polietileno, PELD, polipropileno, ABS, papel, fita adesiva, arames, entre outros. Com base nessas percepções iniciais foram, então, gerados conceitos de embalagens, obedecendo aos princípios da dimensão ambiental da sustentabilidade. Desse modo, foram elaboradas cinco proposições, cada uma delas contemplando um princípio: minimização de recursos; otimização do ciclo de vida dos produtos; extensão do ciclo de vida dos materiais; facilidade de montagem e desmontagem; seleção de recursos de baixo impacto. A partir dos resultados obtidos, cada proposta foi analisada neste artigo, tendo em vista a dimensão econômica da sustentabilidade sob a ótica do design. Cabe ressaltar que os conceitos de embalagens apresentados no presente artigo tratam, especificamente, do 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

princípio relacionado ao mesmo, com o objetivo único de proporcionar uma visão didática sobre cada princípio, individualmente. Princípio de Minimização de Recursos x Dimensão Econômica Seguindo o princípio de minimização de recursos, foram discutidas e geradas alternativas em torno de estratégias como: desmaterialização; miniaturização; evitar dimensionamentos excessivos; minimizar as espessuras dos componentes; utilização de nervuras para enrijecer as estruturas, dentre outras. A Figura 1 representa a embalagem elaborada como se fosse um sanduíche de papelão, reforçado internamente com bandejas de papelão Po3. O conjunto é preso por duas fitas que o envolvem. Com essa alternativa, possibilitou-se a redução na quantidade e na diversidade de materiais componentes da embalagem.

Figura 1: rendering da proposição elaborada para o Princípio de Minimização de Recursos

Da perspectiva da dimensão econômica, esta proposição sugere que sejam utilizados fornecedores locais de materiais, energia e trabalho. Sendo assim, considera-se que as empresas parceiras para a produção destas embalagens estejam em regiões próximas à empresa, diferentemente do que ocorre atualmente, pois conforme informações fornecidas pela Whirlpool, as embalagens são produzidas na China. Considera-se, portanto, que a partir da proposta mencionada haja maior proximidade entre a empresa, o fornecedor de embalagens e os fornecedores da matéria-prima necessária para a confecção da mesma. Desta forma, é possível promover a organização em rede, ligando interesses e atividades entre os stakeholders. Nesse sentido, haverá mais postos de trabalho oferecidos nas regiões de entorno, considerando que os materiais, energia e trabalho serão locais, fomentando assim, a economia da região. Além disso, com o uso reduzido de recursos, o custo de fabricação das embalagens é menor, sendo mais lucrativo para a empresa. Princípio de otimização do ciclo de vida dos produtos x Dimensão Econômica As alternativas que seguem o princípio de otimização do ciclo de vida dos produtos, partiram de princípios heurísticos aplicáveis na embalagem do micro-ondas. Após considerar diversos princípios como atualização, facilidade de reparos, reutilização, adaptabilidade, intensificação do uso, modularidade e full service (serviço completo), a equipe optou por este último. Assim, o fornecedor de embalagem seria responsável pelo design, produção, embalamento dos produtos, bem como pela supervisão e acompanhamento do 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA)

descarte/reutilização, ou ainda serviços agregados ao produto, pensando no gerenciamento das embalagens por uma empresa contratada pela Whirlpool (Figura 2). Dessa maneira, a empresa de embalagem teria uma célula dentro da Whirlpool (que seria responsável apenas pela distribuição até os pontos de venda) para desenvolver as embalagens, deixá-las prontas para a distribuição e gerenciar reparos ou reciclagem das mesmas para então voltarem ao processo de embalamento. Nestes, o consumidor poderia decidir ficar com a embalagem ou devolvê-la para a empresa, pagando uma diferença no caso de decidir levá-la. Nessa situação, o consumidor poderia devolver a embalagem nos pontos de venda da Whirlpool, recuperando o valor da mesma (crédito, programa de bônus, cartão fidelidade etc.), seja essa compra feita presencialmente ou pela internet. Seus distribuidores, então, dariam conta do recolhimento das embalagens devolvidas nos pontos de venda.

Figura 2: Esquema Full Service

Com base no processo de full service descrito, pensou-se em uma embalagem durável e de fácil reparo. A figura 3 ilustra a proposta que consiste em duas “bacias” plásticas, uma ligeiramente menor que a outra, possibilitando o encaixe na ocasião da devolução, reduzindo, assim, o seu volume. A alternativa previu duas pegas laterais formadas pela conexão da base com a tampa. Para proteger o produto, pensou-se em um sistema de amortecimento interno à embalagem, com monomaterial inflável ou placas feitas com polpa de papel, facilitando assim a reutilização/reciclagem.

Figura 3: rendering da proposição elaborada para o Princípio de Otimização do Ciclo de Vida dos Produtos

No que se refere à dimensão econômica da sustentabilidade, o full service apresenta uma solução lucrativa para a empresa parceira, já que haverá uma célula da empresa de embalagens dentro da Whirlpool, reduzindo assim, custos de transporte. Além disso a solução 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

proposta compreende melhorias para as comunidades do entorno, oferecendo oportunidades de trabalho e renda, uma vez que hoje as embalagens vêm da China. O consumidor também é contemplado nesse sistema, pois percebe na compra do microondas a vantagem econômica em devolver a embalagem para ser reutilizada ou reciclada e, ainda, tem a oportunidade de criar uma consciência ambiental adquirida com as práticas de reuso e reciclagem. Assim como a proposição anterior, todos os cinco conceitos de embalagens consideram o uso de matéria-prima local, gerando, com isso, oportunidades aos trabalhadores da região. Princípio de Extensão do Ciclo de Vida dos Materiais x Dimensão Econômica As alternativas que seguem o princípio de extensão do ciclo de vida dos materiais foram guiadas por uma persona que definiu o público-alvo. Foram então adotados os temas reuso, reciclagem, compostagem e combustão. Após análise e discussão acerca das diversas propostas apresentadas, definiu-se como alternativa final a embalagem ilustrada na Figura 4, que se refere à compostagem.

Figura 4: rendering da proposição elaborada para o Princípio de Extensão do Ciclo de Vida dos Materiais

Nessa proposição, partiu-se do princípio de que o consumidor realizaria a compostagem em seu quintal ou, no caso de residir em edifícios, em uma facilidade do condomínio (composteira coletiva). Considera-se importante ressaltar que, para a compostagem ser eficaz, é necessário utilizar um material de alta biodegradabilidade isento de componentes tóxicos. Nesse caso, o conceito conta com duas bandejas de papel de alta gramatura, uma para a parte superior do micro-ondas e outra para a parte inferior. As bandejas seriam produzidas por moldagem de papel fabricado a partir de fibras vegetais, tais como a de babaçu, bananeira, bagaço de cana, coco, palma, buriti, bambu etc. Esse tipo de processo elimina o uso de adesivos e grampos. Para proteger o micro-ondas do impacto durante o transporte e empilhamento, em substituição ao E.P.S., sugeriu-se duas bandejas internas feitas de polpa moldada com sementes inseridas. Depois de desembalado o produto, as bandejas internas poderiam ser umedecidas e colocadas em meio a terra para germinarem as sementes. Para maior proteção do produto, este e as bandejas seriam, então, envoltos por um filme plástico biodegradável, de origem vegetal (e.g. celofane ou Ingeo, derivado do amido do milho), e nele próprio já estariam descritas as instruções de instalação do produto (impressas com tinta atóxica de origem vegetal). Dessa maneira seria possível utilizar somente materiais de fontes renováveis. No fim da vida útil desta embalagem, as bandejas poderiam ser encaixadas (externa e interna) e poderia ser adicionada terra dentro desta para fazer desse conjunto uma horta (sementeira).

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Da perspectiva da dimensão econômica, pode se dizer que a adoção da estratégia de compostagem pode reduzir custos de recolha e manutenção destas embalagens, tendo em vista que não haverá a necessidade de processos que envolvam trabalho, energia, transporte etc. Nessa alternativa, o consumidor participa do projeto de ciclo de vida da embalagem na fase final. Envolve-se nesta atividade que, além de contribuir com a redução dos resíduos gerados nesse setor, tem o papel de educar e conscientizar cada indivíduo durante a tarefa da compostagem. Assim, o consumidor pode sentir-se valorizado, percebendo que faz parte de um processo importante de cuidado com o meio ambiente e com o impacto econômico que afetaria a sua região em função do destino incorreto desses resíduos. Há que se ressaltar, também, que a pré-produção, produção, uso e descarte ocorreriam todas na mesma região, diminuindo a necessidade de transporte e, portanto, valorizando a economia local. Princípio de Seleção de Recursos de Baixo Impacto x Dimensão Econômica As primeiras alternativas para o princípio de recursos de baixo impacto compreenderam o uso do material compósito, como mescla de polpa de papel com outro material orgânico, a fim de facilitar a biodegradabilidade, já que esta é um dos critérios de material de baixo impacto. O material orgânico mencionado seria proveniente de sobras da agricultura (fibras de bananeira, bagaço de cana etc.) ou de madeireiras (resíduo florestal). Porém, para propor um novo composto a ser reciclado é necessário saber se as plantas de reciclagem atuais têm condições técnicas e tecnológicas para lidar com este tipo de compósito. Diante disso, optouse por trabalhar com papelão comum obtido a partir de fontes mistas, ou seja, com certo percentual de matéria-prima reciclada proveniente de aparas de corte da própria fábrica de papelão, a fim de facilitar a coleta e a reciclagem. As decisões para uma nova proposta de embalagem foram tomadas com base na embalagem atual, uma vez que a ideia nessa etapa era reduzir os impactos dos materiais utilizados atualmente. Dessa maneira, pensou-se em diminuir as dimensões da caixa atual, mantendo suas características formais. Uma alternativa para a substituição dos grampos que fixam as faces da caixa, foi a utilização de um adesivo à base d’água ou encaixe. Optou-se também pela redução da área impressa, utilizando pigmentos não tóxicos. Para o interior da embalagem, buscou-se utilizar apenas um tipo de material - a polpa de papel, em substituição do poliestireno, pois este, ao ser reciclado não traz vantagens econômicas. Assim, a embalagem proposta, conforme mostra a Figura 5, consiste em uma caixa de papelão que envolve o micro-ondas. Com o intuito de proteger o produto durante o transporte, foram propostos um berço em polpa de papel para manter o micro-ondas firme e estático, além de uma cantoneira superior visando proteger o produto no empilhamento para transporte.

Figura 5: rendering da proposição elaborada para o Princípio de Seleção de Recursos de Baixo Impacto

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Considerando-se a dimensão econômica, o fato de esta alternativa propor o reuso de aparas de papelão da própria empresa que produz as embalagens, permite o envolvimento da empresa com a região de entorno. O recolhimento das caixas, berço e cantoneira que servirão de matéria-prima para novas embalagens sugere novos postos de trabalho, tendo em vista que existe a necessidade de recolha e encaminhamento deste material para a fábrica de papelão. Desta forma, se elaborado um plano de ação que contemple a comunicação em rede, onde todos os atores envolvidos estejam conectados para realização de um objetivo comum, esta pode se converter em uma oportunidade de geração de renda e trabalho, tanto nas comunidades de entorno, quanto dentro da empresa, onde haverá a necessidade de geração de novos postos de trabalho para suprir a essa nova demanda de realocação das aparas recolhidas. Princípio da Facilidade de Montagem e Desmontagem x Dimensão Econômica Para o princípio de facilitar a montagem e a desmontagem optou-se por uma caixa confeccionada em papelão ondulado, fabricada com o sistema de corte e vinco (Figura 6). Esta caixa possui várias dobras que se encaixam e protegem o produto. A embalagem possui, ainda, três placas adicionais de papelão do tipo Honeycomb posicionadas na base, na face posterior e na parte superior (sobre o micro-ondas, abaixo da tampa da caixa).

Figura 6: rendering da proposição elaborada para o Princípio de Facilidade de Montagem e Desmontagem

Em relação à dimensão econômica da sustentabilidade, esta embalagem propõe uma produção simples, apenas considerando o uso do papelão e, deste modo, não havendo a necessidade de custos com outros materiais. A simplicidade de produção e o fato de ser monomaterial, conferem a esta proposição uma característica econômica importante, tendo em vista que a empresa de embalagens reduzirá seus custos com diversos materiais envolvidos atualmente no embalamento do produto. Em contrapartida, a empresa demandará de mão de obra especializada para realizar a montagem dessa nova proposta e, assim, poderá envolver a comunidade local em cursos profissionalizantes que, posteriormente, podem vir a suprir essa nova demanda.

4 Considerações finais Diante do exposto, percebe-se que não há como definir uma divisão exata entre as dimensões ambiental e econômica da sustentabilidade. Estas, acompanhadas da dimensão social da sustentabilidade, caminham juntas e se fundem umas com as outras. Pensar em

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soluções para a sustentabilidade, inevitavelmente, leva à reflexão sobre questões de cunho social, ambiental e econômico. O designer, como agente de mudanças, tem condições de contribuir nestas três dimensões. Seu ampliado escopo de atuação permite que este transite entre estas dimensões proporcionando equilíbrio entre elas através de novas configurações de produtos e serviços que venham ao encontro dessas necessidades demandadas, para que se alcancem soluções sustentáveis. As proposições de design sustentável apontadas na pesquisa ação relatada neste artigo apresentam soluções nesse sentido. Porém, vale ressaltar que cada princípio ambiental do design sustentável foi tratado separadamente com o objetivo didático de entender e exercitar cada um deles, individualmente. Portanto, é importante perceber que, no desenvolvimento de produtos e serviços, estes princípios estão subentendidos e são aplicados de forma abrangente. Por meio da análise de cada proposição, foram verificados os benefícios ambientais, econômicos e a interação entre eles. Assim, foi possível confirmar o que foi visto na literatura, percebendo-se a linha tênue que liga uma dimensão à outra e, que grande parte das ações sustentáveis se direcionam para ambas as dimensões em níveis diversos. Por fim, pode-se dizer que o cruzamento entre aspectos econômicos e ambientais nas soluções de embalagens propostas contribuiu para facilitar o entendimento e a percepção pela sociedade em relação ao alcance conquistado por um produto. Quando refletidas estas questões, pode-se obter benefícios para a educação ambiental, para a valorização social, para a promoção da economia local, assim como para a valorização de recursos locais e a reintegração de resíduos, entre outros.

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