Análise de estereótipos irlandeses em cartoons

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Análise de estereótipos irlandeses em cartoons







Aluna: Alexandra Sequeira
Nº: 41535
Docente: Teresa Botelho
Curso: Representando o Outro na Cultura Visual Norte-Americana
Data: Setembro de 2014
Introdução

Na segunda metade do século XIX deu-se uma grande vaga de imigração de irlandeses para a América, como tal através da análise de diversos cartoons, será possível determinar a reacção americana à grande vaga de imigração irlandesa, aos seus comportamentos, religião e estadia, no geral.
Acerca deste tema a ser analisado pode-se ler a opinião de Homi Bhabha sobre os estereótipos: "The stereotype is a form of knowledge and identification that vacillates between what is always '' in place'' already known, and something that must be anxiously repeated as if the essential duplicity of the Asiatic or the bestial sexual license of the African that needs no proof, can never really, in discourse, be proved [and so they are always done in] excess of what can be empirically proved or logically construed."
Para além disso, Kerry Soper diz ainda que: ""In the nineteenth century, when ethnic caricature was one of the most popular genres of comedy in humor magazines in both England and America, many creators and readers of these images would have embraced the idea that racial stereotypes were truthful distillations of an entire ethnicity's defining physical and character traits. Adding supposed truth-telling weight and authority to these images, ethnic caricatures were founded on the principles of racist pseudosciences such as phrenology and physiognomy." (SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, p. 260)

Mas a pergunta com a qual nos deparamos é: Quem são os pais destes cartoons que perpetuaram estereótipos até aos dias de hoje e quais as razões por detrás disso?


A partir da segunda metade do século XIX a América presenciou uma onda de imigrantes vindos da Europa, sobretudo da Irlanda. Este povo, ao contrário de outros, foi vítima da generalização e de graves estereótipos, que ainda hoje o público geral reconhece com grande facilidade.
O povo irlandês deparou-se na sua terra natal com graves dificuldades, entre elas a fome da batata, o desemprego e as perseguições religiosas, como tal a chamada "terra das oportunidades" prometia-lhes trabalho, riqueza, direitos humanos e, no geral, uma vida melhor neste novo continente emergente (VER ANEXO I). Neste cartoon retrata-se a vaga de imigrantes chegados da Europa ao qual o Uncle Sam os recebe de braços abertos. Junto a si aparecem dois placares com as razões para a qual emigrarem para a América, sendo elas: a inexistência impostos opressivos, de reis dispendiosos, de serviço militar obrigatório e de masmorras; nisto a América oferece ainda educação grátis, terra (se permanecessem no mínimo 7 anos) e discurso livre e direito ao voto (independentemente da situação de classes e rendimentos).
Mas a sua migração não foi sem dificuldades, muitos tiveram que passar a fronteira entre os EUA e o Canadá a pé, visto que a passagem para o Canadá era mais económica, ou terem que viajar nos, mais tarde, apelidados coffin ships (VER ANEXO II) onde os emigrantes viajavam em condições deploráveis e onde muitos morreram face a estas condições.
No entanto, todos os imigrantes teriam que assimilar esta nova cultura e way of life (VER ANEXO III), como tal foi o que muitos povos fizeram à excepção do rebelde povo irlandês, tendo este cartoon sido intitulado "The Mortal Assimilation". Neste mesmo poderemos ver a Columbia, figura feminina que representa os Estados Unidos da América, a mexer o tão conhecido melting pot, que representa a variedade cultural na América e neste caso é apelidado de citizenship, no qual se encontram os descendentes anglo-americanos e os recém-chegados imigrantes italianos, alemães, russos, judeus, espanhóis e afro-americanos, no entanto pode-se ver claramente um imigrante irlandês que se recusa a entrar no melting pot, e que resiste veemente com uma faca na mão e a bandeira da Irlanda na outra.
Alguns dos cartoonistas que realizaram imensas obras acerca da população irlandesa foram Thomas Nast, para a Harper's Weekly, Joseph Keppler para a revista Puck, Richard Outcault e Frederick Opper, sendo estes os principais a serem analisados.
O primeiro cartoonista a ser analisado será Thomas Nast. Nast foi considerado o ilustrador mais racista para com o povo irlandês. Ele opunha-se fortemente contra a sua catolicidade e no geral a sua maneira de ser, conta a lenda que quando Nast era criança que viu imensas vezes irlandeses humilhando afro-americanos, americanos e imigrantes europeus.
Nast opunha-se afincadamente ao estilo de vida irlandês, sobretudo à sua catolicidade, um cartoon feito por si acerca deste parâmetro seria "The American River Ganges" (VER ANEXO IV), neste é possível ver a caracterização das figuras dos clérigos como crocodilos e preparando-se para atacar as crianças, tendo num dos grupos de crianças o homem mais velho a protegê-las. Neste cartoon entende-se, fortemente, que Nast era um grande apoiante da separação da Igreja do Estado e das escolas. Em relação à sua interveniência na política estadunidense Nast realizou também um cartoon apelidado de "Killing the golden goose", neste pode-se ver que Nast retratou o povo irlandês como ladrões, por roubarem os cofres públicos do Partido Democrático, aqui demonstrado como a galinha dos ovos de ouro, e que atacou novamente a sua religião, pela clara expressão chocada do homem mas que nada faz para além de juntar as mãos como que se pedisse perdão ao Senhor (VER ANEXO V).
Ainda mais, Thomas Nast retratou estes imigrantes como violentos, primitivos, racistas e anárquicos. No cartoon "The Chinese Question" o público depara-se com um imigrante chinês, em desespero, sendo protegido por Columbia de uma violenta multidão de irlandeses com tochas e objetos perigosos, ao qual Columbia lhes diz "Hands off: America mens fair play for all men!". No plano de trás ainda é possível observar prédios em chamas, o que veio a representar os motins causados pela máfia irlandesa, que protestava com a Proclamação da Emancipação de Lincoln através do linchamento de afro-americanos e pegando fogo ao Colored Orphan Asylum (VER ANEXO VI). Outro cartoon de Nast que retrata a violência e o alcoolismo dos irlandeses foi o intitulado "The Day We Celebrate", neste cartoon é possível ver a população irlandesa, alcoolizada, realizando um motim contra a polícia no seu feriado de "Saint Patrick's Day" (VER ANEXO VII). É, também, ainda possível ver polícias espezinhados, atacados pelos seus próprios cassetetes e por objetos que fossem fáceis de adquirir, completamente dominados pela multidão irlandesa.
Outro autor relevante ao estudo é Frederick Opper, este realizou alguns cartoons onde é praticável ver os irlandeses não católicos como praticantes dos sete pecados mortais, sendo o mais comum a preguiça (VER ANEXO VIII), onde se pode ver uma casa antiga, caindo aos pedaços e um casal. Neste cartoon vê-se claramente a mulher olhando com pressão para o marido ir consertar a janela enquanto este se encontra sentado em cima de um alguidar fumando com calma e tranquilidade o seu cachimbo. Outro aspecto relevante de se mencionar é o aspecto degenerado do casal. É fácil ver que ambos possuem características semelhantes à de um símio, comummente designado como africanizado, tendo por isso o autor apelidado este cartoon de "Irish Simion", algumas das características são os olhos pequenos, o maxilar superior exagerado, o nariz achatado, tudo isto características idênticas àquelas de um símio. Esta afirmação pode ser corroborada por Kerry Soper que diz: "The roots of the Irish caricature can be traced primarily to the nineteenth-century English humor periodical Punch. John Tenniel and other cartoonists created the visual stereotype with the support of the ideological claims of anti-Catholic propaganda, social Darwinian theory, physiognomy, phrenology, the study of facial angles, and other specious, pseudoscientific theory such as the ''Africanoid'' roots of the Irish. According to these artists, the average working class Irishman had an ape-like posture, a low, slanting forehead (indicating a small frontal lobe – the part of the brain that gave a person the ability for rational, civilized thought and behavior), an extended jaw (another sign of evolutionary backwardness), and a small, upturned nose. In the male caricature of Irishness, baldness, a chin-beard, and a pipe often accompanied this basic physical configuration, and his behavior fell within a limited range of laughable habits : garrulity, drunkenness, laziness,
violence, and stupidity." (SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, pp. 263-4). Outro cartoon que representa bem esta descrição é "The Irish Frankenstein" (VER ANEXO IX), onde se vê um imigrante irlandês com traços, semelhantes aos anteriormente referidos, gravemente exagerado, conferindo-lhe um aspecto ainda mais degenerado, em oposição ao homem anglo-americano que se encontra à sua frente. Também se pode dar conta de uma sala escura e com poucas condições na qual o irlandês habita.
Opper representou ainda a população irlandesa imigrada como sanguessugas, isto é, era normal nesta época ver os irlandeses pedindo esmola de porta em porta para fundos irlandeses e muitas vezes vivendo em condições consideradas deploráveis para o americano comum de modo a ajudarem a Irlanda (VER ANEXO X). No seguinte cartoon, intitulado "Poor Pat's Persecutors" vê-se a "vítima", Pat, tendo os seus fundos sugados por sanguessugas que se encontram representadas por fundos de famílias irlandesas, do país ou da igreja, ao que Opper escreveu na legenda "the irish leeches and their victim". Pode-se ainda ver que apesar de Pat apresentar resistência que as sanguessugas são mais fortes que ele. Outro cartoon muito representativo desta realidade é "The Sooner The Better" (VER ANEXO XI), onde se pode ver um homem irlandês pedindo esmola à cozinheira, que também é sua compatriota, ao que ela lhe responde: "Help Ireland, is it? Begorra, the best way to help Ireland wud be for you na' the likes of ye to die for Ireland?" o que indica que muitos dos imigrantes irlandeses emigraram do seu país devido à Fome da Batata, ao desemprego e às perseguições católicas e que se os que insistem em lutar pela Irlanda do outro lado do oceano que deveriam de se dispor a morrer pela Irlanda e não pedir esmola.
Acerca deste cartoonista foi ainda dito que "Opper's image – that were lighter in tone and less ambitious in their satire ; these images tended to reinforce the classic stereotypes in cliche´d ways, but were often less strident in their ideological points. The Irish in these cartoons tended to be more laughably drunken and lazy than politically or racially threatening." (SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, pp. 265-6).



Outro cartoonista famoso desta época foi também Joseph Keppler. Keppler foi um cartoonista mais complexo e ambicioso do que os restantes, como podemos ver no estudo de Kerry Soper "Keppler's image was one of the magazine's lithographic editorial cartoons; these images were often elaborately complex in their draftsmanship and ambitious in their allegorical satires, but they tended to play to the dominant
prejudices when they featured ethnic types – in this case, the belief among
many Anglo-Americans that the Irish were nuisance immigrants, incapable
or unwilling to assimilate into the mainstream culture." (SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, p. 265). Um exemplo representativo desta afirmação é o cartoon "Uncle Sam's Lodging House" (VER ANEXO XII). Neste cartoon o leitor da revista Puck depara-se uma espécie de pensão, controlada pelo Uncle Sam, onde ele alberga imigrantes de diferentes países, tais como a Rússia, a Alemanha, a França, entre outros, além de albergar também Afro-Americanos. No entanto é um facto que neste cartoon a personagem irlandesa incomoda o Uncle Sam, a Columbia e o hóspede ânglico, enquanto todos os outros dormem profundamente. Também se pode ver que tanto o Uncle Sam como a Columbia estão gravemente perplexos com as repreendas furiosas pelas quais o hóspede grita, que se podem ver ditos nos pedaços de madeira perto da sua cama, em resposta a isto Uncle Sam diz-lhe: "Look here, you, everybody else is quiet and peaceable, and you're all the time a-kicking up a row!".

Em relação a isto, Soper diz que "Keppler's image was one of the magazine's lithographic editorial cartoons; these images were often elaborately complex in their draftsmanship and ambitious in their allegorical satires, but they tended to play to the dominant prejudices when they featured ethnic types – in this case, the belief among many Anglo-Americans that the Irish were nuisance immigrants, incapable or unwilling to assimilate into the mainstream culture."(SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, p. 265).


O último autor a ser analisado será Richard Outcault, o criador do Yellow Kid.
Kerry Soper afirma o seguinte acerca do Yellow Kid: "The star of the strip, the Yellow Kid, resembled the poor Irish urchins that Outcault used in his earlier magazine cartoons: beady-eyed kids sporting shaved heads (a poor immigrant practice to reduce lice infestations) and wearing simple sleeping gowns. The character also featured stereotypical Irish traits: the atavistic head, a garrulous nature, a propensity for social mischief, and a distaste for hard work. However, he was no longer simply a scapegoat or laughable, two-dimensional ethnic other; instead, he was the protagonist of an ongoing narrative and a mischievous guide to the strip's satire. This allowed him to play the role of the wise fool in many of the spreads, using a messy colloquial street language that made him appear both simultaneously ignorant (by standards of assimilation and conventional education) and worldly wise. In fact, his status as an ethnic child on the margins of society allowed him to see things more clearly and ironically – a rowdier Huck Finn dancing along the outer edges of society, occasionally tossing literal and figurative bricks into the center."(SOPER, From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster: The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920, p. 277).
No seguinte cartoon pode-se ver a aventura de Mickey Dugan, comummente reconhecido como Yellow Kid, num protesto contra a Inglaterra, intitulado "The War in Hogan's Alley". Neste cartoon é possível ver o Yellow Kid com a palavra artilharia escrita na sua camisa de dormir, os jovens de Hogan's Alley com cartazes em punho dizendo "Down wit Ingland dey dont know wut deys up aginst" e outro dizendo "America for Americas or any body else", entre outros. Também se consegue ver a típica cena de suicídio passar-se entre uma criança irlandesa e uma criança chinesa, mostrando assim a intolerância racial da parte dos irlandeses.


Bibliografia

http://graphicnovelseminar.blogspot.pt/2013_02_01_archive.html
http://www.loc.gov/pictures/item/2004670115/
http://centuryofprogress.org/sites/centuryofprogress.org/files/Immigration%20and%20Political%20Cartoons%20presentation.pdf
http://www.harpweek.com/09Cartoon/BrowseByDateCartoon.asp?Month=February&Date=18
http://thesocietypages.org/socimages/2008/10/06/negative-stereotypes-of-the-irish/
http://www.comicvine.com/images/1300-1687203/
http://www.english.ufl.edu/imagetext/archives/v6_2/meyer/
http://www.ck12.org/book/U.S.-History-Sourcebook---Basic/r2/section/4.5/
http://achieve.lausd.net/cms/lib08/CA01000043/Centricity/Domain/226/Irish%20Immigration%20Lesson%20Plan_0.pdf
http://www.printmag.com/illustration/nast-irish/
SOPER, Kerry. "From Swarthy Ape to Sympathetic Everyman and Subversive Trickster : The Development of Irish Caricature in American Comic Strips between 1890 and 1920", 2005, Cambridge University Press

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