Análise de resíduos de pesticidas em tomate para indústria

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Descrição do Produto

Análise de resíduos de pesticidas em tomate para indústria Cláudia Santinho1; Sofia Araújo1; Vanda Canejo1; L. Vilas Boas

2,3

; J. Constantino Sequeira

1Estação Agronómica Nacional, Quinta do Marquês, 2784-505 Oeiras E-mail: [email protected] 2Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Apt. 127, 2784-505 Oeiras 3Instituto Superior Técnico, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa E-mail: [email protected]

Introdução Hoje em dia, é quase obrigatório recorrer a algum tipo de produto fitofarmacêutico para controlo de pragas ou doenças das culturas agrícolas, de modo a obter uma produção rentável. Os pesticidas disponíveis actualmente são formulados de tal modo que se os procedimentos de aplicação e intervalos de segurança forem respeitados não haverá contaminação permanente do meio ambiente, nem riscos para a saúde do consumidor. Os consumidores têm revelado algumas preocupações com a possibilidade de existirem resíduos de pesticidas nos alimentos em quantidades que possam afectar a sua saúde, por isso, tem-se verificado um interesse cada vez maior em produtos agrícolas provenientes de agricultura biológica e/ou protecção integrada. As autoridades oficiais também têm dado atenção crescente aos problemas de segurança e qualidade dos alimentos, nomeadamente a práticas que possam causar ocorrência de resíduos de pesticidas em níveis superiores aos máximos permitidos por lei (Limites Máximos de Resíduos - LMRs). As análises químicas de resíduos de pesticidas (Cromatografia Gasosa ou Líquida) são ferramentas muito úteis para o controlo da qualidade dos alimentos, no entanto, são centenas as substâncias utilizadas como fitofármacos e, por isso, as estratégias de análise química têm de ser planeadas cuidadosamente, caso contrário seria impraticável um controlo adequado por estes métodos. Por outro lado, se um produtor quiser confirmar que o(s) produto(s) que vai comercializar não contém resíduos de pesticidas acima do que é permitido (LMRs), há ensaios imunológicos que são de fácil aplicação e podem ser usados como métodos de rastreio. Neste caso, sabe-se qual o produto fitofarmacêutico que foi aplicado na cultura, o que dispensa a utilização de métodos multiresíduos mais demorados e dispendiosos (por amostra) porque a extensão de trabalho do método multiresíduo não depende de se analisar um ou mais pesticidas na amostra. Os métodos imunológicos baseiam-se nas interacções estabelecidas entre substância a analisar ou um derivado (antigénio) e um anticorpo, e podem ser utilizados em qualquer tipo de análise de resíduos (em água, solo e alimentos) [1, 2]. O baixo custo da análise por amostra, bem como a sensibilidade e selectividade elevadas são vantagens apresentadas por estes métodos de análise em relação às técnicas instrumentais [3]. A resposta de cada anticorpo é específica, no entanto, pode haver na amostra antigénios semelhantes à substância a analisar que se vão ligar ao mesmo anticorpo originando interferências no método de análise denominadas por Reacções Cruzadas. Estas permitem identificar grupos de pesticidas com características químicas semelhantes [2]. Para avaliar a aplicabilidade destes métodos em amostras de tomate para indústria, analisaram-se frutos da cultivar ‘Perfect Peel’ colhidos em campos experimentais localizados nas zonas de Vila Franca de Xira e Coruche (Estação Experimental António Teixeira – INIAP). Os pesticidas pesquisados e que tinham sido aplicados na cultura de tomate foram o Clorpirifos e o Clorpirifos-metilo (insecticidas organofosforados), e o Metalaxil (fungicida fenilamida para combater o Míldio) [4].

Materiais e Métodos As amostras de tomate foram conservadas a – 20 C até à realização da análise. Na fase de preparação das amostras usou-se acetona para extracção dos pesticidas.

Utilizou-se um ‘kit’ de ensaios imunológicos para Clorpirifos (Clorpirifos-metilo determinado por reacção cruzada) e um ‘kit’ para Metolacloro (Metalaxil determinado por reacção cruzada). O ‘kit’ de Clorpirifos apresentava um limite de detecção de 0.10 ppb, enquanto que o ‘kit’ de Metolacloro referia como limite de detecção o valor de 0.05 ppb. O funcionamento dos ‘kits’ baseia-se em princípios de ELISA, ou seja, estes ensaios recorrem a marcadores enzimáticos acoplados a substratos colorimétricos. Os ‘kits’ utilizados incluiam vários padrões com diferentes concentrações do pesticida em análise, um controlo para verificação do funcionamento, Conjugado Enzimático (pesticida marcado com uma enzima), Partículas Magnéticas (anticorpos específicos para o pesticida em análise ligados a partículas magnéticas), Solução Colorimétrica (substrato enzimático e cromogénio), e Solução de Paragem. Na realização das análises, colocaram-se as amostras de tomate (extractos) em tubos de poliestireno aos quais se adicionou o Conjugado Enzimático e as Partículas Magnéticas. No final do período de incubação, aplicou-se um campo magnético para manter as partículas magnéticas nos tubos de ensaio, enquanto se realizou a decantação dos reagentes não ligados. A presença de clorpirifos foi detectada pela adição de Solução Colorimétrica. As leituras, em absorvâncias, da coloração desenvolvida foram realizadas num espectrofotómetro Beckman DU-70 da Beckman Instruments, a comprimento de onda fixo de 450 nm.

Resultados e Discussão Após a realização dos ensaios nas amostras de tomate ‘Perfect Peel’ pode-se verificar que a coloração diminuiu de intensidade com o aumento da concentração dos padrões do pesticida em análise, sendo o padrão zero (0 ppb de pesticida) aquele que apresentava uma cor mais forte. Verificou-se que as absorvâncias medidas para as amostras eram superiores às obtidas para os padrões usados nos ensaios. De acordo com o funcionamento dos ‘kits’, quanto maior for o desenvolvimento da coloração durante o ensaio (maior absorvância), menor é a concentração de pesticida presente na amostra. Deste modo, absorvâncias superiores às obtidas para os padrões usados nos ensaios indicam que o tomate não apresenta resíduos dos pesticidas considerados, ou que os níveis presentes nas amostras são inferiores aos limites de quantificação dos ‘kits’ (0.22 ppb para o Clorpirifos, 0.84 ppb para o Clorpirifosmetilo e 0.66 ppb para o Metalaxil). Como os Limites Máximos de Resíduos (LMRs) permitidos por lei para o Clorpirifos e Clorpirifos-metilo são de 500 ppb, e de 200 ppb para o Metalaxil, pode-se concluir, como era de prever, que o tomate analisado é adequado para o consumo. Os ensaios imunológicos são uma boa opção para avaliar a segurança de vários tipos de produtos alimentares, pois permitem analisar um elevado número de amostras em simultâneo. Este tipo de ensaios permite separar as amostras com níveis de resíduos superiores aos LMRs, das que não apresentam pesticidas detectáveis ou apresentam níveis inferiores aos LMRs. Se necessário, os resultados positivos podem ser confirmados por análise instrumental, o que torna o processo analítico mais rápido e menos dispendioso.

Referências Bibliográficas [1] Dankwardt, A., 2001. Immunochemical Assays in Pesticide Analysis. Encyclopedia of Analytical Chemistry (internet). [2] Skerrit, J.H., 1995. Analytical aspects of immunoassays of agrochemicals. In: Kurtz, D.A., Skerritt, J.H., Stanker, L. (eds.). New frontiers in agrochemical immunoassay. AOAC, pp. 116. [3] Lucas, A.D, Gee, S.J. e Hammock, B.D. (1995) Integration of immunochemical methods with other analytical techniques for pesticide residue determination. Journal of AOAC International 3 (78): 585-591. [4] Guia dos Produtos Fitofarmacêuticos – Lista dos produtos com venda autorizada, 2001. Direcção-Geral de Protecção das Culturas. Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, 181p.

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