Análise do Editorial de Moda “PlayGround” da Revista Elle

July 23, 2017 | Autor: Sara Sampaio | Categoria: Fashion Photography, Moda, Fashion, Revista De Moda
Share Embed


Descrição do Produto

Faculdade de Letras da Universidade do Porto Mestrado em Ciências da Comunicação Laboratório de Semiótica da Comunicação 1.º ano - 2.º Semestre

Análise do Editorial de Moda “PlayGround” da Revista

Docente: Professor Doutor António José Machuco Pacheco Rosa Discente: Sara Maria Catarino Vilela Sampaio [email protected] Ano letivo: 2013/2014

Índice

Resumo ............................................................................................................................. 3

Abstract ............................................................................................................................. 3

1.

Introdução.................................................................................................................. 4

2.

Breve História da Revista Elle .................................................................................. 4

3.

Editoriais de Moda .................................................................................................... 6

4.

“Playground”- Elle, Portugal, Edição de março 2014 .............................................. 9

5.

4.1.

Análise das imagens ......................................................................................... 10

4.2.

Observações ..................................................................................................... 20

4.3.

A imagem feminina e o apelo ao desejo .......................................................... 21

Conclusões .............................................................................................................. 23

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 24

2

Resumo As revistas de moda são amplamente usadas como sendo uma poderosa ferramenta de comunicação propulsionadora desta indústria. A moda pode ser vista como um sistema de produção e de comunicação que introduz mudanças de comportamento e de aparência, de acordo com a cultura e os ideais de uma época. As fotos existentes em revistas de moda têm um poder persuasivo na relação homem-imagem e os significados das imagens são um dos elementos importantes na comunicação. O objetivo deste trabalho é o de analisar os elementos semióticos presentes nas fotos de um dos editoriais de moda da revista Elle. Foram selecionadas todas as fotos incluídas nesse editorial e concluímos que as fotos influenciam o leitor, despertando nele um “desejo” intenso que o leva a “consumir” essa imagem, derivada pelo anseio de estar no universo capturado pela câmara, ou até, pela vontade de possuir algo que está na imagem. Palavras-chave: Moda; Revista Elle; Editorial de Moda; Fotografia de Moda.

Abstract Fashion magazines are widely used as a powerful communication tool, which is very important in this industry. Fashion can be seen as a system of production and communication introducing changes in behavior and appearance, according to the culture and ideals of a certain time. The photos in fashion magazines have a persuasive power in the relation man-image and the meanings of the images are an important element in communication. The aim of this study is to analyze the semiotic elements present in photographs of one of fashion editorials from Elle magazine. We selected all the photos included in this editorial and concluded that pictures influence the reader, awakening an intense "desire" that leads him to "consume" this image, derived by a wish to be captured by the universe of the camera, or even the desire to possess something that is in the picture. Key Words: Fashion; Elle magazine; Fashion Editorials; Fashion Photography.

3

1. Introdução As revistas de moda são amplamente usadas como sendo uma poderosa ferramenta de comunicação propulsionadora desta indústria. A moda pode ser vista como um sistema de produção e de comunicação que introduz mudanças de comportamento e de aparência, de acordo com a cultura e os ideais de uma época. As fotografias de moda nunca foram tão populares como atualmente. Tais fotografias podem ser encontradas em revistas e jornais especializados, outdoors, catálogos, anúncios e editoriais, entre outros meios de comunicação. Essas imagens têm um grande poder de comunicação, conseguindo na maior parte das vezes seduzir quem as observa. As revistas dedicadas ao público feminino representam um dos meios de comunicação mais influentes nesta indústria da moda. Representam um mercado forte e em constante crescimento e as suas páginas representam um dos setores de maior prestígio dentro do universo da Comunicação, com imagens e textos que ajudam a criar identidades e transmitem visibilidade. As imagens das revistas de moda buscam persuadir o leitor para que compre o produto, pensando que encontrará maneira de se tornar parecido com o modelo apresentado. Com o intuito de analisar o que nos transmitem as fotos de moda, decidimos analisar as mensagens que são transmitidas nas fotos de um dos editoriais de moda da revista Elle. Assim, inicialmente, neste estudo, fazemos uma breve História da Revista Elle, procurando destacar aquilo que de mais importante esteve na sua génese e referência a algumas modificações que foram implementadas até aos dias de hoje no seu plano editorial. Em seguida, o trabalho dá enfoque a um breve contexto teórico envolvendo os editorias de moda, em geral. Por fim, dedicamo-nos ao editorial “Playground” da Revista Elle – edição de março de 2014 – e apresentamos a análise das fotografias, destacando aquilo que elas nos transmitem e apresentamos, a concluir este trabalho, um conjunto de observações e conclusões finais retiradas do estudo feito.

2. Breve História da Revista Elle Sendo uma das revistas de moda mais conhecidas mundialmente, juntamente com a Harper’s Bazaar e a Vogue, a revista Elle foi originalmente fundada em França, em 1945, por Pierre Lazareff e pela sua esposa Hélène Gordon-Lazareff, sob um título que denuncia o público-alvo a que se dirige (mais especificamente a “elas”). 4

Figura 1: Primeira edição francesa da Revista Elle (21 de novembro de 1945)

Esta revista (ver Figura 1) surgiu num período conturbado, mais especificamente no fim da II Guerra Mundial: um período no qual muitos homens tinham sido recrutados para o exército e para sobreviver, várias mulheres, ingressaram no mercado de trabalho, começando a deixar a vida de “donas de casa” para segundo plano, algo que dantes era muito comum na mulher do século XIX. Hélène, reparando nessa tendência, criou então a revista Elle (inicialmente semanal), visando dar novamente às mulheres francesas o gosto pela vida (FIORIN, 2010). Além de informar o seu público, esta revista referia também o mundo da alta-costura e, mais tarde, o do prêt-à-porter1. Nos anos que se seguiram, Christian Dior mudou o rumo da moda em 1947 com o seu famoso “New Look”, Mary Quant criou a minissaia e várias mulheres seguiram as tendências de estilistas tais como Courrèges, Cardin e Rabanne, entre outros. A revista Elle foi pioneira na promoção de novas ideias, visto que o bom gosto pela moda começava a ser acessível a cada vez mais mulheres. A ideia da Elle era defender o uso de mais ideias com pouco dinheiro, o que fez com que esta revista se tornasse num dos impulsionadores do movimento feminista. Nos anos 60 a revista teve um slogan famoso que demonstrava o seu sucesso entre o público feminino: “Si elle lit elle lit Elle” (“Se ela lê, ela lê a Elle”).

1

Termo francês para “Pronto-a-Vestir”

5

Foi nos anos 80 que esta revista começou a proliferar pelo mundo inteiro. Atualmente esta revista conta com mais de 42 edições internacionais em mais de 60 países, entre os quais: Bélgica, Brasil, Índia, Itália, Noruega, Roménia, Sérvia, Espanha, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, entre outros. Em Portugal esta revista já existe desde o ano de 1988, cinco meses após o seu lançamento no Brasil. Existem mais de 27 websites desta revista na Internet em diversos idiomas. Mensalmente nas suas edições a Elle publica trabalhos de estilistas, fotógrafos e designers. Além de moda, também aborda outros temas tais como Saúde, Beleza, Comportamento, entre outros e ainda se podem encontrar Entrevistas, Reportagens, Viagens, etc.. Em 2005 foi criado um perfil que se encaixa na média do das leitoras desta revista: a maioria pertence a um público feminino, que se encontra numa faixa etária entre os 20 e os 49 anos de idade, com idade média de 37 anos, solteiras e pertencentes à classe média. Uma grande parte das suas leitoras, de acordo com este mesmo perfil, ou são (ou foram) estudantes universitárias, ou são trabalhadoras profissionais2. Assim, podemos constatar que, no geral, esta revista é lida por uma faixa etária feminina jovem.

3. Editoriais de Moda A moda, além de fenómeno cultural e social, tem vindo a ser objeto de investigação académica dentro da área das Ciências Sociais e Humanas, tais como Sociologia, Antropologia, Psicologia e Comunicação. Dentro do campo da Semiótica, a moda será um objeto de análise deveras interessante: afinal, a moda, de acordo com LOMAZZI, citado por CAMARGOS (2008), consiste num sistema de sinais com significantes que criam uma forma de um indivíduo se expressar sem ser pelo uso da palavra. Aliás as imagens, nos editorias usados nas revistas de moda, não são somente utilizadas para transmitir uma tendência para determinada estação: essas imagens comunicam, da mesma forma como um texto, recorrendo em vez disso a um lado mais visual. Os signos também existem nas imagens, e estão presentes de forma a representar algo que se encontra na imagem: uma cor, um objeto, uma peça de roupa, tudo isso se

2

Dados consultados em: a 20 de março de 2014

6

pode considerar como sendo um signo que traz, consigo, um significante e um significado. Em fotografia de moda, normalmente, o mundo é fotografado num décor3, ou seja, numa cena inserida num determinado contexto. A cena é montada como se de um teatro se tratasse e nesse cenário significante existe uma mulher que “enverga o traje” Esse mesmo cenário, pintado de uma forma um tanto irrealista, visa dar ênfase ao seu significante, que, neste caso, se trata do vestuário (BARTHES, 1999). Não se registam somente as imagens em fotografia: registam-se também o uso das roupas, a(s) atitude(s) implicada(s), o contexto, os cenários, os acessórios e outro tipo de objetos, entre outros elementos. A fotografia de moda tem, por isso, mais impacto do que o desenho de moda pelo facto de o desenho permitir apenas uma contemplação do vestuário, enquanto a fotografia capta um momento que foi real, no qual existiu uma pessoa real. FILHO e JÚNIOR (2012) referem o efeito que isso acaba por ter nos leitores ao afirmarem que “(…) a credibilidade que a fotografia tem frente ao senso comum de captura do real, somado ao glamour que gira em torno do mercado da moda, não só torna essas imagens críveis, como também faz nascer no imaginário popular o desejo de fazer parte desse universo. E uma das ferramentas que este público tem para entrar neste universo, é o consumo. (…)” (FILHO

e JÚNIOR, 2012, p.13)

Assim, uma fotografia poderá despertar o desejo num leitor, o que o leva a “consumir” essa imagem, originado pela vontade de estar nesse universo capturado pela câmara fotográfica, ou até pela ânsia de possuir algo que se encontra nessa imagem. A imagem de moda é, portanto, algo poderoso para despoletar interesse, e a roupa retratada, acaba por ser associada a uma determinada atitude ou estilo de vida. Um estudo4 realizado com várias leitoras da revista Elle em Santa Maria, Brasil, revelou que os editoriais de moda são, geralmente, a primeira secção de uma revista que elas consultavam. Aliás, todo o propósito da revista Elle, para muitas das suas leitoras, é o de servir de guia de moda e de beleza; a revista serve como conselheira na hora de as leitoras escolherem o que vão vestir. Daí, muitas vezes, os editoriais de moda da Elle, e não só, serem também uma forma de Publicidade: apesar de não promoverem diretamente determinados produtos ou coleções de certas marcas de roupas, o facto de estarem a

3

Relativo a uma decoração de uma cena de teatro. Consultado em: a 31 de março de 2014 4

7

mostrar imagens dos mesmos, faz com que haja uma determinada interferência no sucesso dos produtos em causa. Contudo, nesses mesmos editoriais, nota-se uma grande valorização do corpo feminino, uma tendência que está profundamente enraizada na atual comunicação social. Na escolha das modelos as exigências estéticas são predominantes e visam corresponder a um “ideal” de beleza imposto pela sociedade. Tal como referem LEITE e LIMA (2006), o século XXI está muito marcado pela valorização que foi dada ao corpo, um traço que é caraterístico das cidades contemporâneas. O culto da beleza feminina que começou no século XX propagou-se cada vez mais na comunicação social o que resultou na transmissão constante do corpo da mulher com determinadas caraterísticas “ideais”. ARAUJO (2008) descreve o tipo de “corpo ideal” que é constantemente mostrado na comunicação social: “(…) O corpo vendido sempre é um corpo que tangencia magreza e altura extremas, perfeição nas formas, na pele, enfim, um corpo que se tornou o sonho da maioria das mulheres, mas que, por outro lado, tornou-se, também, o algoz dessas mulheres, porque é praticamente inalcançável

(…)”. (ARAUJO, 2008)

Em moda o caso não difere muito, visto que o objetivo passa por divulgar uma imagem que reflita um determinado “ideal”. Logo, as modelos no décor de um editorial de moda, naturalmente, deverão ter determinadas caraterísticas consideradas “ideais” para divulgação. A imagem da mulher e do seu físico na época contemporânea é, sem dúvida, uma poderosa forma de chamar à atenção, apelando a um “sonho impossível” que várias mulheres têm atualmente.

8

4. “Playground”- Elle, Portugal, Edição de março 2014

Figura 2: Capas dasRevistas Elle Francesa (dezembro de 2013) e Portuguesa (março de 2014)

Conforme se pode ler no início da revista portuguesa editada em março de 2014, na descrição do editorial, a Primavera é descrita como sendo “Sinónimo de diversão e boa disposição”, trazendo, com ela, “a vontade de experimentar novas sensações”. Curiosamente, conforme aponta BARTHES (1999), uma das situações temporais mais utilizadas e festivas é referente à chegada da Primavera. Isto porque é uma estação do ano considerada “pura” (por nenhum outro significado se misturar com esta estação) e “mítica” (pelo facto de estar associada ao despertar da Natureza). Em fotografias de moda associadas a esta estação prevalecem elementos ligados ao bom tempo (nomeadamente, ao Sol), à natureza e a atividades ao ar livre (tais como, nadar, acampar, viajar, visitar determinados locais, etc.) e, sobretudo, ao facto de esta ser uma época considerada mais “alegre” em relação às estações anteriores. Neste trabalho, segue-se uma análise de um dos editoriais de moda da revista Elle, dedicados, precisamente, à chegada desta estação do ano. O editorial analisado consta da edição portuguesa de março de 2014, e é intitulado “Playground” em Portugal, e “Playtime” na edição francesa (nesta edição o editorial foi lançado, originalmente, a 27 de dezembro de 2013). O fotógrafo foi Matt Jones e a realização foi de Elissa Castelbou5, atualmente, editora de moda da revista Elle, em França. A modelo das imagens chama-se 5

Para mais informações sobre Elissa Castelbou: . Consultado a 31 de março de 2014.

9

Marloes Horst6, é de origem holandesa e já foi capa de revistas tais como, a Vogue, Flair, Happy Woman, a Elle, entre outras.

4.1.

Análise das imagens

Uma das primeiras imagens que constam do editorial analisado é a que se segue (ver Figura 3), onde observamos a modelo referida em cima de uns malotes.

Figura 3

Um dos primeiros apetos em que se repara ao observar esta imagem é nas roupas que a modelo veste, bem como no acessório que ela tem na sua cabeça: as orelhas de certo modo aludem às coelhinhas da Playboy. Observe-se, também, o facto de a sua camisola estar um tanto descaída, revelando uma boa parte da sua zona peitoral, quase chegando aos seios. Relativamente à pilha de malas sobre a qual ela se encontra sentada, estas poderão remeter, ou para uma possível mudança de casa, ou, até mesmo, para uma viagem a realizar. Na imagem seguinte (ver Figura 4), encontramos a mesma modelo, desta vez “brincando com bolas de sabão”, num cenário diferente do da figura anterior.

6

Para mais informações sobre Marloes Horst: (Consultado a 24 de abril de 2014)

10

Figura 4

Nesta imagem a modelo, vestida, apresenta-se numa banheira, parecendo tomar um banho de espuma. Note-se que o ato de tomar banho é tido em conta como sendo um ato íntimo, o que acaba por transmitir a sensação de que a modelo está num momento íntimo, tomando um banho de espuma. Nesta foto, uma das caraterísticas que será aludida em mais exemplos ao longo deste editorial é a relativa ao olhar. A modelo, aqui, quase que parece olhar fixamente para quem vê esta imagem em jeito convidativo a algo íntimo. Atente-se, também, na minicarteira, da marca Channel, que dá, não só a ideia de luxo, mas também a ideia de bom-cheiro (tendo em conta a marca e o formato da carteira). Na terceira imagem que aqui apresentamos (ver Figura 5), a mesma modelo aparece desta vez revelando um estilo mais “jovem”: tem headphones nos ouvidos, está a beber Coca-Cola com uma palhinha e tem um cinto com mais três latas da mesma bebida. Observe-se também a combinação e prevalência das cores azul e rosa, ambas cores terciárias neste contexto; a primeira é cor fria, a segunda é cor quente, acabando a imagem por estabelecer um contraste.

11

Figura 5

Ainda assim, a prevalência do azul sobre o rosa acaba por conceder a este look um toque refrescante. Isto ainda é salientado pelo facto de a jovem, na imagem, estar a beber Coca-Cola, um refrigerante que costuma ser associado a bebidas refrescantes. Na imagem seguinte (ver Figura 6) a cor azul e os tons de rosa voltam a evidenciar-se.

Figura 6

Na imagem a modelo encontra-se numa posição invulgar ao estar a fazer o pino, uma atividade frequentemente associada a ginástica e que requer técnica e flexibilidade. As roupas que a modelo usa são partes do que lhe dá a flexibilidade para tal movimento. Tendo em conta que na edição portuguesa da revista, o editorial dá especial ênfase ao

12

tema “Primavera!”, tudo leva a crer que a modelo esteja a aproveitar para descontrair, praticando desporto com o objetivo de se sentir renovada e pronta a enfrentar esta nova estação do ano. A bolsa e a lata de refrigerante no chão são referências a elementos que poderão ser utilizados no dia-a-dia, por parte da maioria das leitoras da revista. É de notar que a bolsa está também numa posição muitas vezes denominada “de pernas para o ar”, podendo assim, a modelo, na posição em que se encontra, observá-la corretamente. A imagem que analisamos de seguida (ver Figura 7) tem, para além da modelo, um cão e acessórios não muito comuns no nosso dia-a-dia, como é o caso do chamado “gira discos”, onde se colocam discos de vinil a tocar.

Figura 7

Mais uma vez, a modelo aparece envergando um estilo mais juvenil, sentada no chão e parecendo estar numa posição mais casual: sentada com os braços sobre os joelhos, com um gira-discos que parece estar a tocar e mais um cão de raça pug, dando a impressão de que a modelo poderá estar em casa num momento de relaxamento, ouvindo um vinil da Disneyland. Os óculos da modelo e o colar que o cão possui lembram cores alegres, primaveris, os óculos ornamentados com flores que aludem de imediato à Primavera, e o colar com cristais distribuídos uniformemente com cores diversificadas, dando um tom mais alegre ao animal. Nas quatro imagens que se seguem (ver Figura 8), a modelo aparece vestida com calças de ganga de estilo “jardineira”, fazendo lembrar ao leitor momentos de lazer e de descontração. 13

Figura 8

Nesta sequência de quatro fotos, a modelo apresenta-se com um look um tanto infantil, combinando umas jardineiras, um chapéu e uns ténis. A infantilidade é salientada nas imagens em que a jovem parece estar a saltar ou a dançar. Ainda assim a carteira na sua mão direita dá um toque subtil de glamour à sua imagem. A figura seguinte (ver Figura 9) apresenta a modelo, numa espécie de varanda de um edifício degradado, envidraçado e cujas partes frontais se encontram divididas em pequenas janelas.

14

Figura 9

Aquilo que mais sobressai nesta imagem é, sem dúvida, o tema relacionado com dinheiro que se reflete nas roupas envergadas pela modelo. Desde os óculos, com dois cifrões, até à toalha de praia estampada, lembrando uma nota de 100 dólares, passando pelas notas de 100 euros em formato de leque, tudo faz alusão a dinheiro, riqueza e opulência. Mostra que para gozar de algum prazer é necessário despender algum dinheiro; ao mesmo tempo apresentando-o sem ser no contexto habitual: a modelo está “vestida com dinheiro”. Já na imagem que se segue (ver Figura 10), a modelo apresenta-se numa posição invulgar e que serve para chamar a atenção do leitor.

Figura 10

15

É evidente que a pose apresentada tem um tom bastante provocador ao colocar o rabo e as pernas da modelo em destaque. A sua pose tem propósitos sexuais implícitos, principalmente, pela forma como ela coloca a sua zona traseira. Aqui, mais uma vez, alude-se ao olhar da modelo: intenso e com desejo implícito.

Figura 11

Na Figura 11, a modelo parece olhar diretamente para a câmara, segurando um balão na sua mão direita. A roupa que ela usa demonstra ser adequada para o tempo quente; o gorro na cabeça poderá ser para se proteger do sol. A cabeça inclinada dá-lhe um ar mais sério e de certo modo pensativo. Como na Figura 3 é a zona peitoral que mais uma vez está exposta, com um decote que deixa um pouco em evidência o seu seio. Mais uma vez, atente-se no olhar da jovem que, novamente, parece olhar fixamente para quem contempla a foto em jeito sedutor.

16

Figura 12

Na Figura 12, a saia da modelo transmite uma sensação de suavidade e leveza. Contudo o pormenor do espelho atrás dela com corações vermelhos nele desenhados poderá estar a indicar um lado romântico escondido da jovem (refletido através do espelho) que não é evidenciado exteriormente.

Figura 13

A cor verde forte do vestido (ver Figura 13) sem dúvida que traz uma grande harmonização à imagem (considerando o facto de esta cor ser frequentemente associada, não só à natureza, mas também ao equilíbrio). Os tons de rosa suave que compõem o resto da imagem dão a todo o cenário um certo romantismo.

17

Há também alguns signos franceses que não deixam de saltar à vista, mais especificamente as bolachas macaron que ela está a comer e que, pelo nome indicado no saco à sua direita, são da famosa marca de doces franceses Ladurée7. Atente-se também no seu olhar que mais uma vez parece olhar fixamente para a pessoa que contempla a imagem. O véu que lhe está à frente do rosto é algo que de certo modo realça a intensidade do olhar dela.

Figura 14

A maquilhagem aplicada à modelo (ver Figura 14) dá um certo surrealismo e artificialidade à imagem. O estilo bizarro da modelo nesta imagem varia entre o infantil (devido ao laço na cabeça) e o adolescente (pelos desenhos de lábios existentes na camisola que ela usa); esses mesmos lábios aludem ao romantismo (principalmente por serem da cor vermelho forte).

7

Uma bolacha de marca francesa mundialmente conhecida.

18

Figura 15

Esta imagem (ver Figura 15) apresenta-nos a modelo num contexto bastante sensual, principalmente pelo pouco vestuário que ela enverga. Observe-se que na legenda inserida na imagem, somente o casaco e as meias são referidos como sendo produtos de vestuário. A adicionar mais erotismo à imagem está o Candy Bra8 que ela usa ao peito, que ainda assim não está todo à mostra. Esta imagem é aquela em que a modelo mostra mais do seu corpo, apresentando-se praticamente despida debaixo do casaco que a cobre.

Figura 16

Esta imagem (ver Figura 16) transmite a sensação de serenidade, descanso e conforto com a modelo deitada na cama. Os dois acessórios que se encontram também

8

Trata-se de um soutien feito com doces e que pode ser comestível. É um produto usado para fins eróticos e/ou sexuais.

19

presentes na imagem (a máscara de dormir e o papel com uma mensagem escrita em francês e cuja tradução em português é “Não Perturbar, SFF”) dão a sensação de que a modelo não quer ser incomodada no seu descanso. O rosa suave do seu pijama poderá demonstrar que ela, nesse momento, está emocionalmente descontraída.

4.2.

Observações

Nas imagens analisadas anteriormente temos, portanto, um décor, no qual se encontra uma mulher que enverga roupas de várias categorias; temos em “cena” uma modelo loira, magra, de olhos azuis e pele lisa. A sua beleza é destacada de várias formas, e a sua apresentação em cada imagem é diversa: quer pelas roupas que enverga, pelas poses, e até mesmo pelo cenário nas fotografias tiradas. Neste editorial pode-se observar uma tendência primordial: a beleza e a sensualidade como formas de chamar a atenção. A modelo, em muitas das imagens analisadas apresenta-se com uma imagem sedutora e, em certos casos, provocadora. Neste editorial, algumas das posturas da modelo (e até mesmo o seu vestuário) visam chamar a atenção recorrendo precisamente ao corpo e a determinadas poses sugestivas. Aqui alude-se a uma definição utilizada por VERÍSSIMO (2005), neste caso, à “mulher objeto” ou “corpo objeto”, referindo-se aos casos nos quais se recorre ao corpo feminino, revelando determinados detalhes da feminilidade da modelo em causa, colocando essa mesma modelo em poses sensuais e/ou eróticas e em certos casos recorrendo ao nu ou ao seminu. Esta tática serve para chamar a atenção a um público feminino por corresponder a um ideal de beleza desejado pelas mesmas e poderá servir também para chamar a atenção a um público masculino pela beleza e físico da modelo. Os melhores exemplos que ilustram essa técnica “sedutora” são as poses retratadas nas Figuras 3, 4, 10 e 15. Nestas imagens há elementos que lhes dão um destaque mais sensual: No caso da Figura 3, é a camisola descaída, quase mostrando os seios, e a bandolete com orelhas de coelho (que aludem à Playboy); na Figura 4 é a sua pose e o seu olhar apresentados em jeito sedutor numa banheira de espuma; na Figura 10 é a sua postura em jeito provocador e na Figura 15 é a sua seminudez. Estas imagens são aquelas que mais revelam a tendência anteriormente mencionada de recorrer à imagem física da modelo como sendo uma forma de chamar a atenção. Também os acessórios envergados servem para realçar determinadas caraterísticas da modelo: por exemplo na Figura 13, o

20

véu rosa transparente que lhe cobre o rosto acaba de certo modo por lhe dar um realce ao seu olhar. Convém referir novamente o tipo de público que, maioritariamente, lê a revista Elle: um público feminino, situado numa faixa etária entre os 20 e os 49 anos de idade, solteiras e pertencentes à classe média, ou seja, no geral, mulheres ainda jovens. Este editorial, além de transmitir a imagem de uma mulher considerada “bonita” de acordo com determinados padrões de beleza, visa também passar uma imagem “jovem” e “divertida”, de forma a apelar à maioria das suas leitoras. Analisando o início do editorial na edição portuguesa, observa-se que muitas vezes a revista faz alusão ao facto de a Primavera ser uma época que convida à diversão. Aliás, o próprio nome do editorial, seja na versão da revista francesa ou da portuguesa, tem a palavra “Play” (que em inglês remete para uma brincadeira, ou algo divertido) inserida. BARTHES (1999) refere que em fotografia de moda existem três estilos que podem ser adotados e, no caso deste editorial, pode-se observar em algumas imagens uma predominância de um estilo mais cómico ou, como o próprio autor lhe chama, um estilo da Irrisão. De acordo com a explicação dada por BARTHES (1999): “(…) a mulher é captada numa posição divertida, ou, melhor ainda, chistosa; a sua pose e a sua mímica são excessivas, caricaturais; afasta exageradamente as pernas, imita a admiração até macaquear, brincar com acessórios fora-de-moda (um velho automóvel), sobe para um pedestal, como uma estátua, empilha seis chapéus na cabeça, etc.: em resumo, ela irrealiza-se à força da irrisão; é o ‘cómico’ (…)” (BARTHES, 1999, p.

22). Tal pode ser observado, por exemplo, nas Figuras 6, 8, 9, 14 e 16, a modelo aparece em poses que se situam entre o “bizarro” e o “cómico”, ou mais especificamente, o “exagero”. Algumas conseguem esse efeito, ora pela pose da modelo (exemplo: Figuras 6 e 8), ora pelas roupas ou acessórios que ela enverga (exemplos: Figuras 9 e 16). É precisamente através do recurso a esse tipo de exagero que este editorial também consegue transmitir uma sensação de “diversão” e brincadeira”.

4.3.

A imagem feminina e o apelo ao desejo

A revista Elle neste editorial recorre a um “ideal” que é desejado por muitas mulheres, à semelhança de muitas outras revistas com outros editoriais de moda. Seja pelo cenário divertido e irrealista, seja pela bela modelo que é apresentada, os editoriais 21

de moda apelam a uma “fantasia” que é comum a muitas das leitoras da revista em causa. BENSTOCK e TERRIS (2002), citados por CUSTÓDIO e SOUZA (2012) desenvolvem mais pormenorizadamente essa fantasia que é vivida por muitas leitoras que consomem essas imagens: “(…) As fantasias geradas pelas revistas de moda não se confinam à página. Elas são, na verdade, representadas pelas leitoras com seus próprios corpos. Copiada de revistas, filmes ou vídeos, e usada na vida cotidiana, a moda suprime o limite entre o ‘real’ e o ‘fantástico’, entre a fuga privativa da fantasia e o intercâmbio com o público. O prazer de olhar para as imagens fotográficas forma a parte de um continuum, juntamente com o prazer de mascará-lo. Esse continuum vira do avesso a oposição comumente aceita entre fantasia como sendo interna, irreal, privada, e a realidade como sendo externa. (…)” (p.75)

A modelo da imagem é portanto uma “modelo”, no sentido em que ela corresponde a um ideal que é invejado e desejado ao mesmo tempo por muitas das mulheres que consomem as imagens. Ela “mora” num cenário “divertido” e irrealista, no qual muitas das leitoras gostavam de morar. Ela apresenta-se como sendo “bonita”, “desejável” e “provocadora”, algo que muitas leitoras também gostavam de ser (à semelhança de muitas mulheres). Isto leva muitas leitoras a fantasiar com o ideal que é apresentado nas imagens e conforme referiram FILHO e JÚNIOR (2012) anteriormente neste trabalho, a forma de “entrar” nesse universo imaginário é precisamente através do consumo. Ao mesmo tempo que apresentam coleções de roupas e sugestões de moda para uma próxima época, muitos editoriais de moda chamam a atenção precisamente por irem ao encontro dos desejos das leitoras, que desejam ser tão “bonitas” e “desejáveis” como a modelo que está na imagem. As consumidoras fantasiam, acabando nalguns casos por obter as roupas ou acessórios que a modelo enverga na imagem, imitando-a de certo modo. Conforme refere MACHUCO ROSA (2014), baseando-se em SIMMEL (1904), a moda permite uma “inveja conciliadora”. As roupas nas imagens estão à venda em várias lojas e podem ser adquiridas pelas pessoas que tenham possibilidade de as obter, logo esses bens materiais não estão negados nem confinados a ninguém, contrariamente a tempos antigos. Ao “imitarem” a “modelo”, as consumidoras estão a tentar ficar próximas do ideal da “modelo” que elas desejam alcançar.

22

5. Conclusões SPINELI (2011) refere que a moda como fenómeno cultural consegue produzir códigos e mensagens diversas; e a fotografia acaba por ser um dos principais meios de produção de códigos, uma forma de comunicar determinadas tendências para um determinado público-alvo. A fotografia de moda é um campo ainda pouco investigado, ainda assim o seu impacto nos milhares de pessoas que consomem avidamente várias revistas de moda é notório. Tendo em conta o que foi dito anteriormente, convém referir a importância que a escolha dos signos utilizados em fotografia de moda tem na elaboração de um editorial de moda; afinal estes não comunicam somente uma tendência, mas também todo um contexto. Há, de facto, uma liberdade criativa durante a elaboração de um editorial de moda; contudo, estando este inserido no âmbito de uma revista de moda, tem que conseguir apelar ao público-alvo e conseguir promover o(s) produto(s) de vestuário que estiverem presentes na imagem. Com a análise e elaboração deste trabalho conclui-se, portanto, que os editoriais das revistas de moda, além de divulgarem (e de certa forma promoverem) as roupas ou acessórios que aparecem, permitem que as leitoras vivam uma fantasia que reflete o seu desejo de pertencer ao “fantástico” que está refletido nessas imagens. E os editoriais de moda estão cientes dos desejos das suas leitoras, jogando com os mesmos através do uso de imagens que permitem que as leitoras sonhem e desejem. Este editorial, assim como muitos outros, refletem também a “ditadura” em torno da imagem física que existe na comunicação social, nomeadamente a imagem feminina. A introdução de uma modelo considerada “bonita” por padrões sociais é uma forma de apelar a um público feminino que deseja essa mesma “perfeição” inalcançável.

23

Referências Bibliográficas ARAÚJO, D. C. de, (2008). Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd120/corpo-feminino-construcao-da-midia.htm. Consultado a 2 de maio de 2014. BACHIEGA, C.,“O que é um Editorial de Moda? What is a Fashion Editorial?Disponível em: . Consultado a 20 de março de 2014. BARTHES, R., (1967): O Sistema da Moda. Lisboa: Edições 70. CAMARGOS, L. L., (2008). “O Potencial Comunicativo da Moda: Análise Semiótica dos Editoriais de Moda da Revista Marie Claire”. Trabalho académico. Viçosa – Minas Gerais. Disponível em: http://www.com.ufv.br/pdfs/tccs/2008/2008_larissalacerda_editoriaisdemoda.pdf “COR - Educação Visual e Tecnológica”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. CASTELBOU, E. Disponível em . Consultado a 31 de março de 2014. “ELLE”. Lisboa. Ed. RBA, edição de número 306, março de 2014. “ELLE”. Disponível em: . Consultado a 6 de abril de 2014. FILHO, A. R. de A.; JUNIOR, P. M. de F. (2012). “Da ilusão ao desejo: a construção de significados nas imagens de moda”. In: Revista Temática, Ano VIII, n. 04 – Abril/2012. HUGHES, K. “Zeal and softness”. Disponível em: . Consultado a 21 de março de 2014. “Introdução”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. “Ladureé”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. LEITE, I. T. R.; LIMA, M., Recriando o Corpo Feminino: Sedução, Fantasia e Ideal de Beleza. Disponível em:

24

MACHUCO ROSA, A. Semiótica, Consumo e Publicidade. Porto : mediaxxi | FormalPress, 2014. “Magazines: Si Elle Lit Elle Lit Elle”. Disponível em: . Consultado a 20 de março de 2014. “Marloes Horst”. Disponível em: . Consultado a 24 de abril de 2014. NEVA, D. “Marloes Horst |ELLE décembre 2013”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. “O Significado do Rosa”. Disponível em: . Consultado a 16 de abril de 2014. “Revistas Femininas”. Disponível em: . Consultado a 21 de março de 2014. SANTANA, M.,“Editorial de Moda –O que é? Como fazer?”.Disponível em: . Consultado a 20 de março de 2014. “Significado da cor Verde”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. “Significado de Cor-de-rosa”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. SIMMEL, G.“A Mulher e a Moda”. Disponível em: . Consultado a 20 de março de 2014. SOUZA, V.V. de; CUSTÓDIO, J. de A. C., “Fotografia: meio e linguagem dentro da moda”, Discursos fotográficos, Londrina, v.1 (2005), p.231-251. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1474/1220 SPINELLI, P. K. (2011). “A Arte da Fotografia de Moda: Man Ray e David Lachapelle” In: Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte - São Paulo – V.4 N°2 “Studded Hearts: Play Time Editorial”. Disponível em: . Consultado a 31 de março de 2014. “The Elle Reader”. Disponível em:

25

. Consultado a 20 de março de 2014. VERÍSSIMO, J. D. C., (2005) Consultado em:

26

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.