ANÁLISE DO GRAU DE INOVAÇÃO NOS PROCESSOS DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO DISTRITO FEDERAL

July 22, 2017 | Autor: Bernardo Viscardi | Categoria: Management of Innovation, Processos de Produção, Inovação
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ANÁLISE DO GRAU DE INOVAÇÃO NOS PROCESSOS DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO DISTRITO FEDERAL Bernardo Souza Mello Viscardi – Agente Local de Inovação

RESUMO As empresas de micro e pequeno porte (MPE’s) possuem uma elevada importância econômica e social para o Brasil. Porém a maior parte destas entidades desconhece a importância da gestão da inovação como ferramenta promotora de competitividade e da sustentabilidade em longo prazo. O objetivo deste artigo é mensurar o grau de inovação em 50 MPE’s dos segmentos comércio, serviços e indústria, localizadas na região central do Distrito Federal, através da metodologia do Radar da Inovação desenvolvida por Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006). O grau de inovação variou entre as dimensões estudadas tendo maior média na dimensão Plataforma e a menor na dimensão Presença. O baixo grau conferido à dimensão Processos mostra o descaso das MPE’s com uma área tão importante para a sustentabilidade e manutenção da qualidade dos produtos e serviços. Portanto este estudo procura aprofundar a análise nessa dimensão. Palavras-chave:

Inovação,

Processos,

Micro

e

pequenas

empresas,

Competitividade, Radar da Inovação ABSTRACT Small businesses have a major social and economic importance for Brazil. However most of these enterprises don’t acknowledge the power of innovation management as a tool that enhances long term competitiveness and sustainability. This article intends to measure the innovation rate of 50 small business located in the central region of Distrito Federal –Brazil, using the Innovation Radar methodology developed by Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006). The innovation ratio varies among the analyzed dimensions, reaching its greatest rate in Platform and its lowest in the dimension Presence. The low grade reached by the dimension Processes, shows that the enterprises despise such an important area that can provide long term sustainability and guarantee the quality of services and products. Therefore this study seeks to focus in this dimension. Keywords: Innovation, Processes, Small Business, Competitiveness, Innovation Radar

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INTRODUÇÃO A inovação é a força motriz da evolução capitalista. Ela está ligada à criação de novos bens e técnicas de produção, contribuindo para o surgimento de novos mercados, modelos de negócios e a exploração de novas fontes de matérias-primas. Portanto as empresas estão em uma constante busca pelo desenvolvimento tecnológico, utilizando meios próprios, ou através de imitações adaptadas, para manter a competitividade no mercado (Schumpeter apud Vieira, 2010). Recentemente o mercado brasileiro tem passado por uma fase otimista, impulsionado por recordes na exportação e na valorização das commodities agrícolas e minerais. Esse crescimento refletiu de forma positiva em outros setores da economia, incluindo as micro e pequenas empresas (MPE’s) cujo índice de mortalidade sofreu uma queda considerável nos últimos 10 anos. Em dezembro de 2012 o Brasil contava com 7,1 milhões de empresas cadastradas no sistema de tributação Simples Nacional, responsáveis por mais de 15,6 milhões de empregos formais e mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) (Sebrae, 2012 ; Sebrae, 2013). Devido à baixa complexidade organizacional, muitas MPE’s iniciantes realizam seus processos de maneira informal, sem se preocuparem com o registro e o aprendizado das experiências. Entretanto quando essas instituições alcançam um nível de organização mais avançado, a falta de formalização leva a perda de qualidade dos produtos e serviços, resultando na perda de novos mercados e na insatisfação dos clientes. Levando em consideração a importância que as MPE’s têm para a economia brasileira e as condições favoráveis criadas pelo cenário atual, este artigo procura a resposta para duas perguntas: como as empresas do Distrito Federal trabalham a gestão da inovação para se tornarem mais competitivas? Essas empresas estabelecem controles sobre os seus processos, a fim de garantir a qualidade dos produtos e de estabelecer um sistema constante aprendizado com as experiências cotidianas? Este artigo está dividido em cinco partes. A primeira explica sobre a importância da inovação e a situação atual das MPE’s no Brasil. A segunda relata o objetivo deste artigo. A terceira explica sobre a metodologia utilizada para coleta e avaliação dos dados. A quarta mostra os resultados obtidos com a mensuração da inovação geral e 2

com foco na dimensão processos, mostrando as diferenças entre os segmentos comércio, serviços e indústria. A quinta relata as conclusões deste artigo.

REFERENCIAL TEÓRICO Inovação A inovação é um conceito chave para o atual sistema econômico que enfrenta profundas mudanças em um espaço curto de tempo. A introdução de novas tecnologias que facilitam a comunicação e rompem barreiras geográficas, assim como a necessidade do crescimento econômico baseado em sistemas de produção sustentáveis, tornam as empresas extremamente dependentes do desenvolvimento de novas tecnologias. Sendo assim, a capacitação dos colaboradores e a criação de centros tecnológicos se tornam práticas vitais para a manutenção da competitividade. Segundo Cassiolato & Lastres (2003, p. 8), “...a capacidade de gerar inovações é o fator chave na competitividade sustentada de empresas e nações, diversa da competitividade espúria baseada em baixos salários e exploração intensiva e predatória de recursos naturais.”

Portanto, o modelo econômico atual tem o desenvolvimento da inovação como uma de suas prioridades. Isso se torna evidente ao constarmos que muitas empresas multinacionais mantêm os seus centros de produção tecnológica nos países sedes, atraindo colaboradores com alto grau de instrução, enquanto as unidades de produção estão em países periféricos ou são produzidas por fábricas terceirizadas. Segundo Chiavenato (2011) a inovação é uma invenção transformada em consumo, algo diferente dos padrões que ofereça soluções melhores na forma de maior utilidade, agregação de valor, melhor proveito de recursos e redução de custos. A inovação pode assumir diferentes significados como um novo produto ou serviço, novos métodos de produção e processos, novos modelos de negócios, alterações na cultura empreendedora e novos modelos de administração. O investimento em inovação está ligado a estratégias voltadas para a racionalização dos custos, para o aumento da eficiência dos processos e para a criação de novos produtos com desempenho superior, buscando diferenciação frente à 3

concorrência (Maculan, 2005). A mistura dessas estratégias com práticas de comercialização eficientes de novos produtos e serviços resulta em empresas com crescimento acelerado (Angelo, 2003). O atendimento ao cliente e a experiência de compra do consumidor também são fatores importantes, portanto a capacitação dos colaboradores tanto na área tecnológica, ligada aos processos, como na etapa final do fechamento da venda é de suma importância para as empresas. A política econômica brasileira, baseada na exportação de commodities agrícolas e minerais, diverge da de outros países emergentes como Índia e China que investem altas somas na chamada “economia do conhecimento”, onde trabalhadores inovadores e com alto grau de instrução - ao invés da disponibilidade de matérias primas e capacidade de produção industrial – formam a base para a competitividade e desenvolvimento econômico (BANCO MUNDIAL, 2008). O desempenho inferior do Brasil em relação aos seus competidores se deve a três fatores. Primeiro, a falta de investimentos em capital humano por meio do ensino básico e treinamento para capacitação avançada. Segundo, tendências das universidades a elaborar pesquisas excessivamente teóricas, em detrimento do desenvolvimento de inovações aplicadas a práticas corriqueiras dos processos de produção, que tendem a render maiores resultados econômicos. E em terceiro lugar, a dependência em relação às entidades governamentais para o desenvolvimento de inovações, ignorando o caminho mais eficiente e menos oneroso, que seria encorajar a inovação no setor privado (BANCO MUNDIAL, 2008).

Micro e pequenas empresas no Brasil De acordo com a legislação brasileira, a microempresa (ME) é definida como pessoa jurídica que aufira a cada ano-calendário, receita bruta, igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais). A empresa de pequeno porte (EPP) é definida como pessoa jurídica que aufira a cada ano calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) (Brasil, 2012). As micro e pequenas empresas (MPE’s) representam 99% dos estabelecimentos e mais da metade dos empregos formais não relacionados ao setor agrícola. Entre 2005 4

e 2011 a taxa de crescimento observada na abertura de MPE’s foi de 2,6%, sendo que no fim de 2011 o Brasil contava com cerca de 6,3 milhões de estabelecimentos desse porte que são responsáveis por mais de 20% do produto interno bruto e 1,4% das exportações da nação. Entre 2000 e 2011 as MPE’s criaram 8,6 milhões de postos de trabalho, sendo responsáveis por cerca de 15,6 milhões de empregos formais no território nacional. (SEBRAE, 2012). Portanto as MPE’s podem ser vistas como entidades geradoras e distribuidoras de renda, estando presentes em todas as regiões do Brasil. Segundo dados divulgados pelo SEBRAE (2013) a taxa de mortalidade das MPE’s com até dois anos de existência caiu de 26,4% (empresas criadas em 2003) para 24,9% (empresas criadas em 2007). Entretanto, a elaboração de políticas públicas voltadas para o aumento de competitividade das MPE’s ainda é necessária, devido à importância econômica e social dessas instituições, e à alta volatilidade do mercado. A falta de inovação é um dos fatores responsáveis pela baixa competitividade das empresas brasileiras. Visando sanar essa deficiência no contexto das MPE’s, o SEBRAE lançou o projeto Agente Local de Inovação (ALI). O objetivo deste projeto é introduzir uma cultura de inovação entre os empresários, buscando promover o constante desenvolvimento da competitividade no ambiente das MPE’s brasileiras, com o auxílio das soluções providas por instituições de Ciência e Tecnologia (C&T).

OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é medir o grau de inovação de 50 empresas atendidas pelo programa ALI na região do Plano Piloto (Distrito Federal), dando ênfase especial para a Dimensão Processos.

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ASPECTOS METODOLÓGICOS

Método O estudo foi construído sob uma perspectiva descritiva, com o intuito de medir o grau de inovação das micro e pequenas empresas do Distrito Federal. Segundo Gil (2008) esse tipo de pesquisa visa descrever as características de populações ou fenômenos através da coleta sistemática de dados por meio de questionários padronizados.

A coleta de informações para o projeto ocorreu entre fevereiro e

novembro de 2013. MPE’s no Distrito Federal Em 2011 o DF contava com 98.287 MPE’s sendo que 45,1% estão incluídas no setor comercial, 42,4% no setor de serviços, 5,8% na indústria e 6,7% na construção civil (SEBRAE, 2012). O Distrito Federal apresenta condições favoráveis para o desenvolvimento de MPE’s inovadoras pelo nível alto de educação e renda da sua população quando comparada a das outras Unidades da Federação, criando um público com maior poder aquisitivo que demanda por serviços personalizados. A população das cidades limítrofes goianas e mineiras, concentram mais de 1 milhão de habitantes que frequentam o comércio e utilizam serviços das empresas do DF, contribuindo para o desenvolvimento destas entidades (ADF, 2012). Em todos os estados da região Centro-Oeste, houve um aumento significativo na taxa de sobrevivência das MPE’s nos primeiros dois anos de existência, com um aumento médio de 69,6% para 74%. Esse fato pode ser explicado pela maior demanda, sobretudo no setor da construção civil, gerada pelo crescimento do agronegócio e pelo alto rendimento real dos trabalhadores do Distrito Federal, onde a taxa de sobrevivência é maior do que a média nacional (SEBRAE, 2013). Metodologia O trabalho do ALI consiste em identificar oportunidades relacionadas à criação de novos produtos, modelos de serviços e a aplicação de técnicas de gestão nas empresas, assim como apontar as deficiências e propor um plano de ação orientado para supera-las. 6

No Distrito Federal o programa se encontra em sua 3ª fase, e tem o apoio do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A meta dessa fase é atender a 5.000 empresas desta Unidade da Federação. Para mensurar o grau de inovação este estudo utilizou a metodologia do Radar da Inovação em 50 empresas localizadas na região do Plano Piloto (DF) dividas entre os segmentos da indústria (10) comércio (20) e serviços (20). A adesão das empresas ao projeto foi feita de maneira proativa, através da prospecção presencial ou por telefone, onde o agente explicava o funcionamento do projeto e em seguida marcava um horário para a aplicação do questionário. A etapa seguinte consistia na entrega de uma devolutiva relatando o nível de inovação dado à empresa, e orientando quais estratégias o empresário deveria adotar para aumentar o seu grau de inovação, através de um plano de ação. O Radar da Inovação é uma ferramenta desenvolvida por Sawhney, Wolcott e Arroniz (2006), que analisa quatro dimensões principais compreendendo: (1) As ofertas criadas, (2) os clientes atendidos, (3) os processos empregados e os (4) os locais de presença usados. Essas se desdobram em mais oito criando um conjunto de 13 dimensões, constituindo um questionário com 40 itens ao todo (Sistema ALI, 2013). Cada item recebia uma nota que variava entre (1) quando a inovação era ausente, (3) quando a inovação era incipiente e (5) quando a inovação era presente, considerando as práticas implementadas nos últimos três anos. Os dados apresentados neste artigo compõe a média das notas dadas às 13 dimensões avaliadas nas 50 empresas do Distrito Federal. As dimensões trabalhadas no questionário são relatadas a seguir: Dimensão Oferta: se refere aos produtos e serviços oferecidos pela empresa. Nesta dimensão são consideradas as inovações na função, no design, no uso de novas tecnologias e na resposta ao meio ambiente (e.g. produtos biodegradáveis ou que emitem menos poluentes) dos produtos e/ou serviços. Esta dimensão também analisa o êxito dos novos produtos em termos de vendas e aceitação pelos consumidores, assim como a retirada dos itens obsoletos. Dimensão Plataforma: analisa a capacidade e a versatilidade dos recursos físicos da empresa em oferecer produtos diversificados, a fim de atender demandas específicas dos clientes.

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Dimensão Marca: leva em consideração o conjunto de símbolos, nomes, slogans e formatos pelos quais a empresa divulga sua marca e suas promessas. Analisa também se a marca é registrada pelo no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a fim de protegê-la contra eventuais plágios. Dimensão Clientes: avalia os critérios pelos quais o empresário registra e utiliza as informações obtidas dos clientes para a elaboração de novos produtos e serviços. A dimensão engloba a identificação de novas necessidades, de mercados em potencial e de modificações nos produtos e serviços originadas a partir de sugestões oriundas dos clientes. Dimensão Soluções: leva em consideração a oferta de soluções complementares oferecidas, gerando novas oportunidades de receita para a própria empresa ou para terceiros, baseada na integração de recursos, produtos ou serviços. Dimensão Relacionamento: avalia as práticas voltadas para o bem estar dos clientes, visando criar um diferencial na experiência de consumo dos produtos e serviços da empresa. Nesse quesito é avaliada a oferta de facilidades e amenidades (café, brindes, comodidade do espaço interno da loja, envio de e-mails em datas especiais) e da disponibilidade de canais de comunicação para o cliente durante a fase de pós-venda. Dimensão Agregação de Valor: considera o uso dos recursos físicos, humanos e das parcerias existentes para a geração de novas fontes de receita. Dimensão Processos: analisa a introdução de inovações para trazer maior agilidade no atendimento, produção, uso e formação do estoque. Considera também, o uso de sistemas de gestão que aumentem a eficiência, a redução de desperdício e acidentes, e que estabeleçam um ambiente de aprendizagem prática no cotidiano da empresa. Essa dimensão também avalia aspectos ambientais como a redução de emissão e tratamento adequado de resíduos, e o uso de recursos com origem certificada, assim como certificações recebidas pela própria empresa (ISO, certificação voluntária, etc.) O presente estudo se aprofundou nessa dimensão porque, de forma geral, as empresas estudadas demonstraram uma deficiência evidente na gestão de processos. Portanto, muitas das ações propostas foram direcionadas para a criação de manuais de procedimentos, aquisição e capacitação para o uso de softwares e adoção de sistemas de 8

gestão visando o aumento da eficiência. Com isso espera-se um expressivo aumento no grau de inovação nessa dimensão. Dimensão Organização: considera a forma como a empresa está estruturada, levando em conta a relação com os colaboradores, as parcerias com outras entidades para o oferecimento de produtos e serviços mais completos, a troca de informações com os concorrentes e fornecedores e a estratégia competitiva. Dimensão Cadeia de Fornecimento: avalia as formas pelas quais a empresa administra seus custos com o transporte, estocagem e compra de matérias primas. Dimensão Presença: considera a criação de novos pontos de venda e o estabelecimento de relações com representantes ou distribuidores externos da empresa. Dimensão Rede: leva em conta os canais disponibilizados pela empresa para manter a relação com os clientes atuais e para o tratamento de dúvidas de consumidores em potencial. Dimensão Ambiência Inovadora: avalia como a empresa prospecta informações externas e internas para o desenvolvimento de inovações. A dimensão leva em consideração o contato com instituições públicas e privadas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o desenvolvimento de planos de capacitação, o uso de consultorias, visitas a feiras e congressos, requisições de patentes para produtos e serviços, e reuniões para coleta de ideias junto aos colaboradores da empresa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O grau de inovação total das empresas estudadas foi 2,66 (figura 1), indicando que ações de fomento à inovação são necessárias em praticamente todas as dimensões. Esse resultado foi superior àquele obtido por Silva Neto & Teixeira (2011) ao estudarem empresas do setor têxtil e confecção no Sergipe, onde o grau total foi 2,1.

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Figura 1: Médias do grau de inovação nas 13 dimensões e no total, referentes as 50 empresas atendidas no Plano Piloto (DF) A nota alta atribuída à dimensão Plataforma (4,21), mostra que as empresas focam seus esforços na diversificação de produtos e serviços, aproveitando seus recursos físicos e humanos para atender a maior gama de nichos de mercado possíveis. Os setores de restaurantes e da indústria da alimentação têm investido bastante nesse sentido, produzindo versões livres de glúten, lactose, açúcar ou produtos de origem animal visando atender às necessidades de públicos específicos.

Figura 2: Médias do grau de inovação nas 13 dimensões e no total, referentes as 50 empresas atendidas no Plano Piloto (DF) demonstradas na forma de gráfico Radar 10

A dimensão Marca obteve a segunda maior nota (3,69) mostrando a preocupação dos empresários quanto à divulgação e a elaboração do logotipo da marca. 72% das empresas utilizam as mídias sociais para divulgação da marca e dos serviços, e 52% possuem sites com a mesma finalidade. Apenas uma das empresas possui um sistema formal para avaliar o impacto das estratégias de marketing e propaganda, todavia todas afirmam que o meio de divulgação por panfletagem possui baixa eficiência. Apenas 10% das empresas possuem o registro da marca concluído junto ao INPI e 6% estão com o processo em andamento. Das 84% restantes, 72% afirmaram desconhecer ou não ter interesse no processo e 12% tiveram problemas no registro por causa de nomes muito genéricos. A dimensão Clientes teve uma média considerada incipiente (3,09), mostrando que a maioria das empresas utilizam as informações emitidas pelos clientes para o lançamento de inovações. Porém poucas possuem uma sistemática formalizada para a identificação das necessidades dos consumidores e de novos mercados em potencial. A nota regular alcançada na dimensão Relacionamento (3) mostra que boa parte dos empresários se preocupa em oferecer alguma vantagem para o cliente como forma de diferenciação frente à concorrência. As estratégias adotadas variam desde a oferta de café e brindes até a elaboração de vitrines chamativas e ambientes internos convidativos, levando em conta os aspectos da harmonia visual, o conforto e em alguns casos até o odor da loja. A disponibilidade de canais de comunicação através da internet também foi avaliada por essa dimensão e constatou-se que 90% das empresas que possuem sites ou páginas em mídias sociais, utilizam esses meios para estabelecer a comunicação com seus clientes. A inovação em produtos foi expressiva na maior parte das empresas. A dimensão Oferta obteve a nota 2,98 mostrando que houve a introdução de novas tecnologias, modificações no design e disponibilidade de novos produtos, assim como a retirada de itens obsoletos. O grau de inovação da dimensão Agregação de Valor (2,6) mostra que as empresas utilizaram algumas estratégias para gerar renda utilizando seus recursos e instalações, assim como suas parcerias com outras empresas para oferecer produtos mais completos para os clientes.

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A relação entre o total de empresas que possuem páginas em redes sociais (72%) ou sites próprios (52%) e a nota conferida à dimensão Rede (2,5), indica que as empresas podem explorar de maneira mais eficiente as ferramentas online para estabelecer a comunicação com cliente ao invés de usa-las apenas para divulgação da marca. Vale considerar que o acesso à internet é cada vez mais comum entre os brasileiros. De acordo com o IBGE (2013) no período entre 2005 e 2011 o número de usuários da Internet aumentou em 143,8% no Brasil. Portanto esse canal de comunicação não deve ser ignorado pelos empresários. A nota atribuída à dimensão Organização (2,41) mostra que as empresas estudadas necessitam de estratégias voltadas para o aumento da competitividade levando em conta novos mercados, parcerias com outras entidades, a troca de informações com concorrentes e fornecedores, a reorganização das atividades e a inclusão dos colaboradores no processo de tomada de decisão. Segundo Pereira (2009) boa parte do sucesso das MPE’s deve-se a elaboração de um plano de negócio bem estruturado, ao desenvolvimento de um processo decisório ajustado e a incorporação de elementos de inovação, tanto para elaboração e adaptação de novos produtos e serviços como para a criação de novos modelos de negócios. As empresas estudadas também necessitam de maiores investimentos na prospecção de conhecimentos e na formação dos próprios empresários, dos gerentes e colaboradores através de capacitações oferecidas por entidades de fomento como o Sebrae, Senac, Senai e universidades. A maioria dos empresários entrevistados afirma visitar feiras e congressos do ramo em que atuam, com o intuito de adquirir novas tecnologias, e prospectar novos fornecedores e parceiros. A inclusão dos colaboradores também é uma prática comum entre as empresas do DF sendo que boa parte delas estabelece reuniões formais para o levantamento de ideias. Apenas uma das empresas visitadas fez o requerimento para patentear novos produtos. A dimensão que avalia esses quesitos, Ambiência Inovadora obteve a nota 2,18. A avaliação da Dimensão presença (1,73) mostra que um número reduzido de empresas estabeleceu filiais ou contratou representantes externos para aumentar sua influência geográfica de maneira efetiva. Dentre as empresas atendidas apenas 4 tinham um sistema de comércio eletrônico estabelecido e outras 10 tinham a intenção de instalar esse modelo de comércio nos próximos dois anos. Somente no ano de 2012 o e12

commerce brasileiro movimentou R$ 22,5 bilhões, tendo uma variação positiva de 20% em relação a 2011 (E-BIT). Indicando a crescente tendência do brasileiro a consumir por meio deste canal.

Dimensão processos A baixa nota atribuída à dimensão Processos (1,95) indica que há carência de investimentos em sistemas de controle de produção e de gestão, que maximizem o potencial das empresas em conferir produtos e serviços de qualidade superior em tempo reduzido. 28% dos entrevistados afirmaram não ter implementado nenhuma prática inovadora para obter maior eficiência, qualidade, flexibilidade ou rapidez no atendimento nos últimos 3 anos. 62% implementaram pelo menos uma prática voltada para a melhoria desses quesitos e 10% afirmam ter uma sistemática voltada para modificar e melhorar seus processos de forma constante. Os sistemas de gestão como o GQT (Gestão da Qualidade Total), MEG (Modelo de Excelência em Gestão), BSC (Balanced Scorecard), benchamrking ou manuais de procedimentos, não são utilizados por 48% das empresas pesquisadas. 4% delas afirmam utilizar pelo menos três desses sistemas e os 48% restantes ao menos um deles. Portanto o grau de inovação do item “Sistemas de Gestão” foi baixo, recebendo a nota 2,12. A execução de processos de forma intuitiva pode funcionar a contento em empresas cujo nível organizacional é pouco complexo. Porém à medida que as instituições crescem, os processos se tornam mais complexos e interativos exigindo que as formulações, atividades de transformação e os resultados tenham que ser padronizados em algum tipo de documentação. Caso isso não aconteça o conhecimento ficará apenas na memória dos colaboradores e é uma questão de tempo até que ele seja corrompido e perdido (MARANHÃO & MACIEIRA, 2004). O item “Certificações” recebeu a menor nota dentro da dimensão Processos ficando em 1,35. Segundo a pesquisa 86% das empresas não receberam certificação alguma nos últimos 3 anos. Outras 10% receberam alguma certificação e 4% receberam ao menos duas. A maior parte dos empresários afirmou não ter interesse em certificações por acreditarem que o fato de tê-las não gera um efeito tão expressivo junto ao público alvo. 13

Muitas empresas não possuem controles financeiros, de vendas, clientes ou de estoques, sendo incapazes, portanto de traçar estratégias baseadas em dados factíveis. Os dados obtidos nas entrevistas mostram que 40% dos estabelecimentos não utilizam um software de gestão para auxiliar no registro de dados para subsidiar ações futuras. A evidência desse fato está refletida no baixo grau de inovação (2,39) conferido pelo item “Softwares de Gestão” da dimensão Processos. Os empresários apontam os altos custos e a falta de conhecimentos básicos de informática, como motivos para não utilizarem essas ferramentas. O fato de alguns empresários desconhecerem a utilidade de um fluxo de caixa e de registros formais para a administração da firma também colabora para o baixo grau de inovação conferido por esse item. Em relação às ações voltadas para o meio ambiente, 72% das empresas não adotaram prática alguma na forma de trabalhar para ganhar competitividade devido a aspectos ambientais. As 28% restantes adotaram ações para redução do uso de insumos, emissão de ruídos e economia energética. 74% dos estabelecimentos não possuem um sistema racional de gestão de resíduos. Apenas uma das empresas (2%) possui um método de reaproveitamento dos resíduos que gere renda para si mesma. As demais 24% possuem um método de descarte ecológico que gera renda para terceiros, como o caso de restaurantes que doam o óleo usado para fabricantes de sabão. Segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae (2012) com 3.912 MPE’s de todo o território nacional, 38% dos empresários não enxergam possibilidades de ganho de competitividade através de estratégias sustentáveis e 16% consideram ações ambientais como fontes de despesas. Portanto a introdução de metodologias que esclareçam as oportunidades de receita, provenientes de estratégias sustentáveis, como a redução de desperdícios e o reaproveitamento de insumos tem uma grande importância no cenário atual das MPE’s.

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Figura 3: médias do grau de inovação dos itens da dimensão Processos e os respectivos potenciais

Figura 4: médias do grau de inovação dos itens da dimensão Processos na forma do gráfico Radar. A figura 3 mostra que as notas dos itens da dimensão Processos atribuídas às indústrias, foram maiores do que as dos segmentos comércio e serviços. Esse fato ficou mais evidenciado nos itens “Melhorias de Processos” e “Softwares de Gestão”. Como os processos industriais envolvem uma linha de produção, onde há a transformação de matérias-primas, a necessidade por um sistema normativo é de alta prioridade para a padronização da qualidade dos produtos finais. Portanto os empresários desse segmento

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investem em maior proporção na aquisição de processos mais eficientes e no controle da qualidade, em relação aos demais segmentos analisados neste estudo.

Figura 3: médias do grau de inovação dos itens da dimensão Processos dividido entre os segmentos comércio, serviços e indústria.

CONCLUSÃO Os dados apresentados neste trabalho mostram que as MPE’s da região do Plano Piloto (DF) necessitam de apoio para estabelecer estratégias inovadoras, principalmente nas áreas de processos, organização e presença. A nota atribuída à média total de inovação (2,66) mostra que o projeto ALI é de grande relevância para a instalação de uma cultura de aprendizado e constante evolução nas empresas do DF. A maior parte das MPE’s estudadas não possuem registros, nem controles rigorosos sobre os seus processos internos. De maneira geral, o segmento da indústria é mais zeloso com essas práticas como forma de conferir a uniformidade e a qualidade dos produtos finais.

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Vale ressaltar que as dimensões estudadas não estão isoladas dentro do contexto das empresas, portanto ações direcionadas para a melhoria de uma área podem refletir em outras dimensões, contribuindo para o desenvolvimento geral. O impacto das ações propostas pelo agente será avaliado dentro do ano de 2014, através de reaplicações do diagnóstico Radar da Inovação, gerando um feedback do projeto iniciado em 2013. Portanto, estudos posteriores indicarão se houve ou não eficácia do projeto ALI no aumento do grau de inovação das empresas estudadas.

AGRADECIMENTOS Agradeço a todos os empresários que participaram do projeto pela disponibilidade dos dados e do tempo, ao SEBRAE e ao CNPq pelos conhecimentos adquiridos e a todos os meus colegas que trabalharam em conjunto para o cumprimento das metas do projeto ALI.

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