Análise e transcodificação de A máquina do Tempo

Share Embed


Descrição do Produto

Análise e transcodificação de A máquina do Tempo. Fábio Frizzo e Guilherme Moerbeck

Começando, então... Os objetivos deste trabalho são: analisar o romance de ficção científica A máquina do tempo (The time machine) de H. G. Wells, que foi publicado como livro em 1895 para então verificar eventuais mudanças na transcodificação para o filme homônimo de 2002, cujo diretor é Simon Wells. Nossa análise dividir-se-á em quatro momentos. No primeiro falaremos brevemente sobro o método que será utilizado, para então, passarmos a um breve histórico do autor assim como algumas palavras sobre o tema em questão. Por fim, desenvolveremos a análise do mencionado livro e posteriormente do filme em questão.

Fast-food semiótico Como o objetivo principal deste trabalho é analisar o livro e o filme em questão, discutiremos o estritamente necessário para o entendimento de nossa metodologia. O método a ser utilizado é o da leitura isotópica. Primeiramente desenvolvida por Algirdas Julian Greimas, a leitura isotópica, assim como outros métodos, foram adaptados para análise em História por Ciro Flamarion Cardoso há alguns anos atrás. 1 Através do referido método podemos isolar as isotopias, isto é, o conjunto de elementos de significação recorrentes e/ou redundantes que apareçam no texto. Há a possibilidade de se dividir três níveis semânticos do discurso: 1) Temático; 2) figurativo; 3) Axiológico. O primeiro nível refere-se aos temas encontrados nos textos, discursos, etc.. No caso do nível figurativo, encontramos os elementos que podem ser captados pelos cinco sentidos. Por exemplo, enquanto o amor pode pertence ao nível 1

CARDOSO, Ciro Flamarion. Narrativa, Sentido, História. Campinas: Papirus, 1999.

1

temático pelo fato de ser uma abstração, as carícias pertencem ao nível figurativo. Em alguns casos, um elemento pode aparecer como temático e figurativo. O último nível é o axiológico. Nele estão incluídos os sistemas de valores, que podem ser de cunho ético, estético, religioso e etc. Neste caso podemos perceber o que é euforizado ou disforizado pelo autor. Em outras palavras, o que o autor considera positivo ou negativo, atendo-se a um juízo de valor. A utilização da semiótica justifica-se por esta possibilitar uma análise que se atenha às configurações presentes no texto.2 Levando-se em consideração que o texto, até certo ponto, guia o leitor; Este por sua vez, soma sua própria narratividade ao processo que conduz a história. Além disso, consideramos os elementos significantes que o receptor espera encontrar numa obra, que via de regra pertence a um determinado gênero.3 “[...] a leitura isotópica [...] permite resolver no texto, as ambigüidades nele presentes (ambigüidades semânticas), guiando-se pela busca de uma leitura única (ou seja, orientada pelas isotopias constatadas).”4

A ficção científica e o autor

O texto que analisaremos a seguir, encaixa-se numa definição de ficção científica que remete a uma sociedade projetada no futuro, portanto, não se fala realmente do futuro, mas sim de angústias, perspectivas e problemas do presente. Implícita ou explicitamente a noção de um tempo orientado, isto é, de um caráter contínuo do devir histórico aparece na maioria dos livros de ficção científica. O maior problema de criar-se um mundo totalmente diferente do presente ou passado, é a dificuldade de inteligibilidade e empatia deste mundo por parte do leitor. Desta forma:

Idem, “Um conto e suas transformações: Ficção científica e História.” Tempo/Universidade Federal Fluminense – departamento de História. Vol. 9, nº 17, Jul. 2004 – Rio de Janeiro: 7 Letras/EdUFF, 2004. p. 151. 3 SCHOLES, Robert. Semiotics and interpretation. New Haven-Londres: Yale University Press, 1982. 4 CARDOSO. op. cit. 1997, pp. 174. 2

2

“Ninguém, de fato, escreve sobre o futuro. Os escritores usam situações futuristas para iluminar mais fortemente os problemas e oportunidades do presente.”5

O tema da distopia, que é o caso de A máquina do tempo, projeta alhures, através da extrapolação, que é geralmente de cunho pseudocientífico, uma sociedade que, diferentemente dos casos das utopias, não deu certo. Os elementos temáticos nas distopias podem ser variados como o da superpopulação, perigo ecológico, controle e desumanização crescente das pessoas pelos meios de comunicação em massa, terrorismo e etc..6 Isso se deve a crença de determinada época que nada de muito bom pode sair do presente vivido. Outrossim, a ficção científica geralmente projeta aquilo que não se quer que aconteça. H. G. Wells, autor da virada do século XIX para o XX, alternou momentos utópicos e distópicos em suas obras. A máquina do tempo é um romance claramente distópico. Wells foi o terceiro filho de um pequeno comerciante inglês, com uma empregada doméstica que perenemente encontrava-se empregada devido a problemas financeiros da família. Não obstante, Wells conseguiu uma bolsa na Normal School of Science, onde foi aluno de Thomas H. Houxley. Wells pertenceu à Sociedade Fabiana, uma congregação de socialismo moderado e teve como principal influência no campo acadêmico as idéias de Charles Darwin. Idéias estas que podem ser percebidas numa leitura superficial da obra em questão.

Análise do romance “A máquina do tempo” de H. G. Wells

Rede temática 1:

Alguns elementos figurativos Elementos axiológicos que que correspondem à rede correspondem à rede temática 1: temática 1:

5

BOVA, Bem. Apud: CARDOSO, Ciro Flamarion. A ficção científica, imaginário do mundo Contemporâneo: Uma introdução ao gênero. Niterói: Vício de Leitura, 2003. p. 12. 6 Idem, Ibidem. p. 79.

3

Ano 802.701 d. C. /Tempo futuro./ A:Elois X B:Morloques

A: /Pessoas ainda mais ricamente vestidas [...] vestes coloridas e brilhantes./ /O mesmo rosto imberbe de tez delicada, os mesmos braços e as mesmas pernas gorduchas. As crianças pareciam simples miniaturas dos pais./ /As sandálias que usavam eram produtos metálicos bastante complexos./ /Mas ela tinha medo de sombra e escuridão./ B: /Era de cor esbranquiçada e grandes olhos avermelhados. Tinha um pouco de cabelo, como linhaça, na cabeça e nas costas./ /Grandes formas, como imensas máquinas, projetavam sombras fantásticas, e nelas os Morloques fantasmagóricos abrigavam-se da claridade. A atmosfera era pesada. Pelo ambiente evolavam emanações de sangue recentemente derramado/ /Tinham o rosto pálido em sem queixo, os grandes olhos avermelhados e sem pestanas./

A: /Havia qualquer coisa nessas belas criaturinhas que me inspirava./ /Seriam idiotas aqueles entezinhos?/ /A língua deles era demasiadamente simples./ /Passavam o tempo todo se divertindo, tomando banho de rio, namorando dum modo meio infantil, comendo frutas e dormindo. Eu não podia entender como aquilo era possível./ /Um animal em perfeita harmonia com o seu meio é uma simples máquina [...] onde não há transformação nem necessidade dela não há inteligência./ B: /Repelentes criaturas; animais daninhos./ /Respirava ao redor de mim uma multidão daqueles imundos./ /É impossível imaginar como eram nojentos e poucos semelhantes ao homem./ /Abomináveis Morloques./ /Mas não era possível qualquer sentimento de humanidade com relação àqueles bichos [Morloques]./ /Aqueles ratos humanos./ /Pelo que me parecia, a subsistência no mundo subterrâneo havia-se tornado irregular por um motivo qualquer. A necessidade, que fora afastada durante alguns milhares de anos, voltara, recomeçando sua ação. Achando-se os habitantes do mundo subterrâneo em contato com uma mecânica, que sempre exigia um pouco 4

de pensamento independente da rotina, tinham provavelmente conservado um pouco mais de iniciativa e menos dos outros caracteres do mundo superior./

Rede temática 2:

Alguns elementos figurativos que correspondem à rede temática 2: /meio ambiente / progresso /imensos edifícios com científico/ passagens complicadas e altas colunas, construídos /Relação comparativa, numa colina cheia de implícita ou explicitamente bosques./ entre: passado X futuro/ /Com as roupas prosaicas do nosso tempo, entrei num Ano do futuro: 802.701 d. C. salão, envolvido por um Ano do passado: 1895 d. C. turbilhão de vestes coloridas e brilhantes./ /Em dezenas de mesas de pedra polida estavam montes de frutas. Reconheci algumas espécies de laranjas, enormes, mas as outras, quase todas me eram estranhas./ /O Tamisa fora transportado para um quilômetro e meio de sua posição original./ /Percebi que não havia habitações pequenas, casas como as nossas [...] a casa urbana e a casa de campo, tão característica da paisagem inglesa havia desaparecido./ /Não havia lojas, oficinas.../

Elementos axiológicos que correspondem à rede temática 2: /Sempre achei que as criaturas do ano 802.701 estariam incrivelmente adiante de nós em ciência, arte, tudo!/ /roupas prosaicas do nosso tempo./ /A terra inteira tornara-se um jardim./ /Aquele mundo [futuro] era curioso e belo./ /[sobre a impossibilidade de explicar certos aspectos materiais do futuro] Imaginem o que poderia contar de Londres ou Paris um negro da África de regresso à terra natal! [...] Depois pensem na diferença que existe entre um primitivo em um civilizado da nossa época, e no imenso intervalo que me separa das pessoas dessa idade feliz!/ /Dominou-me o antigo e instintivo terror das feras./

5

/A temperatura daquela época futura era mais elevada que a de nossos dias./

Interpretação: A máquina do tempo recria e projeta alguns dos principais problemas do final do século XIX, sob a ótica de Wells, na Terra do ano de 802.701 d. C.. O texto conta a história de um cientista, morador da Londres do fìn de siecle, que, ao criar uma máquina do tempo, começa a explorar o futuro. A principal teoria sobre o tempo aparece a partir da suposição da existência de uma quarta dimensão além das três conhecidas pela geometria espacial. Ou seja, além do comprimento, altura e profundidade, a quarta dimensão seria o tempo, e poderia ser possível viajar por ele, assim como fazemos nas três outras dimensões. Curiosamente, a idéia de uma quarta dimensão surge inicialmente a partir de uma artigo de Wells enviado para a revista The Fortnightly Review. Apesar do artigo ser rejeitado por ser “incompreensível”, a idéia fundadora da viagem através do tempo estava nas mãos de Wells7. Ao escolhermos duas redes temáticas para serem analisadas, não negamos a possibilidade da existência de outras, ao contrário, afirmamos que elas existem. No entanto, selecionamos, como referido anteriormente, os elementos que nos parecem centrais ao texto, e que são, desta forma, reiterados durante a narrativa. A rede temática 1 refere-se ao tempo no ano de 802.701 d .C., e pode ser dividida em dois elementos contrastantes entre si. O mundo dos Elois e o dos Morloques. Apesar das características dos Elois serem, em linhas gerais, euforizadas na narrativa, não podemos reduzir o texto a uma dualidade simples entre os Elois e os Morloques. Acreditamos que a relação estabelecida entre os elementos figurativos e os axiológicos é deveras importante, pois é nessa relação que o autor consegue discorrer sobre as principais idéias em que acredita. A dualidade é constante no discurso acerca dos Elois, pois ao mesmo tempo em que o autor afirma que “Havia

7

WELLS, H. G.. Experiment in autobiography. New York: Macmillan, 1934. Através de www.u.arizona.edu/~gmcmilla/oral.html em 11/12/2004 às 22:49h.

6

qualquer coisa nessas belas criaturinhas que me inspirava”8, indaga-se “Seriam idiotas aqueles entezinhos?”9. A grande contradição que nos é apresentada pelo autor é que, no mundo futuro, no qual esperava-se, dento da perspectiva evolucionista das espécies, e, principalmente, através do progresso da ciência, que “eles” estivessem “incrivelmente adiante de nós em ciência, arte, tudo!”10, a verdade era bem outra. Ao passo que os Elois apresentavam-se visualmente, como seres delicados, bem vestidos, e, de alguma forma, bem próximos aos humanos, eles não correspondiam ao que o autor poderia esperar de seres biologicamente evoluídos. Wells passa então às especulações de cunho científico acerca do que poderia ter acontecido para o mundo chegar aonde chegou. Ainda nos resta falar sobre os Morloques. Estes eram seres logo considerados por nosso explorador como imundos, distantes da raça humana, como ratos humanos. Mas wells não nos privou de uma explicação racional do que havia acontecido no desenvolvimento da espécie humana. Em suas conclusões finais, 11 ele afirma, grosso modo, que: devido a algum motivo a espécie humana bifurcou-se. Fazendo clara referência ao seu próprio tempo, e, lembrando da desumanização nas relações de trabalho causadas pela revolução industrial, Wells, através de nosso explorador, afirma que em alguma era a vida e a propriedade alcançaram uma segurança quase absoluta. “O rico assegurara-se da sua opulência e do seu conforto; o trabalhador assegurara-se da sua vida e do seu trabalho.”12. Devido a uma grande estabilidade, o homem do mundo superior decaíra-se até a impotência, enquanto o do mundo inferior até a simples indústria mecânica. Na concepção de Wells, as pessoas que encontram o equilíbrio com a natureza, num lugar onde não há transformações significativas e necessidades, transformam-se em simples maquinas e, doravante, prescindem da inteligência. Por outro lado, os Morloques, que foram confinados no subterrâneo, tiveram a necessidade, num dado momento, da alimentação. Por isto deviam ter algum tipo de pensamento e iniciativa. A proposital contradição criada por Wells funciona como um eficiente efeito de ambigüidade visual. Pois ao mesmo tempo em que, na aparência, os Elois guardam maiores similitudes com os Homo Sapiens, os

8

Idem, A máquina do tempo. Trad.: Paulo Mendes Campos. Rio de Janeiro: Ediouro, s. d. p. Idem, Ibidem. p. 31. 10 Id. Ibid. p. 32 11 Cf. Id. Ibid. pp. 101-3. 12 Id. Ibid. p. 102. 9

7

Morloques ainda não se desligaram totalmente da necessidade, que, de acordo com Wells é um dos princípios que movem a versatilidade intelectual. A rede temática 2 refere-se às possíveis comparações do passado e do futuro que aparecem implícitas ou explícitas no texto. A imagem do futuro descrita por nosso explorador, às vezes não é muito clara, mas em suma, podemos apreender um espaço repleto de prédios com grandes salões que remetem a palácios. Por outro lado, temos diversas ruínas de prédios que perderam o valor funcional de outrora. Havia sumido outrossim, a casa privada, seja urbana ou do campo. Em termos geográficos o rio Tamisa fora transportado para dois kilômetros de sua posição de 1895 d. C.. No tocante ao clima, o mundo esquentara, tanto que no futuro posterior ao tempo dos Elois, apenas alguns seres, como caranguejos enormes, sobreviveram ao aquecimento global. As roupas utilizadas pelos Elois contrapõem-se às utilizadas por nosso explorador. Entretanto, somos privados de uma descrição minuciosa do futuro. O autor afirma a impossibilidade de compreender um futuro distante através de uma analogia infeliz, mas bastante comum para a época, pois vários pesquisadores acreditavam numa distinção entre os povos ditos primitivos e os civilizados; afirmativa esta característica do darwinismo social.13 A distinção entre passado e futuro chega a ponto de afirmar o instinto agressivo presente nos homens do século XIX em contraposição aos Elois que nada tinham a temer. À guisa de conclusão, ressaltamos o caráter distópico do mundo de Wells, que através da visão de seu próprio tempo preconiza um futuro em que já não existirá a espécie humana. Existência esta que encontra seu termo devido muito mais às conseqüências de suas ações sociais, do que a mudanças de tipo climático e etc.. Conquanto não possamos desprezar a idéia também contida no texto de Wells na qual este afirma que, independentemente da ação do homem, a Terra será destruída devido ao aumento da massa do Sol que fagocitará os planetas que giram próximos a sua órbita, e depois morrerá. Causando, por conseguinte, o congelamento e a impossibilidade da continuidade da vida celular. Wells foi um homem ligado aos problemas de seu tempo, que ao viajar através

13

Entende-se por darwinismo social a aplicação à sociedade dos princípios que se crê serem sido estabelecidos por Charles Darwin. Essa noção obscurece e reforça a idéia errônea de que os cientistas sociais do final do Séc. XIX, mais especificamente a partir de 1859, liderados por H. Spencer, passaram a aplicar os conceitos desenvolvidos por Darwin na interpretação e análise da natureza e funcionamento da sociedade.

8

dele, nos alerta para as terríveis conseqüências de um futuro que podemos engendrar com nossas próprias mãos.

Análise do filme: A máquina do tempo (The time machine, 2002) Ficha técnica: - Estúdio: DreamWorks SKG / Warner Bros - Direção: Simon Wells - Roteiro: John Logan, baseado em livro de H.G. Wells - Produtores: Walter F. Parkes e David Valdes - Edição: Wayne Wahrman - Desenho de Produção: Oliver Scholl - Fotografia: Donald McAlpine - Efeitos Especiais: Digital Domain / Industrial Light & Magic / Makeup Effects Laboratories Inc. / Stan Winston Studio - Música: Klaus Badelt - Personagens e intérpretes principais: Alexander Hartdegen: Guy Pearce; Uber Morlock: Jeremy Irons; Dr. Philby: Mark Addy; Emma: Sienna Guillory; Mara: Samantha Mumba; Kalen: Omero Mumba.

Resumo da Sintaxe Narrativa:

1. Prólogo: A causa de tudo: até 12 min 22 seg 1.1 O cotidiano de Alexander, simultaneamente aos créditos iniciais: (Tema Musical). As primeiras imagens mostram alunos saindo das aulas em uma universidade. A próxima cena mostra a sala do Dr. Alexander Hartdegen, professor de mecânica aplicada e engenharia. Dentro da sala, o personagem principal escreve uma fórmula matemática no quadro enquanto conversa com seu amigo Philby. Este o lembra de seu encontro com Emma.: até 2 min 42 seg. Alexander e Philby se dirigem para a casa do primeiro pelas ruas cheias de neve da cidade de Nova York. A conversa deles gira em torno da reprovação do reitor da

9

universidade em relação à pesquisa de Alexander sobre o conceito de ondas de microenergia, o qual afirma ser secundário para a humanidade. Alexander considera tanto o reitor como Philby reacionários no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico. Philby afirma que o amigo deveria ser mais conservador. A resposta de Alexander critica a formação de indivíduos medíocres pela universidade. Para isso utiliza uma metáfora relacionada ao chapéu-coco – usado por todos naquela época. 1.2 A passagem pelo laboratório de Alexander e suas teorias: Os dois amigos chegam na casa de Alexander e são recepcionados pela governanta, Sra. Watchit. Eles passeiam pelo laboratório, onde são mostradas algumas invenções do dono da casa, ao mesmo tempo travam uma conversa sobre questões sentimentais e científicas. Em certo momento há uma citação a Einstein, ainda desconhecido na época, como um louco. Entretanto, Alexander diz apoiar as teorias dessa pessoa, o que demonstra sutilmente a utilização das teorias de Einstein sobre o tempo. Ao analisar um desenho de uma cidade futurista, Philby mostra mais uma vez seu conservadorismo. O cenário da casa de Alexander é repleto por relógios, o que remete o telespectador inconscientemente à questão do tempo: até 5 min e 43 seg. 1.3 A tragédia no parque: Ao chegar no parque, Alexander se recorda de comprar flores para Emma. Nesse momento sua atenção se volta para a observação de um automóvel. Passa a conversar com o dono do carro, que dispara de uma hora para outra e é contido quando Alexander aciona o freio. O dono oferece um passeio no automóvel, mas Alexander recusa, alegando um compromisso. O homem deixa a proposta em aberto para um novo dia. Alexander chega atrasado no encontro com Emma. A pedido dela, eles saem para passear no parque. Em um dado momento, ele a pede em casamento, dando a ela um anel. Logo em seguida o casal é abordado por um ladrão, a quem Alexander dá o dinheiro e a carteira. Emma recusa-se a dar o anel. Há uma briga e ela é ferida com um tiro. O ladrão foge e Emma morre nos braços de Alexander: até 12 min 22 seg.

2. Os antecedentes da viagem: até 18 min 09 seg

10

2.1 O Retiro de Alexander: Uma frase escrita na tela preta anuncia: “Quatro anos depois.” Em analogia a uma das primeiras cenas do filme, Alexander aparece escrevendo fórmulas matemáticas em um quadro negro, outros, espalhados por todo o laboratório, também estão escritos. Philby chega e eles começam a conversar sobre a preocupação dele em relação ao comportamento do amigo após a morte de Emma. A discussão também passa pelo culpado do incidente. Alexander fala a Philby sobre uma vaga possibilidade de mudar no parque naquela noite. O amigo questiona o assunto da conversa e o dono da casa o convida para um jantar na outra semana, no qual se dispõe a explicar tudo. Alexander pede para Philby deixa-lo e afirma para si mesmo, após a saída do amigo, que não haverá necessidade de tais explicações. Em outro momento, Alexander prepara-se para a viagem no tempo. Nesse instante o telespectador é apresentado à Máquina do Tempo. (intervenção de um tema musical). Após o acionamento da máquina, um dos inúmeros relógios da sala começa a rodar ao contrário. Nesse momento a cena é cortada: até 18 min 09 seg.

3. A primeira incursão no tempo: de volta ao parque: até 27 min 28 seg 3.1 A tentativa de impedir a morte de Emma: Alexander volta ao dia de seu encontro com Emma no parque. Dessa vez ele não se atrasa, quando ela chega, ele está lhe esperando. Ele demonstra um certo nervosismo, aliado com o alívio de vê-la novamente. O passeio no parque é substituído por um na cidade, para a qual se dirigem em um coche. Enquanto andam pelas ruas da cidade, Alexander e Emma conversam. Curiosamente, durante toda essa seqüência, a personagem Emma repete várias das falas utilizadas na seqüência do parque, quando ela é morta. Alexander, que ainda está nervoso, pede a Emma que releve o fato de ele ir atrás dela mais tarde alegando que ela não teria ido ao encontro. Essa é a primeira menção à questão do paradoxo temporal. Emma concorda, mas pede que ele compre as flores que havia prometido a ela.

11

Alexander deixa Emma e atravessa a rua para comprar flores. Enquanto ele pega o presente, o telespectador pode ver Emma sendo atropelada pelo automóvel visto na primeira seqüência desse passado. Ao sair da loja às pressas, Alexander constata que Emma está morta novamente. A cena volta a ser cortada: até 23 min 12 seg. 3.2 A idéia do futuro: Alexander está sentado em um lugar que parece ser um hospital ou uma casa funerária, quando Philby chega para conforta-lo. Desolado, Alexander fala para Philby da impossibilidade de mudar o passado e da necessidade de buscar repostas para isso no futuro. O amigo não entende o que o cientista diz. A máquina do tempo volta à cena. Alexander inicia sua viagem para o futuro. O telespectador vê uma seqüência de efeitos especiais destinados a mostrar a passagem do tempo – principalmente mudanças no ambiente e a passagem do sol. Essas mudanças vão aumentando cada vez mais na escala geográfica, até alcançar a órbita terrestre: até 27 min e 28 seg.

4. Um futuro “próximo”: até 36 min 10 seg 4.1 O ano de 2030: A seqüência é iniciada com a frase “O futuro é agora”, escrita em um outdoor animado. Há uma oposição entre o velho e o novo, apresentada por prédios antigos ao lado de edifícios tecnológicos. Alexander vai a uma biblioteca, onde se depara com um núcleo de memória fotônica (NMF). Uma inteligência artificial responsável por guardar todo o conhecimento do mundo, destinado a ajudar os utilizadores da biblioteca. A representação humana dessa I.A. é um homem negro, o que mostra a tendência do cinema moderno a incorporar personagens “politicamente corretos”. O viajante do tempo inquire o NMF sobre a ciência e as viagens no tempo. O segundo tema é citado como categoria da literatura de Ficção Científica, o que caracteriza uma metalinguagem presente no filme. Mesmo após especificar o pedido em práticas de viagem no tempo, Alexander não encontra nada

12

específico. Porém, vê seu nome citado como um “postulador de teorias loucas”: até 32 min 58 seg. 4.2 O ano de 2037: Alexander volta a avançar no tempo, até o ano de 2037. O ambiente desse ano já se mostra inteiramente cyberpunk, com a degradação total, a escuridão e etc. O personagem é informado por policias que as explosões das colônias lunares destruíram a órbita da Lua e que o satélite está se despedaçando sobre a terra. O viajante do tempo volta à sua máquina e inicia uma nova viagem para o futuro. Um solavanco provocado por um meteorito faz com que Alexander fique inconsciente. Os efeitos especiais agora mostram modificações na biosfera e na geologia, que simbolizam a passagem de muito tempo, como, por exemplo, o desgelo das calotas polares e depois à volta da vegetação. A cena volta a ser cortada: até 36 min 10 seg.

5. O Ano de 802.701: até 1h 1min 18seg 5.1 O despertar para um futuro longínquo: Alexander aparece deitado em uma cama rústica sendo tratado por uma moça que mais tarde sabemos se chamar Mara. Ao acordar, vê-se em um abrigo, nu e tratado de suas contusões. Ao se vestir, é surpreendido por um menino, Kalen, que foge gritando em uma língua desconhecida. Ao sair atrás de Kalen, Alexander nota que as casas – semelhantes a ocas indígenas – são construídas nas encostas de penhascos e ligadas por pontes e escadas de corda. Logo a baixo existe um grande lago. Muitos elóis – o povo daquele lugar – aparecem para rodear o viajante, que não entende a língua local. A comunicação é estabelecida através de Mara, que é professora da língua antiga – o inglês. Um homem, que aparenta ser o líder Elói, sugere matar Alexander. Este revela para Mara que é um viajante do tempo e ela diz para a comunidade que ele é um “errante idiota”. Posteriormente, Alexander troca informações com Mara e Kalen sobre a época de cada um: até 45 min 56 seg. 5.2 O sonho:

13

O telespectador vê um caminho escuro e nevoento onde se sobrepõe à figura de um rosto esquisito. Este caminho desemboca em um monumento em forma de uma estranha caveira, que abocanha a visão da câmera. Alexander acorda assustado e percebe que foi um sonho. Ele escuta Kalen gritando por Mara e repetindo a palavra “morlocks”. Kalen também teve o pesadelo. Em seu quarto, o telespectador percebe a ausência do relógio de bolso do viajante do tempo, deixado com o garoto na noite anterior. Após colocar a criança para dormir, Mara explica a Alexander que todos os Elói sonham este mesmo sonho. Quando indagada sobre o termo “morlock”, ela diz que é somente algo de um pesadelo de criança: até 48 min 21 seg. 5.3 Um novo dia: Mara leva Alexander a um lugar onde os elói preservam antigas inscrições em pedra da Idade Contemporânea. É possível observar placas de monumentos, fachadas de lojas e, até mesmo, lápides. Os dois discutem sobre os motivos da viagem de Alexander e sobre sua decepção amorosa com a morte de Emma. Quando indagada sobre a ausência de idosos, Mara responde que eles se foram daquele lugar, ou seja, morreram. Quando perguntada sobre como é possível terem todos morrido, Mara responde, visivelmente irritada, que existem coisas que é melhor não serem ditas, e que eles lembravam os idosos com monumentos. Tais monumentos parecem moinhos de vento, ao redor dos quais os elói estão trabalhando. Kalen também está trabalhando, mas Alexander não pode dar-lhe atenção porque está indo ver sua máquina do tempo. Mara e o viajante vão ver a máquina. Ao embrenhar-se na mata, Mara parece preocupada com algo. A máquina está em perfeito estado. A mulher aconselha Alexander a voltar para o seu tempo e o pode que leve Kalen consigo? Até 53 min 09 seg. 5.4 O ataque morlock: (Tema musical de ação, berros e urros) Ao tocar de trombetas e ao som de urros, Mara corre na direção do lugar dos “moinhos”. Todo povo elói corre desesperado, fugindo de algo e Alexander os acompanha. Criaturas monstruosas – morlocks – aparecem e iniciam um ataque. Primeiramente, as

14

criaturas atacam com dardos de zarabatana. Tais dardos acabam acertando Mara e Kalen. O telespectador atento percebe que os dardos, engraxados com alguma substância de odor forte, servem para guiar os morlocks pelo olfato, já que sua visão não é aguçada – fato que fica claro em um momento posterior. Alexander vai ao socorro de Mara e consegue ajuda-la. A rota de fuga dos Elói para os barcos é interrompida nos últimos metros pelo surgimento de um bando de morlocks, que saem da terra. Esses seres visam capturar elóis e leva-los consigo para o subterrâneo. O viajante do tempo deixa Mara e corre para acudir Kalen. Assim, descia a atenção do morlock para si mesmo, iniciando um longo duelo, que só termina com um novo soar de trombetas. Os morlocks voltam para o subterrâneo levando consigo, entre outros elóis, Mara: até 59 min 37 seg. 5.5 O embate de ideais entre Alexander e os elói. Emocionalmente abalado pelo rapto de Mara, Alexander questiona os elói sobre o que eles pretendem fazer. A resposta dada mostra a uma completa indiferença dos elói em relação aos raptos, ou seja, um conformismo geral. Nesse sentido, associam os que resolveram lutar aos primeiros a serem mortos. O viajante se dirige a Kalen e lhe faz perguntas sobre os morlocks. O garoto diz que aquilo não deve ser comentado, mas diz saber o lugar para onde vão os “fantasmas”: até 1 h 1 min 18 seg.

6. O cair da noite e a luta no subterrâneo: até 1 h 22 min 14 seg 6.1 Retorno à biblioteca: o descobrimento de um mentor: Kalen leva Alexander até as ruínas de uma antiga construção. Ao entrar, o viajante reconhece o NMF e percebe estar na biblioteca que visitou no ano 2030. O NMF lhe fala sobre a total ignorância dos elói no relativo ao passado e no desinteresse pelo futuro. Diz-se chateado por lembrar-se de tudo, inclusive de Alexander e sua consulta. O NMF diz ter somente informações desatualizadas sobre o presente, mas conta sobre a separação da raça humana em duas: os elói – superficiais – e os morlocks – subterrâneos. Diz também ter aprendido a verdade sobre os morlocks com um elói fugitivo – que está morto – e conta que o esconderijo deles é na selva do leste: até 1 h 5 min 53 seg.

15

6.2 A entrada no mundo subterrâneo: (Tema musical de suspense) O mundo subterrâneo dos morlocks é repleto de maquinário pesado. Os morlocks trabalham com metalurgia e ferraria. Alexander esgueira-se pelos corredores até encontrar sinais macabros do destino dos elói, como ganchos sujos de sangue, roupas jogadas e um esgoto de carcaças humanas. Ele é descoberto pelos morlocks e aprisionado no mesmo lugar em que está Mara: até 1 h 11 min 48 seg.

6.3 Alexander encontra suas repostas: Logo após achar Mara, Alexander percebe que há outro sujeito na sala, um morlock diferente. Esse é muito mais “civilizado” que os outros e, além de possuir a capacidade de falar, fala a inglês. Ele explica que após a queda da Lua, os terráqueos se dividiram entre os subterrâneos e os superficiais. Após anos nessa condição, os subterrâneos não podiam mais sair à superfície. Para remediar essa situação, a sociedade morlock dividiu-se em duas castas: “os músculos e a força”, a raça mais primitiva, responsável por caçar na superfície; e “os olhos e ouvidos”, mais desenvolvidos neurologicamente, que utilizam a telepatia para controlar os outros morlocks e, até mesmo, os elói. Esse morlock – Uber morlock – pertence evidentemente à Segunda casta apresentada. Há uma curiosidade interessante em seu aspecto. Sua coluna vertebral tem uma grande quantia de massa cefálica ao seu redor. O líder morlock também revela que os elói servem de alimento para sua raça, e que alguns são poupados para reprodução, destinada à criação de novas colônias elói. Em certo momento, o morlock indaga Alexander sobre quem é ele para questionar 800 mil anos de evolução. O viajante responde que a alimentação baseada em humanos é uma perversão das leis naturais. O Uber morlock mostra irritação e retruca dizendo que a viajem no tempo não passa de uma tentativa de controlar o mundo. Ele também mostra que conhece Alexander, já que pode ler seus pensamentos, memórias e sonhos. Diz que o viajante é um homem atormentado pelas palavras “E se...”. Nesse instante, o morlock coloca Alexander dentro de uma ilusão, que mostra como seria sua vida caso Emma não tivesse morrido. O viajante estaria feliz com Emma e com

16

uma família e não teria tido necessidade de inventar a máquina do tempo. Esta, portanto, é uma conseqüência da morte de Emma. Nesse momento invoca-se a questão do paradoxo temporal para definir que Alexander nunca poderia ter tido sucesso em salvar Emma, já que se não fosse por sua morte, a máquina não teria sido inventada. Nesse sentido, o morlock filosofa sobre a casualidade do tempo, sendo que tudo é causa de tudo, e que a mínima mudança pode afetar o mundo todo. O morlock mostra a máquina a Alexander e diz que agora que ele tem a reposta que procurava, ele pode voltar. Ao pedir seu relógio de bolso para o morlock, o viajante ouve as seguintes frases: “Máquinas do tempo. Todos nós temos, não é? Aquelas que nos levam de volta são nossas memórias. E aquelas que nos levam adiante são sonhos.”: até 1 h 19 min 5 seg.

6.4 A luta contra o Uber morlock e a visão do futuro: (Tema musical) Após ouvir as frases filosóficas do morlock, Alexander decide traze-lo para dentro da máquina do tempo e ativa-la. Inicia-se uma longa luta, que tem como cenário a passagem do tempo. Por fim, Alexander derrota o morlock jogando parte corpo deste para fora da esfera de alteração temporal, o que faz o corpo sofrer um processo de degeneração acelerado. Depois, o viajante do tempo para a máquina em um futuro ainda mais longínquo e vê o mundo dominado por monumentos morlocks. Ele olha para seu relógio de bolso, que serve de símbolo para as palavras do morlock sobre cada um ter sua própria máquina do tempo, e decide voltar: até 1 h 22 min 14 seg.

7. A última batalha: até 1 h 27 min 7 seg 7.1 A destruição dos morlocks: (Tema musical de vitória que passa a suspense) Alexander volta ao ano de 802.701, liberta Mara, aciona a máquina do tempo e usa o relógio de bolso para trava-la, de forma que ela fique parada no tempo funcionando até explodir. Os morlocks entrem no salão. Alexander e Mara aproveitam o clarão de

17

funcionamento da máquina, que cega os morlock temporariamente, para fugir. (Nesse ponto o tema musical passa pra uma mistura de aventura e suspense) Os dois correm para a superfície e após a derrota de um morlock e a escalada de um paredão de rocha, chegam. A máquina do tempo explode, dizimando os morlocks. Mais tarde, um grupo de elóis que conta com Alex e Mara observa ao longe a floresta danificada pela explosão. Mara lamenta a perda da máquina, mas Alexander não se importa. Os dois dão as mãos, ato que simboliza a concretização da tensão amorosa mantida pelo diretor durante o filme: até 1 h 27 min 7 seg. 8. Epílogo: até 1 h 30 min 35 seg 8.1 O crepúsculo da nova civilização elói: O nascimento de uma nova civilização Elói é mostrado com a utilização do NMF para educar as crianças, de forma semelhante às escolas atuais. Essa aula acontece no lugar onde são preservadas as inscrições da Idade Contemporânea, como símbolo de união com o passado: até 1 h 27 in 36 seg 8.2 A dualidade temporal no espaço Enquanto Alexander mostra a Mara e Kalen onde era sua casa, o diretor utiliza o recurso de superposição de imagens para mostrar o que acontece em 1903, quando Philby chega para jantar na casa do viajante. Enquanto este descreve os cômodos da sua casa, Philby passeia por eles com a governanta. Philby diz-se feliz por Alexander ter encontrado um lugar para ele, onde, portanto, ele não fosse recriminado por seu pensamento vanguardista. Por fim, ao sair da casa de Alexander, Philby pode ser visto pelo telespectador, através da janela do laboratório do viajante, jogando seu chapéu-coco fora, enquanto olho para o cômodo. Tal fato simboliza a crença de Philby na máquina do amigo. Assim, ele se rende à necessidade de um pensamento de vanguarda, contradizendo o que havia falado anteriormente, quando afirmou ser um “chapéu-coco”: até 1 h 30 min 35 seg. 8. Créditos finais: até 1 h 35 min 37 seg

18

Contexto da Ficção Científica: o cyberpunk. A fase cyberpunk da Ficção Científica inicia-se no ano de 1982, com o filme Blade Runner, o caçador de andróides, de Ridley Scott. Essa tendência mostra o mundo de um futuro próximo como um lugar sujo, que sofre o contraste da alta tecnologia e da publicidade vistosa com a pobreza,a ruína e o lixo. O período em questão viu a Ficção Científica chegar ao auge mercadológico. Conseqüentemente, intensificaram-se as transcodificações de obras do gênero presentes desde a década de 1950, como histórias em quadrinhos que viraram filmes, filmes que viraram séries. O termo cyberpunk foi cunhado pelo escritor Bruce Bethke em um conto homônimo escrito no ano de 1983. A palavra é uma mescla do elemento cyber, que remete à cibernética, e punk, referente ao movimento de rock dos anos 70. O gênero tem elementos temáticos bem definidos, como nos mostra Ciro Cardoso: “...um futuro quase sempre próximo, dominado por grandes corporações capitalistas, seja na Terra seja no Espaço, globais mais do que nacionais, as quais controlam redes mundiais de informação; as possibilidades do corpo humano aumentadas por implantes de elementos mecânicos e cibernéticos, pela engenharia genética ou pelo uso de drogas;”14 Outros elementos constantes são a realidade virtual, mostrada como um mundo à parte; o culto à violência, mostrado por guerras entre gangues rivais e hostis ao poder estabelecido; desilusão e alienação. O cyberpunk continua a tendência distópica da new wave. O aumento gigantesco na velocidade e do fluxo de informações transformou completamente a vida cotidiana. Alguns autores chegam a colocar a tendência como um subsetor literário do pós-modernismo, baseando-se em elementos como a fragmentação da narrativa e a explosão dos sistemas lineares de contar histórias – influência dos videoclips musicais.

Análise: Universo Diegético: 14

CARDOSO, Ciro Flamarion. A ficção científica, imaginário do mundo Contemporâneo: Uma introdução ao gênero. Niterói: Vício de Leitura, 2003. p. 38-39.

19

A Máquina do Tempo inicia-se na virada do século XIX para o XX, como pode ser percebido em 4.1, quando o NMF cita o desaparecimento de Alexander Hartdegen no ano de 1903. Isso significa que o filme inicia-se precisamente no ano de 1899, quatro anos antes do “sumiço” do personagem principal. A ciência da época é discutida de modo muito superficial (1.1 e 1.2). Toca-se no conceito de “ondas de microenergia” e chega-se mesmo a falar nas teorias de Einstein de forma rápida, já que nessa data o físico era apenas um trabalhador de um escritório de patentes. A época na qual o filme se passa também pode ser percebida através do estilo arquitetônico e da moda. Além disso, as ruas são tomadas por coches e Alexander fica surpreso ao ver um automóvel na rua (1.3). As máquinas utilizadas, e até mesmo a máquina do tempo, parece ser a vapor. Contudo, existe claramente um elemento ficção, demonstrado quando a máquina do tempo é ligada e aparecem feixes de luz semelhantes a lasers (2.1). Acreditamos que certamente este feixe de luz foi incluído no filme para que o leitor pudesse se identificar mais facilmente com a máquina, já que ficaria difícil acreditar nos dias de hoje que uma máquina a vapor fosse capaz de cruzar o tempo. A sociedade da época é mostrada como altamente conservadora e reacionária. Isso fica explícito quando Philby diz a Alexander (1.1) que quer que os seus alunos estejam preparados para o mundo, não interessando fazer estes pensarem em progresso. A atenção dada à ciência tecnológica no filme é muito pequena. Somente podemos ver reflexos dela, omitindo-se explicações concretas sobre como funcionam os aparelhos. Isso fica claro em ocasiões que contam com a presença da máquina do tempo (2.1, 3.2 entre outros) e no futuro próximo explorado parcialmente por Alexander (4.1, 4.2).O universo dos anos de 2030 e 2037 está muito mais dentro da temática do cyberpunk. No primeiro ano (4.1), apesar do ambiente clean, o excesso de propaganda nas ruas e a citação a uma exploração espacial mostram-se elementos da fase mais recente do gênero. Já o ano de 2037 (4.2) mostra-se claramente dentro da tendência, apresentando um mundo degradado e escuro, onde a violência policial está presente. A distopia característica do cyberpunk é observada na desfragmentação da Lua, cujos pedaços atingem a Terra. Assim, vemos o mundo sendo destruído em um futuro muito próximo do nosso presente (somente 33 anos de diferença!).

20

O ano de 802.701 tem dois universos paralelos: a superfície dos elóis e o subterrâneo morlock. O primeiro é marcado por uma natureza vasta e bela, caracterizada por florestas e águas, mostradas em ambientes que mesmo a noite são clareados pela luz da lua e por outras luzes (5.1). Estas, no entanto, parecem ser artificiais, o que seria uma incongruência, já que os elóis não desenvolveram sua tecnologia a tal ponto. A sociedade elóis parece ser, desconsiderando qualquer tipo de apologia ao evolucionismo cultural, primitiva. Afinal, apresenta moradias e ferramentas que aparentam ser construídas com elementos naturais. Além disso, o diretor parece ter feito um esforço para tornar os elóis parecidos com indígenas, pois esses andam com poucas roupas e pintam seus corpos. Apesar de, na maioria do filme, o ambiente dos elóis ser mostrado como agradável, as ruínas da biblioteca (6.1) são um elemento claramente derivado do cyberpunk, pois são mostradas em uma degradação quase total. É curioso perceber que o prédio da biblioteca, mostrado como antigo já em 2030, persiste, enquanto os edifícios tecnológicos mostrados no mesmo ano e em 2037 são completamente eliminados. O ambiente subterrâneo dos morlocks (6.2) é marcado por um contraste entre a escuridão e a luz avermelhada de metais incandescentes e faíscas. Outro elemento presente é o maquinário pesado, mostrado com gigantescas barras giratórias e fornos metalúrgicos. Esse ambiente encaixa-se mais à tendência cyberpunk. A aparência dos morlocks “caçadores” é grotesca e parece sofrer grande influência dos orcs do filme O Senhor dos Anéis, grande sucesso de bilheteria do ano anterior. A aparência da elite intelectual morlock (6.3) já é mais característica da evolução da espécie. Pele, cabelos e olhos claros são derivados de milênios de vida no escuro após a desfragmentação da Lua. É possível perceber pares de oposição entre os ambientes elói e morlock. Entre eles, destacamos os seguintes: claro/escuro, aberto/fechado ou liberdade/prisão, água/fogo, madeira/metal e etc. Essas pequenas oposições visam acentuar ainda mais as diferenças entre as duas raças. É necessário ressaltar que tais oposições possibilitam ao telespectador sentir uma afinidade com os elóis e um sentimento negativo em relação aos morlocks. A sociedade elói parece ser comunal. Até onde podemos perceber, eles vivem da colheita. Já dominam o fogo e utilizam pequenas ferramentas. O comportamento dos elóis é completamente passivo e conformativo, como podemos perceber na discussão de Alexander com eles sobre o seqüestro de Mara (5.5). Os morlocks, em contrapartida, têm

21

sua sociedade divida em castas. Alimentam-se de carne humana e dominam perfeitamente o fogo e a metalurgia. Muito mais que simples ferramentas, eles utilizam grandes maquinários, como dito anteriormente. Enquanto a casta “caçadora” parece ser extremamente agressiva e animal (5.4 e 7.1), a casta “observadora” mostra uma tendência mais racional, devido ao seu intenso desenvolvimento intelectual (6.3). Atorialização:

Em A Máquina do Tempo, a estrutura dos personagens e suas relações estão organizadas essencialmente em pares. Desses, destacamos os seguintes: 1) Alexander e Philby; 2) Alexander e o NMF; 3) Alexander e Mara; 4) Alexander e o Uber Morlock. Analisaremos rapidamente cada uma dessas. A relação entre Alexander e seu amigo Philby mostra principalmente uma contraposição entre elementos de vanguarda e conservadores. Grande parte da discussão entre os dois gira em torno disso, como podemos perceber na conversa sobre o papel do professor universitário do fim do século XIX (1.1) e no final do filme, quando Philby volta à casa do amigo e percebe que ele realmente conseguiu viajar no tempo (8.2). Além disso, o amigo mostra grande apreço a Alexander, fato que fica demonstrado em suas conversas sobre Emma (1.1 e 1.2), sobre sua morte e a reclusão do viajante do tempo após esta (2.1) e novamente sobre a morte, agora na volta ao passado (3.2). O Núcleo de Memória Fotônica estabelece com Alexander uma relação de mentorpupilo. Isso fica menos claro em seu primeiro encontro (4.1), quando o I.A. informa o viajante do tempo sobre o ano de 2030. Porém, o caráter tutorial da relação fica bem claro no segundo encontro entre eles (6.1). Nessa ocasião o NMF mostra a Alexander várias nuances do ano de 802.701, indicando meios de encontrar os morlocks. Acreditamos que a utilização do NMF como professor (8.1) explicita esse caráter tutorial. Desde seu início, a relação entre Alexander e Mara é mostrada pelo diretor como uma relação afetiva. O telespectador pode perceber a existência de uma tensão amorosa entre eles. Esse movimento é iniciado no tratamento de Alexander (5.1) e continua por diversas ocasiões do filme, como na conversa ao luar (5.1), no passeio a sós (5.3), na proteção contra o ataque morlock (5.4), na defesa inflamada da necessidade de lutar contra os morlocks após o rapto de Mara (5.5), na arriscada incursão ao subterrâneo para salvá-la 22

(6.2), na volta ao ano de 802.701 e na destruição dos morlocks (7.1). Esta tensão amorosa é concretizada simbolicamente, como já mostramos, no dar de mãos dos dois personagens (7.1). De certa forma, o Uber Morlock também serve a Alexander como um mentor, mas a relação entre os dois personagens é muito mais complexa. Ao mesmo tempo em que o primeiro dá as repostas que o viajante procura (6.3), também faz o papel de antagonista, lutando até a morte com Alexander (6.4). Além da explicação sobre o paradoxo temporal que impede o viajante de salvar sua falecida namorada, o Uber Morlock também fornece o aparato filosófico que faz com que Alexander volte a 802.701 para salvar os elóis, mesmo que isto signifique sua total permanência no futuro.

Leitura Isotópica:

Procuraremos reutilizar as duas redes temáticas abordadas na análise do romance para facilitar a comparação entre os dois. Acrescentaremos, entretanto, uma nova rede temática, que se faz muito presente no filme, apesar de não ter grande valor no romance.

Rede Temática 1:

Alguns elementos figurativos que correspondem à rede temática 1: Ano 802.701/ Tempo futuro./ A: - 5.1.: Os elós são têm a pela A: Elóis morena e traços parecidos com mestiços africanos. Vestem-se com poucas X roupas e têm o costume de B: Morloks pintar o corpo. Sua língua é diferente, mas mantém a língua antiga – inglês. B: - 5.4.: A casta “caçadora” dos morlocks é composta por seres grandes, rápidos e fortes. A aparência deles é horrenda, com a pele acinzentada, rosto desfigu-

Elementos axiológicos que correspondem à rede temática 1: A: - 5.5.: /Quando Alexander constata a impassibilidade dos elóis em relação ao rapto de alguns deles pelos morlocks, ele se irrita com esta conformidade./ /O NMF faz um juízo de valor sobre a ignorância dos elóis sobre o passado./ B: -6.3.: Alexander condena o fato dos morlocks caçarem e comerem os elóis, dizendo ser uma “perversão das leis

23

rado, olhos pequenos e naturais”. cabelos compridos. Enxergam mal mas tem um bom olfato. - 6.3.: A casta “observadora” aparenta melhor a evolução subterrânea dos morlocks. Tem a pela, os cabelos e os olhos bem claros e a constituição física mais frágil. O desenvolvimento mental deles é caracterizado por um crescimento da massa cefálica em volta da espinha dorsal, que tem uma parte óssea externa.

Rede temática 2:

Alguns elementos figurativos que correspondem à rede temática 2: /meio ambiente / progresso A: científico/ - 1.1, 1.2, 2.1, 3.1, 3.2, 8.2.: A Nova York do fim do /Relação comparativa, século é mostrada com implícita ou explicitamente, prédios da arquitetura da entre: passado e futuro/ época. As ruas são cheias de coches e as pessoas se Anos do passado: vestem em estilo vitoriano. A: 1899 e 1903 d.C. Existe a presença de máquinas à vapor, como um Anos do futuro: automóvel. B: 2030 d.C. C: 2037 d.C. B: D: 802.701 d.C. - 4.1.: Os prédios de alta tecnologia, feitos principalmente com metal, são mostrados em contraste com alguns prédios em estilo do início do século XX. Ônibus espaciais cruzam o espaço em direção a uma base lunar. Transportes voadores podem ser observados no céu. Os outdoors são animados. As pessoas vestem roupas

Elementos axiológicos que correspondem à rede temática 2: A: - 1.1.: Alexander discute com Philby sobre sua opinião acerca da sociedade, que mostra ser conservadora. B: - 4.1.: A moça que conversa com Alexander na rua faz um comentário sobre as roupas retrógradas dele. D: - 6.4.: Há um juízo de valor implícito na decisão de Alexander de voltar ao ano de 802.701. Pois este considera a sociedade mais vanguardista que a do fim do século XIX e início do XX.

24

características da época em que vivem (uma projeção da moda futura). A biblioteca conta com um avançado sistema de inteligência artificial (NMF), mostrado com uma projeção de imagem em lâminas de vidro. C: - 4.3: Prédios semidestruídos são mostrados ruindo e/ou em chamas. Os polícias vestem fardas futurísticas (baseadas nas utilizadas hoje) e andam em um automóvel com o estilo da época (baseado nos carros modelo atuais). A Lua está se desfragmentando e o céu está repleto desses fragmentos, dentro ou fora da atmosfera. D: - De 5.1 a 8.2.: /Os elóis vivem em construções parecidas com ocas indígenas, localizadas na encosta de um penhasco. A iluminação parece ser feita por fogo. As construções são feitas de madeira e corda. O transporte mais utilizado parece ser o barco. A natureza é bastante valorizada. A lua é mostrada ainda em fragmentos./ /Os morlocks vivem no subterrâneo e utilizam uma tecnologia mais avançada que a dos elóis, mostrada pela dominação da metalurgia e da ferraria. É possível que também conheçam algo de hidráulica, fato mostrado no elevador que desce a máquina do 25

tempo para o subterrâneo.

Rede temática 3:

A: Progresso X B: Conservadorismo

Alguns elementos figurativos que correspondem à rede temática 3: A: /Invenções mostradas no laboratório de Alexander. (1.2)/ /Automóvel (1.3)/ /Máquina do Tempo (2.1)/ /Colônias Lunares (4.1)/ /Edifícios Tecnológicos (4.1)/ B: /Chapéu-coco (1.1)/ /Fragmentação da Lua devido às explosões das colônias (4.2)/ /Antigas inscrições em pedra (5.3)/ /Resistência do edifico antigo da biblioteca (6.1)/ /Destruição da máquina do tempo (7.1)/

Elementos axiológicos que correspondem à rede temática 3: A: -1.1.: Alexander defende o progresso tecnológico e o fim do conservadorismo. - 1.2.: Alexander defende as teorias do jovem Albert Einstein. - 8.2.: Philby atira o chapéucoco fora, representando sua adesão à idéia de progresso. B: -1.1.: Philby defende o conservadorismo e a preparação de profissionais para aquele mundo. - 6.3.: O Uber Morlock mostra como a vida de Alexander seria feliz se ele não fosse tão interessado no progresso tecnológico.

Interpretação: A Máquina do Tempo encaixa-se, como foi visto, na fase cyberpunk da ficção científica. Essa fase ressalta a idéia de que um presente como o nosso não pode dar lugar a um bom futuro. A continuidade desse gênero está muito ligada à crise do capitalismo,

26

marcada por uma grande depressão econômica desde a década de 1970. Soma-se a isso a falência da esperança comunista desde a queda do Muro de Berlim, em 1989. O personagem principal do filme, o viajante do tempo, também está incluído na temática do cyberpunk. Os heróis dessa fase são frágeis e oprimidos pela sociedade. Podemos notar que isso acontece com Alexander, pois este não consegue salvar sua namorada e também não é compreendido em seu tempo. Contudo, algo escapa da temática dessa fase da ficção científica: o final do filme. A grande maioria das histórias cyberpunks não tem um final feliz. O herói é quase sempre derrotado pelo sistema. No caso de A Máquina do Tempo, Alexander consegue derrotar os morlocks e iniciar a construção de uma sociedade onde ele se encaixe melhor do que na do início do século. A tecnologia também não é retratada com muito zelo. Desde o início do filme, o progresso científico é criticado. A exploração espacial, retratada na colonização lunar, resulta em uma tragédia sem precedentes: a desfragmentação da Lua. O último sinal de que a tecnologia não tem um bom lugar no nosso mundo é dado com a destruição da máquina do tempo pelo seu próprio construtor. A exacerbação do individualismo, presente em nosso tempo, também tem um reflexo no filme. Nesse sentido, a luta pela libertação dos elóis da ameaça morlock se dá por meio da luta de um homem apenas. Alexander derrota todos os morlocks sozinho, enquanto os elóis apenas observam. Outro retrato do individualismo é o Uber morlock, que representa a raça subterrânea inteira. Assim, quando Alexander destrói o “representante” dos morlocks, ele, simbolicamente, acaba com toda a espécie – fato que se consuma depois.

Considerações finais:

Como pudemos demonstrar neste trabalho, modificações consideráveis foram feitas na decodificação da obra original de H. G. Wells de 1895 para o filme de 2002 d. C.. As mudanças em determinados momentos são tão grandes que podemos afirmar, sem medo de estar cometendo um exagero, que a obra original apenas cede alguns dados, a partir dos quais o filme baseou-se. Quiçá, o elemento de ligação entre as duas obras seja o mundo dos

27

Morloques e Elóis. Mesmo assim, é uma ligação apenas nominal, pois os elementos figurativos são bem diferentes. O livro mostra uma intensa preocupação com o rumo das relações sociais e dos progressos tecnológicos do tempo de H. G. Wells. No caso do filme, tanto o problema tecnológico quanto o das relações sociais são pormenorizados, apesar de uma breve passagem pelos anos de 2030 e 2037d C., onde pôde ser visto, no primeiro caso, um futuro, aparentemente promissor, no qual existe uma colonização da lua. Este primeiro futuro mostrado no filme é dominado por propagandas e um estilo clean. Contudo, o futuro decorrente deste, é a aniquilação da maior parte da vida na terra causada por uma explosão da Lua, decorrente de falhas na sua colonização. Nestes dois futuros, referências ao estilo cyberpunk são bem fortes, como afirmado anteriormente. Não podemos falar em cyberpunk, evidentemente, para o caso do original de Wells, até porque não existe essa “paradinha” enquanto ele viaja para o ano de 802.701 d. C.. Outra diferença é que, no livro o explorador em questão faz sua pesquisa acerca da quarta dimensão (tempo), num intuito de desenvolver uma máquina que pudesse viajar no tempo, mas sem nenhum motivo em especial que não fosse sua “curiosidade científica”. No filme, ao contrário, o professor faz sua pesquisa para salvar o seu grande amor que morrera tragicamente. Isto significa que muito mais do que viajar para o futuro, ele desejava conseguir mudar o passado. Até o mundo dos Elói e Morloques é completamente diferente do original. No filme os Morloques são mostrengos superpoderosos, enquanto os Elói são Homo sapiens parecidos fenotipicamente com indígenas. No livro os Elói não são Homo sapiens, apesar da semelhança, e os Morloques apesar do aspecto desagradável, são seres frágeis, em comparação com o explorador. Muitas outras diferenças poderiam ser traçadas, pois o filme abandona quase todas as referências figurativas do livro. E no tocante ao tratamento dispensado às redes temáticas, podemos afirmar que muito pouco sobrou do original. Como sói acontecer no caso do cinema de Hollywood, a ênfase do filme é voltada para a perda de um grande amor, a mudança do futuro pelo ente individual, numa espécie de destino manifesto. A 2ª versão cinematográfica de A máquina do tempo, assim como o livro original, é uma distopia, entretanto, enquanto neste caso são discutidos de maneira profunda os elementos sociais do

28

presente do autor, no filme estes são deixados de lado para mostrar uma aventura de bandidos e mocinhos. Além disso, o final do filme é um clichê característico do cinema made in USA, nele, a dualidade entre Morloques e Elói é encerrada com uma cena pirotécnica, que mesmo o amante mais fervoroso dos filmes de ficção científica hard sentir-se-ia ofendido e, mui provavelmente, lembrar-se-ia, das grandes perseguições de Jason atrás de suas vítimas, na infindável, mas ao menos engraçada, Sexta-Feira 13. O final do livro, com o desaparecimento do nosso pesquisador, nos deixa, ao menos, a sensação de que aquela história continua em algum lugar, quem sabe no futuro.

29

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.