Ações afirmativas e licenciatura: estudo de representações sociais de alunos cotistas da Universidade Federal do Paraná sobre a docência

October 4, 2017 | Autor: Caio Henrique | Categoria: Social Sciences, Representaciones Sociales, Ações Afirmativas
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – SCHILA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO

CAIO HENRIQUE DE ALMEIDA

AÇÕES AFIRMATIVAS E LICENCIATURA: ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS COTISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SOBRE A DOCÊNCIA

CURITIBA 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

CAIO HENRIQUE DE ALMEIDA

AÇÕES AFIRMATIVAS E LICENCIATURA: ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ALUNOS COTISTAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SOBRE A DOCENCIA

Monografia apresentada como requisito parcial a conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal Do Paraná. Orientador: Prof. Drº Rafael Ginane Bezerra

CURITIBA 2014

Para meu pai, Jair e minha mãe Orliete.

AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço ao professor Rafael por ter aceitado o desafio de orientar este trabalho. Sua paciência e apoio foram fundamentais. Também agradeço o apoio do professor Alexandro. Aos camaradas do PIBID: Marisa, Paulo e Ramiro pelas parcerias e as conversas sobre o ensino da Sociologia. Aos colegas de graduação, onde as trocas de conhecimento e experiências de vida deram importantes contribuições para a minha formação. Ao Luis pela amizade, cafés e conversas dominicais que me ajudaram a resgatar minha “humanidade” e a vontade para continuar. A querida Jessica pelo carinho, amor e companheirismo ao longo da graduação. Aos meus amigos e ex-colegas de banda: Bruno e José Lucas que me ensinaram a cantar sobre “o principio da revolução”. Ao pré-vestibular Em Ação pela oportunidade e por não deixar meu sonho morrer. Ao Conhecimento em Luta pela oportunidade de iniciar minha tão desejada carreira docente. Aos amigos de longa data: Piter, Danilo, Eder e a Sil. Agradecimento especial aos cotistas que contribuíram para a realização desse trabalho. Por fim, ao meu pai, minha mãe e meu irmão. Este trabalho é para vocês. Obrigado.

Haverá mais um retorno a partir daqui? Não era o que queríamos: tudo vai ruir! Pensei não existir nada além daqui Me tornei estável sem estar bem Pensava em engordar e envelhecer Quando nos encontramos em nós Em vida, viver, aqui! Sentirei falta de todos vocês Sabíamos que tudo tem um fim Seremos homens melhores onde estivermos O mundo é que está errado! Bem-vindo ao clube – D. F.

RESUMO Este trabalho investiga as representações sociais de um grupo de alunos cotistas da Universidade Federal do Paraná a respeito da docência. Discute as ações afirmativas e problematiza a correlação entre a entrada na universidade através do sistema de cotas e a escolha pela modalidade da licenciatura. Tendo como pano de fundo a Teoria das Representações Sociais, tal como sugerida por Serge Moscovici, o trabalho pretende verificar como os alunos cotistas atribuem sentido a essa correlação. Através de revisão bibliográfica e de entrevistas qualitativas realizadas com sete alunos cotistas, o trabalho, sem pretender explicações generalizantes, avaliando os dados empíricos levantados de modo circunscrito, procura contribuir para a reflexão a respeito da formação de professores para a Educação Básica no Brasil. Nesse sentido, argumenta que, para os alunos entrevistados, a opção pela licenciatura e, consequentemente, pela carreira docente, está associada a um conjunto de ideias que articula, de maneira peculiar, as noções de vocação, missão e dom. Palavras-chave: Ações Afirmativas; Licenciatura; Representações Sociais.

ABSTRACT This essay investigates social representations by a determained group of quota students fromParaná’s Federal University-BR concerning the teaching metier. It is intended here, to discuss afirmative actions opening a debate about the connection between the those who reach the Universty by the quota system and the choice for the teaching craft. Based on the Social Representations Theory, as sugested by Sergio Moscovici, the essay intends to veryfy how quota studentes establish this connection.Using bliograohical review and qualitative interviews performed with seven quota students, the article looks foward to contribute for a reflexion excercise, concerning teachers formation inside Brazil’s basic education, putting aside generalyzing explanations, through a data review that possibilitates a cohesive understanding.. Considering this, the article also argues that the option for teaching formation foolowed by a carrer is associated, by the students, to several ideas wich articulates vocation,goal and gift notions in a very particular way. Key words: Affirmative Action; teaching; Social Representations.

SUMÁRIO

1.INTRODUCÃO .................................................................................................... 9-10 1.1. DA APROVAÇÃO DA LEI E DIAGNÓSTICOS ............................................ 10-12 1.2. DAS CLASSES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA ESCASSEZ AO NOVO PERFIL DO INTERESSADO .......................................... 12-15 2.AS AÇÕES AFIRMATIVAS: A POLÍTICA E SEUS SIGNIFICADOS........ 16-17 2.1. DAS ORIGENS E JUSTIFICATIVAS .............................................................. 17-19 2.2 .DA CONSTITUCIONALIDADE E A LUTA POR DIREITOS ....................... 19-20 2.3 .DA RESERVA DE VAGAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ................................................................................................................... 21-22 2.4 .DA EXPANSÃO DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR E A DEMOCRACIA RACIAL .................................................................................................................... 22-27 2.5 .OUTRAS EXPERIÊNCIAS: O CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE ................................................................................................................... 27-29 3 .A LICENCIATURA: AS POLÍTICAS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE ............................................................................................................ 30-31 3.1. DAS MODALIDADES DE FORMAÇÃO ........................................................ 31-34 3.2 .DA ATRATIVIDADE DA CARREIRA ........................................................... 35-37 4 .AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: PRÁTICAS E IDEIAS......................... 38 4.1. AS REPRESENTAÇÕES: SOCIAIS E COLETIVAS ...................................... 38-40 4.2 .DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: QUALIFICANDO O CONCEITO ...... 40-42 5.DO ESTUDO DE CASO REALIZADO ............................................................ 43 5.1 .DAS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS PRESENTES NO DISCURSO ................. 43 5.1.2.DAS AÇÕES AFIRMATIVAS ........................................................................ 44-47 5.1.3.DA LICENCIATURA ...................................................................................... 47-50 5.1.4.DA CARREIRA DOCENTE............................................................................ 51-54 6 .CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 55-56 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 57-142 ANEXOS .................................................................................................................. 64-144

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1.INTRODUÇÃO “Não existe crítica social possível sem a articulação e a dramatização do sofrimento humano que foi relegado ao silêncio pelo domínio simbólico dos vencedores.” Jessé Souza

A problemática deste trabalho foi originada ao longo da minha trajetória no curso de graduação em Ciências Sociais. Ingressei na UFPR pelo sistema de cotas sociais em 2010 depois de duas tentativas frustradas de ingresso no bacharelado em Ciências Economias, outra tentativa igualmente frustrada de ingresso no curso vespertino de História, e logo nas primeiras aulas vi que seria possível realizar o sonho de ser professor. Durante esse percurso percebi a diferenciação feita pelos colegas entre o bacharelado e a licenciatura. Chamava a atenção o fato de a licenciatura ser considerada como algo menor, inferior ou como um complemento ao currículo de bacharelado. Minha turma foi a última a cursar o “currículo velho” que mantinha as duas modalidades juntas. A partir de 2011, com a implantação de um “currículo novo”, o bacharelado e a licenciatura foram separados e o aluno passou a optar pela formação entre quatro linhas diferenciadas de profissionalização: licenciatura em Sociologia ou bacharelado em Sociologia, Antropologia ou Ciência Política. Mais tarde percebi que a diferenciação existente entre bacharelado e licenciatura, tal como observada nas Ciências Sociais, caracteriza também os demais cursos da universidade. Nesse sentido, um dos fatos que mais chamou a minha atenção foi a evidência de que os alunos e alunas que optam pela licenciatura são, predominantemente, estudantes egressos de escolas públicas e, de forma igualmente predominante, cotistas sociais e raciais. E foi a partir de conversas informais com esses estudantes que encontrei várias trajetórias escolares semelhantes à minha, bem como a mesma identificação com a carreira docente. Dada essa primeira constatação baseada na minha experiência, o presente trabalho surgiu como uma tentativa de refletir sobre as transformações que vêm ocorrendo no ambiente universitário brasileiro, particularmente no que diz respeito à formação de professores para a Educação Básica, e a sua relação com a minha própria trajetória. Por conta disso, o presente trabalho parte da correlação entre o ingresso nas universidades públicas através do sistema de cotas e a opção pela modalidade de licenciatura. O objetivo que se apresenta, portanto, tendo como suporte alguns pressupostos da Teoria das Representações Sociais, tal como elaborada por Serge Moscovici, consiste em verificar os sentidos mobilizados por um grupo de alunos cotistas para compreender a correlação

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mencionada acima. Dado que as representações sociais sempre articulam ideias e práticas, partimos do pressuposto de que esta análise pode oferecer algumas contribuições para a reflexão a respeito dos sentidos presentes na escolha dos alunos cotistas pela carreira docente. Assim, ao tomarmos as representações sobre cotas e licenciatura como um objeto de estudo, buscaremos descrever as racionalizações que os agentes atribuem às suas práticas justamente na medida em que comunicam suas expectativas em relação ao curso, aos desafios encontrados durante a formação, às expectativas em relação à continuidade dos estudos e à entrada no mercado de trabalho. 1.1. DA APROVAÇÃO DA LEI E DIAGNÓSTICOS Procuramos fazer uma breve contextualização do debate sobre políticas de ações afirmativas. Foram importantes as contribuições acadêmicas do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) ligado ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos – IESP vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seus estudos demonstram que além das alterações ocasionadas no corpo discente das instituições de Ensino Superior, outras mudanças estruturais também foram produzidas após a implementação da lei nº 12.711/2012 (Lei de Cotas), regulamentada pelo decreto nº 7.824 e pela portaria normativa 18, publicada em 15 de outubro de 2012. Essa lei torna obrigatória a reserva de vagas para pretos, pardos, indígenas, alunos de escolas públicas e de baixa renda em instituições federais de Ensino Superior e técnico. A Lei de Cotas, como ficou popularmente conhecida, regulamenta o sistema de reservas de vagas que já existia em pelo menos 40 das 58 universidades que praticavam alguma modalidade especifica de política afirmativa em seus vestibulares. Dentro desse contexto, podemos afirmar que as ações afirmativas, além de causarem significativas mudanças na estrutura do Ensino Superior com o ingresso das classes sociais historicamente marginalizadas, ganharam bastante visibilidade na sociedade, repercutiram nacionalmente através dos meios de comunicação e geraram acirrados debates. Desses debates, é conveniente reter alguns argumentos básicos na medida em que nos informam a respeito das ideias, valores e sentidos que vêm sendo mobilizados para se fazer referência à Lei de Cotas e suas implicações para o Ensino Superior no Brasil. Podemos citar, por exemplo, a visão de três instituições que sintetizam tais argumentos: ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), ANDIFES

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(Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) e SINAPE (Sindicatos dos Estabelecimentos Particulares de Ensino). Durante seus últimos congressos nacionais, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES – SN (2006) adotou um tom crítico em relação ao sistema de cotas e ao Programa Universidade para Todos (PROUNI). Essa postura ficou materializada em documento oficial publicado num momento anterior à aprovação da Lei de Cotas, refletindo uma postura cautelosa com os desdobramentos de tal política, salientando que a mesma deve ser complementada por iniciativas como a universalização da Educação Básica, a universalização e gratuidade plena no Ensino Superior e o estabelecimento de formas de articulação entre Educação Básica e Superior. A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES (2014), em postura que vai ao encontro da ANDES, tem salientado que a inclusão social deve levar em consideração não apenas o acesso, mas também a permanência dos estudantes no Ensino Superior. Nos dois casos citados, justiça e igualdade substantiva são os valores que se destacam nos posicionamentos. Por outro lado, os Sindicatos dos Estabelecimentos Particulares de Ensino se mostraram contrários ao sistema de cotas porque o consideram injusto em relação aos alunos que estudam em escolas particulares. O SINEPE – DF (2012) argumentou, de forma bastante ilustrativa a respeito dos pressupostos que fundamentam essa posição, que o sistema de cotas fere os princípios da meritocracia, únicos justos e adequados para verificar a competência dos alunos, dessa forma prejudicando aqueles matriculados em instituições particulares. Nesse caso, observase que a relação não ocorre entre justiça e igualdade, mas entre justiça e mérito. Igualdade, justiça e mérito são, portanto, expressões recorrentes nas análises elaboradas a respeito da Lei de Cotas. Tal como será demonstrado no capítulo dois do presente trabalho, diferentes perspectivas de equacionamento entre esses três princípios, além de distinguirem as posições em relação ao sistema de cotas, podem nos ajudar a contextualizar e compreender os depoimentos dos alunos cotistas que foram entrevistados durante a pesquisa aqui relatada. Dito de outra forma, no momento da análise, igualdade, justiça e mérito serão convertidos em chaves de leitura para o tratamento do conteúdo derivado das entrevistas. Ainda em relação aos desdobramentos da aprovação da Lei de Cotas, FERES JUNIOR; DAFLON; RAMOS; MIGUEL (2013) informam que o número de vagas reservadas a cotistas na rede pública de Ensino Superior chegou a 59.432 em 2013, correspondendo a

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31,5% do total de vagas de todo o sistema de ensino. Do total de vagas reservadas, 21.608 vagas (correspondendo a 11,4%) ficaram destinadas a estudantes de baixa renda ou/e oriundos de escolas públicas e 37.028 vagas (correspondendo a 19, 6%) ficaram reservadas a estudantes negros e indígenas. Na UFPR, segundo PORTO, L.; SILVA, V. P.; OTANI, M. (2012) até o vestibular de 2010, aproximadamente 9.720 estudantes ingressaram pelo sistema de cotas, 2.390 pelas cotas raciais e 7.339 pelas cotas sociais. A expressividade desses números indica a relevância do sistema de cotas em conexão com a expansão do Ensino Superior público no Brasil. Embora o objeto de reflexão do presente trabalho derive desse universo, é conveniente ressaltar que não é nossa intenção explorá-lo através de pesquisa quantitativa. Ao contrário, desenhamos uma pesquisa de natureza qualitativa e de caráter exploratório. Nesse sentido, priorizamos um número reduzido de entrevistas feitas em profundidade para possibilitar a identificação das associações de ideias presentes nos depoimentos dos alunos cotistas. Também cabe salientar que o contato inicial com esses alunos derivou do meu círculo de convívio dentro da universidade e das interações que estabeleci em função de minha participação no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). 1.2. DAS CLASSES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: DA ESCASSEZ AO NOVO PERFIL DO INTERESSADO A articulação da Educação Básica e o processo de formação de professores também foi um tema recorrente no debate posterior a aprovação da lei. Após 2012 alguns meios de comunicação diversos, como por exemplo, o jornal Gazeta do Povo (2013) e a Revista Educação (2013), publicaram matérias que alertavam sobre a escassez de professores na Educação Básica e as dificuldades de atrair novos professores para as salas de aula. Também chamaram a atenção para a evasão nas licenciaturas, questionando a qualidade da formação dos professores. Já a revista Nova Escola (2012), a partir de um estudo sobre a baixa atratividade da carreira docente no Brasil, defende que houve uma mudança no perfil de quem escolhe a docência, sugerindo que a maior parte dos candidatos que optam por ela reúnem as seguintes características: são oriundos de escolas públicas, pertencem a famílias de baixa renda e com pouca escolarização e, em muitos casos, conciliam trabalho e estudo. Segundo a

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referida publicação, esses sujeitos se enquadram no que pode ser chamado de “fraco repertório cultural” (SALLA & RATIER, 2012, p.12)1. Assim sendo, seria pertinente perguntar: o que levaria jovens que estudaram a vida inteira na escola pública, portadores de “fraco repertório cultural”, a optarem por cursos de licenciatura? Ou ainda, admitindo-se como verdadeiro o diagnóstico apresentado acima, a Educação Básica no Brasil estaria em risco por conta do processo de recrutamento dos novos professores. Esses, na verdade, não fariam uma opção efetiva. Ao contrário, seguem por uma das únicas carreiras que se apresentam como viáveis em função da sua ausência de qualificação. Optamos por converter esse diagnóstico em questionamento para os cotistas que foram entrevistados. O objetivo desse questionamento consistiu em verificar como os sujeitos da pesquisa avaliam essa situação. Seus depoimentos nos ofereceram associações de ideias muito distantes de algo que pode ser compreendido como ausência de escolha ou falta de opção. Jessé Souza (2012), em seu trabalho sobre a formação de uma nova classe trabalhadora no Brasil recente nos oferece uma possibilidade sociologicamente fundamentada para compreender o vínculo entre indivíduos integrantes de classes destituídas de capitais impessoais e a opção por carreiras supostamente marcadas por baixa recompensa material e simbólica. Esses indivíduos, apesar de não possuírem capital econômico ou cultural, passaram por processos de socialização que os capacitaram a conciliar disciplina, tenacidade e uso planejado do tempo. Para eles, aquilo que o senso comum – ou a simples falta de bom senso – caracteriza como uma profissão de baixas recompensas materiais e simbólicas, em função da trajetória que construíram, pode representar uma conquista que demanda esforço e mérito. Em outras palavras, nas minhas próprias palavras, quem já trabalhou nos empregos que eu trabalhei, tem motivos de sobra para enxergar na sala de aula e no magistério uma tremenda experiência de ascensão social. Nitidamente próximos às características dos integrantes dessa nova classe trabalhadora descrita por Jessé Souza, os entrevistados da pesquisa aqui relatada mobilizam sentidos que ressaltam o próprio mérito por terem chegado à universidade, cursado a licenciatura e abraçado a profissão de professor. Assim fazendo, também mobilizam ideias amplamente assentadas no imaginário social a respeito da profissão. Acreditam que vocação, dom e missão

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A reportagem encontra-se na edição da revista Nova Escola (2012) mencionada.

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são elementos fundamentais para exercê-la. Essas ideias, no entanto, articuladas às suas trajetórias, reforçam a representação de que a profissão de professor não é para qualquer um, mas apenas para aqueles que reúnem as condições necessárias para enfrentar os desafios que estão postos. Essas questões orientaram a reflexão elaborada no presente trabalho e ajudaram a orientar as entrevistas com os sete alunos cotistas. As entrevistas foram abertas e organizadas através de um tópico de temas que segue anexado na parte final do texto. Os cotistas também foram defrontados com a necessidade de avaliar quatro afirmações relacionadas ao que poderia ser chamado de baixa atratividade da carreira docente: recrutamento de professores entre indivíduos de rendimento escolar baixo, declínio do Ensino Superior em função do sistema de cotas, inadequação do modelo que rege as licenciaturas nas universidades brasileiras e precariedade das condições de trabalho dos professores. As entrevistas foram conduzidas entre os dias dezoito de Setembro e quatro de Novembro de 2014, obedecendo aos critérios de “bola de neve” e de redundância: o primeiro entrevistado sugeriu o contato do segundo e assim por diante de modo a assegurar a interação com indivíduos que se conhecem mutuamente; as entrevistas foram encerradas no momento em que determinadas associações de ideias passaram a ser repetidas de maneira enfática. As entrevistas foram transcritas e o seu conteúdo integral, atendendo ao princípio de transparência que está associado à condução de pesquisas qualitativas, foi anexado ao final do trabalho. Seguindo a metodologia de análise proposta por Mary Jane Spink (2000), as representações sociais foram identificadas a partir da leitura do material transcrito em função das seguintes chaves de leitura: mérito, cotas, licenciatura, carreira docente, refutações à baixa atratividade da carreira docente e projeções de futuro. Feito isso, o segundo procedimento foi caracterizado pela leitura flutuante das entrevistas, onde a escuta do material gravado foi intercalada com a leitura do material transcrito. Por fim, o terceiro procedimento foi a construção de um mapa de associações de ideias para possibilitar uma melhor visualização das representações sociais em questão. Assim como o conteúdo das entrevistas, esse mapa que representa o principal esforço analítico do trabalho segue em anexo. Finalmente, em termos formais, o trabalho ficou assim dividido: no primeiro capítulo, apresenta-se um breve histórico da política de ações afirmativas e discute-se algumas das principais justificativas políticas, sociais e jurídicas para a sua implementação no sistema de Ensino Superior brasileiro; no segundo capítulo, discute-se a política de formação docente no

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Brasil e problematizam-se algumas questões ligadas à atratividade da carreira docente; o terceiro capítulo ficou reservado para a apresentação dos pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria das Representações Sociais; e por fim, no quarto capítulo, apresentase a análise das entrevistas e os resultados obtidos através da pesquisa.

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2. AS AÇÕES AFIRMATIVAS: A POLÍTICA E SEUS SIGNIFICADOS A partir da segunda metade do século XX e início do XXI as lutas históricas dos movimentos sociais produziram transformações importantes no cenário politico das democracias modernas. Algumas dessas mobilizações em prol a ampliação de direitos a minorias e grupos marginalizados materializaram-se em políticas de ações afirmativas por tudo o mundo. No caso de pessoas ou grupos historicamente discriminados, a aplicação da ação afirmativa precisa ser focalizada na tentativa de discriminar positivamente visando estabelecer relações sociais mais igualitárias. A ação procura dar um tratamento diferenciado às pessoas ou grupos marginais oferecendo a elas oportunidades de ascensão social, tendo como objetivo desenvolver a equiparação em relação aos demais grupos sociais. Ela é temporária, possuindo como meta a eliminação das desigualdades sociais, econômicas e culturais. Uma vez eliminadas, a política não será mais necessária. Segundo a definição do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa – GEMAA (2011), as ações afirmativas são focalizadas no combate de discriminações de: gênero, raça, religião, classe ou de casta. Também podem ter como objetivo o aumento da participação política das minorias, a garantia de acesso à saúde, educação, emprego, proteção social, e assegurar o reconhecimento cultural e identitário. Ou seja, são medidas centralizadas na promoção da igualdade de oportunidades sociais, políticas e culturais que são colocadas em prática pelo Estado que orienta a aplicação das políticas afirmativas através do estabelecimento de metas, cotas, bônus, fundo de estímulos, bolsas de estudos, empréstimos, preferências em contratos públicos, distribuição de terra e habitações, reparações financeiras e etc. No caso das universidades públicas, as reservas de vagas destinadas aos afrodescendentes, indígenas e estudante de escolas públicas configuram-se como uma destas modalidades. Na reflexão desenvolvida neste trabalho, a ação afirmativa será compreendida a partir da sua implementação e a operacionalização das denominadas políticas de “cotas raciais2” e das “cotas sociais”. A ideia básica das “cotas” é garantir um benefício ao candidato pertencente a setores desprivilegiados em suas trajetórias escolares. Refiro-me aos candidatos negros e aqueles oriundos do ensino público. Aqueles são ligados a um passado de escravidão 2

Estamos nos referindo na já citada lei de N° 12.711, de 29 de agosto de 2012 que estabeleceu a obrigatoriedade das reservas de vagas em todas as universidades federais.

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e discriminação racial. Esses acabam tendo acesso a um ensino de baixa qualidade (salvo as exceções que tiveram a oportunidade de estudar nas escolas públicas de qualidade). Assim, na concorrência por uma vaga no Ensino Superior público, quando comparados com indivíduos que tiveram melhores oportunidades na formação escolar, os negros e estudantes de colégios públicos estarão em desvantagens frente à disputa. Dessa forma, justifica-se o benefício oferecido aos candidatos. 2.1. DAS ORIGENS E JUSTIFICATIVAS De acordo com os autores João Feres Júnior e Jonas Zoninsein (2008) as origens, causas, inspirações e as principais motivações para a existência das políticas de ações afirmativas estão baseadas no conceito de igualdade substancial. Esse conceito postula que o objetivo de qualquer sistema jurídico-politico é a promoção da igualdade de fato entre seus membros e, não somente submete-los a critérios universais de igualdade. Para facilitar a compreensão sobre a ação afirmativa os autores esclarecem que a legalidade e a moralidade são duas condições necessárias para a garantia da operacionalidade de tal política. Por um lado, o principio da legalidade é o que garante o caráter constitucional, ou seja, a implantação da ação deve estar em consonância com o sistema legal do país. Por outro lado, o principio da moralidade seria justificado conforme a relação que a política afirmativa mantém com os valores morais centrais de determinada comunidade política. No caso das sociedades capitalistas, igualdade e mérito são apresentados como valores morais fundamentais para condução da vida e na gerencia das instituições como o mercado e o Estado. A igualdade está ligada ao acesso a oportunidades, pois, ela garante o mínimo de condições necessárias para os indivíduos conseguirem competir, viver e usufruir dos bens e serviços da sociedade. Já o mérito está fundamentalmente ligado ao mercado que realiza as distribuições de bens e recompensas de acordo com as habilidades e as competências de cada pessoa. Segundo FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN (2008), entre esses dois princípios morais existe uma hierarquia, onde historicamente a igualdade exerce um papel de regulamentação do mérito: A extensão do princípio da igualdade sobre o mérito é também o fulcro do Estado de Bem-Estar Social (...) no qual o Estado garante a igualdade das leis e o mercado a premiação do mérito – corresponde ao liberalismo clássico, ou mais precisamente, a uma forma pura de liberalismo. No Estado de Bem-Estar Social reconhece-se que, sem um mínimo de garantias materiais e morais, parcelas da população

18 ficariam incapacitadas de gozar, em pé de igualdade com os demais cidadãos, dos direitos garantidos por lei. Portanto, faz-se necessário através de impostos e taxas, e a distribua para essas parcelas. Em outras palavras, o princípio da igualdade, para melhor se realizar, justifica uma redução na esfera de atuação do princípio do mérito.” (FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN, 2008, p.16).

Cabe lembrar que a discussão segue pelo caminho da implantação de uma igualdade substancial, ou, se preferimos, podemos denomina-la de material, no sentido de tornar concreta a equidade nas condições de competição entre os indivíduos. Essa ideia de igualdade material torna-se legitima dentro da ordem social democrática que constitucionalmente garante liberdade e igualdade a todos os cidadãos. Por sua vez, a lógica do mercado não se relaciona diretamente com o funcionamento da ação afirmativa, pois se vincula essencialmente à lógica da desigualdade de acesso aos bens e serviços produzidos pela sociedade. Então, a atribuição de mérito entre os concorrentes perderia o sentido, já que os mais aptos a participarem do mercado serão sempre os contemplados. Agora, quando o mérito é mantido, criam-se condições para a manutenção de relações sociais entre privilegiados e desprivilegiados. Assim, é necessária uma compensação social aos desprivilegiados. Como por exemplo, se consideramos a concorrência entre um candidato de escola pública e um candidato oriundo do ensino privado, constataremos que o ponto de partida para essa disputa é desigual, ou seja, não existe uma igualdade material consumada. Se consideramos que o candidato que tem sua origem no ensino básico público teve acesso a uma qualidade de ensino inferior, as condições de concorrência tornam-se desiguais. Tomados os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2013, constataremos que a média do ensino privado ficou acima do ensino público em todas as modalidades de ensino. Se tomarmos os dados nacionais somente do ensino médio, vemos que a educação privada obteve 5,4 pontos, enquanto a educação pública obteve 3,4 pontos. Ou seja, o ensino privado ficou dois pontos acima. Ainda de acordo com os dados do IDEB (2013), considerados aqueles referentes ao Estado do Paraná, temos o seguinte quadro: o ensino médio privado obteve 5,7 pontos, enquanto o público ficou com 3,4 pontos. Percebe-se que a diferença entre as médias das duas modalidades de ensino no Paraná ficaram acima da nacional. Dessa forma, os processos seletivos baseados em uma estrutura de meritocracia individual não oferecem uma oportunidade de igualdade de competição entre seus concorrentes. Dada as distorções encontradas entre a qualidade do ensino ofertado pela rede pública em contraste com a rede privada, a reserva de vagas torna a disputa mais democrática.

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2.2. DA CONSTITUCIONALIDADE E A LUTA POR DIREITOS Como vimos, a igualdade é um principio democrático básico de competição, onde se deve levar em conta as diferenças e desigualdades sociais e econômicas dos sujeitos que participam do jogo. O que se procurou argumentar até aqui é que o caráter compensatório da ação afirmativa ajuda a tornar o acesso às universidades públicas mais democráticas. Para FERES JÚNIOR & ZONIENSEIN (2008, p.16), o Estado seria o ator central na promoção e proteção da dignidade humana, sendo também de sua responsabilidade o fortalecimento dos laços mais fracos (e desiguais) da sociedade, aplicando quando necessário uma discriminação positiva, procurando defender os que mais necessitam da sua intervenção. Este seria o “espírito” da lei incorporado à elaboração e prática da ação afirmativa. Em termos práticos, a discriminação positiva deve ser orientada para indivíduos e/ou grupos historicamente excluídos ou marginalizados dos processos institucionais que compõem a sociedade, como por exemplo, o mercado de trabalho, a educação, a saúde e a política. Ela também funciona como um mecanismo de superação de desigualdades materiais e imateriais, incorporando o resultado das lutas históricas por direitos civis, afirmação de direitos e cidadania por populações marginalizadas. A esse respeito, serve como exemplo a luta do movimento operário reivindicando melhores condições de trabalho e vida e pela redução da jornada de trabalho que se concretizou em forma de lei que garantia uma jornada máxima de 8 horas trabalhadas. Configurando-se assim em uma política que procurou reconhecer os direitos dos trabalhadores. Outro exemplo que poderia ser mencionado é a luta pelos direitos civis do movimento negro nos Estados Unidos na década de 60 e também as reivindicações do movimento estudantil e feminista. As mobilizações e reivindicações feitas pelo movimento negro nos Estados Unidos foram importantes para a história da política de ação afirmativa porque foi a partir delas que surgiram as primeiras políticas públicas voltadas para um grupo minoritário (MOEHLECKE, 2002, p.198). Os negros americanos da década de 1960 lutavam por oportunidades iguais para todos e contra as leis segregacionistas, cobrando do Estado melhores condições de vida para a população negra. Vemos nesses exemplos o inicio das ações políticas de caráter compensatório que ocorreram na história recente da sociedade moderna. Na Europa, por exemplo, as primeiras políticas datam o ano de 1976, recebendo o nome de ação ou discriminação positiva e, no ano

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de 1982 a Comunidade Econômica Europeia insere o termo discriminação positiva em seu primeiro “Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades”. Ou seja, são novos atores pertencentes a minorias políticas que começam a participar do jogo democrático lutando pela garantia de direitos, tendo como pano de fundo para as suas ações, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, ou porque não dizer, por relações sociais mais equitativas. Assim sendo, de acordo com o jurista Sérgio ABREU (2008, p.338) a competição entre indivíduos livres e iguais deve acontecer em pé de igualdade, sem favorecimento de grupo. Isso coloca o princípio de igualdade acima do mérito. Com isso, um dos grandes desafios das sociedades modernas seria garantir a equidade de direitos de todos os cidadãos. Esse princípio jurídico-político no constitucionalismo moderno, dado o ano de 1787 com a Constituição americana e o de 1793 com a Constituição francesa. Por exemplo, a “Declaração de direitos” do Estado da Virgínia, de 12 de Junho de 1776 dispõe no espirito de suas leis que: “todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm certos direitos inerentes, dos quais ao entrarem em sociedade não podem, por qualquer forma, privar ou desinvestir a sua posteridade.” (ABREU, 2008, pp.329330). Como se pode perceber, a ideia desses documentos é tornar legitima a igualdade entre os indivíduos perante a lei, caracterizando-se como um valor central nas sociedades modernas. Ressalte-se, no entanto, que a argumentação resenhada até aqui é de cunho puramente formal, pois na contemporaneidade encontra-se a persistência da perpetuação da desigualdade socialmente construída que precisa ser combatida pela sociedade com ações concretas do Estado. No cenário nacional, Sabriana Moehlecke (2002) esclarece que as primeiras políticas focalizando a diminuição das desigualdades raciais, sociais e de gênero foram operacionalizadas na década de 1990 com a reserva de até 20% das vagas dos partidos políticos para mulheres. Em âmbito mundial temos um parecer de 1968 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, traçando diretrizes aos Estados com a intenção de diminuir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho e incentivando a incorporação de mulheres às atividades produtivas. Cabe lembrar que tais políticas só ganharam força e visibilidade graças a mobilizações dos movimentos feministas a partir da década de 1960.

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2.3. DA RESERVA DE VAGAS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PORTO; SILVA; OTANI (2012) elaboram um panorama da implementação da política na Universidade Federal do Paraná. De acordo com os autores a política afirmativa na Universidade Federal do Paraná foi coloca em prática a partir da resolução 37/2004, aprovada pelo Conselho Universitário – Coun, que definiu os parâmetros gerais de orientação para a adoção de política de reserva de vagas. Conforme o artigo 1° dessa resolução, 20% das vagas ofertadas em todos os cursos de graduação, cursos técnicos e ensino médio, ficam reservadas aos candidatos afrodescendentes e outros 20% das vagas ficam reservadas para estudantes oriundos de escolas públicas. Esta política afirmativa tem como objetivo garantir a inclusão racial e a inclusão social, contados dez anos a partir de sua implementação. O vesstibular de 2005 foi o primeiro a apresentar o sistema de cotas raciais e sociais. Os critérios ficaram estabelecidos da seguinte forma: o vestibular foi dividido em duas fases. Na primeira fase não houve distinção entre os candidatos, isto é, todos competiriam como iguais. O sistema de cotas passou a valer na segunda fase. Nela, os candidatos que se inscreveram como cotistas raciais competiram pelas vagas reservadas (20%) aos candidatos afrodescendentes. Já os candidatos que se inscreveram como cotistas sociais disputaram as vagas destinadas (20%) a oriundos de escolas públicas. O restante das vagas (60%) ficaram reservadas à concorrência geral, ou seja, aos candidatos que não optaram por nenhuma modalidade de cotas. Dentro dos parâmetros gerais, decidiu-se pela não divulgação pública nominal dos cotistas, onde os nomes dos aprovados apareceriam em lista única. Por fim, ficou determinado a criação de uma comissão composta por membros da UFPR e do Movimento Negro para conduzir o processo de avaliação e certificação da autodeclaração dos aprovados. Dessa forma, os autores argumentam que desde o vestibular de 2005, quando se inicia o sistema de costas na UFPR, foi possível constatar mudanças significativas no perfil dos aprovados. No primeiro ano de implementação houve mais do que o dobro da presença histórica de negros entre os ingressantes, passando de 9,30% em 2004 para 20,57% em 2005. Esse percentual até o vestibular de 2010 oscilou entre 14,80% e 16, 46%, permanecendo abaixo do percentual de negros entre a população do Estado do Paraná que, de acordo com a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) 2008, era de 26,89%. O período analisado pelos autores equivale a cinco anos da implementação do sistema de costas na UFPR. Desde o vestibular de 2005 até o de 2010, o número de estudantes que

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ingressaram na universidade pelas cotas raciais foi de 2.390 e os estudantes que acessaram as graduações através das cotas sociais foram aproximadamente 7.339. Somando as duas modalidades, são 9.229 alunos contemplados. 2.4. DA EXPANSÃO DO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR E A DEMOCRACIA RACIAL O sistema de Ensino Superior encontra-se em um período peculiar da sua história desde a redemocratização do país. Sua expansão faz parte de um contexto de mudanças estruturais na sociedade que demanda algumas considerações. O quadro será apresentado com a ajuda de dados oficiais dos censos da Educação Superior3 disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Acompanhando os documentos oficiais disponibilizados pelo INEP (2010; 2011; 2012), foi possível identificar a dimensão da expansão do Ensino Superior no Brasil conforme a evolução dos números de matrículas nos cursos de graduação nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas. Segundo o Censo da Educação Superior de 2010 o total geral de matrículas foi de 6.379.299 nesse ano. Destas, 1.643.298 matriculas foram em IES públicas e 4.736.001 em IES privadas. Segundo o documento, o aumento do número de matrículas entre 2001 a 2010 foi de 110,1%. Em termos quantitativos, isso significa que em 2001 o total geral de matrículas foram mais de 3.000.000 e durante o período de uma década o total geral de matrículas chegou a 6.739.689, chegando a 7.037.688 conforme os dados do censo de 2012. Esse aumento foi acompanhado por um aumento no número de recursos públicos disponibilizados para o Ensino Superior no país que, entre 2000 a 2010, passaram da ordem de 0,7% para 0,9 % do PIB (FERES JÚNIOR et al, 2013, p.3). Uma das explicações para essa expansão é dada em função da demanda. Devido ao crescimento econômico alcançado pelo país nos últimos anos, criou-se um contexto favorável ao aumento da oferta para a qualificação da força de trabalho. Expansão justificada pelas políticas públicas implantadas pelo Governo Federal, incentivando o acesso e a permanência de estudantes na Educação Superior através de financiamentos, bolsas permanência e

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O Censo da Educação Superior é publicado anualmente e os dados são disponibilizados no portal no Inep http://portal.inep.gov.br/web/censo-da-educacao-superior . Para está pesquisa utilizaremos os dados dos censos de 2010, 2011 e 2012.

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subsídios através de políticas com o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Programa de Financiamento Estudantil (FIES). Dessa forma, com a sistematização dos dados, também foi possível acompanhar o quadro do aumento progressivo da modalidade de licenciatura ao longo dos últimos dez anos. Se retornarmos à década passada, em 2001 o número de licenciados no país foi da ordem de 648.666 matrículas. Esse número mais que dobra em 2011, chegando a um total de 1.356.329 matrículas. Evidencia-se um forte aumento na procura e na oferta de cursos de formação de professores no Brasil. Feita esta breve contextualização do sistema de ensino superior, cabe lembrar que o contexto histórico-político da sociedade brasileira foi marcado fortemente pelo mito da democracia racial. Esse mito sustentou a ideia de que não existiria preconceito étnico-racial no Brasil, assim como as barreiras sociais baseadas na existência da diversidade cultural e racial (MUNANGA, 2005, p.18). O debate em torno das desigualdades raciais sempre esteve presente nas muitas vozes que representam o Movimento Negro e foi a partir delas que a política de ação afirmativa começou a ganhar espaço no debate político. Juntamente com o período de redemocratização, tornou-se possível retomar os debates sobre as desigualdades sociais, políticas e econômica no país. No caso das desigualdades raciais podemos citar como marco simbólico o ano de 1995.4 Nesse momento, o presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em fala oficial, admitiu que o Brasil é um país racista. Foi a primeira vez que um representante do poder executivo desmentiu oficialmente o mito da democracia racial. Na verdade, esse debate já havia aparecido antes na história política e social do país, pois em 1968 o Ministério do Trabalho, juntamente com o Tribunal Superior do Trabalho, manifestaram-se favoráveis à criação de uma lei que obrigasse as empresas privadas a reservar um mínimo de vagas para a população negra, visando diminuir a discriminação racial no mercado de trabalho. Ocorre, no entanto, que a lei não passou de uma boa intenção. Em 1980, com a ação do Deputado Federal Abdias do Nascimento houve um movimento político concreto (MOEHLECKE, 2002, p.204), procurando compensar as 4

O debate sobre desigualdade racial no Brasil na espera pública é muito recente. Só para de ter uma ideia sobre a novidade do tema foi somente no ano de 2010 que o Estado institui o “Estatuto da Igualdade Racial” a partir da Lei de N°12.228, de 20 de julho de 2010. Lei que em seu primeiro artigo resume o caráter do Estatuto: “... destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidade, a defesa dos direitos étnico individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.”.

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desigualdades historicamente acumuladas. Com a elaboração de projeto de lei que, mais uma vez não foi aprovado, o Deputado propôs garantir aos afrodescendentes mecanismos de compensação, como reservas de vagas para mulheres e homens negros em concursos públicos, bolsas de estudos e introduzir nas escolas o ensino da história das civilizações africanas. Sobre a trajetória histórica e institucional das políticas públicas voltadas para a população negra, Marcia Lima (2010) apresenta as ações afirmativas como uma construção histórica que pode ser dividida em três momentos distintos, caracterizados por diferentes grupos de ações e programas implementados pelo Estado. O primeiro movimento foi orientado por ações de caráter repressivo. Num segundo momento, as ações focalizaram no reconhecimento e valorização identitários. No terceiro movimento, por fim, as ações afirmativas configuraram-se como mecanismos de reconhecimento e redistribuição. O primeiro grupo de políticas para a promoção da igualdade racial se caracterizou pelo teor repressivo de formulações materializadas na Constituição Federal de 1988 que prevê a criminalização do racismo. Conforme a lei nº 7.716/1989 se define como crime qualquer discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Essas primeiras ações do Estado tinham como objetivo o reconhecimento histórico e cultural das populações negras e também uma resposta às reivindicações do Movimento Negro. A segunda etapa do processo histórico ocorre a partir de 1990 com a aproximação entre o Movimento Negro e o Estado brasileiro durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Esta etapa está relacionada com o segundo grupo de políticas públicas classificadas

pela

autora

como

politicas

de

reconhecimento

com

intuito

valorativo/indentitário. Nessa segunda etapa do processo histórico- político as reivindicações por ações concretas ganham espaço no cenário nacional e internacional. Dentro desse contexto, dois eventos históricos são citados por LIMA (2010, p.79) devido à sua importância para o contexto das ações afirmativas no Brasil. O primeiro evento foi local, ocorreu em 1995 e foi chamado de “A Marcha Zumbi de Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida”. O segundo, de âmbito internacional, ocorreu em 2001no contexto da “Conferência de Durban”. O terceiro movimento se inicia em 2003, no primeiro mandato do Presidente Luis Inácio Lula da Silva que, de acordo com LIMA (2010, p.82), marcou uma mudança profunda

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tanto na condução das políticas com recorte racial quanto na aproximação do Movimento Negro com o Estado. Nessa etapa do processo histórico, as ações afirmativas a partir do recorte racial são caracterizadas pelo reconhecimento, mas com um intuito redistributivo. Em 2002, em duas instituições de ensino no Estado do Rio de Janeiro, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade do Estado Norte Fluminense (UENF) foram as primeiras a disponibilizarem um percentual de suas vagas para candidatos oriundos da população negra e parda. Foi dentro desse contexto que as ações afirmativas foram implantadas nas universidades públicas, gerando intenso debate na sociedade e no meio acadêmico. De maneira geral, o contexto do debate acadêmico sobre as ações afirmativas no Brasil foi polarizado entre duas visões: a primeira defendendo a ideia de reparação histórica (QUEIROZ & SANTOS, 2006) e a segunda acreditando na acentuação do racismo e divisão da sociedade entre brancos e negros (LEWGOY, 2005; MAGGIE & FRY, 2004). Ao estudarem a inclusão de negros na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos vestibulares de 2005 e 2006, Delcele Mascarenhas Querioz & Jocélio Teles Santos (2006) apresentaram informações relevantes sobre a origem escolar dos acadêmicos ingressantes. De acordo com os autores, foi possível observar a partir da origem escolar que [...] o vestibular com reservas de vagas proporcionou uma revolução na UFBA, fazendo ingressar, nos seus cursos mais competitivos, parcela considerável de estudantes oriundos de escolas públicas, que estiveram, historicamente, excluídos desse espaço. A participação de estudantes oriundos das escolas públicas, que era de menos de 27% em cursos como Medicina, Arquitetura e Urbanismo, Direito, Comunicação, Odontologia, Ciências da Computação, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica, cresceu consideravelmente, ultrapassando os 43% das vagas a eles reservadas pelo sistema de cotas. (QUEIROZ & SANTOS, 2006, pp. 726-727).

Em termos percentuais, os números quantitativos de vagas reservadas nos vestibulares analisados se elevaram tal como relatado: A participação dos estudantes oriundos de escolas públicas, na UFBA, que estava em torno de 38% de cotas, elevou-se para 51% em 2005. Embora se verifique em 2006 uma redução deste patamar de participação para 44,9%, ele se mantém num nível acima do que é pretendido pelo sistema de cotas. (QUEIROZ & SANTOS, 2006, idem).

Ao compararam os rendimentos acadêmicos de alunos cotistas e não-cotistas, QUEIROZ & SANTOS (2006, p.731) argumentam que as diferenças ou distâncias entre as médias entre os grupos é baixa. Chegando, por exemplo, a menos de um ponto de diferença num curso como o de Medicina, onde o desempenho médio dos cotistas foi de 6,7 numa escala de 0 a 10 e, de 7,4 para o não-cotista. As diferenças entre os desempenhos acadêmicos

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em onze dos dezoito cursos de maior concorrência na UFBA revelaram que os cotistas tiveram desempenho igual ou superior aos dos não-cotistas. (QUEIROZ & SANTOS, 2006, p.733). Dessa forma, os argumentos apresentados pelos autores demonstram que o desempenho acadêmico de alunos cotistas e não cotistas não apresentaram grande distorções. Com isso, a qualidade de ensino nos cursos da Universidade Federal da Bahia permaneceram estáveis após a implementação do sistema de cotas. Representando outro posicionamento, o antropólogo Bernardo Lewgoy (2005) desenvolve argumentos contrários à implantação do sistema de cotas com base na experiência da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, a tentativa de objetivação da noção de raça negra pela ciência seria falha, se restringindo ao campo ideológico e se configurando como credo ou militância (LEWGOY, 2005, p.220). Para fundamentar o seu posicionamento, ele argumenta que as cotas racializam o debate em torno das políticas públicas, quando na verdade seria preciso desracializar o combate ao racismo e à exclusão social através de políticas igualitárias baseadas no ideário universalista. De acordo com o autor: Não cabe aos antropólogos cumprir o papel de peritos raciais em comitês de seleção de candidatos a cotas por vários motivos, dentre os quais o mais relevante é o pífio significado científico e a iniquidade ideológica da categoria “raça” como operadora de divisões sociais e de políticas públicas de promoção de justiça social. Identidades raciais, sejam chamadas de construções “biológicas”, “sociais” ou “étnicas” sempre forma construções arbitrárias, criadas e manipuladas pelo poder legítimo de plantão (seja ele um Estado, seja ele uma elite colonial, seja ainda um movimento social, ou mesmo um comitê de avaliação racial numa universidade) e não deveriam constar senão de um museu de ideias passadas.” (LEWGOY, 2005, p.220).

Assim sendo, o autor desconsidera que as políticas de ações afirmativas foram criadas exatamente para romper com o ideário universalista, dada a proposição de que o tratamento igual aos desiguais levará à perpetuação da desigualdade social. Corroborando o argumento de que as ações afirmativas são políticas “racialistas”, Yvonne Maggie & Peter Fry (2004), ao discutirem a implementação da política de reservas de vagas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade do Estado Norte Fluminense (UENF) em 2002, ponderam que a adoção de tal política marca a quebra de uma longa tradição republicana pós-Constituição de 1988 que já condena e reconhece o racismo. De acordo com os autores, as ações afirmativas não só rompem com esta tradição republicana, mas também com a ideologia que definiria o Brasil como um país da mistura (MAGGIE & FRY, 2004, p.68). Dentro dessa perspectiva, os autores são favoráveis à criação de políticas públicas baseadas em princípios universalistas que acabariam por neutralizar a “raça” entre as pessoas. Assim, a ideia de uma sociedade hibrida ou mista poderia prevalecer,

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pois com as políticas públicas com corte racial a reserva de vagas romperia com a tradicional mistura de raças, dando lugar ao surgimento de “grupos estanques” de “negros” e “brancos”. Assim sendo, MAGGIE & FRY (idem, p.77) não acreditam que as desigualdades entre brancos e negros poderão ser corrigidas com o advento de tais medidas redistributivas e compensatórias. 2.5. DE OUTRAS EXPERIÊNCIAS: O CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Ao discutir a juventude e as expectativas de mobilidade social através da analise de dados socioeconômicos de vestibulares realizados pela Universidade Federal de Sergipe – UFS, Frank Marcon (2010) comprova a existência da correlação estatística entre a origem social do candidato e a opção pelo curso. Dessa forma, os candidatos aprovados oriundos da escola privada escolheram cursos de maior prestígio social, ligados principalmente às áreas de saúde, engenharias e sociais aplicadas. Já os aprovados oriundos de escolas públicas ingressaram nos cursos que possuem menor status profissional, como as licenciaturas e os demais cursos distribuídos no período noturno (Idem, p.109). Analisando quantitativamente os dados referentes aos vestibulares de 2007, 2008 e 2009 (Idibem, p.106), o autor mostra que 55% dos alunos, representado 6.477 aprovados que ingressaram na universidade neste período, são oriundos da escola privada. Enquanto que 45% dos ingressantes, aproximadamente 5.984 aprovados, possuem sua origem no ensino público. Com isso, do total de alunos que concluíram o ensino médio em Sergipe em 2005, aproximadamente 16.419, o ensino público foi contemplado por 81,89% das matrículas. Por outro lado, o ensino privado representou 19, 11 % das matriculas. Dessa forma, o autor identificou uma super-representação da escola privada e uma sub-representação da escola pública no interior da universidade. As distorções encontradas na relação entre a origem escolar do candidato e a escolha pelo curso se tornam ainda mais acentuadas ao analisar a composição social das profissões. Ao analisar os de Direito, Medicina, Fonoaudiologia, Engenharia Mecânica, Nutrição, Enfermagem, Relações Internacionais, Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Administração, Odontologia e Geologia, MARCON (2010, p.106) percebeu que mais de 80% dos alunos que ingressaram na UFS, no ano de 20095, eram oriundos de escolas privadas 5

O sistema de cotas já estava sendo utilizado pela instituição neste vestibular.

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(MARCON, 2010, p. 111-112). Ou seja, existe uma dominância das oportunidades de formação profissional nessas áreas pelos alunos do ensino privado, filtrando as expectativas profissionais de jovens provenientes do ensino público que acabariam desistindo de escolher áreas de maior prestígio social e econômico, não só devido à concorrência, mas também pelo turno em que são ofertados os cursos e pelo elevado grau de despesas com material e a bibliografia para a formação, por exemplo. A partir disso MARCON (2010, p.118) chama a atenção para a baixa diversidade social, econômica e étnico-racial que essa dominância produz, questionando se realmente está havendo uma democratização na estrutura de oportunidades nos cursos da Universidade Federal de Sergipe. As reflexões colocadas por Frank Marcon (2010) a partir da experiência de Sergipe vão ao encontro da discussão proposta por Jésse Souza (2012) que, estudando a formação de uma nova classe trabalhado no Brasil e tomando como referência a teoria sociológica de Pierre Bourdieu, argumenta que a produção do privilégio social entre as classes altas e média é produzida a partir da acumulação de dois capitais impessoais. Esses capitais são transmitidos através da socialização familiar e sua incorporação é indispensável para a reprodução da estrutura social. Associado ao capital econômico, o capital cultural torna os indivíduos mais ou menos aptos para acessar os bens e recursos escassos na moderna sociedade capitalista. Portanto, na dinâmica das sociabilidades a transmissão e reprodução dos capitais impessoais são fundamentais para a manutenção de posições privilegiadas. Dessa forma, os privilégios de classes minoritárias são legitimados na sociedade através da violência simbólica exercida sobre classes desprivilegiadas. Assim, a dominação social e a opressão de uma classe sobre outra é aceita e consentida (SOUZA, 2012, p.21). Acatando tais pressupostos, é possível propor que, almejando competir com maiores chances de sucesso no mercado de trabalho, os jovens precisam possuir determinadas precondições sociais, morais, emocionais e econômicas, incorporadas em práticas e disposições sociais. Dito isso, seria pertinente conceber a seguinte questão: os jovens destituídos de capitais impessoais, pertencentes às classes sociais menos favorecias, alheios às precondições necessárias para a efetivação do sucesso no mercado profissional, optam livremente pelos cursos superiores de menos prestigio, tal como são os cursos de licenciaturas? Ainda de acordo com SOUZA (2012), para conseguir compreender a existência de classes sociais positiva e negativamente privilegiadas é necessário identificar as diferentes

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formas de apropriação de capital. Essa apropriação estrutura toda a hierarquia social, bem como as condições para a reprodução da sociedade de classes. Nesse sentido, o capital cultural pode ser traduzido por um conhecimento técnico e escolar, sendo fundamental para a reprodução do mercado e do Estado. Na análise construída pelo autor, é justamente a apropriação diferencial do capital cultural que possibilitou às classes médias colocarem-se em posição dominante na sociedade moderna. Já as classes altas, por sua vez, apropriam-se historicamente do capital econômico, principalmente em função dos mecanismos de herança. A partir da dinâmica das classes sociais que assegura a manutenção do privilégio, SOUZA (2012, p.50) argumenta que no interior da nova classe trabalhadora brasileira existem setores capazes de ascensão social, desde que sejam dadas oportunidades de qualificação e de inserção produtiva. São pessoas que internalizaram e incorporaram disposições de crer e agir através de seu próprio esforço, usando disciplinadamente o tempo para almejar uma nova posição na sociedade.

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3. A LICENCIATURA: AS POLÍTICAS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE A preocupação com políticas públicas estruturadas para preparar professores para a Educação Básica é algo relativamente recente na história do Brasil. O inicio da política para a formação docente é marcada pela consolidação da República e o interesse na escolarização dos futuros cidadãos. Para Dermeval Saviani (2005) essa história se caracteriza por três movimentos. O primeiro emerge após o período de independência quando se começa a pensar a organização da instrução escolar da população. Com o Ato Adicional à Constituição Imperial de 1823, aprovado em 1834, a responsabilidade do ensino básico foi descentralizada, tornando-se obrigação das províncias que também passariam a cuidar do preparo dos docentes (SAVIANI, 2005, p.12). Dessa forma, a política de formação de professores para o ensino em instituições escolares foi proposta no final do século XIX com a criação das Escolas Normais que na época correspondiam ao nível secundário de ensino. A primeira Escola Normal do país foi instalada na província do Rio de Janeiro, em 1835, na sua então capital Niterói, sendo fechada ainda em 1849. Essa situação caracterizava a instabilidade institucional que as Escolas Normais encontravam no contexto do Brasil Imperial. Essa instabilidade viria a ser contornada com o advento da República. A partir desse novo contexto político, as províncias se tornam Estados Federados e em 1890 o Estado de São Paulo inicia uma ampla reforma no modelo de instrução pública, visando preparar professores através de uma ambiciosa reformulação curricular, tal como refletido no conteúdo do Decreto nº 27 de 12 de março de 1890.6 É possível perceber que, na história sobre as políticas de formação (SAVIANI, 2005; PEREIRA, 1999), a experiência de formação implantada em São Paulo serviu de modelo para o restante do país, sendo reconfigurada apenas com as transformações que ocorreram na década de 1930. Esse período marca o segundo movimento histórico fundamental para a consolidação do modelo de formação que se conhece atualmente. Foi após esse período que os primeiros acadêmicos começaram a obter a permissão para atuar no ensino secundário como professores licenciados. Oriundos dos cursos de bacharelado, eles faziam a opção por cursar algumas disciplinas de educação e pedagogia (GATTI, 2010, p.1356). Em termos 6

Com esse decreto ficou instituído que as Escolas Normais do Estado de São Paulo ficaram responsáveis pela formação de professores. Destaque para as áreas de: Escrituração Mercantil, Educação Cívica, Noções de Economia e Política, com especialidade da rural, Organização e direção das Escolas e a de Exercícios militares e escolares.

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históricos, cabe ressaltar que nesse período foram realizadas as reformas de 1932 no Distrito Federal e a de São Paulo em 1933. A primeira, liderada por Anísio Teixeira e a segunda por Fernando Azevedo, ambos representantes do movimento da “Escola Nova”, caracterizado por SAVIANI (2005, p.16) como de orientação renovadora. Por fim, o terceiro movimento identificado pelo autor foi marcado pela descaracterização das escolas normais (Idem, p.18-21). Essa mudança ocorreu em 1971 com a aprovação da lei n° 5.662/71 que alterou o ensino primário e médio. A partir dessa legislação, o curso primário, com duração de quatro anos, seguido de um ensino médio organizado verticalmente em quatro séries e do curso colegiado de três anos, foi reconfigurado na forma de ensino de primeiro grau com duração total de oitos anos. Na sequência, foi criado o ensino de segundo grau com duração de três a quatro anos. Com essas mudanças na estrutura de ensino, as escolas normais deixaram de existir, sendo substituídas pela habilitação específica de 2º Grau que autorizava o exercício do magistério em nível de 1º Grau. 3.1. DAS MODALIDADES DE FORMAÇÃO Segundo Júlio Emílio Diniz Pereira (1999), as discussões a respeito das políticas de formação de professores no Brasil se tornaram recorrentes nas últimas três décadas com a criação das faculdades de educação na segunda metade da década de 1960. Por outro lado, o interesse acadêmico propriamente dito, com a elaboração de análises empíricas e teóricas, começou a ganhar espaço nas universidades somente na década de 1990, no contexto da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei º 9.394/96. De fato, a aprovação da LDB foi acompanhada de um contexto que estimulou uma nova onda de debates sobre a formação docente no país. Nesse sentido, cabe destacar que a LDB possui uma parte de seu texto voltada especificamente para os “profissionais da educação” e em seu o artigo 61 diz que: A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. (LDB, art. 61).

A LDB de 1996 estabeleceu os novos parâmetros sobre o modelo educacional brasileiro e também sobre as orientações sobre a formação docente e a prática pedagógica. Por

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outro lado, de acordo com PEREIRA (1999, p.110), o modelo das licenciaturas permaneceu, desde o seu surgimento, na década de 1930, sem alterações significativas. Esse primeiro modelo pensado para as licenciaturas ficou conhecido como “modelo 3 + 1” no qual o aluno, durante os quatro anos de formação, cursaria três anos de disciplinas de conteúdos da sua área de atuação profissional e um ano de disciplinas pedagógicas. Esta modalidade de licenciatura também foi classificada como um “modelo de racionalidade técnica” (Idem, p.111), pois o professor é visto como um técnico habilitado para aplicar praticamente o conhecimento científico aprendido durante sua formação. Assim, a formação docente, secundária, consistiria num complemento organizado fundamentalmente em torno das disciplinas de estágio supervisionado, uma vez que a formação propriamente dita já teria ocorrido. A crítica do autor a essa modalidade de formação enfatiza o seu distanciamento em relação à realidade da futura prática profissional: [...] a separação entre a teoria e prática na preparação profissional, a prioridade dada à formação teórica em detrimento da formação prática e a concepção da prática como mero espaço de aplicação de conhecimentos teóricos, sem um estatuto epistemológico próprio. Um outro equívoco desse modelo consiste em acreditar que para ser bom professor basta o domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar. ( PEREIRA, 1999, p.112).

De forma resumida, podemos afirmar que o modelo da licenciatura baseada na racionalidade técnica inspirado nos cursos de bacharelado acabou supervalorizando as disciplinas de conteúdo especifico em detrimento das disciplinas pedagógicas. E as dificuldades em se articular os conhecimentos específicos com os conteúdos pedagógicos durante a formação revelaram a pouca eficiência do modelo da racionalidade técnica. Com a crítica a esse formato de licenciatura, chegou-se a um novo modelo para se aplicar às políticas de formação docente: o da racionalidade prática. Esse novo modelo, segundo PEREIRA (1999, p.113), é uma alternativa na medida em que o professor é visto como um profissional autônomo que reflete por si próprio e que toma e cria suas decisões a partir da sua própria experiência e ação pedagógicas. Ou seja, a prática pedagógica não é mera aplicação de conhecimentos científicos ou pedagógicos em sala de aula, mas um espaço de criação e reflexão que consequentemente abre a possibilidade para a produção de novos conhecimentos. Com isso, “as propostas curriculares elaboradas desde então rompem com o modelo anterior [da racionalidade técnica], revelando um esquema em que a prática é entendida como eixo dessa preparação. Por essa via, o contato com a prática docente deve aparecer desde os primeiros momentos do curso de formação.” (PEREIRA, 1999, p.113).

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Como vimos no inicio desta discussão, o modelo da racionalidade prática dialoga com as diretrizes encontradas na LDB sobre a formação de profissionais da educação no que diz respeito à articulação entre a teoria apreendida e a prática desenvolvida a partir de experiências de ensino. A dificuldade que se apresenta na formação de professores está exatamente na relação que o profissional estabelece com teoria e prática, uma vez que supervalorizar a prática não significa necessariamente tornar-se um bom professor e a formação teórica também é parte fundamental na formação docente de qualidade. Dessa maneira, a questão chave que se coloca é a articulação da teoria e da prática no contexto da experiência docente. Em relação aos fatores externos ligados à formação docente e às atuais condições da educação, com desdobramentos na qualidade da formação inicial e continuada dos professores, dois merecem destaque. O mais recorrente nas análises consultadas diz respeito aos salários pouco atrativos e à precariedade do trabalho (PEREIRA, 1999, p.111). Esses fatores, segundo o autor, desestimulam os jovens a escolherem a docência como carreira profissional e desmotivam os professores em exercício a buscarem aprimoramento. Ao discutir sobre a possível crise das licenciaturas, Antônia Vitória Soares Aranha & João Valdir Alves de Souza (2013) chamam a atenção para a forma como esse diagnóstico é realizado. Os autores lembram que a crise pela qual passamos não diz respeito somente à formação de professores, mas também ao próprio sistema de ensino que foi constituído no contexto de formação dos modernos estados nacionais no século XIX. A criação da escola e do processo de escolarização para toda a população faz parte de um projeto de modernidade que vê a educação como um direito de todo indivíduo e um dever do Estado. Ao fazer referência à crise das licenciaturas, estamos falando de um processo que atinge a toda a estrutura de ensino, refletindo as desigualdades sociais e econômicas que encontramos na sociedade. No entanto, na atualidade, essa crise estrutural no sistema atinge diretamente a profissão docente e o corpo discente que compartilham de um mesmo contexto social, fruto de uma crescente demanda e oferta por escolarização, numa sociedade caracterizada por desigualdades socioculturais e desigualdades socioeconômicas (ARANHA & SOUZA, 2013, p. 10), ao lado da promessa de uma educação inclusiva, capaz de respeitar as particularidades sociais dos diferentes grupos sociais.

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Contribuindo com os argumentos de PEREIRA (1999), ARANHA & SOUZA (2013) apontam alguns elementos que ajudariam a compreender melhor o contexto no qual as licenciaturas estão inseridas. Mencionando o baixo valor atribuído ao diploma de professor para a Educação Básica, tanto no sentido econômico, quando nos referimos aos salários, quanto no sentido simbólico, quando nos referimos ao prestigio social da profissão, os autores delineiam a seguinte contradição: quanto mais a sociedade se torna escolarizada, mais alta é a sensação de que a escola não corresponde às expectativas colocadas sobre ela. Dessa forma, percebe-se que a demanda por formação de novos professores não consegue acompanhar a crescente oferta por educação em todos os níveis de ensino. No caso do Brasil, de acordo com o Ministério da Educação – MEC (2012), a carência de professores para a educação básica, somente nas áreas de Matemática, Física e Química chega a 170 mil. Da mesma maneira, segundo dados apresentados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (2008) através da sua diretoria para assuntos relacionados à Educação básica, considerando-se as dez áreas de conhecimentos ofertadas, a carência pode chegar a 246 mil professores. Sobre o tema que envolve a atratividade da carreira de professor, corroborando os estudos de MARCON (2012), um levantamento realizado na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) mostrou que o recrutamento dos estudantes dos cursos de licenciatura ocorre justamente entre aqueles que possuem uma escolarização mais precária. Para ARANHA & SOUZA isso evidencia que o acesso ao Ensino Superior não acorre da mesma forma entre as classes sociais. Para aqueles indivíduos que conseguem romper com as barreiras econômicas, por exemplo, realizando o sonho de estudar numa universidade, parece claro a opção pelas carreiras que oferecem um diploma de menor valor. No vestibular de 2000, na UFMG, dos dezessete cursos mais concorridos, seis eram de licenciatura e nos vestibulares de 2012 e 2013, os cursos de licenciatura ficaram de fora dos quinze mais concorridos. Com esse cenário, evidencia-se o que vem ocorrendo com os cursos de licenciatura, indicando o crescente desinteresse pela docência entre os candidatos, fato que gerou uma redução de metade do quadro de professores formados pela UFMG nos últimos dez anos.

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3.2. DA ATRATIVIDADE DA CARREIRA “Tem gente que fala... todo mundo aqui já ouviu uma frase que é: ‘Quem pode faz, quem não pode ensina’, eu discordo dessa frase porque em mudaria para: ‘Quem é egoísta faz, quem é generoso ensina’, porque um professor, no fundo, ele divide o conhecimento dele com os alunos [...] eu acho que o professor não deveria ser julgado daquela outra maneira.” André, escola particular, São Paulo (GATTI, B. A.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R. e ALMEIDA, P. C. A., 2010, p.186).

O estudo encomendado à Fundação Carlos Chagas (FCC), que contou com o financiamento da Editora Abril, do Instituto Unibanco e do Itaú BBA, e realizado pelos pesquisadores GATTI, B. A.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R. e ALMEIDA, P. C. A. (2010), trabalhou com jovens matriculados nas séries finais do ensino médio em municípios espalhados pelas cinco regiões do país. Tomando com base de análise entrevistas e grupos de discussões com 1.501 jovens, esse estudo procurou compreender quais os fatores que estariam relacionados à atratividade das carreiras profissionais. O objetivo da pesquisa foi identificar os fatores que levariam a docência a deixar de ser uma escolha profissional interessante para a juventude ingressar no mercado de trabalho e quais seriam as justificativas para o baixo interesse pela carreira docente. Dito isso, a problematização sobre escolhas profissionais precisa ser contextualizada no interior de um mercado de trabalho que foi reestruturado ao longo das últimas décadas, produzindo uma nova organização da estrutura de profissões. Um dos principais efeitos desse processo de reestruturação foi a alta valorização de algumas carreiras em detrimento de outras. Dessa forma, pelo menos desde a década de 1980 o mundo do trabalho vem passando por transformações significativas no campo social, político, econômico e cultural. Um exemplo dessas transformações é a tendência da substituição de empregos estáveis com boas remunerações por contratos de trabalhos mais flexíveis de curto e médio prazo. Com isso, qualquer estudo sobre os fatores ligados a uma escolha profissional tornou-se um processo marcado por complexidades e contradições pessoais dentro de uma reconfiguração estrutural do mercado de trabalho. Assim, a escolha por uma profissão depende da representação social que é feita dela. Além disso, qualquer escolha profissional também se relaciona com fatores socioeconômicos, históricos e culturais. Esses critérios afetam diretamente as opções por determinadas profissões e, para o momento histórico atual do país, fatores ligados a status e salário

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representam a principal motivação interveniente sobre a escolha de uma carreira profissional (GATTI et al., 2010, p. 143). Desse modo, os jovens analisados tendem a construir discursos e representações que tencionam de um lado o desejo e de outro a possibilidade de realização concreta através da escolha de uma profissão. Essa escolha é feita de forma deliberada e num primeiro momento acaba refletindo a pressão da estrutura profissional da sociedade capitalista, interferindo nas expectativas, nas motivações e nos interesses dos jovens por determinado posto de trabalho. Dessa forma, as escolham acabam sendo orientadas de acordo com a perspectiva dos ganhos econômicos. Após essa primeira identificação, os jovens foram confrontados com a possibilidade hipotética de “ser professor”. As associações que foram feitas caracterizaram o professor como um profissional desvalorizado que recebe um baixo salário e possui uma carga horária de trabalho excessiva. Outra associação importante a ser destacada diz respeito às correlações feitas entre a diferença em “ser professor” do ensino público e “ser professor” do ensino privado. Na visão dos entrevistados, o professor seria mais desvalorizado na escola pública porque, além das dificuldades com a estrutura e o funcionamento da instituição, teria que atender classes sociais mais desfavorecidas. Os entrevistados acreditam que na escola privada o professor seria um pouco mais valorizado e trabalharia com alunos “mais educados” (idem, 2010, p. 164). De qualquer forma, a maior parte das ideias mobilizadas pelos estudantes que participaram da pesquisa reflete uma visão positiva sobre a profissão docente. Nesse sentido, elas fazem referência ao reconhecimento do papel social que o professor tem na formação do indivíduo, na possibilidade de mudar pessoas e de formar opiniões. Ou seja, existe um reconhecimento da importância da profissão, mas não o suficiente para gerar interesse em seguir a carreira. Os jovens contornaram as dificuldades da profissão atribuindo à docência adjetivos como “amor”, “paixão”, “paciência” e “dom”. Tais ideias acabam reforçando a noção de que a vontade é suficiente para o exercício da docência, o que justificaria até mesmo abdicar do salário para ensinar por amor. Logo, a docência não é vista como uma profissão, mas como uma missão em resposta a uma vocação previamente construída. Quanto ao perfil dos jovens que têm interesse pela docência, suas características podem ser generalizadas: são, em sua grande maioria, estudantes de escola pública e os seus pais têm no máximo o Ensino Fundamental completo. Nas palavras das autoras:

37 “a carreira docente mostrou-se mais atraente para jovens de um segmento social desfavorecido, o que, muitas vezes, implica escolarização precária.” (idem, p.206).

Tomando como base os resultados da pesquisa, as autoras argumentam que o perfil de aluno que tem se interessado pela carreira docente mudou nos últimos anos. Elas sugerem que a carreira tem gerado interesse entre as pessoas pertencente às classes C e D. Nas análises dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2008, esses alunos encontraram dificuldades com língua, leitura, escrita e compreensão de texto. Provenientes dos sistemas públicos de ensino, eles têm apresentado um baixo desempenho nas avaliações. [...] trata-se de alunos que tiveram dificuldades de diferentes ordens para chegar ao ensino superior. São estudantes que, principalmente pelas restrições financeiras, tiveram poucos recursos para investir em ações que lhes permitissem maior riqueza cultural e acesso a leitura, cinema, teatro, eventos, exposições e viagens. E essa mudança de perfil trouxe implicações para cursos de Licenciatura que estão tendo que lidar com um novo background cultural dos estudantes. (idbem, p.149).

Por fim, o que se pode concluir a partir dos argumentos apresentados é que a identificação social com a profissão docente tende a se concentrar nas expectativas profissionais de alunos e alunas pertencentes às classes populares que construíram suas trajetórias escolares na rede de ensino público. Nas palavras das autoras: O baixo poder aquisitivo e o baixo capital intelectual dessas famílias seria o responsável pela aceitação e até mesmo pelo desejo dos pais de que seus filhos se tornassem professores como forma de ascensão social. ( idem, 2010, p.192).

Considerada a pertinência dessa proposição, ela contribui para o desenvolvimento do presente trabalho, uma vez que evidenciamos que os estudantes que entram na universidade pelo sistema de cotas tendem a optar por cursos de licenciatura e a almejar a carreira de professor. Essa pesquisa não possui o objetivo de comprovar essa proposição, tomando-a como uma hipótese a ser verificada, mas compreender o que um grupo de alunos cotistas pensa a respeito da docência. Foi a partir da problemática coloca por GATTI, B. A.; TARTUCE, Gisela Lobo B. P.; NUNES, Marina M. R. e ALMEIDA, P. C. A. (2010) que formulamos quatro afirmações e apresentamos aos entrevistados com a perspectiva de verificar um eventual esforço de refutação: as cotas fazem com que a qualidade do ensino caia; os professores são recrutados entre os alunos que têm o rendimento escolar mais baixo; as diferentes licenciaturas não têm demonstrado capacidade para formar bons professores; a carreira de professor não é atraente. Essas afirmações foram incorporadas ao conjunto de tópicos usado nas entrevistas com os alunos cotistas.

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4. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAS: PRÁTICAS E IDEAIS Este capítulo abordará o conceito de representação social, tal como proposto por Serge Moscovici (1978). Dado esse referencial teórico, procuramos argumentar a respeito das implicações de se tomar as ações afirmativas e a licenciatura como objetos de representação social. De acordo com Moscovici, toda representação é comunicada individualmente, mas elaborada coletivamente. Quando compartilhada, a representação social, além de produzir conhecimento, contribui para a construção de identidade e para a atribuição de sentido às práticas cotidianas. Nesse sentido, se considera aqui os alunos cotistas entrevistados como representantes de um grupo que produz coletivamente representações sobre a licenciatura e sobre a carreira docente. Para os efeitos da pesquisa aqui relatada, esses alunos estão vinculados a três diferentes cursos de licenciatura da UFPR: Ciências Sociais, História e Física. As

representações

sociais

podem

ser

descritas

como

fenômenos

sociais

(MOSCOVICI, 1978, p.25) que se tornam visíveis quando observadas as práticas incorporados pelos sujeitos. Quando comunicada ou descrita, a incorporação garante a representação de uma determinada realidade organizada socialmente. 4.1.AS REPRESENTAÇÕES: SOCIAIS E COLETIVAS O conceito de representações sociais foi elaborado num campo de confluência entre a Sociologia e a Psicologia Social. Na Sociologia, pelo menos desde Émile Durkheim, as representações podem ser consideradas como objeto de análise. Ao estabelecer as bases do método sociológico para o estudo objetivo dos fatos sociais, DURKHEIM (2007) apresenta algumas referências a respeito das representações coletivas. De acordo com ele, as representações coletivas tornam legíveis as maneiras como determinado grupo se pensa a partir das relações que estabelece com os objetos que o afetam. Assim, essas representações seriam responsáveis pela atribuição de sentido às ações práticas no mundo social. Com efeito, essas noções, ou conceitos, não importa o nome que se queira dar-lhe, não são os substitutos legítimos das coisas. Produtos da experiência vulgar, eles têm por objeto, antes de tudo, colocar nossas ações em harmonia com o mundo que nos cerca; são formados pela prática e para ela. Ora, uma representação pode ser capaz de desempenhar utilmente esse papel mesmo sendo teoricamente falsa. (DURKHEIM, 2007, p.19).

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Ainda dentro do campo de conhecimento da Sociologia clássica, Karl Marx (2008), ao tratar a questão da ideologia pelo víeis do materialismo histórico, apresenta uma discussão a respeito das representações criadas pelos indivíduos em função do grau de desenvolvimento da divisão do trabalho e do lugar que eles ocupam nessa divisão. De acordo com MARX (2008), a posição que o individuo ocupa dentro do modo de produção determina a sua consciência e, consequentemente, suas representações: A produção das ideias, das representações e da consciência está, a princípio, direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; ela é a linguagem da vida real. (MARX, 2008, p.18).

Para MARX, a classe social dominante, por ser proprietária dos modos de produção, tem o poder de controlar ideologicamente os pensamentos, valores e representações das demais classes. Assim, as representações seriam uma abstração do mundo material orientadas pela ideologia das classes dominantes. Para Maria Cecilia de Souza Minayo (2010), certa noção de representação também está presente na sociologia de Wax Weber através de termos como “ideias”, “espirito”, “concepções”, “mentalidade”, muitas vezes utilizados pelo autor como sinônimos. As “ideias”, ou representações, seriam juízes de valor que o indivíduo utiliza na orientação da sua conduta cotidiana no mundo social. Por um lado, essa conduta é marcada por uma significação cultural. Por outro, a significação é condicionada dentro de uma relação mútua entre base material e ideias. Assim sendo, as representações para a sociologia clássica podem ser analisadas da seguinte forma: Enquanto para Durkheim as representações sociais exercem coerção sobre os indivíduos e a sociedade, para Weber os indivíduos é que são portadores de valores e de cultura que informa a ação social dos grupos. Marx admite com Durkheim que os valores e crenças exerçam um papel coercitivo sobre “as massas”, mas insiste no caráter de classe das representações e no papel da luta de classe que se dá no modo de produção e determina o campo ideológico no qual se embatem dominadores e dominados. (MINAYO, 2000, p.108).

A distinção entre os termos “coletiva” ou “social” se estabelece a partir da apropriação crítica que MOSCOVICI (1978) faz do conceito originalmente formulado por Emile Durkheim. O autor argumenta que a diferença entre o uso por ele sugerido e aquele proposto pelo sociólogo francês estaria no status conferido ao conceito. Enquanto que para ele é importante analisar a estrutura e a dinâmica interna do pensamento, para Durkheim era prioritário analisar a estrutura social a partir da dinâmica externa ao fenômeno. Dessa forma,

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as representações eram consideradas coletivas na medida em que eram tratadas como suportes de ideias e palavras, constituindo-se como um instrumento explanatório direcionado a uma classe geral de ideias e crenças, tal como, a ciência, mito e religião (MOSCOVICI, 1978, p.49). Por outro lado, as representações sociais se constituiriam como fenômenos relacionados a modos particulares de compreensão e de comunicação que necessitariam ser descritos e explicados. Para a perspectiva de Moscovici, as representações seriam modos para se criar tanto a realidade como um conhecimento a partir do senso comum. De acordo com Celso Pereira de Sá (1995, p.23), as diferenças em abordar o fenômeno demonstram que Moscovici, ao tentar agregar propósitos de renovação, foi buscar na sociologia durkheimiana um primeiro abrigo conceitual para suas objeções ao excessivo individualismo da psicologia social de tradição americana. O maior desafio nesse processo de renovação seria situar de maneira satisfatória a disciplina no encontro da psicologia com as ciências sociais construindo e reiterando dessa forma a dupla natureza do fenômeno: o psicológico e o social. Como observa Rafael Ginane Bezarra (2003, p.70), para DURKHEIM as representações coletivas ilustrariam grandes variáveis nas quais os indivíduos seriam considerados como suportes do fenômeno. Enquanto que, em MOSCOVICI, as representações sociais apareceriam como um ponto de cruzamento onde o conhecimento não representaria mais que uma influência duradoura e estável da sociedade, da mesma forma que também não se constituiria como um campo de livre produção pelos indivíduos. Dessa forma, o senso comum para Moscovici seria o conhecimento produzido por indivíduos socialmente localizados que seriam capazes de manipular elementos estáveis tal como cultura, tradição e ideologia, tornando possível a produção e a comunicação de determinado conhecimento a respeito de uma realidade que muda constantemente. 4.2. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: QUALIFICANDO O CONCEITO Ao apresentar as bases teóricas e metodológicas da Teoria das Representações Sociais, Sergi Moscovici (1978, p.30) esclarece que o seu trabalho constitui uma tentativa de estudar o sistema cognitivo a partir de dois pontos. O primeiro ponto seria considerar que indivíduos “normais” reagem aos fenômenos do mesmo modo que os cientistas ou os estatísticos. O segundo ponto considera que a atividade de compreender pode ser traduzida como o ato de processar informações. Dessa forma, o mundo que percebemos seria o resultado de todas as

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nossas percepções, ideias e atribuições que estariam dispersos no nosso contexto de interações. Isto é, o contexto social no qual compartilhamos vivências e experiências possibilita a produção de um conhecimento tácito materializado nas Representações Sociais. De acordo com MOSCOVICI (apud BEZERRA, 2003, p.71-72), nas sociedades modernas a construção do pensamento estaria dividida em duas diferentes ordens: o universo consensual e o universo reificado. O universo consensual constitui o espaço por excelência das representações propriamente ditas, permeadas de sentido e finalidade. Sem possuir um rigor metodológico, elas apresentam uma voz humana que age de acordo com as necessidades da existência humana. No universo reificado, o pensamento está relacionado ao discurso técnico, cientifico e/ou erudito, onde o conhecimento é fruto da teorização abstrata caracterizada pela observação dos princípios de objetividade e neutralidade. Dessa forma: Como em uma espécie de sistema, o universo reificado produz o conhecimento estranho e exótico que perturba a ordem do universo consensual, ao passo que este último, para estabelecer a ordem, apropriase daquilo que é estranho através das representações. (BEZERRA, idem, p.72).

Por outra lado, a lógica do universo consensual é transformar o estranho (não familiar) em algo familiar. Essa seria a principal motivação para a elaboração das representações sociais. Esse processo respeita uma dinâmica relacionada ao próprio funcionamento das representações que consiste em familiarizar o estranho aproximando-o daquilo que já é conhecido. É dentro dessa dinâmica que um grupo, ao ser confrontado com algo novo, buscará elaborar suas representações a partir das imagens, linguagens e conceitos que circulam em seu contexto de interação. Sobre essa dinâmica da transformação do desconhecido em familiar Moscovici comenta: Não é fácil transformar palavras não-familiares, ideias ou seres, em palavras usuais, próximas e atuais. É necessário, para dar-lhes uma feição familiar, pôr em funcionamento os dois mecanismos de um processo de pensamento baseado na memória e em conclusões passadas. (MOSCOVICI, 1978, p.60).

Esses dois mecanismos são chamados de ancoragem e objetivação. O mecanismo da ancoragem reduz ideias estranhas a categorias e imagens comuns dentro de um contexto familiar. Ancoramos ideias e imagens em um sistema de signos particulares para garantir certa coerência entre o desconhecido e o conhecido. O processo de ancoragem das representações ainda é constituído por dois aspectos: classificação e nomeação (MOSCOVICI, 1978, p. 68). Ou seja, a operação de transformar o não familiar em familiar é formado por processos que permitem uma rotinização, dando ao grupo a possibilidade de orientar a sua conduta.

42 [...] sistemas de classificação e de nomeação (classificar e dar nomes) não são, simplesmente, meios de graduar e de rotular pessoas e objetos considerados como entidades discretas. Seu objetivo principal é facilitar a interpretação de caraterísticas, a compreensão de intenções e motivos subjacentes às ações das pessoas, na realidade, formar opiniões. (MOSCOVICI, idem, p. 70).

Por sua vez, a objetivação transforma o abstrato em algo próximo ao concreto, isto é, tenta transferir o que esta no mundo das ideias para algo que exista no mundo físico (MOSCOVICI, 1978, p. 60-61). Dessa forma, objetivar seria reproduzir um conceito em uma imagem, ou seja, ao comparar uma imagem a uma palavra torna-se possível a criação de uma representação. Dessa forma, podemos afirmar que os conceitos tornam-se imagens que, por sua vez, são representações de determinada realidade social e as imagens formam-se com a objetivação de um conceito: Se existem imagens, se elas são essenciais para a comunicação e para a compreensão social, isso é porque elas não existem sem realidade (e não podem permanecer sem ela), do mesmo modo que não existe fumaça sem fogo. Se as imagens devem ter uma realidade, nós encontramos uma para elas, seja qual for. Então, como por uma espécie de imperativo lógico, as imagens se tornam elementos da realidade, em vez de elementos do pensamento. (MOSCOVICI, idem, p. 74).

A ancoragem e a objetivação são maneiras de lidarmos com nossas experiências e principalmente com a memória. A ancoragem mantem a memória em movimento direcionado para o interior do grupo ou pessoa, atuando como na seleção dos objetos, pessoas e acontecimentos, classificando com um tipo e rotulando com um nome. Na objetivação a memória opera para fora do grupo, ajudando na seleção das imagens e conceitos que reproduzem o mundo externo. Esta função basicamente pode ser resumida na seguinte operação: transformamos as coisas conhecidas a partir do que já sabemos (MOSCOVICI, 1978, p.78). Como já foi apresentado, as Representações Sociais são ideias, palavras, experiências, expectativas que são naturalizadas pelas pessoas em forma de conhecimento e realidade. Segundo Moscovici, o vocabulário utilizado por uma pessoa, por exemplo, é um fator importante na construção das representações feitas por ela. Ou seja, as palavras carregam sentindo e são produtoras de realidade. As Representações Sociais se tornam realidade no momento em que se tornam senso comum. Isso que dizer que são ideias consentidas e naturalizadas pelo grupo. Nesse sentido, postulam-se as seguintes questões: o aluno cotista teria uma experiência de vida e um universo de sentidos que poderia favorecer a escolha pela licenciatura? Tomada como uma representação social, quais associações de ideias e práticas adotadas em relação à licenciatura pelos cotistas.

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5. DO ESTUDO DE CASO REALIZADO COM O GRUPO DE ALUNOS COTISTAS

5.1.DA ASSOCIAÇÃO DE IDEIAS PRESENTE NO DISCURSO DOS COTISTAS Como foi dito na introdução, o problema desta pesquisa deriva da correlação entre as cotas e a escolha pela modalidade da licenciatura. Dada essa correlação, a questão básica que orientou a investigação consiste em identificar as associações de ideias construídas por um grupo de estudantes comtemplados pela política de ações afirmativas na Universidade Federal do Paraná a respeito dessa correlação. Através da análise qualitativa das entrevistas coletadas essas associações refletem sentidos, racionalizações e práticas num espaço de interação que pode ser descrito como consensual. Embora os resultados dessa análise não possam ser generalizados, ressaltamos a sua pertinência para fundamentar novas hipóteses de pesquisa ou para corroborar os resultados obtidos através de outras pesquisas.

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5.1.2 DAS AÇÕES AFIRMATIVAS

Tabela I: Associação de ideias sobre as ações afirmativas

A primeira associação de ideias que é feita a respeito das ações afirmativas está ligada à elaboração cognitiva que ocorreu após a entrada na universidade. Os entrevistados relataram ter pouco conhecimento a respeito do mecanismo de cotas no período correspondente à realização do Ensino Médio. Descobriram a sua existência, por exemplo, no momento em que faziam a inscrição para o vestibular, lendo a própria ficha de inscrição e se surpreendendo com a possibilidade de indicar que cursaram todo o estudo em escolas públicas. Também

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ouviram falar delas por professores que estimularam a ambição de acessar o Ensino Superior público, mas, apesar disso, compreendiam pouco a respeito do seu funcionamento. “Acho que no momento, no ato da inscrição. ‘Cotas sociais para estudantes que estudaram a vida toda em escola pública’. Ah, eu sou isso. Então foi ali, no ato da inscrição.” (A) “[...] eu devo essa questão do sistema de cotas a um professor do ensino médio que era o professor de geografia que ele sempre instigava os alunos a fazer curso superior .” (B)

Em relação a isso, cabe ressaltar que o conteúdo de uma das entrevistas destoa do conteúdo das demais. Trata-se de entrevista realizada com um aluno que é cotista racial. Nesse caso específico, observa-se que o vínculo com um movimento social e a participação em várias mobilizações a favor da aprovação da reversa de vagas fez com que o conhecimento das cotas e a atribuição de sentidos ao seu funcionamento estivessem associados a ideias diferentes. “[...] teve um acampamento aqui no pátio da reitoria do movimento negro onde a gente ocupou a pátio com barracas, com tenda, com gente onde, o dia onde foi a reunião do conselho eu acho, pra votação das cotas.” (C)

Apesar desse contraste, ainda é possível afirmar que a compreensão dos entrevistados a respeito das ações afirmativas foi fortemente influenciada pela experiência possibilitada pelo convívio acadêmico estabelecido dentro da universidade. Nesse sentido, cabe ressaltar que o simples fato de estar cotidianamente acompanhando a rotina universitária já possui um valor em si. Além disso, parece ser evidente que o ingresso no Ensino Superior também contribuiu para o fortalecimento da autoestima desses alunos. Isso fica claro quando eles comparam suas trajetórias com a de pessoas com a mesma origem social que não tiveram a mesma oportunidade. “[...] eu morava num bairro que era uma vila bem pobre e as minhas amigas que eu tinha lá elas acabaram se envolvendo com os meninos da vila mesmo, nenhuma delas conseguiu entrar na universidade, nenhuma delas terminou o ensino médio.” (D)

Oportunidade, diga-se de passagem, é a palavra central para se compreender o discurso desses cotistas a respeito das ações afirmativas. Eles percebem que de outra forma não teriam tido acesso ao Ensino Superior. Inclusive, relatam sucessivas experiências frustradas de entrar na universidade. Da mesma forma, mobilizam argumentos para salientar aquilo que percebem como uma inferioridade estrutural da escola pública em relação à

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privada. Então, consideram as cotas como um mecanismo de democracia que promove justiça à medida que corrige desigualdades que se sobrepõem à capacidade individual. “[...] fico pensando no aluno que estuda nesse colégio [público] como é que ele vai competir com outro aluno ou aluna que estudou no Positivo a vida inteira, no Dom Bosco, no Bom Jesus, no Marista, no Stella Maris.” (F)

Outra forma de dizer “oportunidade” consiste em tratar as cotas como mecanismo facilitador de acesso. Dado o reconhecimento de que não seria possível ingressar na universidade competindo diretamente com alunos egressos de escolas particulares, os entrevistados mobilizaram a noção de facilitar o acesso como sinônimo de oportunidade. Nesse caso, percebe-se o cuidado em demonstrar que a “facilidade” não deve ser tomada como um elemento que exclui o mérito. Na verdade, apesar da facilidade, o que está em evidência é que existe uma contrapartida apresentada por aquele que foi beneficiado com o mecanismo de cotas. “[...] não é só porque eu entrei por uma cota que era fácil, que vai ser fácil pra mim; também eu acho que eu pelo menos tento dar o meu melhor ali dentro pra mostrar que eu merecia minha vaga, eu merecia a cota que eu recebi [...]”(E)

Essa contrapartida pode ser percebida nos relatos que elencam uma série de superações ou transposição dos obstáculos mais variados. Um dos entrevistados chega a discorrer sobre a maneira como foi capaz de curar uma doença grave para evidenciar a sua tenacidade. “[...] eu fiquei sabendo que era um tumor maligno entre o pulmão e o coração. Veja, era algo grave mesmo só que em nenhum momento eu peguei isso pra mim ‘que era algo grave’. Enfrentei a doença.” (A)

Além disso, a contrapartida à facilidade de acesso também pode ser compreendida como decorrente do esforço que o cotista faz ao longo da sua graduação para comprovar o seu valor. Na verdade, ele considera que esse esforço precisa ser maior do que aquele demonstrado pelo aluno que ingressou no Ensino Superior sem a intermediação das cotas. Ele se percebe na posição de quem sempre está sendo cobrado a justificar o porquê da sua permanência no Ensino Superior. “[...] quando ele entra na universidade, e pela minha experiência que tive na graduação com meus colegas cotistas, todos eles eram assim: professor passou um texto, recomendou um livro, a gente

47 acabou a aula já sai correndo para ir pegar o livro, ficava disputando pra ver quem vai pegar o livro, ficava revezando.”(F)

Finalmente, as ações afirmativas devem ser remetidas a um elemento que deriva de suas trajetórias pessoais. Os entrevistados enfatizam aquilo que pode ser caracterizado como uma ambição que os leva, ao contrário de outras pessoas, a almejarem voos maiores, a não se conformarem com aquilo que um deles chamou de “destino social”. “[...] consegui alterar um pouco esse meu destino social. Consegui ampliar esse leque de possibilidades que tem dentro desse mercado de trabalho. Tendo uma origem semelhante de muitas pessoas de ensino público [...]” (B)

Em resumo, seria possível caracterizar a representação desses cotistas a respeito das ações afirmativas como uma tentativa de articular dois polos aparentemente opostos: de um lado a oportunidade que lhes foi dada e de outro o esforço que nunca deixaram de fazer para chegar aonde chegaram. Partindo de dados semelhantes aos identificados nesta pesquisa, particularmente no que diz respeito à relação entre oportunidade e mérito, João Feres Júnior & , Jonas Zoniensein (2008, p.18) argumentam que os estudantes cotistas, quando corretamente incentivados, demostram motivação para alcançar um desempenho escolar acima da média. Partindo desses dados, os autores demonstram que o sistema de cotas, ao contrário do que muitos alertaram, não promove a queda na qualidade do Ensino Superior.

5.1.3. DA LICENCIATURA

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Tabela II: Associações de ideias sobre a licenciatura. As associações de ideias produzidas pelos cotistas a respeito da licenciatura estão relacionadas primeiramente ao sentido de aquisição de trabalho. Eles percebem na opção por essa modalidade a garantia de um futuro emprego como professor. Nesse caso, a licenciatura é vista como a possibilidade de qualificação profissional que dará uma oportunidade de ingressar no mercado de trabalho. “[...] falando como trabalhador, me garante, digamos, o mínimo. [...] esse mínimo que eu disse aqui é no sentido de eu sair daqui e ter uma garantia de emprego.” (A) “[...] a possibilidade imediata de um emprego.” (B) “[...] na prática, eu comecei a pensar que a licenciatura me daria um emprego.” (C).

Por outro lado, cabe lembrar, tal como já foi dito anteriormente, que a escolha pela licenciatura não foi a primeira opção dos entrevistados. O ingresso num curso de licenciatura demandou um período de reorientação, de avaliação de possibilidades e de familiarização com outras carreiras profissionais em função de sucessivas tentativas infrutíferas em vestibulares anteriores. Nesse sentido, a opção pela licenciatura ocorreu após se consolidar a percepção de que o acesso à universidade seria facilitado devido à baixa concorrência. “[...]eu tentei em 2008, eu tentei pra Enfermagem, não passei eu acho que linha de corte era 32 ou 25 alguma coisa assim e eu me lembro que eu não passei por um ponto da linha de corte. Dai eu fui tentar fazer outra coisa da vida, dai tentei ser aeromoça, mas também não deu certo dai no finalzinho de 2012 eu escolhi... fiz o vestibular de Física.”(E) “[...]foi uma certa frustração em relação ao resultado do Design. Mas depois eu fui me aprofundar mais acerca do que era o curso de Design, as pessoas que faziam o curso de design, a finalidade das pessoas que estão dentro do curso de Design, que me mudou um pouco e acabou me frustrando. Eu acabei

49 trabalhando com uma outra área que eu sempre tive muito prazer que foi a questão da historia, da geografia, a sociologia[...]”(B) “Nos dois primeiros anos eu tentei cursos de Direito, e acabava não passando, não chegava à nota que precisava para passar para a segunda fase[...]” (C) “Antes é que eu queria fazer Direito. Eu queria fazer Direito porque, por causa de dinheiro. Eu sempre tive dificuldade financeira, eu até hoje, a minha mãe a gente não tem uma casa [...]. Então eu queria fazer Direito justamente porque eu ai ganhar bem então eu ia poder mudar essa condição. Só que eu escolhi fazer licenciatura porque minha mãe disse pra mim fazer uma coisa que eu gostava.”(D) “Dai 2012 eu comecei a trabalhar no shopping [..]. Foi dai quando eu fui prestar vestibular pra federal. Mas claro que na minha ideia principal era fazer Arquitetura e Urbanismo só que eu não teria a capacidade de passar. Dai [...] eu fui eliminando os cursos pela linha de corte. Falei, ah! vou fazer Física que Física pelo menos não é tão concorrido e eu passo.” (E)

Da mesma forma, quanto à permanência na universidade e à continuidade dos estudos, os cursos de licenciatura foram avaliados como fáceis. A facilidade envolvendo as licenciaturas é percebida com base na comparação com o bacharelado, dado o peso que é associado às disciplinas ofertadas. Ou ainda, o sentido que se dá à facilidade está relacionado com as especificidades de formação nas duas áreas. “[...] eu acho que o bacharel é mais puxado [...] eu acho por ser área de pesquisa da Física mesmo que é mais puxado. Porque dai quando for fazer uma pesquisa na licenciatura é mais voltada pra educação né. Então é mais...você pesquisa e corre atrás, fazer texto eu acho que é um pouco mais fácil.”(E)

A mobilização de argumentos em relação às licenciaturas também levou os entrevistados a avaliarem a qualidade da formação recebida durante a graduação. A esse respeito, é notório que do seu ponto de vista a formação é identificada como insuficiente e precária. Por um lado, eles chamam a atenção para a forma como as licenciaturas estão organizadas e para as poucas horas dedicadas às práticas de ensino. Por outro lado, os cotistas também reconhecem que a participação em programas como o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Incentivo a Docência) contribui para suas formações e ajuda na permanência na universidade. “[...] não porque a licenciatura seja algo ruim. Mas porque a licenciatura é mal, não mal vista ela é muito bem vista. Mas ela é mal organizada.(F)” “[...] a gente faz uma matéria de pratica de docência com quatro aulas de quatro horas. Isso é ridículo saca? Você não vai aprender dar aulas assim? .Poderia ter um pouco mais de incentivo quanto à docência também assim sabe.”(G) “[...] o PIBID me ofertou a possibilidade de observar aulas ao longo da minha graduação, ao longo da minha licenciatura, e é uma experiência que eu acho que talvez outro alunos não tiveram ao longo da graduação[...]” (B)

50 “Eu recebo a bolsa do PIBID e a bolsa permanência que eu tinha pesquisado eu vi que quem tinha menos 1,5 salários mínimos tinha direito, então, na verdade essa bolsa veio em boa hora, comecei a receber ela mês passado porque atrasou um pouco. Porque minha mãe foi demitida, então essa bolsa esta servindo para cobrir os gastos.” (D)

Nos depoimentos, aliás, o PIBID merece um espaço à parte. O interesse pela licenciatura e pela carreira docente aparece associado às experiências pedagógicas desenvolvidas em parceira com o programa. Os entrevistados ressaltam a importância de ter participado dele, pois o mesmo permitiu mais familiaridade com a rotina de trabalho de outros professores e com o ambiente escolar. “No começo eu pensei se seria minha segunda opção. É o que resta. No começo eu pensava assim como a maioria dos alunos na verdade: ‘a licenciatura vai ser o que restar, se não sobrar nada vou ser professora’. Mas com o passar do tempo e a participação no PIBID [Programa Institucional de Incentivo a Docência] eu vi que não era só o que resta e sim uma escolha. É sim, serei professora.” ( C). “[...] eu pretendo nessa minha carreira de formação e entrar num programa de docência sabe? No PIBID, pra entender como é a realidade numa sala de aula porque eu só tive do lado de lá sendo um aluno não como um professor. Penso muito em entrar num PIBID pra isso, pra entender como funciona esse sistema, pra entender como funciona essa relação professor e aluno.” (G).

Dessa forma, as associações de ideias apresentadas aqui corroboram o trabalho de Marília Claret Geraes Duran (2010). Estudando um grupo de professores em formação, a autora alerta que a realização de trabalhos sobre representações sociais demanda atenção para a dinâmica que tem orientado as suas escolhas profissionais. Segundo a autora, a escolha pelo magistério está relacionada com as representações que o licenciando tem de si, da sua inserção no mundo do trabalho e de sua função social. Portando, a opção pela licenciatura ou pela carreira docente partiu de associações de ideias que os cotistas construíram antes de ingressarem na universidade e que permaneceram em constante reelaboração no interior das licenciaturas, durante suas trajetórias acadêmicas. Podemos perceber que essa reelaboração está relacionada com as oportunidades de experiências de ensino que o cotista teve durante sua formação. Durante as entrevistas, os cotistas citaram o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência) como um projeto importante para o aperfeiçoamento de sua prática docente. Sintomaticamente, os que só tiveram como experiência de ensino as disciplinas de estágio supervisionado, tenderam a elaborar uma associação de ideias orientadas para a precarização da profissão e para as dificuldades que o professor encontra, seja pela dinâmica de uma sala de aula, seja pela falta de um plano de carreira.

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5.1.4. DA CARREIRA DOCENTE

Tabela III: Associações de ideias sobre a carreira docente. As associações de ideias feitas sobre a carreira docente estão contidas em formulações ambivalentes. De imediato, os cotistas reconhecem que a carreira docente é cercada por dificuldades e, fundamentalmente, pela baixa recompensa material. “[...]eu acho que ela não é atraente em alguns pontos, mas em alguns pontos ela é bem atraente eu acho. Financeiramente ela não é nem um pouco atraente[...]” (G)

Essas dificuldades e a baixa recompensa material, no entanto, são articuladas, em seguida, a outras formas de recompensa que justificam a escolha pela carreira docente. Assim, o professor é tomado como aquele que é capaz de fazer o que faz porque tem amor. Amor e

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vocação são palavras usadas como equivalentes. Ambas substituem ou equilibram aspectos negativos do trabalho. “Amor. Porque eu acho que para fazer licenciatura tem que ter amor no... tem que ter vontade mesmo tem que gostar da profissão. Porque infelizmente o salário não é muito bom.” (E) “[...] acho tem que ter uma vocação, não é qualquer um que pode ser professor.”(D)

Por outro lado, as associações de ideias elaboradas sobre a escolha pela carreira docente mobilizam sentidos que vão ao encontro da ideia de missão. Nesse caso, o professor seria aquele que possui uma missão importante, tanto no sentido de contribuir para a consolidação da cidadania quanto no de solidarizar-se com quem precisa de apoio. A ideia de consolidação da cidadania está ligada à representação do professor como responsável pela formação do cidadão. Já a solidariedade tem o sentido de retribuição, pois, como professor, posso mostrar para as pessoas que elas são capazes, assim como eu, de conseguir ultrapassar o seu destino social. Assim, caso encontrem oportunidade, gostariam de trabalhar na escola do seu bairro ou retornar para a cidade natal para contribuir com as pessoas do mesmo grupo social de origem. O sentimento de pertencimento é particularmente evidente na fala do cotista racial que associa a carreira docente a um desdobramento de sua ação junto ao movimento social em que se filia. “Tentar mudar o mundo. [...] eu tinha aquela visão [...] colocar uma sementinha em cada aluno[...]” (A) [...]a ideia do educar, o individuo que acaba [...] construindo ou modelando ou desmodelando, deformando e formando depende do termo que se queira usar, o cidadão. “(B) “[...]eu particularmente queria me formar e quem sabe voltar para minha cidade para dar aula na escola onde eu estudei por saber das dificuldades que é morar ali e das dificuldades que é de tentar ser alguém[...]” (G) “Represento uma comunidade que principalmente o movimento social que lutou para que essa politica de ações afirmativas entrasse na universidade para que outras pessoas pudessem contribuir. Outras pessoas pudessem representar. Então o que é ser negro aqui dentro [...]” (C)

Como já foi dito acima, o caráter de missão atribuído à docência se contrapõe à baixa recompensa material oferecida pela profissão. Dessa forma, o salário não seria o principal fator elencado pelos cotistas para justificar a atratividade da docência. Ao contrário, o desapego material aparece como um sentido claro, inclusive associado à necessidade de se ganhar apenas o suficiente para sobreviver. Ou que, quando comparado com outros empregos anteriormente experimentados, o trabalho de professor oferece melhores condições. Assim, a carreira docente não deixa de ser associada a uma oportunidade concreta de ascensão social.

53 “[...] um professor em média, trabalhando oito horas por dia no ensino médio ganha dois mil e pouco. Pra mim tá bom”(A) “[...] o salário não seja tão importante quanto a minha atuação. Talvez eu trabalhasse até de graça [...]” (D) “Trabalhava na roça” (A) “Eu era recepcionista de uma clínica.” (B)

Por fim, caberia também certa cautela para avaliar isso que está sendo classificado como desapego material. Não deve passar despercebido o fato de que a carreira de professor foi mencionada como uma ocupação possivelmente temporária. “[...]eu não quero chegar ao 40 anos da minha vida tô com 24 pra 25 agora é tá dando aula [...]” (F) “[...]ser professor é algo bem dramático ao mesmo tempo que vejo professores que tem uma relação muito boa com a sua profissão, vejo professores que trabalham e acabando trabalhando [...] com a sua profissão como se fosse algo passageiro, algo temporário.” (B)

Ou ainda, também não deve passar despercebido o fato de que, considerando os próprios méritos, os cotistas se percebem em condições de almejar ocupações que lhes parecem mais atrativas do que a docência na educação básica. “Mas só que eu pretendo fazer mestrado também [...] Pode ser que eu vá fazer doutorado fora, e asseguro minha vaga aqui [na UFPR]. Se eu não passar no doutorado [...] professor é sempre uma garantia.” (A). “[...] se eu for professor universitário, ir para acadêmica aí, seja também como pesquisar, coisa que é muito difícil no Brasil, mas tudo bem. Eu vejo que eu vou trabalhar com alunos que estão em um período de formação, de transição de pensamento é que estão aptos a modelar melhor várias condições [...]” (F)

Dadas essas associações de ideias, percebe-se que a escolha pela carreira docente é acomodada em função de racionalizações claras. Ainda que ambivalentes, essas racionalizações demonstram que os entrevistados sustentam o interesse em trabalhar como professores. Ao mesmo tempo, no entanto, deixam entreaberta a possibilidade de que esse trabalho possa representar algo apenas temporário. Investigando o abandono do magistério na Educação Básica, Flavinês Rebolo Lapo & Belmira Oliveira Bueno (2001) trabalharam com ex-professores do ensino público de São Paulo. Coletando depoimentos com pessoas que desistiram do magistério, procuraram identificar quais os motivos que causaram tal situação. Além dos baixos salários, foi

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identificada que a insatisfação com o trabalho docente foi acentuada devido a outros fatores como sobrecarga de trabalho, falta de apoio dos pais e dos alunos, sentimento de inutilidade em relação ao trabalho, a concorrência representada por outros meios de transmissão de informação e a crítica à organização do sistema educacional. O acumulo desses fatores ao longo da trajetória profissional contribuiu para a constituição do processo de abandono da profissão. Tal como indicado acima, é notório que as pesquisas sobre o abandono da carreira docente mobilizam a noção de desencanto. Ou seja, deixa-se de ser professor na Educação Básica porque a atividade reúne um sem número de elementos que contribuem para repelir. Sem pretender contestar o que é proposto por essas pesquisas, as representações sociais aqui analisadas indicam a necessidade de se atentar para outra possibilidade: mesmo sabendo das agruras que cercam a carreira docente, os cotistas – futuros professores – encontram razões plausíveis para optar por ela; ainda assim, tal como em outros momentos de suas trajetórias, não deixam de avaliar outras possibilidades e cogitam que possuem mérito suficiente para buscar carreiras percebidas como mais atrativas.

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6.CONSIDERAÇÕES FINAIS: Refletindo sobre as representações sociais, Wolfgang Wagner (2000, p.169) afirma que o sistema coletivo de entendimento, justificação e racionalização desenvolvido por determinado grupo a respeito de suas práticas define a perspectiva na qual os indivíduos conseguem alcançar uma compreensão através da sua situação social e da sua identidade. Assim sendo, a partir das representações sociais elaboradas pelos alunos cotistas, foi possível perceber as justificativas para a escolha pela licenciatura e como eles enxergam a carreira docente. É pertinente considerar que os alunos pertencentes às classes sociais desprivilegiadas possuem uma visão positiva da licenciatura. A esse respeito, embora não encontre respaldo neste trabalho para ser generalizada, a proposição de que tornar-se professor significa uma possibilidade de ascensão social deve ser tratada como bastante significativa. Além disso, essa possibilidade não deve ser tomada como uma etapa definitiva na formação ou na escolha profissional dos entrevistados, dado que os mesmos julgam reunir as condições necessárias para concretizar outros objetivos, tais como a pós-graduação e o possível ingresso no magistério superior público. Essas considerações, tratadas aqui como ponderações possíveis a partir de uma pesquisa exploratória, podem oferecer orientações importantes para futuras pesquisas de caráter quantitativo, capazes de mensurar em que medida esses sentidos encontram-se distribuídos no universo de estudantes cotistas que atualmente frequentam o ensino superior público. Da mesma maneira, os resultados aqui obtidos indicam a pertinência de se observar as diferentes trajetórias individuais desses estudantes, dado que suas avaliações a respeito dos temas problematizados demonstraram estar ancoradas em experiências e contextos de interação que antecedem o ingresso no Ensino Superior. Um exemplo de como essas experiências foram relevantes para os resultados obtidos nesta pesquisa diz respeito à avaliação que os entrevistados elaboraram sobre o sistema de cotas. Por um lado, ponderam a respeito da necessidade de uma intervenção compensatória por parte do Estado para corrigir a desigualdade presente num processo seletivo. Por outro, posicionando-se como os sujeitos beneficiários dessa intervenção, eles mobilizam argumentos para salientar o seu mérito, identificado principalmente na sucessão de obstáculos e desafios que superaram para chegar ao Ensino Superior. Além disso, suas experiências continuam se

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reconfigurando durante o período de graduação, processo que os leva a perceber a necessidade de oferecer uma contrapartida concreta pela oportunidade que receberam. A partir disso, pensando as políticas afirmativas de maneira mais ampla, seria pertinente ponderar a respeito das consequências e implicações dessa autoimagem para a vida acadêmica desses sujeitos. Afinal, não deve passar despercebido o depoimento de um aluno que se vê numa espécie de dívida, tendo que provar o valor individual num espaço competitivo e hierárquico como o acadêmico. Os relatos dos entrevistados também sugerem, dado o fato de constituírem um grupo com nítidos laços de interação, a pertinência de aproximá-los à caracterização feita por Jessé Souza de uma nova classe trabalhadora que emergiu no Brasil da última década. Considerando as políticas de renda mínima e as políticas afirmativas de caráter compensatório, o autor pondera que o acesso à estrutura de oportunidades providenciadas pela intervenção do Estado não é uma garantia de mobilidade social ascendente. Essa estrutura deve ser complementada pela incorporação de hábitos compatíveis com a ética do trabalho, ética socializada prioritariamente através de processos de socialização primária. Foi possível observar a esse respeito que os entrevistados enfatizam o estímulo conferido por familiares para seguirem adiante na escolha que fizeram, mesmo quando isso implica em acumular compromissos de trabalho consecutivos aos de formação. Nesse sentido, tenacidade e perseverança são elementos centrais para a caracterização dos sujeitos desta pesquisa. Finalmente, foi um objetivo deste trabalho problematizar a formação de professores para a Educação Básica em conexão com a trajetória de alunos cotistas matriculados em cursos de licenciatura. Como foi argumentado em sua introdução, a minha trajetória pessoal se confunde com a trajetória acessada através do conteúdo das entrevistas aqui apresentadas. Nesse sentido, reconhecendo o caráter provisório das proposições estabelecidas aqui, cabe ressaltar a necessidade de dar continuidade à investigação em momentos posteriores da minha formação. Tal como os sujeitos desta pesquisa, acredito que as possibilidades abertas pelas políticas afirmativas podem ser aproveitadas para se almejar novos objetivos. Afinal, parece razoável admitir que qualquer processo de inclusão pressupõe que em associação às ações compensatórias o esforço individual continua sendo necessário.

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ANEXOS I: Bloco 1 – Trajetória:

1.1 - Como era a sua vida estudantil antes de você entrar na universidade? 1.2 - O que você fazia durante esse tempo em que você tentava vestibular ? 1.3 - Qual foi a primeira vez que você soube das cotas? 1.4 - Você lembra qual foi a primeira vez que você ouviu falar das cotas? 1.5 - Você tinha conhecimento sobre o funcionamento do mecanismo das cotas? 1.6 - Quando você entrou na universidade você já tinha noção de qual era a diferença entre o bacharelado e a licenciatura? 1.7 - O que representa para você ser professor? 1.8 - Por que você manteve a licenciatura em sua formação? 1.9 - O que você entende por carreira acadêmica?

Bloco 2 - O que você entende por:

2.1 - Cotas sociais/raciais 2.2 - Licenciatura 2.3 - Professor/Professora Bloco 3 – Refutações:

3.1 - As cotas estão associadas ao declínio da qualidade de ensino. 3.2 - Os novos professores são recrutados entre os alunos de rendimento escolar mais precário. 3.3 – A organização das licenciaturas é inadequada para a formação profissional. 3.4 - A carreira docente na educação básica não é atrativa.

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ANEXOS II: ENTREVISTA (A): 18/09/2014 – COTISTA SOCIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS

-Desde que eu era criança tal, desde o prezinho ensino fundamental. Eu tinha bastante orgulho assim de sempre as professoras falavam para mim mesmo e quando tinha reuniões com os pais falavam que o xxxxx era um menino super inteligente. Esse menino vai longe. Isso aqui pra mim, eu tenho orgulho. Eu sempre tive um gosto pela leitura muito grande. Gostava de ler os gibis, o pato Donald. Adorava ir na casa do meu primo é lá ele tinha monte de gibis, eu ia na casa dele e ficava lento, lento, lento. “Onde tá o xxxxxxx?”. “Ah, ele tá lendo.” Ih, foi assim, né. Quando era criança mesmo, ali pelos sete a onze anos de idade, meu grande sonho era ser jogado de futebol. Acho que a grande maioria dos brasileiros é assim. Só que quando eu fui para a 6º serie teve um exemplo que marcou a minha vida, o professor A. de história. Eu sentinha que ele nosso esse cara ama o que faz mesmo. Ele sem dar provas, aquela coisas chatas, objetivas “ah, o que é isso blá, blá, blá...”. Ele fazia as suas avaliações fazendo teatro, nos fazíamos encenações sobre a revolução francesa. Dai a gente ficava se preparando para fazer uma encenação sobre a revolução francesa adorava isso porque eu gosto de atuar também. Na igreja onde eu fazia apresentações assim era elogiado por isso também, eu atuava bem. E também dai. Eu vi, sempre gostei mais de estudar e ler coisas sobre história, geografia. Não gostava muito de matemática assim. Eu nunca me dei bem com os cálculos, tal. Gostava de ler assim. Tipo geralmente na 5º, 6º, 7º serie, 8º os professores, assim eles davam o ano inteiro, tipo um livro. Esse ano vai ser trabalhado esse livro em uma semana, um livro de história, eu lia por quanta própria. Grécia, Roma, dai eu decidi ali quando eu tinha doze, treze anos, eu quero ser professor de história. E dai ai que esta, tal completei a 7º serie. Só que dai quando estava na 8º serie tinha... foi descoberto em janeiro, fevereiro...estava entrando para a 8º serie, o momento mais terrível da minha vida se fez presente. Que foi o fato de foi constado que eu tinha um câncer. Dai a questão é que eu enfrentei a doença sem saber que eu estava enfrentando uma terrível doença. Sabia os médicos falavam você tem linfoma de Hodgkin. Só que os meus pais conversaram com os médicos e só depois anos mais tarde que dai eu fiquei sabendo pelos meus pais. Eles esconderam de mim, dos meus amigos próximos. De todo mundo escondeu ninguém falava pra mim você tem câncer ou você teve câncer. Depois que eu fiz uma psicoterapia que dai eu vi que foi uma estratégia que eu mesmo usei para enfrentar a doença eu escondi de mim mesmo que tinha câncer. Foi algo assim que tá eu vou enfrentar

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isso que é engraçado isso que eu sentia dores terríveis pelo tratamento de quimioterapia e radioterapia só que eu nunca perdi aquela esperança eu sempre fui um menino divertido e alegre nunca perdi a esperança “a eu tenho uma doença grave” não sempre alegre tal. Mas enfim, dai o meu pai chegou lá aqui no hospital pequeno príncipe e falou para mim “xxxxx você vai ter que fazer um tratamento ai acho que bom você ficar por casa esse ano, não vá para a aula.” Aquilo foi terrível para mim nossa a coisa que eu mais gosto de fazer que é ler e estudar como é que eu não vou? Não pai, não eu quero estudar é isso não vai me impedir. Mesmo a medica falando “ele não precisa pai parar de estuda. ele pode fazer o tratamento normal e ir para a aula.” Só que dai o meu pai de tanto insistir e tal dai eu acabei aceitando ficar um ano fora. Eu compreendo que meu pai e minha mãe queriam o meu melhor. Mas para mim isso foi muito triste e terrível porque nosso ficar fora. Mas enfim, tenho a doença. Ótimo. Linfoma Hodgkin era um linfoma e tal. Dai sai uns módulos aqui. Dai eu que pegar fazer uma biopsia dai foi constatado que, ai depois mais tarde tal que eu fiquei sabendo que era um tumor maligno entre o pulmão e o coração. Veja era algo grave mesmo só que num momento eu peguei isso para mim “que é algo grave” enfrentei a doença. Sem colocar isso na cabeça e fiquei com aquela alegria de viver. Como eu tenho até hoje assim. E foi dai que fiquei um ano dai voltei a estudar. Quero ser professor de história, professor de história, eu amo isso e quero ser. Só que na escola lá onde eu estudava no ensino médio principalmente, área rural os professor não vinham tinham professores que não estavam nem ai também com aquilo ali, ou seja, o ensino era péssimo. Eu vou falar a verdade era péssimo mesmo. Só que eu tentar federal tal. Durante o meu prezinho foi lá área urbana de Araucária, mas de 1º a 4º serie já foi na área rural de Araucária. Capinzal o nome. De 5º a 8º seria no Rio Abaixinho outra comunidade rural de Araucária. E o ensino médio também foi nesta mesma escola. Só que durante a tarde era Municipal e a noite era Estadual. Era muito ruim assim, as condições de ensino precárias mais eu quero fazer federal, federal. Tinha muitos amigos meus que tinha essa coisa “que federal cara, federal é coisa de rico. Como é que você vai tentar federal?”. Eu tinha essa ideia nem que eu tenha que prestar vestibular 10 vezes eu vou entrar lá um dia. Dai foi que, eu queria História. Eu completei o ensino médio em 2005. Tentei, não passei. Faltou uma questão para passar para a segunda fase. Naquele ano foi 32 a linha de corte e eu acertei 31 questões. O outro ano. Acertei 34 questões, só que dai aumentou a linha de corte para 36. Não passei também. Também tinha uma cobrança muito grande da minha família “você que isso?” “blá, blá, blá” “tem que se esforçar mais” rolava também uma pressão da minha família. Ok! Terceiro ano tentando vestibular para História. Passei para a segunda fase. Nosso

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foi uma alegria imensa. É agora, agora vai. Não foi também. Dai eu acabei eu sou inteligente, como é que pode o que é isso? Eu chego lá. Enfim na quarta vez. Tentar para História. Passei para a segunda fase, também não. Dai no quarto ano já, poxa federal é algo quase impossível mesmo. Dai eu tentei outra estratégia, eu vou tentar esse ano sem pressão nenhuma, vou fazer por fazer a prova. Só que eu vou fazer Ciências Sociais que é mais fácil de passar , dai eu faço para História com um “Provar” ai tal. Dai foi que eu passei e aquela alegria de ver o meu nome lá, fiquei muito alegre e tal. Mas eu tive comigo que, alegria se eu tivesse passado em História seria muito maior. Mas então, entrei lá, agora estando lá vai ser mais fácil de fazer lá. Só que com duas semanas de Ciências Sociais eu me apaixonei e foi assim. O que eu sempre gostei na minha vida estou vendo aqui agora, eu acho que a História não ia me dar isso. Eu sempre gostei de, claro que a História trabalhava com humano também e tal, mas poxa antropologia aqui, sociologia nossa que massa e isso mesmo que estava procurando esse tempo todo. Foi o curso que me escolheu não eu que escolhi o curso. Foi assim. E foi assim dai. A minha trajetória até entrar aqui na UFPR.

-Trabalhava na roça. -Não ai que tá. -O meu pai trabalhou na agricultura até os 32 anos de idade. Depois entrou na prefeitura de Araucária. E minha mãe é do lar , assim. Dai eu ia trabalhar para outras pessoas por dia. Porque lá tinha que quebrar milho, ai cobrava por pacote que eu fazia. Arrancar feijão, as vezes era por linha. As vezes era por dia. Juntar batata era por saco. Era essas coisas assim. Trabalhar para outros para ter dinheirinho para final de semana poder ir para o baile dança. -Usava as cotas sim. -Eu sempre usei as cotas. -Sempre usei. -Das cotas, deixa eu ver, a primeira vez foi lá em 2005. A primeira vez. Não tinha computador foi lá na minha tia. Foi eu sabia das cotas raciais. Acho que no momento, no ato da inscrição. Cotas sociais “para estudantes que estudaram a vida toda em escola pública.” Ah, eu sou isso, então foi ali, no ato da inscrição.

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-Cota social não. Só das cotas raciais. -Não. Nenhuma ideia. Nem sabia que tinha cotas sociais. -Não. -Quando eu já estava aqui. Para se ter uma ideia, eu pensava que as Ciências Sociais não era antropologia, ciência política e sociologia. Eu pensava que era Ciências Sociais e mesmo nome para sociologia. Eu entrei aqui tipo assim, não vou dizer perdido, mas totalmente desconhecendo totalmente o mecanismo, assim, tal. Eu entrei realmente em outro mundo para dizer a verdade. -Essa é uma questão difícil de responder assim. Pode ser que eu tivesse entrado. Mas, não sei te responder mesmo. -Minha família sim. Eu não. Elas falaram “a gente paga” mas não eu bati o pé “eu quero federal”. -Tinham lá em Araucária. Uma PUC ali acho que eles não tinham. Mas, tinha uma faculdade em Araucária, tem ainda a Facial. Ai, eles falavam pagavam para mim um curso de Administração. A é tem uma outra coisa que eu não falei que é, antes de entrar em Ciências Sociais, eu consegui uma bolsa integral no PUC de Psicologia. E eu não quis. Não, eu quero federal. -A federal. -Não, para ser professor mesmo. -Naquela época antes de entrar? Tentar mudar o mundo. Mas sabia, eu tinha aquela visão assim colocar uma sementinha em cada aluno assim. “Porque ah tal essas coisas assim.” -Naquela época, é eu via assim, ah o mundo tem muita exploração e eu saber expor essas minhas ideias para os alunos, se numa sala lá de 20 alunos se eu conseguir colocar na cabeça de três assim dai esses três já podem mudar outras coisas. Mas, na época eu tinha essa visão que o papel do professor é alguém que esta ali para mudar a vida das pessoas. Do sofrimento delas. Não, você pode você consegue. É tipo o professor como um agente de transformação.

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-Não. O professor como um agente de transformação isso não mudou. Mas mudar o mundo assim, ah porque se sair daqui vai da uma boquinha lá como se fosse uns tentáculos não, esse sentido não. Mas como agente de transformação sim. Porque eu sei, eu tenho ideia que numa sala de aula e humanamente mesmo, não vou e nem devo mesmo fazer a cabeças dos alunos. Mas se eu for, se alguém ali escutar o que digo e falo das teorias mesmo ali se aquilo que eu disse e falar ai e puder ajudar um aluno que seja tarefa comprida. Seria uma missão comprida. -Os dois. Eu sou de 2010. Que ainda era as suas juntas. -Porque eu queria ter os dois. Porque eu tinha ideia que bacharelado e que eu sempre fui assim tipo me cobrei demais nos aspectos dos estudos estou aqui vou fazer os dois. Licenciatura me garante, agora falando no trabalhador mesmo, me garante na digamos assim no mínimo. Digamos assim, o ensino médio, dar aula no ensino médio. Bacharelado em antropologia vai me dar a oportunidade de um dia dar aula na universidade. De antropologia. Falando assim como um... -Porque, hoje em dia o meu objetivo é seguir uma carreira acadêmica, hoje em dia. Mas vamos supor se eu tivesse optado somente pelo bacharelado eu não poderia fazer esse concurso agora que eu passei. Me formaria bacharel tá, sou bacharel em antropologia e agora? Eu vou para o mercado de trabalho não vai adiantar. Acho que até para ser professor universitário tem que ter a licenciatura se eu não me engano, hoje em dia. Eu não sei. Isso eu não sei dizer. Mas porque tem muitos professores nossos ai que só tem bacharel e dão aula para nós. Mas eu não sei realmente como é que funciona hoje. Mas esse mínimo que eu disse aqui é no sentido de eu sair daqui e ter uma garantia de emprego. É isso. -É dar aula numa universidade pública. -Primeira coisa? -Oportunidade. -Chance. -Sim. -Alegria. -Aulas.

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-Amor. -Comunicação. -Minha comunicação com outros seres humanos. -Vocação. -Vou utilizar mais de uma palavra: Amar o que faz. -Amor pelo que se faz é fazer algo que ao mesmo tempo de dá satisfação e é importante para um outro também. -Duas vezes. -Sim. -A primeira fez foi quando no concurso que eu tive que dar aula para uma banca. Fiquei muito nervoso antes assim, muito, muito. Só que depois que começo, ali vai. Como se fosse algo assim tão natural mesmo. Nossa porque ficar tão nervoso porque é algo que eu lutei assim tanto para estar aqui. Então vai. Algo parecido quando eu também ia apresentar algumas peças de encenação e de teatro. Da aquele nervosismo mas a partir daquele momento em que se abrem as cortinas pronto, ferrou agora tem que ir pra frente. E naquela vez também que eu dei aquela aula lá no Estadual que eu fiquei nervoso também muito, muito antes assim. Será que vai dar certo? Será que vai dar certo? Mas depois que eu comecei a falar ali, foi fantástico. É também receber elogios dos próprios alunos depois é muito gratificante. Não, que legal que a coisa que mais me deixou feliz naquela oportunidade foi me chamarem de professor pela primeira vez. Professor, professor, nossa que bacana isso. -Mística no sentido de como se fosse uma inverdade? -Penso na antropologia como se mito fosse... -Eu não concordo. Porque de maneira alguma tal, vai diminuir a qualidade do ensino tal, porque veja, eu foi um exemplo e tal, e teve ter outros exemplos espalhado pelo Brasil de pessoas que querem aquilo para suas vidas e eu falo por mim como professor, mas pode ser por qualquer outra área do conhecimento que uma criança ou jovem tem aquele sonho “eu quero ser x coisa”. E dai não tem a oportunidade necessária, o suporte para entrar numa universidade pública, gratuita e de qualidade. Pode ser que, não eu era tão chato e teimoso que

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por mais que não tivesse as cotas eu iria tentar até um dia pegar e passar. Mas a qualidade do ensino em si, pelo menos eu falo pela uma experiência minha, das escolas públicas assim na, não eram boas salvo exceções de algum outro professor que dai tornavam aquilo legal. Ah ir para escola porque vou ter aula com

aquele professor legal. Mas de forma alguma eu

concordo que as cotas diminuem a qualidade do ensino porque elas tão oportunidades para pessoas magnificas que tem muito o que contribuir com a educação do Brasil é não tem essa oportunidade. -Você poderia repetir? Desculpe. -Ah, entendi. -Olha infelizmente é uma realidade que está ai mesmo. Porque geralmente assim quem é de classe mais abastadas é uma questão social já de status. Ah, você vai fazer medicina, direito. E eu falo pela minha experiência que eu nunca quis ser médico, e advogado. Mas, tenho certeza absoluta que pessoa da minha idade que crianças na época, jovens tinham vontade de ser médicos e professor. Só que o sistema ali não da essa oportunidade para eles serem médicos, advogados, engenheiros. E eu enxergo potencial, muito nas pessoas. Mas por não ter. As vezes é pura falta de informação também. E é isso geralmente, mas não quer dizer que e que eu tinha o sonho de ser professor. Mas não vejo isso como uma máxima também sabe, porque rendimento mais baixo vai se tornar professor. Não, não concordo com isso também porque e eu tinha um rendimento escolar alto e escolhi ser professor. -Isso tem um pouco de verdade também. É porque eu já ouvi relatos de experiências de pessoas que também começam a dar aulas tal, que foi até engraçado eu vi um amigo meu falando assim numa palestra que ele deu assim, dai uma pessoa perguntou “e as matérias que você teve aqui na UFPR em licenciatura no que te ajudaram quando você foi enfrentar uma sala de aula?” Ele falou, “nenhuma”. Essas teorias que a gente houve aqui, nada. Cada sala de aula, é um, digamos é um mundo diferente. E não é uma teoria psicanalítica da educação, não que, claro, que não tem relevância nenhuma, claro que não, não isso que estou querendo dizer. Mas acho que falta algo a mais. Falta algo a mais nas matérias de licenciaturas. -Só pela licenciatura? Que eu tive aqui? -Não 100%.

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- Porque no meu caso faltou mais aquela vivência em sala de aula, eu tipo assim, tive experiências assim em sala de aula de observação durante três semestres é uma aula. Eu acho que a gente deveria ter um maior contado com as salas de aulas. Porque geralmente eu até falei isso um dia com o xxxxx com outras pessoas que fazem parte do PIBID que geralmente e só esse programa que dá tipo assim, os alunos que fazem parte dele é que tem mais acesso a sala de aula, tal. A mais alguém fala é falta de interesse você pode ir lá também. Mas, pode ser que tenho um pouco isso. Mas, não acredito que seja falta de interesse das pessoas. A própria licenciatura em si tinha que estimular isso. não só fazer parte de um programa de aluno x,y e z participar. Todos que fazem licenciatura tinham que ter, digamos, o programa PIBID tinha que ser para tudo mundo. -Olha, sim. Eu tinha interesse fazer parte de PET, PIBID, tal. Mas para poder me manter aqui na faculdade eu tive que continuar no meu estágio que é aqui na biblioteca. Que ganho seiscentos e pouco reais por mês. Eu , tenho, preciso desse dinheiro para me manter aqui. -Uma questão puramente econômica, mesmo. -A sim ,ai sim nossa. Se fosse se eu tivesse uma grana, tal que não precisasse trabalhar nada, pra isso, com certeza. -De mim mesmo ou da licenciatura? -O que a licenciatura me deu? Nesta porcentagem. Bom o contato mínimo que seja com a sala de aula eu tive. Ir lá ter que dar uma aula, ir lá. O que me ajudou muito nestas observações. Eu que vou para a antropologia, anotava tudo, tudo, tudo. E uma coisa que eu percebi tal, que aquele, não vou dizer um romantismo, mas eu vi ali que a sala de aula, não diria nem a sala de aula, mas a escola em si e um local as vezes muito hostil. Não é só a relação professor-aluno é pedagoga, e direção, outros professores, pais de alunos. É um oficio que esta o tempo todo que vai também se frustrar as vezes. Não digo frustrar, largar essa profissão, não. Mas também não é um mar de rosas assim, tem também seus lados, não diria negativos. Mas saber que eu vou entrar lá é não vou estar no paraíso assim que tem, que é um local de trabalho como qualquer outro sim, que tem os seus sims e os seus nãos. É nesse sentido. -Impedir, ele não impede, mas é. Eu já comentei isso com vários colegas meus já aqui. Que já começaram a dar aula, eles “olha, ih xxxxxxx, não é esse mar de rosas”. Eu sei cara, eu já fiz observações em sala de aula, mas meus, eu acho que apesar de todas as intemperes, pode soar

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um pouco romântico mais eu sou assim mesmo, o prazer, o amor ali é maior que uma desavença com um colega de trabalho porque não tem local perfeito, não é. Tá bom a escola não é um local perfeito, mas também, uma fábrica não é, a universidade não é. Nada é perfeito, então acho que essa vocação. Essa vontade, é o que faz superar essas... -Financeiramente mesmo, eu sempre falo se quisesse ficar rico eu tinha feito outro curso. Mas também eu faria um curso lá que eu ganharia muita ganha mais seria infeliz sabe. Eu não pretendo ficar rico, mas eu pretendo fazer algo que eu goste. E eu costumo brincar também fazer algo que eu goste e ganhar dinheiro com algo que eu gosto, não é milhares, mas é fazer algo que eu gosto. -Com certeza. É precária. -Sim para pode, é para sempre mas isso não que dizer , é que eu não tenha ideia de dar aulas na universidade, ou seja, vou exercer o cargo o oficio de professor. Quanto tempo eu vou dar aula no ensino médio? Não sei. No mínimo três anos. Porque eu passei no concurso agora tal. É são três anos de estágio probatório. Mas só que eu pretendo fazer mestrado também. Durante esse tempo. Daí depois eu não sei. Pode ser que eu vá fazer doutorado fora, e asseguro minha vaga aqui. Se eu não passar no doutorado, mas ser professor é sempre. -Bom. No mestrado aqui eu vou tentar aqui. Se não me engano me disseram que dá para conciliar as duas coisas. Você ganha a bolsa do mestrado e contínua dando aula. Eu sou fazer isso mesmo. Vou fazer mestrado ok! Eu fico os três anos, me formo no mestrado tal. Pretendo fazer o doutorado se ganhar uma bolsa com o doutorado, se for numa outra cidade, outro estado. Eu tenho isso, não sei se isso é possível, mas eu tenho isso uma ideia, um objetivo de ir para outra cidade. E por ter passado os três anos de estágio probatório, ou ter dado aula durante quatro ou cinco anos que seja. Eu queria saber, porque e uma coisa que eu tenho que pesquisar melhor. Porque fazer o doutorado não é garantia de emprego na universidade, tal. Eu faço doutorado e volto aqui para dar aulas. Isso é uma coisa que eu tenho que me informar melhor se é possível isso. Mas, na minha cabeça é isso que eu tenho em mente atualmente. -Olha, de maneira nenhuma, eu acho que dar aula no ensino médio é menos é inferior, de que professor universitário. De maneira nenhuma. Eu Conheço muito professor no ensino médio que é, digamos, não vou dizer que é melhor, mas ele dá aula que professor universitário aqui não dá. Mas, a questão também não é também como tem exceções também, professor

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universitário, que eu vou “ganha mais” não, é porque eu gosto da antropologia. Não tem antropologia no ensino médio. Eu quero estudar aula eu gosto. E que financeiramente eu ganhei como eu falei antes, não porque eu vou ganhar muito, não mais ganhar dinheiro com algo que eu goste. -Pode. Mas se eu pegar passar no concurso para ser professor na universidade eu vou estudar na universidade porque eu gosto de antropologia. Sim o antropólogo não vai dar aula ele fala sobre a antropologia lá, só que eu gosto de fazer etnografia e isso não tem no ensino médio, mas é não uma questão financeira assim não. Porque ganhando, um professor em média, trabalhando oito horas por dia no ensino médio ganha dois mil e pouco. Pra mim tá bom assim. Só que pela questão de gostar mesmo, eu gosto de antropologia. Eu aprendi a gostar desse mundo acadêmico também assim. Mas isso não quer dizer também que tem que se desvencilhar do ensino médio de maneira nenhuma, sabe tem que ter esse dialogo com o ensino médio tal. Mas ai que tá acho que você deve pelo o que eu te conheço assim achar que eu quero ser professor universitário porque eu acho menos que uma carreira de professor de ensino médio. Não de maneira nenhuma é que eu gosto da antropologia mesmo. Sabe? É isso.

ENTREVISTA (B): 28/09/2014 – COTISTA SOCIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS -A com relação ao ensino médio? Ou com relação a preparação para o vestibular? -Bem, a minha trajetória, ela é um pouco engraçada porque eu vim de Santa Catarina para cá e nunca tive essa questão definida de fazer um curso superior. Essa ideia ela veio crescendo na minha cabeça a partir do momento que eu arranjei um emprego. Quando eu estudava no ensino médio também. Falar bem a verdade as vezes estudar é uma incógnita. Porque a gente nunca sabe pra que vai servi aquilo tem sido uma obrigação. Mas, conforme eu ia trabalhando ,eu ia descobrindo que aquilo tipo função não era o que eu queria fazer. Ao mesmo tempo que eu via que em meu entorno tinha muita gente resignada com aquele tipo de atividade. A partir desse momento de certa forma eu comecei a pesquisar quais eram as outras possibilidades. Lembrando que também antes do curso superior tinha o curso técnico. A maioria do pessoal que estudou comigo optou por curso técnico. Alguns fizeram curso superior principalmente na área de Direito e alguns sequer se deram ao trabalho de fazer algum tipo de curso pós-médio que eles chamam. Com relação as Ciências Sociais eu sempre tive uma afinidade muito grande com a área de Ciências Humanas e conforme eu ia pesquisando o curso de ciências

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sociais eu via que ele era o mais amplo em relação a possiblidade de estudos de história, geografia, filosofia era um curso que englobava muitas coisas o mesmo tempo tinha um corte reflexivo muito grande. Esse debate entre licenciatura e bacharelado confesso que eu vira a ter só aqui dentro da faculdade eu nunca tinha imaginado essa questão de dar aula antes de entrar na faculdade principalmente porque eu via o quão trabalhoso era isso no contexto da sala de aula. Eu mesmo um dos alunos que não colaborava muito para o professor dar aula as vezes. Aula de matemática era muito maçante e difícil você ficar parado simplesmente observando o que se passa e tentando compreender aquela abstração as vezes. E, eu achei esse oficio interessante na medida que os próprios professores iam apresentando a riqueza do processo de aprendizado foi é muito legal, muito interessante. Mas confesso que as vezes me incomoda um pouco, não só a questão da remuneração que eu acho que não é umas das piores mas o status simbólico do professor dentro da sala de aula e as vezes fora da sala de aula. Muitas pessoas as vezes perguntam: “mas você está estudando cinco anos para dar aula?” E tem aquela questão: “mas você só dá aula?” Eles acabam colocando o aspecto de aula como uma coisa menor é isso me incomoda muito. E essas pessoas as vezes conseguem elencar também a importância de um professor e lembra de bons professores que tiveram em sala de aula. E uma correlação muito estranha mais, eu não sei se eu respondi sua pergunta eu vou fazer umas digressões isso vai um pouco longe. Mas para falar bem a verdade, essa questão de dar aula veja como uma coisa muito mais concreta como o metier do pesquisador neste momento. E, eu não sei se isso esta na minha cabeça mais um pesquisador de ciências sociais ele tem que ter uma especialização muito grande, uma pessoa não puder se dizer sociólogo sem ter antes pelo menos um mestrado. E a ideia que ela já tem um aprofundamento na questão de método , já tem uma consciência maior acerca daquilo que ela tá pesquisando. Tanto que muito gente trata a monografia como um esposo do mestrado as vezes. Enquanto que na licenciatura e também a segunda questão da licenciatura, eu vejo a licenciatura como uma maneira de você aperfeiçoar aquilo que você aprender na sala de aula . O desafio da transmissão do conhecimento apreendido as vezes é muito mais complexo que o desenvolvimento de uma dissertação de mestrado. Acho que por hora é isso. - O sistema de cotas , eu fiquei, na verdade eu devo essa questão do sistema de cotas a um professor do ensino médio que era o professor de geografia que ele sempre instigava os alunos a fazer curso superior. Ele falava que a gente tinha um potencial muito grande, que estuda na federal também que ele tinha uma trajetória muito parecida com a minha nesse sentido acho

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que eu me identificava muito com ele que era o rapaz que fazia o ensino médio trabalhando e ele falou “eu fiz o ensino médio trabalhando e juntei dinheiro para pagar um cursinho prévestibular ai eu entrei na faculdade para fazer o curso superior de geografia e vi que o pessoal que estavam lá dentro não era tão capacitado ou não era tão intelectualmente superior quanto eu pensava. Eu conseguia debater de igual pra igual com eles e por vezes em função do meu empenho em relação aquilo que estudava eu conseguia me sopresai a eles.” Eu vi que a partir desse momento a universidade não era algo tão distante eu não, num certo sentido a elitização ao entorno dela era algo muito mais imaginário do que algo realmente real. E neste sentido eu agradeço muito ao professor que foi um dos professores que como eu posso dizer que fez eu aceitar o desafio de tentar o curso superior de tentar o vestibular e fazer uma universidade pública. Que até então no imaginário dos alunos da época que era um espaço muito elitizado, espaço para poucos. Não deixa de ser mas, não é tão inacessível quanto a gente pensava. E eu acho que desse ano três ou quatro alunos que eu estudei juntos passaram na Universidade Federal do Paraná. - Para falar bem a verdade eu sabia muito pouco os esclarecimentos que eu tive a partir dessa politica de cotas foram a partir do professor ele falou que porque ate então eu sabia das cotas raciais eu não me enquadrava neste aspecto. Eu sempre foi estudante de escola pública sempre é como eu posso dizer acho que isso, eu estudei em colégio público mais não sabia que tinha esse beneficio de estudante de colégio público mas dessa maneira o professor foi explicando é o vestibular ele tem, acho que foi um pouco antes do vestibular se transformar em duas etapa, sistema de múltiplas escolhas das opções, somatória. Ele falou recentemente foi instaurado também o sistema de cotas social e ele tem justamente a finalidade de fazer a ingressão dessas pessoas que estão no ensino médio público uma espécie de compensação socio-histórico com relação as classes menos abastadas. -Isso. -Professor de putz, eu só me lembro do primeiro nome dele, professor Patrick, ele era um professor muito jovem pra falar a verdade. Acho que na época ele tinha uns 25 anos ele era um professor que ele uso a sala de aula ele dava uma aula muito pontual muito resumida no sentido de apresentar muito bem o que ele tinha finalidade a cerca dos temas elaborados. Era um professor muito claro. E ele falava “gente o que eu tô ensinando não é algo muito difícil”; “não é algo muito complicado” “é e mais ou menos assim que eles ensinam na universidade também e mais ou menos esse conteúdo. Vocês tem que ter a clareza que por mais difícil que

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seja as vezes por função das questões sociais, as questões históricas que tem na trajetória de cada um , existe a possiblidade de ingressar num curso superior. Tanto quanto a possibilidade de um curso técnico. Ou de um como é que eles chamam, pós-médio. Só que a questão que você tem que ter claro na sua cabeça a possiblidade de você escolher entre essas opções não de você isso pré-determinado pra si.” Era um professor muito bom, eu me lembro que quando a gente começou a fazer um certo movimento com relação a fazer curso superior ele dava aulas a tarde pra gente, dando aula de reforço, geografia, de língua portuguesa e dentro do que ele conseguia de história também. Nesse sentido teve alguns professores de matemática do colégio que se empolgaram com a ideia e também ajudaram muito a gente. Em especial um que era o professor Toninho, professor... acho que era esse mesmo o nome dele, professor Toninho que era professor de Física que ele dava aula em dois colégios e ele disponibilizava tempo, uma ou duas vezes por semana pra ir dar aula de reforço pra gente numa sala na biblioteca do colégio. Assim, eram lembranças muito boas de professores, profissionais que eram engajados nesta ideia de ensinar. - Não, não confesso que na verdade foi a terceira vezes. A primeira fez que tentei vestibular foi a primeira e a segunda, a primeira vez foi na Universidade Tecnologia Federal do Parará que eu tentei para Design de produtos essa é uma época que eu estava bem aminado em relação ao desenho eu tinha muita facilidade e até hoje tenho facilidade em mexer em software de programação, software de desenho, mesmo pra desenhar fazer desenho de observação. Minha professora de educação artística ela tinha me levado para uma serie de eventos e de, não é bem um congresso, estou acostumado com o termo congresso, de exposições de artes porque ela falou que eu tinha uma grande potencial. Eu acho que até hoje eu acredito um pouco nisso não sei se erra mentira dela. Mas que eu tinha um grande potencial com relação a artes e, como artes visuais eu achava que era uma coisa muito teórica e também não fazia muito a minha praia de ficar fazendo pesquisa em cima de questões artísticas. Eu acabei optando por Design. Ela me ajudou muito com relação a parte de desenho de produção, incentivo também que as vezes eu acredito que seja uma das partes mais importantes. E da primeira vez que eu tentei CEFET eu foi muito bem na prova. Só que era um curso com vagas limitadas se não me engano era 22 vagas para curso integral. Eu não lembro a posição que eu devo ter ficado, mas devo ter ficado entre os 30 primeiros. E é depois que na verdade esse curso é que meio um preparatório para o da federal. Ai no final do ano tentei design de produtos na federal também só que não tive o mesmo desempenho que tive

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no CEFET acho que não passei nem na primeira fase. Dei uma desanimado por um certo tempo porque querendo ou não você se prepara por um ano pra quilo você tem um conjunto de aulas, um conjunto de expectavas que são elas elaboradas, construídas ao longo desse trajeto ai quando você não passa são frustrados mais logo depois eu foi observando outros curso , não sei se foi um certa frustração em relação ao resultado do design. Mas depois eu foi se aprofundar mais a cerca do que era o curso de design as pessoas que faziam o curso de design a finalidade das pessoas que estão dentro do curso de design que me mudou um pouco e acabou me frustrando. Eu acabei trabalhando com uma outra área que eu sempre tive muito prazer que foi a questão da historia, da geografia, a sociologia que eu não tive no ensino médio mas sempre acabava pegando um pedaço ou outro do professor de geografia ele ai discutindo. E juntei isso as Ciências Sociais pra falar bem a verdade, bem a verdade foi um curso que eu ingressei sem ter concretamente o conhecimento do que se tratava assim. Porque as vezes o pessoal se confunde com os Estudos Sociais. E uma vertente mais não é de fato Ciências Sociais que a gente tem aqui na faculdade. Mas apesar de parecer ter sido um escolha meio, como eu passo dizer, meio que nas escuras foi um curso que eu gostei que eu gostei muito nos últimos 4, 5 anos, não 6. - Exato. -Na verdade o conhecimento da licenciatura e bacharelado ele veio através da discussão da separação do curso dessas duas áreas de competência né. Se não me engano no primeiro ano que eu ingressei já teve um debate muito que agente veio foi o ultimo ano da dupla licenciatura e enfim um debate construindo um discurso que essa separação era muito negativa. E eu acabei tentando compreender em que sentido essa questão entre formar apenas bacharéis e formar apenas licenciados era negativas. De certa forma eu acho que eu posso elencar o PIBID quanto um espaço onde esse debate teve um aprofundamento muito grande. Poderia ter ido muito além mas foi um aproveitamento muito bom e justamente ele veio no caminho inverso em pensar que licenciatura não é tão somente licenciatura porque um professor também pesquisa e essa as vezes essa ideia de você elencar a separação entre licenciatura e bacharelado pode ser algo um tanto quanto negativo porque efetivamente você acaba tendo um discurso bacharelesco que a ideia de você formar um professor sem bacharelado vai formar um professor incompleto quanto na verdade pelas experiências que eu tive ao longo do PIBID eu vi professores com a capacidade de pesquisa muito maiores que a de um pesquisador efetivamente. Professores que tem que construir um plano de aula as vezes

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em uma ou duas horas que é o tempo que eles tem. A licenciatura enquanto oficio, pra falar bem a verdade acho que e algo que ate hoje não parece algo enquanto muito concreto. Eu vejo que eu preciso um pouco mais de maturidade para chegar na sala de aula e dar uma boa aula. Dizem que isso vem com a certa experiência mais as vezes o que mais me assusta na questão do contexto de sala de aula mas é de não produzir uma boa aula para aquelas pessoas estão ali ou acabar trabalhando com a, os alunos como se fossem cobaias. Acho que isso é um pouco mais preocupante para mim. - Olha acho que neste momento a figura do professor em primeiro lugar representa a ideia de você se formar num curso e de atual nele que é justamente a ideia de você ter uma formação a qual você vai utilizar futuramente. Num segundo momento é a ideia do educar, o individuo que acaba é, construindo ou modelando ou desmodelando, deformando e formando depende do termo que se queira usar, o cidadão. Acho que assim em termo bem rasos. -Olha ser professor é algo bem dramático ao mesmo tem que vejo professores que tem uma relação muito boa com a sua profissão vejo professores que trabalham e acabando trabalhando com, com a sua, com a sua profissão com se fosse algo passageiro, algo temporário. Eu imagino que isso reflete um pouco na forma em que ele se porta em sala de aula. Mas, eu vejo que pra mim ser professor é um profissão muito importante, muito relevante a qual eu atuaria com muito prazer neste momento. - Sinceramente poderia. - Eu optei em manter o bacharel e a licenciatura justamente por pensar de maneira oposta ao discurso da separação, eu acho que da mesmo forma que você faze a licenciatura sem o bacharelado seja algo incompleto. Eu penso que fazer um bacharelado sem uma experiência de sala de aula se uma experiência didática, sem uma experiência de saber reproduzir aqui que você aprender ao longo da faculdade e algo tão pobre ou ainda mais que a própria que própria ideia de você ter uma licenciatura sem um bacharelado ou um bacharelado sem uma licenciatura que eu vejo isso em muito professores em nosso curso a dificuldade que tem da transposição do conhecimento. Penso eu que seja uma dificuldade, não vou pensar que isso seja uma má vontade. - Eu acho que o bacharel acaba vendo a licenciatura com um osso do seu oficio como uma questão complementar ao fato dele esta trabalhado com pesquisador na Universidade Federal do Paraná. Lembro um pouco a discussão do Weber da ideia de... é, nossa lembrar agora do

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Weber, mas a ideia da...a gente. A não lembro o nome do texto mais enfim... Ciência e política com vocação. Lembra essa ideia da vocação. Eu vou recomeçar um pouco depois você edita essa parte. - Dentro da faculdade? Ou pra além da faculdade? -Olha, eu vejo que depois da separação houve uma opção por parte dos alunos pelo mesmo pelo que tenho percebido da ideia deles ingressarem na licenciatura como a possibilidade mais imediato de aquisição de emprego. E o que mais as vezes me deixa como posso dizer apreensivo em relação a licenciatura e que parece que a cada novo gestor do Estado parece ela fica um pouco, um pouco dúbia esse ultimo governo do Beto Richa, ele acabou sendo um pouco complicado não só para os profissional de sociologia mas para o professorado, para os professores de uma forma geral parece que foi um ano não muito bom. Eu vejo a licenciatura de certa forma como uma possibilidade, ou talvez a possibilidade imediata de um emprego realmente de uma forma geral. Infelizmente ela ocorre atrás do PSS (Processo de Seleção Simplificado) parece ser uma forma do Estado omitir sua obrigação com relação a educação de qualidade contratar de forma emergencial professores sem ter um vinculo mais profundo. Criando também uma serie de divergências dentro das escolas eu já observei algumas vezes a relação entre concursado e PSS como ela acaba sendo um pouco mais tensionada principalmente em eleição de diretor e... O que mais que eu posso elencar neste momento. -Eu vejo como uma opção muito boa. Eu vejo que alguns cursos se quer essa opção tem Ciências Humanas eu acho que de modo geral quase todos os cursos tem se não me engano. Alguns cursos de Letras por não serem de Espanhol ou do inglês acaba não tendo essa mesma possibilidade. Talvez para os alunos de origem social pouco mais humildade esse termo é um ótimo, um ótimo eufemismo e seja um pouco mais complicado principalmente pela questão moral de você ter uma faculdade ao qual não vai lhe dar um retorno profissional ou ao menos um emprego seria uma coisa muito dramática. E ai num segundo momento que você pensar que para além desse emprego você acaba dento situações relativamente precárias as vezes a questão do PSS é algo que muito, e muito desconfortável. Não sei se ele pelo fato de você ver seus colegas de profissão tendo concurso publico e tendo uma situação mais estável dentro do Estado mais eu vejo que as vezes que o PSS se quer ganha decimo terceiro? Se eu não estou equivocado em relação a isso. Tem que ver as relações trabalhistas PSS em relação ao concursado.

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- Neste momento não. Acho que ainda falta muito para adquirir este status pelo menos no meu caso. - Olha, eu tive uma experiência diferenciada que foi o PIBID desta forma eu posso dizer que com o PIBID eu tive uma serie de situações que me permitiram ter uma visão mais concreta a cerca do que é realmente o ensino médio a cerca de quais são as questão que estão ali dentro e qual e a vida cotidiana do professor. Eu penso que a licenciatura em si e tão somente é algo que não me ofereceria isso. As duas disciplinas que seriam estágios, estágios supervisionados eles dão uma visão as vezes muito superficial a cerca do é o metiê do professor a cerca do seu trabalho. O que eu tive de uma experiência acho que foi em estagio supervisionado I foi justamente a dificuldade de ingressar em alguns colégios por que parece que eles tem medo de mostrar o que se passa ali dentro. mas nos colégios que eu tive a oportunidade de ver eu vi justamente o professor é alguns momentos do professor ali na sala de professores ele indo para a sala de aula geralmente tem turmas boas né, quem tem essa ideia de turmas boas e turma ruins mais eu peguei turmas que são relativamente tranquilas de se observar na minha experiência de estagio supervisionado II eu tive uma turma muito tranquila para dar uma aula que era uma turma do médio técnico. E eu sei que comportamento as turmas que eu observei em relação ao comportamento das turmas que geralmente são das salas de aulas elas divergem um pouco principalmente pensando que observei turmas de terceiro ano e da noite que essas pessoas tem um idade um pouco mais avançada em detrimento a turmas do primeiro ano da manha que tão lá com 14 , 15 anos que tem um comportamento diferente tem uma forma de ser expressar diferente e justamente em função da diferença de trabalho tão um pouquinho mais de dificuldade em relação a tradução a cerca daquilo que esta querendo se passar. E nesse sentido eu sei disso justamente porque o PIBID me ofertou a possibilidade de observar aulas ao longo da minha graduação ao longo a minha licenciatura e é uma experiência que eu acho que talvez outro alunos não tiveram ao logo da graduação ou talvez não quiseram ter também. Tem sempre que pensar um pouco nisso que ponto que você quer saber o que se passa até que ponto então tão somente o necessário para a sua formação. - Justiça social. - Penso eu talvez agora falta um pouco de algum espirito militante. Mas penso eu que justiça social no Brasil e uma forma justamente de você tenta reverter ou atenuar aspectos históricos que ocorreram que justamente ocorreram para o inverso para a acentuação da acumulação de riqueza da acumulação não só financeira como cultural também ao longo do processo de

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formação do pais. Eu penso na justiça social talvez direitos humanos agora seja a palavra mais utilidade. Mas justiça social como a conscientização das classes menos favorecidas que elas tem direito de acesso a educação ela tem acesso de direito ao acesso a educação plena elas tem um direito a intervenção a cerca do processo que esta ocorrendo politicamente, financeiramente porque eles incidem na vida concreta dessas pessoas. - Trabalho. - Olha, eu penso em forma de mim me sustentar. De ganhar a vida. Sendo mais objetivo possível. -Como professor eu tive breve experiências é acho que ao longo desses anos de licenciatura eu devo ter ministrado cinco ou seis aulas , as quais eu tive acesso a todo o processo de construção da aula desde de elaboram do tema a construção dos objetivos principais e secundários em relação a construção do plano de aula, a execução do plano de aula, a da avaliação do plano de aula. Foram poucos experiências mais foram experiências que tive a oportunidade de trabalhar desde o começo do processo elaborativo da aula até o seu ultimo estagio que seria a avaliação. -Olha, não sei se é a palavra correta mas acho que foi bem divertido num certo sentido. Eu acho que é tão interessante quanto mais que você elaborar uma pesquisa pra alguma disciplina com relação a algum tema que a gente pensa ser suspostamente relevante e você vê a confecção dele no seu estágio final. Eu acho que indiferença a esse processo que eu explicitei e mais interessante na medida em que você vê que pessoas estão ali tendo certa forma acesso a aquele conteúdo mais interessante quanto você vê que as pessoas acham aquele conteúdo interessante na medida em que você pensa enquanto a pessoa capaz de fazer aquele conteúdo ser interessante a aquele indivíduos e você ter o retorno que não é só o retorno com relação a avaliação mas e o retorno da pessoa ir até você falar:

eu achei seu conteúdo muito

interessante” ou “eu gostei muito foi uma boa aula”. E eu acho que isso e muito positivo neste sentido. Porque dos artigos que eu escrevi ou mesmo da produção que eu fiz ao longo do curso a gente não tem o mesmo retorno ou quanto a gente tem a gente acha que é um retorno meio que vazio sem a mesma espontaneidade. - Bem eu acho que na medida em que as cotas tiveram uma certa polemica com relação a sua instauração que eu acho que a polemica veio muito mais dos estabelecidos dos que justamente de quem ai beneficiados com relação a esse tipo de cotas. Eu penso que ela se apresenta

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enquanto uma forma de justiça social na media que primeiramente ela causa um incomodo nas pessoas que estão estabelecidas neste sistema. Ah, antes de ver o acesso é muitos vezes esse discurso de que está ocorrendo uma espécie de precarização do ensino superior e muitas vezes eles veem por partidos de extrema esquerda e ao mesmo tempo você vê que ele tem uma caráter carregado por um certo elitismo das pessoas que estão aqui eu vejo com uma espécie de justiça social ainda assim como um justiça social parcial porque as pessoas conseguem tão somente ingressar na faculdade dos colegas eu acho que talvez seja uma questão muito interessante de se pesquisar, dos colegas cotistas que entraram quantos estão concluídos o curso superior em relação a aqueles que entraram por “meritocracia”. E, porque a faculdade ao longo do seu percurso ela geral ou demanda dos seus alunos uma serie de como eu posso dizer, abrir mão, produz uma serie de escolhas nas quais as pessoas que estão aqui dentro tem que abrir mão de algumas coisas. No meu caso foi abrir mão de uma renda um pouco superior que eu tinha antes de entrar aqui e eu tenho que ainda ficar muito feliz que eu consegui bolsas ao longo do percurso da faculdade eu tive conhecimento de pessoas que não tiveram a mesmo sorte. A gente deve duas greves um pouco longas e eu tive conhecimento de pessoas que desistiram do curso, não de ciências sociais mais de outros cursos exatamente por não ter condições matérias de se manter ao longo desse período. Então a gente vê que uma justiça social que pensa na ingressam desses alunos mas acaba esquecendo na questão da permanência desses alunos. Eu penso que isso esteja mudando um pouco talvez a faculdade seja um pouco resistência a essa politicas por pensar que elas acabam privilegiando excessivamente os alunos. Eu penso que privilegiar alunos que sempre foram desprivilegiados nada mais e do que da oportunidade deles mostrarem que tem algo diferencial. -Olha, eu tenho pra mim e sempre um valor muito grande de certa forma talvez passado pelos meus pais que antes do aspecto financeiro vem o aspecto cultural. Talvez uma questão que ao longo do curso se desenvolveu que essa questão cultural a gente sempre tem. E mas acaba associando a essa ideia de cultura à intelectualidade. Então intelectualidade é algo que a gente não tem aqui ao longo do tempo. Pelo menos não na forma como as pessoas imaginam. Mas eu sempre tive um inventivo muito grande com relação a estudar dentro de casa. E Isso foi muito positivo pra mim na medida em que essa ausência de retorno financeiro se veio de forma com que meus pais viam meu esforço e eles sempre me apoiarem muito com relação a fazer um curso superior a ter essa disposição de estudar por cinco anos pra ter um diploma

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talvez por eles não saberem aquilo que eu vou fazer com esse diploma ou que, no que é ciências sociais mais eu sempre vi assim um orgulho muito grande por parte deles por essa iniciativa minha de estudar então fez falta sim com relação ao material com relação ao aspecto material. As vezes não tinha dinheiro para comprar uma roupa ou pra compara um tênis da mesmo forma que eu tinha antes as vezes eu não tinha dinheiro pra RU(Restaurante Universitário) o pessoal me emprestava mais a gente vai se virando e mais ou menos não sei se esse é o slogan da federal mais entrou aqui se vira, e fui fazendo ao longo do curso. - Olha, a primeira bolsa que eu recebi foi uma bolsa SIB da biblioteca de ciências jurídicas depois foi a bolsa do PIBID que eu trabalhei um tempo como voluntario e posteriormente foi a bolsa da biblioteca pública, bolsa do Estado. Eu penso que essas bolsas foi que permitiram primeiramente a ter dinheiro, pro transporte que e essencial eu moro relativamente longe com relação a faculdade a passagem ao longo desse período foi aumento eu diria consideravelmente pensando que a passagem que eu pego e 3,10 e o RU 1,30 já tem um pouco um peso e uma medida. E não só isso permitiu que comprasse material apesar da biblioteca. Vamos reformular esse começo, apesar do cientista social demanda apenas de livros e a internet ter facilitado muito isso a questão de você ter um contato com os livros, adquirir livros e ter os livros em casa para estudar para você bem entender é algo assim, e penso eu pelo menos não sei ou outros alunos mais novos ai, é algo essencial ao longo do curso e foi algo que eu investir muito assim bolsas do PIBID, as bolsas que eu tive ao longo do curso me permitiram comprar grande parte do acervo que eu tenho hoje de livros. E não são baratos os livros as vezes agente compra um livro de cem páginas que é 60 reais, 70 reais porque é um edição esgotada, porque é uma edição especial, porque é tradução nova e o pessoal não se preocupa muito se você e estudante ou não se você é cotista ou não tem que comprar o livro quer dizer e que desenvolve essa ideia que você tem que comprar o livro pelo mesmo. - Eu acho que isso é não é nem um mito é uma besteira pra falar a verdade, justamente pelo fato que eu vi ao longo desse curso muitos alunos cotistas que eu não sei se tinha algo para provar pra si pro os outros para os professores, um envolvimento, uma vontade de estudar tão grande. Nossa isso fica parecendo discurso de jogador de futebol enfim. É tinha um envolvimento tão grande com o curso que por vezes eu vi o desempenho ser superior que os dos alunos “normais”, alunos normais desculpe esse termo, dos alunos que tinham um ingressam supostamente normal.

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- Acho que provavelmente talvez seja pra não dizer é, penso que seja um grande equivoco eu vi... Não verdade esse rendimento baixo é rendimento baixo em relação a que? -Porque sinceramente eu nunca tive um rendimento excepcional no ensino médio em detrimento da faculdade e uma questão de envolvimento e uma questão de interesse. Eu acho que a pessoa que formulou essa frase teve um pensamento muito leviano eu vi profissionais que vão para a sala de aula com um rendimento escolar, desculpe eu acho esse termo é pouco pobre, mais com uma capacidade intelectual muito grande excepcional até em relação as pessoas que estão na faculdade. Eu acho que isso é justamente você reificar a ideia de que o professor e aquela pessoa que ensina o que não sabe fazer. - Olha, talvez ele esteja em parte correta. Eu digo por que eu vejo que a licenciatura em ciências sociais ainda é algo que está se construindo justamente porque é uma ideia que parece que esta sendo construída nos professores de Ciências Sociais que é, pelo o que eu vi algum tem uma resistência formar professores ao invés que formar uma elite intelectual. Essa pretensão talvez seja um pouco estranha mais e, talvez foi uma resistência muito grande pelos professores que eu vi em alguns momento dando algumas disciplinas da licenciatura e o descaso com que faziam isso. Eu me lembro de uma disciplina que tive, que foi a disciplina “x” em que ela foi dividida em três professores cada um ensina o que queria, falava o que queria e ia embora e dava um trabalho simplesmente para dizer que teve uma avaliação ao longo disso. E eu tive o conhecimento antes de começar essa disciplina que foi uma disciplina que ninguém queria dar de certa forma demostrando um desinteresse com relação ao próprio departamento em relação à licenciatura. As matérias de educação que a gente teve fazendo no departamento de educação talvez em função da concepção do departamento ou das concepções que a gente também tem que entender que e é um departamento muito heterogêneo em relação aos profissionais que tem lá dentro as vezes foram disciplinas um pouco estranhas um pouco bizarras em contrapartida também tivemos disciplinas excepcionais em função dos profissionais. O que eu acho um pouco complicado porque a gente tem aquela ideia que as coisas devem ser feitas é, de forma não pessoalizada a relação entre profissional e seu trabalho é a gente vê dentro da faculdade exatamente o contrario o profissional que parece que construir a disciplina. Eu me lembro de didática que foi uma disciplina excepcional que foi uma professora que tinha uma proposta muito diferente que justamente chegou a sala de aula fazendo piada com a ideia que ia ensinar a gente a escrever no quadro e apagar corretamente e em contrapartida professores, eu acho que tem uma

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disciplina de psicologia da educação que as vezes vinha as vezes não vinha as vezes chegava na hora as vezes não e que as vezes fazia certa piada daquilo que estava ensinando. Não sei, eu acho que talvez falte um pouco de monitoramento a cerca daquilo que esta se ensinado. O currículo na teoria sempre costuma ser muito bom eu digo isso porque eu fiz um trabalho recentemente sobre o currículo de Ciências Sociais e vi que ao longo dos últimos anos ele foi se transformando de forma a se atentar um pouco mais para esse mercado que esta surgindo que é o da educação, que é da licenciatura. E quando a gente via na prática, a gente via primeiramente um conjunto muito pequeno de alunos que ingressava na licenciatura e que terminava justamente por intenções a de adquiri tão somente bacharelado no menor tempo possível e que no segundo momento uma certa dificuldades, professores em elencar o que deve se ensinar na licenciatura. Como que se deve se manter a licenciatura da UFPR. Tanto que em certa medida a gente vê muitos professores que trabalham com esse tema sempre com vistas a UEL (Universidade Estadual de Londrina) que é o ponto referencia neste assunto pelo menos no Estado. -Em me vejo. Talvez precise de um pouco mais de preparação. Mas eu me vejo seria um grande prazer para mim é ter aquele retorno que eu tive com o professor de Geografia assim. A forma com que ele e, com que ele trabalhava em sala de aula o profissionalismo que ele tinha em relação com a profissão dele. Ele nunca negou que ele não ganhava bem em relação ao que ele fazia. E ao mesmo tempo ele sempre afirmava que isso não era motivo pra ele deixar de trabalhar e fazer bem feito o oficio dele. Eu penso que de certa parte os professores reclamas dos salários, mas também faltam com o profissionalismo quando usam esse discurso tão somente pra não dar uma boa aula porque não dar uma boa aula também é sonegar uma boa educação pro alunos que estão em sala de aula. - Eu acho que depende muito de quem olha para a carreira de professor. Talvez pra uma pessoa que vá para o bacharelado ela tenha os mesmos problemas. É eu diria mais problemas porque financiamento pra pesquisas de ciências humanas eu penso que não seja algo fácil conseguir. Não é a mesma coisa que, pensando na mesma quantidade que um pessoa que vá trabalhar com tecnologia do cimento consiga pra sua pesquisa. Não é algo fácil tem pessoas com especializações absurda nas áreas eu vejo isso porque geralmente o Lattes dos bons os pesquisadores de saída já tem um doutorado. Então eu não imagino que uma pessoa saia de uma graduação de bacharelado é vai conseguir arranjar alguma coisa a não ser que já tenha uma seria de contatos muito bem elaborada em si. Mas eu penso que essa pessoa vai ter que

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sair vai ter dedicar mais dois anos para o mestrado se passar direto, prova de mestrado e vai ter que dedicar mais quatro anos pra doutorado isso vai demandar entorno de seis anos pra além da graduação que ele teve. E então, é um trabalho muito, muito grande para as pessoas que realmente gostam, pesquisa é algo muito bom, vai dar a possibilidade dessa pessoa se aprofundar um pouco mais no metiê da pesquisa mas em contrapartida é uma pessoa que vai ficar praticamente dez anos dependendo de uma bolsa que as vezes pode aparecer e as vezes não. Nesta conjuntura de governo as bolsas parece que estão em abundância, mas isso até eu chegar no doutorado talvez isso não exista mais. Então é algo que também é muito, como eu posso dizer é algo, muito passageiro. Sempre me faltam uns bons adjetivos. - Eu penso. Talvez não da mesma forma que eu estudei na faculdade. Talvez a principio uma preparação boa na ideia de desenvolvimento de material para se trabalhar em sala de aula que eu penso que algo muito importante você vir com o mínimo de preparo para além daquele que a gente teve na faculdade não desmerecendo aquilo que eu já tive ao longo desses últimos anos. E posteriormente eu penso realmente na ideia de fazendo um mestrado se essa possibilidade não me aparecer antes do trabalho em sala de aula. - Exatamente. -Acho que tá na minha cabeça da mesma forma que você demorou pra processar na sua. E algo assim um pouco é não tá tão concreto como deveria algumas pessoas que eu vejo ao longo do curso já tem essa ideia “eu vou sair para um mestrado”; “eu vou sair para dar aula”. Ainda não tenho muito certeza disso eu tô na elaboração da minha monografia e de certa forma eu vejo quando complicado, o quando delicado é esse processo de produção do conhecimento por mais que as pessoas pensam em fazer um monografia mais ou menos nas “coxas” como é o termo mais correto eu tenho certo cuidado em relação a isso porque de certa forma uma monografia seria o resultado daquilo que nos aprendemos ao longo dos anos, não só em termos de Sociologia, de pesquisa sociológica, mais de conteúdo e justamente com relação ao cuidado que se produz material cientifico algumas pessoas não tem esse mesmo cuidado pelo o que eu tenho visto em função do dá possibilidade que ninguém venha ler isso. Que eu acho isso muito possível para além das pessoas que vão estar avaliando na banca avaliadora. Mas sei lá, parece que ao mesmo tempo isso e resultado daquilo que eu fiz logo eu estou naquele processo aquilo diz muito sobre mim. Então tem um peso muito grande. Eu penso que um metrado vai aumentar ainda com um doutorado ainda mais. Então esse cuidado metodológico que estou tendo, esse cuidado com relação ao que eu estou escrevendo, como

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estou escrevendo o que eu tô colocando as vezes me faz me questionar a cerca até que ponto eu vou fazer isso enquanto minha profissão. Não que não venha ter esse tipo de tratamento como profissional da educação eu acho que da mesma forma que eu tenho cuidado com aquilo que eu estou escrevendo eu tenho cuidado com aquilo que eu estou falando para as pessoas que estão dentro da sala de aula. Mas de certa forma é uma equação que eu não resolvi ainda. -Olha, eu sempre fiz talvez nem sempre, mas sempre na medida do possível o melhor que eu pude em termos de dedicação em termos de trabalho e nesse sentido eu avalio a minha trajetória dentro da faculdade quanto a algo muito positivo. Porque ao mesmo tempo que alguns professores descredenciavam o fato da gente sermos alunos em função da nossa origem em função de não ter o domínio pleno da língua portuguesa, outras questões que a gente teve. Acho que expressar uma disciplina, a disciplina x, disciplina y mas acho que você sabe tão bem quanto eu como foi esse drama que reifica a ideia que a gente não é capaz aqui dentro. Tivemos exemplos opostos também ao longo da graduação mais, eu sinceramente eu não consigo elencar um adjetivo, eu acho que foi algo muito bom porque ao mesmo tempo em que você consegue provar para um conjunto, para um determinado conjunto que você tem capacidade, potencial e tal qual igual eu não diria mais você tem um potencial diferenciado que por vezes e superior as das pessoas que tem uma trajetória digamos que “normal” dentro da faculdade. Você, que dizer, eu, eu fiquei muito realizado porque eu também consegui provar isso para mim. Provei que eu tinha capacidade intelectual é de me manter dentro da faculdade que apesar das dificuldade que é apesar penso eu apesar da origem das pessoas todo mundo me passa aqui dentro é um espaço de transformação e uma espaço de descoberta de autodescoberta. E penso eu estou concluindo talvez os avaliadores avaliaram isso de uma outra forma mais eu gostei muito desse, dessa possibilidade de ingressar e concluir o curso dentro daquilo que eu tinha antes. -Perspectiva de mercado de trabalho, simplesmente terminar o ensino médio, fazer um técnico na melhor das hipóteses no campo da logística, trabalhar no comercio, eu vejo muitas pessoas que sempre acabam planejando fazer algo mais em função da realidade que se encontra ou por vezes por um certo comodismo acabam permanecendo nesse espaço. Eu talvez com relação as ajudas que eu tive dentro e fora de casa consegui não posso dizer agora, com certeza, mas consegui alterar um pouco esse meu destino social. Consegui ampliar esse leque de possibilidades que tem dentro desse mercado de trabalho. Tendo uma origem semelhante de muitas pessoas de ensino público, não sei.

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ENTREVISTA (C) : 30/09/2014 – COTISTA RACIAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS -Uma linha de historicidade. Então, morei no Fazendinha meu é C. . Eu mora lá no bairro com minha família no Fazendinha, nos temos um especifico eu acho, com referencial que é minha família, principalmente minhas tias são de movimentos sociais. É, o, movimento negro, movimentos de mulheres. Então desde de pequena eu aprendi acompanhei elas nesses espaços e sempre tinha como referências sabendo que no futuro eu estarei na universidade. No começo quando eu terminei, quando eu tava no 2 ano, no 3 ano eu ganhei um bolsa de um projeto pra bolsas no curso pré-vestibular no Positivo do Ipad que é Instituto de Pesquisa da afrodescendência que, me deu essa bolsa de 100%. A contrapartida do curso, da Ong Ipad era que a gente tentasse a vestibular pelas ações afirmativas, pelas cotas. Então na minha época tinha 30 alunos. Os 30 alunos eram negros, a gente fez uma prova pra conseguir a bolsa e o Positivo também tinha essa contrapartida. Acho que fala ação social uma coisa assim né? Das empresas que tem que fazer uma contribuição para a sociedade sabe? Dai beleza, fiz três de cursinho e a partir desse instituto, dessa Ong fiz lá no Positivo. Nós todos os alunos negros lá daquele curso. Nos dois primeiros anos eu tentei cursos de Direito, e acabava não passando, não chegava à nota que precisava para passar para a segunda fase. E era eu é meu primo o xxxxxx é a gente também, ele também queria Direito. Ai um ano ele passou e eu não. Ai eu comecei a pesquisar outros cursos e minha tia fez Ciências Sociais aqui e eu fui perguntar para ela como era o curso e tal, e ela falou que era legal que tinha áreas de consultoria, de politica, antropologia, sociologia e falou da oportunidade de ser professora. Se eu quisesse ser professora algum dia, estudar movimentos sociais, estudar a sociedade. No começo eu não sabia muito né, mas a gente entra neste curso sem saber muito o que fazer. Ai eu fui ver a nota de corte, não era tão alta e tal e fui fazer vestibular. Me inscrevi, não contei para ninguém que eu ai tentar Ciências Sociais, a minha família achou que era Direito. No dia que saiu o resultado tinha acertado 47 dava para ter passado em Direito. Num primeiro momento eu fiquei um pouco triste na verdade porque eu fale a acertei mas vou ir para esse curso. Fui para a segunda fase dai fiz a prova na verdade não sabia muito sobre sociologia, a redação eu sabia que eu aprendi bastante sobre redação e eu vi lá os cotistas que passaram eu fiquei em segundo ligar eu acho. Tinha lá a x, o y tudo. Ai entrei no curso, eu tenho histórico de família que tem já cinco tios que tem curso superior, meus primos também tem. E a escolha pela licenciatura veio durante o curso. Eu vi que o bacharelado não dava muito pra mim, muito

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teoria, muita coisa dai eu fui para a licenciatura. Fui para a bolsa do PIBID, agora estou na escola. - Eu trabalhava, estudava, fazia estágio, no ultimo ano só que eu não trabalhei. No ultimo ano que eu tentei. Eu fazia cursinho a noite ai meu pai e minha mãe conseguiram me manter em casa, mas sem luxo sem nada né, ficar em casa estudante e a noite ir para o cursinho. Porque os outros anos que eu não passei, eu trabalhava o dia todo. Trabalha na? Onde eu trabalhei? Trabalhei no Ipad nesta Ong que eu fiz o curso e trabalhei...agora eu não lembro. Fui estagiaria aqui d a Federal quando estudava no terceiro ano do CEP, no Colégio Estadual do Paraná, terceiro ano, ai a tarde fazia estagio aqui na Procuradoria ai a noite eu ai para o cursinho Positivo. Ai, logicamente não passei né porque não tinha nem condição de estudar de acompanhar o cursinho, acompanhar o vestibular todo. Ai passei no momento da letra (?). - Lembro. Foi em 2004, 2003. De 2003 para 2004. Eu como eu citei minha família sempre foi de movimentos sociais eu vim junto em 2003 pra 2004 teve um acampamento aqui no pátio da reitoria do movimento negro onde a gente ocupou a pátio com barracas, com tenda, com gente onde, o dia onde foi a reunião do conselho eu acho, pra a votação das cotas. Aqui no conselho, ai eu sabendo ou não sabendo mas sabendo. Vim junto, dormi nas barracas fazendo gritos de ordem tal, foi neste primeiro momento. Ai depois que eu fui percebendo o que era exatamente. Ai quanto que passei no vestibular participei da banca de verificação racial. Antes de entrar nos vestibular eu acompanhava as bancas de verificação racial aqui da Federal junto com o pessoal do movimento negro fica participando do lado, via os que passavam e os que não passavam. Via como era fazia a forma de verificação se a pessoa tinha os traços negroides ou não, é dai foi aprendendo. - Sabia que era só para a segunda fase que os cotistas se enfrentavam entre si somente na segunda fase que a primeira fase era geral. Agora mudou mais eu não sei explicar como é. -Não, não tinha. -Eu descobri na verdade quando começou as disciplinas de licenciatura. Assim quando eu entrei. Quando começo? Acho que foi no segundo ano. Já no primeiro ano eu dei uma identificada eu vi que tinha um pessoal que era mais da pesquisa com o pessoal que se identificava com a antropologia que pesquisava mais coisa, tinha um pessoal com a sociologia que ia para a escola. Mas foi assim no final do primeiro ano assim que me identifiquei quando

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eu escolhi licenciatura foi na metodologia nas disciplinas de métodos que dai eu vi que eu queria estudar escola, estuda aluno e tal. - Identificação de que? Entre o bacharel e a licenciatura? -Então eu entendia assim que na verdade na pratica eu comecei a pensar que a licenciatura me daria um emprego. Eu poderia entrar pra licenciatura por conta do emprego. Falei “ não, eu não posso desperdiçar já estou aqui dentro é não vou desperdiçar essa chance de fazer disciplinas que possa habilitar que no futuro eu tenha emprego como professora”. No começo eu pensei se seria minha segunda opção. É o que resta. No começo eu pensava assim. Como a maioria dos alunos na verdade. “ A licenciatura vai ser o que restar, se não sobrar nada vou ser professora.” Mas com o passar do tempo e a participação no PIBID eu vi que não era só que resta e sim uma escolha. E sim, serei professora. - Olha, na verdade representa um diferencial tanto pensando no meu coletivo, da comunidade negra onde querendo ou não, eu não tive muitos professores negros no meu ensino mesmo na periferia quando eu estudei no Fazendinha tinha um ou dois professora de educação física mas não tive muito professores negros e nem disciplinas ou temas que a abordavam a comunidade negra. Mas não necessariamente porque sou eu sou negro sou ser professora, mas sim porque é uma carreira, e sim porque eu gosto da escola, porque eu gosta dessa função de ser professora de ensinar de educar de ta junto. Mas poderia também fazer pesquisa eu acho que eu posso também trabalhar em outras áreas acho que não impede também. - Tenho, quero fazer mestrado quero fazer doutorado. Mas não sei se já assim. Terminar a graduação e entrar no mestrado, mas sim no futuro. -Diferencial porque eu tô pensando na questão mais familiar porque na minha família as pessoas que seguiram carreira de educação que foram para a escola não são professores. São pedagogos, tenho três tios pedagogos. Na verdade uma não exerce mas dois exercem a pedagogia. Ai eu pensei nessa relação mesmo de ser uma pessoa da minha família que vá para a escola que seja professora que tenha uma carreira. Na minha casa meu pai e minha mãe não tem curso superior não estudo completo só tem o ensino fundamental e meus irmãos, agora eu tenho um irmão que também faz Federal que faz curso, minha irmã tá tentando. - Acho que sim. Se eu não fosse pensar nessa parte mais prática da vida e profissionalização mesmo da sociologia de ser socióloga. Acho que sim, mas não.

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-Eu escolhi manter. Olha no começo foi por conta do coletivo, amigos e colegas de curso que me incentivaram é que... como a gente era um grupo, e a gente é um grupo até hoje, colegas, vamos fazer as disciplinas, todo mundo foi fazer as disciplinas. Acho que a coletividade do grupo auxilia bastante para você continuar a licenciatura, mesmo que outras pessoas decidam sejam amigos e tudo. Mas eu acho que a confiança e a amizade contribui pra continuar. Eu acho. -Coletividade do grupo. -Na verdade acho que a primeira matéria de licenciatura foi fundamentos né? Se eu não me engano, Fundamentos do ensino médio e comecei fui bem a professora era, eu gostei da professora apesar do pessoal não ter gostado muito e apesar da galera, dos colegas falarem muito mal da licenciatura, todo mundo que estava no grupo continuou na licenciatura, fez as disciplinas de licenciatura. Apesar de falar do professor, falar mal da disciplina, falar mal dos textos não sei o que, todo mundo continuo. Então eu acho que, eu pensava muito nisso da força que um ou outro dá aqui neste curso, dos amigos tão essa força para gente continuar. Acho que... - Tá. -Negros. -(Pensativa) É uma pergunta boa. É que tem que falar uma palavra. O que é ser negro? Aonde? Aqui? Na minha experiência nesse espaço ou minha experiência histórica, do contexto? Eu acho que persistir muito assim, resistir, é não olhar muito para o lado. -Persistência é teimosia e quase uma teimosia assim, de achar que eu posso né, que posso aqui, que esse é um lugar de direito que é um lugar conquistado que é um lugar de uma comunidade que não é um lugar que representa só eu, que eu represento um coletivo aqui dentro. Represento uma comunidade que principalmente o movimento social que lutou para que essa politica de ações afirmativas entrasse na universidade para que outras pessoas pudessem contribuir. Outras pessoas pudessem representar. Então o que é ser negro aqui dentro, por exemplo, talvez seja como uma sombra assim porque é eu sou, eu tô junto não quer dizer que eu seja o foco não quer dizer que eu seja o tema não que dizer que eu seja a referencia mas eu tô junto entendeu? Pode ser que eu não esteja na frente mas eu estou de lado porque eu achei antes, antes de entrar eu achei que eu ia sofrer, que as pessoas ia me

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apontar, que você é cotista racial, você entrou pelas portas do fundo mas eu nunca ouvi isso aqui dentro. Na verdade uma vez eu ouvi mais não foi pra mim mais foi para uma colega da nossa sala, foi uma pessoa aleatória que falou um negócio mas num primeiro momento eu não soube reagir, eu acho que é uma estratégia não reagir. Eu aprendi isso muito na vida de não reagir, mas eu acho que isso é um problema não reagir. O que mais... -Essa relação? -Na verdade, pensando na minha trajetória eu acho que não tinha muito outro caminho pra mim, não tinha outro caminho de não entrar na universidade eu tinha que entrar de alguma forma, seja no Direito, seja sociais seja em qualquer outro curso. Porque já esta meio que eu era uma pessoa meio pressionada, assim no meu contexto social, familiar do meu espaço onde vivi então eu já foi um pouco pressionada “você tem que estar na universidade.” Então quando eu comecei a acompanhar as discussões, os debates sobre as cotas raciais foi um ápice foi um foco. Então já que tenho a oportunidade você tem que aproveitar essa oportunidade. Eu e outras pessoas que também conviviam com essas discussões entraram nessa leva. “Porque não vocês vão entrar.” Eu participei desse curso do Ipad que se chama curso Akeko Dudu que é uma palavra de ioruba africana que significa aluno preto. Ai la a gente tenha curso de formação a cada 15 dias sobre relações raciais, sobre o racismo, direitos humanos e cotas raciais, ações afirmativas então eu fui quase que pressionada a entrar. Não que eu não queira, eu tive uma força entendeu? Pra entrar aqui dentro. -Não cogitei. Na verdade eu passei na PUC uma vez em Direito, na PUC, mas dai não tinha dinheiro. A mensalidade, de matricula já era tipo muito dinheiro. Ai desistimos eu falei não vamos tentar mais uma vez mais um ano de cursinho. Ai passei. -Queria UFPR, tava focada queria por que queria entrar aqui, não entraria em outra particular, entraria aqui. -Todas, primeiro ano eu foi muito mau, mau não, é reprovei algumas disciplinas, assim, direi notas medianas para passar e tal. No segundo ano comecei a estabilizar melhor assim, tipo não tava acostumada com leitura não estava acostumado com a escrita, a prestar atenção duas horas uma pessoa falando sobre o que é ciência, Durkheim, não sei o que lá...blábláblá. Mesmo tento todo esse histórico de discussões que eu já ouvi de palestra que eu já participei de aula no cursinho eu senti aqui dentro o quanto eu não sabia né? O quando eu não sabia sobre os corredores , sobre onde vou procurar atrás do que, sobre as oportunidades que tem

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aqui dentro. Bolsa eu descobrir, bolsa porque eu vi um papel na parede do xxxxx tava escrito exclusivo para cotistas raciais: bolsa de iniciação cientifica. Dai eu foi lá falar com ele dai ele ok! Dai eu fiquei um tempo com ele, trabalhando com ele, ai depois eu vi a bolsa do PIBID ai participei do PIBID. A mas eu participei um pouco do bacharel bolsa de iniciação com o xxxx. - Demais. Nos dois primeiros anos na verdade eu trabalhei porque não tinha condições. Trabalhei não porque não tinha condições. Eu trabalhei minha vida inteira dai quando entrei aqui parecia que eu já estava habituada a trabalhar o dia inteiro e estudar a noite. Já era certo na minha cabeça entendeu? Ai nos dois primeiros anos eu trabalhei bastante. Só de manhã trabalha, mas vi que não tava para acompanhar muito ai resolvi viver só de bolsa. -Eu era recepcionista de uma clinica. -Ah era cansativo porque eu chegava 09h30min da noite 10 horas dai tinha que ler textos, tinha que fazer trabalhos, estudar para prova, final de semana. Eu tenho muito que agradecer na verdade muito e acho que a palavra é agradecer mesmo aos meus colegas aqui desse curso. Posso até citar nomes a., b., c., d., f. Que assim né, eu coloco seu nome no trabalho, aqui o resumo, texto no Xerox, xxxx não sei o que lá. - Antes do PIBID? No curso? Já tive com o PIBID né, participando ano passado que a gente participou de um projeto lá no Pedro Macedo que foi a primeira vez que eu dei aula. Eu e uma colega do PIBID também. Que agente deu aula sobre racismo, discriminação e preconceito. - Foi marcante. Principalmente em quesito oratória e argumentação porque é um desafio dar aula é simplesmente um desafio. Desafio de conteúdo, desafio de tá ali com os alunos que acompanhar a linguagem de acompanhar a argumentação de dar junto ali na frente saber o que falar, saber o que não falar. Eu senti muito nesse coisa do falar de saber o que falar. Mas foi no primeiro dia foi um pouco pesado assim, mas no segundo dia já foi mais leve dai consegui terceiro também. Agora parece que eu estou mais tranquilo mais foi um pouco tenso no começo. - A eu fiquei nervosa né. É porque mesmo umas das dificuldades maiores da universidade de fazer um curso, um curso superior pra mim é seminário. Se chama seminário. Eu já tive cenas marques aqui em seminários. Eu travei total, seminário Habermas que não saiu. Se lembra? Não saiu, não saiu. Não sei se eu não estudei o suficiente. Até sei , na hora de falar não sei se

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eu não estou acostumado a falar de teoria, não sei se eu não estou acostumado de conceitos, explicar conceitos, não sei o que. Uma turma de 60 pessoas, dois professores ns sala, dai eu falei travou não deu. Já outros seminários das disciplinas de licenciaturas eu fui bem melhor. Mas os seminários que tem conceito, autor, não sei o que da política, principalmente não. Dai eu peguei um pouquinho esse trauma assim de falar em publico. Eu não falo em público muito. Até eu tenho essa tensão porque a minha tia e meus colegas do movimento social todo mundo fala bem em público e se articula bem e tal tem toda uma oratória e eu já não consigo muito fala uma coisinha e outra mas não uma palestra. Entendeu? - Mentira. É mentira porque já tem estudos já tem pesquisa já tem experiência vivida e própria de que não cai. Assim, pode ser que sejam alguns cursos eu não sei falar agora. Mas nos cursos os alunos não desistem, são os últimos a desistirem do curso. Não tem, por conta acho que principalmente pela oportunidade de estar aqui dentro. Os que desistem são por conta de trabalho, conta que mora longe talvez. Até a gente tem experiência aqui no curso de cotistas que desistiram. Mas eu acho que não decaio o nível da universidade, muito pelo contrario aumenta a diversidade, aumenta a discussão, aumenta o tema, aumenta a cor e diferenciar a cor, diferencia a voz, a linguagem o discurso, a gíria né então pra mim não esse mito não, é mito. Não é verdade. -(Pensativa) Nem sabia, não sabia disso. É verdade? Que os professores do ensino médio...não os professores da escolas são ex-alunos que tiveram...Da universidade? Por exemplo, no nosso curso. Acho que é mentira também, a gente exemplo de nosso, de colegas que são super 10, super 9,5 super 9 que fizeram a licenciatura são professores eu acho que a deficiência da escola, deficiência no sentido de dificuldade não explica por isso, acho que não, não sei na verdade explicar isso mas acho que não tem relação com a má, a má, não má, mais (pensativa) não, não tem relação. Quer dizer talvez, mas acho que não. Eu não escolhi a licenciatura por que eu sou aluna mediana. -Porque eu tive experiências com programa de extensão, com as disciplinas que a gente teve aqui, com a escola da onde eu sai por isso eu escolhi a licenciatura. Não é porque eu tiro nota mediana. Que nem por isso os alunos do bacharel são 10. Tiram dez , não, tiram também 7, tiram 5 vão para a final, não fazem trabalho faltam na prova, desmerecem o professor. Nem por isso.

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-Não, é possível talvez não no modelo que seja o perfeito, não o perfeito mais o desejado para a escola, mas é possível. Na verdade eu penso muito que a insistência e muito individual também, faz parte do coletivo mais e individual porque, por exemplo, a gente fez disciplinas de praticas, praticas na escola. Que era muito do individual não era o professor de cobrando se você foi na escola fazer observação, se você fez seu relatoria, se você fez o plano de aula e praticou na escola. Isso partiu muito de mim, muito da pessoa ir na escola toda semana ir lá fazer observação e pessoas que eu vi que não contribuíram que não foram na escola falaram mal da disciplina. Até um dia eu questionei como você pode falar mal da disciplina se você nem foi para a escola então as vezes as pessoas acha que deveria ter uma cobrança. A porque o professor da licenciatura tinha que ser mais presente. Mas por exemplo essa disciplina a pessoa simplesmente não foi na escola. Ai que falar mal da licenciatura quer falar mal da escola nem você mesmo fez por você então não tem como. Qual é a pergunta mesmo? Repete. -Não, concordo que falta, falta disciplina para a escola, falta também um pouco mais de prática porque a gente aqui estuda uma coisa, estuda texto, estuda metodologia, chega lá na escola não é nada disso, não é nada desse sonho que acontece aqui dentro. Desse plano de aula maravilho, com uma aula com nome, metáforas, assim códigos maravilhosos “o queijo da democracia.” Lembra daquela aula que menina deu um titulo pra aula é tal. Eu acho que é um pouco imaginação tem umas disciplinas da licenciatura que é viagem, que não acontece, o que acontece na escola no chão, no “Protasio” lá do Itatiaia lá não tem nada haver com isso. Entendeu. - A foi boas assim mais, algumas foi meio não sei se é por conta do professor por conta do texto por conta da preguiça, dos colegas as vezes que estão as vezes desmotivados dai a gente também fica um pouco. Mas teve algumas disciplinas que eu gostei que foram boas para mim que eu pude aperfeiçoar assim, e organização, aperfeiçoar descrição aperfeiçoar, a minha escrita a minha argumentação sobre um plano de aula especifico assim, mais eu gostei. A principio algumas foram mais ou menos assim mas outras foram boas. - Concordo. Não é muito atraente. Pelo menos ai a gente vê o início de carreira ganha pouco pelo tanto que a gente estuda, tanto que a gente fica aqui na universidade 5 , 6 anos chegasse na escola ganhasse muito pouco. As vezes a má valorização da própria escola da sociedade do Estado dos alunos não vou falar mau de aluno mais querendo ou não a gente, da diretora da escola da pedagogo. Acho que não é muito atraente por conta disso porque as pessoas

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colocam muito responsabilidade em cima do professor da educação, a meu filho é, a pessoa é assim meu filho e mau educado por conta da escola, a escola não ensino isso, a escola não fala daquilo, então muitas responsabilidades é colocada em cima do professor e em cima da escola. Acho que por isso não é atraente. As pessoas pensam não vou ficar lá ensinando filhos dos outros a se comportar, por exemplo, não vou lá ganhar mil reais, por exemplo, ficar 40 alunos em sala brigando, viajando e fazendo um monte de coisas e tento que corrigir provas em casa, fazer trabalho, plano de aula. Eu acredito que não é muito atraente. Só pra quem acredita na escola. -Eu acredito na escola. E estamos aqui, como eu não posso acreditar. Acredito na escola. -Acredito que a escola tem um papel muito importante né e de incentivo, de ter alunos que dispostos a seguir pro um futuro seja na academia seja no mercado de trabalho seja para consciência pessoal mesmo, individual acho que a escola tem essa função de numa fase da vida de contribuir com a formação com a identidade do aluno e principalmente a sociologia tem um papel importantíssimo no papel de construção da identidade pessoal coletiva e familiar, escolar tudo mais. -Ixe, olha vou me escrever no PSS ai mês que vem acho que provavelmente pegaremos alunos ano que vem vou ter que estar preparada né, entrar na sala no primeiro dia me preparar antes, preparar uma aula, preparar um texto, uma fala, sei lá, tenho que prepara alguma coisa, mas acho que vou conseguir sim. -Me vejo, indo para a escola de manhã, preparando os livros, fazendo lá umas chamadinhas, fulano de tal me vejo dando aula sim ainda mais com a experiência do PIBID, me vejo na escola. Queria dar aula no “Estadual” na verdade ou no “Protasio” lá perto de casa no coleginho onde eu estudei. -Da licenciatura ou da...? -eu acho que o PIBID foi muito importante não só para mim aprender o chão da escola, para mim aprender a dinâmica de uma escola, a dinâmica da profissionalização do professor. Mas, é contribui com o aprendizado mesmo pessoal de perceber que aqui a gente é um discurso, aqui a gente é um enunciado é lá na escola a gente leva um choque quase, os alunos falam coisas fazem coisas que a gente parece que esquece assim. As vezes quando eu vou para a escola eu lembro que foi adolescente que tavo no terceiro ano, que eu era daquele jeito lá,

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talvez não igual mais era muito parecido com aqueles alunos que refletem o que a sociedade é né. É que aqui dentro a gente tem todo um enunciado de coisas parece que não é o que a sociedade faz, acontece lá fora, lá na escola é, é o que eles falam eles estão sentindo, eles estão pressentindo, estão ali no gás da informação no gás das coisas, no gás da vida e aqui dentro não, a gente simplesmente não acontece, acontece mas não no sentido da escola, parece que lá é mais realidade, aqui parece um discurso um enunciado, de uma verdade. Entendeu. -Estamos terminado. -Olha, eu tenho acho que muita pra pensar que eu podia ter ido melhor acho que poderia ter me esforçado mais em diversos momentos. Mas acho que cresci muito pessoalmente assim, intectualmente, li coisas que eu nunca imaginei, escutei coisas que eu nunca imaginei e escute, li coisa que eu não queria, tive que estudar coisas que eu não queria também senti a ausência de vários temas, senti a ausência de vários coisas, mas acho que pra mim eu podia ter ido melhor, eu sinto assim. Mas ok! Pra mim tá ok! Vamos ver quando eu terminar a monografia. Se tiver ok a monografia eu vou falar beleza passou bora para a próxima. -Ir para a escola, fazer um mestrado, tentar um mestrado não sei se aqui, em outro lugar talvez. -Acho que é só. Na verdade. Acho que tá bom. ENTREVISTA (D) : 09/10/2014 – COTISTA SOCIAL DE FISICA - Acho que era normal. Como todo mundo no ensino médio . Eu tinha as aulas normais no turno da manhã colégio público. É era daquele jeito, estudava só pra prova mesmo. Igual a qualquer outro meu colega fazia então no ano do vestibular não. No ano do vestibular estudava mais, mais minha especifica que era exatas. Mas fora os outros anos era normal, eu ai para as aula normal. Nunca tive problemas com nota nem nada assim mas só estudava mesmo o conteúdo da prova lá não era muito interessante estudar outras coisas. - Sempre, sempre porque a minha mãe ela não tem o ensino médio nem meu pai. E ela sempre falava pra mim assim: “ah olha pra mim”. Olha , ela trabalhava na produção então ela se matava de trabalhar com peças de carros coisa acho que não é tanto para mulher. E ela sempre falava que ela não queria que nenhum das filhas delas fosse igual a ela. Então, a minha irmã fez magistério, junto com o profissionalizante e faz jornalismo. Como faculdade

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eu faço Física também escolhi fazer faculdade. Então as duas filhas dela graças a deus, estão bem encaminhadas. - A eu não...é que eu sempre, nunca fui de sair, nem nada assim, então eu sempre fui de ficar em casa, não precisei trabalhar, nunca pensava em trabalhar então a minha vida e sempre foquei em estudar. Não tinha outra visão. Então eu acho que eu tô feliz assim porque era o que eu imaginava antes. Que eu ia fazer a minha faculdade sem precisar trabalhar para paga e só focar nos estudos mesmo. Sempre tive a minha vida voltada para o estudo. -Sempre, sempre eu fiz o ENEM e Universidade Federal, e a única que eu tentei foi a PUC porque a minha mãe estuda na PUC, ela não conseguiu passar na Federal. Porque eu tinha muito medo eu não queria perder um ano de estudo. Ai minha mãe falou “a gente vai pedir dinheiro pro teu pai”. O meu pai não tem contado comigo. “A gente vai pedir dinheiro e a gente vai pagar. Mas você não vai ficar sem fazer faculdade”. Era mais por pressão dela, de eu não perder um ano de faculdade. Mas sempre foi a universidade pública mesmo. -Isso. - Eu cursava o ensino médio e fazia o curso pro vestibular. - Foi no cursinho. Eu não sabia sobre cotas porque no ensino médio eles não falam sobre o vestibular porque eles falam que a função deles é preparar para o ENEM. E isso que os meus professores falavam, não para o vestibular. Ai no cursinho que eu fiz eu fiquei sabendo que a gente tinha cota. Tanto a cota racial como cota social. Mas como cota racial acho que eu não entrava tanto como cota social, e como eu não trabalho nem minha irmã só minha mãe trabalhava. Dai eu fiz aquele cálculos que eles pedem lá pro salário, a renda mínima lá. Eu vi que eu podia e conseguir cota social além de eu só ter estudado em colégio público, nem cursinho particular nem nada sempre foi público. - Não. Eu não tinha conhecimento nenhum. Eu tive conhecimento atrás do cursinho mesmo que eles explicaram que seria. Na verdade eu nem sabia que sabia tinha vagas destinadas para cotas, separadas das vagas normais, então se eu me inscreve por cotas não ai saber se ia ter uma possibilidade a mais de passar do que se fosse por vagas normal. E minha mãe sempre tentava fazer cursor técnico na federal também e ela não sabia das cota social, mesmo a gente tendo o direito da cota, lá na minha casa ela se inscrevia no vestibular normal, então ela

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concorria com os outras pessoas normal e ela nunca conseguiu passar porque ela não sabia da cota. Então foi mais no cursinho que eu comecei a... -Não. Nunca soube de cota. A minha irmã também nunca tentou por cota no vestibular dela. Então acho que é até por isso que ela não conseguiu passar na universidade, nunca tentou por cota nenhuma. -Eu acho que eu sempre tive vontade de ser professora então apesar de que eu também vi pelo vestibular que o bacharelado era muito mais concorrido que a licenciatura então eu já fui mais voltada pra licenciatura porque eu não tenho condição de pagar uma universidade particular, não que eu não tenha vontade de seguir pra área de estudo, de pesquisa da Física. Mas é eu sempre tive uma vocação digamos para ser professor. -Eu acho que, eu acho incrível você passar o seu conhecimento para outra pessoa. Eu acho que faz eu ser uma pessoa melhor porque de alguma forma a gente está ajuntado os outros, a gente está passando nosso conhecimento. Então, eu não tive bons professores mesmo eu tendo vontade de ser professora eu não tive nenhum bom professor que eu possa falar: “nossa por causa dele que eu escolhi fazer licenciatura”. Mas, eu queria melhorar isso, então eu sempre falo que, meus colegas da faculdade eles querem seguir na área de astronomia, área de pericia criminal, eu não quero, eu quero fazer toda minha formação voltada pra o ensino médio. Pra educação. Porque eu acho que não dá pra fazer muito, mas eu acho que eu posso melhor um pouco. -Eu antes é que eu queria fazer Direito. Eu queria fazer Direito porque, por causa de dinheiro. Eu sempre tive dificuldade financeira, eu até hoje, a minha mãe a gente não tem uma casa. Então a gente mora com o namorado da minha mãe. Então eu queria fazer Direito justamente porque eu ai ganhar bem então eu ia poder mudar essa condição. Só que eu escolhi fazer licenciatura porque minha mãe disse pra mim fazer uma coisa que eu gostava. E ela, claro, ela fala que eu ia ganhar mal e tudo só que eu acho que eu nasci pra isso porque eu comecei dar aula particular e comecei a gostar e minha mãe quando eu falei que ia fazer Física ela foi meio que contra porque ela já não ganhava muito bem, não tinha nem o ensino médio completo. A minha irmã também não trabalhava, ela faz um estagio hoje, mas tipo, dizem, que profissional jornalismo começa ganhando pouco também e professor de ver a questão da educação pública que é precária, tudo, a minha mãe foi muito contra. Então, foi difícil colocar na cabeça dela que eu queria fazer licenciatura mesmo ela falando “você tem que fazer o que você gosta”.

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Mas, antes eu não queria ser professor, eu não queria ser professor porque os alunos não respeitam, os alunos não respeitam o professor, na minha turma tinha colegas meus que batiam boca, eu acho que o professor tem que ser impor na sala pra receber respeito então eu pensava nisso e quando comecei a gostar de dar aula eu decidi mudar isso. Então eu não sei, eu tive muitos professores que não eram tão bons que não tinham o controle e eu pensava que ia ser igual mas eu acho que não foi eu já tive experiência e graças a deus deu tudo certo. - Como assim? -Entender como uma carreira acadêmica? - Acadêmico , universidade né. Eu penso muito, na verdade, eu sempre falo para minha mãe que eu quero fazer um mestrado um doutorado tudo seguido. Porque eu poder estudar até os meus 60 anos eu que estudar até meus 60 anos porque eu gosto, a gente sempre tem a oportunidade de aprender mais. - Isso. - Primeiro por causa de Física se fosse qualquer outra coisa acho que ela não ia implicar tanto quando Física. Porque ela falou, e que ela tem aquela visão senso comum: “ai você vai ficar louca daquele jeito vai ficar com os cabeços brancos, os alunos vão jogar bolinha de papel em você, vão gritar com você. É isso que você quer?” Então ela foi contra. Talvez se eu tivesse escolhido fazer Pedagogia, alguma coisa assim igual conhecidos meus fazem ela até que apoia, mas eu acho que ela não teve oportunidade de estudar ela não teve Física na época que ela estudava. Então eu acho que ela não sabe como é que é, ela não sabe o que é Física. Porque até as vezes eu brinco com ela , faço umas perguntas: “ai mãe se fosse levar um gelo até a esquina você enrolaria numa blusa de lã?” ela fala que não porque uma blusa de lã é quente. Só que eu sei que não tem nada haver com isso, então eu brinco. Então ela não sabe o que é Física, ela nunca teve essa experiência. Pra ver que a Física é uma coisa legal. Eu acho que ela sempre falou pra mim fazer o que gosta mas quando eu falei que eu queria fazer Física ela não esperava. era a ultima coisa que ela esperava. E ela tentou, tentou fazer eu mudar de ideia assim: “ a não tem uma outra coisa?” Ela fui meio contra, mesmo sendo na minha vida toda falando que era, que eu tinha que fazer o que gostava. - Já.

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- Eu já tive experiência como professora particular com meus colegas, eu trabalhei com um ex -presidiário também. Que queria concertar a vida, como diz. Graças a deus ele conseguiu terminar o ensino médio. Eu ajudava ele em Matemática e Física que é minha área e eu trabalhei num cursinho voluntário também que foi muito bom mas por causa da federal, os horários não batem, eu tive que sair. Só me deu mais certeza que eu tavo no caminho certo. Que era uma coisa que eu gostava. O PIBID também, apesar de eu não estar o momento todo dando aula, eu to a todo momento, os alunos me chamam: “a professora” ou “ai moça” eles não tem como chamar, mas é muito bom, eu tenho certeza que é isso que eu quero. Eu tenho certeza que eu não vou mudar igual tem gente que entra na Física pra ficar pensando “ai vou mudar para engenharia ou coisa assim”. Eu tenho certeza que eu não vou mudar. - A minha, uma prima minha que mora perto do presidio ela soube, não sei como ela soube que tinha um presidiário que queria terminar o ensino médio. E que ele queria ter aula, que ele não tava entendo. É CEEBJA? Que fala quando quer terminar o ensino médio mais rápido. Só que ele não tava entendendo nada. Era uma coisa básica aquela expressões com parêntese que ele não sabia fazer. Ela era conhecida desse ex- presidiário e ela levava ele lá em casa e a gente tinha aula lá. Só que eu não cobrei. Eu momento algum eu não cobrei dele. Porque ele não tinha um emprego. Ele não conseguia um emprego justamente por não ter o ensino médio completo e por ter um histórico. Ele foi preso então... ele ai lá em casa, a gente tem uma mesa de estuda lá em casa e eu ajudava ele lá mesmo. Mas foi por uns dois, três meses até aquela prova do ENEM que eu acho que é 400, 450 pontos você passa, você consegue concluir. Ai ele conseguiu concluir pela prova do ENEM e saiu da CEEBJA, mas eu não cobrei dele, foi totalmente voluntário, eu tinha medo é claro. Mas, a minha mãe sempre falava pra ir sempre quando tinha muita gente lá em casa, a gente ai com essa minha parente lá, ela ficava junto o momento todo e eu ai explicando pra ele as matérias. - Conseguiu. Não sei se foi por causa da parte de Matemática e Física porque no ENEM dá pra dar uma chutada ali, mas ele conseguiu. Mas eu acho que foi bom minha participação pra ele conseguir. - Eu espero muito poder voltar. Eu tive uma relação muito boa com alunos não sei se é porque eles tem a mesma idade que eu, eles são um ano mais novo. Mas eles vinham, contavam as coisas pessoal deles, e perguntavam se podiam ter aula na em casa, se podiam ir na casa deles explicar. No meu primeiro dia de aula foi muito nervosismo porque eu não tinha nenhum contato então foi difícil mas depois eu tive um laço muito bom com eles era uma relação

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muito boa mesmo. Tinha vezes que eu chegava antes ficando conversando, meia hora, 40 minutos perdia o horário da aula e ai correndo dar aula porque a gente cria um vinculo muito grande a gente fica triste por ter se afastado deles. - Eu sinto falta de tá mais participativa ali. Na sala de aula porque no PIBID você desenvolve um projeto dai você entra intervir na sala de aula. Eu sinto de falta de ficar fazendo meu projeto e não poder estar lá na sala de aula. Eu tenho um carrinho muito grande por uma aluno meu, meu entre aspas, lá do PIBID que ele é cego então eu fico do lado dele o tempo todo, eu dito as coisas para ele e as vezes que eu não tô lá que a professora manda fazer o projeto eu as vezes acho que ele não tá conseguindo desenvolver tanto quando eu tanto do lado dele, ajudando ele falando: “ não, não é assim pense por esse jeito” e a gente tá trabalhando astronomia agora pra ele, a gente teve que perguntar mesmo, sendo indelicada, se ele tinha nascido cego ou se ele tinha perdendo a visão. Ai a gente descobrir que ele nasce cego. Então como é que vamos explicar como é o sol, ou a lua, se ele nunca tinha visto. Então é um desafio, então ser professor também é desafiador. Porque quem sabe eu quando for professor não vou ter um aluno cego e como é que vou explicar. Tem coisa que não tem como explicar. Mas é um desafio pra mim, pra minha vida toda. Eu sei que na minha carreira eu vou enfrentar isso. - Ser professor. Eu acho que é ser um segundo pai, uma segunda mãe, porque você da ali interferindo na vida do aluno, você tá encaminhando ele, você tá ensinando a ele, as vezes eles falam: “ai mais o que é vou usar isso na minha vida”. Tudo bem eles não vão usar dinâmica na vida deles, eles não vão ficar observando essas coisas. Mas estimula o cérebro porque quem sabe se na carreira que eles vão seguir eles vão precisar. Raciocínio lógico, por exemplo, eu não tive muito, então eu tenho uma dificuldade muito grande. Porque eu não aprendi essas coisas. Mas eu acho que ser professor é você ser um segundo pai mesmo e você estar ajudando. Eu li um artigo, de um professor, se não me engano Alberto Gaspar que ele fala que é só o amor, só o amor dos pais não vai fazer com que os alunos siga uma carreira profissional que eles sejam diferente dos pais trabalhadores rural, por exemplo, que tem uma dificuldade. Que é o professor que tem que mostrar as possibilidades que ele tem, ele que vai mostrar que o aluno pode chegar a mais que ele tem uma capacidade de conseguir o que ele quer que ele poder sair daquela situação. Então eu acho que esse artigo é a minha base, saber que eu posso mudar o destino de um aluno. -Posso. A educação pode.

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- Desigualdade. -Indiferença. Exclusão talvez. -E que acho assim , a cota tudo bem ela é uma oportunidade a mais, mas é uma forma de exclusão também porque de certa forma você está separando as pessoas normais das pessoas que tem um dificuldade financeira. Quer dizer, a eles precisam de uma carreira de uma coisa diferencia para conseguir entrar na universidade. Então, a você entrar pelas cotas você tem uma chance maior do que se você entrar normal .Mas por que? Por que você entrar pelas cota eu vou ter mais chances de passar se eu tentar normal? Por que minha renda é mais baixa? Então é uma forma de desigualdade sim. Mas, eu entrei por cota, eu agradeço por ter entrado cota, talvez eu não tenha conseguido se não tivesse entrado por cota. Mas eu acho que não é necessário cota. Acho que ela é um meio de exclusão é como se fosse a homofobia também você exclui os homossexuais. Eu não sei como explicar porque eu entrei por cota mas, eu acho que é uma forma de desigualdade sim. Ela me trouxe beneficio sim, a cota, só que talvez tirasse o meu mérito de conseguir entrar num...se fosse concorrer com pessoas normais sabe. -Pessoas que tem uma... ai me fugiu a palavra. Uma condição melhor que eu. Uma condição social talvez que ganhe mais que eu que tenha uma situação financeira estável. Eu não tenho uma situação financeira estável. Minha mãe foi demitida e eu não sei se é, eu realmente não tenho uma opinião formada sobre cota, não sei se bom ou ruim, eu acho que é uma forma de exclusão mas eu entrei por cota como eu vou ser contra de algo que eu estou participando talvez não tenho o que mudar não tem como mudar as cotas elas talvez sempre vão existir mas as pessoas talvez não encarrem como exclusão, igual eu encarro. - Segundo. - Não. -Eu recebo a bolsa do PIBID e a bolsa permanência que eu tinha pesquisado eu vi que quem tinha menos 1,5 salários mínimos tinha direito então na verdade essa bolsa veio em boa hora, comecei a receber ela mês passado porque atrasou um pouco. Porque minha mãe foi demitida, então essa bolsa esta servindo para cobrir os gastos lá de casa, fora a passagem, comer, eu costuma não comer na faculdade, então eu venho bem em cima da hora pra mim ter comido em casa assistir as aulas e não precisar comer na faculdade, estudar raramente eu venho para a faculdade eu procuro estudar em casa. Então, as bolsas é mais para isso. Elas estão cobrindo

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os gastos lá de casa, minha mãe foi demitida porque o seguro demora pra vim. E é mais para os meus gastos, que nem mês passado eu gastei 230 com os livros da faculdade. -Eu acho se eu não tivesse com essa bolsa, a minha mãe teria colocado meu pai na justiça, que foi que ela já tinha falando. Meu pai nunca me ajudou a minha vida todo ele só participou acho que até meu um ano que foi quando minha mãe tava com ele ainda e depois disso ele sumiu. Ele chegou umas dar duas vezes dinheiro pra mim comprar material escolar no ensino médio porque eu não tinha dinheiro mesmo. Mas a minha mãe falou até antes de eu passar na federal que se eu conseguisse passar na federal ela ia colocar ele na justiça porque ele tinha que me dar pensão porque o pai da minha irmã é pai diferente ele dá dinheiro para ela se ela precisar ir em algum lugar ele vem buscar ela porque ele tem carro e tudo. Agora, meu pai não, meu pai tem três filhos cada um com uma mulher diferente. Ele tá com outra mulher agora deus o livre se ela tiver um filho também, porque ele já não ajuda os outros, que eu sei que ele não ajuda. Ele acabou me afastando dos meus irmãos também porque ele tinha que me levar eu não sei onde eles moram, eu não sei como eles estão. Eu soube que minha irmã foi pressa ela tem 12 anos então e difícil mas minha me eu não queria eu sempre dizia para minha mãe que eu não quero que ela tenha uma contado com ele porque eu não quero. Eu aprendi a viver sem ele mas, ela falou se não tivesse conseguido ela teria colocado ele na justiça pra consegui o dinheiro da pensão seria pra minha faculdade. -Tá sendo ótimo, acho que eu gosto de estar aqui então é eu me sinto realizada mesmo com todos esses problemas parece que estar na faculdade eu esquece porque tenho meus amigos estou estudando uma coisa que eu gosto eu não falto quase nunca falto porque eu não gosto de faltar, eu gosto de estar, eu amo tá aqui, pra mim esta sendo ótimo e um meio de eu me desligar desse problemas todos que tem pra fora da universidade, meu ponto de paz digamos eu gosto de estar aqui. -Graças a deus. Graças a deus. Se não tivesse eu estaria trabalhando. Minha mãe já tinha falando pra mim depois que fizesse 18 anos eu teria que trabalhar agora recebendo as bolsas da universidade ela não toca nem no assunto pra mim é só estudando. -Assim eu morava num bairro que era uma vila assim bem pobrezinha e as minhas amigas que eu tinha lá elas acabaram se envolvendo com os meninos da vila mesmo, nenhumas delas conseguir entrar na universidade, nenhumas delas terminou o ensino médio, elas estão grávidas, ou estão casadas. Então a minha mãe começou a namorar com um cara, a minha

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casa era casa de herança então quando a ultima herdeira faltou todos os netos e sobrinhos vieram dividir o valor da casa. Ai como minha mãe tinha conhecido um cara que ela estava namorando fazia pouco tempo agente foi correndo lá morar com ele. Era o que a gente tinha que fazer e quando eu me mudei para lá eu consegui uma vaga no Colégio São Paulo Apostolo que um dos melhores colégios até então estudava num colégio era muito precário não tinha internet, não tinha muitos professores tinha pouco aluno, então eu acho a aonde eu estou agora é porque eu me mudei porque eu falo para minha mãe que eu podia estar gravida, eu podia estar casada, eu podia não ter seguido o que eu escolhi fazer. Eu sempre falo para mim que eu agradeço muito ela ter conhecido o namorado dela que agora a gente esta morando lá com ele. Se eu não tivesse na universidade e se eu não tivesse mudado talvez eu tivesse casada por ai. Mas acho que estaria trabalhando porque a minha irmã demorou 2 anos para entrar na universidade depois que entrou no ensino médio. Um ano de magistério que e a mais por causa da profissionalização e um ano ela ficou “ai meus deus será que quero isso” que ela começou a trabalhar no magistério viu que não gostava. Então talvez eu tivesse trabalhando. Trabalhando fazendo cursinho a noite. E uma amiga minha ela não conseguiu passar ela queria fazer Matemática só que o pai dela mandou ela fazer Administração e ela tá trabalhando num salão e fazendo cursinho a noite então eu acho que estaria fazendo a mesa coisa trabalhando o dia interior e estudando a noite até eu passar. Minha irmã fez cursinho durante o ano todo até ela passar no outro ano só que ela consegui passar. Então eu estaria trabalhando porque lá em casa os meus irmãos que não são irmãos são os filhos do meu padrasto que a gente é em cinco lá, eles trabalham só que eles não terminaram o ensino médio. A minha mãe que sempre falou sobre faculdade o meu padrasto ele não falava com os filhos dele, os três não terminaram o ensino médio e trabalha numa vidraçaria. Então eu acho que estaria trabalhando mas estaria fazendo cursinho sim porque a minha mãe se eu não fizesse deus o livre pra ele também porque eu acho que ela ia obrigar a fazer porque ela sempre quis um futuro melhor pra gente. -Vejo. Eu quero muito continuar seguindo eu quero me especializar, eu quero ser melhor, não só pelo salário que eu sei, quando mais você se especializar. Mais por questão de conhecimento mesmo. Eu gosto de Física eu vejo reportagem eu vejo as coisa eu acho maravilhoso e ser professora eu queria passar isso que eu sinto. Por mais que os alunos odeiem Física porque na minha turma lá de 35 alunos só eu queria fazer Física e uma colega minha que ai fazer Matemática. O resto ia tentar fazer Engenharia, Administração, Pedagogia

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essas coisa assim. Então, eu sendo professora eu quero mostrar que ser professora é bom. Por mais que tudo mundo, o senso comum e terrível porque o que eu ouvi de ser professor é péssimo, professor e mal remunerado, professor sofre na sala, tem professor ai que foi esfaqueado sei lá. Então, a minha mãe falava muito sobre isso minha família também sobre que professor e uma profissão boa que professor não tem direito ou que professor não é bem visto, não é bem remunerado. Ele não tem o valor que ele tem o professor e o cara que forma todos os outros profissionais, professor e a base e mesmo assim aqui no Brasil ele não é tão bem visto como o real valor dele. - Um bom professor? E saber lidar com a turma e saber você não impor não pode só deposita a informação querer ir lá e passar coisa no quadro passar formula e é isso. Você tem que se preocupar. Você tem que ver aluno por aluno se tá conseguindo entender. A minha professora do PIBID, a minha supervisora ela não passa formulas pro os alunos delas. Ela passa toda a teoria ai no final ela passa a formula ai a prova deles dez questões sete são teoria e três é a formula rapidinha lá. Porque tá a formula é fácil você vai colocar os valores vai isolar uma incógnita pronto. Você achou o valor da incógnita. Que isso que pode no vestibular coisa assim. Mas e a teoria? Você sabe o que a força da grávida? Sabe o que é isso? Pra que ela serve? Ou você só sabe calcular o valor dela lá? Então você tem que saber explicar exatamente o que é. E não querer jogar qualquer coisa lá, você tem que ver se o aluno esta entendendo. Então, ser um bom professor e você saber se o aluno esta saindo do colégio sabendo exatamente o que você sabe o que você aprendeu. Não que você vai passar todas as coisas que você vê na universidade porque são muitas coisa para o currículo do ensino médio que é bem pouco, bem pincelado. Mais é, o aluno tem que, não tem que...eu sai do meu ensino médio sabendo formula então uso oque era formula eu sabia usar eu não sabia nenhuma teoria. Agora na universidade eu to aprendendo a teoria então e ser um bom professor e você conseguir passar tudo para o aluno não só o que ele precisa para passar no ENEM como falavam pra min no ensino médio. Você tem que... -Tive. Tive politicas né que só sobre a educação e tive to tendo metodologia só que eu ainda estou na parte teórica da metodologia a gente da aprendendo sobre a historia da Física, como a Física surgiu essas coisas assim. Mas eu ainda não tive didática essas coisas assim mais voltada mesmo pra... - O que acho a respeito dessa frase?

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-Dessa afirmação? - Eu acho que não tem fundamentos e uma afirmação sem fundamentos. Porque um aluno que não teve uma situação financeira boa que precisa de cota vai fazer a educação cair? Eu tenho colegas meu que vieram do cursinho positivo que é um cursinho muito bom fazem Física não fazem as matérias só reprovam eu que vim da cota social eu reprovei numa matéria no primeiro semestre já estou fazendo no contra turno porque eu quero terminar minha faculdade e eu quero ser uma boa professora. Então eu quero me dedicar muito a isso. Então eu por saber que tem gente que não entrou em cota e que não dá nem ai pra a universidade que vem pra universidade pra festa, pra fica lá o dia interior sentado no sofá igual tem nesses centros acadêmicos que eu também não sou muito a favor. Mas acho que não cai não acho que é o contrário que vem lá de baixo ele quer subir, ele quer se graduar, ele quer uma condição melhor. Então ele vai se dedicar ao máximo pra melhor a educação a educação não vai, a qualidade não vai cair só porque ele veio lá de baixo. - Não entendi a afirmação. - Eu to entendendo o recrutados. - A afirmação acho que é mais real digamos porque todo mundo sabe que pra ser professor todas os cursos de licenciaturas a nota de curte e baixa então é muito mais fácil passar. Falta professor então é muito mais fácil você entrar para ser professor. Então, não que eu escolhe ser professor por causa disso, mas talvez só para entrar na universidade. Então é por isso a gente tem pouco professor porque a maioria do professor entra para ser professor, entra na licenciatura pra trocar de curso dentro da universidade que foi umas dez pessoas já que eu conheço que já, ou que conseguiu segunda chamada ou conseguiu Provar pra trocar de curso. Então, não que seja os piores alunos vão ser professor mais eles vão, tende a vir pra tentar universidade, a faculdade para ser professor porque é mais fácil .Mas fácil de entrar. Talvez não seja valorizado assim, porque professor é muito importante, não que algum possa ser professor mais eu acho tem que ter uma vocação não é qualquer um que pode ser professor. Não é qualquer aluno que é ruim entra na universidade pra ser professor porque eu tenho péssimos professores eu acho que eles nem deviam ser professor então talvez isso de tenderem a entra na... seja formando esse professor que deixam a educação tão ruim conto ela é.

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- Assim, pessoalmente assim em me sinto muito preparada, mas na questão de conteúdo não. Porque eu não vi tudo mais eu acho que sim eu acho que eu seria uma boa professor eu estaria preparada com o ensino médio porque eu sei que o estado manda a gente dar aluna para crianças e eu não tenho paciência com criança não penso em ter filho assim não tenho paciência. Então sei como seria se fosse para dar aula para criança mas para o ensino médio eu estaria preparada. -Realmente não é atraente. Se eu não gostasse eu não faria licenciatura ninguém na minha família e professor. E realmente o professor não tem condições para que ele seja visto de uma forma melhor então ele é um profissional muito mal remunerado. Eu trabalho tudo também, todo mundo fala que o professor é o profissional que menos trabalha. Trabalha de segunda a sexta pega o feriado normal que os alunos pegando dois meses lá no final do ano. pega o feriado de julho lá. Falam que o que menos trabalha, mas na verdade é o que mais trabalha, é o que mais trabalha. E as pessoas elas, olham o que os outros dizem, todo mundo diz, me disseram que o professor ele é mal remunerado eu não sabia quanto um professor ganhava até eu entrar na universidade. Então, pra mim o salário do professor é ruim pelo fato que a gente da formando o aluno o professor vai formar todas as outras profissões como eu tinha tido. Mas é gratificante ser professor então pra mim eu to recebendo...talvez o salário não seja tão importante quando a minha atuação talvez eu trabalhasse até de graça por eu gosto, acho que tem uma frase que diz alguma coisa assim né se você fizer aquilo que você ama você não vai trabalhar nenhum dia. Algo assim. Então eu não concordo com essa frase não. - Sim. Além do conhecimento, muito conhecimento. Ela vai, na verdade eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja física eu não me vejo nem terminado a universidade porque eu gosto tanto daqui. Então acho que a faculdade é meu lugar e ser professor mesmo. Então é o que eu quero, e o que eu gosto, pra mim tá sendo ótimo. ENTREVISTA (E): 10/10/2014 – COTISTA SOCIAL DE HISTÓRIA -Cara eu não gostava na minha vida estudantil antes da universidade. Não sei por que, sei lá, eu não gostava das pessoas não gostava do local onde eu estudava. Me sentia não como um outsiders mais não que aqui me chamava muita atenção sabe, não era meu foco não gostava não me dava bem com as pessoas então preferia muito mais tá na rua tanto um role do que tá estudando os visigodos assim saca? Não gostava mesmo assim sabe? Tipo...achava que aquilo não era pra mim, eu gostava de algumas coisa mais assim muito pontuais, sabe? Tipo,

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não era uma coisa que eu porra vou seguir isso para a minha vida sabe? Não sei acho que mais ou menos isso. - Cara, a escola que eu estudava era bem estruturada, sabe? Tipo não era uma coisa porra foda assim não era um IFPR assim saca? Mas era, tinha sua estrutura boa. Era não se talvez por ser a única escola da cidade existia um pouco de, não sei, o investimento ia só para aquela escola tipo quando a estrutura eu não posso reclamar sabe? - Eu sou de Rio Negrinho, Santa Catarina. - Até onde eu, na minha época existia duas escolas de ensino médio, seria uma particular que era o São José e a minha que era um colégio publico, ai depois que sai de lá, depois que eu me formei por causa, sei lá, devido o crescimento da cidade surgiram mais escolas com ensino médio assim público. - Po então cara eu tive uma prima que fez jornalismo da UFSC e teve muito influência pra mim assim sabe? Como ela morava comigo, a gente era praticamente irmão, morava na mesmo casa, então eu via ela empenhando em querendo entrar numa universidade pública, vendo ela tentar entrar num curso de graduação isso muito me espelhou isso sabe? Então porque ela sempre me motivou fazer alguma coisa além do ensino médio. -Não, porra, eu tentei bastante vestibular ai. O primeiro vestibular que eu tentei foi quando eu me formei então tipo .Como eu não gostava da escola, não gostava de nada da escola eu foi tipo cagando assim saca? Ai depois eu revolvi estudar porque eu tavo trabalhando e eu não queria tipo...ai eu vi que trabalhar também não era muito meu forte, trabalhar naquilo que eu estava. Ai eu pensei vou estudar então pra ver se eu me encontro assim saca? Ai não passei de novo ai depois que eu estudei mais, eu fiz cursinho dai meus pais me ajudaram ai eu consegui. -Aqui foram duas, três, foram umas... só aqui foram duas vezes, ai teve mais a UFSC, UEPG, vestibulares mais de interior assim. -Sempre o mesmo curso. -Então, eu acho que foi muito dessa questão da minha prima mesmo me incentivar assim sabe? Cara, sei lá, ela sempre buscou de algum modo que eu tive essa mente de ai tente alguma coisa sabe? Tipo, não precisa você só ganhar dinheiro. Mas porra continue estudando que isso é importante para a sua vida no decorrer.

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- Sim. Sim. -Sim. Eu acho que sim. - Não cara, até onde eu sabia era, porra você estuda numa escola pública a vida inteira, pelo menos era assim até minha., até onde eu estudava é por ter, por estudar numa escola pública a vida inteira você tinha a oportunidade de entrar por cotas sociais. - Porra então cara, antes de expandir isso eu queria porra, eu sempre pensei a sei lá, a única coisa que eu gosto seria história sabe? Então eu vou fazer história porque eu quero dar aula de história. Ai entrando aqui que você tem essa noção a eu queria ser um pesquisador, qual é o oficio de um pesquisador, o que é ser um historiador, o que é um historiador, mas antes disso eu não tinha noção do que é isso pra mim o que tava escrito no livro era verdade e porra se tá escrito ali porque é isso sabe? Então eu acho que tipo se diferenciou a partir do momento que eu entendi que existem pesquisas diferentes sobre o mesmo assunto sabe? Acho que é isso mesmo. -Então é que aqui são dois cursos separados. Existe o curso da tarde que seria bacharel e licenciatura e curso a noite que seria só bacharel mais isso são demandas diferentes, são propostas diferentes. Porra eu não sei, como eu queria ser professor, como e ainda quero ser professor eu optei por esse curso porque existe essa questão vamos ter, sei lá um bônus na sua carreira como graduando sabe. -O bônus seria o diploma de bacharel. Entendeu? -Cara você ter uma carreira acadêmica e difícil pra caralho assim eu acho, cara você tem que...porra...como vou dizer isso, eu acho que quando eu pensei em ter uma carreira acadêmica foi muito tipo porra eu vamos lá, vou tentar ver o que é isso, vou ver se eu me dou bem com isso, se eu posso ser isso, se eu ter a oportunidade sabe? Pra você ter uma carreira acadêmica você necessita abrir mão de muito coisas tipo tempo, trabalho pra você sei lá, continuar estuando você precisa ter um tempo, você precisa ter o seu sustento como você vai ter isso saca? Então, me chamou atenção ter essa carreira acadêmica partir do momento em que eu soube poderia estudar ganhando meu dinheiro por quanta assim sabe? -Sim. - Eu tô no quarto período.

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Agora? -Então cara a principio quando eu entrei eu queria ser professor eu acho uma profissão massa, eu acho uma profissão muito legal e cara como eu disse pra você não me via fazendo outra coisa porque sei lá montando alguma coisa uma oficina mas eu tavo querendo estudar alguma coisa de história , lendo alguma coisa de história assim sabe? Qual era o resto da pergunta? - A partir dai eu vi que essa carreira de pesquisa e muito tentadora também a gente sabe que tem seus percalços, suas dificuldade para conseguir isso, sei lá, financeira, seja enfim, mas que ela é tentadora ela é. É legal você querer pesquisar alguma coisa, você produzir “conhecimento” alguma coisa assim saca? - Porra então cara, eu acho que eu, assim, eu não vou dizer que eu nunca tive um professor bom, porque seria mentira, ser professor e você conseguir botar na cabeça de um aluno, meu você sei lá, se você quiser você consegue ser o que você quer sabe? Você não tá fadado a ser alguma coisa. Você pode querer ser alguma coisa a mais, você pode querer ser outra coisa sabe? Tipo, tá eu moro numa cidade pequena eu estou fadado a trabalhar numa fabrica, não você pode escolher ser outra coisa também sabe. Tipo e você quiser estudar você pode estudar ter essa capacidade de induzir, induzir não, colocar na cabeça desse aluno se ele quiser ser outra coisa, ele pode ser sabe? -Cara eu acho que qualquer professor você consegue isso sabe? Pô você fica no mínimo um ano inteiro com um professor só quando não mais sabe? Então eu acho que você vendo uma mesma pessoa te podando pilha “porra vão ser alguma coisa ali “você consegue e tal” eu acho que ajuda sabe? Como professor eu acho que é a profissão que mais ajuda você a moldar sua mentalidade quanto a isso sabe? -Não. -Po, teve ser difícil né mano porque po a gente sabe...eu particularmente queria me formar e quem sabe voltar para minha cidade para dar aula na escola onde eu estudei por saber das dificuldades que é morar ali e das dificuldades que é de tentar ser alguém...tentar ser alguém é difícil mais sabe tipo...sei lá almejar alguma coisa diferente de sei lá além de “vou ser um trabalhador de uma fabrica sabe?”. -Sim. Sim. Eu fiz psicologia da educação e politicas, psicologia e politicas educacionais eu acho.

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- E mais isso é uma deficiência da universidade também saca? Tipo eu acho que uma pauta de os estudantes deveriam lutar porque tipo é...cara querendo ou não dentro dessa universidade...o campo da pesquisa é muito limitado se você tem oportunidade de dar aulas no caso deveriam ter muito mais matérias de licenciatura mesmo porque sabe...sei lá...a gente deve discussões aqui dentro do departamento que era do departamento não...dos alunos que tipo a gente faz uma matéria de pratica de docência com quatro aulas de quatro horas. Isso é ridículo

saca? Você não vai aprender dar aulas assim .Poderia ter um pouco mais de

inventivo quanto a docência também assim sabe. Mais isso é uma deficiência sei lá, do departamento de História da UFPR saca? - Democracia. -Tudo mundo ter seu direito igual. Todo mundo ter direito no caso. -Eu acho que as cotas é uma ferramenta de democratização assim sabe? Não que ela e uma forma de deixar a democracia igual pra todo mundo que isso é basta a gente olhar pra fora que não é assim...e uma ferramenta. Eu acho. -Aprendizado. -Quando eu penso eu aprendizado? -Construção de uma mentalidade. -Então cara, seria assim, eu acho que você sendo um licenciado, sendo um professor você teria a oportunidade de moldar essa mentalidade de um aluno de um...levando em consideração toda a sua vivencia a lugar onde essa pessoa mora mas, você tem a oportunidade de sei lá de colocar alguma na cabeça de alguém pra que ela questione sei lá, o que tá acontecendo na vida dela sabe? E democracia né? Querendo ou não isso leva você a questionar o que tá acontecendo agora seja politicamente seja socialmente sabe? -Então, cara sei lá, é engraçado mais minha família me pagou um cursinho é foda, tipo sei lá mais porra eu levo em consideração que eles se foderam tá ligado em levo em consideração que eles arrancaram de algum lugar sair esse dinheiro para que eu estivesse aqui. Como não é uma cidade muito longe daqui, eu sempre pra cá. Curti a cidade e tal, como eu tenho uns parentes que mora aqui eu morei com eles um ano e depois que eu passei no vestibular aqui que eu fui descobrir que existia casa de estudantes aqui. Dai pra mim foi um passo muito

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largo assim porque eu já queria sair da casa da minha família porque não são meus pais eu não devo nada a eles , eles não devem nada a mim e sempre fica aquela e foda: cara morar com o tio é foda. Ai eu pensei porra vou morar sozinho e mais perto da onde estudo não vou pagar transporte, e não vou pagar alimentação já que vou estudar...como eu conseguir passar no vestibular de uma escola pública eu vou ter RU. Então, tipo como é uma cidade perto eu tipo sempre fui habituado com a cidade e quando eu descobrir essas coisas de casa de estudantes pra mim foi muito mais fácil de ficar aqui. Ai após isso foi essa questão de porra fazer os corres de bolsas, entender essa burocracia que é conseguir essas bolsas e como conseguir isso sabe? Ai eu acho que isso eu foi construindo depois tanto que tipo até sei lá ano passando meus pais me sustentava hoje em dia tipo eu já não devo financeiramente mais nada a eles. -Cara eu recebo as bolsas de auxilio sociais que são a bolsa permanência , o auxilio moradia e tem a bolsa de iniciação cientifica que eu consegui esse ano agora, neste semestre. - Eu não estaria aqui, não mesmo, cara eu acho assim, eu tive alguma coisa que me chamou a atenção de sair daquela vida de pensar numa coisa melhor. Ai depois que eu descobrir esse sistema de bolsas e me informei e vi que dava para sobreviver apenas estudando não precisando trabalhar, sem as bolsas eu não estaria aqui sabe? Estaria na minha cidade e estaria na mesmo coisa de sempre. - Cara eu acho que não. Porque assim, bom, até onde eu li isso é besteira isso é burrice porque alunos de cotas depois de um tempo ou no mesmo tempo se equivalem a alunos não cotistas. E comparando com a minha sala sei lá meu IRA não é tão baixo quando uma galera ai sabe? Meu IRA (Indice de Rendimento Acadêmico) é bom tanto que eu consegui um programa de iniciação cientifica conquistado coloque por favor( sinal de aspas) “mérito”. - Então, aqui em historia existe muito essa questão se você tem notas boas sei lá se persiste se você presta atenção de você se atenta a questão você consegue alguma coisa. Mas tem muito essa questão de apadrinhamento também, eu acho sabe? E foda mais eu não considero um aluno cotista diferente de um aluno que não é cotista sabe? Tanto que porra na minha sala a maior nota se for considerado a nota geral e a nota quando entraram no vestibular a nota de um cotista foi maior como nota geral sabe? Então assim pra mim isso é muito burrice, dizer que as notas, que o ensino caiu com as cotas, acho que muito pelo contrario existe um crescimento sabe não existe essa diferença.

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-Pra universidade? Ou pra mim? Cara, pra universidade eu não sei, eu acho que os caras não muraram, talvez mudou porque sei lá, não existe uma questão persistente no social sabe? No que vem junto. Pra mim pelo menos veio. Agora pra mim mudou bastante cara porra eu disse em Rio Negrinho estaria ainda sei lá fodido cara financeiramente sabe não que a profissão sei lá de proletário numa fabrica de moveis seja ruim. Não porque meu pai, minha mãe, meu irmão e minha família são dali não conseguiria vir pra cá, não conseguira construir esse capital intelectual. Entendeu? - Pra universidade eu não sei. Pra universidade eu acho que bem no fim eles cagam sabe eles estão pouco se importando pra isso. Talvez para alguns professores não, pra alguns...uma pena que não dá para citar nomes. Porque né? -Pra alguns eu acho que faz diferente, mas para alguns não, pra alguns é sabe foda-se. Por exemplo, pra mim, eu acredito que sei lá às vezes uns professores se espelham nessa galera também sabe? Mas para a universidade não, agora para os alunos sim pra os alunos eu acho que faz muita diferença. - Cara então veio, como disse pra você a construção que eu tive depois que eu entrei aqui foi muito grande sabe? Meu jeito de pensar mudou, porra, minha vivencia mudou sabe tive contato com coisas que eu nunca ia ter se eu não tivesse aqui dentro sabe? A universidade traz as coisas sabe? A universidade da a oportunidade de você sei lá apenas estudar e conseguir ganhar seu dinheiro entendeu contribuiu muito para a minha vida sim. - (Risadas) Existe fonte pra isso? E a Veja? Você pode falar qual é? -Caralho mano. - Eu acho que não mano. Talvez assim, como eu tive para você a coisa de pesquisa e muita atraente sabe. Talvez o pessoal que... a existe essa questão...porra eu tive um professor uma vez aqui dentro dessa universidade que olhou pra gente e disse “cara você tem que ter o maior IRA do mundo porque isso é muito ótimo para sua pesquisa não sei o que, para você ter, sei lá, “méritos”.” Entendeu? Talvez pra isso seja mais é, cara você faz um curso de licenciatura vai dar fadado a isso, fadado não mais consequentemente você vai dar aula ou você vai tentar outra coisa, você vai ser empresário, você vai ser traficante, o diabo a quatro. Pode ser, não sei, nunca parei para pensar nisso, eu não sei, se dependesse de mim não seria isso, eu acho.

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- Eu acho que sim cara. Porque eu disse pra você a nossa matéria no nosso curso de história, pelo menos pela minha realidade ela é muito ridícula assim sabe? As horas pra você formar um professor são pequenas comparadas com as de um historiador sabe. Mas é justamente por isso porque a UFPR privilegia você ser formar um historiador porque a UFPR é um pelo menos o curso de história é um curso elitista sabe? Sei lá quer mais elitista que ter um curso a tarde você não poder trabalhar período integral sabe? Eu acho assim, eu acho que é certo pelo menos no curso de história é assim, não forma professores, -Porra então cara é, foda mais, é que assim tipo, não sei como funciona no seu curso mais é, geralmente eles colocam os professores não menos capacitados que estão aqui dentro mais os mais falcatruas entende? “Ai caguei para o que você ta fazendo” sabe? Se você não correr atrás para saber o que Vygotsky , o que Piaget e o que é essas pessoas todas o Freud você não aprende, bom eu não aprendi com o professor porque as vezes falta um pouco de talvez uma questão mais de Inter departamentos assim sabe? Ou sei lá professores de história dando licenciatura também. Sei lá cara acho que um professor de história também poderia ensinar muita coisa pra gente como é lecionar eu tive um professor durante esse dois anos uma hora ele falou “olha gente assim que é uma sala de aula”, “e assim que você tem que suportar” sabe? Cara em dois anos cara, metade do curso é assim eu acho. - Correr atrás seria o seguinte, cara eu não deu muita atenção para as matérias de licenciatura talvez. Correr atrás seria sei lá, você aprender por conta entendeu, você estudar como os caras que eu citei o Vygotsky, Piaget, Freud tipo lendo eles não com a obrigação de você fazer uma prova entendeu? Mas porque você tá interessado em saber mas porque você tá interessado em dar aula sabe? Mas isso não é deficiência apenas do departamento não, vamos deixar bem claro . Os alunos são parte disso também. - Não cara, não me sinto. Porque eu acho que eu nunca tive uma matéria de pratica sabe? Por isso mesmo e umas das coisas que eu pretendo nessa minha carreira de formação e entrar num programa de docência sabe? No PIBID, pra entender como é a realidade numa sala de aula porque eu só tive do lado de lá sendo um aluno não como um professor. Penso muito em entrar num PIBID pra isso pra mim intender como funciona esse sistema pra mim entender como funciona essa relação professor e aluno. Eu não me sinto preparado agora para dar aula. Tá muita gente diz que você aprender dar aula na prática pode ser cara, mais eu acho que um pouco de preparo antes ajuda também sabe. Não sei, e você, enfim...

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-Cara como eu disse é uma carreira atraente não sei cara que eu gosto dessa coisa eu gosta de você produzir conhecimento sabe é uma coisa legal mais...po eu quero entrar numa sala de aula ainda sabe é um objetivo vamos supor que mais tarde eu consiga entrar nesse departamento de história eu quero entrar nesse departamento de historia se um dia eu conseguir. Mas que quero ter essa experiência de docência numa escola pública sei lá, na periferia ou no interior da puta que pariu pra ter um pouco de experiência pra chegar e...eu vejo muito gente que como pesquisador e muito bom e como professor são uns bostas, assim sabe? Como teve professor que chegou é disse “eu não sou professor eu sou um pesquisador”. Cara se você tá numa universidade que é o “templo do conhecimento” você tem que da aula da ligado você ta aqui para ensina em primeiro e acima de qualquer coisa você ser pesquisar e apenas mais um pré-requisito para você entrar. Mas aqui dentro sua função e dar aula também. Assim como, sei lá, é produzir “conhecimento”. - Cara, eu não sei, eu acho que ela não é atraente em alguns pontos mas e porém em alguns pontos ela é bem atraente eu acho. Financeiramente ela não nem um pouco atraente eu acho a não ser que você continue sei lá fazendo mestrado e entre num instituto federal ou num Cefet ela vai ser muito legal dai que lá ganha bem. Não cara, ela não ganha bem mais assim como varias outras profissões. Mas ela tá alguns benefícios, sei lá, você folgar no dia de Santo Gonçalo no dia de São Longuinho entendeu? Existem esses benefícios de você ter duas férias anuais. Eu particularmente gosto muito disso de ter dias de férias a mais de ter férias de não trabalhar. Mas por outro lado existe essa questão financeira que é meio injusta sem duvida mais. Você entrando num curso de licenciatura você já tem meio que noção que vida não é tão fácil assim ,ou sei lá, entrando na vida do mundo. -Como eu disse, a única matéria que eu gostava. Eu não gostava nem de sociologia em veio? Sei lá acho que eu era muito cabaço. História é uma parada que eu gosto pra caralho. Eu acho muito interessante você poder fazer essa relação entre passado e futuro entender o que tá acontecendo agora com argumentos históricos. Entender o qual é o racismo hoje em dia entender porque isso acontece isso aqui no Brasil. Entender tendo algumas repostas Freyre e o racismo e a abolição. Eu acho interessante essa relação sabe? -Cara mais uma observação? Acho que não.

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ENTREVISTA (F) : 28/10/2014 - COTISTA SOCIAL PÓS-GRADUAÇÃO

- As primeiras coisas que eu penso se relaciona na forma como, como a escola era conduzida né. Então eu entrei com seis anos na primeira serie e tinha aquela coisa de professores que sempre tem muita atenção a gente chama de tia né. Quando eu entrei na quinta serie uma outra realidade, era diferente, mas uma necessidade que se faz na vida da gente que a gente tem que começar desde de quando tem 10 anos de ter uma responsabilidade, de ter uma maturidade, a ter organização por cada disciplina por cada matéria né. Agora, quando fala, eu lembro muito da questão da estrutura das escolas e eu tive uma estrutura muito boa, por exemplo, quando eu tavo no ensino médio no primeiro, segundo e terceiro ano eu não tive professor de Química, nem professora. Eu tinha professor ou professora assim um semestre um bimestre só e essa pessoa vinha fazer avaliação com a gente fazia toda avaliação do ano inteiro valia o bimestre dai toda a nota que nos tirávamos em tal bimestre, aquele último bimestre valeria para os outros bimestres. Então se eu tirei 8 no primeiro eu teria 8 no terceiro e no quarto trimestre. Isso faz lembrar que infelizmente era uma situação muito ruim, muito precária ao ponto de eu ir pro o vestibular sem condições nenhum de entender química, por exemplo. Eu fui aprender química no pré-vestibular. Quando vem a imagem, a imagem que me vem mais e essa assim. Um colégio que eu estudei num colégio de periferia, lá em Colombo, com pouquíssimos alunos interessados em dar continuidade aos estudos depois de terminar o ensino médio. A maioria dos meus colegas que terminaram não fez faculdade, os poucos que fizeram , fizeram pelo Prouni numa particular e da minha turma de terceiro ano pelo o que eu sei, eu sou o único que veio para a federal então o interesse assim... eu penso muito que essa estrutura e isso ai e resultado desse desinteresse ou dessa despreocupação do Estado em relação ao ensino dentro do colégio. Falta de professor, por exemplo, desestímulos meus colegas a entrar. Eles pensavam eu não tenho base nenhuma para entrar na federal por exemplo. Então eu não vou me arriscar lá se eu consigo fazer uma particular ótimo se eu não conseguir fazer eu me viro com o que der ai. ´É essa esperança que eu tenho. - Quando eu tavo no terceiro ano do ensino médio eu não fiz pré-vestibular eu não tinha noção nenhuma de como fazer isso não sabia nem se quer o que era um vestibular para que que era. Eu sabia que ele servia para admissão mais como correr atrás eu não sabia, então eu não fiz pré-vestibular. Eu tinha uma colega que fazia o “Dom Bosco” mas eu nem sabia como que era o “Dom Bosco” como fazer matricula, quanto era, eu não sabia que era caro. Eu só

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lembrava que minha mãe falava que a gente não tinha condições. Então o primeiro vestibular que eu fiz em 2006 eu tavo no terceiro ano é não tinha noção nenhuma de nada. Minha foi, tanto é que minha mãe foi fazer minha inscrição, ela foi na véspera de fechar o prazo e ela me ligou e falou: olha você tem que decidir um curso. Eu fale mas agora já, eu não consigo pensar assim, então decide até amanhã, amanhã é o último dia você tem que decidir. Ai que eu fui pensar o que eu tinha que fazer dai eu conversei com minha vó. Minha vó não entendia nada, era analfabeta, mas ela me convenceu a ser professor. A tentar uma matéria que desse pra ser professor ai eu fiquei entre Física e História duas coisas que não tem nada haver mais eu optei por História e no primeiro vestibular eu não passei, sem pré-vestibular sem nada. No segundo vestibular eu fiz um pré-vestibular gratuito que eu não tinha condição de pagar um pré-vestibular um “Dom Bosco” , por exemplo. Então eu fiz pré-vestibular “Em Ação”. No segundo vestibular eu também não passei isso foi em 2007. E não fui nem pra segunda fase, tanto no primeiro quanto no segundo não fui nem para a segunda fase. Ai em 2008 eu voltei para o “Em Ação”, voltei fazer um extensivo, no primeiro eu fiz um semiextensivo só. Eu fiz extensivo no “Em Ação” ai foi aprovado em História na Federal, foi aprovado em Letras na UTFPR que era a primeira turma tava acabando, o curso tinha acabado de ser aberto e consegui uma bolsa ProUni integral em História pela [Universidade] Tuiuti, Então essa foi a trajetória para eu entrar, não só para eu entrar mais pro eu saber digamos assim a estrutura de um vestibular, a estrutura de uma universidade eu precisei de uma ajuda previa que foi um pré-vestibular. Porque sinceramente eu nem sabia para que servia as cotas por exemplo. - A primeira vez que eu soube mesmo assim que eu soube, a primeira vez que eu soube foi quando eu fui fazer o vestibular a primeira vez de 2006 né. Eu já fiz como cotista. Mas a primeira vez que eu entendi como funcionava as cotas que tinha uma porcentagem destinada tudo mais ai só foi em 2007 quando tavo fazendo pré-vestibular, ai lá no pré-vestibular que daí lá no pré-vestibular eles explicaram. Porque eu pensava assim como a universidade é pública, como eu estudei em colégio público as cotas não era pra mim era pra quem não era...pra quem estudou em colégio particular entende. Eu pensava que era o inverso. Quando então eu pensava “caramba mas com tanta vaga e eu não consegui então eu tõ muito ruim né.” Ai quando eu fui para o vestibular que eles explicaram que era o contrario: há uma concorrência geram e a uma porcentagem para alunos oriundos de escolas públicas e uma porcentagem para alunos que sejam afrodescendentes né. Então eu só fui entender, eu sabia de cotas em 2006, mas eu só fui entender o que era uma cota, o que era cotas mesmo em 2007.

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Porque isso é um outro problema que eu vejo nos não temos uma explicação...no colégio mesmo a gente não teve explicação. Nos não temos uma explicação pública das cotas, para que serve. Então , por exemplo , esse ano que estou dando aula neste pré-vestibular o “Em Ação” tive pelo menos cinco casos de alunos que vieram desesperados véspera de fechar lá o prazo de inscrição perguntar “o que eu faço”; “é cotas, não é cotas o que eu faço.” Porque eu tenho que fazer cotas, o que é cotas como se faz isso. Então eu vejo que é algo que não explicado de forma alguma. É uma falha enorme isso ai. -É verdade. - Olha, ser sincero é ser conservador, ter o pensamento conservador é o mais fácil e o primário de todos porque é o mais acessível até por conta das novas meios de informação de comunicação né. E até mesmo a nossa educação. Tanto no colégio que eu vejo como a educação é extremamente conservadora quanto em casa que também é conservadora. A visão que eu tinha antes quando eu entrei aqui na universidade de cotas era que por mais que fosse cotista era uma forma de você diminuir a pessoa de você dá quase um atestado de incapacidade. Hoje o que eu vejo pela minha própria trajetória e tentando romper um pouco esse pensamento conservador é que as cotas ela tudo bem ela até de esse atestado que falei, mas ela é uma forma de demostrar que infelizmente a gente tem um ensino público falho um ensino público que ao invés de pluralizar, democratizar a universidade ele

elitiza a

universidade porque os mais bens preparados estão em colégios particulares ao invés de colégios públicos e quando essas pessoas vão tentar vestibular elas não tem condições de concorrer com as pessoas que estudou a vida inteira num colégio particular que deve bons professores, professores extremamente capacitados, com mestrado, doutorado, pós-doutorado até mesmo, como alguns colégios aqui em Curitiba tem. É professores que podem se dedicar inteiramente a isso. Então, por exemplo, em tive professores que davam aula pra mim e tinham que sair correndo para dar aula em outro colégio pra não chegar atrasado né. Então, não tinha tempo de ir lá conversar com ele, de ir lá dúvida e não tinha professor a tarde para fazer um reforço, uma revisão de conteúdo e tal. Então as cotas eu vejo que ela vem como uma forma de realmente justificar que o Estado, o ensino público oferecido pelo Estado é fraco, e debilitado muito por conta dessa estrutura difícil de organizar de professores. E só que eu não vejo ela como forma de demonstrar incapacidade de alguém, não é incapacidade da pessoa é incapacidade do Estado. Porque eu, por exemplo, eu não tive química não significa que porque eu não aprendi química que eu era completamente, um burro, completamente,

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completo burro, completo ignorante naquele assunto. Eu quando aprendi química eu entendia muito bem química, eu gostava muito de química. O problema é que eu não tive quem quando era necessário de passar aquele conteúdo. História, por exemplo, que é a matéria que eu faço né, que eu estudo hoje eu tive professores no colégio bons, mas no pré-vestibular que eu tive professores que fizeram realmente: “é isso que eu quero, dessa forma que eu quero ser.” Então eu não me vejo hoje, diferentemente de quando eu me vi quando entrei na universidade, muito por quanta desse pensamento conservador eu não me vejo como uma pessoa incapaz. Me vejo como uma pessoa que não tive oportunidades. O que eu vejo nas cotas é: pessoa que não teve a oportunidade, pessoa que não teve aquele ensino primeiro da matéria mas ele não é incapaz de desenvolver um aprendizado sobre aquilo. Tanto é que nada me impediria mesmo não tendo química no colégio de fazer química, de ser um professor de química por exemplo. Que eu tive química no pré-vestibular eu poderia me apaixonar por aquilo. Mas é o que eu vejo é exatamente isso com as cotas: uma forma de justificar que o Estado é ineficiente e incapaz que a prova que é aplicada de um concurso público para alunos ingressantes numa universidade ela é uma prova elitista, uma prova que não leva em consideração as fragilidades. Porque eu não posso chegar é falar: “olha não tive química, então corta minha prova de química ai.” E as cotas sociais que é da onde eu vim serve pra isso. Agora as cotas raciais pelo o que vejo é basta, sempre meus alunos perguntam também lá: “porque eu vou fazer para cotas raciais. Isso ai é me chamar de negro burro.” Eu falo: basta você ir num colégio, tudo bem vai num colégio público, já tem cotas sociais não precisa de cotas raciais né. Eu falo: então faz o seguinte vai num colégio público central, pode ser aqui o Colégio Estadual do Paraná. E vai num colégio, sei lá num bairro distante, num bairro , não sei, como por exemplo CIC, por exemplo , veja compare os dois colégios. Veja qual colégio tem mais alunos negros. A eles falara: “isso não se aplica não sei o que.” Você vai que no colégio Estadual que atende alunos de várias regiões não só da região central aqui que tem um número altíssimo de alunos é raro você encontrar um aluno negro. É difícil você encontrar. Agora você vai num colégio de periferia, que ele atende só uma região assim, a região ali do CIC, algumas regiões aos redores ali você vai encontrar muito aluno negro. Eu vejo que as cotas raciais ela veio além de demostrar que o ensino é falho, ela veio para mostrar o seguinte: o ensino é falho e os colégios quem tem a maior falha ainda são colégios frequentados pela classe mais pobre que infelizmente em nosso país é negra.

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-Já. Na universidade eu entrei com a ideia. Durante a universidade eu fui perdendo um pouco a vontade. Hoje eu ainda tenho vontade mais já tive momentos assim de repensar muito bem isso. - É eu comecei a fazer pesquisa na graduação muito cedo. Comecei a fazer pesquisa já no segundo semestre. Então eu praticamente assim, meus quatro anos de graduação três anos e meio foi de pesquisa mesmo assunto. Fiz pesquisas sobre outros assuntos mais o tema principal sempre foi aquele foi o que me levou a monografia. É ai quando eu fiz pesquisa, que eu vi que como era o ambiente de pesquisa digamos assim, quando eu fui para a sala de aula mesmo que fosse pra assistir aula não para dar aula mais para fazer acompanhamento dos professores. Eu vi o que ambiente de pesquisa seria muito mais fácil, muito menos doloroso digamos assim que o ambiente de trabalho na escola. Porque eu vejo que o trabalho na escola pelo o que vi, não são só os alunos são também as relações entre professores, que são relações muito desgastadas são relações com as pedagogas, com os pedagogos, com supervisores, com diretores, ou seja, tem a estrutura do colégio que as vezes dificulta. Então não tem acesso ao multimídia, não tem isso, não tem aquilo, sem contar a rotina dos professores. Professores, eu vi lá professores extremamente cansado, extremamente, mal conseguia falar. E professores que reclamava que não tinha condições de ter preparado uma aula, por exemplo. Que ele tava já no limite. Então, vê o ambiente de pesquisa, ver que eu poderia ficar um dia inteiro sem escrever apenas pensando naquele trabalho, pensando naquele texto para no outro dia escrever e vê que eu teria que pegar uma rotina de manhã e tarde dando aula , voltar pra casa a noite, corrigir prova, corrigir trabalho, preparar aula. Pra no outro dia a cedo dá aula, enfrentar todo aquele problema e tal. Eu vi que de repente só essa vontade de dar aula, só essa vontade de transmitir o conhecimento e de formar pessoas não era suficiente. Que muito pior que do que isso que nos, do que nos é transmitidos que os alunos não tem interesse é essa estrutura desgastante, desumana que nos professores temos. O stress que nos passamos de rotina eu acho que muito pior supera em muito, o que é o stress com os alunos por exemplo. -Eu ainda me vejo, mais eu me vejo assim, eu não estou dando aula agora mais eu acho se eu fosse para a sala de aula passado um tempo eu acabaria me engajando para tentar acabar com essa rotina. Não digo acabar, fazer um movimento revolucionário. Mas, eu acho que em algum momento da gente começar a pensar, a repensar a rotina do professor. Porque o professor, não é um professor 20 horas. Não é um professor 40 horas. A rotina do professor ela não tem horário para o professor dormir, ela não tem horário para o professor, ela tem

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horário para o professor acordar e ir dar aula. Mas tem horário para o professor tem um lazer no final de semana. Professor tem que prepara aula, tem que preparar prova, tem que corrigir prova, tem que preparar trabalho, tem que preencher livro do Estado. Ou seja, isso tudo faz com que a qualidade de vida do professor seja péssima e o salário junto faz com que não...o sonho e a vontade de dar aula por si só não basta. Eu quando tava na graduação criticava muito os professores que reclamavam disso. Hoje, eu vejo que, viver de sonho não adianta, não enche a barriga de ninguém, muito mais do que isso não preenche a vida de ninguém só preenche o imaginário. - Olha, diante desse quadro que eu passei eu ainda vejo que o papel do professor detro da sala de aula é o papel do humanista. Que acredita no potencial humano aquele que acredita na formação humana, e acredita que essa formação humana é o que vai influenciar que vai produzir o futuro. Pra mim quando falo de humanista em penso lá naqueles humanistas clássicos lá da renascença mesmo lá do século XV, XVI, XVII aqueles que pensavam que o papel do homem, o papel final de nos uns com os outros é promover a dignidade humana. Pra eles a dignidade humana dos renascentistas era fazer com que o homem chegasse até deus né. De alguma forma conseguisse chegar até deus. Deus deveria ser atingido. Hoje eu vejo que diante de uma situação desacralizada e que de questionamentos se deus existe ou não, eu não sou ateu mais enfim, a respeito de pluralidade. Eu vejo que essa dignidade humana que temos hoje e uma forma de que a pessoa seja capaz de produzir valores humanos dentro de uma sociedade de mercado que não produz valores humanos que muito mais do que isso produz valores mercadológicos com interesses humanos. Então você pega , por exemplo, hoje ai, é nos chegamos ao cumulo de vender cachorro de brinquedo que parece cachorro de verdade. Boneca que parece boneca...parece uma criança realmente que tem estrutura facial, que tem gestos que tem tudo...ou seja, isso vendida a preços de ouro assim, muito caro. Então você pegou uma valor que é humano, um valor uma empatia que você tem que ter pela criança , que você tem por um animalzinho e transformou em uma mercadoria, ai você vende aquela mercadoria que vai ser reificada o tempo todo , vai reproduzir o tempo todo a mesma coisa, vai reproduzir o mesmo comportamento , não vai ser igual a uma criança, vai chorar, vai sorrir , vai fazer isso vai fazer aquilo mas não espontaneamente mas, você humaniza aquilo né. Então eu vejo que o nosso papel de professor é produzir pessoas que consigam romper com esse pensamento. Esse pensamento de desumanização que esse mercado que nos vivemos, essa sociedade que nos vivemos de mercado produzem nos. As relações de trocas

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que nos temos, troca econômica, troca monetária e extremamente desumanizadora, tira nossa humanidade, ela tira nosso potencial de transformação e faz de nos consumidores. A maior transformação que nos produzimos é consumir. É comprar, é comprar, é comprar porque? Porque isso, gera na economia, porque isso gera mais emprego, porque isso gera mais produção, porque isso entende? Ai aquela coisa de você poder conversar com as pessoas, de perdoar as pessoas, de encontrar com as pessoas isso está se perdendo, então nos professores temos uma função muito mais que ficar falando datas, de ficar falando nomes, ficar falando isso, ficar falando aquilo... é promover essa humanidade nas pessoas. - Olha pelo o que, pela qualidade, não digo qualidade de ensino, mas pela qualidade que nos é proposta para nos professores de carreira isso no público, não só no público mais no privado também fundamental e médio penso que seguir carreira acadêmica é melhor ela é mais solida. Eu não vou...porque uma das coisas que eu penso é: eu não quero chegar ao 40 anos da minha vida tô com 24 pra 25 agora é tá dando aula para meninos e meninas com 10, 12, 15 anos. Porque meu pensamento e muito diferente da minha mãe que é 22 anos mais velha que eu, meu padrasto é 25[anos]. É mais eu penso que daqui 15 anos meu pensamento será bem diferente, talvez eu seja mais conversador que meus alunos. O que eu vejo é que eu vou acabar rompendo essa geração, vou acabar reproduzindo os meus valores para essa geração, ou seja, vou quer abordar essa geração. Agora, se eu for professor universitário, ir para acadêmica ai, seja também como pesquisar, coisa que é muito difícil no Brasil mais tudo bem. Eu vejo que eu vou trabalhar com alunos que estão em um período de formação, de transição de pensamento é que estão aptos a modelar melhor várias condições, inclusive conseguir julgar melhor os meus valores e dizer o valor dele não é valido para a nossa geração. A partir dessa invalidação criar valores novos. Agora, se eu for falar, por exemplo, pro um menino de 13 anos que tal coisa tem que ser assim, ele vai reproduzir aquilo, e ai pode ser que ele vai reproduzir aquilo e pode ser que o amiguinho dele lá seja aquilo que eu falei que não pode ser e ele vai criar um preconceito em cima do amigo dele. Ai pronto, ai a gente começa ter esse contexto caótico que a gente tem hoje de homofobia, racismo que nada mais é eu vejo que uma reprodução de nos professores em cima dos alunos. Então eu vejo que ser professor universitário, tirando toda aquela estrutura da falta de interesse do Estado em preparar melhor a condição de professor também me permite fazer não chamo, não digo, não trato como preconceito que os alunos de ensino fundamental e médio são burros ou são incapazes mais

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traz uma reflexão um pouco maior da nossa sociedade e de uma produção maior de conhecimento. É isso que eu espero por enquanto. - Oportunidade. -Acesso [pensativo]. - Uma forma de produzir um conhecimento próprio. - Humanista. - Infelizmente uma profissão. - Porque assim como médico eu penso que a relação que a gente tem dentro da sociedade não devia se, dentro de uma lógica de trabalho que nós trabalhamos um limite de horas para ter um mínimo de descaso não deveria ser assim. É claro que nos nascemos nessa sociedade nos que conhecemos minimamente as outras, o que nos podemos esperar a não ser isso, a gente não consegue romper isso. Mas eu penso que tanto o médico ou outra coisa, outra profissão que trabalhei com o público mais amplo nos não deveríamos trabalhar pensando no salário, mais pensando na formação. Assim como o médico deveria trabalhar pensando em salvar vidas, nos deveríamos trabalhar pensando na formação. E formação não significa é, eu penso que, pelo menos minha definição de formação , não é formatar alguém mais é preparar, de várias formas, de forma mais plural possível para que ela possa agir perante o mundo. Porque , cada um de nos eu penso é uma ilha. De uma forma ou de outra de um tocar o outro é um se aproximar do outro. Eu acho que a formação deveria ser essa não uma formação que formata um pensamento na cabeça de alguém seja qual for esse pensamento. Não pense que a gente não tenha que ter ideologias, por exemplo, que a gente tenha que ser apartidário. Não, a gente tem que ter tudo isso ai, isso é fundamental para a nossa formação, mas os alunos tem que ser formados para que eles possam encarar o mundo. Para que eles possam...encarar o mundo significa que eles estejam apertos a pluralidade não que eles estejam fechados neles mesmos e falarem: eu tenho razão, eu vou dessa forma, então tudo o que é contrário a mim não presta. Eu acho que é muito pelo contrário eu vou dessa forma é quem é contrário a minha tem que me tocar porque eu tenho que aprender a conviver com eles. Conviver não significa tolerar, significa conviver mesmo, respeitar, ter harmonia, ter proximidade. Que tolerância eu vejo ainda como uma forma de você estar acima da pessoa você consegue colocar-se distante dela. Eu acho que tolerância não é o correto, o correto é estar próximo. Qual o nome disso, qual o

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conceito disso não sei, também não tenho interesse em...dar um conceito preparado pra isso. Prefiro que a gente crie isso ao longo do tempo. - Eu sou professor do pré-vestibular que eu estudei né o Em Ação há cinco anos. Comecei lá em 2010 como professor assistente que era o professor que tirava dúvidas. 2012 eu comecei como professor, aquilo que eles chamam lá, de professor de final de semana porque lá é prévestibular gratuito então só pode dar aula durante os finais de semana que é quando a grande maioria dos professores tem tempo. Porque a maioria dos professores, maioria não, mas todos professores são voluntários. E eu também fui aluno lá, meus professores foram todos voluntários eu aprendi com eles então eu estou retribuindo, mas não só isso tô fazendo um trabalho que eu vejo que é extremamente importante a sociedade. E a minha experiência foi desde a mais frustrante possível de ver que as vezes é bom preparar uma aula para não chegar perdido até aquela de você ver que aquilo que você faz é extremamente, extremamente importante, extremamente reconhecido, as vezes até mais reconhecido que você espera ou do que você acredita que mereça. E então, por exemplo, eu tô há três anos dando aula aos finais de semanas. Sou um professor modéstia parte reconhecido pelos os alunos. Eu tenho meu valor reconhecido não preciso impor nada aos alunos, os alunos ao longo do tempo vão retribuindo isso, vão me digamos recompensando isso vão reconhecendo meu trabalho. Eu digo que dentro desse pré-vestibular eu sou uma pessoa extremamente realizada com meu trabalho. Claro, tem uma coisa aqui e ali, que incomoda não só dentro da sala de aula mas fora, burocracia, conflitos com outros colegas né, conflitos dentro de ideias. Mas eu penso que dentro da sala de aula alguns, tirando raras exceções eu sou uma pessoa privilegiada, eu consigo fazer com que o meu conhecimento possa ser... e discordado, tem alunos que discordam, e discordam com argumentos, eu exijo que tenha argumentos mesmo, e por ai vai. Mas eu me sinto que eu sou uma pessoa bem sucedida porque eu consigo fazer com que eles pense a própria história deles, em que eles pense na trajetória de vida mesmo né. Porque a gente pode chamar isso de história mesmo e que eles tenham vontade de construir algo, não que eles sintam-se fracos e abortam aquela vontade de ter faculdade, de ter uma profissão, de ter um reconhecimento, de ter uma vida mais digna. Então dentro da sala de aula, tirando o conhecimento que eu estou sempre me modelando, estou sempre aprendendo e sempre correndo atrás, pelo menos com os alunos eu sinto que eu consigo passar aquilo que é meu interesse que é: forma-los para o mundo.

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- Bom, quanto a isso sou, eu vejo que essa é uma opinião preconceituosa. Extremamente preconceituosa, de um preconceitos dos mais baixos possíveis dos mais...quando eu falo baixo assim, do mais desumano possível e ao mesmo tempo do elitista possível. Que só vem a comprovar aquilo que é visto as cotas até hoje e aquilo que é visto o aluno cotista como aquele aluno que nunca teve capacidade de nada como aquele aluno que nunca deve esforço, mais quem fala isso não teve conhecer um colégio de periferia, um colégio que professor não quer dá aula. Colégio que professor se nega a dar aula porque lá não tem alunos bons, se lá não tem alunos bons a estrutura é horrível e a situação de segurança mesmo é ruim então, por exemplo, já vi caso de colegas professores que não querem dar aula, por exemplo, ali no [bairro]Parolim alunos que não querem dar aluno no [bairro] Prado Velho ali perto da favela que tem ali...perto da PUC né perto da avenida das torres, eles não querem dar aula não porque não acreditam nos alunos mais porque eles sabem que entra no colégio e não sabe se sai. Eles falam assim mesmo: eu não sei se saio tal...tô lá dando aula daqui a pouco um tiroteio. A gente pensa que essa realidade não existe mais ela existe. Ai fico pensando o aluno que estuda nesse colégio como é que ele vai competir com outro aluno ou aluna que estudou no positivo a vida inteira no Dom Bosco, no Bom Jesus, no Marista, no Stella Maris. Não tem como, não tem condições. Então falar que coloca aluno que não tem qualidade e que a qualidade diminua e falar que aquela pessoa não condições de ter qualidade de adquirir qualidade ao longo do curso. E como eu falei no inicio dessa entrevista eu não tinha condições, eu não tive química mais isso não fez que quando eu fosse lá aprender química eu não soubesse que não entendesse o que, que é uma função orgânica, uma função inorgânica. E entender o que que é uma relação química, não me fez não aprender isso, não me fez ser uma pessoa incapaz. Nos não somos pessoas incapazes, a única coisa que eu falo é cotista é aquele aluno que não teve oportunidade por um serie de falhas que vem desde a estrutura do Estado até a falta de interesse dos próprios professores que nos sabemos, nos conhecemos muitos casos que tem professor que e formado em engenharia e da aula de Português da aula de História né a gente conheci isso. Professor que é formado em economia e vai dar aula de História, a gente conhece isso. E então quando falam que colocam, eu ouvi, eu li um texto de um ex-colega que trabalhou comigo um tempo atrás que ele escreveu isso sendo cotista é porque ele disso que as pessoas não tem base até concordo que não tem base agora falar que vai diminuir eu acho que já é demais. Eu acho que muito pelo contrário, eu vejo o cotista como aquele aluno que como ele não deve oportunidade nenhuma ele se abraça em qualquer oportunidade que vê. Ele não vai sei aquele... porque o aluno e acostumado a passar de ano,

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costumado a entender a matéria, ser professor de assistência, ser professor que pega na mão e faça a lição pra ele. Então ele tem que quando ele entra na universidade e pela minha experiência que tive na graduação com meus colegas cotistas todos eles eram assim professor passou um texto, a recomendou um livro a gente acabou a aula já sai correndo para ir pegar o livro ficava disputando pra ver quem vai pegar o livro, ficava revezando. E eu, por exemplo, terminei como cotista o meu desempenho foi bom, modéstia parte, uma amiga minha também a N. também cotista. Ela ficou...eu fiquei em terceiro lugar, ela em quarto no processo seletivo do vestibular. E nos tivemos, nos dois fomos considerados melhores alunos da turma. Tivemos melhor desempenho, nos dois cotistas, então vejo isso, diminuir a qualidade um preconceito extremamente desumano. - E bom ai já parece um pouco o FHC falando ai, em entrevista recende dele ai, que professor é o pesquisador frustrado né. Professor é aquele que não tem condições de seguir adiante dai ele vai dar aula porque e algo mais e porque onde tem mais mercado, mais demanda de mercado. Eu penso muito pelo contrario, penso que esse negocio... até na verdade, não penso nem ao contrario, não penso assim, muito, não lembro qual é a expressão...lembrei “não concordo, nem discordo muito pelo contrario” né. O que eu penso que essa questão de rendimento é uma coisa extremamente meritocracia que não faz sentido para a nossa realidade porque o que você quer discutir rendimento com uma pessoa... você quer discutir rendimento, por exemplo, comigo é...vamos supor que nos dois estamos aqui discutindo, então tá faltando rendimento aqui, falando sobre rendimento você trabalho o dia todo, ou melhor, você estuda aqui comigo a tarde ai você sai daqui da faculdade vai jantar, vai pro trabalho vira a madrugada, lê o texto né. Volta pra casa cedo, e vem pra aula. Ai eu não faço nada tô em casa então eu vou pra aula, acabou a aula a tarde eu vou pra casa ler o texto, durmo numa boa, durma as oito horas certinho, no horário certinho tal. Com a disciplina certinho na hora de dormir, acordo no outro dia cedinho, leio de novo os textos dou uma revisada tem uma prova hoje chega na hora da prova você não leio o texto e eu li e ai? Qual é o rendimento maior entende? Então isso é uma forma que eu vejo, rendimento é quase que fosse sinônimo de meritocracia. E falar então o “aluno que tem baixo rendimento ele vai ser professor” é quase que você criar o seguinte: professor é burro, incompetente, incapaz então se você não tem condições de ser um pesquisador não tem condições de fazer alguma coisa então vai ser professor porque professor é fácil né. Onde eu dou aula parece que é mais fácil ainda porque parece Engenheiro dando aula de História. Então parece que ser professor é muito fácil você

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chega fica quarenta e cinco minutos falando a mesma frase, repetindo na cabeça dos seus alunos entenderem e decorarem pra prova pronto pode ir embora tranquilo. Sendo que professor é muito mais do que isso né. Professor que eu já tô falando se preocupa com a formação do aluno professor não é passar um texto no quadro não é ficar falando sobre o que aconteceu em 1850 e não sei o que império do Brasil não sei o que. Professor é aquele que sabe que o aluno esta com uma dificuldade vai lá e conversa com o aluno. Vai lá e se preocupa. Vai lá e forma realmente o aluno e faz com que ele se sinta capaz de fazer algo. E quando fala isso de rendimento, rendimento é uma palavra que não az sentido nenhum .porque ela cria uma competição que não existe. Ou melhor, ela cria uma competição que não deveria existir, que é a competição de que é melhor, de quem é mais capaz. Então se eu sou mais capaz vou ser pesquisador, se eu for menos capaz vou ser professor. E ser professor é mais fácil, não concordo e acho que professor ao meu ver não querendo hierarquizar ele tem uma preocupação muito forte que é: todos os anos readaptar, repensar, repensar as aulas que ele deu no ano anterior. Então se esse ano eu dei aula lá revolução francesa para todas as minhas turmas sei lá do sétimo ano e não foi boa ou foi boa mas ano que vem eu vou dar aula vou ter que repensar não vou pegar a mesma aula e falar todo ano porque? Porque minha experiência mudou, porque eu mudei, porque sou capaz de colocar a minha experiência ali para dar aula. Então disso dessa pergunta eu não concordo que os alunos que tenham menor rendimento eu acho que simplesmente não tem como comparar isso. - Concordo. Concordo não porque...concordo de duas formas na verdade. Primeiro não porque a licenciatura seja algo ruim. Mas porque a licenciatura é mal, não mal vista ela é muito bem vista. Mas ela é mal organizada. Professor não tem plano de carreira. Professor de fundamental e médio, não tem plano de carreira. Ele entra, começa a dar aulas com sei lá, 22 anos e chega aos 50 sendo professor do mesmo jeito. As vezes ganhando um pouquinho mais de salário porque realmente tem que fazer uma grave lá pra aumentar o salário né. As vezes acaba sendo a mesma pessoa, a mesma coisa ao longo de 30 anos. Então não tem isso. E dentro da nossa universidade aqui é nos somos pessoas...é uma coisa extremamente cientificizada da forma mais inconsciente possível. Por exemplo, a gente vai fazer práticas de ensino no quarto ano, eu fui fazer no meu último semestre a minha prática de ensino foi dar três aulas num colégio público lá perto da minha casa a professora que é responsável foi assistir apenas uma aula. É ainda nem me deu um parecer sobre como foi minha aula. Então eu me prevaleci, eu me avali das aulas que eu já dava no pré-vestibular antes, por isso que eu

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conseguia dar aula, mas a nossa licenciatura é ensinada, feita, passada aqui na universidade é tão assim cienfitizada de forma consciente que ela não permite que nos irmos as salas de aula porque parece que a gente estamos agindo como se os alunos fosse cobaias né. É isso faz nos tenhamos um mínimo de qualidade porque eu vou lá dou três aulas beleza ok! eu posso a partir de três aulas dadas com uma turma que mal me conhece que me viu entrando no meio do ano ali que sabe eu não se não me conhece não vai se comportar mal não vai criar uma intimidade alguma coisa assim vai ficar quietinho, copianinho

ali. Pronto a partir disso no

ano seguinte posso dar aula ficar o ano inteiro como uma turma que mal vai me respeitar entende. Então eu vejo que a nossa licenciatura a nossa formação é muito mais teórica que prática e as vezes essa teoria não atinge a prática né. As vezes a teoria é escrita por alguém que nunca foi para a sala de aula de ensino fundamental e médio e uma pessoa que pegou experiências de alguém ai formou um conhecimento ai esse conhecimento chega lá na hora você fala “pô não deu certo”. Realmente não deu certo porque não se aplica. - Pela experiência que eu tenho do pré-vestibular eu me sinto. Claro, preciso aprender muita coisa, não digo de...aprender não de...conteúdo porque isso é uma coisa que a gente vai ter que aprender pelo resto da vida né. Professor assim como qualquer outra profissão tem que estar se atualizando ele não pode se fechar numa retoma e achar que pronto ele sabe de tudo, tem todo material pronto. Mas, eu, por exemplo, sinto que eu tenho que perder um pouco a timidez, ainda que eu tenho bastante, preciso assim...as vezes eu penso que eu preciso que ser um pouco mais rígido em sala de aula mais realmente eu não consigo adotar essa estrutura que tem que dar bronca em aluno, de ter que fazer o aluno se sentir humilhado, de fracassado para que ele veja o erro que ele fez. Eu prefiro que muitas vezes o aluno faça tudo o que bem entender até ele ter consciência que ele tá atrapalhando a ele mesmo e os demais entende. E o que eu vejo não sei, pelo menos assim pra sala de aula se hoje eu fosse dar uma aula eu acho que tô bem preparado mais não por quanta da licenciatura por conta dos cinco anos que eu tô dando aula lá no pré-vestibular. Que me ensinaram bastante. - Desvalorizado. Se há... se fosse para definir com uma palavra seria essa: desvalorizado. Nos professores somos desvalorizados pelo governador do Estado, pelos deputados do Estado, pelos vereadores do munícipio, pelo prefeito do munícipio. Falo em caráter estadual porque é o que me atinge agora não posso falar em federal porque eu...né a única forma federal que eu tenho é o ensino federal é pra mim ele tá muito bom né. Claro temos todo ainda mais perto do Estado tá muito melhor. A carreira de professor não...a gente sabe não tem carreira, professor

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não tem carreira nenhuma ele entra dando aula e continua dando aula da mesma forma é não tem importância nenhuma. Hoje em dia nossa profissão é mal vista, mal vista de várias formas. Os conservadores ainda mais nos professores de História nos vem como aquele que vão ensinar a ser subversivos, a ser revolucionários, a ser... e os pais compram esse discurso, os pais vão e reclamam; porque você tá passando isso pro meu filho, porque você tá falando isso. Esse assunto aqui não tem nada haver. Isso aqui já acabou. Isso aqui já não existe mais. Como coisa que nos professores de História devemos esquecer o que não deu certo na História. E abortar tudo o que não deu certo e ponto. Vamos partir para o que deu certo. Contar a história dos vencedores, esquecer dos vencidos. Então começa ai os pais, muitos pais preferem agir de uma forma ignorante ao invés de ver o professor como aquele que vai formar o aluno, o filho dele né. Nos não estamos lá para educar, estamos lá para formar. Não pra formatar né. No próprio colégio muitos professores se quer tem a consciência de classe digamos assim, eles são os primeiros a colocar o dedo um na cara do outro e falar que professor e vagabundo mesmo. Professor gosta de fazer greve mesmo. Vi isso aqui dentro da própria universidade, professor chamando o outro de grevista vagabundo. Não na frente, claro, pelo departamento, ali dentro da sala no gabinete. Mas, agora quanto a carreira em caráter de burocracia ou de administração digamos assim, nos professores...essa administração atual

e as ultimas administrações foram um fracasso. Nos não temos

perspectivas de futuro, perspectiva de futuro é dar aula o ano inteiro que nem uns loucos, final do ano fazer um conselho de classe, passar quase todo mundo porque tem um índice lá para aprovar mesmo. No ano que vem a mesma coisa. Então, a de vez em quando o Estado oferece um curso de formação. Ai o curso de formação é você voltar para o ensino superior né. Igual eu fiz aqui matéria com muita gente que vinha dos cursos de formação do Estado ai eles tinham que fazer a mesma matéria com a gente. Então eu fazia história do Paraná, a pessoa tinha que fazer História do Paraná como se fosse um aluno regular do curso de História. Isso não é curso de formação. Eles tem a formação precisa de uma atualização, de um novo pensamento, de novas bibliografias, de novas metodologias de aulas, de novas tecnologias de aula. Mas nos professores... as vezes eu tenho a impressão é: o investimento ali...ai eu vou falar de uma forma bem conservadora mesmo, da que forma que não entende nada do que tá falando mais tá falando. E parece que o investimento tudo para outro lugar dai se sobrar vai para nos professores, vai para a educação. Porque a impressão que tenho é se nos...se isso acontece é porque nos se preocupamos, as vezes a impressão que tenho é que nos

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preocupamos justamente essa sociedade de mercado que tem medo de ser rompida. Que eu penso de maneira meio utópica que nos professores somos capazes de romper essa sociedade. -Sinceramente não. Não me sinto nem um pouco...não vou dizer nem um pouco acho isso um exagero mas não me sinto atraído por conta de tudo isso que eu falei né. Salas de aulas, sem estrutura, salário ruim, falta de interesse do Estado em promover condições melhores, de promover uma condição mais humana, uma formação mais humana. Formação que seja menos burocrática e mais direta, mais participativa. Então sinceramente carreira de professor enquanto não mudar isso imagino que diminuir a vontade das pessoas serem professores. ENTREVISTA (G) : 04/11/2014 - COTISTAS RACIAL DE FÍSICA - Bom, quando eu comecei... eu morava em São Paulo então a educação lá por ser interior eu acho que era bem precária foi a primeira coisa que reparei quando entrei na faculdade, porque...não primeiro eu sai de lá eu 10 anos de idade então quando em vim morar pra cá tava na quarta série então em vi na metade do ano então eu senti aquele baque no ensino. Que aqui era bem mais puxado do que lá. No interior de São Paulo então eu acho assim que foi pra mim foi a coisa mais difícil não sei realmente como eu reprovei de ano quando eu cheguei aqui. Na faculdade eu não fiz cursinho pré-vestibular, pra entrar na faculdade eu chegou o dia assim, no ultimo dia do vestibular eu fui lá falei vou me inscreve. E me inscrevi, dai dei uma olhadinha assim vídeos aulas no “youtube” mas nada que fosse igual a um ano inteiro de prepara pro vestibular. Dai, a primeira...minha primeira aula foi de calculo, então foi aquele baque porque não lembrava de trigonometria, matemática básica, acho que o principal pelo menos no meu curso foi a matemática básica que me fez falta. -Não eu demorei seis anos, eu tentei em 2008, eu tentei pra Enfermagem, não passei eu acho que linha de corte era 32 ou 25 alguma coisa assim e eu me lembro que eu não passei por um ponto da linha de corte. Dai eu fui tentar fazer outra coisa da vida, dai tentei ser aeromoça, mas também não deu certo dai no finalzinho de 2012 eu escolhi...fiz o vestibular de Física. - Então, quando tavo no ensino médio, eu tavo aquela confusão o que eu vou fazer da minha vida dai eu fui na feira de profissões da UFPR. E me apaixonei por Fisioterapia, nossa que ser fisioterapeuta, que eu quero cuidar dos idosos, dai chegou no vestibular não tinha Fisioterapia pra Curitiba era só no litoral e era só no meio do ano né no vestibular de inverno. Dai gente o que, que eu faço? Dai eu olhei o que chegava um pouco mais perto que era de cuidar de idosos já que eu não tinha preparo pra medicina né porque também não tinha feito cursinho

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naquela época. Foi Enfermagem. Dai eu prestei, dai só que não lembro a linha de corte ou era 25 ou 32 só que não passei. Dai eu fui tentar as particulares passei na Uniandrade só que eu sinceramente não queria fazer lá porque não é uma faculdade que eu vô...sei lá vou lá no nordeste eu vou falar dela a eu estudo na Uniandrade ninguém vai lembrar dela aqui, ninguém vai saber onde que é essa faculdade nem nada. Dai no outro ano seguinte eu tentei um curso completamente diferente. Tentei Arquitetura e Urbanismo como primeira opção na PUC e Direito como segunda opção. Dai eu fiz o ENEM só que a minha...eu passei na PUC só que dai eu não teria condições pra pagar mensalidade e eu cabei conseguindo uma bolsa se eu não engano de...meia a bolsa de Design de moda. Eu consegui. E pelo SISU eu acho eu consegui Quimica. Só que não aquela coisa que me chamou a atenção assim “nossa eu vou fazer” ai eu deixei de lado. Dai foi em 2010 eu fiz o curso de comissária de voo dai eu fui lutando com esse sonho até 2012 porque eu queria voa, eu queria passar, que eu queria cada dia tá num canto do Brasil. Dai eu fiz só uma entrevista na Tam acabei reprovando no idioma. Dai eu larguei dai esses anos todos eu fiquei sem trabalhar. Dai 2012 eu comecei a trabalhar no shopping “São José”. Foi dai quando eu fui prestar vestibular pra federal. Mas claro que na minha ideia principal era fazer Arquitetura e Urbanismo só que eu não teria a capacidade de passar sem estudar. Dai eu fui lá e olhei Fisica dai eu...eu fui eliminando os cursos pela linha de corte: tipo foi lá note de corte do curso. Fale a vou...então vou fazer Fisica que Fisica pelo menos não é tão concorrido e eu passo. Dai eu prestei e a minha ideia era de fazer o Provar porque todo mundo acho que no final...lá por julho, agosto tem o Provar né que você tem a opção de mudar de curso. Então minha ideia principal era entrar em Fisica fazer um semestre inteiro e depois mudar pra Arquitetura. E isso não aconteceu (risos). Não porque eu acabei num...antes de começarem as aulas porque as aulas ano passado começaram em abril. Eu vi uma entrevista de um caso de assassinato que um filha matou o pai e a madrasta e o perito desse caso era um físico dai eu falei nosso já lembrei logo do CSI né. Então me chamou muita atenção essa parte da Fisíca. Dai só que eu tavo fazendo licenciatura, mas pra fazer isso precisa ser bacharel. Dai eu não tentei o Provar continuei na Fisíca. Mas dai com a ideia de no meio do curso já começar a pegando as matérias do bacharel pra me formar na licenciatura e no bacharel. Pra ser perita, não queria ser professora de jeito nenhum. Que pra mim era o...a acho que eu não me via numa sala de aula como professora me matando de estudar quatro anos e meio fazendo Fisica pra isso. Dai em junho desse ano a T. ai no caso falou pra mim que ela tava fazendo PIBID. E uma galera de amigo meu boa parte dos calouros falando do PIBID: a eu faço PIBID, ganha quatrocentos reais só assiste aula. Dai eu falei nossa que jeito

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mais fácil de ganhar dinheiro né. Então eu vou fazer PIBID. Dai só que no primeiro dia de aula e...já era quase perto das férias então eu não fiz muita coisa só acompanhava a professora então pra mim tanto faz como tanto fez. Tipo eu tavo ali tavo ganhando meu dinheiro, Dai no retorno das aulas eu comecei a...umas das turmas da professora era de um aluno que era...deficiente visual. Era não ele é o A. e eu me encantei ao tentar ensinar Fisica pra aquele menino. Dai eu falei...dai lá no PIBID a gente tem que ter um projeto pra passar pros alunos e eu falei assim pra T. “não, vamos pegar essa turma porque eu quero ensinar Fisica pra esse menino.” Dai foi ai que eu comecei, que eu gostei da ideia de ser professora. Porque eu me interessei com a parte de ensinar pessoas com deficiência. Que até então os alunos com...como eu posso dizer normais assim não me chamavam muita atenção. Dai foi tendo trabalho, fui conhecendo o A. conhecendo a vida dele tentando entrar um pouquinho na vida dele que me interessei pela licenciatura. Dai eu comecei a gostar das turmas que eu tavo participando que são turmas do segundo e terceiro ano do ensino médio. E eu não sou tão velha assim então eles, acho que eles tem mais uma intimidade comigo por eu ser mais nova. Então foi assim um pouco da minha história (risos). - Quando a primeira vez que eu vi as cotas? Falei...o jeito mais fácil de você entrar na faculdade. - O jeito mais fácil de conseguir entrar. - Eu só...eu tinha visto que era cotas social pra acho que alunos que estudaram a vida inteira em escolas públicas né e a racial. Dai eu falei “bom eu me enquadro na racial” não tem porque tentar a social mesmo eu tendo estudado a minha vida inteira na escola pública. Dai fui lá e me matriculei na racial. Só que dai eu tive que ir lá fazer uma entrevista pra comprovar mesmo que eu era negra que eu não tavo mentindo pra eles. E algumas perguntas chegaram a ser bem absurdas. Porque igual, eu tenho, eu faço progressiva no meu cabelo mas meu cabelo não enroladinho ele é ondulado é a mulher me questionou porque se eu tenho o cabelo enrolado porque que que é que eu tenho que alisar ele se ele e enrolado. Se eu tinha vergonha de...do jeito que eu nasci ai eu falei: não porque pra mim é jeito mais fácil porque eu acordo é só prendo eu só passo a mão assim já tá arrumado. Já...e por ele ser ondulado...ele era aquele ondulado armado porque meu cabelo é grosso era aquela coisa assim tipo “Maria Bethânia” sabe? Então não me sentia bem então foi por isso. Foi umas das coisas assim que...é perguntaram como era...o tom do meu pai e o tom da minha mãe, os cabelos deles umas perguntas que nada haver eu acho na minha opinião.

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-Sim passei, eu falei nossa já dá pra ver assim que o meu tom de pele já é escuro o que eu faço e o que eu não faço com meu cabelo... - Dos outros das outras universidades não. Só na federal que sim Na federal sempre tentei por cotas. - Essa diferença... é que o bacharel pela e que pelo o que vi na...nos primeiros semestres o bacharel no começo ele é mais fácil que a “Fisica”... que a licenciatura. Porque a carga horária da licenciatura bem maior que a do bacharel. Não sei se nos outros cursos são assim mais pelo menos na Física os dois primeiros semestres pelo menos eu não posso estudar com o pessoal do bacharel porque eu posso que dai eu não pego equivalência na matéria. Igual calculo I da licenciatura a noite é 90 horas o da manhã é 60. Então eu não consigo equivalência a mesma coisa nas fisicias básicas. A física básica do bacharel é mais difícil que a física básica da licenciatura. Que a física básica I deles é equivalente a física I e II nossa. Então tem essa diferença assim no começo mais depois completamente matérias diferentes da licenciatura é bem mais voltada para a educação que no caso...eu particularmente acho mais fácil que você precisa ser o texto, interpretar, fazer uma resenha e as vez fazer uma apresentação em sala de aula. Já no bacharel não é tudo número você não tem...a única matéria que eles não tem que envolva número é seminários. Que pra eles eu acho que conta como optativa. Ai são aulas que eles só assistem palestras. - Sim. Eu acredito que sim porque eu acho que o bacharel é mais puxado que eu acho por ser pela área de pesquisa da Fisíca mesmo eu acho que é mais puxado. Porque dai quando for fazer uma pesquisa na licenciatura é mais voltada para a educação né. Então é mais você pesquisar e correr atrás, fazer textos eu acho que é um pouco mais fácil. - Pelo Provar. Só pelo Provar. Ou você presta vestibular de novo. Porque as matérias não são...igual conforme for passando os períodos se você for pegando as matérias do bacharel dai no final você pode se formar na licenciatura é no bacharel. Mas tá na licenciatura é pular para o bacharel não tem como. Que dai vai interferir nas matérias porque dai como eu falei o calculo I e diferente do calculo I deles. Então se eu for com calculo...se tiver no calculo II e for para o calculo...for pra bacharel tenho que fazer de novo calculo I e fazer o calculo II pra continuar.

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- Já pensei. Antes do PIBID. Eu pensei. Agora eu tenho vontade de fazer os dois: fazer a licenciatura e o bacharel porque eu quero fazer meu TCC ou envolvendo alunos cegos, ensino para alunos cegos ou ensino para alunos quilombolas. - A eu acho que ser...é como se fosse um livro aberto. Chegar ali e mostrar o conhecimento, mostrar tudo o que sei. Eu acho que é ser um livro. Ter uma forma diferente de ensinar o aluno. Porque eu particularmente não gosto daquele professor que só escreve. Eu quero ser uma professora mais prática, uma professora experimental. Que mostre pro aluno que faça com que ele tenha vontade de aprender. Eu quero chegar assim quando eu tiver dando aula e vou chegar: tá como vocês querem que eu trabalhe com vocês. Não chegar vai ser assim, assim, assim. Eu quero chegar e falar: como você querem que eu trabalhe com vocês. Dai mostrar uma parte também que eu quero que tenha disciplina. Porque as vezes um erro que eu vejo assim não tanto dos professores mais também da equipe pedagógica da escola é que eles tão muito chances pro alunos. Igual “a aluno não entregou uma trabalho na segunda-feira entregou na terça mais vai valer a mesma nota”.Eu acho que não teve ser isso. Acho que o aluno deve ter uma disciplina. E é uma disciplina, não que eu tenha que pegar agora no ensino médio mas eu acho que é uma coisa que vem lá do comecinho. Lá do pré, primeiro ano. Ele tem que ensinar ter uma disciplina. Porque eu acho que é uma coisa que falta muito. - Bom, eu tenho vontade de fazer uma projeto de iniciação cientifica o que me chama mais atenção por enquanto. Mais eu tenho vontade sim pelo fato de ter dito esse aluno cego. Que eu quero tentar achar um jeito com que ele consiga se encachar na sociedade por eles dizem que o aluno que o cego tem o mesmo direito como qualquer outro aluno mais você na sala de aula você vê que não tem isso. Porque igual, livro didático, não tem livro didático em braile pro aluno. Não tem um CD para que ele possa colocar no computador para escutar, pra ele entender a aula. Fora que eu acho que os professores agora eles não tem bom preparo igual no faculdade a gente não tem, não aprende é...braile. a gente só aprende libras. Então eu acho que esse é um erro também que tem, uma coisa que também deve ser consertada. - Um bom preparo? Por enquanto eu acredito que não. Eu acho se for pra mim assumir uma turma agora talvez seria como professora de Ciências alguma coisa assim. Mas para ensino médio, pré-vestibular ou até mesmo como professora de universidade eu ainda não. Eu acho que ainda falta algumas melhoras.

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- Eu acho que falta ter uma, não no meu caso eu acho que mais tempo. Porque igual os professores de metodologia eles tão é uma aula por semana sendo que dependendo da aula a gente tem que ler quatro, cinco textos. Eu acho que é uma coisa que afoba muito o aluno. Igual porque eu tenho outras matérias que são mais complicadas que são as matérias de exatas. Então, eu pelo menos não daria conta de fazer mais de três matérias da educação porque seria muito coisa, muito texto. Eu acho que essas aulas deveriam nem que fosse ministrado duas vezes por semana alguma coisa assim em outros períodos não só noturno eu acho que ajudaria mais o aluno. Porque dai a gente... eles jogam o conhecimento e a gente tem que agarrar e ir puxando outro e vai, chega uma hora que esgota. - Não a gente tem que vir aqui na reitoria esse é o grande problema. Porque a maioria das nossas disciplinas são no politécnico. Mas dai tem que vir pra reitoria. Eu acho que seria tão mais fácil um professor ir pro politécnico do que 40 alunos vir pra a reitoria. Eu acho só que infelizmente não tem sala no politécnico porque o curso de Física não tem nem um bloco para o curso de Física. Física divide o bloco com as Engenharias, divide o bloco com Arquitetura. Então no meu primeiro ano eu tive que assistir aula no bloco de Química de calculo. Então é uma bagunça essa parte (risos). - É só uma palavra? - Fácil. Acho que é fácil porque cotas raciais é assim: num sei porque mais não são tantas pessoas negras que conseguem fazer faculdade. Não sei o que acontece pelo menos no meu curso eu vejo igual no meu período eu sou a única pessoa mais de pele assim que tá fazendo o curso. Não sei se é porque eles não tem, não sei se é a falta de oportunidade. Mais igual pra mim eu acredito que fui a única pessoa que se candidatou no meu ano pra cota racial. Então foi muito fácil porque eu passei em primeiro lugar. Então eu acho que não tem muita procura. Então eu acho que é fácil. - Professor? Acho que um mestre. Vamos dizer assim um...num posso dizer bem...como se fosse um segundo pai ou mãe talvez. Alguém da família, isso família. Porque a primeira educação a gente recebe em casa né. Mas a segunda eu acredito que a gente recebe na escola. Porque igual tem alguns professores assim que são um absurdo e tem outros que você pode acolher como pai como mãe. Como tia. - Amor. Porque eu acho que para fazer licenciatura tem que ter amor no...tem que ter vontade mesmo tem que gostar da profissão. Porque infelizmente o salário não é muito bom. É muitas

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vezes você num consegue ensinar tudo aquilo que você aprendeu fora que você também não é reconhecido. Então eu acho que licenciatura é amor. Porque a pessoa tem que ter amor realmente pra fazer licenciatura. - Amor é um sentimento é algo que você gosta muito que você não possa viver sem eu acho. Se você não tem aquilo te faz falta. - Professor e amor? Cara você complica hein? Professor e amor (pensativa). Eu acho que ter aquela vontade de estar ali de ensina uma pessoa, de independente das coisas, dos obstáculos que tem você vai dá ali, você vai dá ajudando. Vai tá ensinando. Olha a próxima pergunta (risos). - Se eu me vejo ensinando? Sim. Só que igual eu tenho que começar pelo ensino médio, pelo...só que a minha vontade mesmo assim é ensinar Ciências não sei porque mais eu tenho vontade mais de ensinar crianças. Porque não sei se é porque eu tenho mais intimidade com crianças porque eu adora criança então eu acho... só que eu não daria certo de fazer pedagogia. Eu já vou falando de antemão, eu não dou certo pra pedagogia. Mas eu acho que seria interessante de ensinar crianças. - Não. É que uma vez na Igreja que eu vô eu tive que ficar responsável pelas crianças. Gente foi a melhor coisa do mundo ficar responsável por crianças porque eles obedecem você, diferente igual, é bem difícil igual, é eu tenho uma conversa com os alunos da ensino médio pela minha idade. Mas eu acho que por ter essa intimidade não é sempre que eles vão querer me respeitar, é já uma criança pequena se eu falar “não” vai ser “não” pra ela porque ela sabe: não ela é maior, ela é a tia. Então acredito que seria bem melhor. - É mais o A. é que assim a gente... eu não apliquei o nosso projeto com ele ainda a gente ficou acho que só um mês na sala de aula. Só a professora escrevia no quadro e a gente ditava pra ele só que tem que ficar muito esperto com aluno que é cego porque as vezes ele contorna, contorna do jeito que você...igual a gente tinha um questionário pra responder ele contornava, contornava, ele fazia a gente dar a resposta pra ele então tem que tomar muito cuidado eles são muitos ligeiros. Mais eu ainda não tive a oportunidade de dar aula pra ele, eu vou dar aula semana que vem que vai começar a matéria de astronomia com ele, dai com a turma inteira no caso.

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- Sério isso? (risos). Eu acredito que não tanto a social quanto a racial eu acho que o aluno...talvez ele não tenha se esforçado tanto ali pra entrar no vestibular mas eu acho que como qualquer outra cota eu acho ele que ser mostrar, ele quer mostrar que ele pode, que ele não é só porque eu entrei por uma cota que era fácil vai ser fácil pra mim também eu acho que eu pelo menos tento dar o meu melhor ali dentro pra mostrar que eu merecia minha vaga, eu merecia a cota que eu recebi. - Não. Eu não durmo direito a muito tempo já é difícil, é difícil você querer se destacar entre os outros. - Os professores são recrutados...pelos alunos? - Eu acho que não, tipo os professores no caso do ensino público assim ou dá faculdade alguma coisa assim? - Ai gente eu acho que não porque é tão difícil você conseguir principalmente Fisíca um curso tão...por ano é baixo o índice de formandos. Igual esse ano eu acho que foi muito, eu acho que foi uns 23 alunos que se formaram juntando o bacharel e a licenciatura. Eu acho se se formou ali é porque a pessoa realmente é capaz de dar aula não é só porque foi escolhido entre os piorzinhos ali pra...entre os piores. - Hoje eu ainda não. Eu acho que eu tenho muita coisa que aprender ainda. - Porque eu não quero ter os professores que eu tive quando era criança. Tinha professor que só jogava as coisas no quadro sabe. Tá ali ou a tua prova era baseado no exercício que ele passou, mesmo exercício era a prova. Não. Eu quero que meus alunos...eu quero ser o diferente. Eu quero mostrar pra eles que a Física não é chata. Que a Física não é só aquilo ali que eles mostram é cinemática, mecânica, dinâmica. É muito além, eles... porque tem tanto na Física, Química, matemática os alunos falam assim: tá pra que eu vou aprender isso se eu não vou usar isso na minha vida. Mas tudo envolve Física na sua vida. Então eu acho, eu quero mostrar que a Física está até quando eles estão correndo na rua ou empinando uma pipa. Qualquer coisa assim. - Eu acho que a licenciatura de antigamente não era capacitada. Capacitada o suficiente pra...formar professores. Porque, eu acredito assim que pelo menos deveria ter uma reciclagem de professores todo ano. Porque o professor que se formou a trinta anos atrás em Fisica e diferente da formação de uma aluno que tá se formando agora em 2014. O aluno que

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2014 vai estar muito mais preparado que o professor de trinta anos atrás porque as coisas mudaram. Então eu acredito que a licenciatura de agora é sim para formar professores. Eu acho que o certo era ter essa reciclagem, mudar e... porque eles falam tanto em educação: a vamos mudar a educação, vamos mudar a educação, vamos mudar a educação. Ok! Vamos mudar a educação, mas não tem como você mudar uma coisa que veio de cinquenta, sessenta anos atrás. Você tem que começar agora porque, porque que eu vo...vamos pular um pouco o...sei lá Português eles ensinam varias regras assim no português que eu acho necessariamente desnecessário porque era coisa que era da família real. Quando a família real veio pro Brasil. Quantos anos já faz isso. Então eu acho que não é uma coisa tão necessária de se aprender agora. Então é isso. - Como eu vejo a licenciatura? Em que sentido? - Eu acho que tem, não só, eu acho que começa na pedagogia, eu acho que tem que já ir diferenciando isso porque o erra no tá aqui o erro, na universidade, no ensino. Eu acho que o erro já tá lá no começo. Então tem que vir acertando todos os cursos, porque tem igual tem matérias que eu acho desnecessárias o aluno aprender no ensino médio uqe talvez ele realmente não já usar na vida dele. Então eu acho que são coisas assim que ele tem a opção de aprender quando ele for pra faculdade. - O inicio: pré, primeiros anos, o ABC de tudo ali. No comecinho na raiz mesmo. Eu acho que é dali que teve começar a mudança. Só que obvio que não vai ser assim, um, dois anos que vai mudar isso é uma coisa que vai levar tempo pra conseguir mudar. Porque meus...como ei falei é a questão dessa reciclagem porque eu não vo, vou chegar lá eu meu professor de Física se mete a cara numa professora que tá lá a trinta anos dando aula, a dez anos dando aula. Ela vai falar: sai daqui menina você tá a menos tempo que eu dando aula que mandar em mim. Você que mudar o jeito que eu tô fazendo. Se todos os anos eu tô fazendo certo. - Ai...aquele colégio eu acho que ele é um pouco desorganizado pra ser bem sincera. Igual teve um conselho de classe que a professora foi obrigada a passar o aluno porque a escola tava com medo acho que da secretária da educação mais o aluno não aprendeu mas ela teve que passar ele. Teve que surgir uma nota não sei da onde. Agora colocando o A. como exemplo, a professora esses dias foi ensinar pra ele ondas e ela perguntando pra gente e demos a ideia pra ela ensinar ondas pra ele com cola e relevo. E depois passou a aula esses dias ele falou: se a professora de matemática tivesse feito isso comigo eu teria aprendido a matéria. Então eu

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acho que falta preparação. E eu pelo menos quero fazer uma diferença quando eu tiver fazendo PIBID naquela escola. Tanto que eu quero se eu tiver a oportunidade eu quero passar pelas outras turmas porque agora são por blocos né. Então não são todas as turmas que eu posso pegar. Mas eu ainda tenho vontade de pegar uma turma de Ciências na vida seja crianças de tarde mais eu quero, e o meu desafio para o ano que vem (risos). - Olha pra falar bem a verdade eu tava com medo, pra falar bem a verdade eu ainda tenho medo porque eu não dei a minha primeira aula. Eu tenho medo assim do aluno chegar e fazer uma pergunta que eu não sei responder. Então, igual no PIBID a gente faz esse treino: a gente vai lá dar a aula e fica lá a professora e a coordenadora ali e elas fazem todas as perguntas mesmo que sejam absurdas que a gente sabe que vai sair da boca do aluno. Então é que dai da um...a gente consegue relaxar ainda. Mas eu só vou dizer se eu estou preparada pra dá aula depois da semana que veem que vai ser minha primeira aula. -Vou ainda na dei minha primeira aula. - Então, eu tô melhorando, igual nas primeiras aulas de metodologia eu tive que apresentar lá na frente e eu ficava morrendo de vergonha começava a gaguejar e eu falava muito rápido então era o nervosismo eu sou, eu morro, eu sou tímida. Só que depois de um tempo que eu me solto depois ninguém mais me segura. Porque dai eu falo mesmo e igual ontem eu já fiz outra apresentação e foi bem melhor que eu não fiquei lendo no papel, não fiquei tremendo. E a minha voz saiu de uma maneira mais suave não saiu aquela coisa atropelada então eu acredito que eu vo tá minha primeira aula na segunda-feira eu acredito que a primeira aula eu vou ficar um pouco nervosa talvez eu gagueje um pouquinho que fique meio travada mas eu acho que depois nas outras aulas eu já vou tá me soltando mais. -Eu acho que vai...isso vária de pessoa pra pessoa eu realmente antes eu não achava professor, a carreira de professor atraente porque meu estudar quatro anos e meio, ganhar um salário “merreca” pra ficar escutando grito de aluno. Esse era meu pensamento antigamente. Só que depois que eu entrei na faculdade que eu comecei o projeto eu comecei a achar interessante a carreira de professor mesmo ganhando pouco (risos). Eu acho que eu...esses tempos em vi um filme de uma professorinha, eu acho que era “uma professora muito maluquinha” alguma coisa assim. E eu me cativei pelo jeito que ela tava aula, porque ela tava aula, era uma matéria chata, algumas coisas chatas e ela tava de um jeito tão extrovertido, tão...querendo trazer, trazendo os alunos pra história como se eles estivessem naquela época. Eu acho que se trazer,

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eu tenho vontade de trazer isso. Igual explicar as leis de Newton, trazer eles na época de Newton mostrar o jeito que foi. Então eu acho que é interessante. É uma brincadeira. É uma forma de você brincar pra sempre. Que você pode fazer...e a sua sala de aula. Você vai poder inventar você vai poder fazer o que você quiser. Então mesmo ganhando pouco eu acho que vale a pena. E fora que tem benefícios né. Não trabalha final de semana, não trabalha feriado. Então não é tão ruim assim ser professor também. - Sim e não. Porque é uma brincadeira, você pode trazer em forma de brincadeira pros alunos. Mas eles precisam aprender porque você vai ser cobrado se eles não tirarem boas notas. Então eu acho que não tão...tem a parte seria como eu falei no começo eu quero dar a opção deles escolherem o que eles, como eles querem aprender a matéria. Mas também eles vão ter que obedecer as minhas regras na parte quando é pra estudar, quando é prova é prova, trabalho é trabalho. Quando eu tô passando...eu vô ter que...vai ter dia que realmente eu vou ter que escrever no quadro. Hora de explicação é hora sagrada tem que ficar quito. Celular, talvez por ser Física algumas aulas eles vão poder usar o celular, tablet qualquer coisa que seja mais eu acho que o grande vilão ai e o uso do celular, whattsapp, essas coisas assim que. Até na faculdade você vê isso mais a diferença é que na faculdade o professor não se importa porque você tá ali pra aprender, você tá ali porque você que aprender. É já na escola não, na verdade boa parte dos alunos vão porque são obrigados porque eles precisam ter uma formação, precisam do terceiro ano do ensino médio completo pra você conseguir entrar numa faculdade. Sem aquilo você não vai pra frente então é difícil os que vão com a intenção de realmente querer aprender, eles vão assim “a eu tô indo pra escola porque eu preciso”. Então é isso, é ai que eu quero fazer a diferença. Ai que eu quero mostrar que a Física não é só uma obrigação pra aprender. Que a Física pode ser legal. - Cara, mudou tudo. Primeiro que queria ser arquiteta, dai eu queria ser perita e agora eu vou ser professora (risos). Claro que eu ainda não abandonei a ideia de ser perita porque eu não sei eu tenho tanta sorte de conhecer as pessoas nas horas certas porque eu tenho um professor na faculdade que ele é professor e ele também é perito. Então eu vi que eu posso tentar conciliar as duas coisas que eu tenho vontade de ser. Então fora que eu comecei a me dedicar mais as matérias porque eu entrei assim: a eu vou entrar não precisa se dedicar tanto porque eu vou mudar pelo Provar. Fazer uma provinha lá e mudo. Então agora eu tenho que aprender, tenho que saber as coisa por dai como, se não eu vou ser uma péssima professora quando eu chegar

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lá na frente porque eu não sou sabe explicar pro meu aluno porque aquilo acontece porque não acontece.

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ANEXOS III: MAPA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS I: MÉRITO, COTAS E LICENCIATURA

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MAPA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS II: CARREIRA DOCENTE, REFUTAÇÕES E PROJEÇÕES DE FUTURA

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