Aplicação e Análise De Uma Atividade De Educação Em Saúde Bucal Para Idosos Application and Analysis of an Oral Health Education Activity for Elderly

June 4, 2017 | Autor: Arthur Mesas | Categoria: Health Education, Visual acuity, Oral health, Elderly People, Older Adult, Family Health Program
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APLICAÇÃO E ANÁLISE DE UMA ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL PARA IDOSOS APPLICATION AND ANALYSIS OF AN ORAL HEALTH EDUCATION ACTIVITY FOR ELDERLY Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho1, Arthur Eumann Mesas2, Selma Maffei de Andrade3

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Especialista e mestranda em Saúde Coletiva, bolsista da CAPES, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina. 2 Mestre em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina. 3 Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Londrina. * Artigo baseado em monografia do curso de Especialização em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina. Correspondência: Vera Lúcia Ribeiro de Carvalho ([email protected]).

Resumo Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de aplicar e analisar uma atividade de educação em saúde bucal para idosos. A população de estudo foi composta por pessoas com idade entre 60 a 74 anos, inscritos no Programa Saúde da Família de um bairro do município de Londrina (PR). Os idosos participaram de palestra e atividade prática, que tiveram como tema a prevenção de doenças bucais, com a realização de escovação orientada e auto-exame bucal. Após 20 dias, os idosos responderam, em visitas domiciliares, a um formulário contendo questões sobre avaliação da atividade educativa, autopercepção da saúde bucal, além de variáveis sócio-econômicas e de identificação. Participaram do estudo 73 idosos, sendo 57,5% mulheres e 68,5% com menos de quatro anos de escolaridade. Foram identificados 83,6% de idosos que nunca haviam participado de atividades educativas. Todos os participantes desta atividade acharam importante ensinar o que aprenderam para outras pessoas, 91,8% declararam que conseguiriam ensinar o que aprenderam e 94,5% referiram ter melhorado seus cuidados com a boca. Quanto à autopercepção, cerca de 75% consideraram sua saúde bucal positiva ou regular. Pode-se dizer que a educação em saúde bucal voltada para idosos deve respeitar particularidades do envelhecimento, como por exemplo, tempo maior para aplicações práticas e fala mais lenta e pausada em palestras. Considerando a baixa escolaridade e a acuidade visual reduzida, deve-se priorizar o uso de imagens em relação a textos. Para maior adesão às atividades práticas em atividades educativas, deve-se garantir maior privacidade ao idoso. A educação em saúde bucal voltada para idosos deve ser desenvolvida e ampliada, considerando as necessidades desse grupo populacional, além da possibilidade de se tornarem importantes disseminadores das informações. Descritores: Educação em saúde; Saúde bucal; Idoso; Auto-imagem. Abstract This investigation was developed aiming to apply and to analyze an oral health education activity to elderly people. The study population was composed of people between 60 and 74 years of age, enrolled in the Family Health Program, Londrina, PR, Brazil. These older adults participated in an activity about prevention of oral illnesses, including guided teeth brush and oral auto-examination. After 20 days, the elderly answered, during domiciliary visits, questions to evaluate the educative activity, as well as questions about their self-perception of oral health, socioeconomic variables and identification. A total of 73 elderly participated in the study, being 57.5% women and 68.5% with less than 4 years of scholar instruction. It was identified that 83.6% of the elderly had never participated on oral health instructions activities. All the participants of this educational activity considered important to teach other people what they had learned, 91.8% declared that they would be able to teach what they had learned and 94.5% reported that they had become more careful with their mouth. About selfperception issue, 75% considered their oral health good or regular. It can be said that education on oral health directed to elderly must respect particularities of the aging, providing more time for practical applications and speaking slowly and gradually in lectures. Considering the low education and the reduced visual acuity of the elderly, the use of images must be prioritized instead of texts. In order to increase adhesion to the practices developed during educative activities, privacy must be guaranteed to the elderly. This type of educational activity must be developed and extended, considering the elderly needs and their potentiality to become important disseminators of the information. Keywords: Health education; Oral Health; Aged; Self concept.

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Educação em saúde bucal para idosos

INTRODUÇÃO A população no Brasil, assim como em outros países do mundo, está envelhecendo. Como idosos, nesse país, consideram-se os indivíduos com mais de 60 anos1, que compõem hoje o segmento populacional que mais cresce em termos proporcionais. No município de Londrina – PR, a população de 60 anos ou mais representa cerca de 9,7% de aproximadamente 450 mil habitantes.2 Por muitos anos, até a década de 60, o tratamento odontológico para todas as faixas etárias baseava-se na extração dos dentes. Em seguida, muito se investiu em tratamentos curativos e, no final do século XX, preocupavase com a prevenção. Para o século XXI, saúde bucal não é apenas a concepção de dentes preservados, mas sim o que faz aumentar a qualidade e a expectativa de vida das pessoas.3 Ações de promoção de saúde como, por exemplo, a educação em saúde, visam proporcionar aos indivíduos conhecimentos que lhes permitam atingir saúde e, conseqüentemente, qualidade de vida. Segundo Rezende4, toda ação educativa que propicie a formulação de hábitos e aceitação de novos valores é um instrumento de transformação social que permite o desenvolvimento do comportamento em relação à saúde. O Ministério da Saúde apresentou em 2004 os resultados de um levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal dos brasileiros, denominado SB Brasil 2003, sendo considerada a faixa etária de 65 a 74 anos para a apresentação das informações referentes à população idosa. Quanto à prevalência de cárie, observou-se que, devido ao caráter cumulativo do índice CPO-D (dentes cariados, perdidos e obturados), esta faixa etária apresenta seqüelas importantes, pois mais de 60% apresentam o índice igual a 32, sendo que o componente perdido é responsável por quase 93% do índice neste 5 grupo. O elevado número de edêntulos mostra um reduzido efeito das formas de planejamento da atenção à saúde bucal que acontecem de maneira excludente, e que as medidas para se evitar esta condição inexistiram ou fracassaram integralmente.6 É evidente que as necessidades do tratamento curativo dos idosos, relacionadas ao

edentulismo, à falta de elementos dentários, à cárie dental, às abrasões e à doença periodontal7, continuam a ser uma realidade e não devem ser postas em segundo plano. No entanto, a manutenção da saúde bucal e o não surgimento de novos casos de doenças, somente serão possíveis com a coparticipação do paciente, apoiado por uma equipe de saúde bucal preparada para além de educá-lo, conscientizá-lo sobre a importância de seu engajamento nos programas de saúde.8 Esta pesquisa tem como objetivo aplicar e avaliar uma atividade de educação em saúde bucal para idosos. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo com coleta de dados realizada no período de outubro a dezembro de 2005 no município de Londrina, PR. A pesquisa foi feita em duas etapas. A primeira consistiu na realização de uma atividade educativa, e a segunda após 20 dias, na aplicação de formulário para avaliação dessa atividade e da autopercepção bucal. A população de estudo foi constituída por uma amostra de conveniência, considerada em recente levantamento das condições de saúde bucal dos idosos do conjunto habitacional Ruy Virmond Carnascialli.9 Foram considerados como critérios de inclusão a idade entre 60 e 74 anos e estar inscrito no Programa Saúde da Família (PSF) na área de abrangência de uma das equipes de saúde da família, da Unidade Básica de Saúde (UBS) local. Foram excluídos indivíduos com alta dependência funcional. A listagem inicial continha dados de identificação de 267 idosos, os quais foram convidados, por intermédio dos agentes comunitários de saúde (ACS), a participarem de uma atividade de educação em saúde bucal. Para um melhor aproveitamento, foram organizados grupos de no máximo 30 idosos. Cada sessão foi ministrada pela autora deste estudo e tinha o seguinte conteúdo apresentado em slides: introdução e comentários iniciais, principais alterações bucais em idoso, técnica de auto-exame bucal, técnica de higienização, comentários finais e esclarecimento de dúvidas. Os idosos que participaram dessa atividade foram incentivados a tirar suas dúvidas, receberam escova dental e dentifrício, e foram convidados a realizar na prática o auto-exame

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Carvalho VLR, Mesas AE, Andrade SM

e a higienização, orientados por dentista ou técnico de higiene dental (THD) devidamente treinado. Como recursos materiais foram usados retro-projetor, macros modelos da cavidade bucal, três escovódromos (cada um contendo duas pias e dois espelhos) os quais foram cedidos pelo Serviço Social do Comércio SESC - Londrina. Após o período de um mês, os idosos que compareceram à atividade foram visitados em suas casas por alunos do curso Técnico em Higiene Dental – THD – os quais não haviam participado da orientação na atividade educativa, para que respondessem a um formulário contendo informações sobre as seguintes variáveis: sexo, idade, escolaridade (anos de estudo), autopercepção de saúde bucal (GOHAI), e avaliação da prática educativa. Para avaliação da autopercepção foi utilizado o “Geriatric Oral Health Assessment Index” (GOHAI) de Atchison e Dolan10 obtido a partir de 12 questões que, de acordo com as respostas “sempre”, “às vezes” ou “nunca”, permite identificar a freqüência com que idosos verificaram ocorrência de problemas bucais nos últimos três meses. A categorização ocorre de acordo com a soma dos pontos obtidos em cada questão, sendo que quanto maior o valor, melhor a condição de saúde bucal referida pelo idoso. Foram consideradas as categorias: positiva (36-34), regular (33-30) e negativa (menor ou igual a 29). As informações foram coletadas após leitura, entendimento e assinatura do termo de consentimento livre esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEL segundo o parecer CEP198/05. Aqueles que não puderam comparecer às atividades educativas receberam um folheto educativo em sua residência distribuído pelos

agentes comunitários de saúde. Após procedimento de dupla digitação e validação, os dados foram processados e tabulados com o auxílio do programa Epi Info 3.3.2., na versão para Windows, foi realizada a análise descritiva das variáveis, usando as estatísticas média, desvio padrão e a distribuição de freqüências. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram convidados a participar da atividade educativa 267 idosos, sendo que dentre esses compareceram 93 (34,8%), os quais foram visitados por alunos do curso de THD para aplicação do formulário. Durante as visitas 18 idosos não foram localizados em suas residências e 2 não se lembraram de que haviam participado da palestra, mesmo após o THD tentar relembrá-los, de modo que os resultados referem-se a 73 idosos (78,5%). Com relação ao sexo, 42 (57,5%) eram mulheres e 31 (42,5%) homens. Cerca de 75% da população tinha idade maior ou igual a 65 anos e 68,5% referiram escolaridade inferior a quatro anos (Tabela 1). Um importante aspecto na promoção de saúde para todas as faixas etárias é a educação. Mesmo com os avanços científicos e tecnológicos na Odontologia, o sucesso de um tratamento e a manutenção da saúde bucal, somente serão conquistados, com a participação ativa de um paciente consciente de suas necessidades e responsabilidades.11 Neste estudo, 61 idosos (83,6%) dos pesquisados disseram que nunca haviam participado de atividades educativas na área de saúde bucal em toda a sua vida (Tabela 2), percentual bastante representativo em um país em que, há quase 20 anos, existe uma constituição que determina o dever de se garantir ações integrais de saúde.12

Tabela 1 – Distribuição dos idosos segundo a faixa etária e escolaridade de acordo com sexo, Londrina (PR), 2006. Feminino (n=42) Masculino (n=31) Total (n=73) Característica n % n % n % Faixa Etária 60 a 64 anos

10

23,8

8

25,8

18

24,7

65 a 69 anos

21

50,0

11

35,5

32

43,8

70 a 74 anos

11

26,2

12

38,7

23

31,5

0 a 3 anos

30

71,4

20

64,5

50

68,5

4 a 8 anos

9

21,4

11

35,5

20

27,4

9 anos ou mais

3

7,2

-

-

3

4,1

Escolaridade

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Educação em saúde bucal para idosos

Tabela 2 – Perfil dos idosos quanto à participação na atividade educativa de acordo com o sexo, Londrina (PR), 2006. Feminino (n=42)

Masculino (n=31)

Total (n=73)

Aspecto relacionado à participação na atividade educativa n

%

n

%

n

Recordou que participou da atividade

35

83,3

30

96,8

65

89,0

Teve que ser relembrado da atividade

7

16,7

1

3,2

8

11,0

Já participou de palestras para idosos

9

21,4

3

9,7

12

16,4

Sentiu-se à vontade para perguntar

33

78,6

28

90,3

61

83,6

Acha importante falar o que aprendeu

42

100,0

31

100,0

73

100,0

Moreira et al.13 explicam que durante muitas décadas a atenção à saúde bucal se caracterizou por assistência a escolares em programas incrementais, sendo que os demais grupos eram atendidos somente em situações de emergência. Segundo os autores, os idosos fazem parte de um grupo que carrega a herança de um modelo assistencial de prática curativista e mutiladora, o que deve ser modificado, e embora seja uma tarefa complexa, deve se buscar um modelo com coresponsabilidade, no qual a população assumiria um papel transformador. O fato de 100% dos idosos deste estudo acharem importante falar o que aprenderam para outras pessoas, parece demonstrar o interesse dessas pessoas para serem multiplicadores de informações em saúde (Tabela 2). Somando a isso, verificou-se que o auto-cuidado pode ser aperfeiçoado e incentivado, visto que 94,5% acreditam terem melhorado seus cuidados com a saúde bucal após a palestra (Tabela 3). Por outro lado, quando indagados se realizaram o auto-exame, um dos tópicos ensinados na palestra e na prática, e que deveria ser repetido a cada 15 dias, o percentual foi de apenas 68,5% (Tabela 3). Vale ressaltar que nem todos os idosos recordaram que haviam participado das atividades, 11% desses idosos tiveram que ser relembrados pelo THD (Tabela 2). Portanto, no processo de ensino voltado para pessoas idosas, deve-se levar em consideração certas particularidades como, por exemplo, o ritmo mais lento e processos mentais tendendo a se tornarem mais rígidos, com necessidade de mais informações, de reforço ou de repetição 14 antes de executar um trabalho. A Organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde reconhecem

%

que a educação em saúde deve se tornar permanente, ou seja, a participação comunitária precisa se transformar em fato regular do sistema de atendimento da saúde. Para técnicos que realmente se preocupam com mudanças de saúde em longo prazo, torna-se necessário que os enfoques sejam associados com métodos de comunicação, e os processos de planejamento sejam de acordo com as peculiaridades do ambiente e 15 da população-alvo. Segundo Shons e Palma14, um dos aspectos a serem considerados para o desenvolvimento de uma didática apropriada seria a percepção da realidade, considerando que, em idades avançadas, pode ocorrer redução da capacidade sensorial (reconhecer os objetos), além do fator tempo, pois, os idosos podem precisar de períodos mais longos para pensar, refletir, elaborar. Nesta atividade, em que foi usado slide como recurso visual, deve-se considerar o fato de que 32,9% dos idosos em estudo não conseguiram ler o que estava escrito embora mais de 90% deles disseram ter conseguido enxergá-los (Tabela 4). Um dos fatores que podem ter comprometido este tipo de atividade pode ser a baixa escolaridade, pois, de acordo com os resultados, 68,5% dos idosos tinham apenas de zero a três anos de estudo, o que aponta para a importância de se evitar textos e dar preferência a imagens durante exposição de material educativo (Tabela 1). Ainda assim, mesmo não conseguindo o total aproveitamento da palestra, a quase totalidade (94,5%) se preocupou em tirar suas dúvidas e (91,8%) dos idosos declararam que conseguiriam ensinar o que aprenderam para outras pessoas confirmando, que, mesmo com baixa instrução estas pessoas poderiam influenciar positivamente família e amigos (Tabelas 3 e 4).

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Tabela 3. Avaliação dos idosos quanto ao efeito da atividade educativa de acordo com sexo, Londrina (PR), 2006.

Efeito da atividade educativa

Feminino (n=42)

Masculino (n=31)

Total (n=73)

n

%

n

%

n

%

Melhorou cuidados com higiene bucal

39

92,9

30

96,8

69

94,5

Conseguiria ensinar o que aprendeu

39

92,9

28

90,3

67

91,8

Realizou o auto-exame após a palestra

29

69,0

21

67,7

50

68,5

Tabela 4. Avaliação dos idosos quanto à metodologia utilizada na atividade educativa de acordo com o sexo, Londrina (PR), 2006.

Aspecto relacionado ao método utilizado

Feminino (n=42)

Masculino (n=31)

Total (n=73)

n

%

n

%

n

%

Gostou da maneira como a aula foi dada

42

100,0

31

100,0

73

100,0

Conseguiu enxergar os slides

38

90,5

29

93,5

67

91,8

Conseguiu ler os slides

26

61,9

23

74,2

49

67,1

Participou da prática

18

42,9

15

48,4

33

45,2

Sentiu vergonha de participar da prática

11

26,2

8

25,8

19

26,0

Conseguiu tirar as dúvidas

41

97,6

28

90,3

69

94,5

Recomendaria a atividade para outros idosos

42

100,0

30

96,8

72

98,6

Tabela 5. Autopercepção da condição de saúde bucal dos idosos de acordo com o sexo, Londrina (PR), 2006.

Autopercepção da condição de saúde bucal*

Feminino (n=42)

Masculino (n=31)

Total (n=73)

n

%

n

%

n

%

Positiva

13

31,0

15

48,4

28

38,3

Regular

17

40,5

10

32,3

27

37,0

Negativa

12

28,5

6

19,3

18

24,7

* Adaptação do índice GOHAI (Geriatric Oral Health Assessment Index)

Torna-se importante ressaltar que os idosos preferiram tirar suas dúvidas em aula teórica. Todos foram convidados a participar da prática, mas somente 45,2% concordaram, inclusive 26% declararam que sentem vergonha de se expor na frente de colegas para realizar escovação e auto-exame para prevenção de câncer bucal (Tabela 4). Observou-se que existiu um constrangimento na remoção das próteses, o que pode estar relacionado às más condições de conservação destas ou por preocupação com a aparência. Como sugestão, em atividade práticas com idosos, os escovódromos deveriam oferecer maior privacidade; além disso, uma maneira de incentivar a adesão à prática, seria ressaltar a importância da detecção precoce de lesões cancerizáveis durante a explanação

teórica e trabalhar a necessidade de valorizar a saúde em detrimento da vergonha de se expor. Mesas9 verificou uma alta porcentagem de edentulismo (43,1%) na população inicial considerada para este estudo, sendo que apenas 16,5% das pessoas tinham 20 dentes naturais presentes ou mais. Apesar desta condição, foi verificado no presente trabalho que a maioria dos idosos (75,3%) consideraram sua condição de saúde bucal positiva ou regular (Tabela 5). Estes dados concordam com estudos que relatam uma contradição em relação à autopercepção bucal do idoso e a real observação do estado de 16,17 saúde oral.

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Carvalho VLR, Mesas AE, Andrade SM

O desenvolvimento de ações educativas e preventivas junto a esta população, com ênfase na auto-proteção e na autopercepção, pode levar a uma maior conscientização da necessidade de cuidados com a saúde bucal.18

de atenção multidisciplinar. Assim, sugere-se que a educação em saúde bucal possa ser gradualmente integrada aos programas que oferecem atenção a essa faixa etária, como grupo de hipertensos, diabéticos, e de terceira idade, entre outros.

Em seu compêndio sobre a velhice, Simone de Bouvoir19 cita Ciusa, do instituto de geriatria de Bucareste, que ao perceber que os idosos não faziam valer seu direito de proteção à saúde, apresenta duas razões para isso: em primeiro lugar, esses idosos não se dão conta do momento em que seu estado se torna patológico; perturbações, mesmo graves parecem-lhes inerentes à sua idade; e, em segundo, eles adotaram uma atitude passiva de renúncia, muito mais freqüente do que a atitude contrária da exacerbação das preocupações. Assim muitos se acomodaram autorizando-se a baixar a resistência, confirmando a idéia de que é mais fácil 19 abandonar-se à velhice do que recusá-la.

REFERÊNCIAS

Nesse enfoque, o fato de muitos aceitarem a velhice como algo que causará inevitavelmente perturbações, faz com que em nossa sociedade ainda exista a idéia de que a perda dos dentes é fenômeno natural do envelhecimento e que, portanto, não pode ser evitada. Tal comportamento diverge dos conceitos atuais de uma odontologia que cuida do sistema estomatognático não só de maneira curativa, mas também preventiva.20 Torna-se importante o estudo da percepção de saúde bucal e seu impacto sobre a vida dos idosos, pois conhecendo melhor os aspectos sociais e emocionais de saúde dos indivíduos, os profissionais da área de saúde bucal estarão mais conscientes das necessidades da população, podendo oferecer serviços adequados e direcionados. Estes estudos são especialmente importantes na área educativa, pois as questões ligadas ao auto-diagnóstico e auto cuidado, passam a ser essenciais quando se tem acesso apenas a serviços 21 emergenciais na área de saúde bucal. Assim, os profissionais devem desenvolver um trabalho com objetivos claros e assuntos de interesse dos idosos, assim como aplicar uma didática apropriada, sempre questionando qual o papel que estes devem assumir como cidadãos que cuidam da própria saúde e que têm potencial para influenciar outras pessoas. Dessa forma, ter em vista a melhoria de qualidade de vida e o resgate do sentido de velhice é o papel da odontologia no contexto

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Educação em saúde bucal para idosos

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Recebido em 20/04/2006 Aprovado em 15/06/2006

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