Apresentação do projeto: Poética, Retórica e Representações Políticas. 2009.

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Poética, Retórica e Representações Políticas. Louvores e censuras nas práticas letradas da América portuguesa. Sécs. XVI – XVIII Guilherme Amaral Luz Uberlândia, 2009.

História e Retórica 





Retórica: arte, dividida em cinco partes (invenção, disposição, elocução, memória e ação), que tem por objetivo encontrar os melhores meios (provas / argumentos) para ensinar, deleitar e persuadir um auditório particular; A retórica é um sistema formal, cujos efeitos particulares são historicamente limitados, apesar de muitas de suas convenções (tópicas, gêneros, causas, figuras de elocução, técnicas...) terem validades duradouras; A História, como prática discursiva e conhecimento, não prescinde da retórica ou de suas formas particulares de buscar o entendimento, o deleite e a adesão de seus auditórios coevos.

Gêneros Retóricos 

Judiciário



Deliberativo (Político)



Demonstrativo/Epidítico*

Gênero Demonstrativo e Gêneros Poéticos  







Os gêneros poéticos “clássicos”: tragédia, comédia e gênero épico; Século XVI: tradição virgiliana e primazia da poesia épica; A imitação no gênero épico é dos melhores. Herói épico tem função educativa para a “aristocracia”. Gênero afinado à propaganda Imperial; No humanismo, sobretudo ibérico, o gênero épico aproxima-se de diversos gêneros históricos, tais como as Vidas, as Hagiografias, as Genealogias, os Panegíricos, as Crônicas etc.; Os gêneros épico e históricos, retoricamente, aproximamse do demonstrativo/epidítico pela via do encômio e, por outro lado, as sátiras e determinados exemplares históricos e mesmo épicos, aproximam-se dele pela via do vitupério.

Valores 





Os heróis (épicos ou históricos) e os anti-heróis (satíricos ou históricos) são personagens exemplares nos quais se vêem amplificados valores para os quais se buscam adesão ou repulsa; Os letrados (leitores, ouvintes, escritores ou declamadores) da América portuguesa estão comprometidos com uma rede de instituições que conformam as matérias poéticas/históricas e direcionam suas composições, tais como: a educação jesuítica, as práticas de censura (da Inquisição e da Coroa), as diversas formas de mecenato, as academias etc.; A “poesia”, no seu viés retórico demonstrativo, cumpre, assim, papel de educação moral, afinado a certo centro de poder. No caso, atenderá às políticas de um Estado Católico em expansão no ultramar.

O ethos imperial português no ultramar A educação moral por meio da poética laudatória/satírica e da retórica epidítica servem à formação de um ethos afinado à ideologia imperial no contexto de uma Monarquia Corporativa em “distância” (Representação*);  A formação deste ethos não se separa da formação religiosa do “bom católico”;  A formação do ethos e a sua re-afirmação constante se faz, inclusive, pela mobilização de afetos, para o que a poética e a retórica dispõem de meios eficazes. 

Prosopopéia (1601) – A glória de Duarte Coelho Eis ambos os irmãos em captiveiro. De Peitos tão protervos e obstinados, Por cópia inumerável de dinheiro Serão (segundo vejo) resgatados. Mas o resgate e preço verdadeiro, Por quem os homens foram libertados, Chamará neste tempo o grão Duarte, Pera no claro Olimpo lhe dar parte. Ó Alma tão ditosa como pura, Parte a gozar dos dotes dessa glória, Donde terás a vida tão segura, Quanto tem de mudança a transitória! Goza lá dessa luz que sempre dura; No mundo gozarás da larga história, Ficando no lustroso e rico Templo Da Ninfa Gigantea por exemplo.

Mas, enquanto te dão a sepultura, Contemplo a tua Olinda celebrada, Cuberta de fúnebre vestidura, Inculta, sem feição, descabelada. Quero-a deixar chorar morte tão dura ‘Té que seja de Jorge consolada, Que por ti na Ulissea fica em pranto, Em quanto me disponho a novo Canto.

Ética Missionária e Colonização em Frei Vicente do Salvador (1627) O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz (...) era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cristo Nosso Senhor morreu por nós, e por esta causa pôs o nome à terra que havia descoberta de Santa Cruz e por esta causa foi conhecida muitos anos. Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que se tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja (...).

Manuel Calado e a origem da perda de Olinda para os Holandeses (1648) (...) Foram-se os moradores dela [Olinda], entre muita abundância, esquecendo de Deus; e deram entrada aos vícios, e sucedeu-lhes o que aos que viveram no tempo de Noé, que os afogaram as águas do universal dilúvio, e como a Sodoma e Gomorra, e às mais cidades circunvizinhas, que foram abrasadas com o fogo do céu. Desdourou-se esta terra com grande desaforo; as usuras, onzenas, e ganhos ilícitos era coisa ordinária, os amancebamentos públicos sem emenda alguma, por que o dinheiro fazia suspender o castigo; as ladroíces, e roubos sem carapuça de rebuço; as brigas, ferimentos, e mortes eram de cada dia; os estupros, e adultérios era moeda corrente; os juramentos e falsos não se reparava nisso; os Cristãos novos seguiam a lei de Moisés, judaizavam muitos deles, como bem mostraram depois que o Holandês entrou na terra, que se circuncidaram publicamente, e se declararam por Judeus; os ministros da justiça, como traziam as varas mui delgadas, como lhe punham os delinqüentes nas pontas quatro caixas de açúcar, logo dobravam: e assim era a justiça de compadres.

A alegoria teológico-política da “ordem cósmica” no Panegírico a Afonso Furtado (1676) “(...) O céu Nem é destemperável

Nem há coisa que destemperálo possa. Parece que me dizem que se ele está temperado, de onde procedem os danos que motivam as queixas – eu o digo.

Quem os causa são as controvérsias que, entre si, têm os elementos, querendo dominar-se uns aos outros. Não se contentando cada um com sua esfera, e daí nascem os danos que fazem. E devendo-se lançar a eles a culpa, empurram-na ao céu que sereno e pacífico vive e corre nos eixos de seus pólos. E, se não, atenda o político a esta moral e material alegoria.”

Céu (no meu sentimento) é o Príncipe em sua Monarquia. E o que sua figura representa por si ou por sua imagem é uma reta justiça, e seu Real ânimo Não tem Nem deve ter outro Objeto que não seja o benefício comum. Quem, pois, transforma Tão benévolas ações em tirânicos estragos, Sabeis quem, a malícia dos homens que correspondem à matéria de que são compostos, que é dos mesmos elementos, querendo Dominar a sombra do Príncipe, ou com seu poder debaixo de aparentes justificativas, uns aos outros. Talvez dando-lhe alvitres para abjudicar-lhe ou abjudicar-se o que não lhe toca e outras coisas que não são deste lugar, por cuja razão, padece Talvez o justo pelo pecador e arde o verde pelo seco”

Elogio ao açúcar em Prudêncio Amaral (c. 1700-1715) Searas do Brasil, eu vou cantar-vos, E o, que verteis, ó Arundíneos Gomos, Rival do Mel Hyblêo, suave Assúcar. Trilhar me agrada os conhecidos campos, E os Lavradores regular da Pátria Por certa Lei; ou semeando estendam Canaviais, ou em diversa quadra No prelo esmaguem as cortadas Canas; E espremidos os purguem, e na chama Os sucos lhe condensem; ou já densos De novo expurguem, te que rijo Assúcar Nívea brancura depurados vistam.

Fim FAPEMIG

UFU

CNPq

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