Área temática: Inovação e gestão tecnológica Fatores Determinantes na Adoção de Novas Tecnologias: Critérios Dessa Avaliação em Empresas Prestadoras de Serviços – Um Estudo Comparativo AUTORES FABRICIO BARON MUSSI UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
[email protected] SAMIR ADAMOGLU DE OLIVEIRA Universidade Federal do Paraná
[email protected] KLEBER CUISSI CANUTO Universidade Federal do Paraná
[email protected] Resumo: Ainda que inúmeros fatores contribuam para o desempenho favorável de uma organização, a capacidade de inovar e se ajustar a novas tecnologias de forma condizente com as suas necessidades representa um fator essencial para o incremento da competitividade de uma organização, uma vez que a constante melhoria de processos e a redução do ciclo de vida dos produtos demandam sucessivas ações inovativas por parte das empresas. No entanto, as organizações estão sujeitas a adquirir tecnologias limitadas ou mesmo supervalorizadas em termos de adequação às particularidades de cada empresa. Nesse contexto, o propósito deste trabalho consiste em realizar uma investigação comparativa de critérios de avaliação, determinantes na decisão pela adoção e implementação de novas tecnologias por parte de duas organizações do setor de transporte rodoviário de passageiros. A metodologia empregada será o estudo de casos de caráter descritivo e qualitativo. Observou-se que os critérios relacionados aos custos decorrentes deste processo e a operacionalidade das inovações representaram as categorias que maior atenção recebem por parte dos decisores responsáveis pela seleção e aquisição de novas tecnologias. Verificou-se ainda que experiências mal sucedidas de compras realizadas anteriormente representam um fator considerado pelas organizações que, dessa forma, eliminam antecipadamente algumas opções tecnológicas disponíveis para aquisição. Abstract: Although several factors contribute to an organization’s favourable performance, the capacity to innovate and to adjust to new technologies according to their needs represents an essential factor to increment an organization’s competitiveness as the constant improvement of processes and the product’s life-cycle reduction demands successive innovative actions from the enterprises. Nevertheless, organizations are subject to acquire limited or overestimated technologies in terms of adequacy to each organization’s particularities. Within this context, this study aims to investigate the evaluation criteria that are determinant of an organization’s decision on the adoption and implementation of new technologies, considering two organizations from the road passenger transport’s sector. The methodology consisted on a descriptive qualitative case study. It was observed that costs criteria regarding this decision process and the functionality of the innovations represented
the main categories from the decision-makers perspective. It was also noted that previously unsuccessful technological acquisition experiences represent a relevant factor to these organizations which, by that, eliminate in advance some technological options available for acquisition.
Palavras-chave: Critérios de avaliação; inovações; setor de transportes.
1. INTRODUÇÃO A cadência imposta às organizações pela estrutura industrial na qual estão inseridas (PINDICK e RUBENFELD, 2002), aproximando-se da livre concorrência ou de um arcabouço oligopolizado, em muitas circunstâncias, as obriga a estarem constantemente promovendo ou incorporando inovações na maneira como oferecem seus serviços ou fabricam seus produtos. Muitas dessas inovações, sejam elas de caráter incremental ou radical, estão vinculadas a adoção de novas tecnologias. Conforme Drucker (1997), a competitividade das organizações está diretamente relacionada à forma como as empresas tratam a tecnologia e a inovação. Tendo em vista a importância da tecnologia para as organizações, pode-se observar a dependência destas últimas, especialmente com relação àquelas tecnologias incorporadas em máquinas e equipamentos na forma de conhecimentos especializados, à tecnologia da informação (REZENDE, 2002) - aplicada de maneira intensa ou não, por todos os departamentos de uma organização - bem como das ferramentas tecnológicas inovadoras que, de alguma forma, causam impacto nos processos de trabalho por meio de rupturas com métodos anteriormente aplicados ou por meio de melhorias incrementais nos mesmos (BURGELMAN, MAIDIQUE e WHEELWRIGHT, 2001). Diante do exposto, investimento em novas tecnologias torna-se imperativo às organizações e, administrá-la por intermédio de fornecedores ou praticá-la com recursos próprios é uma questão fundamental (PEREZ, 2003). Quando a tecnologia configura-se como exógena a organização, é necessário incorporá-la considerando para tal, uma série de questões de natureza técnica, financeira, de pessoal, cultural e mesmo social. Enquanto muitas organizações adquirem tecnologias que, exigem dispêndios significativos de recursos, e tornam-se superiores as suas necessidades; outras se apropriam de tecnologias inferiores, em termos de desempenho, ao seu propósito inicial. Em ambos os casos, é possível que se invista sem garantia alguma de atendimento às suas expectativas. Neste contexto, o presente estudo se propõe à investigação comparativa de critérios de avaliação, determinantes na decisão pela adoção e implementação de novas tecnologias, por parte de duas organizações do setor de transporte rodoviário de passageiros atuantes no estado do Paraná e controladas por grupos paranaenses. Está investigação, além de ampliar o debate sobre os critérios para seleção e adoção de tecnologias, pode interessar aos gestores que realizam investimentos de natureza técnica, e também as empresas que desenvolvem e vendem ferramentas inovadoras, pois a redução da distorção de expectativas entre compradores e vendedores interessa e é benéfica a todas as partes envolvidas, e evita problemas futuros dessa natureza. No setor de transporte rodoviário de passageiros, agências reguladoras na esfera federal – Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT – e na esfera estadual – Departamento de Estradas e Rodagem, DER – fiscalizam e regulam grande parte das atividades executadas pelas empresas, monitoram o sistema de concessões de linhas, assim como também controlam o valor cobrado pela passagem de ônibus. A regulamentação restringe determinadas frentes de inovação usualmente aplicadas em setores menos controlados. Com base na legislação vigente, pode-se afirmar que não existe a possibilidade de qualquer melhoria na prestação do serviço, ou nos veículos, ser refletida imediatamente na elevação do preço da passagem, pois esta é reajustada anualmente segundo autorização governamental – estadual ou federal de acordo com o alcance da linha. As aquisições de novas tecnologias nos casos em estudo representam inovações de processo, aplicadas com o
intuito de reduzir custos, sendo este, a priori, o modo em vigor ao alcance das empresas para elevar sua competitividade e sua lucratividade no segmento em que atua. Inicia-se o trabalho com o referencial teórico relacionado ao papel da tecnologia para as organizações e a necessidade de critérios de escolha, a inovação tecnológica e inovação em processos. Em seguida demonstra-se a metodologia utilizada e, posteriormente descreve-se brevemente as empresas que foram objeto de investigação. Por fim apresentase a análise e as considerações finais. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A tecnologia e a necessidade de critérios para sua escolha e adesão A despeito das diferentes pressões que emergem de cada contexto ambiental sobre seus participantes, a definição da estratégia de ação, em grande parte das circunstâncias e conforme a postura assumida materializa-se na conseqüente redução de custos ou na diferenciação dos produtos ou serviços (PORTER, 1986), sendo que a inovação constitui uma variável essencial nesse processo, uma vez que ela decorre de variações incrementais nas práticas atuais até rupturas completas que exigem novas configurações dos processos organizacionais (PENNINGS, 1987). Dentre as ferramentas que auxiliam no surgimento de diferenciações e na redução de custos encontram-se as tecnologias tanto na área de TI quanto na forma de componentes inovadores aplicados aos métodos de trabalho, que possuem valor superior, em termos de tecnologia e conhecimento empregado no seu desenvolvimento. Além da atenção as tecnologias disponíveis, deve-se ater a gestão das mesmas. Tal atividade envolve o cuidado com cronogramas, custos, com alocação de materiais e de recursos humanos, e atividades que tratam da tecnologia, porém variando de acordo com o que se entende por tecnologia enquanto conceito (MANÃS, 2001). Considera-se neste estudo que a tecnologia, enquanto conceito equivale “[...] as habilidades, o conhecimento e os artefatos teóricos e práticos que podem ser usados para desenvolver produtos/serviços em organizações, bem como utilizados em sistemas para a produção e fornecimento desses produtos/serviços” (BURGELMAN, MAIDIQUE e WHEELWRIGHT, 2001, p. 4). As novas tecnologias possuem diversas funções inovadoras e facilitadoras, contudo, para serem realmente úteis, a empresa deve consultar se suas necessidades são atendidas por elas (LAUDON e LAUDON, 2000). Muitas organizações implementam sistemas caríssimos sem garantia alguma que obterão respostas positivas do mercado após sua implementação. Batalha (2001, p. 45) declara que: Do ponto de vista da competitividade, o desenvolvimento e/ou a implantação de uma nova tecnologia só faz sentido se aumentar de alguma forma sua capacidade de permanecer no mercado em condições julgadas adequadas pela firma.
Para alcançar resultados satisfatórios, ou para ajustar-se a novas estruturas institucionalizadas (HALL, 2002), muitas situações exigem que as organizações abdiquem de práticas utilizadas por longos períodos e estabeleçam novos exercícios, sejam eles de caráter gerencial ou técnico. Porém, a definição de novas práticas, em função da adoção de novas tecnologias, ou ainda, resultantes de alterações no arranjo de atribuições existentes numa organização, pode exercer efeitos muito além daqueles desejados. Cada nova tecnologia oferece uma cadeia de benefícios, entretanto, é fato que inúmeras vezes a sua implementação e utilização vão muito além ou muito aquém das reais necessidades da
empresa. Damanpour (1991) afirma que as propriedades estruturais de tecnologias inovadoras interagem com as características da organização. Tais propriedades juntamente com as condições organizacionais compõem uma situação ambiental que deve ser analisada antes de se realizar qualquer aquisição. Prá (2000, p.3) reforça esta ressalva afirmando que “a adoção de novas tecnologias normalmente causa grande impacto nas organizações, com situações antes não enfrentadas, e que muitas vezes deixam os gerentes sem saber como lidar com elas”. O surgimento de contingências não previstas à medida que novas tecnologias são incorporadas pode resultar num acréscimo dos custos previstos para implantação, bem como desgastes nas relações de poder prevalecentes. De acordo com Laudon e Laudon (2000) apud Prá (2000, p. 4): Em praticamente todas as organizações, os projetos de SI e outras tecnologiasi tomam mais tempo e dinheiro para serem implementados do que originalmente previsto, ou porque o sistema não executa todas as tarefas previstas ou não as executa de maneira apropriada.
Andreassi e Sbragia (2001, p.2) relatam em seu artigo que: No final da década de 80, acreditava-se que o número de produtos introduzidos no mercado cresceria assustadoramente nas décadas seguintes (...), o que se viu, no entanto, foi que muito embora o nível de introdução de novos produtos tenha crescido realmente, o número de fracassos também cresceu a taxas alarmantes. Previsões indicam que mais da metade dos recursos alocados em inovações é desperdiçada e que cerca de 75% de todas as criações e 33% de todos os lançamentos fracassam comercialmente.
De certa forma, a partir dos relatos anteriores pode-se observar que discrepâncias entre as expectativas de quem adquire novas tecnologias e de quem as oferece resultou em entraves de cunho financeiro e operacional para ambos os atores envolvidos. As características de uma inovação ou de uma ferramenta tecnológica são de importância para definir a adoção ou não de uma novidade sendo que alguns autores vêm tratando este tema a partir de diversas perspectivas (ROGERS, 1983; HALL, 2002). Alguns autores apresentam fatores que condicionam o grau de atratividade de uma inovação ou de uma ferramenta tecnológica. O quadro 1 compila as características que cada autor define como relevante de se observar para a seleção e adoção de novas tecnologias. Autor Zaltman, Duncan Holbek (1973)
Clarke (1978)
Castor (1983)
Manãs
Considerações sobre critérios e características antes da aquisição 1) custo; 2) retorno do investimento; 3) eficiência; 4) risco e incerteza; 5) Comunicabilidade; 6) compatibilidade; 7) complexidade; 8)’status’ científico da tecnologia; 9) vantagem relativa percebida; 10) ponto de origem; 11) tempo; 12) status antes da adoção; 13) compromisso; 14) relações interpessoais; 15)aspecto público versus aspecto privado; 16) número de avaliações necessárias para aprovar a inovação; 17) suscetibilidade a modificações sucessivas; 18) capacidade de desenvolver ações simultâneas; 19) necessidade de inovações precursoras. 1) risco de poluição; 2) dependência de capital; 3) necessidade de exploração adicional de recursos; 3) vulnerabilidade ao uso indevido; 4)necessidade de uma elite técnica especializada; 5) incompatibilidade com culturas locais; 6) dependência de soluções centralizadas; 7) distanciamento da alienação e tradição. 1) eficiência econômica; 2) impactos da tecnologia em exame sobre as escalas de funcionamento ou produção do sistema social; 3)grau de simplicidade; 4)densidade de capital e trabalho requeridos; 5) nível de agressividade ambiental; 6) demanda de recursos finitos; 7) grau de qualidade e auto-sustentação permitidos pela tecnologia em exame. 1) Adequação ao mercado; 2) complexidade; 3) custos de aquisição; 4) eficácia do fornecedor
(2001)
para implantação; 5) suporte oferecido pelo fornecedor; 6) tempo necessário desde a aquisição até a implantação; 7) credibilidade do fornecedor. Escouto e 1) necessidades da organização; 2) comitê de decisões; 3) requisitos correntes da organização; Schilling 4) requisitos futuros; 5) implementabilidade; 6) suportabilidade; 7) custos; 8) possíveis (2003) fornecedores; 9) proposta comercial. Quadro 1: Critérios elencados para seleção e adoção de novas tecnologias. Fonte: Elaborado pelos autores com base na revisão da literatura especializada.
Tais critérios expostos podem minimizar a possibilidade de fracasso na compra de novas ferramentas tecnológicas uma vez que as características mencionadas obrigam a organização a antever e antecipar possíveis entraves derivados de uma compra mal planejada. Com o propósito de separar os critérios supracitados no quadro anterior, segundo sua natureza, o quadro 2 aloca-os a partir de categorias definidas que permitem melhor visualizar, definir padrões analíticos e estabelecer comparaçõesii. Categorias Financeira
Critérios e características 1) custo; 2) retorno do investimento; 3) risco e incerteza 4) vantagem relativa percebida em termos financeiros; 5) tempo necessário para implementação; 6) suscetibilidade a modificações sucessivas; 7) capacidade de desenvolver ações simultâneas; 8) necessidade de inovações precursoras; 9)necessidade de uma elite técnica especializada; 10) eficiência econômica; 11) impactos da tecnologia em exame sobre as escalas de funcionamento ou produção do sistema social; 12) densidade de capital e trabalho requeridos; 13) demanda de recursos finitos; 14) proposta comercial. Operacionalidade 1) eficiência; 2) comunicabilidade; 3) compatibilidade; 4) complexidade; 5)’status’ científico (tecnologia tecnicamente reconhecida); 6) ‘status quo ante’ (se a decisão pode ser reversível); 7) vulnerabilidade ao uso indevido; 8)grau de simplicidade; 9) grau de qualidade e auto-sustentação permitidos pela tecnologia em exame; 10) necessidades da organização; 11) requisitos correntes da organização; 12) requisitos futuros; 13) implementabilidade; 14) suportabilidade; 15) tempo necessário para implementação; 16) capacidade de desenvolver ações simultâneas; 17) necessidade de inovações precursoras. Ambiental 1) risco de poluição; 2) nível de agressividade ambiental. Cultural e social 1) compromisso; 2) relações interpessoais; 3)aspecto público versus aspecto privado (tamanho do impacto que a adoção provocará no público); 4) incompatibilidade com culturas locais; 5) distanciamento da alienação e tradição; 6) impactos da tecnologia em exame sobre as escalas de funcionamento ou produção do sistema social Dependência 1) dependência de soluções centralizadas; 2) possíveis fornecedores; 3)necessidade de uma elite técnica especializada; 4) ‘status quo ante’ (se a decisão pode ser reversível) Outras 1) ponto de origem (inovação interna ou externa); 2) número de avaliações necessárias para aprovar a adoção; 3) comitê de decisões; Quadro 2: Critérios para seleção e adoção de novas tecnologias, classificado segundo categorias de análise. Fonte: Elaborado e adaptado pelos autores.
Com base na proposta de categorização apresentada no quadro anterior, e no exame dos critérios adotados pelos casos em estudo, para seleção e adoção de inovações e novas tecnologias, pode-se melhor compreender a quais categorias os decisores atribuem maior relevância e quais são menos priorizadas, tendo em vista o pressuposto de que as opções tecnológicas disponíveis dificilmente apresentam atratividade em todas as suas categorias. 2.2 A inovação tecnológica Salientam Burgelman, Maidique e Wheelwright (2001) que inovações tecnológicas efetivamente bem sucedidas ocorrem a partir de uma função entre liderança corporativa voltada ao empreendedorismo (definindo uma cultura empreendedora), investimentos operacionais nos processos contemplando o expertise existente na organização (ou
recorrendo à soluções externas), e a adequada leitura da dinâmica de mercado. Essa função, quando devidamente balanceada, traduziria os determinantes do sucesso de uma inovação. Schumpeter (1984) em sua definição clássica de inovação, também enxerga a inovação como o sendo o resultado materializado de esforços equilibradamente definidos, colocando que esta corresponde à introdução de novas combinações produtivas economicamente viáveis. Levando-se em conta a abrangência dos aspectos econômicos e também sociais dessas definições (pois envolvem aspectos subjetivamente intangíveis do ser humano, como expertise, por exemplo), Schuhardt (2005) condensa em termos mais técnicos essa amplitude temática, argumentando que a inovação é um processo que envolve múltiplas atividades realizadas por diversos atores de uma ou várias organizações durante a qual novas combinações de meios e/ou fins são desenvolvidos, produzidos, implementados e/ou transferidos para velhos e/ou novos mercados, oportunidades comerciais ou sistemas sociais. 2.2.1. Inovação em processos Ao falar-se em inovações tecnológicas, compreende-se não apenas a estrutura das organizações em si – a exemplo de competências essenciais, potencialidades produtivas, culturas de fomento à inovação, disponibilidade e alocação adequada de recursos, liderança corporativa focada na questão tecnológica – mas também na estrutura de mercados e nas questões das políticas públicas das nações, atuando como canalizadores para que as inovações tecnológicas provenientes das estratégias tecnológicas desenvolvidas dentro das organizações possam efetivamente se concretizar (BURGELMAN, MAIDIQUE e WHEELWRIGHT, 2001). De forma similarmente abrangente, Perez (2004) na sua colocação acerca das esferas que compõem uma inovação tecnológica também considera pontos extra e intraorganizacionais. Extra-organizacionalmente falando, exemplifica-se tal raciocínio mediante um sistema social composto de organizações e indivíduos formadores de um mercado disposto a aderir à novas combinações produtivas, modificando assim seus hábitos e as utilizando sistematicamente; e em termos intra-organizacionais com o exemplo da organização em si, fazendo com que a difusão dessa inovação remeta à adesão dos indivíduos que a compõem, e à mudança nas práticas habituais em termos de método e/ou freqüência de uso. Assim sendo, a inovação tecnológica de processos dentro das organizações contemplaria, sobretudo, novos métodos, instrumentos, percepções e comportamentos organizados de modo que as competências essenciais da organização em si possam ser aproveitas e refletidas nos outputs destas, quer sejam estes serviços prestados ou mesmo bens tangíveis. Obviamente, essas perspectivas (quer focadas na organização ou no sistema social) não são exclusivas, nem muito menos excludentes, por se considerar que se trata de realidades complementares, de maneira tal que é sabido que as inovações tecnológicas podem incorrer em novos outputs desses novos processos, uma vez que as organizações atendem a esses mesmos sistemas sociais mencionados na perspectiva interpretativa mais abrangente supracitada (AFUAH, 2002; PEREZ, 2004). Quanto ao grau da inovação, no tocante a percepção de quem produz a inovação (o fabricante/prestador de serviços e o impacto tecnológico da inovação para estes) e a de quem absorve a inovação (o consumidor e o ganho em benefícios propiciado pela inovação a este), Afuah (2002) aponta uma diferenciação que contempla tanto inovações em processos quanto em produtos. São assim destacadas:
Inovação incremental
Corresponde a novas combinações que advém de algo existente e que surgem de forma a complementar o padrão vigente Inovação técnica Mais pertinente aos fabricantes de bens manufaturados, em virtude da alta distinção da tecnologia que acompanha a inovação, contudo usualmente relacionada a processos Inovação aplicativa Na qual modificações tecnológicas em processos e/ou produtos aumentam o ganho em benefícios dos consumidores ao passo que estes percebem novas aplicabilidades de produtos em virtude da inovação fomentada pelo fabricante Inovação radical Corresponde aos casos em que as combinações afastam-se substancialmente do padrão vigente, causando um impacto muito maior principalmente na esfera sócio-econômica, podendo eventualmente criar uma nova trajetória que incite a geração de inovações incrementais. Quadro 3: Diferenciação nos tipos de inovação. Fonte: Afuah (2002)
Fica evidente também que estas classificações funcionam de forma puramente explicativa, uma vez que pela própria descrição delas, a dinâmica das mesmas permite com que haja mútua-interação entre elas (AFUAH, 2002; NELSON e WINTER, 1993; FREEMAN, 1984). Em suma, no intuito de associar o referencial teórico aqui exposto com o objeto de estudo deste trabalho (empresas de transporte rodoviário de passageiros), há de se tentar vislumbrar, de acordo com a natureza das inovações tecnológicas percebidas nestas, quais foram efetivamente os critérios utilizados neste processo de adoção/implementação dessas novas tecnologias, elucidando-se como se dá essa dinâmica, com base em evidências empíricas. 3. METODOLOGIA De acordo com Yin (2001, p. 32), o estudo de caso compreende uma “[...] investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real”, sobretudo no momento em que não estão claramente definidos os limites entre o fenômeno e esse contexto. O presente trabalho caracteriza-se como estudo comparativo entre dois casos. A abordagem metodológica, de natureza descritiva e qualitativa, teve como foco a observação, comparação, investigação e discussão acerca dos critérios que determinam a adoção de novas tecnologias em organizações do setor de transporte rodoviário de passageiros. Para tal propósito, foi preciso: 1) Determinar quais foram os critérios adotados na avaliação da aquisição e implementação de novas tecnologias antes da compra ou desenvolvimento interno; 2) Identificar disparidades e estabelecer padrões de resposta; 3) Sugerir categorias de critérios com o intuito de minimizar discrepâncias entre as expectativas de aquisição de novas tecnologias e os resultados efetivamente alcançados. O objeto de estudo é composto por duas empresas de transporte rodoviário de passageiros do estado do Paraná. Especificamente neste setor, a escolha mostra-se pertinente uma vez que o mesmo compõe-se de organizações substancialmente balizadas por órgãos regulamentadores, submetendo as organizações a pressões muito similares. A escolha das duas organizações foi intencional, tendo como critérios não apenas o acesso, como também a relevância destas em termos de tamanho da frota e número médio mensal aproximado de passageiros, além do fato de atuarem no estado do Paraná e serem controladas por grupos paranaenses.
Neste contexto, a investigação foi conduzida com base nos discursos obtidos mediante entrevistas pessoais com um diretor de operações, um gerente de compras e um gerente de TI da organização A; e um diretor de operações, um gerente de compras e dois auxiliares da organização B. As entrevistas foram orientadas por um roteiro semiestruturado de questões qualitativas – cujo conteúdo contemplou os critérios de avaliação destacados no referencial teórico deste trabalho –, sendo que o tratamento e a utilização destes dados primários se deu por intermédio da análise de conteúdo da transcrição formal das entrevistas, conforme autorização dos entrevistados, e considerando para isso uma análise temática e interpretativa com base nos conceitos referenciados na seção teórica. As entrevistas foram realizadas junto aos casos pesquisados no período setembro de 2007 a março de 2008. Com relação aos dados secundários, fez-se uso da análise documental (materiais disponíveis nos sites das organizações investigadas e revistas especializadas no tema). 4. CONTEXTUALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES O cenário em que as empresas operam é regulamentado por órgãos estaduais e federais, cujas principais atribuições são: • Estabelecimento de regras a serem adotadas na prestação do serviço: os procedimentos gerais de embarque, desembarque, recolhimento e devolução de bagagens; descrição da rota pelo motorista no início da viagem; o portão de embarque pertencente a cada empresa nos terminais rodoviários; proibição das empresas venderem serviços ou produtos adicionais nos guichês rodoviários; • Controle do preço das passagens: o valor a ser cobrado pela viagem em cada linha bem como a data de reajuste e a porcentagem de aumento permitido; • Definição das normas de condução do veículo, requisitos e preceitos de segurança: a definição da velocidade máxima consentida, a fixação da obrigatoriedade do uso do cinto de segurança; • Deliberação sobre as linhas que cada empresa atenderá sobre os horários permitidos para cada linha: determinação via concessão temporária com direito à renovação, das linhas a serem atendidas por cada empresa, bem como os pontos de parada (para embarque e desembarque) durante o percurso. Cabe ressaltar ainda, que considerando o rígido aparato regulatório que constitui o ambiente no qual as empresas operam, bem como a concorrência direta e indireta existente, qualquer sensação de monopólio, em virtude da detenção do direito de explorar determinada linha rodoviária é puramente superficial. Essa impressão não exclui a necessidade das organizações desenvolverem novidades e melhorias na maneira como o serviço é prestado, bem como na linha de apoio e nos processos intermediários, que são essenciais para sobrevivência das organizações, uma vez que qualquer incremento na margem de lucro ocorre inicialmente por meio da redução de custos, tendo em vista a restrição de elevação de preços presente no setor. Observa-se então a relevância das empresas constantemente promoverem melhorias nos processos intermediários, especialmente na fase anterior a prestação de serviços. As ferramentas tecnológicas e inovações discutidas no estudo privilegiam, especialmente, os processos, sendo que as eventuais e resultantes melhorias no serviço prestado, na fase do transporte propriamente dito, decorrem de melhorias nas fases anteriores, ou seja, na fase pré-viagem.
Com relação à constituição das organizações investigadas, estas se encontram inseridas num pequeno grupo de empresas paranaenses que atuam no setor de transporte rodoviário de passageiros, e que são controladas pelas mesmas famílias desde a sua origem. A empresa A é controlada por quatro famílias que possuem parcelas diferentes das ações, enquanto a empresa B é controlada por uma única família cujo capital e as ações concentram-se sob o domínio de seu fundador e de poucos familiares. A tabela 1 sintetiza o perfil de cada uma das empresas pesquisadas. Embora, de acordo com as propriedades estruturais demonstradas, as empresas apresentem portes distintos e atuem em áreas com públicos heterogêneos, todos os entrevistados mostraram-se densamente conhecedores das particularidades de seus respectivos públicos-alvo e das ferramentas tecnológicas prioritárias em seus processos. Tendo em vista o tempo de operação das empresas, é admissível supor a eficiência destas com relação ao atendimento do mercado. Tabela 1: Perfil das empresas de transporte rodoviário de passageiros características Número aproximado de funcionários
Empresa A 1250
Empresa B 550
Tempo de existência Sistema de vendas de passagem via internet
74 Possui
28 Não possui (em fase de pesquisa)
Tamanho da frota (nº de ônibus) Tipo de viagens
292 Curta e longa duração
135 Curta e média duração
Número médio de passageiros transportados por mês Estados onde atua
740.000
460.000
Paraná, Santa Catarina e São Paulo Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados primários.
Paraná e Santa Catarina
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE Durante a realização da pesquisa observou-se que, para determinadas questões, especialmente aquelas menos específicas, as opiniões dos entrevistados indicaram posições muito próximas, com pensamentos quase congruentes e com divergências mínimas. Assim sendo, questões gerais e abrangentes mostraram-se sujeitas a interpretações parecidas. A concordância unânime acerca da necessidade de estar continuamente fomentando inovações internas ou buscando-as no ambiente externo, como forma de reduzir custos operacionais e melhorar a competitividade da empresa, ilustra tal sentença. Contudo, quando os temas abordados apontavam diretamente a posição da empresa perante pontos exclusivos foi possível notar que algumas idéias foram direcionadas em sentidos muito distantes, assumindo posições hora agressivas, hora reservadas. Inicialmente, é válido afirmar que não obstante todas as organizações conheçam ou ao menos possuam informações suficientes sobre as opções de métodos e as ferramentas tecnológicas disponíveis, seja para aquisição, seja para desenvolvimento, o que difere significativamente é a maneira como estas empresas consolidam seu uso, em que processos estas tecnologias e inovações são aplicadas, e com qual finalidade. No processo de inovação percebe-se que as empresas tomam posse, em graus diferenciados, das inovações que as outras companhias realizam, procurando adaptá-las às
suas próprias necessidades, além da aquisição de máquinas e equipamentos cujas inovações ocorreram em segmentos correlatos ao seu, bem como ao desenvolvimento interno de ferramentas inovadoras . Conforme o gerente da empresa A, as possibilidades de se inovar encontram-se principalmente nos processos, resultando em redução de custos e elevação da qualidade, e na adoção de equipamentos modernos nos ônibus. Em contrapartida, o gerente da empresa B afirma que é preciso aguardar a emersão de inovações exógenas e tomar posse do que delas lhe convier ajustando-as às necessidades internas da organização. Observa-se que na empresa A é admitida a possibilidade de inovações serem geradas internamente (a empresa possui um escritório intitulado “escritório da qualidade” onde se discute semanalmente as possibilidades de promover melhorias e inovações nos processo anteriores a prestação do serviço e durante a prestação do serviço), enquanto na empresa B este fato não foi mencionado. Tais assertivas denotam, de acordo com o referencial teórico exposto, que as inovações tecnológicas que prevalecem nos casos em análise caracterizam-se como inovações aplicativas (no caso, para a empresa A, uma vez que compreendem modificações tecnológicas nos seus processos de modo a refletirem em ganhos e benefícios aos consumidores mediante seus serviços) e/ou como inovações incrementais (para ambas as empresas, uma vez que as novas combinações tecnológicas complementam o padrão tecnológico vigente, quer seja via desenvolvimento interno, quer seja pelo ajustamento dessas inovações exógenas às plataformas tecnológicas existentes na empresa) (AFUAH, 2002). No tocante a forma como são definidos os critérios para seleção e adoção de novas tecnologias dentro das organizações, vale afirmar que esta dinâmica, em termos gerais, varia conforme a natureza da tecnologia, a necessidade de investimentos, sua relevância estratégica, e de acordo com os departamentos que estão envolvidos. Estes critérios gerais aplicam-se a aquisições como, por exemplo, equipamentos para modernização tecnológica da frota, ou mesmo para aquisição de novos ônibus – que, para as empresas, é considerado um produto dotado de certa complexidade tecnológica por conta de alguns mecanismos embutidos no veículo como chips que permitem a monitoração on-line do ônibus pela área de gestão de tráfego da empresa, controle automático de velocidade, computador de bordo, controle via satélite, entre outros atributos. Com relação à aquisição de novos veículos, que constitui uma questão de âmbito estratégico para as organizações pesquisadas, o gerente da empresa A salientou que devem ser avaliados fatores como o valor da operação, a disponibilidade de recursos, possibilidade de expansão das linhas rodoviárias que a empresa tem o direito de explorar comercialmente, o aval dos acionistas e a negociação com fabricantes, em termos da proposta comercial e a assistência técnica. O entrevistado da empresa B apresentou os mesmos critérios, com exceção da necessidade de obtenção de apoio dos acionistas. Foi observado mediante a comparação entre os casos que as decisões acerca de aquisições de novas tecnologias, encaradas como estratégicas pelas empresas, ocorre de forma mais rápida na empresa B, uma vez que o poder de decisão está depositado sobre poucas pessoas. Ambos os casos pesquisados possuem uma área de tecnologia de informação interna que atua como um órgão de apoio aos outros departamentos, buscando suprir as necessidades e as requisições feitas pelas áreas usuárias. É a partir do departamento de TI que a maioria das aquisições de inovações e ferramentas tecnológicas são realizadas. Como
já ressaltado, o objetivo primeiro refere-se a redução de custos, sendo este um dos meios de elevar a margem de lucro das empresas. Na realização das entrevistas foram observados pontos comuns no tocante a centralização do poder de decisão da compra, concentrado essencialmente na diretoria. Esta não participa de processo de seleção. A área usuária, em quase todos os casos representada pelas áreas operacionais, define os critérios e realiza a seleção – sempre com no mínimo três fornecedores – e apresenta as opções à diretoria. Embora a área usuária possa interferir na opção tecnológica a ser adquirida, “a palavra final”, segundos os entrevistados de ambos os casos, pertence às diretorias. Na empresa A, como parte dos softwares utilizados são desenvolvidos internamente, a empresa, segundo um de seus entrevistados, primeiramente avalia a possibilidade de não recorrer ao mercado. Critérios como a maleabilidade, adaptabilidade, necessidade, custo e tempo de desenvolvimento são considerados. Se a empresa optar pela aquisição externa, outros critérios são levados em conta dependendo da natureza e da finalidade do software ou da inovação em foco. A empresa B, entretanto, considera quase que predominantemente a possibilidade de aquisição externa, sendo que os critérios também variam conforme o propósito da aquisição. 5.1 Experiência e aprendizado por conta de compras mal sucedidas Um ponto considerado relevante pelos entrevistados condiz com a aprendizagem decorrente de aquisições mal sucedidas. Ambos os casos investigados já realizaram aquisições que foram abandonadas precocemente. A empresa A, há noves anos, adquiriu um software de controle de custos destinado a indústrias, e não para o setor de serviços. Contudo, de acordo com seus entrevistados, esta parecia ser a melhor opção na época, em virtude de seu preço, e tentou-se adaptá-lo as operações da empresa sem sucesso. Nessa ocasião, fatores de natureza financeira prevaleceram em detrimento dos fatores ligados a operacionalidade da ferramenta. Além disso, este software não atendeu a todas as necessidades da organização, sendo que, por um certo período, a empresa se viu obrigada a desenvolver um software que suprisse as deficiências da ferramenta adquirida. A empresa B adquiriu um software de controle de escalas de viagem e controle de veículos, há oito anos, que foi abandonado antecipadamente por conta de sua elevada complexidade e dificuldade de executá-lo. Nesta circunstância, o grau de simplicidade da ferramenta não foi observado, uma vez que esta era considerada uma das melhores disponíveis no mercado. A empresa B, segundo seus entrevistados, percebeu que o custo de treinar todos os funcionários e a resistência destes em utilizar uma ferramenta complexa inviabilizaria sua aplicação. Ademais, aspectos relacionados ao grau de instrução dos funcionários e a eminente dificuldade que estes apresentariam ao manusear um software que exige alguns conhecimentos específicos não foram observados na época. Concomitantemente, percebe-se que os critérios de seleção e a posterior decisão de compra, tiveram como único participante, os membros da diretoria, especialmente o setor financeiro e de compras que, na ocasião, não se comunicaram e nem avaliaram as possíveis barreiras a adesão que se materializavam no âmbito operacional. As aquisições mal sucedidas, em ambos os casos, fizeram com que maior atenção e criticidade fossem empregadas no momento de estabelecer critérios para seleção de novas tecnologias. Ainda assim, o processo de aquisição e suas particularidades variam muito de acordo com tipo e a finalidade da compra, e conforme a quantia a ser desembolsada.
5.2 Critérios para aquisição Em face ao exposto, e conforme declaração dos entrevistados, quatro são as questões-chave que, de certa forma, compreendem grande parcela dos custos, e onde se concentram os esforços de otimização e melhoria dos processos com auxilio de tecnologias e inovações: 1) a manutenção dos veículos e de seus componentes e equipamentos, envolvendo ações de registro da documentação dos veículos, de suas características técnicas, controle de quilometragem e cronograma de manutenção; 2) o controle e a manutenção dos pneus, que representa o segundo maior gasto dos casos pesquisados, compreendendo ações de registro dos pneus, localização dos veículos em que cada pneu se encontra, os recapes etc; 3) o controle de consumo de combustível, que envolve a maior parcela de gastos das empresas; 4) a monitoração e controle dos motoristas, atividade que envolve monitoramento e otimização das escalas de viagem, a alocação dos motoristas, cronograma de treinamentos e aperfeiçoamentos, e o atendimento as normas trabalhistas. Durante a fase de coleta de dados, foi solicitado que os entrevistados mencionassem quais são os critérios utilizados pela empresa atualmente para seleção e posterior adoção de novas tecnologias, tendo em vista as quatro questões-chave – manutenção, pneus, combustível e pessoal – mencionadas anteriormente. O quadro 4 ilustra os critérios que cada caso investigado considera relevante no momento da seleção aquisição de inovações e softwares. Vale acrescentar que, com a finalidade de estabelecer comparações e facilitar a apreciação crítica e a compreensão do tema, as repostas foram alocadas conforme as critérios e as categorias de análise propostas no quadro 2, presente no referencial teórico. Categorias Financeira
Operacionalidade
Ambiental
Critérios considerados pela empresa A 1)custo; 2) retorno do investimento; 3) suscetibilidade a modificações sucessivas; 4) capacidade de desenvolver ações simultâneas; 5) densidade de capital e trabalho requeridos; 6) demanda de recursos finitos; 7) proposta comercial; 8) dependência de capital. 1) compatibilidade; 2) comunicabilidade; 3) complexidade; 4) grau de simplicidade; 5) necessidades da organização; 6) requisitos correntes da organização; 7) requisitos futuros; 8) implementabilidade; 9) suportabilidade; 10) tempo necessário para implementação; 11) capacidade de desenvolver ações simultâneas. 1) risco de poluição; 2) nível de agressividade ambiental.
Cultural e social Dependência
1) dependência de soluções centralizadas;
Critérios considerados pela empresa B 1)custo; 2) retorno do investimento 3)necessidade de uma elite técnica especializada; 4) eficiência econômica; 5) densidade de capital e trabalho requeridos; 6) demanda de recursos finitos; 7) proposta comercial; 8) dependência de capital. 1) eficiência; 2) compatibilidade; 3) complexidade; 4) vulnerabilidade ao uso indevido; 5)grau de simplicidade; 6) grau de qualidade e auto-sustentação permitidos pela tecnologia em exame; 7) necessidades da organização; 8) implementabilidade.
1) risco de poluição 1) compromisso; 2) incompatibilidade com culturas locais. 1) possíveis fornecedores; 2) necessidade de uma elite técnica especializada;
Outras 3) comitê de decisões. Quadro 3: Critérios, conforme as empresas A e B, para seleção e adoção de novas tecnologias. Fonte: Elaborado pelos autores.
Da análise até aqui empreendida, e com base nas respostas elecandas pelos entrevistados, e sumarizadas no quadro anterior, alguns pontos devem ser considerados: • As variáveis em que maior número de critérios foram citados estão inseridas nas categorias financeira e operacional. Conforme relatado no item 5.1, a preocupação com a operacionalização das inovações e ferramentas tecnológicas nem sempre foi um fator representativo. Atualmente, com a integração de softwares e outros programas que operam sob a mesma base, os casos pesquisados direcionaram maior atenção à aplicabilidade e facilidade de uso (ROGERS, 1983). Em outras palavras, além do produto ser eficiente, é preciso que se saiba aperfeiçoar sua aplicação; • Ambas as organizações pesquisadas se mostraram atenciosas às questões ambientais, sendo que a empresa A possui certificação de que atua conforme a legislação ambiental vigente, e a empresa B encontra-se na fase final de implementação da certificação; • Enquanto os entrevistados da empresa B mencionaram os critérios “compromisso com a organização” e a “incompatibilidade com as culturas locais” como fatores a serem ponderados no momento de seleção de inovações, tendo em vista que, em experiências passadas a empresa já enfrentou problemas dessa natureza, os entrevistados da empresa A não consideram tais aspectos como critérios. Segundo estes, quando novas ferramentas são implantadas que alteram, de alguma forma, métodos de trabalho, inicialmente são feitas palestras, programas de conscientização e familiarização, bem como treinamentos específicos a fim de habilitar os funcionários e quebrar possíveis resistências. As resistências são consideradas normais e não chegam a comprometer uma eventual aquisição e implantação de inovações que modifiquem processos de trabalho; • Outro ponto relevante concerne a centralização do poder de decisão na empresa B, enquanto que na empresa A forma-se temporariamente um comitê para decidir sobre as aquisições da empresa. Todavia, em ambos os casos, a parte usuária da aquisição em foco é a que menos poder e influência possui no momento de optar entre as opções tecnológicas disponíveis para compra; • Outra variável identificada apenas na empresa A refere-se à permanência de acionistas interferindo nas decisões internas da empresa. Embora não seja o foco do estudo, que discutiu critérios para aquisições relacionadas a inovações tecnológicas e softwares, vale destacar a presença deste agente influenciando as decisões de compras de maior volume financeiro. Dessa forma, fica evidente, de acordo com a análise comparativa dos dois casos, que é preponderante o peso das variáveis de cunho financeiro e operacional no tocante aos critérios gerais para a seleção e adoção de novas tecnologias, indicando com isso uma tendência a se conceder mais relevância aos aspectos tecno-econômicos das inovações tecnológicas, do que a aspectos sócio-culturais, ainda que estes se façam presentes, em algum grau, nos casos estudados. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observa-se que dos critérios reunidos na revisão teórica desta pesquisa, estes não foram observados em sua totalidade nas empresas investigadas. Contudo, foram unânimes nesses casos pesquisados critérios como: custo; retorno do investimento; capacidade de desenvolver ações simultâneas; densidade de capital e trabalho requeridos; demanda de
recursos finitos; proposta comercial; dependência de capital; eficiência econômica; eficiência operacional; risco de poluição; compatibilidade; comunicabilidade; complexidade; grau de simplicidade; grau de qualidade e auto-sustentação permitidos pela tecnologia em exame; requisitos correntes da organização; requisitos futuros. Percebe-se com isso, que esses critérios indicam uma ênfase maior na análise e consideração de variáveis de cunho mais tecno-econômicos, uma vez que os salientados critérios situam-se essencialmente nas esferas financeiras e operacionais das categorias indicadas pelo referencial teórico do presente estudo. Além disso, uma vez que essas variáveis decorrem do acompanhamento mais próximo do desempenho operacional da empresa, é correto inferir que há uma maior participação da área usuária na definição desses critérios, ainda que a decisão, propriamente dita, seja de competência da diretoria. E crível supor que a predominância de critérios inseridos nas categorias financeira e operacional decorra, entre outras razões, do fato dos casos analisados pertencerem a um setor cujo principal meio de melhorar sua lucratividade é a redução de custos. A barreira imposta pela regulamentação vigente, no tocante a possibilidade de elevar o preço cobrado, pode influenciar na priorização dos critérios, uma vez que qualquer incremento no desempenho operacional da empresa por conta da aquisição de uma nova tecnologia, e em termos de prestação de serviço, não será repassado ao valor da passagem rodoviária no curto prazo. Outro ponto relevante da pesquisa refere-se a constatação de que, aparentemente, as empresas examinadas, em muitas circunstâncias, tomam decisões acerca da aquisição de uma ferramenta tecnológica específica sem possuir todas as informações necessárias com relação a sua empregabilidade, fato já aludido em trabalhos anteriores (LAUDON e LAUDON, 2000; PRÁ, 2000). Sugere-se, para pesquisas futuras, estender a investigação para outras organizações do mesmo ramo de atividade com o intuito de confrontar alguns resultados comuns encontrados no processo de seleção e aquisição de novas tecnologias, bem como identificar outros resultados aqui não contemplados. Propõe-se ainda realizar o mesmo estudo com perspectiva longitudinal a fim de se verificar possíveis variações no estabelecimento de critérios por conta de alterações no contexto onde as organizações estão inseridas. Reconhecem-se como limitações dessa investigação o número de casos pesquisados e a impossibilidade de generalização. REFERÊNCIAS AFUAH, A. Innovation Management: Strategies, Implementation and Profits. New York: Oxford University Press, 2002. ANDREASSI, T.; SBRAGIA, R. Fatores determinantes do grau de inovatividade das empresas: um estudo utilizando a técnica de análise discriminante. In: ENANPAD, 25., 2001, Campinas. Anais do 25° Encontro Nacional da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração. Campinas, 2001. 1 CD ROM. BATALHA, Mario O. Gestão agroindustrial, v. 1 – GEPAI 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. BURGELMAN, R. A.; MAIDIQUE, M. A.; WHEELWRIGHT, S. C. Strategic Management of Technology and Innovation. New York: McGraw Hill, 3. ed. 2001. CASTOR, B.V.J. Tecnologia apropriada: um proposta de critérios de avaliação e sua aplicação. Revista de Administração. São Paulo, v. 18, n. 2, 1983, p. 40-47. CLARKE, R. The pressing need for alternative technology. Impact of science of society, v.23, 1978, p. 268.
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Grifo no original. Pode-se observar que alguns critérios representam mais de uma categoria, fato que foi considerado neste quadro. ii