Arquitectura Portuguesa Chã: Um percurso de 1950 ao presente

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Ar qui t ect ur aChã: da( i n) ut i l i dadedeum concei t o

Wor kshop Facul dadedeCi ênci asSoci ai seHumanas Uni ver si dadeNovadeLi sboa

22Junho2015

Audi t ór i o1

Al çadoSuldaI gr ej adeSant aMar i adeBel ém ( Al br echtHaupt ,Di eBaukunstderRenai ssancei nPor t ugal ,1890)

Ent r adaLi vr e

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Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015 Em 1972 George Kubler publicou o seu livro Portuguese Plain Architecture Between Spices and Diamonds, 1521-1706, título que, apesar de apenas ter conhecido tradução portuguesa em 1988, se transformou num dos mais influentes contributos do século XX para a história da arquitectura portuguesa. Nele, Kubler propunha o conceito de arquitectura chã para analisar a arquitectura portuguesa posterior ao grande ciclo manuelino (as especiarias do título do livro) e anterior a outro tempo forte, o do joanino (os diamantes). Tal conceito foi divulgado e consolidado em Portugal por figuras influentes no campo como Pais da Silva (que traduziu o texto) e Horta Correia (que prefaciou a edição portuguesa) e, a prazo, tornou-se numa referência obrigatória em todas as obras que se debruçam sobre essa época. Contudo, nem todos parecem concordar quanto ao significado do conceito nem quanto à sua aplicabilidade. Kubler identificou, para o período de 1521-1706, uma conjuntura económica longa de depauperização de recursos com a qual nem todos hoje concordam, da mesma maneira que no seu livro discutiu obras muito diferentes, das igrejas-salão de meados do século XVI, à igreja dos Jesuítas de Santarém, edifícios hoje dificilmente agrupáveis sob a mesma categoria. Actualmente parece ser importante fazer um ponto de situação relativamente ao contributo de Kubler, e sobretudo à historiografia que sobre ele se construiu. O conceito de arquitectura chã ajudou-nos a perceber melhor a arquitectura portuguesa ou, pelo contrário, revelou-se uma ferramenta heurística que ocultou mais do que revelou? O conceito de arquitectura chã é útil quando sujeito a uma leitura restritiva no tempo e quanto aos objectos ou, inversamente, é especialmente iluminador quando tomado na sua acepção mais larga, revelando-se mesmo importante quando alargado a um tempo ainda mais longo que chegue aos dias de hoje? Em que medida a série kubleriana da arquitectura chã tem uma dimensão traduzível em termos estilísticos? O IHA e o CHAM organizam um workshop onde se discutirá a utilidade e pertinência (ou falta de ambas) do conceito de arquitectura chã e os campos da sua possível aplicabilidade. Organização: Margarida Tavares da Conceição | Joana Cunha Leal | Nuno Senos

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Eliana Sousa Santos Centro de Estudos Sociais – Universidade de Coimbra

Arquitectura Portuguesa Chã: Um percurso de 1950 ao presente

Esta apresentação focar-se-á nas pequenas alterações no discurso arquitectónico em Portugal em paralelo com o contexto político e social das últimas décadas, e como o conceito de Arquitectura Chã (Kubler 1972) tem um papel nesta progressão. George Kubler visitou Portugal extensivamente entre os anos de 1950 e 1960, enquanto investigava as fontes presentes no seu livro Portuguese Plain Architecture: between spices and diamonds 1521-1706 (1972). Este projecto era especialmente querido por Mário Chicó que, tal como Kubler, tinha sido aluno de Henri Focillon. É possível que Chicó pretendesse que o tema da arquitectura portuguesa chegasse a uma audiência internacional e, por isso, encorajasse Kubler a prosseguir a investigação. A recepção do livro em Portugal prolongou-se pelas décadas de 1970 a 1990, dado que o livro apenas foi publicado em 1972, e a tradução portuguesa em 1989. O trabalho de Kubler originalmente marcado por uma ligeira inclinação nacionalista, foi recebido como definidor de um conceito instrumental para o campo da arquitectura portuguesa.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Joana Cunha Leal Departamento de História da Arte | FCSH – Universidade Nova de Lisboa Instituto de História da Arte | FCSH - Universidade Nova de Lisboa

Da arquitectura chã à história da arte (e vice-versa)

Esta comunicação visa analisar e debater o conceito de arquitectura chã na história da arte de um ponto de vista teórico e metodológico. Ou seja, a pertinência do conceito de arquitectura chã não será discutida com base na maior ou menor acuidade com que caracteriza uma conjuntura histórica específica, ou de um conjunto diversificado de edifícios (incluindo obras que vão das igrejas-salão de meados do século XVI à igreja dos Jesuítas de Santarém). Discute-se antes o impacto que a alteração terminológica proposta por Kubler teve na prática da história da arte e da arquitectura em Portugal. Para tanto, discute-se também o modo como o conceito de arquitectura chã foi construido por Kubler num horizonte historiográfico marcado pela concepção antropológica do The Shape of Time. Remarks on the History of Things (1961), e como esta sua proposta teórico-metodológica lhe permitiu romper com os apriori estéticoestilísticos que dominam a historiografia. O mérito e a pertinência do conceito de arquitectura chã não são por isso da ordem da mera contingência referêncial, já que, do meu ponto de vista, a sua importância se fica a dever a uma visão da história da arte que, a contrapêlo das classificações pré-existentes, foi capaz de ler o que não tinha leitura, e mesmo dar a ver o que permanecera literalmente invisível.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Maria de Lurdes Craveiro Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Centro de Estudos em Arqueologia, Artes e Ciências do Património

Repensar o “estilo chão”: virtudes e fraquezas de um conceito

Nos anos setenta do século XX o conceito de “estilo chão” obrigou a historiografia portuguesa a reposicionar-se perante uma leitura que rejeitava os espartilhos estilísticos tradicionais e privilegiava a longa duração. A denúncia do entendimento que “cada local num dado período só podia conhecer um ” dava a George Kubler a oportunidade de romper com todo um percurso anterior e assumir, com base na forma, as heranças que se projetam no tempo longo da arquitetura portuguesa. Eram desta forma criadas as condições para uma nova centralidade dos períodos negligenciados da dominação filipina e da Restauração, ao mesmo tempo que se convocava a experiência militar como motor de uma dinâmica mobilizadora da arquitetura civil e religiosa. Em torno das “composições celulares” e da análise formal dos elementos em confronto, o “edifício” montado pactuava com as séries tipológicas que alimentam ainda hoje a decifração do tempo, recuperando a eficácia da forma e, em simultâneo, injetando a conflitualidade no “presente”. As linhas mestras desta construção orientam-se assim por um sentido de permanência onde cabe também a diferença. Uma historiografia com resultados profícuos ao longo de quase 50 anos sente hoje a necessidade da reavaliação. O obrigatório questionamento sobre o enquadramento temporal do “chão” ou a ponderação sobre a real dimensão do desenho arquitectónico, que contempla e integra equipamentos alternativos, não ensombram a importância das posições que George Kubler defendeu em vários textos; são antes o mote fundamental para o enriquecimento da leitura.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

João Vieira Caldas Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa

Clareza, Ordem, Proporção e Simplicidade

Este título não é mais que uma citação, fora de contexto, extraída do último parágrafo da introdução de George Kubler à sua obra Portuguese Plain Arquitecture between spices and diamonds,1521-1706, publicada originalmente em 1972. Aos quatro termos por ele enunciados para caracterizar a Arquitectura Chã poder-se-ia juntar a tríade sobriedade, solidez e funcionalidade, ou a noção de utilitarismo. Porém, no contexto actual da historiografia da arquitectura, prefiro destacar a ideia de “um certo classicismo asséptico”, referida por Horta Correia (1991: 42), como se sabe o principal divulgador em Portugal da obra de Kubler, à qual deu uma continuidade crítica e sem a qual a História da Arquitectura Portuguesa não era o que é hoje. A presente comunicação parte, assim, de três pressupostos: há uma História da Arquitectura Portuguesa antes de Kubler e outra depois de Kubler; apenas uma parte das edificações por ele estudadas se podem considerar actualmente do âmbito da Arquitectura Chã; o conceito de Arquitectura Chã ainda é útil se for colocado em contexto e usado no confronto, ou em diálogo, com outros mais amplos como os de Classicismo ou de Renascimento (e se o conceito de maneirismo, cada vez mais invocado em vão, for remetido para o seu devido lugar). Os dois primeiros pressupostos podem, porventura, dar-se por adquiridos no seio da historiografia pós-kubleriana. É o terceiro pressuposto que pretendo explorar, discutindo a operacionalidade e ensaiando uma delimitação para o conceito de Arquitectura Chã, no quadro conceptual acima referido e utilizando como pretexto a habitação da nobreza de corte em Lisboa.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Margarida Tavares da Conceição Instituto de História da Arte | FCSH - Universidade Nova de Lisboa Universidade Autónoma de Lisboa

Arquitectura chã em quartéis de infantaria da fronteira portuguesa

A existência de edifícios concebidos e construídos especificamente para alojamento de contingentes militares situa-se desde logo na fronteira entre grandes categorias da tipologia arquitectónica. Parte integrante do equipamento de uma praça de guerra, os aquartelamentos foram entendidos nos séculos XVII e XVIII como obras civis pertencentes à fortificação, definição exemplar de Manuel de Azevedo Fortes, que revela também o modo como se deveriam submeter ao desenho castrense. Uma série de quartéis de infantaria com arcada externa, enquadrados nesse horizonte cronológico, pode ser identificada em diversas praças da raia portuguesa, com especial representatividade no Alentejo e na Beira (Almeida). Nesse conjunto é observável de maneira muito óbvia a utilidade dos conceitos kublerianos (sequência e série da forma no tempo) na leitura das qualidades arquitectónicas destas construções, em especial se considerado o âmbito disciplinar da História da Arquitectura e da História da Arte. Os edifícios destinados a casernas (e em concreto no caso em análise, os quartéis de infantaria) congregam quase todos os atributos associáveis à Arquitectura Chã. Começam por se enquadrar cronologicamente no rescaldo das Guerras da Aclamação, mas na verdade a série apenas se consuma no reinado de D. João V. Apresentam características definíveis a partir de palavras como simplicidade, clareza, limpidez funcional. Congregam, e aqui sem margem para ambiguidade, influências metodológicas da produção da engenharia militar, soluções da arquitectura vernácula e princípios da geometria elementar, sem esquecer o ingrediente classicista sumário. A leitura chã desta série tipológica é de tal modo evidente que tem de ser, e deve ser, questionada.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Rafael Moreira CHAM | FCSH – Universidade Nova de Lisboa

Como "inventei" António Rodrigues, autor do tratado teórico sobre o Estilo Chão (1576-79)

Nesta conversa, conta-se a história da nossa tese de Mestrado em História da Arte, de 1980 a 82: face à repetida afirmação do carácter empírico e prático da arte portuguesa, como numa só semana descobri 15 tratados manuscritos sem sair de Lisboa; como verifiquei que o que se julgava ser uma mera coletânea de fragmentos de várias épocas sobre matemáticas, na verdade era um único Tratado de Arquitetura homogéneo, muito bem pensado e estruturado, escrito por um só autor, de inspiração vitruviana e filiação direta na melhor tradição da tratadística italiana; como o pude reconstituir, datar com precisão, repô-lo no exato contexto histórico, e explicar a razão por que ele caíra no mais total esquecimento (damnatio memoriae); e o longo processo de "exclusão de partes" pelo qual achei o seu autor, e como uma vez mais se viu a "lei de Popper" de que a prova de uma verdade é dada pela acumulação de dados a favor e de nenhum contra. Numa 2ª parte, analisa-se o seu conteúdo para mostrar que se trata do grande tratado teorizador do dito Estilo Chão (Kubler, que o previu sem o conhecer...), de fortes ligações na fronteira das novas correntes artísticas a Sul da Europa, a arquitetura militar e a tradição da ideologia nacional, no ponto de cruzamento entre Arquitetura, Geometria e Cosmografia. E que tal "estilo" exprime uma constante: o culto português do bloco de pedra lisa, do Megalitismo a Siza Vieira.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Ricardo Lucas Branco Instituto de História da Arte | FCSH - Universidade Nova de Lisboa

A Arquitectura Chã e o Classicismo. O caso da Igreja de S. Roque de Lisboa.

Desde a obra de George Kubler Portuguese Plain Architecture Between Spices and Diamonds (1972) que nos habituámos a considerar as igrejas do Espírito Santo de Évora e de S. Roque de Lisboa como paradigmas do “estilo chão”. A semelhança entre as duas e a ascendência autóctone comum, radicada na igreja tardo-gótica de S. Francisco de Évora, havia sido já evidenciada nos estudos anteriores de Pais da Silva (1961) e de Paulo Santos (1966) e que o historiador norte-americano enquadraria na sua metodologia formal supra-estilística antes ensaiada em The Shape of Time (1962). Estas duas igrejas são ainda hoje centrais na acepção do que genericamente constitui o “estilo chão” definido por Kubler. Todavia, apesar de permanecer incontornável para a historiografia da arte moderna, o seu texto tem sido, nas últimas décadas, alvo de uma revisão focada na excessiva amplitude cronológica do conceito kubleriano de “arquitectura chã” e na sua aplicabilidade formal a expressões construtivas sincrónicas, nomeadamente derivadas da tratadística do Cinquecento italiano, que são totalmente divergentes. De facto, tem sido retirado ao “estilo chão” toda a grande arquitectura italianizante do último quartel do séc. XVI até à Restauração, trabalho que devemos sobretudo a Miguel Soromenho e Paulo Varela Gomes. Neste sentido, interessa-nos, por um lado, demarcar e determinar a validade do conceito, que está consagrado na documentação coetânea, embora não exactamente com os mesmos pressupostos teorizados por Kubler; por outro, demonstrar aquilo que verdadeiramente afasta a arquitectura dita “chã” não apenas do ponto de vista da expressão formal, mas também teórico em relação ao classicismo. Serão estes pontos que procuraremos clarificar nesta comunicação, centrando a análise no caso da igreja de S. Roque. Poderemos na sua globalidade, classificá-la sem reservas como um edifício “chão”, ou existem diferenças assinaláveis entre exterior e interior que nos obrigam a reflectir sobre o conceito?

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

José Manuel Fernandes Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa

Reflexões sobre o Conceito de Arquitectura Chã LIBERDADE O conceito de AC não concorre, rivaliza ou impede os outros processos e conceitos utilizados para abordagem à História da Arquitectura. Passa-se num outro “comprimento de onda”, o das tipologias e das morfologias, e não no quadro estilístico ou cronológico. Pode por isso ser, e tem sido, complementar, dialéctico, desafiante, com outros modos de abordagem. Não vejo razões para deixar de o utilizar, desde que de um modo crítico e não impositivo. Seria empobrecedor. MUNDIALIZAÇÃO O conceito de AC faz luz sobre muita da arquitectura portuguesa, mas sobretudo, a das áreas coloniais portuguesas, das Ilhas Atlânticas ao Brasil e India, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. É uma luz que permite, nos vastos espaços coloniais,

uma

abordagem abrangente, globalizadora, sobre a cultura arquitectónica de base, matriz ou origem portuguesa, que outros processos de leitura não permitem - antes fragmentam leituras e interpretações de formas e espaços. ABRANGÊNCIA O conceito de AC pode ser “ampliado” ainda, e iluminador de outras épocas / fases históricas da arquitectura portuguesa, como conceito interpretativo espacial-formal “transtemporal” – nomeadamente, da fase pombalina, da fase manuelina, do tempo românico-gótico, até da Escola do Porto. As ideias de “liso”, de “simples”, de “simplificação”, de “recto”, de “elementar”, têm aqui um papel estruturante, na interpretação e caracterização de um “tempo longo” na história da arquitectura portuguesa, e do eventual “carácter” dos seus processos. EFEITO “DE MODA” OU HISTORICIDADE DO CONCEITO? Não é por ter tido uma época áurea de aplicação, nos anos 1970-80 (pelo lado de ser então novidade, de permitir uma inovação do olhar analítico, de encorajar a internacionalização do tema, etc) - que na actualidade, em efeito ou resultante oposta, se denegará e/ou recusará a continuação da aplicação do conceito, numa espécie de resultante oposta e contrária ao processo inicial. Não somos obrigados ao “politicamente correcto”, ou ao efeito de moda. O que podemos é descobrir que o conceito de AC ganhou entretanto, e possui já, ou integra, uma historicidade própria (de quase meio século), cujo reconhecimento é devido.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Helder Carita Instituto de História da Arte | FCSH - Universidade Nova de Lisboa

Arquitectura chã e a Provedoria de Obras Reais

Incumbida de gerir as obras pagas ou promovidas pela Fazenda Régia forma-se em Portugal, ao longo do século XVI, a Provedoria de Obras Reais. Alargando progressivamente a sua influência às Ordens Militares, Municípios e Igreja

esta

instituição vai produzir, pela sua estrutura interna e lógicas de funcionamento, uma tendência estética peculiar na arquitectura portuguesa e suas práticas construtivas produzidas durante o século XVII. Centrando na sua esfera arquitectos, engenheiros, medidores, escrivães, mestres pedreiros e carpinteiros, a Provedoria de Obras Reais estende a sua influência, a partir de finais do século XVI, ao ensino da arquitectura, promovendo um «saber

fazer» e uma arquitectura que pautada por valores de solidez, rigor e

austeridade se afirma como uma imagem privilegiada de representação do Estado. Pautada por um espírito pragmático, afecto aos grandes funcionários da administração real, a acção da Provedoria de Obras Reais vai manifestar uma sistemática preocupação de racionalização de custos, com uso de sistemas métricos proporcionais de forma a permitir uma maior eficácia e um melhor controle da qualidade e dos custos das obras. Nesta metodologia observamos uma orientação para a normalização de processos de construção com repetição de elementos e acabamentos arquitectónicos que, sistematizados em regimentos e contratos de obra, vemos circular por todo o País até ao Brasil e à Índia. Destas directivas nascem um conjunto de práticas e normativas que acabam por definirem-se como uma componente estruturante da arquitectura chã e um elemento fundamental para o seu entendimento e significado.

Arquitectura chã: da (in)utilidade de um conceito Workshop FCSH/UNL, 22 Junho 2015

Nunos Senos CHAM | FCSH - Universidade Nova de Lisboa

Tornar visível o invisível: Kubler e as igrejas salão em Portugal

O segundo capítulo de Portuguese Plain Architecture é dedicado às igrejas-salão, uma tipologia que Kubler identificou como recorrente em Portugal a partir de meados do século XVI. São onze as igrejas que Kubler percorre nesse capítulo, identificando em todas um conjunto de características formais partilhadas às quais o termo “chão” parece especialmente bem ajustado. Neste grupo incluem-se três catedrais (Miranda do Douro, Leiria e Portalegre), igrejas maiores por definição, assim como outras a que ocupam lugares destacados nos respectivos contextos de construção (por exemplo, a igreja de Santo antão de Évora, uma das maiores a cidade em cuja praça principal se encontra). Tais edifícios, contudo, tinham permanecido essencialmente arredados (i.e., invisíveis) do discurso historiográfico até então produzido. O conceito que Kubler propõe no seu livro permitiu, portanto, trazer para o centro da narrativa historiográfica um conjunto de edifícios maiores até então “invisíveis”, lugar que não mais perderam. Importa hoje voltar a discutir a importância destes edifícios, as características que Kubler lhes reconheceu e os argumentos interpretativos que avançou, procurando avaliar, à luz do conhecimento que hoje temos, a respectiva pertinência. Que importância teve este capítulo de Kubler? Será que a noção de uma arquitectura pobre, despida de ornamento, chã, é a que melhor permite perceber estes edifícios? E o contexto em que Kubler os interpretou (“uma reacção à extravagância manuelina”), será o mais adequado?

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