ART Fabio Scetti XII CONLAB Lisboa 02/2015 (PORT) : O PORTUGUÊS NÃO É SÓ A LÍNGUA DO PASSADO E DOS AVÓS, MAS É TAMBÉM UMA NOVA LÍNGUA DO FUTURO!

August 25, 2017 | Autor: Fabio Scetti | Categoria: Sociolinguistics, Portuguese migration, Sociolinguistique Et Contact De Langues
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"Luso-Québécois": termo em francês que faz referência ao termo muito utilizado no contexto da comunidade "luso-quebequense", e que descreve um habitante de origem portuguesa na província francófona do Québec.
"Dupla Maioria": a maioria do francês como língua da maior parte dos falantes e a maioria do inglês como língua do business e dos comércios.
"Revolução Tranquila" : período de mudança social na região francófona do Québec a partir dos anos 60 e 70.
"Carta da Língua Francesa": lei-quadro da província do Québec. É uma lei fundamental, que faz parte dos estatutos da região francófona, ao lado de outras leis tais como a "Carta Quebequense dos Direitos Humanos e Liberdades" e a "Lei sobre o acesso aos documentos na posse de organismos públicos e a protecção da informação pessoal".
"Escolas comunitárias": definidas como escolas étnicas, defensoras de línguas e culturas diferentes das dominantes.
"Centro das Línguas Patrimonias".
"Programa de Ensino das Línguas de Origem".
"Conselho das Escolas de Línguas e Culturas de Origem".
Barco Italiano com os primeiros imigrados oficias chegados de Portugal a Halifax. Linha de navegação marinha da sociedade Italia di Navigazione S.p.A., que servia os portos de Genoa, Napoles, Palermo, Cannes, Barcelona, Gibraltar e Lisboa antes de chegar a Nova Iorque, passando por Halifax, na Nova Escócia (fonte: Canadian Museum of Immigration at Pier 21).
Associação Portuguesa do Canadá (APC) : primeira associação portuguesa no território canadiano. Foi fundada em 1956, no di 7 de Janeiro, depois de uma reunião geral dos compatriotas portugueses que viviam na cidade de Montreal, feita em Dezembro do ano anterior.
SCETTI Fabio
Doutorando em Ciências da Linguagem
Université Paris Descartes – Paris V / Laboratoire CEPED (França)
[email protected]



Línguas e migrações:
A promoção do ensino do português na "comunidade portuguesa" de Montreal : "O português não é só a língua do passado e dos avós, mas é também uma nova língua do futuro!".

Palavras-chaves: políticas linguísticas, "comunidade portuguesa" de Montreal, identidade, contacto entre línguas, transmissão das línguas
Resumo:
Esta comunicação aborda a questão da sobrevivência da língua portuguesa e da sua promoção num contexto da diáspora, no seio da "comunidade portuguesa" de Montreal. Através duma pesquisa sociolinguística sobre as mudanças da língua em situação de contacto com outras línguas, o nosso questionamento abre-se sobre a definição da língua, de variantes e sobretudo sobre a polémica da normalização da língua. Este estudo apresenta um exemplo de integração e identificação do grupo por meio da língua, analisando o seu percurso de transmissão, o seu ensino e sobretudo o seu posicionamento como marcador de identidade. O contexto particular, numa província como o Québec, no Canadá, onde as questões linguísticas tiveram sempre uma grande importância, ajuda a perceber de que forma as várias políticas que foram aplicadas influiram na vitalidade duma língua minoritária, que pôde assim sobreviver e se promove como língua do futuro, a nível do comércio e das relações internacionais.


Introdução
O português não é só uma língua do passado, mas defende-se como língua importante no mundo actual e, por esta razão, janela aberta para o futuro. Tido como potencial económico de Portugal, o português repercorre o mundo novamente e reanima as comunidades de emigrados. Esta língua que era a língua do império colonial português e chave dos mercados mundiais, tendo em conta o crescimento económico dos países lusófonos, ex-colónias de Portugal, e sobretudo Angola e o Brasil, projecta-se entre as grandes línguas de hoje e de amanhã. De uma posição frágil, de um idioma que tinha medo de se perder, de língua dos avós e das recordações, o português é promovido pelo mundo como um idioma com futuro, uma língua de comércios e uma ferramenta de trabalho.
A minha pesquisa de sociolinguística sobre a "comunidade portuguesa" de Montreal, e mais precisamente sobra a evolução da língua e a sua importância na colectividade, pretende mostrar o espaço ocupado pela língua portuguesa como veículo das actividades no grupo e como marcador da identidade dos seus membros. A sua promoção como recurso para o futuro, e como uma vantagem, é a base dos discursos das instituições escolares e não, para continuar a acolher novos estudantes e para permitir ao português de sobreviver num contexto exterior, da diáspora, no seu percurso de transmissão.
Dentro de um contexto bem particular, o de Montreal, cidade oficialmente bilingue : francês e inglês ; a "comunidade" tem o seu próprio espaço, no centro do bairro de Saint Louis. Dentro deste contexto comunitário, a Missão Santa Cruz representa hoje em dia, um órgão básico do seu ensino, tendo também o papel de órgão de transmissão de geração em geração, e sobretudo mantendo o espírito comunitário sensibilizado sobre a questão da sobrevivência da língua portuguesa.
1. A "comunidade portuguesa" de Montreal
A "comunidade portuguesa" de Montreal (Eusébio, 2001) define-se como o grupo de luso-descendentes da imigração de Portugal continental – em maior parte proveniente das regiões do Centro e do Norte – e das ilhas de Madeira e dos Açores, e que se instalou na metrópole canadiana a partir dos anos 50.
A "comunidade" como outros grupos étnicos em Montreal mostra-se e abre-se ao mundo citadino com as suas festas, rituais, cozinha e sobretudo graças aos seus membros muito activos. Ao lado da Petite Italie, a Chinatown, o bairro grego de Parc Extension, o Petit Maghreb e outros, representa uma das "ilhas culturais e linguísticas" que existem em Montreal, e que enriquecem o seu caleidoscópio urbano. Montreal assemelha-se a um arquipélago formado por uma multidão de pequenas ilhas diferentes.
Difícil é examinar quem faz ou não parte do grupo, quem é português de Montreal, quem é luso-canadiano, quem luso-quebequense, quem se diz fazer parte da "comunidade" e quem diz que não; mas, pode-se identificar o coração do grupo, um espaço físico, o centro da vida colectiva e o núcleo das actividades : o bairro português de Saint Louis, chamado também e mais simplesmente, a "comunidade".
Durante o percurso de identificação dos membros no grupo, as questões das línguas, das competências linguísticas, das atitudes e das expressões da língua, emergem. A língua como marcador de identidade, ocupa um papel importante durante a sua evolução neste contexto particular, onde as políticas relacionadas com as línguas têm um peso relevante. Ela continua no seu percurso de transmissão, tendo em consideração a sua mudança em contacto com as outras línguas presentes, e mantém-se.
Dentro de um panorama comunitário muito rico, com diferentes tipologias de organizações : várias instituições, associações e clubes (Da Rosa e Laczko, 1984), a igreja comunitária da Missão Santa Cruz representa o centro vital do grupo, e como ponto de referência é o lugar de encontro das pessoas, em várias ocasiões. É o espelho do grupo para fora, é um lugar de visibilidade. A escola, ao lado da igreja, representa a expressão da continuação da "comunidade" no contexto complexo e por isso interessante, da cidade quebequense.
1.1. O contexto particular de Montreal
Numa cidade oficialmente bilingue como Montreal, falar de línguas é um tema muito recorrente e que pode sempre animar os cidadãos durante os seus discursos quotidianos. Entre uma maioria francófona e uma anglófona, num contexto definido de Double Majorité (Anctil, 1984) encontram o seu lugar as outras línguas, que graças à imigração estão ainda presentes no espaço citadino.
A questão importante em relação às línguas e a escolha das línguas levanta-se no momento da integração dos imigrantes e, bem assim, no que se refere à escolarização dos mais jovens. Até aos anos 70, a escolha da língua de escolarização era livre. O sistema anglófono era privilegiado. A partir dos novos movimentos migratórios do início do século XX, os novos chegados eram acolhidos no sistema de língua inglesa, porque o sistema em francês era mais associado com a educação com base num percurso fundado na religião católica. Além disso, a língua inglesa era também escolhida por razões de proximidade com o resto do país, o Canadá anglófono, e com os vizinhos Estados Unidos, grande potência económica mundial.
A situação mudou graças às novas políticas linguísticas e de educação que foram promulgadas a partir da Révolution Tranquille (Linteau, 2007). Depois da aprovação das leis provinciais do Québec, loi 22 e loi 101- "Charte de la langue française", a língua francesa foi definida como a única língua oficial da província canadiana e, portanto, a primeira e única língua de escolarização dos recém-chegados. Desta forma, com base nestas novas implantações, os recém-chegados têm a obrigação de inscrever os seus filhos nas escolas de língua francesa, ou melhor francófonas e, somente os filhos de imigrados ou descendentes de imigrados que tiveram uma escolarização dentro do sistema de língua inglesa podem continuar seguindo este fio condutor, até a idade da educação obrigatória e então, o acesso aos estudos superiores universitários.
O afrancesamento no Québec é uma questão muito debatida até hoje, sobretudo no que se relaciona com os discursos de independência em relação ao resto do Canadá. O medo de perder a língua, como símbolo da identidade comum e da história da região, teve enormes consequências no que concerne às políticas provinciais e, sobretudo, no que se refere à integração linguística dos recém-chegados e à escolarização dos jovens e dos seus descendentes. O objectivo da defesa de uma língua francesa em perigo é o resultado de uma maior consciência no papel dos imigrantes, como população de importância no futuro da região francófona.
As novas políticas migratórias com base numa seleção dos novos cidadãos quebequenses, em relação aos conhecimentos do francês e tendo um nível elevado de escolaridade, não é suficiente e não abrange a questão das imigrações históricas na região, de populações que na maioria estão integrados na sociedade anglófona, e que têm o inglês como língua do espaço público. A partir dos anos 90, com a mudança do pensamento e a visão duma província independente e unida, fala-se já dum projecto de nação quebequense, uma nação mais inclusiva e igual (Mc Andrew, 2002), uma sociedade pluricultural, onde o francês tem o seu papel importante de língua oficial e como língua do espaço público.
A política linguística regional valorizadora do francês como única língua oficial no Québec contrasta com a política de integração federal canadiana, que tem bases na defesa das diferentes culturas e línguas presentes no território, e que se apoia num estilo de integração com base no multiculturalismo anglo-saxónico. Esta política de defesa do francês não se relaciona só com a língua, mas teve importância no que se refere ao reconhecimento dos direitos linguísticos de outras comunidade, espacialmente para o ensino e a sobrevivência das novas línguas chegadas com os fluxos migratórios.
Esta mistura de ideias, entre políticas migratórias e normativas linguísticas e, por consequência, as políticas educativas tiveram um papel importante no processo de integração dos imigrantes no Québec, em particular no caso específico da sua maior cidade, Montreal. Depois da grande mudança dos anos 60 e 70, muita importância foi dada à posição dos novos chegados na sociedade canadiana e quebequense. Um primeiro exemplo é a criação e promoção das já existentes Écoles communautaires desde o governo de Pierre Elliott Trudeau – primeiro ministro do Canadá entre 1968 e 1984. Outros programas foram implementados após a criação destas escolas, para que as comunidades encontrem nestas instituições um centro comunitário de referência para a vida e a integração de todos. Nos anos 70, foi criado o Centre des Langues Patrimoniales, e no final da década, mais precisamente em 1978, o P.E.L.O. (Programme d'Enseignement des Langues d'Origine). Este programa tinha a particularidade de prever créditos suplementares aos estudantes que frequentassem as escolas comunitárias, e reconhecia esta mais-valia dentro do sistema geral. Sucessivamente, nos anos 1990, apareceu o C.E.L.C.O. (Conseil des Écoles de Langues et Cultures d'Origine), que é um conselho que reagrupa todas as instituições do ensino definidas como "comunitárias" e que tem o objectivo de promover e manter a união e cooperação entre as diferentes instituições com projectos de desenvolvimento e preservação do ensino das línguas de origem, no seio de um determinado grupo.
Actualmente, os bairros étnicos surgem dentro do espaço urbano de Montreal como consequências deste percurso. Dentro destes bairros, como no caso da "comunidade portuguesa" em Saint Louis, a escola é a instituição que luta pela visibilidade e sobrevivência da língua de origem do grupo, numa continuação no tempo, de geração em geração. Hoje em dia, época em que a língua definida "de herança" perde a sua posição de língua do privado e falada nas casas, o papel importante de transmitir a língua dentro de um núcleo familiar é facilitado pelas actividades da "escola comunitária" que acompanha e apoia as famílias. Em Saint Louis, a língua é ainda promovida como expressão da cultura portuguesa, herança de um passado comum em Portugal e emblema do percurso migratório da família, mas é também língua do presente, que se quer língua veicular nas actividades quotidianas da "comunidade", e, além disso, língua do futuro, língua do comércio, língua útil e utilizada internacionalmente e recurso de trabalho. Neste novo contexto pluricultural e multilingue metropolitano de Montreal, o português, tal como outras línguas, representa também o grito de identidade da "comunidade". Não quer desaparecer.
1.2. O papel da escola da Missão Santa Cruz dentro do bairro de Saint Louis
A "comunidade portuguesa" de Montreal, constituida por 29.000 membros, segundo as estatísticas federais do Canadá (Statistics Canada, 2009), encontra-se no centro do bairro Saint Louis, na parte nevrálgica da cidade, onde vários eixos importantes se cruzam. Saint Louis localiza-se dentro do distrito urbano Plateau-Mont-Royal, e define-se entre as ruas Des Pins ao sul, a rua Saint-Joseph ao norte, a rua Saint-Denis a leste e a avenida Du Parc a oeste. Até hoje, concentra uma maioria de famílias portuguesas ou de origem portuguesa.
Desde a chegada do Saturnia em 1953 e o desembarque dos primeiros portugueses, uma vez instalados, criaram o próprio centro no seio do bairro Saint Louis, bairro já conhecido por ter acolhido outros grupos de imigrantes a partir dos finais do século XIX: Italianos, Gregos e Judeus, em fases diferentes da história migratória da cidade.
Este bairro representa o centro da comunidade portuguesa da cidade e é também conhecido simplesmente como "a comunidade". As palavras "igreja" e "comunidade" trocam-se frequentemente nos discursos dentro e fora do espaço comunitário, como se uma fosse a representação da outra. Durante muitos anos, a população que o ocupava era quase por completo portuguesa (Lavigne, 1987), mas hoje em dia, muitas destas famílias deixaram Saint Louis e habitam as periferias da cidade, em maioria, mais na parte francófona: Anjou a leste, Longueuil na margem sul do rio Saint-Laurent, Montreal Nord e Laval no norte (Da Rosa e Teixeira, 2000).
Não obstante a mudança de muitas famílias para as periferias, Saint Louis mantém o papel de centro convergente para os membros do dito grupo. Ao mesmo tempo, constitui o centro de actividades comerciais do grupo, desenvolvendo uma comunidade de negócios próspera e complexa (Robichaud, 2004), representa o centro associativo (onde podemos encontrar numerosos clubes, associações e instituições), o centro convivial (com a maioria dos restaurantes, padarias e bares portugueses), o centro espiritual e religioso (com a presença da igreja e as suas actividades: catequese, cursos de matrimónio) e o núcleo escolar (representado pela escola primária e a escola secundária, ambas reservadas ao ensino da língua portuguesa).
A Missão Santa Cruz foi criada no final dos anos 1950 e, por essa razão, é uma das igrejas portuguesas mais antigas na América do Norte. Esta igreja associativa encontra-se agora no centro do bairro e representa não só o centro religioso da vida católica comunitária, mas também o centro cultural e o centro educativo em língua portuguesa. Junto com a Escola Lusitana, a Missão Santa Cruz concentra os estudantes de língua e cultura portuguesas até ao 11° ano, em Montreal. Estas escolas, hoje fundidas, representam as últimas duas instituições existentes dentro da cidade, outras escolas existem nas periferias onde há uma grande concentração de descendentes da imigração portuguesa: em Laval, maior cidade que está ao norte de Montreal, e Brossard, uma das maiores cidades do lado sul do rio Saint-Laurent.
Nos programas das actividades da igreja, a transmissão da língua ocupa um lugar muito importante. A língua representa propriamente o grupo e é o veículo de comunicação intercomunitária, no sentido de ser ferramenta das actividades comerciais, mas também no que se refere ao lazer e ao divertimento. A língua é também uma marca da identidade do grupo, ouve-se passeando pelas ruas de Saint Louis e lê-se nas portas das lojas, dos restaurantes e dos bares, parece estar a fazer-se uma viagem no tempo e no espaço e a visitar qualquer cidade de Portugal. O bairro parece ter uma alma muito citadina, mas também umas cores e um odor de local, semelhantes aos que se encontram numa aldeia perdida no meio da Serra do Gerês ou da Serra da Estrela, ou uma aldeia de pescadores à beira-mar, nas costas do continente ou das ilhas.
Sendo a língua do passado e também do presente, o português quer ser uma língua do futuro, dentro da vida da comunidade em Montreal, na sua continuação. Segundo os dados nacionais canadianos, ela transmite-se no seio da "comunidade" e ainda sobrevive (Statistics Canada, 2003). Isto é possível graças à acção da Missão Santa Cruz, que representa a escola dos pequenos portugueses, luso-canadianos, luso-québécois da cidade e é motor de ensino e da transmissão em língua portuguesa. A Missão Santa Cruz teve de lutar para manter um público assíduo, considerando que a escola tem horários limitados – funciona só ao sábado; e tendo em conta que com a enorme quantidade de actividades de cada aluno na própria escola do sistema local, por vezes não há motivação e eles frequentam só por causa da pressão dos familiares. A Missão Santa Cruz tem por objectivo principal: conservar o uso da língua dentro da "comunidade" e sobretudo dentro das casas, ela tem de manter a ligação entre as diferentes gerações, para que a língua continue seguindo o seu próprio percurso de sobrevivência para um futuro certo, colectivo e comunitário.

2. Estudo sociolinguístico sobre a evolução da língua portuguesa em Montreal
A análise sociolinguística feita, inscreve-se dentro de uma pesquisa etnográfica sobre a "comunidade portuguesa" de Montreal. O estudo está dividido em duas grandes partes, por um lado quer observar e compreender as práticas linguísticas dos falantes de português em Montreal, e por outro, pretende focalizar a posição da língua no processo de transmissão de geração em geração e a sua importância como elemento de identificação, dentro deste contexto particular. Os estudos de campo foram realizados em Montreal em 2011, durante seis meses (de Junho até Dezembro), e em 2014, por uma duração de quatro meses (de Maio até Setembro). Após análises ulteriores da língua falada, foi observado o seu processo de evolução e as suas mudanças, em contacto com as duas línguas ditas dominantes, e presentes maioritariamente no contexto: o inglês e o francês. Sucessivamente, com o apoio da análise do discurso, foi extraído conteúdo para observação, no que é relativo ao percurso de integração dos imigrantes portugueses na cidade canadiana, a decisão de transmitir ou não a língua aos seus filhos e netos, e finalmente, a questão da visibilidade do grupo na cidade, e a relação entre as línguas faladas e a identidade.
Na primeira parte, com base numa análise linguística dos vários elementos gramaticais, tais como nomes, adjetivos, pronomes e verbos, foi possível explorar sete "elementos de fragilidade" da língua e aptos a uma possível mudança. Este percurso de erosão da língua, definido também com o termo de attrition (Scaglione, 2000), permite observar minuciosamente a língua falada e a sua modificação estrutural no percurso cronológico, de uma geração à outra. Graças à transcrição minuciosa e à análise de 52 entrevistas realizadas com um grupo heterogéneo composto por vários membros da "comunidade" de diferentes idade, sexo, origem geográfica (Portugal do Norte, Portugal do Centro, Açores e Madeira), ocupação e nível de estudos, pretende-se perceber que variante de português se fala hoje em dia, de que forma esta língua evoluiu e se modificou no tempo, e quais foram as consequências maiores do contacto com as outras línguas ou variantes presentes.
Em seguida, na segunda parte, mais relacionada com o estudo das representações linguísticas, analisando os discursos epilinguísticos dos entrevistados observou-se a estreita relação entre a língua e a identidade. Por um lado, foi possível entender o papel da língua portuguesa em Montreal, como face do grupo para fora, num processo de "visibilização"; e, por outro, considerando a análise da consciência linguística dos falantes, foi observado o papel da língua portuguesa no seio da "comunidade", como elemento veicular nas suas actividades, como elemento de evolução durante o percurso de transmissão, e também, nos seus usos quotidianos ao lado do francês e do inglês. A língua portuguesa falada em Montreal presentemente é definida pelas suas variantes e em contacto com as duas línguas dominantes, e representa uma marca da identidade colectiva e um elemento importante de definição do grupo. Define-se como ponto primário na lista dos elementos para se considerar e se identificar como membro, e com um olhar para a frente, observa-se como elemento do futuro comum para a continuidade do grupo no tempo e no espaço. A "comunidade" não quer acabar.
2.1. O potencial universal e económico da língua portuguesa
O português representa 17% do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal. Este é o resultado dum estudo encomendado pelo Instituto Camões em 2007 e que foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Para apresentar a publicação do livro O Potencial Económico da Língua Portuguesa, coordenado por Luís Reto, foi organizada uma exposição com o mesmo título, ao longo do Festival Portugal Internacional de Montreal, e foi o primeiro evento deste género na América do Norte.
A consciência comum em relação à importância e ao lugar ocupado pelo português no mundo, não é matéria de estudos académicos e estudos de mercado somente, mas também se reflecte nos discursos presentes nos meios de comunicação dentro do país e na diáspora. Em Montreal, como em Caracas, Rio de Janeiro, Montevideu, Toronto, Luxemburgo ou em Paris, os portugueses sabem que a língua portuguesa é importante. Este passo para uma auto-estima colectiva, sobretudo nas situações da diáspora pode não ter muitos efeitos em comunidades como a de Paris, onde não muda a posição de invisibilidade do grupo, "que segue o modelo de integração à francesa" (Deprez, 2013), mas pode aumentar os debates e as reflexões em outras situações, como por exemplo em Montreal, onde a posição das línguas é tema de controvérsia, e chega a ser um tópico de interesse colectivo, um elemento de honra para a representação do grupo.
Nos discursos dos jovens descendentes da imigração portuguesa em Montreal, a língua é promovida como "uma das línguas mais falada no mundo" – Jaime (16 anos – 3ª geração). A sua posição incrementou graças ao crescimento económico do Brasil, e por essa razão chega a ser uma língua dos negócios. "O português é a sétima língua mais falada no mundo e a terceira no mundo ocidental, e com as ex-colónias: Angola, Moçambique, e o Brasil, que daqui a 20 ou 30 anos serão superpotências, o português será uma grande língua do futuro", continua Jaime.
Para Katherine (13 anos – 3ª geração), "o português é a sexta língua mais utilizada no mundo" e para ela é muito importante que a sua transmissão se mantenha nas gerações futuras. Ela pensa em saber falar um "bom" português, e quer poder transmitir esta língua às suas crianças. Jovem adolescente, neta de imigrados portugueses em Montreal, apoia a promoção ao ensino da língua dos seus avós, para deixar de ser só a língua do passado, da tradição, da herança, e prepara-se para um futuro certo, no meio dos jovens da "comunidade".
Esta certeza no que se refere à língua portuguesa, à sua manutenção e à sua evolução no espaço internacional ajuda a escola e as outras instituições e organizações comunitárias na questão da luta para a sobrevivência. Encarando os dados estatísticos que, nos últimos anos, apontam para uma queda nas inscrições nas escolas portuguesas, para evitar que a escola possa um dia fechar, é importante que haja mais estudantes que se interessem pela língua e pela cultura portuguesas, que a língua seja falada e que se mantenha sempre viva, e não só como um elemento de folclore e de tradição popular.
Seja como for, existe um certo receio em relação a esta questão e também a propósito da sobrevivência das associações, dentro do contexto da emigração, que pode estar cada vez mais em perigo. Virgílio (56 anos – 1ª geração), presidente da Associação Portuguesa do Canadá (APC) avisa, com temor, que "ao longo prazo todas as associações vão morrer, que já os clubes têm indo a morrer lentamente" e continua dizendo que tudo isto está nas mãos dos jovens. Para ele, a geração mais nova tem de se implicar mais e tem de "fazer tudo para ocupar-se da sua língua". A língua tem de ser transmitida e os pais têm de fazer um esforço maior em falar português, defende ele. A língua é parte da identidade, a língua é a expressão do grupo, da sua vida e manifestação da sua cultura, por todas estas razões, ele decidiu implicar-se nas actividades da Associação Portuguesa do Canadá em Montreal, e não tenciona desistir.
A língua portuguesa, no seu percurso quotidiano de crescimento como língua internacional, situa-se portanto numa posição de incerteza no seio das comunidades da diáspora, onde não existe um influxo constante e continuo de falantes e a sua posição vê-se ameaçada pelas outras línguas que dominam o contexto. Graças aos discursos promotores deste seu novo posicionamento mundial, as instituições comunitárias e in primis as escolas podem esperar um melhoramento da situação, maior interesse das gerações mais novas e também uma revitalização da língua e do espírito de união e continuação no futuro do grupo.
2.2. O papel da língua portuguesa e do seu ensino no percurso identitário
Dentro do contexto de Montreal, a língua portuguesa, no seu percurso de evolução, toma importância ao lado do inglês e do francês, para definir os jovens descendentes da imigração portuguesa. Representa a marca importante da identidade individual e colectiva, um elemento aglutinador para uma identidade de grupo. A língua serve de ponte entre gerações, entre jovens e idosos, o que permite a comunicação dos netos com os avós, às vezes pouco fleuntes em francês e inglês. No processo de identidade do grupo, é também a "língua franca" entre portugueses integrados na Montreal anglófona e aqueles que se integraram mais com a sociedade francófona. Neste percurso de afirmação da língua como elemento vivo no seio do grupo, as diferentes políticas tiveram influência na atribuição à língua, do estatuto de marcador de identidade e elemento de integração intragrupo.
Florbela (41 anos – 2ª geração) afirma – "eu sempre e só falava português com os meus pais, eles nem falam bem o inglês ou o francês, e as minhas filhas falam com eles português, e em Portugal, com a família, é muito importante". Neste extracto podemos analisar a importância da língua portuguesa como língua familiar, na relação de Florbela com os seus pais, na relação intergeracional entre os seus pais e as suas filhas e também nas relações com os familiares em Portugal. Ela sublinha que com o seu marido falam por vezes francês ou inglês e que se forçam de utilizar o português para que as filhas aprendam. Florbela tem um julgamento do seu próprio português também, continua dizendo que acha ter perdido o seu português e falar mal. Sente-se julgada e envergonhada por não ter um bom conhecimento da língua e questiona-se sobre o seu ser ou não ser completamente portuguesa. Nas suas palavras analisamos a importância dada à língua em relação à identidade, pois, para Florbela, o facto de falar um "bom" português faz parte dos elementos importantes na lista a preencher para se considerar ou não português em Portugal ou no Canadá.
A manutenção da língua de origem é um discurso bem preparado e presente no que se refere aos espaços frequentados pelos membros da "comunidade portuguesa". Na igreja, nos bares, nos clubes e associações, fala-se do papel fundamental do ensino e da transmissão da língua e por consequência da importância da "escola comunitária". Elizabeth (31 anos – 2ª geração) diz – "com o meu marido tentamos falar sempre português com a nossa filha, que só tem 2 anos, mas não é fácil falar entre nós", e põe em relevo a questão da dificuldade na manutenção do português no espaço privado de um jovem casal de descendentes da imigração portuguesa. Este jovem casal de portugueses nascidos no Québec, quer que a filha fale português e que o ensino se faça na escola da Missão Santa Cruz. Elizabeth sublinha a língua e o seu papel no futuro da criança, e continua, no seu discurso, dizendo que esta língua será importante para as viagens futuras a Portugal, para visitar a família e o país de origem. Ela fala também do papel da Missão Santa Cruz e aprofunda a questão da posição de suporte da escola ao longo do caminho de aprendizagem das crianças. A escola, neste sentido, é definida como um suporte no momento de escolha de transmissão da língua às próprias crianças, tentando modificar as atitudes linguísticas das famílias dentro de cada espaço privado.
A importância da língua e do seu uso pode-se observar neste percurso dos jovens e menos jovens descendentes da imigração portuguesa. Graças a políticas que se interessaram pela vida e pela integração das novas comunidades imigradas, e sobretudo no que se refere às "escolas comunitárias" e à manuntenção das suas funções, o elemento da língua continua a fazer parte dos elementos identitários do grupo que, por esse motivo, são consideradas como sendo fundamentais. No contexto quebequense onde a questão linguística é de enorme importância e as línguas ocuparam sempre um espaço particular, diferentes políticas realçaram este assunto, e até ao presente, a posição dos imigrantes tem sido sempre muito ambígua, em relação à integração linguística para o francês ou em direcção do inglês.
2.3. O português entre passado e futuro: qual português?
A língua portuguesa instalou-se em Montreal com os primeiros chegados nos anos 50 e até hoje existe e tem o seu próprio espaço dentro da cidade canadiana. É um elemento importante para o grupo. É um símbolo de sobrevivência e representa uma vitrina do grupo para o resto da cidade. Esta visibilidade no espaço citadino de Montreal permite aos portugueses de identificarem-se não só dentro de uma colectividade, como uma verdadeira "ilha cultural e linguística", mas também dentro de um espaço maior em contraste com os outros grupos. O português viajou no tempo, desde a sua chegada e a sua riqueza em variedades e vernaculares locais até hoje, onde a língua evoluiu devido ao contacto com os vizinhos francês e inglês, mas também graças ao input linguístico das suas próprias variantes.
Neste aspecto, os meios de comunicação, sobretudo a televisão, tiveram um lugar muito importante. Programas e telenovelas animaram a vida de muitas famílias portuguesas no mundo, e com elas, a língua fez a sua viagem dentro das casas. A RTP (Rádio e Televisão de Portugal), rede nacional, teve um papel de relevo na educação dos portugueses, dentro e fora do país, com a sua versão internacional, RTPi. Como no caso de Portugal, onde existe uma verdadeira invasão cultural e mediática do Brasil, no que se refere a Montreal, com a RTPi e a SIC Internacional (Sociedade Independente de Comunicação) provenientes de Portugal, a brasileira Rede Globo é por vezes vendida num mesmo pacote e começa a difundir-se e encontrar o seu espaço dentro das famílias portuguesas da diáspora. Neste aspecto, um outro facto importante, é o crescimento da imigração de brasileiros para a cidade quebequense e o eventual contacto entre falantes das duas comunidades, tendo em conta que por vezes, os chegados do Brasil não têm uma comunidade ou grupo bem estabelecidos (Almeida, 2014) e apoiam-se às instituições portuguesas.
Nesta imagem de viagem da língua, automaticamente com o conteúdo, a variante do português do Brasil (PB) toma espaço ao lado da língua normativa europeia (PE). O nível de contacto entre as diferentes variedades de português aumenta e vai influenciar a evolução da língua falada quotidianamente. Durante este percurso de contacto entre línguas e variantes, observamos que através da análise feita, com sete "elementos de fragilidade" do português, existe uma evolução particular e uma tendência em direcção do PB, como variedade mais forte. Um exemplo tirado da nossa análise é o uso do sujeito "a gente" para representar um sujeito plural inclusivo do falante, a sua frequência e a lenta substituição do "nós", primeira pessoa do plural.
A língua parece assim fazer uma viagem e retomar as naus que a partir das costas lusitanas descobriram o mundo, e hoje faz o percurso no sentido inverso. História e património comum aproximam-se e a visão linguística lusófona expande-se de Portugal para outros países lusófonos, Brasil e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), abrangendo as comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo. Esta visão global reforça a posição do português, de língua colonial e língua comum do Império que foi um tempo ; até hoje, língua do futuro, língua oficial de nove países (Portugal, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe e Timor Leste), uma entidade dependente (Macau) e outros territórios historicamente de possessão portuguesa na Índia, como Goa, Damão e Diu; o português é falado por cerca de 250 milhões de falantes, e considera-se uma das línguas mais faladas no mundo inteiro.

Conclusão
Como foi notado ao longo da pesquisa realizada no seio da "comunidade portuguesa" de Montreal, temos de sublinhar o papel importante ainda desempenhado pela língua portuguesa. Graças às políticas linguísticas e de educação, a língua nesta sua posição minoritária manteve força e espaço. Como consequência, a promoção, defesa e desenvolvimento das "escolas comunitárias" permitiram animar o ensino das "línguas comunitárias", mas secundariamente, ajudou a manter o processo de transmissão activo e, finalmente, a língua pôde manter-se como marcador da identidade do grupo.
No que está relacionado com a vida privada, no seio das famílias, e sobretudo no que é da língua falada quotidianamente, uma questão se põe. Entre vários jovens e menos jovens de origem portuguesa que também falam inglês e francês, como se define o português? A variante oral, que não se destaca da normativa oral e escrita (televisão, escola), e que se forma graças ao contacto com o exterior (inglês e francês) e vernaculares dos familiares, emerge como elemento único, de interesse particular, sobretudo do ponto de vista linguístico, porque todas estas línguas representam as diferentes e váriaveis facetas da língua.
Considerando estas questões da língua e mais uma vez da sua definição e da sua propriedade, num discurso de promoção da língua portuguesa, no fim: qual seria a língua promovida, qual variante e porquê? A língua do passado quer ter uma nova revitalização, ter novos objectivos e, com isso, manifestar-se de nova forma. Com espectros no que se refere às questões do acordo ortográfico da língua portuguesa e às polémicas que seguiram este debate, o PB e o PE destacam-se, reforçam-se e criam espaços própios. Pode ser que, num porvir não muito longínquo, não se tenha de falar em língua portuguesa, mas se tenha de falar em línguas portuguesas.



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