Artes Plásticas, Literatura e o ciclo econômico: Pesquisa qualitativa a partir das Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa, no estado do Rio Grande do Norte

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GRUPO DE TRABALHO: ECONOMIA CRIATIVA ARTES PLÁSTICAS, LITERATURA E O CICLO ECONÔMICO: PESQUISA QUALITATIVA A PARTIR DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA, NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ….................................................................................................................................... 2 FERNANDO MANUEL ROCHA DA CRUZ (UFRN)

PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 1

ARTES PLÁSTICAS, LITERATURA E O CICLO ECONÔMICO: PESQUISA QUALITATIVA A PARTIR DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA, NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Fernando Manuel Rocha da Cruz1 Resumo: A economia criativa foi instituída no Brasil, em 2012, face à insuficiência de recursos financeiros para apoiar as atividades artísticas e culturais. Assim, estas políticas públicas atentam às etapas do ciclo econômico dos setores criativos. Daí que, escritores e artistas plásticos sejam cada vez mais demandados para se implicarem em todo o ciclo econômico desde a criação até à organização de feiras do livro, festivais literários, exibições e exposições de arte. Palavras-chave: Artes Plásticas, Economia Criativa, Literatura. Introdução A criação da Secretaria da Economia Criativa (SEC) pelo Ministério da Cultura brasileiro e a consequente aprovação do “Plano da Secretaria da Economia Criativa: Políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014” (BRASIL, 2012) colocou momentaneamente em pauta o debate sobre a profissionalização nos setores culturais e funcionais. Nas últimas décadas, o poder público tem assumido um papel relevante no apoio de projetos culturais garantindo financiamento público para os mesmos (BOTELHO, 2011). Acontece que com o aumento do número de profissionais no âmbito cultural e artístico, tal financiamento público é escasso, não permitindo muitas vezes que novos grupos e profissionais sejam aprovados nos editais a que concorrem. A esta situação acresce que muitas vezes, as entidades públicas em anos de crise econômica se veem obrigadas a diminuir esses apoios. A filosofia da política pública de fomento da economia criativa aprovada em 2012 vem propor algumas alternativas a esses profissionais e grupos que atuam em setores culturais e criativos (CRUZ, 2014a). Desse modo, a atividade profissional desses profissionais e grupos tem que ser vista em todo o ciclo econômico, ou seja, nas fases de criação, produção, distribuição e mercado. Não é possível, olhar apenas para o momento de criação. O sucesso desses profissionais depende do apoio e da atenção às outras fases econômicas. Assim, as novas tecnologias de informação e comunicação, mas também noções de economia e gestão são fundamentais para que esses profissionais tenham sucesso numa lógica de mercado (CRUZ, 2014a). 1DPP/UFRN. [email protected].

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Por outro lado, por mais que diversos autores (BENDASSOLLI, 2009; CAIADO, 2011; MIGUEZ, 2007) coloquem a tônica na criatividade na explicação da economia criativa e dos setores criativos, estes não se reduzem à criatividade. Por outras palavras, economia criativa não é criatividade. A reunião dos setores culturais aos setores funcionais como moda, design, publicidade e arquitetura pode mesmo ser explicada a partir da lógica de mercado destes últimos que o Ministério da Cultura procurou incutir nos setores culturais (CRUZ, 2014b). Todavia, também os setores funcionais podem ser explicados pelos elementos culturais e artísticos não sendo necessário reduzir ao elemento da criatividade ou das ideias criativas como se este constituísse o mínimo denominador comum. Nesse sentido, propomos a reformulação do conceito de modo a atentar à centralidade do elemento cultural. Assim, propomos que a economia criativa seja definida pelas atividades econômicas que têm objeto a cultura e a arte, ou que englobam elementos culturais ou artísticos de modo a alterar o valor do bem ou serviço prestado. Deste modo, compreendemos o ciclo econômico de criação, produção, distribuição, difusão, consumo, fruição de bens e serviços que têm por objeto a arte e a cultura ou que incorporam elementos culturais ou artísticos. Afastamos desta concepção as atividades culturais e artísticas que não têm intuito econômico. O elemento simbólico e intangível são elementos que importam às atividades econômicas e que quando incorporados nestas lhes altera o valor econômico. Trata-se por um lado da profissionalização de atividades culturais e artísticas, assim como o reconhecimento do valor econômico dos elementos culturais e artísticos incorporados em outras atividades econômicas como a gastronomia, a arquitetura ou os games. (CRUZ, 2014b)

A UNCTAD (2010) classificou os setores criativos em quatro categorias – Patrimônio, Artes, Mídia e Criações funcionais – enquanto a SEC (BRASIL, 2012) optou por definir cinco categorias culturais – Patrimônio, Expressões Culturais, Artes de espetáculo, Audiovisual/ do livro, da leitura e da literatura e Criações culturais e funcionais (cf. Tabela 1). Tabela 1 – Comparação das categorias culturais e setores criativos entre a SEC e a UNCTAD Secretaria da Economia Criativa (Brasil)

UNCTAD

Categoria Cultural

Setores criativos

Categoria Cultural

Setores criativos

Patrimônio

Patrimônio Material Arquivos Museus

Patrimônio

Locais culturais: - Sítios arqueológicos - Museus - Bibliotecas, - Exposições Expressões culturais tradicionais: - Artesanato - Festivais - Celebrações

Expressões culturais

Patrimônio Imaterial Artesanato Culturas Populares Culturas Indígenas Culturas Afro-brasileiras

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Artes Visuais Arte Digital

Artes

Artes de espetáculo

Dança Música Circo Teatro

Audiovisual/ do Livro, da Leitura e da Literatura

Cinema e vídeo Publicações e mídias impressas

Mídia

Criações Culturais e Funcionais

Moda Design Arquitetura

Criações funcionais

Artes visuais - Pinturas - Esculturas - Fotografia - Antiguidades Artes cênicas - Música ao vivo - Teatro - Dança - Ópera - Circo - Teatro de fantoches Editoras e mídias impressa - Livros - Imprensa e outras publicações Audiovisuais - Filme - Televisão - Rádio e demais radiodifusões. Design - Interiores - Gráfico - Moda - Joalheria - Brinquedos Novas mídias - Software - Video games - Conteúdo digital criativo Serviços criativos - Arquitetônico - Publicidade - Cultural e recreativo - Pesquisa e desenvolvimento criativo

(P&D)

Fonte: CRUZ (2014).

Mas se a centralidade da criatividade não se coloca, talvez o conceito de Economia Criativa deva ser repensado em prol de uma denominação que englobe a Economia da Cultura e a dos setores funcionais. De qualquer forma, trata-se de um debate fundamental na sociedade contemporânea as questões do financiamento da cultura e das artes e o da profissionalização nestes setores (culturais e funcionais). Métodos e Técnicas Em termos metodológicos, a nossa pesquisa é qualitativa, uma vez que procuramos a compreensão dos fenômenos em detrimento do estabelecimento da causalidade, ou seja, do estabelecimento das causas e efeitos. Esta pesquisa se enquadra no objeto do Projeto de Pesquisa PVC9822-2013 – Estudo de caso e mapeamento das indústrias criativas no Rio Grande do Norte, de acordo com o Programa Nacional da Economia Criativa (Brasil), aprovado em 2013, pela PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 4

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e renovada pela mesma, em 2014 e 2015. A técnica de pesquisa eleita foi a entrevista semiestruturada junto a profissionais das Artes Plásticas e da Literatura que atuam na cidade de Natal ou em sua Região Metropolitana de Natal, no estado do Rio Grande do Norte. Para o efeito, entrevistamos nas Artes Plásticas: Vicente Vitoriano, Ana Selma Galvão, Flávio Freitas, Marcos Andruchak, Cibele de Oliveira e Hanna Lauria. Na Literatura, optamos pelos escritores: Clotilde Tavares, Regina Azevedo, Victor Hugo Macedo, Carlos Fialho e Pablo Capistrano. Todas as entrevistas foram realizadas entre 2014 e 2015. Por último, é de referir que as entrevistas semiestruturadas se caracterizam pela elaboração de tópicos de entrevista e que no decorrer da interação com o entrevistado é possível colocar mais questões de modo a aprofundar os tópicos previamente definidos. No presente artigo importa analisar as respostas aos seguintes tópicos: 

Produção



Criação



Divulgação



Mercado

O ciclo econômico nas Artes Plásticas e na Literatura Iniciando pela Literatura e apresentando a produção literária dos entrevistados, é de referir que Clotilde Tavares publicou folheto de cordel, bem como, em jornais e na internet. Destaca, no entanto, “A botija” que é um livro ficcional onde mistura histórias de cordel com histórias de Trancoso. Foi publicado em 2006 e ganhou um prêmio da Prefeitura de Natal sendo ainda selecionado pelo Programa Nacional de Biblioteca de Escola para ser distribuído nas escolas do país inteiro. Regina Azevedo escreveu “Das vezes que morri em você”, livro de poemas editado pelos Jovens Escribas e publicado em novembro de 2013. Em fevereiro de 2014, publicou “Carne viva o amor estanca”, um livro de poemas ilustrado por Luiza de Souza, editado pela Tribo. Victor Hugo Macêdo publicou algumas zines online e em coletânea da LOC. Tem igualmente publicado uma zine pela editora Tribo intitulada “Pé de ouvido”. Lançou ainda em 2014, um livro de quadrinhos intitulado “Crocodilo rosa”, na FLiQ – Feira de Livros e Quadrinhos de Natal. Carlos Fialho publicou o livro “Não basta ser Playboy tem que ser DJ”. Trata-se de uma PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 5

crônica e de uma alegoria da sociedade jovem potiguar. Destaca ainda “É tudo mentira” publicado há cerca de 9 anos. Pablo Capristano destaca o seu primeiro romance “Pequenas catástrofes” publicado em 2003, com o qual ganhou o Prêmio Câmara Cascudo. Outro livro – coletânea de crônicas – que destaca é “Simples Filosofia” publicado em 2009. O seu livro mais recente é, todavia, “A grande pancada: Crônicas do tempo do Jazz” publicado pela editora Jovens Escribas. eu... se você pensar assim em termos de repercussão ou melhor de tiragem, tem o meu primeiro romance né... o "Pequenas catástrofes", ele ganhou o Prêmio Câmara Cascudo é... de prosa aqui em Natal né, em 2002 e ele foi publicado em duas edições ele teve uma primeira edição em 2003 numa coleção que foi publicada pela AS Editora chamada "Letras Potiguares" e depois teve uma 2a. edição pela editora Rocco do Rio de Janeiro que foi publicado num selo chamado Safra 21, né? Então o livro teve uma boa repercussão, participei da Bienal... Pablo Capristano

Nas Artes Plásticas, Vicente Vitoriano destaca na sua produção artística a exposição “Rendados de papel”, nos anos 2000 e a exposição “Palavra Pintada”, em 2009. Ana Selma Galvão destaca o projeto “Ana Selma Arte nas Escolas” enquanto Flávio Freitas destaca o painel sobre a aviação do Município de Parnamirim. Marcos Andruchak realça o mural feito na Barreira do Inferno. Já Cibele de Oliveira destaca a participação em quatro catálogos de Marco Buarque e em projetos na China, na Suécia e São Paulo, onde ganhou diversas medalhas de bronze, prata e ouro, bem como menções honrosas. Finalmente, Hanna Lauria enfatiza o seu primeiro projeto “Bonecas de Hanna”. Eu tenho muitos principais trabalhos, e o mais recente, tem o mural feito na Barreira do Inferno, e tem me dado bastante visibilidade, no sentido de que muita gente entra em contato por causa desse trabalho. Mas trabalhos que nem aparecem tanto, mas muitas vezes sou convidado para participar de livros didáticos, que também dão um retorno muito grande. As escolas utilizam os livros, as professoras acabam entrando em contato com a gente, então tem várias escolas do Brasil que entram em contato comigo convidando p’ra visitar, ou então pedindo que eu mande cartas para os alunos, que eu veja o trabalho que eles estão fazendo... Eu faço um trabalho de releitura das pinturas, e eu procuro sempre dar esse retorno que é uma forma de incentivar essa garotada a continuar... Marcos Andruchak

Quanto à criação ou à inspiração para escrever Clotilde Tavares refere que escrever é encarado como uma obrigação, uma organização do mundo. Para Regina Azevedo, qualquer coisa pode ser fonte de inspiração: a natureza, as viagens, ou seja, mesmo quando sai da sua “zona de conforto”. Por sua vez, Vitor Hugo Macêdo acredita que a inspiração vem do trabalho e da procura ativa daquela através do trabalho. Já Carlos Fialho se inspira na cidade e nas pessoas de Natal para PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 6

escrever. Por último, Paulo Capristano crê que a inspiração resulta da especialização ou pelo contrário, da variação dos gêneros escritos, ou da própria experiência ou finalmente, de uma ideia. Eu não me inspiro, eu... escrever é minha obrigação. Eu, eu tenho que escrever então é assim... Eu acordo... eu acordo tarde porque eu durmo tarde, acordo tarde, acordo normalmente com sono, enjoada, aborrecida, acho... detesto o mundo de manhã, aí eu tomo caneca de café, aí aquilo vai clareando, aí eu vou e como uma coisinha, boto água na planta, né? Tomo outra caneca de café... aí o mundo começa a clarear na minha frente, mas ainda muito desorganizado, então eu começo, me sento no computador e, e vou escrever, ou vou responder um e-mail, ou vou escrever uma coisa que eu me lembrei ou vou fazer uma anotação p’ra aproveitar depois... então pronto, quando eu começo a fazer isto, o mundo se organiza... Clotilde Tavares

Nas Artes Plásticas, Vicente Vitoriano recusa a palavra “inspiração” preferindo a de sistematização. As ideias vêm do trabalho, ou seja, são uma consequência deste. Por seu lado, Ana Selma Galvão refere que tudo começa com preparação e estudo sobre o tema, mas também do diálogo com as pessoas (críticos, arquitetos, etc). Com Flávio Freitas, a criação resulta da experiência humana, do seu cotidiano, dos seus sentimentos, dos seus gostos e suas percepções. Para Marcos Andruchak, a inspiração é específica dependendo dos materiais e se se trata ou não, de uma encomenda. O estilo do artista é também determinante na execução de uma obra plástica. Mas, por vezes, o tema tem que ser estudado e preparado. Cibele de Oliveira é de opinião que seu perfil é de pesquisadora, uma vez que procura sempre se preparar e estudar o tema. Por último, Hanna Lauria se inspira com filmes, músicas, ou com alguma experiência pessoal. às vezes fico remoendo muito, fico pensando, faço anotações, abandono, depois volto, não tenho um método de inspiração, só que falar de inspiração, inspiração é uma palavra terrível, ninguém usa mais essa palavra, é, não tem como definir uma maneira, mas a minha sistematização é por aí, outra coisa muito importante é estar sempre trabalhando, as ideias vem do trabalho e não o contrário, você não pode ficar parado esperando que a ideia venha para você poder trabalhar, você tem que trabalhar para as ideias virem. Vicente Vitoriano

Regina Azevedo divulga seus trabalhos pela internet e nos festivais em que participa. Victor Hugo Macêdo divulga pela internet, mas acrescenta que é importante conhecer o meio cultural, no caso, a cidade de Natal. Já Carlos Fialho divulga igualmente pela internet (blog e outras redes sociais) – participando mesmo de loja virtual – mas tem também uma empresa contratada que gere as mídias sociais e ajuda a divulgar seus trabalhos. Pablo Capristano, nos anos 90, usava o sistema de fanzines que permitia a troca de publicações através do correio. Mais tarde, passou a usar os mecanismos tradicionais de divulgação como jornais e televisão. Outra estratégia de divulgação PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 7

consistiu na divulgação junto dos seus alunos, ou seja, no “boca a boca”. Passou ainda, pelo sistema de indústria da editora que implicava que seu departamento de comunicação organizasse a divulgação através de resenhas que enviava para a mídia. Hoje, conta com a divulgação nas redes sociais e da própria editora. Pela internet e também nos festivais eu tenho viajado muito esse ano eu fui para Recife, p’ro Festival de Poesia de lá, fui para a Flipipa Regina Azevedo

Para Vicente Vitoriano, a divulgação passa pela imprensa, mas também pelas redes sociais, como por ex. o facebook e a mala direta por e-mail. Normalmente, começa a divulgar com um mês de antecedência. Ana Selma Galvão divulga seus trabalhos através de site e da sua página no facebook, mas também através do instagram. Com isso, não afasta a assessoria de imprensa, embora reconheça que continua importante o “boca a boca”, ou seja, a divulgação pessoal. Flávio Freitas elege como principais ferramentas de divulgação o seu site na internet, o contato com a mídia (jornais, televisão) e o “boca a boca”. Acrescenta ainda a importância de participar em eventos onde possa divulgar seu trabalho seja através de folder, seja de material de propaganda, clientes, revistas, etc. Cibele de Oliveira divulga seus trabalhos na internet, nomeadamente através da sua página de facebook. Finalmente, Hanna Lauria faz a divulgação através de blog e facebook. No entanto, se no início apenas divulgava as suas exposições, passou recentemente a divulgar também suas obras, tendo transformado seu blog em loja virtual. Pelo contrário, Marcos Andruchak é o único entrevistado que não divulga seus trabalhos, uma vez que considera que se trata de propaganda. Acredita que o tempo procederá a essa divulgação, se o trabalho cultural tiver qualidade. esse meu trabalho atualmente é divulgado, eu tenho o site, né? tem a fan page do facebook, tem o instagram, então ele é divulgado assim, mas quando eu ‘tô realizando projeto, né? Eu tenho, assessoria de imprensa e onde sai na mídia, quando começa uma projeto aí todas as mídias estão interessadas a divulgar a arte, né? É mais assim... Paralelo a isso, de vez em quando vem a imprensa saber como é que ‘tá o meu trabalho e eu fico, só divulgo assim, e muito no boca a boca mesmo, alguém ouviu falar em algum canto, vai no boca a boca. Ana Selma Galvão

Quanto à participação em lançamentos de obras literárias, Clotilde Tavares comenta que participa no lançamento de outras pessoas e não nos seus. Regina Azevedo considera importante essa participação com o leitor. A mesma opinião é compartilhada por Vitor Hugo Macêdo. Por seu lado, Carlos Fialho assume que promove, vende, negocia com as livrarias, com a distribuição sendo por isso, importante a participação em lançamento de livros. Por último, Pablo Capristano revela a PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 8

importância dos convites e divulgação nas redes sociais e se nos anos 80, os lançamentos eram para os amigos, atualmente a estratégia é promover pequenos lançamentos em detrimento de grandes lançamentos. A gente ‘tá produzindo vários lançamentos pequenos ao invés de fazer um grande lançamento grande e chamar todo mundo. Você faz vários lançamentos pequenos e, em lugares diferentes da cidade. Então, você faz um lançamento em Petrópolis, faz um lançamento em Ponta Negra, em locais distintos porque a cidade cresceu e as pessoas estão com muita dificuldade, por exemplo, de se deslocar, todo mundo no mesmo dia p’ro mesmo lugar p’ra fazer um lançamento, p’ra comprar. Então, você tem que disponibilizar p’ro público, oportunidades dele ir ao lançamento do seu livro, aos seus amigos, aos seus alunos, às pessoas que participam, fazem parte da sua rede... Pablo Capristano

Sobre o mercado natalense das Artes Plásticas, Vicente Vitoriano comenta que embora os materiais sejam caros, estes rendem e podem trazer retorno financeiro ao artista. Mas Natal não tem fluxo de mercado. Exposições e catálogos bem elaborados com imagens e preços podem ajudar os artistas a venderem suas obras. A divulgação pela internet pode igualmente trazer algum retorno. Não há galerias comerciais em Natal, pelo que alguns artistas optam por expor em restaurantes, lojas de móveis e outros estabelecimentos. A universidade pública não permite que exista um funcionário que operacionalize as vendas, pelo que é o próprio artista que o tem que fazer. Flávio Freitas considera que o mercado das Artes Plásticas tem maior volume financeiro relativamente a decoração de ambientes e arquitetura de interiores. Nesse sentido, é o arquiteto que reconhece o valor da obra do artista plástico. Para Marcos Andruchak, Natal tem excelentes profissionais de Artes Visuais. No entanto, não existe uma cultura de consumo de Artes Plásticas na cidade. Cibele de Oliveira considera ainda o mercado natalense como um mercado familiar. Concorda que os arquitetos têm um papel decisivo no mercado das Artes Plásticas. Mas, trata-se de um mercado que, na sua opinião, privilegia os natalenses ou quem tem um “padrinho” natalense. Por fim, Hanna Lauria considera um mercado difícil pois os clientes querem barganhar os preços das obras de arte, não reconhecendo o valor das mesmas. nessa minha última exposição, eu estava até comemorando, ainda estou. Acabei de fechar uma venda, desde semana passada. Outra coisa também que eu fiz e que por conta disso eu fiz essa nova venda, eu organizei um catálogo. Em geral, nós não temos isso, aqui... Aí vai a dica p’ra todo mundo, os curadores, um catálogo de fato com imagem de todas as obras, com preço características, etc. E isso eu só não pude imprimir, fazer uma edição numa gráfica para tirar cópias. Então, qual é a estratégia? Havia uma cópia, evidentemente impressa e no computador e eu comecei a distribuir esse catálogo pela internet e tive um certo retorno. Então, eu atualizo. Se eu faço algum negócio, aí eu atualizo o catálogo. Aí, pessoas que eu acho que que possivelmente podem se interessar, eu mando de novo. Tá entendendo? Então, isso é uma maneira de fazer, sei lá, a partir da minha experiência, da PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 9

minha prática, manter uma dinâmica, isso não existe, né? Nós não temos mais galerias que promovam os artistas... Vicente Vitoriano

Considerações finais Não é possível, quer o escritor, quer o artista plástico limitarem suas ações ao processo criativo, ou à materialização de suas ideias. Hoje em dia, é necessário, por um lado, ter a colaboração de outros profissionais (comunicação social, design gráfico, marketing) de modo a promoverem as suas obras, bem como a colaborarem em todos os atos que se destinem a promover e divulgar o lançamento das mesmas. No entanto, verificamos que a maioria dos artistas e escritores entrevistados se implicam ativamente na divulgação das suas produções. Lançamentos, feiras do livro, festivais literários, sessões de autógrafos, exibições, exposições e palestras são alguns dos exemplos que têm em vista a divulgação e venda das obras culturais e artísticas. O escritor e o artista plástico se tornam empreendedores atuando em todo o ciclo econômico desde a criação até à venda em livrarias, galerias, feiras e festivais. O processo criativo não se limita, por outro lado, à inspiração. Resulta, a maioria das vezes, de um processo árduo de preparação, estudo e de execução. A experiência e as saídas de “zonas de conforto” são importantes nesse processo de idealização e execução dos projetos sejam eles, literários, ou de Artes Plásticas. Por outro lado, o financiamento público não pode limitar a organização de eventos, sendo necessário procurar apoios em empresas privadas que possam promover seus serviços e produtos, mas igualmente entre as empresas beneficiárias com a sua organização. Estas podem inclusive fazer parte da organização desses mesmos eventos. Os Festivais Literários são responsáveis pela geração de renda econômica para as suas cidades ao promoverem o “produto” livro e a própria cidade com um alcance significativo em termos de visitantes e de receitas para o comércio em geral (hotéis, pousadas, restaurantes, bares, lanchonetes, agências de turismo). O estado do Rio Grande do Norte, sendo um destino turístico, nacional e internacional, vê assim a oportunidade para se promover através da oferta de produtos, espaços e serviços culturais e artísticos. Outra ferramenta importante e nomeada pelos artistas plásticos é a elaboração de um catálogo e sua atualização sistemática. Por último, o mercado literário e o de Artes Plásticas é um mercado pequeno na cidade de Natal. Contudo, as estratégias de divulgação através da utilização das redes sociais e a promoção de pequenos eventos é fundamental quer na Literatura, quer nas Artes Plásticas. Daí que as novas PRÓ-REITORIA DE CULTURA – PROCULT UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI – UFCA 10

tecnologias de informação e comunicação, bem como as redes sociais sejam fundamentais na divulgação das produções dos artistas plásticos e dos escritores. O domínio tecnológico é assim, essencial e um instrumento que importa cada vez mais dominar nos setores culturais e criativos.

Referências Bibliográficas BENDASSOLLI, Pedro F. et al. Indústrias Criativas: definição, limites e possibilidades. In: Revista de Administração de Empresas. Vol. 49, nº. 1. São Paulo: Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S. Paulo. Jan./Mar. 2009. p. 10-18. BOTELHO, Isaura. Criatividade em pauta: alguns elementos em reflexão. In: BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011-2014. 1ª ed. Brasília: Ministério da Cultura. 2011. p. 80-85. BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 2ª ed. Brasília, DF: Ministério da Cultura. 2012 CAIADO, Aurílio Sérgio Costa. Economia Criativa: Economia Criativa na cidade de São Paulo: diagnóstico e potencialidade. São Paulo: FUNDAP. 2011. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Ambiente Criativo: Estudo de caso na cidade de Natal/RN. Natal: UFRN. 2014a. CRUZ, Fernando Manuel Rocha da. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus na cidade de Natal/RN. Linhares, B. F. (orgs). In [Anais do] IV Encontro Internacional de Ciências Sociais: espaços públicos, identidades e diferenças, de 18 a 21 de novembro de 2014. Pelotas, RS: UFPel. 2014b. MIGUEZ, Paulo. Economia criativa: uma discussão preliminar. In Nussbaumer, G. M. (Org.). Teorias & políticas da cultura: visões multidisciplinares. Salvador: EDUFBA. 2007. UNCTAD. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Genebra: Nações Unidas. 2010.

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