As Dimensões Constitutivas do Espaço Público - Uma abordagem pré-teórica par lidar com a teoria
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As Dimensões Constitutivas do Espaço Público Uma abordagem pré-teórica par lidar com a teoria
Adrián Gurza Lavalle*
RESUMO A despeito de o “público” ser uma das categorias das ciências sociais e da filosofia política mais utilizadas nas duas últimas décadas, sua definição é tarefa complexa que enfrenta diversas dificuldades. A diversidade de campos semânticos e problemas disciplinares perpassados por ela, bem como a ambigüidade inerente a suas diferentes expressões conceituais — espaço público, esfera pública, vida pública, publicidade —, tornam especialmente difícil a apreensão dos componentes fundamentais que conferem identidades aos seus múltiplos sentidos. O artigo apresenta um mapa das dimensões constitutivas da configuração do espaço público no mundo moderno a partir de sistematização exaustiva dos usos e mudanças semânticas do vocábulo “público”, no castelhano, ao longo de seis séculos (XIV-XX). Os ganhos cognitivos derivados de tal análise, própria da filosofia da linguagem, permitirão revelar não apenas essas dimensões, mas tendências históricas de longa duração na transformação do espaço público. Graças a essa abordagem, o artigo oferece uma plataforma pré-teórica, quer dizer, com um peso mínimo de pressupostos conceituais, para lidar com as diversas teorias existentes do espaço público. Palavras chave: “público”, “espaço público”, “vida pública” análise lingüística.
ABSTRACT In spite of “Public” be one of the most used categories in the Social Sciences and Political Philosophy for the last two decades, to trace its definition is not an easy task. The diversity of semantic fields and disciplinary problems, as well as the ambiguity inherent to its different conceptual expressions – public space, public sphere, public life, publicity – have made particularly hard the perception of the fundamental components that bound together its multiple meanings. The article draws a map of three basic dimensions underpinning the configuration of the public space in the modern world. The map is outlined through an exhaustive systematization on the uses and semantic changes of the word “public” in Spanish across six centuries (XIV-XX). The *
Professor do Departamento de Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP; Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento CEBRAP.
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
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cognitive benefits of this analysis, typical of ordinary language philosophy, will reveal not only those three dimensions but also long term historic tendencies in the transformation of the public space. Due to the analytical vantages of this linguistic approach, the article offers a pre-theorical plataform, i.e. with minimal conceptual assumptions, for dealing with the diversity of theories of the public space. Key words: “public”, “public space”, “public life”, “linguistic analysis”
1. Introdução “Não dar novos nomes às coisas velhas nem dar nomes velhos às coisas
novas.”
profunda, ciências
Com
essa
idéia
Gaston
Bachelard
humanas.
Contudo,
surpreendente,
gostava em
se
de
porque
definir
tratando
de
o
singela
desafio
certos
e
das
“objetos
difusos”, é difícil que as mais robustas intenções do observador não empalideçam a especificidade daquilo que motiva seu ofício de interrogar.
Há
nomes
velhos
indispensáveis,
a
despeito
da
ambigüidade deixada neles por longa história de alargamentos de seus
sentidos
originais
talvez
apenas
acessíveis
mediante
esmerado esforço de reconstrução filológica ou de “arqueologia” conceitual.1 Esse é o caso da diversidade de campos semânticos e problemas disciplinares perpassados pela categoria “público”, cujo estabelecimento textual definitivo chegara ao pensamento cristão ocidental cristalizado no corpus iuris da Antigüidade clássica. Parece óbvio que a configuração histórica do público e de sua contrapartida, o privado, difere de forma considerável na Grécia e em
Roma
antigas
com
respeito
a
suas
características
modernas;
todavia, a configuração da antigüidade clássica fora estilizada e preservada no legado da filosofia moderna e contemporânea enquanto modelo canônico das feições desejáveis e “autênticas” da política 1
Não é fortuito, diga-se de passagem, que o trabalho de Jürgen Habermas sobre as transformações estruturais da publicidade burguesa tenha sido intitulado, na tradução francesa: L’espace public: Archéologie de la publicité comme dimension constitutive de la société bourgeoise.
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Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
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e do espaço públicos da idônea conciliação entre o privado e o público , e ainda continua a orientar a reflexão de autores contemporâneos de envergadura, como atestado com extraordinária nitidez
pelo
pensamento
normativo
de
Hannah
Arendt.2
Modelos
genéticos não normativos sobre a configuração histórica do espaço público no mundo moderno evitam, por definição, a transposição de elementos
helênicos
ou
latinos
na
sua
caracterização;
porém,
inexistem consensos substantivos quanto aos traços mais relevantes dessa dimensão constitutiva das sociedades modernas o público e às suas tendências evolutivas no longo prazo.3 Amplo
conjunto
globalização,
às
de
fenômenos
políticas
de
associados
ajuste
à
estrutural
chamada
pro-mercado
implantadas pelo mundo fora no último quartel do século XX e, sobretudo,
aos
seus
efeitos
sobre
o
espaço
urbano
e
sobre
os
padrões de intervenção do Estado, tem suscitado enorme atenção em torno
do
público
das
implicações
da
profunda
reconfiguração
histórica em curso. Entrementes, as dificuldades da sua definição conceitual persistem, mesmo a despeito de a literatura voltada para
a
análise
das
transformações
recentes
ter
crescido
vertiginosamente, informando com competência a nossa compreensão dos múltiplos deslocamentos ocorridos na linha divisória entre o público e o privado. Para além dos desafios inerentes a todo esforço de precisão conceitual de grandes categorias, dois ordens de fatores incidem 2
O afamado diagnóstico da filósofa acerca do papel dos interesses materiais como fulcro da política no mundo moderno, emperrando qualquer possibilidade de construção republicana do espaço público como dimensão da vida social onde efetivamente é elaborado o bem comum, fundamenta-se em modelo normativo de ambos da política e do espaço público. Tal modelo provém de uma reconstrução erudita e estilizada da polis grega e da república romana . Trata-se, é claro, do diagnóstico desenvolvido no seu influente trabalho: A condição humana (1958: especialmente 37-82). 3 Entende-se por modelos genéticos não normativos do espaço público os esforços analíticos dedicados à reconstrução da gênese e do espaço público moderno qua produto da modernidade, quer dizer, do alastramento do mercado, da metropolização, da ilustração e suas instituições sociais, da emergência do individualismo e de uma subjetividade ancorada na moral, do nascimento do mercado editorial e da inerente aparição de um público de leitores, bem como da expansão da família nuclear burguesa, para mencionar apenas alguns dos fatores examinados em obras seminais como as de Reinhart Koselleck (1959), Jürgen Habermas (1962), Richard Sennett (1977).
3
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
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decisivamente para tornar especialmente difícil a apreensão dos diversos
conteúdos
dificuldades literatura
não
englobados
apenas
pela
categoria
inibem
a
interlocução
mas,
por
especializada,
certo,
“público”. no
Tais
terreno
tornam
da
indigesto
o
esforço de definição para aqueles que iniciam suas reflexões nesta área ou que mantêm com ela um contato colateral, animado pelos seus próprios objetos de pesquisa. Primeiro, a rigor não existe um campo da teoria do espaço público, pelo menos não no sentido em que
é
possível
se
falar,
por
exemplo,
do
campo
da
teoria
democrática ou das teorias do desenvolvimento. No caso de campos teóricos
densamente
constituídos,
eventuais
vieses
ou
custos
cognitivos decorrentes de se adentrar neles mediante um autor ou abordagem específicos são corrigidos pela multi-referencialidade do
debate,
que
remete
o
leitor
leigo
ou
não
especializado
às
diversas posturas empenhadas na disputa do próprio campo.4 Contudo, no
caso
das
teorias
do
espaço
público,
os
patamares
de
interlocução costumam ser tão restritos que fazem com que outras posturas e constelações completas de problemas sejam ignoradas ou permaneçam ocultas. Segundo, à amplidão e anfibologia da categoria “público” é preciso acrescer os efeitos de desorientação acarretados por uma variegada terminologia de uso corrente, não raro empregada como se delimitasse
fenômenos
distintos:
esfera
pública,
vida
pública,
espaço público, público, e publicidade para mencionar apenas os termos mais utilizados.5 Trata-se, não raro, de ambigüidade gerada não
por
tradução categoria
complexas
questões
privilegiadas da
em
ilustração
analíticas,
diversos alemã:
mas
contextos
pelas para
opções
traduzir
Öffentlichkeit,
isto
de uma é,
4
Utiliza-se a idéia de campo lato sensu, mas em clara sintonia com a sociologia de Pierre Bourdieu (campus), isto é, como estrutura intra-referencial organizada em torno da disputa de alguma modalidade de capital simbólico (Bourdieu, 1984: 135-142) 5 Por exemplo, no francês a opção privilegiada costuma ser “espaço público”, enquanto no inglês estabilizou-se o termo esfera pública. No português e no castelhano as opções de tradução dependem em boa medida da inserção dos tradutores ou editores nos circuitos acadêmicos anglo-saxônico ou galo.
4
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
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publicidade, se vertida ao português conforme seu sentido literal.6 Não é o intuito aqui examinar as vantagens ou “ruídos” associados a cada umas dessas opções, pois a proposta de abordagem a ser desenvolvida
permite
contornar
essa
tarefa;
apenas
cumpre
explicitar que nestas páginas serão utilizados os termos “público” e “espaço público” praticamente como sinônimos, reservando para o primeiro
conotações
especificações
mais
abstratas
históricas
ou
e
gerais,
contextuais
dos
e
para
o segundo
componentes
mais
abstratos.7 Como,
então,
lidar
com
a
compreensão
de
uma
categoria
conceitualmente densa equacionando as dificuldades levantadas? Por outras palavras, como entrar em contato com modelos genéticos da configuração do espaço público no mundo moderno com ciência clara daquilo que tais construtos teóricos excluem ou ocultam, isto é, de seus efeitos modelares sobre a nossa compreensão do público? Trata-se,
para
desenvolver
dizê-lo
uma
em
abordagem
termos
aparentemente
pré-teórica
para
paradoxais,
abrir
um
de
horizonte
cognitivo que permita lidar com a teoria. O papel das abordagens pré-teóricas contemporânea
tem
sido
como
explorado
expediente
e
defendido
eficaz
tanto
na
epistemologia
na
produção
de
conhecimento novo quanto na ampliação das fronteiras dos fenômenos e explicações contemplados pelas teorias.8 A fala e os usos corriqueiros ou cotidianos de determinadas categorias
constituem
fonte
rica
de
indícios
para
precisar
o
núcleo dos sentidos mais duradouros dessas categorias, bem como as 6
A opção “publicidade” é usualmente evitada devido a resemantização desse vocábulo ao longo do século XX, graças à qual perdeu o sentido mais geral de “estatuto das coisas públicas” a forma como se produz seu caráter público e o significado desse caráter , restringindo seu campo de significados ao apelo comercial (Domènech 1981: 22). 7 Análise detalhada dos mal-entendidos gerados por opções de tradução insuficientemente acuradas em relação à categoria Öffentlichkeit foi desenvolvida alhures (Gurza Lavalle 2004). 8 A epistemologia de Hugo Zemelman, preocupada coma apreensão do novo e com a reformulação crítica da teoria tem desenvolvido amplamente os efeitos de ruptura epistemológica produzidos por abordagens pre-teóricas (ver Zemelman, 1987: 53-85; 1993: 183-195; Valencia e Flores, 1987: 148 e ss.). De outras perspectivas analíticas, as potencialidades heurísticas de indagações pre-teóricas, que adiam a tentação de explicar fenômenos conforme cânones conceituais estabelecidos,
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conexões
internas
que
ordenam
suas
diversas
6
acepções
lhes
conferido sua identidade. Esse recurso de caráter fenomenológico, por sinal largamente incorporado pela filosofia da linguagem, será aqui
empregado
“público”.
9
para
analisar
os
significados
do
substantivo
Com maior precisão, nas páginas que se seguem serão
apresentados
os
resultados
de
uma
sistematização
exaustiva
dos
usos de tal substantivo no castelhano, bem como suas mudanças ao longo de sete séculos (XIV-XX).10 Os
ganhos
cognitivos
derivados
de
tal
opção
permitirão
revelar não apenas diferentes dimensões constitutivas do espaço público
no
mundo
moderno,
mas
tendências
históricas
de
longa
duração que subjazem à preponderância histórica secular adquirida por
uma
redes
ou
ou
outra
dimensão.
constelações
de
No
plano heurístico,
sentidos
do
público
as
diferentes
admitem
tradução
coerente para a linguagem teórica da sociologia, da filosofia e sociologia políticas, e da comunicação política. O novo patamar de abstração assim conquistado graças ao “rodeio” pré-teórico, cabe frisar
,
constitui
uma
plataforma
para
lidar
com
os
modelos
genéticos da configuração do espaço público e outras teorizações do público como esforços ou leituras centradas em alguma(s) das dimensões
trazidas
à
tona
pela
análise
lingüística.
Por
esse
caminho, efeitos de exclusão inerentes à estilização teórica e às suas
exigências
de
coerência
e
unicidade
internas
tornam-se
palpáveis. Porém, a realização cuidadosa de todas as operações recémdescritas é trabalho de fôlego que excede os limites deste artigo. também têm sido exploradas por autores como Alfredo Gutierrez Gómez (1996) e Edgar Morin (1994). 9 Do ponto de vista da filosofia da linguagem, conforme aponta Luis Villoro, “A filosofia tem consistido sempre no exame dos conceitos a partir dos seus múltiplos usos na linguagem ordinária. [...] Onde é possível iniciar a busca incessante de clareza e distinções é no riquíssimo mundo do pensamento humano ordinário, quer dizer, tal e como se exprime a linguagem comum. [...] Embora parta dos usos comuns da linguagem, a análise conceitual conduz assim a uma reforma da linguagem.” (Villoro, 1992: 22-23). Para um exemplo extremamente bem sucedido, já clássico até, de filosofia da linguagem no campo da filosofia política, ver a obra de Hanna Pitkin sobre O conceito de representação (1967). 10 A pesquisa original responsável pelos resultados aqui apresentados foi realizada no marco de uma empreitada analítica maior (Gurza Lavalle, 1998), e, por isso, permaneceram até agora à espera de sistematização e análise criteriosa.
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Aqui serão privilegiadas a análise lingüística e a transposição dos seus resultados para uma linguagem sociológica mais abstrata. No que diz respeito às teorizações a aos modelos genéticos do espaço
público,
inerentes capazes
a
de
influente
apenas
sua
análise
orientar
serão
a
aquele
e
salientadas
algumas
introduzidos
leitura
e
desenvolvido
comentários
apropriação pelo
dificuldades
do
filósofo
pontuais
modelo
alemão
mais
Jürgen
Habermas. Não é o propósito destas páginas, portanto, confrontar teorias
com
o
intuito
enriquecido”,
tampouco
insuficiências tarefa
de
assentar
validar
“insanáveis”
reclamaria
outro
de
método
as
as
bases
qualidades
propostas de
para
um
ou
demonstrar
teóricas.;
análise.
O
“modelo
semelhante
objetivo
é
mais
modesto, a saber, evidenciar a pertinência de se pensar no espaço público de modo historizado e a partir de abordagem mais flexível, que permita contemplar diferentes dimensões problemáticas sem a exigência de reconduzi-las à unidade analítica de um modelo.
2. As vozes do “público” e do “privado” Não espaço
é
recurso
público
a
raro partir
iniciar da
a
especificação
ambigüidade
de
conceitual
seus
do
significados
presentes na fala cotidiana, ilustrando assim seu caráter complexo ou
multidimensional
representação acesso
de
de
os diversos
interesses
irrestrito
processos
e ou
aberto
comunicação
problemas
gerais; a
nele
controle
instâncias,
socialmente
envolvidos
social lugares
relevantes;
do e
poder; fluxos;
determinação
democrática de fins coletivos; criação e expansão de direitos; institucionalização de benefícios; organização da sociedade por vias
endógenas;
para
listar
apenas
alguns
dos
problemas
mais
recorrentes na literatura dos últimos anos.11
11
Para abordagens que lançam mão da ambigüidade semântica com o propósito de problematizar a configuração do espaço público, ver os trabalhos de Graciela Soriano de García-Pelayo (1996: 27-62), Nora Rabotnikof (1995: 1-12) Geoges Duby (1991: 19 e ss).
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8
A constelação de substantivos e adjetivações associados ao campo
semântico
da
categoria
em
lingüísticos contrastantes e até castelhano
do
século
XVIII,
os
questão
é
pródiga
em
usos
francamente contraditórios: no vocábulos
publicana
e
publique
conotavam a mulher e a casa públicas, a prostituta e o bordel, enquanto à mesma época as public houses (pubs) do inglês remetiam a
lugares
de
encontro
e
convivência
pública,
portadores
da
dignidade de uma nascente sociabilidade em público própria das camadas
de
pequenos
proprietários.12
livres
No
latim,
público
significava simultaneamente tornar propriedade pública, confiscar, e deitar a perder ou motivar a ruína de algo.13 Os exemplos de sentidos
conflitantes
facilidade,
ser
particularmente
possibilidades pública,
podem
fé
do
adjetivo
pública
se
multiplicados considerada
“público”:
e clamor
público,
a
com
extrema
miríade
homem
público
força
pública
e e
de
mulher opinião
pública, por exemplo, são expressões em que o qualificativo não reenvia a uma fonte única de significação. A vantagem desses “rodeios lingüísticos”, que lançam mão da polissemia como instância de indagação empírica, é trazer à tona de
forma
imediata
uma
multiplicidade
de
elementos
sem
unidade
interna obvia para além do plano meramente nominal. Isto levanta como problema iniludível a própria concreção do conceito, ou seja, a difícil conexão de seus determinantes constitutivos. Por outras palavras, o estranhamento gerado por uma análise interessada em incorporar
a
polissemia
em
vez
de
eliminá-la
,
suscita
interrogações acerca do núcleo ou fulcro que organiza o sentido compartilhado pelas acepções de um termo, mesmo se esse sentido é reposto por um processo de diversificação semântica aparentemente irreconciliável.
12
Trata-se, para dizê-lo com Habermas (1962: 53-64), da emergência do espaço público burguês ou publicidade burguesa , povoado por livres proprietários. Para o registro histórico de vocábulos “publicana” e “publique” ver Alonso Martín (1988: 3433-3434). 13 Conforme o dicionário de E. A. Andrews, Charlton T. Lewis, et. al. (1907: 1485).
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Mediante
analise
paciente
é
possível
mostrar
9
conexões
internas entre diferentes acepções e usos do vocábulo em questão, neste caso o substantivo “público”, de modo a alinhavar redes ou constelações semânticas que revelam os lindes de suas diferentes dimensões
constitutivas.
Do
ponto
de
vista
da
elaboração
de
teoria, as dimensões desvendadas no terreno dos usos lingüísticos sugerem
tanto
distinções
analíticas
pertinentes
quanto
inter-
relações existentes no interior de tais distinções. O estudo dos usos registrados para o vocábulo “público” e suas derivações no castelhano, desde sua aparição no século XIV até a segunda metade do
século
XX,
assinala
de
forma
indireta
a
presença
dessas
dimensões e revela interessante deslocamento semântico a longo do percurso secular aqui contemplado.14 Durante essas sete centúrias entraram
em
circulação
e
extinguiram-se
distintas
acepções
de
“público”, todas elas vinculadas a três campos de significação geral, cujo sentido é definido por oposição a igual número de sentidos do termo “privado”. Em se tratando de termo dicotômico por excelência, a precisão cabal do seu sentido apenas se torna possível
quando
a
oposição
com
o
“privado”
lhe
define
as
fronteiras. Assim, cada uma das três dimensões do “público” se encontra em
tensão
com
constelações
paralelas
de
sentidos
no
mundo
do
“privado”: público versus privacidade, intimidade ou sociabilidade primária; público versus propriedade ou interesse particular; e público
versus
não
difundido,
de
conhecimento
particular
ou
restrito. À idéia do “público” pertencem, em contrapartida, três sentidos opostos: privado versus vida pública, com suas conotações de
convívio
social
e
de
acesso
aberto
ou
irrestrito;
privado
versus vida política, associada a decisões vinculantes, a cursos de ação obrigatórios sobre problemas da comunidade e, em geral, ao interesse público; e privado versus publicitado ou exposto à luz pública.
Cada
oposição
semântica
engloba
um
conjunto
maior
de
14
Aqui serão apresentados apenas os resultados finais da análise. Omitem-se quaisquer considerações acerca do vagaroso processo de tentativa e erro para a
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acepções,
ora
substantivos,
na
forma
gramatical
incluindo
todos
os
de
usos
adjetivos
ora
registrados
da
10
na
de
palavra
“público” nesses sete séculos. Nesse sentido, não há sequer um único uso extinto o atual do “público”, tal e como registrado no Real
Dicionário
da
Academia
Espanhola
ou
em
outras
obras
especializadas, que escape dessas tensões.15 O
Quadro
1
correspondente explicitação
sistematiza
definição
da
tensão
do
as
três
“publico”
existente
entre
dimensões e
a
do
ambos,
partir
“privado”, das
da da
dicotomias
associadas a tal tensão, de exemplos históricos de deslocamentos semânticos e usos hoje extintos, bem como de usos contemporâneos do adjetivo qualificativo “público” inscritos em cada dimensão. Na primeira dimensão, à noção de “privado” correspondem os registros
semânticos
da
privacidade,
daquilo
que
por
ser
considerado próprio da intimidade exclui qualquer direito externo de intervir ou participar, inclusive no caso do poder público. Por exemplo:
opções
sexuais
ou
escolhas
no
mundo
dos
afetos
correspondem, atualmente, ao foro da subjetividade ou à suserania do indivíduo. No século XIX, na França, ainda se utilizava a noção de “privado” no sentido de privar (priver), de retirar do mundo, de
domesticar
ou
levar para
o domínio
doméstico:
falava-se
em
“pássaro privado”. Assim, “público” emerge aqui sob a roupagem da vida pública, com suas conotações de convívio social e de acesso aberto ou irrestrito e, conseqüentemente, de âmbito propício para a multiplicação de lugares pecaminosos. “Mulher pública”, “casa pública”, “telefone público”, dentre outros, são usos do adjetivo “público”
que
frisam
o
caráter
extradoméstico
dos
objetos
qualificados. Há dicotomias arquetípicas na nossa compreensão do mundo organizadas por essa primeira tensão, entre elas, casa vs. rua, família vs. mundo, moral vs direito.
construção das redes semânticas que organizam as conotações do substantivo “público”. 15 Para os dicionários especializados e obras de consulta utilizadas ver as notas do Quadro 1 e do Quadro 2.
10
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
11
Quadro 1. Três Dimensões Constitutivas do Espaço Público - Análise Semântica *
I PÚBLICO: Aquilo que é aberto irrestrito: sem restrições excludentes de entrada ou circulação, acessível.
II PÚBLICO: Aquilo que é comum, geral e de interesse de todos: excluído das possibilidades de apropriação privada.
III PÚBLICO: Aquilo que é amplamente difundido e aquele para quem é divulgado ou que assiste um evento ou espetáculo.
Próprio de Termos como: parque público, via pública, transporte público, telefone público, mulher pública, casa pública.
Próprio de Termos como: bem público, propriedade pública, poder público, orçamento público, educação pública
Próprio de Termos como: publicar, publicidade, publicitar, opinião pública, conhecimento público, em público, público (espectador)
PRIVADO: Aquilo que por ser considerado próprio da intimidade exclui qualquer direito externo de intervir ou participar.
PRIVADO: Aquilo que por ser considerado propriedade privada pressupõe direito de uso e abuso
PRIVADO: Aquilo que não atinge notoriedade pública, permanecendo no conhecimento de um número limitado de particulares. Associa, Organiza Dicotomias como: local x geral, opinião particular x opinião pública, irrelevante x relevante, "irreal" x verosimilhante, ignorado x notório TENSÃO: Espaço público como oposto ao mundo das particularidades: Público x Individual Privado (particularidades) Exemplo: "la cour e la ville" (francês s. XVII): audiência das obras de teatro (le public aparece em meados do s. XVII).
Associa, Organiza Dicotomias como: Particular x Geral, Interesse x razão, economia x política, opaco x transparente, desigualdade x igualdade, mercado x Estado TENSÃO: TENSÃO: Espaço público como oposto ao mundo Espaço público como oposto ao mundo da propriedade: Público x Privado da privacidade: Público x Íntimo Capital (propriedade) Privado (privacidade) Exemplo: Exemplo: "Priver" (francês s. XIX): domesticar, Private (francês s. XVI): privilegiado, de alto nível de governo. amansar, amenstrar. V.gr. "pássaro privado" (não existe mais)
Associa, Organiza Dicotomias como: Casa x Rua, Conhecido x Estradnho, Fechado x Aberto, Família x Mundo, Segurança x Perigo, Moral x Direito
Real Academia Espanhola: 1ª e 2ª acepções: "notório"; "vulgar ou notado por todos".
Real Academia Espanhola: 3ª, 4ª e 9ª acepções: "potestade, jurisdição de autoridade para fazer uma coisa"; "pertencente a todo o povo"; "comum do povo ou cidade".
Real Academia Espanhola: 10ª e 11ª acepções: "conjunto de pessoas aficionadas que partilham a mesma afeição", "pessoas reunidas para assistir um espetáculo".
* Fontes: Alonso Martin. Ciencias del lenguaje y arte del estilo. España, Aguilar 1979. Alonso Martin. Diccionario del español moderno . España, Aguilar 1978. Alonso Martin. Enciclopedia del idioma - Dicionario histórico moderno del la lengua española (sglos XII al XX), etimológico, tecnológico e hispanoamericano. México Aguilar 1988. Casares Julio. Diccionario ideologico de la lengua española. España, Gustavo Gili 1981. Molier Maria. Diccionario del uso del español. España, Gredols 1986 Real Academia Española. Diccionario de la Real Academia Española. España 1992.
Na segunda dimensão, o “privado” aparece sob o registro da propriedade, mas não daquela carregada sentimentalmente de valores pela sua presença biográfica na vida das pessoas arraigada no mundo privado da intimidade , senão daquela engendrada como motor
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12
da riqueza no seio do mundo moderno.16 Com uma percepção do mundo instalada em sociedades de mercado é difícil imaginar o quanto no mundo
moderno
impregnados semântico
os
com da
sentidos os
do
valores
categoria
e,
“privado”
do
foram
capital,
redefinidos
diminuindo
plausivelmente,
a
o
e
campo
diversidade
das
modalidades sociais do privado, confrontando-as ao mundo do poder público.
Ainda
privilegiado,
no
século
de
alto
XVI,
nível
na do
França,
private
governo.
Em
significava
contraposição,
“público” remete àquilo que por ser de interesse de todos, geral ou
comum
deve
ser
excluído
das
possibilidades
da
apropriação
privada. Resguardar bens materiais e imateriais dos usos e abusos de
apropriações
guiadas
institucionalização capacidade portanto,
de ao
política
forçar Estado
pela
a e
de
lógica regras
obediência. ao
direito.
No
do
lucro
e,
se
mundo
Dicotomias
remete
à
necessário,
à
moderno
remete,
fundamentais
que
estruturam a concepção moderna da política estão associadas a essa tensão: particular vs. geral, mercado vs. Estado, desigualdade vs. igualdade, interesse vs. razão, secreto vs. manifesto. Na medida em que
“público” coincide com “geral”, “Estado”, “igualdade”,
“razão” e “manifesto”, transfere esses sentidos quando aplicado como adjetivo: o poder e o orçamento são públicos, por exemplo, não apenas porque residem ou são exercidos no âmbito do Estado, mas também porque devem responder a uma racionalidade geral, cujos critérios devem ser manifestos para a população. Por fim, na terceira dimensão à noção de “privado” subjaz um sentido mais restrito e recente: aquilo que não atinge notoriedade pública
e
permanece
sob
o
conhecimento
de
número
limitado
de
16
A doutrina social da igreja, atualizada em registro conservador pela encíclica Centesimus annus, de João Paulo II (1991), deu o nome de “antropológica” à primeira forma de propriedade; isto é, decorrente da afirmação do homem, da necessidade humana de se apropriar do mundo para transformá-lo. Tal formulação, é claro, mantém como ano de fundo a refutação da crítica marxista à propriedade. Contudo, em Marx a crítica visa a propriedade burguesa, isto é, a modalidade de propriedade privada característica da segunda dimensão analisada acima: “O traço distintivo do comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa [...] A propriedade bem adquirida, fruto do trabalho, do esforço pessoal! Essa forma de propriedade que precede a propriedade burguesa? Não temos que aboli-la: o progresso da industria tem-na abolido e está a aboli-la todo dia”. (Marx, 1848: 74-75).
12
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
13
pessoas ou particulares. “Público”, de modo inverso, se refere a um só tempo a assuntos amplamente difundidos e ao receptor dessa difusão, quer dizer, à platéia, expectadores ou ouvintes de uma mensagem.
Conforme
será
visto,
a
rede
semântica
do
“público”
associada a fenômenos comunicativos é bastante recente, e, quiçá por isso, inexistem dicotomias historicamente cristalizadas que condensem as clivagens entre “público” e “privado” características desta dimensão. A denominação da platéia como público só começou a circular de maneira incipiente, na França, em meados do século XVII;
até
antão,
no
teatro
relativamente
desenclausurados
reais
sociedade
e
da
onde em
os
espetáculos
relação
cortesã,
os
aos
aconteciam
pequenos
expectadores
palcos
recebiam
o
sintomático nome de “la cour et la ville”. De fato, termos como “publicar”, “publicidade”, “publicitar”, “conhecimento público” ou “opinião pública”, por exemplo, carecem de antônimos claros. Sem dúvida,
também
neste
caso
o
espaço
público
guarda
relação
de
oposição com o mundo das particularidades; no entanto, o primeiro consiste em um âmbito de notoriedade ampla, enquanto o segundo ultrapassa os limites da esfera doméstica embora sem adquirir relevância pública. Sem tempo,
algumas
constituírem dicotomias decantadas pelo
oposições
permitem
ilustrar
essa
divisão
entre
“público” e “privado”: local vs. geral, opinião particular vs. opinião pública, ignorado vs. notório. A
disposição
constelações
ou
dos
redes
significados semânticas
múltiplos
passíveis
de
do
“público”
serem
em
elaboradas
como dimensões constitutivas do espaço público revela, bem vistas as coisas, muito mais do que uma simples agrupação tipológica. Com efeito, tal disposição dista de ser gratuita ou de espelhar apenas os critérios da formalização pré-teórica aqui ensejada. A evolução das
línguas
obedece
em
boa
medida
a
dinâmicas
estruturais
internas, mas isso, é claro, não ocorre dentro de uma autonomia absoluta
ou
tentativas
cindida
de
constantes
processos de
nomear
históricos o
novo
que no
animam mundo
tanto quanto
13
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
14
alargamentos e contrações vagarosos dos nomes disponíveis para a enunciação do próprio mundo. É
notável
constatar
que,
efetivamente,
os
três
sentidos
gerais de “público” emergiram e foram adquirindo seus significados em períodos históricos diferentes, sugerindo eventuais mudanças de ênfase na definição daquilo que tem sido considerado socialmente como público. O Quadro 2 sumariza os achados a esse respeito para as três dimensões semânticas do “público”: em cada caso arrolam-se as acepções mais características e indica-se tanto o século do seu surgimento, e a vigência secular do seu uso, quanto o momento da sua extinção, caso tenham desaparecido na prática da língua viva. O
trabalho
viável
de
datar
esboçar,
as
grosso
dimensões modo,
semânticas
linhas
de
encontradas
evolução
ou
torna
grandes
transformações na configuração do espaço público. A maioria dos usos de “público” com o significado daquilo que acontece fora do âmbito doméstico ou, no limite, da sociabilidade primária, entraram em circulação entre os séculos XIV e XVII. A antiguidade fatos:
é
a
dessa
dimensão
única
a
é
atestada
registrar
convincentemente
vocábulos
e
por
circulação
dos
já
no
trezentos (S. XIV) e também a possuir conotações e até vocábulos extintos por exemplo, “publicamente” como sinônimo de má vida pública,
“publique”
como
prostíbulo
ou
“publicana”
como
prostituta. Por sua vez, “público” referido ao interesse geral ou ao bem comum garantido por autoridade passou a ser utilizado de forma corrente
desde o
século
centúria
depois,
durante
XVI, o
ganhando
seiscentos.
todas Isto
suas é,
acepções
uma
exatamente
nos
séculos da pacificação e unificação da política realizadas sob a égide do absolutismo. Todas as acepções do público inscritas nessa dimensão continuam em plena vigência. Já os sentidos de “público” como aquilo que é amplamente difundido começaram a vigorar só no século XVIII; não de maneira fortuita
o
século
das luzes
por
excelência.
Nesse
sentido
não
surpreende a consonância com amplo consenso na literatura acerca
14
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
15
da origem setecentista do fenômeno do público como platéia ou como destinatário da produção artística sobretudo daquela de caráter literário, cujo desenvolvimento acompanhou o auge do romance e do folhetim.17 No caso dessa dimensão, é sem dúvida mais relevante o fato de ser a único a incorporar novas dicções à língua durante o século
XX
atestando
o
determinação
por
exemplo,
vertiginoso do
que
“publicable”
crescimento
socialmente
é
da
ou
,
“publicitario”
mídia
e
entendido
seu
nas
peso
na
sociedades
contemporâneas como público.
Quadro 2. Evolução das Dimensões do Espaço Público - Séculos XIV a XX *
Tensão I Público x Privacidade Público: notório ou manifesto Publicamente: de forma ou maneira pública Publicamente: má vida pública Publicidade: lugar ocorrido Ibid.: sem ressalvas para algo se tornar conhecido Publicana (prostituta) Publique (bordel) Tensão II Público x Propriedade Publicação: promulgar uma lei por autoridade Público: potestade de autoridade Público: potestativo Público: comum ao povo ou cidade Público: de interesses gerais Público: que pertence ao povo Publicidade: que tem estatuto público Tensão III Público x Particularidade Público: audiência ou assistentes Publicar: editar, difundir, divulgar Publicar: manifestar em público Publicidade: meios para divulgar ao público Publicável (que pode ser difundido) Publicitário (referente à publicidade) Publi-reportagem (documentário jornalístico)
XIV x x x
XV x x
XVI x x
SÉCULOS XVII XVIII x x x x x x
XIV
XV x
XIV
XV
x x x x
SÉCULOS XVII XVIII x x x x x x x x x x SÉCULOS XVI XVII XVIII x x x x XVI x x x
XIX x x
x x XIX x x x x x x x
XX x x x x x x x
XIX x x x x
XX x x x x x x x
* Fontes: Alonso Martin. Ciencias del lenguaje y arte del estilo . España, Aguilar 1979. Alonso Martin. Diccionario del español moderno . España, Aguilar 1978. Alonso Martin. Enciclopedia del idioma - Dicionario histórico moderno del la lengua española (sglos XII al XX), etimológico, tecnológico e hispanoamericano . México Aguilar 1988. Casares Julio. Diccionario ideologico de la lengua española. España, Gustavo Gili 1981. Molier Maria. Diccionario del uso del español. España , Gredols 1986
17
XX x x
Ver a esse respeito, por exemplo, as formulações de Georges Duby (1991: 19-
15
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
À
medida
que
os
três
campos
semânticos
16
recém-expostos
continuam a vigorar, a despeito do revezamento de ênfases em cada sentido ao longo desses séculos todos, os resultados da exploração lingüística
também
apontam
para a
pertinência
de
se
pensar
no
espaço público a partir da confluência de diferentes dimensões a englobarem: (i) o social, consubstanciado nas instituições civis da vida pública, na “arte da associação” ou sociedade civil, nas regras de civilidade que tornam possível o convívio social em um mundo
de
estranhos
cristalizado
no
as
arcabouço
grandes de
;
urbes
instituições
(ii)
o
incumbidas
político, tanto
de
processar decisões vinculantes quanto de implantá-las e respaldálas mediante imposição de penas caso seja necessário;
e (iii) o
comunicativo, entendido não apenas como expressão e recepção de conteúdos,
mas
principalmente
como
construção
de
consensos
e
Dissensos na percepção social do mundo. “O social” transpõe para o campo dos conceitos sociológicos tudo
aquilo
semântica,
que,
nas
opus
páginas
o
privacidade/intimidade.
“O
precedentes
público
ao
político”
verte
e
no
terreno
privado para
a
da
enquanto
sociologia
e
filosofia políticas a tensão entre o público e o privado como propriedade privada, ou como afirmação de interesses particulares com conseqüências mediatas que transbordam o âmbito do particular e escalam para o geral, atingindo a sociedade como um todo. “O comunicativo” diz respeito aos conteúdos expressos, construídos e modificados nas interações sociais, graças às quais as pessoas elaboram suas percepções do mundo e sua atuação nele; no entanto, “o
comunicativo”
penetra
no
registro
analítico
da
comunicação
política assim que focado, nas sociedades contemporâneas, o papel cada
vez
mais
instituições
relevante
políticas
e
da a
intermediação sociedade
entre
o
realizada
mundo
pelos
das meios
21), Richard Sennett (1977: 26-9) e Jürgen Habermas (1962: 53-64).
16
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
17
massivos de comunicação.18 As relações entre as dimensões social, política
e
comunicativa
do
espaço
público
serão
abordadas
nos
comentários finais. Embora por outros caminhos e em trabalhos desenvolvidos com óticas diferentes, autoras como Nora Rabotnikof e Graciela Soriano de
García-Pelayo
“público”
para
também
lançaram
organizar
suas
mão
da
polissemia
análises
e,
da
palavra
coincidentemente,
propuseram abordagens tridimensionais do espaço público em termos bastante
compatíveis
com
os
resultados
expostos.
Rabotnikof
distingue três sentidos associados a “público”, a partir dos quais interroga as grandes abordagens do espaço público: o comum e geral versus o privado como particular; o manifesto e ostensível versus o
privado
clausurado. categorias
como 19
Por
secreto; sua
vez,
“público”
multidimensional, individual/coletivo,
e
e
o
acessível
Soriano
(1996:
“privado”
expressa
nas
e
aberto 27-62)
de
uma
tensões
pessoal/social.
Em
versus explora
o as
perspectiva
comum/particular,
registros
diferentes
e
apenas parcialmente sobrepostos, nas tríades examinadas por ambas as
autoras
comparecem
de
novo
as
dimensões
política,
social
e
comunicativa associadas à configuração do espaço público: o comum e geral, no primeiro caso; o aberto, acessível e coletivo, no segundo; e o manifesto e ostensível, no terceiro.
3. Dissensos, teorias e dimensões do espaço público Utilizar-se de um modelo teórico implica riscos, precisamente aqueles contornados pelas abordagens “fenomenológicas” por assim dizer , que lançam mão da polissemia do termo “público” tal como aparece na fala, evitando assim a aceitação a priori de qualquer 18
Balanços acerca da evolução e estado do campo de estudos da comunicação política podem ser consultados nas obreas organizadoas por Gilles Gauthier, André Gosselin e Jean Mouchon (1995), e Jean-Marc Ferry, Dominique Wolton, et al (1989) 19 A entrevista concedida por Nora Rabotnikof (1996: 30-35) a Antonella Attili apresenta especificação particularmente clara dos sentidos do “público” trabalhados pela filósofa, embora a abordagem tenha sido desenvolvida com maior detalhe no seu trabalho mais relevante acerca da configuração do público no mundo moderno (Rabotnikof, 1995: 1-23).
17
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
18
unidade já organizada e resolvida no campo das teorias do espaço público. A análise até aqui desenvolvida visa mostrar, assim, a plausibilidade de se pensar o espaço público em termos de uma configuração princípios grandes
multidimensional, de
unificação
modelos.
admite-se
aqui
Diga-se
tanto
seu
evitando-se
demasiado de
de
ônus
depurados,
passagem,
caráter
o
ao
se
de
inerentes
falar
constructo
assumir aos
em modelos,
estilizado,
de
abstração modelada com o intuito de aferir aspectos primordiais de determinado fenômeno, quanto seu papel exemplar, de “molde” a ser reproduzido para equacionar problemas. Há diversas contribuições de valia quanto à conceituação do espaço público moderno, embora nem todas desempenham uma função modelar no debate contemporâneo; sua listagem teria de contemplar nomes como Carl Schmitt, Niklas Luhmann, Norberto Bobbio, Claude Lefort,
John
Richard
Sennett,
leitura
e
Keane,
Manuel
Hannah
Arendt
interpretação
dificuldades.
Na
sua
García-Pelayo, e
desses
obra
não
Jürgen
Reinhart
Habermas.
autores apenas
é
Koselleck, Conciliar
tarefa
existe
um
a
plena
de
nível
de
complexidade inerente à conceituação de toda categoria fundamental na tradição da filosofia e do pensamento políticos de ocidente, mas sequer os contornos mais gerais pressupostos na denominação “espaço público moderno” são isentos de controvérsia. Por exemplo, em seu célebre trabalho acerca das condições estruturais que fizeram possível e emergência do espaço público burguês,
Habermas
(1962:
88-93)
aponta
sistematicamente
para
o
potencial democrático e de racionalização do poder nele presentes. Em leitura diametralmente oposta, Koselleck (1957: 88-110) firma a hipocrisia
e
não
as
energias
democratizadoras
como
verdadeiro
atributo a impregnar essa dimensão burguesa da vida social. Para Arendt
(1958:
31-36,
59-67),
o
espaço
público
é
instância
da
realização plena da condição humana mediante uma das atividades fundamentais
da
vita
activa:
a
ação,
isto
é,
a
liberdade,
a
dignidade da política, a luta dos homens contra a mortalidade e contra o esquecimento, a relação desinteressada entre eles e sem mediação do mundano ou das necessidades vitais. Porém, essa bela 18
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
19
configuração do espaço público, oriunda da antigüidade clássica, foi destruída pelo mundo moderno; por isso, sequer cabe cogitar na existência do espaço público nas sociedades contemporâneas, a não ser como negação do espaço público genuíno. Tudo isso sem esquecer as tendências históricas seculares responsáveis pela entronização da “tirania da intimidade” como desvendada no belíssimo trabalho de Richard Sennett , cuja ação corrosiva no esvaziamento da vida pública
atuaria,
desprezível
da
precisamente,
literatura
no
momento
identifica
a
em
que
parte
consolidação
do
nada
próprio
espaço público moderno (Sennett, 1976: 189-242). A despeito das dificuldades arroladas, as três dimensões do espaço
público
examinadas
fornecem
coordenadas
gerais
para
a
localização dos problemas passíveis de serem pensados a partir dos diferentes
modelos
teóricos,
ou,
em
sentido
inverso,
para
a
identificação dos seus custos cognitivos ou exclusões tácitas. Por motivos de espaço, apenas receberá tratamento breve um autor que permitem ilustrar a relação entre dimensões e modelos do espaço público.20 Habermas é de longe o autor mais influente nesse campo. Sua
obra
centrado
transitou na
moderno
dimensão todavia,
,
dimensões
de
para
um
social com
uma
diagnóstico da
relações proposta
histórico-sociológico
emergência nítidas
do com
filosófica
espaço as
público
outras
centrada
de
dois modo
extremamente abstrato nas capacidades comunicativas resguardadas apenas no mundo do social. No trabalho clássico acerca das transformações estruturais da publicidade histórica
ou
espaço
subjacente
público à
burguês,
construção
a
complexa
causalidade
espaço
encontra-se
desse
geneticamente articulada à aparição histórica do social; isto é, segue
a
trilha
mercado,
do
material
e
do
paulatino
crescimento simbólica
da
das
fortalecimento grandes
família
da
metrópoles,
burguesa,
do
sociedade da
de
afirmação
surgimento
do
20
Analise de outros modelos genéticos do espaço público Koselleck, Arendt e Sennett , e de algumas teorizações contemporâneas como a de Luhmann o a aquelas desenvolvidas na vertente da comunicação política, pode ser consultada nos trabalhos de Rabotnikof (1995) e Gurza Lavalle (2001).
19
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
20
interesse privado como pretensão racional e legítima, sem esquecer o amadurecimento
da subjetividade moderna afiançada na moral em
sua relação com o mundo (Habermas, 1962: 53-64,80-88).21 Quando focado com menor distância, o espaço público obedece ao incipiente desenvolvimento da vida pública moderna; isto é, à configuração de uma esfera institucional de interação no interior das camadas de livres proprietários e entre elas e o poder. Cafés, casa de chá, pubs,
lugares
inovações
públicos
sociais
institucional.
para
comensais,
fantásticas
Nela
que
entre
outras,
integraram
multiplicaram-se
reclamos
foram
essa e
as
esfera
iniciativas
voltados para o poder e desenvolveu-se aquilo que hoje é conhecido como opinião pública (Habermas, 1962: 94-108, 124-135). Assim, em primeira instância a interpretação habermasiana da gênese
do
espaço
público
está
centrada
na
dimensão
social
do
mesmo, ou seja, na autonomia das novas camadas sociais de pequenos proprietários perante o poder e na sua capacidade de incidir nas decisões
do
poder
mediante
a
projeção
dos
seus
reclamos,
se
utilizando, para tanto, dos pequenos jornais de opinião jornais, aliás,
propriedade
dessas
camadas.
Na
medida
em
que
a opinião
publica da pequena burguesia visava atingir o poder imprimindo e veiculando publicamente suas idéias, o modelo original do filósofo alemão contempla as dimensões comunicativa e política do espaço público, embora o faça de modo secundário. No primeiro caso, os jornais
difundem
consensos
decantados
mediante
uma
cultura
do
diálogo sediada nas novas instituições sociais cafés, cassa de chá, etc. , mas o elemento dialógico, e não os jornais em si, é que merece dignidade teórica no modelo de Habermas.22 No segundo, o 21
Note-se que o conjunto de tendências enunciadas diz respeito à emergência do social, pelo que outras grandes transformações em curso não aparecem no elenco notadamente, a centralização do poder político, a emergência de instituições políticas modernas e a consolidação do Estado aspectos, aliás, nevrálgicos na perspectiva de Koselleck. O surgimento do social também gerou transformações no âmbito privado-doméstico, agora simbolizado pela lógica da intimidade. Para as mudanças que redefiniram a geografia do público e do privado no plano da intimidade e da moralidade, analisadas a partir de um de seus componentes mais clausurados o corpo , ver o trabalho de Emanuele Amodio (1996: 169-201). 22 A esse respeito ver, por exemplo, a crítica de Thompson (1995: 109-121) ao papel dos meios de comunicação no modelo hebermasiano do espaço público.
20
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
21
Estado comparece como alvo permeável às exigências da sociedade civil burguesa. A presença secundária do político e do papel dos meios de comunicação
na
dimensão
comunicativa
do
espaço
público
foi
preservada e, por vezes, acentuada na trajetória intelectual do autor.23 Embora os trabalhos posteriores à guinada do começo dos anos
1980
tenham
promovido
a
redefinição como
termos puramente comunicativos
do
espaço
público
em
fluxos comunicativos ,
trata-se ainda de interações reais instaladas no mundo do social e não de processos de intermediação massiva comandados pela mídia. Se o diálogo face a face e a construção e veiculação impressa de consensos
coincidiram
(burguesa),
hoje,
o
quando
do
componente
nascimento
da
opinião
pública
comunicativo
na
configuração
do
espaço público é essencialmente midiático, tal e como mostrado pela análise histórica das dimensões semânticas. Em Habermas, a leitura do político e do comunicativo opera numa chave totalmente ancorada avançar
no na
social.
Nesse
compreensão
do
sentido, papel
da
análises mídia
ou
interessadas das
em
instituições
políticas na configuração histórica do espaço público, enfrentarão custos cognitivos demasiado altos na eventual adoção do modelo habermasiano.
4. À Guisa de Conclusão Cabe
agora
fixar,
à
guisa
de
conclusão,
os
contornos
sociológicos das dimensões constitutivas do espaço público. Optouse pelo o termo “dimensão” porque preserva vínculos analógicos com a idéia do espaço público e, sobretudo, porque simultaneamente 23
Na sua afamada teoria da ação comunicativa, em dois volumes, o autor dedica apenas algumas considerações marginais ao papel da mídia (Habermas, 1982: 551554). No que diz respeito à dimensão do político, ela só foi resgatada propriamente em 1992, quando da aplicação da sua teoria discursiva ao Estado de direito (Facticidade e validade). Para uma análise da evolução categorial do espaço público ao longo de três décadas (1962-1992) no programa de pesquisa do autor, ver Gurza Lavalle (2004); para uma análise mais abrangente do próprio programa de pesquisa nesse periodo, ver Gurza Lavalle (1997). Os custos de tal percurso em termos da perda de capacidade crítica foram frisados por John Keane (1984: 214, 228-34) e por Antoni Domènech (1981: 26).
21
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
22
remete
por
ao
nível
relações,
mais
indicando
abstrato
sempre
de
um
algumas
fenômeno
variáveis
construído mínimas
para
a
determinação desse fenômeno. Nesse sentido, embora seja possível qualificar como públicos fenômenos inscritos em cada uma das três dimensões
por
conteúdo
,
exemplo,
apenas
a
a
transmissão
conjugação
televisiva
de
todas
de qualquer
elas
constitui
propriamente um fenômeno público no sentido categorial do termo. A transmissão midiática de conteúdos, para retomar o mesmo exemplo, é mera publicitação enquanto não conecta o social e o político. A
dimensão
societário
da
do
vida
pública,
espaço
ou
público,
o
componente
contempla
o
social
estágio
ou de
desenvolvimento e a especificidade do que, nem sempre de forma feliz, tem-se convencionado chamar de sociedade civil. A intenção analítica
no
uso
desse
conceito
remete
à
densidade
do
tecido
associativo urdido livre e autonomamente por indivíduos e atores sociais , à sociabilidade e a civilidade no convívio social, cujos
efeitos
operam
como
força
capaz
de
incidir
no
controle
daquelas áreas de proveito recíproco e convivência que geraram vínculo
de
associação
ou
de
sociabilidade.
A
infindável
diversidade de níveis e assuntos que constituem a ordem pública de uma
sociedade
reconhecimento
pressupõe político
de
processos
de
interesses,
institucionalização
e
nesse
sentido
e
reflete
como ausência ou como presença o peso da sociedade ou, com maior precisão e em termos sociológicos, da densidade societária. A
dimensão
institucionais
política
para
obrigatoriedade
contempla
universalizar
dessa
o
arcabouço
interesses
universalização
e
perante
de
mecanismos
para o
garantir conjunto
a da
sociedade. Isso equivale a focalizar, na compreensão do espaço público,
os
processos
políticos
de
conquista
de
direitos
e
benefícios mediante sua cristalização no seio do Estado por antonomásia
o
âmbito
moderno
de
reconhecimento
e
imposição
universal de obrigações , dando cabimento à pergunta pelo arranjo de
interesses
de
longo
prazo
que
define
o
perfil
político
do
22
Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
próprio
Estado
e
que
configura
de
modo
23
substantivo
as
possibilidades do espaço público. Por
fim,
comunicativos
a
terceira
competentes
dimensão
para
abarca
determinar
os
uma
processos
realidade
como
pública; isto é, a comunicação no conjunto da sociedade habilitada para organizar o mundo através da divisão entre aquilo que não deixa de ser particular, mesmo se coletivo, e aquilo que “merece” sair
do
anonimato
ou
do
conhecimento
de
grupos
mais
ou
menos
reduzidos para se tornar público. Parece desnecessário insistir no evidente:
há
sistemas
de
comunicação
política
cuja
crescente
importância é uma tendência em contínua expansão nas sociedades contemporâneas. No espaço público articulam-se interesses sociais, condições de
institucionalização
política
e
expedientes
de
intermediação
comunicativa. Nestas páginas propõe-se uma compreensão do espaço público como produto da convergência das distintas dimensões com suas
respectivas
problemáticas,
as
quais
não
podem
ser
reconduzidas a um princípio ou pólo de articulação único; quer dizer, a produção do espaço público não pode ser carregada “no lado” da sociedade civil tampouco apenas do Estado ou da mídia. A
configuração
do
espaço
público
parece
ser
produzida
na
conjugação de capacidades e processos históricos em que coincidem e se descompassam a universalização institucional do Estado, a auto-organização ordem
pública
e
da as
sociedade formas
como
de
determinação
intermediação
permanente
comunicativa
da com
sentido público. No cerne de tais coincidências e descompassos cristaliza-se
historicamente
aquilo
que
sintetiza
toda
a
relevância do espaço público: quem tem direito a ter direitos e como conquista, realiza e preserva esses direitos.
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Gurza Lavalle A. “As dimensões constitutivas do espaço público - Uma abordagem pré-teórica para lidar com a teoria”. Espaço & Debates , v.25, p.33 - 44, 2005.
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