As drogas das Smartshops - Trabalho de Investigação

July 11, 2017 | Autor: Manú Pereira | Categoria: Jornalismo, História, Investigação, Drogas - Smartshops
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Faculdade de Letras-Jornalismo- História da Cultura Científica
2013/2014





Licenciatura: Jornalismo – Cadeira: História da Cultura Científica
Docente: Dra. Ana Leonor Dias Conceição Pereira
Trabalho elaborado por: Emanuel Jorge Sebastião Pereira aluno nº 2011157749

As drogas "Legais"

O verdadeiro poder das drogas que eram vendidas pelas Smartshops- HeadShops






Índice
Introdução………………………………………………………………..pág.3
Definições pertinentes sobre o tema …………………………………….pág.5
Drogas Lícitas e Drogas Ilícitas…………………………………………..pág.6
Tipos de Droga quanto à produção……………………………………….pág.6
Breve Cronologia das smartshops em Portugal……………………….......pág.6
Como podia funcionar uma smartshop…………………………………….pág.7
Compostos Químicos que formam as drogas "legais"……………………..pág.7
Tipos de drogas se encontravam à venda em smartshops………………….pág.8
Os riscos destas drogas para a saúde humana…………………………….. pág.8
Imagens das drogas das smartshops………………………………………..pág.9
Motivos do encerramento das Smartshops em Portugal……………………pág.11
Posições do Infarmed sobre as drogas "legais" até 2013…………………..pág. 12
2014- A realidade destas drogas……………………………………………pág. 13
Conclusão…………………………………………………………………...pág.15
Bibliografia e Websites……………………………………………………..pág.16







Introdução
Em Portugal, nos últimos anos, verificou-se um crescimento acentuado de smartshops, sobretudo até à entrada do decreto-lei de Abril de 2013, que veio encerrar com este tipo de lojas. Em 2012, o número estimado de smartshops e headshops a funcionar, um pouco por todo o país, era de 40 lojas, na cidade de Coimbra encontravam-se abertas ao público pelo menos 3 smartshops. Actualmente todas as lojas se encontram encerradas, contudo, as drogas que lá eram vendidas continuam a chegar ao nosso país. O aumento de intoxicações e ocorrências relacionadas com as drogas "legais" das smartshops, levou a que o Governo viesse proibir o funcionamento das lojas e motivou uma nova consciencialização para o poder das drogas sintéticas, o poder das drogas criadas em laboratório e que legalmente podem ser vendidas em diversos países da Europa. Este fenómeno tornou-se preocupante devido ao consumo excessivo destas substâncias, acentuando-se o consumo em idades mais jovens. Estas drogas são fáceis de obter e têm efeitos devastadores para o organismo, semelhantes em muitos casos aos de outras drogas, como a cocaína, a heroína ou o haxixe.
O consumo de drogas lícitas e não lícitas está presente em todos os países do mundo, abrangendo várias idades e estádios de desenvolvimento. Por razões epidemiológicas, políticas, económicas e sociais, o consumo de drogas, tornou-se foco de atenção mundial. As inúmeras intoxicações reportadas às autoridades constituem um problema relevante. Por exemplo, de 1 de Janeiro a 31 Dezembro 2012, um total de 73 novas substâncias psicoactivas foram notificadas oficialmente pela primeira vez na UE através do Sistema de Alerta Precoce, contra 49 em 2011, 41 em 2010 e 24 em 2009.
Os produtos conhecidos como "sais de banho" ou "alimento da planta" contêm compostos estimulantes como o methylenedioxypyrovalerone (MDPV) ou metilmetcatinona (mefedrona). Os produtos são ingeridos, inalados, e injectados. Os sais de banho são estruturalmente semelhantes aos catinonas.
As catinonas sintéticas são vendidas em lojas especializadas conhecidas como "head shops" e em lojas online, em particular, este mercado feito através da internet tem contribuído significativamente para a proliferação dessas substâncias. Embora sejam muitas vezes consideradas "drogas legais", na verdade o seu estatuto legal é variável de país para país. A este respeito, uma consideração importante: o mercado online é capaz de responder rapidamente a mudanças no estatuto jurídico dos diversos países, com o intuito de colocar novas alternativas legais. Como a cocaína ou anfetaminas, estas substâncias são capazes de produzir efeitos estimulantes e são utilizadas em substituição das drogas tradicionais e ilícitas.
Este trabalho tem alguns objectivos primordiais: perceber o que levou à proibição, no caso português, das smartshops e headshops; analisar o processo de venda desta tipo de drogas e a forma como conseguiam "escapar" ao controlo das autoridades e aos entraves jurídicos e procurar perceber quais são as posições do Infarmed sobre as drogas sintéticas. Outro dos objectivos passa por tentar percepcionar a maneira de produção e combinação dos compostos químicos para criar novas drogas. Numa parte final do trabalho vou procurar perceber como se processam os consumos atualmente, e qual é a situação actual deste "mercado". Estas são algumas ideias fundamentais do trabalho que aqui se inicia, contudo outras vão aparecer, como algumas definições e explicações que se considerem pertinentes na explicação de algumas especificidades do tema.
No final espero conseguir fazer passar a mensagem das quão nocivas podem ser este tipo de drogas para a saúde pública, bem como a realidade que está por trás da criação, em laboratório, de novos compostos para novas drogas. Por vezes o que parece ser legal acaba por trazer consequências mais nefastas do que aquilo que à partida já é ilícito.

Palavras- Chave: Smartshops e Headshops, Substâncias Psicoativas, Proibição ou Permissão, Drogas lícitas/ Ilícitas, Saúde pública, MDPV, Mefedrona, Catinona
Outras palavras: Sais de Banho, Bloom, Miau Miau, Fertilizantes


















Definições pertinentes
Antes de partir para a exploração do tema em si, achei por bem colocar algumas definições de conceitos que vão aparecer diversas vezes ao longo do trabalho.
Droga – termo com várias interpretações. Para o senso comum, droga é uma substância proibida, de uso ilegal e nociva ao indivíduo, modificando-lhe as funções, as sensações, o humor e o comportamento. Numa dimensão química e farmacológica, droga é "todo o conjunto de substâncias químicas introduzidas voluntariamente no organismo com o fim de modificar as condições psíquicas e que, enquanto tal, criam mais ou menos facilmente uma situação de dependência no sujeito". (Fernandes, I. Actores e territórios psicotrópicos: etnografia das drogas numa periferia urbana. S.l. : Universidade do Porto, 1997.)
Smartshop Loja que vende substâncias psicoativas, produtos energéticos naturais e afrodisíacos (definição Infopédia)
Headshop é um termo em inglês para designar uma loja especializada na venda de produtos relacionados com a cultura da cannabis ou tabaco, bem como a comercialização de outros produtos, como revistas, discos, vestuário e objectos de decoração, e em alguns casos, produtos relacionados com a sexualidade.
Drogas Sintéticas: As drogas sintéticas são produzidas a partir de uma ou várias substâncias químicas psicoativas que provocam alucinações no homem, com o intuito de estimular ou deprimir o sistema nervoso central, são drogas quimicamente alteradas em laboratório. Existem também as drogas semi-sintéticas que são produzidas através de drogas naturais e que também sofrem alterações químicas feitas em laboratórios.
Comportamento de consumo – maneira como os indivíduos tomam decisões para gastar os seus recursos disponíveis (dinheiro, tempo e esforço) em artigos de consumo". (Shiffman, L. e Kanuk, L. Comportamentos de Risco ,2001)

Definição dos diversos comportamentos de consumo: experimental (curto tempo baseado na curiosidade); de recreação social (situações sociais usadas pelo prazer ou relaxamento); situacional (usado para lidar com um dado problema); intensivo (uso diário) e compulsivo (uso intensivo e dependência extrema). (Coon, d., & Mitterer, j. o. introduction to psychology: gateways to mind and behaviour. 2008.)




Drogas Lícitas e Drogas Ilícitas

As drogas, substâncias naturais ou sintéticas que possuem a capacidade de alterar o funcionamento do organismo, são divididas em dois grandes grupos, segundo o critério de legalidade perante a Lei: drogas lícitas e ilícitas. 

As drogas lícitas são legalizadas, produzidas e comercializadas livremente. Os dois principais exemplos de drogas lícitas na nossa sociedade são o tabaco e o álcool. Outros exemplos de drogas lícitas: anorexígenos (moderadores de apetite), benzodiazepínicos (remédios utilizados para reduzir a ansiedade), etc.

Drogas ilícitas- drogas cuja comercialização é proibida pela legislação, por exemplo a cocaína, a marijuana, o crack, a heroína, entre outras.

Tipos de droga quanto à produção

Naturais: aquelas que são extraídas das plantas: tabaco, cannabis ou ópio.
Semi-sintéticas: são produzidas através de modificações de drogas naturais: crack, cocaína, heroína.
Sintéticas: são produzidas através de compostos químicos que não se encontram na natureza: anfetamina, anabolizantes, queratina.

Breve Cronologia das Smartshops em Portugal

2007-abertura da primeira Smartshop
2008-2012-Aumento do número de lojas por todo o país (por exemplo: em 2012 Coimbra tinha 3 smarthshops abertas)
2011-2013 - primeiros relatos de intoxicações agudas devido às drogas sintéticas e investigações sobre mortes que podiam estar relacionadas com consumos destas substâncias.
Abril de 2013 – cerca de 40 smartshops em todo o país
18 de Abril de 2013- projecto-lei que define que : "em Portugal vai ser proibido "produzir, importar, exportar, publicitar, distribuir, vender, deter ou disponibilizar" substâncias psicoactivas, consideradas drogas legais." (http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/6693/governo-vai-proibir-158-substancias-presentes-em-drogas-vendidas-nas-smar).


Como podia funcionar uma Smarsthop

Legalmente eram conhecidas como "ervanárias especializadas", vendiam substâncias psicoativas, produtos cuja composição química original (a ilegal) é alterada em alguns aspetos moleculares, colocando-as fora da lista de substâncias proibidas. Em alguns casos essas alterações moleculares até aumentam os efeitos das substâncias originais.
A base legal, é dada por drug designers, profissionais especializados, que provocam alterações mínimas às substâncias originais, com o único objectivo de possibilitar a sua venda. Vendem-se, pois, como: Fertilizantes (para plantas), Chás calmantes, Incensos. Têm rótulos a avisar o comprador que não se destinam a consumo humano, de modo a desresponsabilizar as lojas dos perigos que advêm da sua utilização.


Compostos Químicos que formam as drogas "legais"

Os produtos conhecidos como "sais de banho" ou "alimento da planta" contêm compostos estimulantes como o MDPV ou a metilmetcatinona (mefedrona). Os produtos são ingeridos, inalados, e injectados. Os sais de banho são estruturalmente semelhantes aos catinonas.
Algumas drogam que compõem os produtos vendidos nas smartshops: MDPV- (methylenedioxypyrovalerone) - efeitos semelhantes aos das metanfetamninas; Mefedrona-substância que tem os mesmos efeitos da cocaína; Catinona- semelhante às anfetaminas; Amanita muscaria- fungo basidiomiceto natural de regiões com clima boreal ou temperado do hemisfério norte, possui propriedades psicoactivas e alucinogénias em humanos; Kratom- planta cujo nome é mitragyna speciosa , possui efeitos analgésicos, sedativos e estimulantes, Salvia Divinorum- causa um efeito de alívio da dor e euforia; BZP (Benzilpeparazina) - tem um efeito estimulante 10 a 20 vezes mais potente que a anfetamina; TFMPP (triflouro-metil-fenil-piperazina) - provoca insónias, ansiedade e por vezes dores fortes de cabeça.
Poderíamos colocar nesta lista muitos mais compostos, contudo estes são os principais e que fazem parte das drogas mais vendidas pelas smartshops.



Tipos de drogas se encontravam à venda em Smartshops
Nestas lojas podemos encontrar 4 tipos de substâncias:
Depressoras - diminuem a actividade do sistema nervoso actuando em receptores (neurotransmissores) específicos; Alucinogénias – têm por característica principal a modificação da percepção (daí o termo alucinogénio para a sua designação) em maior ou menor grau e Estimulantes – produzem um aumento da actividade pulmonar (acção adrenérgica), diminuem a fadiga, aumentam a percepção.
A categorização pode ser feita da seguinte forma, para além da inclusão de algumas substâncias já citadas, acrescento ainda outros tipos:
Alucinogénios ou Perturbadores: Cogumelos mágicos (onde se incluem diversas espécies de cogumelos alucinogénios); Sementes de LSA (amido de ácido lisérgico); Sálvia Divinorum (planta originária do México).
Estimulantes: Fertilizantes para plantas (o rol de nomes e substâncias é quase infinitol).
Depressores: Kratom (folhas de árvore de origem tailandesa onde é usado como substituto do ópio).
Canabinóides: Incensos ( também existem inúmeros nomes); Damiana (arbusto oriundo da América Central, compropriedades supostamente afrodisíacas, provoca problemas graves a nível do fígado). 

Os riscos destas drogas para a saúde humana
As smartshops e a internet têm sido as principais ferramentas na comercialização destas novas drogas. Mas a proibição de drogas já bem conhecidas e estudadas (como a canábis) também está a contribuir para o crescimento deste mercado.
Este é o principal problema das novas drogas: os seus efeitos não foram ainda estudados, porque ainda não houve tempo para pesquisar ou assimilar o impacto que o seu consumo pode ter nas pessoas.
Destas novas drogas, destaca-se a mefedrona que tem servido como droga de substituição da cocaína e do ecstasy ou o spice como substituto da canábis. Das novas drogas já há a relatar diversos casos, por exemplo no Brasil uma adolescente ficou cega e paralisada após fumar canábis sintético. Em Portugal, em 2012, mais de 30 casos de complicações por consumo das chamadas drogas legais foram registados nos hospitais portugueses em dois meses, segundo dados do Ministério da Saúde. Na Europa e no Mundo muito mais casos já foram reportados.
Apesar de serem pouco documentados, podem haver efeitos agudos no consumo destas substâncias, especialmente quando consumidas com outras drogas lícitas ou ilícitas ou quando são misturadas com outras drogas com menos efeitos adversos a curto prazo (tabaco ou álcool).
Os médicos destacam o papel do comportamento de risco (tal como a procura compulsiva de estados de excitação e a ignorância da composição e dos efeitos), como grandes motivos de intoxicações. O historial de saúde individual ou problemas genéticos na árvore genealógica podem também ser determinantes para as consequências do uso destas drogas.
Na maior parte dos casos, o diagnóstico é a poli-intoxicação, ou seja, uma mistura de várias drogas no sistema, sendo impossível destacar uma substância relativamente às outras.
A fim de compreender a natureza e os possíveis riscos e aspectos neuro-psíquicos a longo prazo, que se manifestam frequentemente em casos de intoxicação aguda, a prioridade dos médicos actualmente passa pelo seguimento dos casos de intoxicações não fatais em jovens
O consumo a longo prazo pode causar efeitos adversos. Os efeitos reversíveis e/ou não-reversíveis sobre o cérebro ainda são objecto de discussão. Há cada vez mais dados que apontam para que haja danos dos neurónios serotonérgicos. As implicações clínicas indicam défices cognitivos, mas alguns projectos de investigação neste domínio (em curso no Reino Unido e nos EUA) ainda estão pouco avançados. 
Algumas das consequências podem ser "catalogadas" em 3 grandes tipos:
-Depressores da Actividade do Sistema Nervoso Central (SNC): Pessoas sob o seu efeito tornam-se sonolentas, desatentas e desconcentradas.
- Estimulantes da Actividade do SNC: Levam a que a pessoa esteja mais concentrada e atenta num determinado detalhe ou objecto e provocam a aceleração do pensamento e aumentam a euforia.
- Perturbadores da Actividade do SNC: Produzem quadros de alucinação ou ilusão, geralmente de natureza visual, provocados pela perturbação do cérebro.
Para além destas consequências há outras que também estão associadas a este tipo de drogas: o aumento dos batimentos cardíacos, superaquecimento do corpo, alta pressão sanguínea, tremores em várias zonas do corpo (mãos, pernas, braços) intoxicação do fígado e rins e provocam ainda problemas de memória.
Algumas imagens das drogas das smartshops

Bloom
Spice









Diversas drogas das smartshops, desde canábis sintética a fertilizantes


Salvia Divinorum Sais de banho






Diversas drogas que eram vendidas em Smartshops do nosso país



Algumas lojas que funcionaram em Portugal até 2013



Motivos do encerramento das Smartshops em Portugal
Em Abril de 2013 o Conselho de Ministros aprovou um diploma que tornou ilegal a venda de 160 "novas substâncias psicoactivas" que foram consideradas como uma ameaça para a saúde pública e faziam parte do negócio das smartshops.
"É um passo importante que responde a um fenómeno alarmante", defendeu o secretário de Estado adjunto do Ministério da Saúde, Fernando Leal da Costa, recordando o registo de 45 casos graves de intoxicação nos serviços de urgência e seis mortes suspeitas em investigação, que ocorreram nosso país entre 2011 e 2013. "O Governo não pára por aqui. Haverá um processo progressivo posterior de introdução destas novas substâncias na lista de estupefacientes, drogas criminalizáveis", disse ainda Leal da Costa, as declarações foram divulgadas pelo jornal Público a 3 de Março de 2013.
"Fica proibida toda e qualquer actividade, continuada ou isolada, de produção, importação, exportação, publicidade, distribuição, detenção, venda ou simples dispensa das novas substâncias psicoactivas. Determina-se ainda o encerramento dos locais utilizados para esses fins", pode ler-se no comunicado divulgado no final da reunião do Governo. As novas substâncias contempladas no diploma são aquelas que "em estado puro ou numa preparação podem constituir uma ameaça para a saúde pública comparável às substâncias já enumeradas em legislação". A lista divulgada na altura continha 48 feniletilaminas, 33 derivados da catinona, 36 canabinóides sintéticos, quatro derivados/análogos da cocaína, cinco plantas e respectivos constituintes activos e 12 produtos diversos, incluindo fertilizantes e fungos. Entre as multas e outras penalizações a aplicar a todos os que vendem estas substâncias, a nova lei prevê que os produtos suspeitos sejam sujeitos a análise laboratorial e o encerramento destes estabelecimentos em caso de "persistência na venda".
Desde a promulgação da nova lei, todas as smartshops no nosso país fecharam. "A percepção que temos é que a maioria das smartshops terá encerrado por ter concluído que não teria condições para sobreviver", garantiu João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) em declarações ao jornal Correio da Manhã no 3 de Maio de 2013.
Com a nova lei o número de intoxicações diminuiu, contudo, cresce um mercado paralelo, o da compra online. Todas as semanas surgem novas substâncias, dados da Interpol e das Nações Unidas, dizem que por semana surgem duas novas drogas no mercado, produzidas em laboratórios (a China e a América do Sul são os que têm mais) e criadas por Drug Designers (pessoas com formação em química e física que tratam de alterar os compostos para fugir às legislações), estes novos compostos têm uma toxicidade desconhecida, e os efeitos podem ser graves.
Posições do Infarmed sobre as drogas "legais" até 2013
O Infarmed-Autoridade Nacional do Medicamento, foi o responsável pela elaboração da lista das 160 substâncias que deviam ser proibidas. Antes, publicamente, sempre se manifestou contra a venda e sempre teve uma atitude de preocupação com os efeitos que estas drogas poderiam causar no ser humano. No documento elaborado a 17 de Abril de 2013 há que ressalvar alguns pontos.
Primeiro o relatório retracta um sentimento de crescente inquietação em relação às drogas das smartshops. " É com elevada preocupação que, em Portugal, como em outros países europeus, se vem assistindo à abertura de locais dedicados à venda indiscriminada de substâncias psicoativas que, embora ameacem gravemente a saúde pública, não se encontram previstas na legislação penal, facto que vem condicionando a adoção de providências pelas autoridades, nomeadamente as de saúde, de segurança alimentar e económica".
Num segundo momento o Infarmed alerta para as consequências que o consumo pode trazer ao ser humano: " o seu consumo, por ingestão, por inalação, por aspiração, por aplicação sobre a pele ou por quaisquer outras vias de absorção humana, representa comprovadamente um perigo concreto para a integridade física e psíquica das pessoas e, consequentemente, um risco para a saúde pública. O grau de dependência física e psíquica provocado por estas substâncias aproxima-se e, em determinadas situações, pode exceder, aquele que é causado por muitas substâncias ilícitas. Além disso, tem sido identificado clinicamente um nexo de causalidade com distúrbios psiquiátricos, incluindo episódios psicóticos, com distúrbios neurológicos e com complicações cardíacas graves. Acresce que neste mercado circulam substâncias cujos efeitos sobre a fisiologia humana são muitas vezes ainda mal conhecidas na sua plenitude, o que torna muito difícil o tratamento das intoxicações agudas e dos efeitos de longo prazo".
Depois o relatório explica como era feito o comércio deste tipo de drogas em Portugal: "comercializadas, não raro, a preços módicos, sob a forma de incensos, sais de banho, pílulas sem outra caracterização, ervas, fungos ou fertilizantes, as novas substâncias psicoactivas vêm conhecendo uma procura crescente, sobretudo entre os adolescentes. Sob variadas designações, sendo a mais comum a de «smartshops», os locais de venda publicitam como inócuas para a saúde drogas sintéticas, plantas e fungos que v m sendo objecto de alerta por instâncias internacionais e da União Europeia, designadamente o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, assim como o Conselho Europeu".
Num quarto ponto, a entidade defende o encerramento de todas as lojas: "a defesa da saúde é um dever consagrado no n.º 1 do artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa, pelo que, existindo consenso formado em torno da perigosidade de novas substâncias psicoativas já conhecidas e da susceptibilidade de, assim, prever novas contraordenações, julgou-se, ainda, indispensável estabelecer medidas sanitárias de efeito imediato contra a produção, distribuição, venda, dispensa, importação, exportação e publicidade de outras novas substâncias que venham a surgir no mercado, perante a ameaça grave e imprevisível. Assim, e de acordo com o disposto na alínea b) do n.º 3 da Base XIX da Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, alterada pela Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro, o presente decreto-lei prevê a possibilidade de as autoridades de saúde territorialmente competentes determinarem o encerramento dos estabelecimentos ou outros locais abertos ao público ou a suspensão da atividade para os fins considerados de grave risco para a saúde pública".
Nesta primeira parte do relatório pode observar-se o essencial do pensamento do Infarmed, que para além de alertar para o perigo e para a realidade das drogas das smartshops, alerta para a necessidade de fechar o mais rapidamente possível as entidades responsáveis pelo comércio destas novas drogas., em anexo a este trabalho segue o relatório na íntegra. O relatório completo pode ser consultado online através do link:http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_III/TITULO_III_CAPITULO_III/070-B_DL_54_2013.pdf.
Em 2013 estava dado o "grande passo" para diminuir o consumo deste tipo de produtos, esta posição do Governo, Infarmed e de outras entidades, por exemplo a ASAE ou o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência permitiu que as intoxicações no nosso país diminuíssem e foi um alerta para a tomada de consciência da população sobre o perigo que o " legal" pode comportar. Graças aos esforços destas entidades o consumo diminuiu muito, mas ainda continua activo, num mercado perigoso e que consegue fugir às legislações e autoridades portuguesas, europeias e mundiais.
2014- A realidade destas drogas
Com o encerramento das Smartshops, o consumo de drogas sintéticas diminuiu, contudo elas continuam a entrar no nosso país e a ser consumidas. A principal "porta" de comércio é a Internet, onde há infinitas smartshops a vender para qualquer parte do globo. O relatório Europeu sobre drogas (EMCDDA), publicado em Maio deste ano afirma que as "novas drogas nascem como cogumelos". O Jornal Público publicou no dia 27 de Maio de 2014 os resultados deste relatório e há alguns dados a reter e que passo a citar. "As novas drogas são cada vez mais diversas. Algumas são muito potentes. Os seus efeitos ainda estão pouco estudados e várias estão associadas a mortes. O número de novas drogas em circulação no espaço europeu não pára de aumentar, só no ano passado, 81 novas substâncias psicoactivas foram notificadas pela primeira vez junto do Sistema de Alerta Rápido da União Europeia. Bateu-se outra vez o recorde, são quase sete novas drogas por mês". Isto elucida uma realidade com que todos nós nos devemos preocupar, se as drogas " tradicionais", cocaína, heroína, cannabis, nós já sabemos os efeitos, destas que surgem todas as semanas, não sabemos, e os efeitos para o ser humano podem ser catastróficos.
As novas drogas são em geral legalmente importadas em pó, principalmente da China, da América do Sul e da Índia, depois são transformadas, embaladas e comercializadas na Europa e nos Estados Unidos da América (os principais "clientes). Ficam depois disponíveis no mercado tradicional das drogas ilícitas mas não só: também podem ser vendidas "como euforizantes legais", como suplementos alimentares, ou como "alimentos para plantas", em lojas. Muitas das novas (e velhas) drogas, como já foi referido, encontram-se online e aí também o ralatório europeu faz um retrato, em 2013, "o EMCDDA identificou cerca de 650 sítios Web que vendem estas substâncias aos europeus".
Boas e más notícias para o nosso país
O relatório tem várias boas notícias (começa por descrever "uma tendência globalmente positiva a nível da União"). O problema é "a evolução preocupante observada em alguns países". Por exemplo: há, em geral, na UE, uma redução das overdoses entre os consumidores (Portugal é citado como um dos países onde o número de novos casos notificados continua a diminuir tendencialmente). Mas na Grécia, Roménia e Estónia registam-se aumentos significativos de mortes.
Este ano já se contabilizam 34 novas substâncias, e segundo uma notícia do Público, do dia 27 de Maio, 3 delas já foram encontradas em Portugal, são elas a 25I-NBOMe, a MDPV e a metoxetamina. Na prática, estas drogas podem ser mais perigosas do que as "originais" que pretendem imitar, respectivamente, o LSD (alucinogénio), a morfina (opiáceo), a cocaína (estimulante) e a cetamina (um medicamento com propriedades analgésicas e anestésicas). As quatro têm no seu cadastro o facto de terem estado presentes, em diferentes países, em mais de 200 intoxicações agudas e em mais de 130 mortes. João Goulão, presidente do Conselho de Administração do EMCDDA, disse ao Público que não "há elementos que permitam dizer qual é a extensão do consumo destas substâncias em Portugal, acreditando, contudo, que é residual".
Por estes dados podemos e devemos ficar alarmados, embora Portugal ainda não esteja no topo dos consumos de drogas sintéticas, nada impede que essa situação se altere no espaço de meses, a Estónia é um exemplo disso mesmo. O fecho das smartshops contribuiu para a diminuição dos consumos, contudo qualquer um pode, livremente comprar pela Internet, e aí são inúmeros os sites. As autoridades devem estar mais preparadas que nunca para evitar estas compras. Outro aspecto a ter em conta, deve ser o reforço de meios para estudo das potencialidades das drogas, pois há poucos conhecimentos sobre as novas drogas, devemos ter mais laboratórios e mais centros de investigação, não só nosso país, mas também a nível europeu e mundial. Outra solução pode passar por campanhas publicitárias a alertar para esta realidade das drogas sintéticas e das drogas das smartshops, tal como se fazem campanhas contra o tabaco, o VIH ou o álcool, pois as drogas sintéticas também podem tornar-se rapidamente um grave e sério problema mundial, algo que na minha opinião já são.
Conclusão
Estas drogas representam um flagelo social devido aos efeitos que criam no organismo dos consumidores e ao elevado número de utilizadores que as consomem de várias formas: por inalação, aspiração, aplicação sobre a pele, ingestão ou por qualquer outra via de absorção humana, originando um perigo real para a integridade psíquica ou física do indivíduo. As drogas sintéticas acarretam consigo uma série de efeitos: desde perturbações do foro psiquiátrico, passando por lesões cardiovasculares e gastrointestinais.
Com base na investigação científica desenvolvida até aos dias de hoje, os dados apontam e permitem mesmo concluir que certas drogas sintéticas produzem sequelas irreversíveis, sendo os efeitos na saúde por vezes ainda mais graves que os que são desencadeados pelas drogas tradicionais.
A lei do Governo português aprovada em 2013 foi, na minha opinião, algo muito importante no combate a este tipo de drogas. As smartshops estavam a crescer, a potência das drogas que vendiam aumentava, e tudo isto era "legal". Com a legislação do Governo tudo mudou, e aí queria chamar a atenção para o papel dos meios de comunicação social portugueses, que muito falaram sobre este tipo de drogas, o que permitiu, pela primeira vez, mostrar ao nosso país que elas são perigosas, desconhecidas e que não é por serem legais que "não fazem mal".
Um grande problema continua a subsistir: os mercados paralelos, sobretudo a Internet, aí deve haver, na minha óptica, um maior esforço das autoridades para controlarem as transacções de drogas. Outro motivo que me deixou preocupado ao realizar este trabalho foi o facto de a maioria dos consumidores serem jovens. Muitas vezes utilizam as drogas como relaxantes ou como forma de divertimento, misturadas com outras drogas (álcool, marijuana ou cocaína), o que faz disparar os riscos para a sua saúde.
Investir no estudo das drogas e fazer mais publicidade contra o consumo devem ser dois aspectos que se devem considerar para o futuro. Depois cabe um de nós fazer escolhas e ter atenção ao que lhe é oferecido diariamente no mundo em que habita, parafraseando Charles Darwin: "a atenção é a mais importante de todas as faculdades para o desenvolvimento da inteligência humana", e neste aspecto, família, professores, amigos e sobretudo a própria pessoa devem " saber" o que é bom e benéfico e o que é mau, e decididamente as drogas sintéticas são algo de mau, muito mau para o ser humano.


Bibliografia e Websites
Recorri a diversos recursos para realizar este trabalho. Alerto para o facto de não ter não conseguido encontrar uma obra sobre este tema, contudo encontrei diversos estudos e casos práticos de trabalho. Foquei-me muito em notícias de diversos órgãos de comunicação social e vi algumas reportagens sobre o tema. Esta bibliografia caba por ser extensa devido a esse facto.
Estudos sobre o tema:
"Consumo de drogas lícitas e não lícitas no Estudante Universitário"- Calado, Catarina- Universidade de Aveiro-2011
"Motivação do estudante universitário para o consumo de drogas legais"- Rodriguez, Verónica e Scherer, Zaine- Revista Latino – Americana, Maio 2008
"Buying 'legal' recreational drugs does not mean that you are not breaking the law"- J. Ramsey, P.I. Dargan, M. Smyllie, S.Davies, J.Button, D.W. Holt and D.M. Wood -2010
"Legal drugs of abuse" - Emergency Medicine Reports- 2011
"Synthetic legal intoxicating drugs: The emerging 'incense' and 'bath salt' phenomenon"- Jerry. J , Collins.G , Streem. David- Cleveland Clinic Journal of Medicin - 2012
Casos Práticos de Trabalho:
"Consumo de drogas das smartshops pelos alunos do Instituto Politécnico de Coimbra: um risco para a saúde pública?"- Coelho, Micael -2013
"A evolução do fenómeno da droga na Europa"- Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência – relatório anual 2012
"EU drug markets report"- Europol- 2012
Notícias:
http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/7563/smartshops-lei-vai-aumentar-o-consumo-no-mercado-paralelo
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/ja-surgiram-novas-substancias-psicoactivas-desde-a-proibicao-de-venda-nas-smartshops-1591929
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/governo-aprova-lei-que-proibe-venda-de-159-drogas-nas-smartshops-1586943
http://www.publico.pt/portugal/jornal/substancias-para-fazer-rir-e-flutuar-proibidas-desde-hoje-nas-smartshops-26399215
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/saude/lei-fecha-maioria-das-smartshops-no-pais
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=2923974
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=46841
http://expresso.sapo.pt/duas-pessoas-ficaram-em-coma-devido-as-drogas-das-ismartshopsi=f776231
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2878193&page=3
Artigos de Revista:
Super Interessante Brasil - Julho 2012 - http://super.abril.com.br/ciencia/maconha-sintetica-era-drogas-laboratorio-693046.shtml
Revista Veja edição de Outubro de 2009 – http://veja.abril.com.br/211009/musica-sexo-loucura-p-134.shtml
Reportagens:
Porto Canal:" Drogas legais das "smartshops" vão ser proibidas" de Salomé Pinto (https://www.youtube.com/watch?v=uy8Z_C9gKlc)
Sic Notícias: "Portugueses compram drogas das "smartshops" em site estrangeiros"(http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2014-03-10-portugueses-compram-drogas-das-smartshops-em-sites-estrangeiros)
Tvi: Repórter TVI: " Viagem Alucinante" de Elisabete Barata (http://www.tvi24.iol.pt/programa/3008/70)
Outros Sites Consultados:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_III/TITULO_III_CAPITULO_III/070-B_DL_54_2013.pdf
http://forum.antinovaordemmundial.com/Topico-smartshops#ixzz2xHtE9lXZ
http://www.brasilescola.com/drogas/drogas-sinteticas.htm
http://channel.nationalgeographic.com/channel/drugs-inc/interactives/infographic-how-cocaine-works/
http://jovemrumo.fersap.pt/index.php/droga/72-smart-shops-o-perigo-da-venda-legal-de-drogas
http://www.atlasdasaude.pt/publico/content/balanco-positivo-dos-6-meses-de-fecho-das-smartshops
http://www.esquerda.net/dossier/novas-drogas-venda-legal-risco-desconhecido

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