As estratégias de emulação como fundamento para a preservação de objetos digitais interativos: a garantia de acesso fidedigno em longo prazo

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AS ESTRATÉGIAS DE EMULAÇÃO COMO FUNDAMENTO PARA A PRESERVAÇÃO DE OBJETOS DIGITAIS INTERATIVOS1: A GARANTIA DE ACESSO FIDEDIGNO EM LONGO PRAZO Henrique Machado dos Santos* Daniel Flores** RESUMO

__________________________ * Bacharel em Arquivologia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). E-mail: [email protected] ** Docente do Curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutor em Documentação pela Universidade de Salamanca (USal), Espanha. E-mail: [email protected] 1

Componentes digitais que simulam uma interação virtual, isolada ou em combinação com outros objetos digitais, proporcionando o intercâmbio de ações entre o usuário e os componentes digitais através de animações como efeitos visuais. Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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Palavras-chave: Estratégias de preservação digital. Emulação. Objetos digitais interativos. Fidedignidade. Acesso em longo prazo.

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Os avanços das tecnologias da informação no campo arquivístico ocasionaram uma crescente demanda por documentos digitais, entretanto a preservação destes documentos continua sendo uma atividade abstrata devido à ausência de políticas e estratégias de preservação. Existem documentos digitais dotados de recursos interativos, estes recursos devem ser preservados, pois são fundamentais para a sua apresentação e uso de suas funcionalidades. A implementação das estratégias de emulação é considerada fundamental para preservar recursos específicos, embora seja uma estratégia complexa e que poderá ter custos elevados. O objetivo deste estudo é apresentar uma reflexão sobre a preservação da fidedignidade em documentos compostos por objetos digitais interativos. Tem-se como princípio discutir a manutenção de sua integridade e autenticidade, garantindo o acesso em longo prazo. A metodologia utilizada consiste em levantamento bibliográfico de materiais previamente publicados, os dados coletados são analisados de forma qualitativa. Discute-se a necessidade de preservar requisitos relacionados à interatividade dos documentos digitais, bem como combinar a emulação com outras estratégias de preservação digital. Os resultados mostram vantagens e desvantagens da emulação frente às outras estratégias, parte dessas desvantagens poderá ser contornada com o auxílio de estratégias como a migração e encapsulamento, mas há determinados casos em que não será possível migrar e nem encapsular os objetos digitais interativos. Há de se considerar o desenvolvimento de emuladores, conversores e visualizadores, pois estes poderão ser os únicos meios de recuperar a informação dos documentos arquivísticos digitais. Por fim, recomenda-se a implementação de repositórios digitais confiáveis para a preservação em longo prazo.

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

mento em longo prazo para garantir o

1 INTRODUÇÃO

acesso e decodificação da tecnologia

A

contínua e acelerada evolução da tecnologia e o uso de softwares na sociedade resul-

taram em “maior disponibilidade, diversidade e volume de dados” (DE SORDI, 2008, p. 2). Dessa forma, ocorreram constantes avanços das tecnologias da informação e, consequentemente, a aceitação de suas ferramentas na arquivologia, impulsionando, assim, a produção de documentos arquivísticos digitais. A sociedade contemporânea depende cada vez mais das tecnologias da informação. Assim, os documentos produzidos em meio digital ganham relevância como registro histórico (INNARELLI, 2007; SAYÃO, 2010). No contexto arquivístico, os documentos digitais, juntamente com os documentos analógicos, passaram a constituir um patrimônio documental híbrido, o qual deverá ser preservado independente de sua natureza.

correspondente à época do acesso, proporcionando correta interpretação das informações aos usuários (SAYÃO, 2010). A revolução digital proporcionada pelas tecnologias da informação é um caminho sem volta (INTERPARES, 2007b), consequentemente a tecnologia de forma isolada não resolverá os problemas referentes à preservação digital. Com a tecnologia surgirão novos problemas, sendo necessária a interferência humana e as políticas de preservação digital a fim de propor uma solução (INNARELLI, 2011). Os documentos digitais são complexos por natureza e a sua complexidade aumenta na medida em que possuem recursos interativos que caracterizam sua representação e suas funcionalidades. A preservação dos recursos interativos de um determinado documento

dade de continuar utilizando os arquivos como fontes confiáveis devido aos novos desafios

impostos

pela

preservação

(THOMAZ, 2005). Logo, a preservação de documentos digitais requer o estabelecimento de métodos e o comprometi-

para comprovar a sua fidedignidade. A implementação incorreta das estratégias de preservação digital poderá causar perdas irreparáveis na estrutura do documento, resultando na quebra de integridade e/ou autenticidade. Considerando as questões citadas, este artigo tem por objetivo realizar uma reflexão sobre

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mentos digitais tem ameaçado a capaci-

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arquivístico digital será determinante A crescente produção de docu-

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

a preservação da fidedignidade em do-

2.1 A FIDEDIGNIDADE DOS OBJE-

cumentos digitais compostos por objetos

TOS DIGITAIS INTERATIVOS

digitais interativos, garantindo o seu acesso em longo prazo.

Os objetos digitais são as partes

Os dados coletados consistem

de um ou mais documentos arquivísticos

em materiais previamente publicados,

digitais, incluindo os metadados necessá-

estes serão analisados de forma qualita-

rios para ordenar, estruturar ou manifes-

tiva, discutindo-se a necessidade da pre-

tar seu conteúdo e forma (INTERPA-

servação dos recursos interativos. Consi-

RES, 2007a). Ou seja, objetos digitais

dera-se de relevância a combinação das

são todos os componentes necessários à

estratégias de emulação com outras es-

apresentação fidedigna dos documentos

tratégias de preservação digital a fim de

arquivísticos digitais.

preservar a fidedignidade dos documentos.

Os objetos digitais podem ser considerados em três níveis de abstração: objeto físico, objeto lógico e objeto con-

2 DIMENSÕES DO ESTUDO

ceitual. Além destes, há o objeto expe-

cada pessoa conforme sua cognição e

como a definição de uma política de pre-

conhecimentos prévios. Conforme Thi-

servação deverá analisar uma série de

bodeau (2002), o objeto físico é aquele

requisitos considerados determinantes.

interpretado pelo hardware, e posterior-

Dentre estes requisitos, este artigo abor-

mente transformando em objeto lógico,

da a integridade, a autenticidade, a con-

este é interpretado pelo software, que o

fiabilidade, a fidedignidade e a garantia

transforma em objeto conceitual, o qual

de acesso em longo prazo. Desta forma,

poderá ser interpretado por humanos, o

delimita-se o campo de estudo para os

objeto experimentado.

documentos arquivísticos digitais, com-

A garantia de preservação da in-

postos por objetos digitais interativos.

tegridade, autenticidade e fidedignidade

Considera-se para a sua preservação a

são fundamentais para a custódia de do-

verificação da viabilidade das estratégias

cumentos arquivísticos confiáveis. Deve-

de emulação frente à necessidade de sin-

se, assim, assegurar estes requisitos para

cronizá-las ou substituí-las por outras

todos os objetos digitais que integram o

estratégias de preservação digital.

documento.

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A escolha das estratégias, bem

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rimentado, referente à representação de

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

Após a definição de objeto digital, faz-se necessário definir o conceito

objetos digitais por parte do sistema computacional em questão.

de interatividade, e consequentemente definir o conceito de objeto digital interativo.

2.1.1 Autenticidade Um documento autêntico é aque-

Richards-Kortum

le capaz de ser utilizado para os fins de

(2006), a interatividade é a medida do

sua criação, ou seja, produz os mesmo

potencial que uma determinada mídia

efeitos legais, informativos, de quando

proporciona, oferecendo, assim, habili-

foi criado. Para tal uso, deve-se garantir

dades que permitem que o usuário exer-

que não houve alterações não autoriza-

ça a sua influência sobre o conteúdo em

das no seu conteúdo e nos seus metada-

questão.

dos. Conforme Innarelli (2007) é funda-

Desta forma, entende-se que ob-

mental que os documentos tenham a sua

jetos digitais interativos são componen-

autenticidade preservada ao longo do

tes digitais que simulam uma interação

tempo, desde a sua produção até a sua

virtual, seja ela isolada ou em combina-

destinação final. A autenticidade é defi-

ção com outros objetos digitais. Logo, os

nida como a “credibilidade de um docu-

objetos digitais interativos proporcionam

mento enquanto documento, isto é, a

o intercâmbio de ações entre o usuário e

qualidade de um documento ser o que

os componentes digitais por meio de

diz ser e de que está livre de adulteração

animações como, por exemplo, efeitos

ou qualquer outro tipo de corrupção”

visuais, noção de movimento, requisição

(CONARQ, 2011, p. 124). A autenticidade está diretamente

lação etc. Dentre os objetos digitais que

relacionada ao processo de criação, ma-

são contemplados pelos atributos de na-

nutenção e custódia dos documentos ar-

tureza interativa, podem-se destacar os

quivísticos (RONDINELLI, 2005), e é

conteúdos audiovisuais e as aplicações de softwares.

ameaçada quando os documentos arquivísticos são transmitidos por meio do

Para que esta interação entre o

espaço, do tempo e por efeitos da obso-

usuário e as funcionalidades dos objetos

lescência tecnológica (CONARQ, 2012).

digitais interativos seja possível, será

No meio digital, a simplicidade com que

necessário o conhecimento da base tec-

se podem realizar alterações, a rapidez

nológica utilizada. Da mesma forma, de-

com que estas informações podem ser

verá haver a correta interpretação dos Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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de entrada de texto, ambientes de simu-

Página

Segundo

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

disseminadas e a dificuldade em detectá-

uma diferença com relação ao conceito

las tornam o problema mais complexo

de autenticidade, o qual trata dos efeitos

do que seria em meio analógico (FER-

do documento em si com relação a sua

REIRA, 2006).

finalidade.

Para preservar documentos digi-

A integridade está associada e

tais autênticos, é necessário manter o

dependente dos recursos de segurança

registro do conjunto de processos que

relacionados às tecnologias da informa-

garantem o seu acesso contínuo, a sua

ção utilizadas no processamento, arma-

confiabilidade

integridade

zenamento e transmissão da informação

(MÁRDERO ARELLANO, 2008). Para

(DE SORDI, 2008). Devem-se utilizar

garantir a sua autenticidade, os procedi-

tecnologias que garantam que os docu-

mentos aos quais os documentos e seus

mentos permaneçam intactos a manipu-

respectivos objetos digitais interativos

lações de conteúdo. E, mesmo assim,

foram submetidos durante o período de

conforme Corrêa (2010), poderá existir

custódia devem ser registrados por meio

um documento autêntico cujo conteúdo

de metadados previamente definidos.

tenha sido manipulado; da mesma forma,

e

a

sua

poderá existir um documento cujo conteúdo está intacto, mas a sua autoria é duvidosa.

ser definido como o “estado dos docu-

Para que um documento digital

mentos que se encontram completos e

dotado de recursos de interatividade seja

não sofreram nenhum tipo de corrupção

considerado íntegro, devem-se manter

ou alteração não autorizada nem docu-

todos os objetos digitais interativos que

mentada” (CONARQ, 2011, p. 129). O

o compõe íntegros. Além disso, o conte-

conteúdo e os dados são considerados

údo destes objetos não poderá ser altera-

inalterados quando forem idênticos ao

do de forma não autorizada e não docu-

valor e à apresentação do conteúdo da

mentada.

primeira manifestação (INTERPARES, 2007b), transmitindo exatamente a mes-

2.1.3 Fidedignidade

ma mensagem que levou à sua produção

A fidedignidade se refere ao grau

(CONARQ, 2012). O conceito de inte-

de completude da forma intelectual e do

gridade está relacionado exclusivamente

controle dos procedimentos de criação

à completeza da mensagem, indicando

dos documentos arquivísticos. Logo, o

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O conceito de integridade pode

Página

2.1.2 Integridade

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

sistema de gerenciamento arquivístico de

perda da fidedignidade de qualquer obje-

documentos será responsável por garan-

to digital interativo e, consequentemente,

tir a fidedignidade dos documentos, con-

a depreciação da confiabilidade do sis-

trolando o documento desde a sua cria-

tema.

ção até a sua destinação final (RONDI-

Deve-se atentar para a maneira

NELLI, 2005). Um documento fidedigno

como os documentos digitais interativos

é aquele produzido em ambiente confiá-

são gerenciados durante a sua fase cor-

vel, o qual garante a manutenção de sua

rente. Qualquer procedimento executado

integridade e autenticidade. A fidedigni-

sem autorização poderá acarretar dúvi-

dade está relacionada a sua custódia,

das em relação à autenticidade, depreciar

desta forma o documento fidedigno deve

a integridade e consequentemente rom-

ser capaz de atingir os mesmos efeitos de

per com o grau de fidedignidade. Logo,

quando foi manifestado pela primeira

observa-se que será preciso pensar em

vez, para atingir os mesmos efeitos a fi-

sua preservação em ambiente confiável

dedignidade deverá incorporar qualidade

desde o seu uso corrente.

de integridade e autenticidade. Os documentos arquivísticos precisam ser fidedignos para fornecer evi-

2.2 ESTRATÉGIAS DE PRESERVAÇÃO DIGITAL

Com relação às estratégias de

2004), podendo sustentar os fatos que

preservação digital operacionais, ou seja,

atestam (MACNEIL, 2000, apud RON-

as atividades aplicadas para a preserva-

DINELLI, 2005). Desta forma, o sistema

ção física, lógica e intelectual dos docu-

informatizado de gestão arquivística de

mentos digitais (MÁRDERO AREL-

documentos será o mecanismo que irá

LANO, 2004; THOMAZ, 2004), é pos-

garantir a fidedignidade dos documentos

sível identificar diversas vantagens e

arquivísticos armazenados.

desvantagens para cada uma das estraté-

Neste contexto, a obsolescência

gias de preservação analisadas. O uni-

tecnológica, manifestada em hardware, o

verso de estudo é delimitado para as se-

software e o suporte, é um empecilho

guintes estratégias: emulação, encapsu-

para manutenção da integridade e da au-

lamento e migração/conversão. Então,

tenticidade dos documentos. Logo, será

parte-se para uma reflexão sobre a pre-

necessária a constante avaliação dos sis-

servação de documentos arquivísticos

temas informatizados a fim de evitar a Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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a ampliação da memória (CONARQ,

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dência das suas ações, contribuindo para

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

digitais compostos por objetos digitais

hardware específico, transferindo suas

interativos.

funcionalidades para o software emulador. Desta forma, é possível manter as funções do objeto digital quando o

2.2.1 Emulação As estratégias de emulação par-

hardware torna-se obsoleto (INTERPA-

tem do princípio de preservar o objeto

RES, 2007b). O ambiente tecnológico

lógico em seu formato original, (FER-

virtual estabelecido por meio da emula-

REIRA, 2006), mantendo a integridade

ção possibilita representar os objetos di-

sobre o funcionamento e os objetos digi-

gitais com alto grau de fidedignidade;

tais. A emulação visa a simular plata-

esta condição se justifica porque o objeto

formas de hardware e software às quais

lógico é preservado em sua forma mani-

não se tem mais acesso em virtude de

festada originalmente. As estratégias de

sua obsolescência tecnológica. Desta

emulação poderão ser usadas em contex-

forma, a emulação possibilita a recupe-

tos onde a aparência e os recursos do

ração dos objetos digitais.

objeto digital original são considerados

As estratégias de emulação são particularmente relevantes em contextos

importantes (MÁRDERO ARELLANO, 2004).

onde o objeto digital a ser preservado for

exemplo, os jogos de computador que

No encapsulamento, o foco da

são considerados de valor secundário

preservação encontra-se centrado no ob-

(FERREIRA, 2006). São incluídos, ain-

jeto lógico. Esta estratégia possibilita

da, aqueles jogos que foram desenvolvi-

anexar um pacote de metadados junto ao

dos para serem executados por hardware

documento digital que será preservado;

e software específicos, mas podem ser

desta forma, objetiva-se recuperá-lo no

reproduzidos por meio da emulação em

futuro.

computadores. Além destes, pode-se in-

O encapsulamento visa a reunir

cluir as aplicações voltadas, por exem-

todas as informações referentes aos su-

plo, para atividades de ensino, entre ou-

portes, à descrição do contexto tecnoló-

tras.

gico de hardware e software necessário Através da emulação podem-se

para o correto funcionamento dos obje-

solucionar os problemas de obsolescên-

tos digitais (MÁRDERO ARELLANO,

cia,

2004; SARAMAGO, 2004). Essas in-

eliminando

a

dependência

de

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2.2.2 Encapsulamento

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uma aplicação de software como, por

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

formações reunidas formam um pacote

Fundamenta-se na preservação do

onde serão inseridas as aplicações utili-

objeto conceitual, ou seja, no modo em

zadas durante o ciclo de vida dos objetos

que a informação estruturada está sendo

digitais (SARAMAGO, 2004), com in-

apresentada, independente se estiver na

clusão do software utilizado na sua cria-

forma de texto, imagem ou áudio. Obje-

ção (MÁRDERO ARELLANO, 2004).

tiva converter ou migrar os formatos de

O encapsulamento manterá as funciona-

arquivo considerados obsoletos para

lidades dos objetos digitais interativos,

formatos

sem alterar a sua estrutura lógica, possi-

Lopes (2008), estas estratégias possibili-

bilitando o acesso no futuro por meio do

tam que os objetos digitais, os quais fo-

desenvolvimento de uma tecnologia ca-

ram criados em um contexto tecnológico

paz de interpretá-lo.

do passado, continuem sendo acessados e interpretados pelas tecnologias dos dias atuais.

litar o futuro desenvolvimento de con-

Ao implementar estratégias de

versores, visualizadores ou emuladores

migração/conversão, torna-se fundamen-

(DIGITAL

TES-

tal preservar os metadados criados a fim

TBED, 2001 apud FERREIRA, 2006).

de registrar o histórico de migra-

Desta forma, será possível recuperar ob-

ções/conversões de um objeto digital.

jetos digitais fidedignos.

Desta forma, os metadados poderão in-

PRESERVATION

Ao implementar as estratégias de

formar o contexto de preservação para

encapsulamento junto à emulação, deve-

que futuros usuários possam entender o

se considerar as especificações do emu-

ambiente tecnológico no qual o objeto

lador utilizado e o histórico dos objetos

digital foi criado (MÁRDERO AREL-

digitais

ARELLANO,

LANO, 2004). Os metadados deverão

2008). Ao encapsular os objetos digitais,

documentar toda e qualquer alteração

descrevem-se os requisitos necessários

efetuada sobre os objetos digitais a fim

aos emuladores, para gerar compatibili-

de comprovar a sua autenticidade.

(MÁRDERO

dade de hardware e software, necessários para a correta interpretação dos objetos

3 PRESERVAÇÃO DE OBJETOS

digitais.

DIGITAIS INTERATIVOS

2.2.3 Migração/Conversão

Na preservação de objetos digitas, entende-se que deve ser escolhida a

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as informações necessárias para possibi-

Conforme

Página

Deste modo, preservam-se todas

contemporâneos.

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

estratégia que garanta os requisitos de

objetos digitais interativos, aplicando-se

integridade e autenticidade destes obje-

apenas para objetos digitais estáticos

tos, possibilitando assim a representação

(MÁRDERO ARELLANO, 2008). Nem

de documentos arquivísticos digitais fi-

sempre será possível migrar/converter

dedignos. Logo, haverá a necessidade do

objetos digitais interativos para outros

uso de diversas estratégias a fim de con-

formatos. Tal fato pode ser justificado,

templar as naturezas mais variadas dos

pois a migração:

objetos digitais. Entretanto, para a preservação de objetos digitais interativos

[...] implica mudanças na confi-

deve-se considerar a manutenção de suas

guração que afeta o documento por intei-

funcionalidades.

ro. [...] após serem migrados, os documentos podem parecer os mesmos, mas

3.1 ESTRATÉGIAS: VANTAGENS E

não o são. Sua forma física é profunda-

DESVANTAGENS

mente alterada, com perda de alguns dados e acréscimo de outros (RONDI-

A preservação de objetos digitais

NELLI, 2005, p. 70).

interativos torna-se complexa pela necessidade de manter determinados requisitos que são pertinentes aos objetos digitais. Para realização de uma análise comparativa analisaram-se as estratégias

Desta forma, qualquer migração/conversão produzirá alterações na estrutura interna do documento (SANTOS, 2005). Logo, poderão ocorrer corrupções em sua estrutura interna (MÁRDERO ARELLANO, 2008).

A mudança interna das cadeias de

tudadas, identificou-se um universo de

bits provocada pelas estratégias de mi-

vantagens e desvantagens, variável con-

gração/conversão poderá acarretar alte-

forme o contexto de aplicação escolhido

rações significantes no objeto digital no

para cada estratégia.

que se refere a sua fidedignidade. Logo, deve-se proceder a uma verificação da

3.1.1 Análise dos efeitos da migra-

eficácia das ferramentas que executam

ção/conversão

estas estratégias. Uma vez que o resulmigra-

tado obtido ao aplicar as estratégias de

ção/conversão são utilizadas principal-

migração/conversão não satisfaça os re-

mente nos contextos onde não existam

quisitos de integridade e autenticidade,

As

estratégias

de

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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capsulamento. Dentre as estratégias es-

103

de migração/conversão, emulação e en-

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

deve-se retroceder ao objeto digital original.

A preservação de objetos digitais interativos implica em trabalhar com ma-

A migração/conversão preocupa-

teriais para os quais nem sempre será

se em preservar o objeto conceitual e o

possível a conversão, como é o caso de

seu respectivo conteúdo intelectual, as

uma aplicação de software específico.

alterações realizadas em sua estrutura de

Estes tipos de objetos poderão ser mi-

bits não são visíveis. Logo, uma sequên-

grados, contemplando, assim, atualiza-

cia de migrações/conversões poderá cau-

ções para uma versão contemporânea.

sar inconsistências nos objetos digitais,

Porém, a partir do momento em que a

principalmente se forem objetos digitais

determinada tecnologia não for mais

interativos. Segundo Márdero Arellano

contemplada com atualizações, logo se

(2008), na migração/conversão tanto a

tornará obsoleta; da mesma forma, se as

estrutura interna quanto o conteúdo dos

atualizações afetarem a fidedignidade,

objetos digitais devem ser preservados e

deverá se retroceder ao objeto anterior.

transferidos igualmente para que seja

Em ambos os casos, o uso de emuladores

obtida uma representação fiel do objeto

será determinante para a correta recupe-

original. Desta forma, será possível pre-

ração de seu conteúdo.

servar objetos digitais compatíveis e in3.1.2 Análise dos efeitos da emulação

râneas sem a necessidade de usar recur-

Por meio da emulação, os objetos

sos complexos, como por exemplo, os

digitais podem manter a sua apresenta-

emuladores (FERREIRA, 2006).

ção original, além de preservar as suas

na

migra-

funcionalidades (THOMAZ; SOARES,

ção/conversão existe a dificuldade de

2004), podendo ser aplicada em contex-

transmissão que depende de cada forma-

tos onde a aparência dos objetos digitais

to de arquivo, pois as suas estruturas po-

é considerada importante (MÁRDERO

dem ser muito diferentes e, portanto, a

ARELLANO, 2004). É possível, ainda,

organização dos dados poderá ser muito

garantir os requisitos de integridade e

complexa (IGLÉSIA FRANCH, 2008) e

autenticidade sem a necessidade de re-

assim causar inconsistências em sua exe-

correr a outros mecanismos, pois não há

cução. Tendo em questão a preservação

transformações na estrutura dos formatos

de objetos digitais interativos, eleva-se o

de arquivo (IGLÉSIA FRANCH, 2008).

nível de complexidade, dedicando-se a

Desta forma, possibilitam a correta in-

um tratamento exclusivo. Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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Entretanto,

Página

terpretáveis pelas tecnologias contempo-

sideradas; dentre elas pode-se citar que

vos. A capacidade de manter o conteúdo

os objetos digitais interativos emulados

do objeto lógico intacto possibilita alto

permanecerão acessíveis por meio de um

grau de fidedignidade aos objetos digi-

contexto tecnológico obsoleto que será

tais que compõem o documento.

reproduzido por uma tecnologia contem-

A emulação deve ser aplicada em

porânea. A interoperabilidade entre essas

objetos digitais que não podem ser mi-

tecnologias e a consequente interpreta-

grados em virtude da sua complexidade,

ção/representação dos objetos digitais se

e nem mesmo convertidos para outros

tornarão atividades complexas em lon-

formatos de software. Sua implementa-

gos períodos de tempo. Desta forma,

ção é complexa devido, especialmente, à

torna-se mais difícil a tarefa de propor-

necessidade de preservar requisitos es-

cionar o acesso em longo prazo a docu-

senciais aos objetos digitais (MÁRDE-

mentos fidedignos.

RO ARELLANO, 2008). Em algum

O uso da emulação em logo pra-

momento, uma determinada plataforma

zo para preservar objetos digitais ainda

tecnológica se tornará obsoleta, logo, a

não foi suficientemente testado ou avali-

emulação poderá reproduzir o compor-

ado no que se refere aos custos envolvi-

tamento de hardware e software em sua

dos (THOMAZ; SOARES, 2004). Estas

forma original (IGLÉSIA FRANCH,

estratégias podem apresentar aspectos

2008).

negativos tanto em curto prazo quanto A emulação do software original

em longo prazo, como, por exemplo, al-

é a única maneira confiável para recriar

tos investimentos necessários para de-

fielmente as funcionalidades dos docu-

senvolver um emulador ou destinar re-

mentos digitais (ROTHENBERG, 1999).

cursos para aquisição de licenças de uso

Os emuladores podem recuperar objetos

dos emuladores. Estes gastos poderão

digitais criados em contextos do passa-

tornar o plano de preservação inviável

do, dentre eles, até mesmo as aplicações

caso não exista outro procedimento para

de softwares específicos, as quais não

recuperar os objetos digitais fidedignos.

seriam possíveis de migrar ou converter.

Um problema da emulação a ser

Dentre este universo, a emulação poderá

destacado é o fato de que com o passar

reproduzir objetos digitais interativos de

do tempo os emuladores tornam-se obso-

forma fiel.

letos, impossibilitando a reprodução de

Porém, as estratégias de emula-

determinadas aplicações, perdendo-se

ção possuem desvantagens a serem con-

toda a informação gerada devido à ina-

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

terpretação dos objetos digitais interati-

105

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

cessibilidade

do

conteúdo

(LOPES,

assim, é necessário desenvolver técnicas

2008). Uma alternativa para a obsoles-

que possibilitem encapsular os objetos

cência do software emulador é criar um

digitais junto com o software utilizado

novo problema, emular o próprio emula-

na sua criação. Para potencializar as es-

dor (IGLÉSIA FRANCH, 2008), aumen-

tratégias de emulação, é recomendável

tando demasiadamente o grau de com-

realizar uma descrição detalhada das

plexidade da atividade de preservação,

tecnologias utilizadas, possibilitando re-

não solucionando os problemas de obso-

criar o ambiente de software e hardware

lescência tecnológica.

requerido

para

seu

funcionamento

Segundo Santos (2005), deve-se

(IGLÉSIA FRANCH, 2008; LOPES,

pensar em adquirir o conhecimento ne-

2008; MÁRDERO ARELLANO, 2004;

cessário para compreender os métodos

2008).

recomendáveis para a preservação dos objetos digitais, sendo assim:

De maneira geral, as estratégias de emulação, quando aplicadas simultaneamente com as estratégias de encapsu-

Um dos problemas reside no fato de que a emulação é uma política pensa-

lamento, adicionam confiabilidade e eficácia ao plano de preservação.

da a priori. Só é possível elaborar um emulador a partir do conhecimento inte-

3.1.3 Análise dos efeitos do encapsu-

gral do funcionamento do sistema ou

lamento

programa que se deseja emular. Desta

O encapsulamento possibilita a

forma, a preservação deve ser planejada

manutenção do objeto digital em seu

para antecipar as necessidades futuras (SANTOS, 2005, p. 65).

formato original. Para que esta estratégia seja bem sucedida, será necessário que o

os formatos de arquivo e o seu respectivo conteúdo (LOPES, 2008). Esta estratégia pode ser utilizada a fim de reunir

Entende-se que a emulação é uma estratégia que exige alta complexidade e exigência técnica, o software emulador deverá funcionar em computadores cujo

todo o material necessário para uma futura emulação juntamente com os metadados que descrevem o seu contexto tecnológico.

comportamento é desconhecido. Sendo Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

que forneça informação para interpretar

106

objeto digital contenha uma descrição Desta forma, a partir do conhecimento do funcionamento dos objetos digitais interativos, será possível aplicar as estratégias mais adequadas para cada caso.

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

Caso não seja possível aplicar es-

emular

ou

realizar

uma

migra-

tratégias de migração/conversão e emu-

ção/conversão sem perdas, que não de-

lação, ou caso ocorram perdas indesejá-

preciem a fidedignidade dos documentos

veis no ato de migrar/converter, retroce-

digitais.

de-se ao objeto digital original. Entende-

Há de se considerar, como fator

se que, caso não haja uma estratégia que

negativo do encapsulamento, a depen-

possibilite interpretação fidedigna, será

dência de espaço lógico para armazena-

preferível encapsular os objetos digitais

mento dos pacotes contendo toda infor-

interativos que compõem o documento

mação necessária para correta reprodu-

arquivístico.

ção dos objetos digitais que integram os

Objetos digitais interativos pos-

documentos. Da mesma forma, chama-se

suem um universo de possíveis migra-

atenção para a execução em conjunto

ções/conversões extremamente reduzido.

com a migração/conversão e a emulação,

Tal fato se justifica pela sua complexi-

quando o encapsulamento irá preservar o

dade referente aos seus recursos de inte-

objeto lógico intacto para executar uma

ração, sendo estes recursos considerados

estratégia no futuro.

como requisitos indispensáveis para uma representação fidedigna. O encapsula-

3.1.4 Síntese das estratégias de preser-

mento será de grande valia na ausência

vação

de outra estratégia que seja capaz de ga-

Tendo em vista as vantagens e

rantir a preservação com garantia de in-

desvantagens das estratégias de migra-

tegridade, autenticidade, proporcionando

ção/conversão, emulação e encapsula-

apresentação fidedigna dos documentos digitais.

mento, aliadas à complexidade dos obje-

definir a relevância e a variabilidade

determinados objetos digitais não é uma

aceitável de alterações em suas funciona-

tarefa fácil. Pode-se procrastinar por vá-

lidades. A migração e a conversão são

rios anos até que seja manifestado o inte-

procedimentos de aplicação simples, ou

resse por determinados objetos digitais

seja, não será necessário ter avançados

(HEMINGER; ROBERTSON, 2000).

conhecimentos técnicos como no caso da

Considerando esta questão, é preferível

emulação e do encapsulamento.

encapsular os objetos digitais interativos

O documento digital depende de

e, desta forma, esperar que no futuro seja

uma contínua atualização tecnológica, e

desenvolvida uma tecnologia capaz de Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

Determinar o valor intrínseco de

107

tos digitais interativos, deve-se, então,

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

em algum momento será indispensável

emuladores antes de se proceder à emu-

migrar a sua tecnologia (INNARELLI,

lação.

2007). Por isso, é importante dispor de

Um emulador de plataforma para

um software adequado, o qual deverá

determinada tecnologia obsoleta precisa

informar sobre os formatos obsoletos

ser criado apenas uma vez, e contempla-

(IGLÉSIA FRANCH, 2008). O monito-

rá todos os documentos capazes de se-

ramento dos formatos de arquivo é de-

rem interpretados pelo software da plata-

terminante para que não se armazenem

forma emulada. A criação de emuladores

documentos e objetos digitais em forma-

específicos atribuirá longevidade para

tos obsoletos, dificultando a sua recupe-

todos os outros documentos digitais que

ração no futuro. No momento em que

usam qualquer software presente nesta

não for mais possível migrar as versões

plataforma emulada. Caso o emulador

do objeto digital interativo, deverá pro-

precise ser recriado devido à obsolescên-

ceder-se à conversão, a qual resultará na

cia, faz-se novamente o processo inicial,

mudança de plataforma tecnológica uti-

agora em uma nova geração de compu-

lizada para a interpretação dos objetos

tadores. Desta forma, o emulador de pla-

digitais e consequente representação dos

taforma poderá ser executado em qual-

documentos digitais. Caso as estratégias

quer computador desta nova geração

de migração/conversão não satisfaçam a

(ROTHENBERG, 1999). Assim, seria

preservação da fidedignidade dos docu-

possível solucionar problemas como a

mentos, deverá proceder-se à emulação.

obsolescência do emulador a partir da

nológico.

isto é importante escolher emuladores de

A preservação de documentos di-

baixo custo, que contemplem uma quan-

gitais requer a preservação do conheci-

tidade de objetos digitais considerável. O

mento e da tecnologia necessária para

emulador deverá contemplar atualiza-

acessar e interpretar corretamente os do-

ções, neste caso, procedem-se às migra-

cumentos (HEMINGER; ROBERTSON,

ções, caso contrário o emulador, enquan-

2000). A inclusão de anotações que des-

to software, sofrerá obsolescência tecno-

crevam o contexto tecnológico durante o

lógica. Devem-se documentar os proce-

encapsulamento torna desnecessário o

dimentos realizados, como mudança de

uso da emulação. Entretanto, a emulação

emulador ou atualizações, além de veri-

será necessária quando for solicitada a

ficar a viabilidade das atualizações dos

leitura do documento, desta forma, o do-

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

108

pender diretamente dos emuladores, por

sua recriação em um novo contexto tec-

Página

A eficácia da emulação irá de-

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

cumento será interpretado pelo emulador

vação de documentos digitais fidedignos

(ROTHENBERG, 1999). Apesar da

em longo prazo.

emulação e do encapsulamento estarem muito próximos, no que se refere à apli-

3.2 FIDEDIGNIDADE EM AMBIEN-

cação, o uso de uma estratégia não im-

TES CONFIÁVEIS

Entende-se que para preservar a

digitais interativos independentemente

fidedignidade será necessário o armaze-

da existência de um software emulador.

namento em ambientes confiáveis. Estes

A preservação de objetos digitais

ambientes deverão exercer uma cadeia

interativos deverá considerar os prós e

de custódia desde a produção até a desti-

contras de cada estratégia, verificando a

nação final.

sua aplicação em conjunto. Conforme

Considera-se necessário definir

forem obtidos os resultados das estraté-

uma política de preservação e estabele-

gias, deve-se verificar a sua conformida-

cer estratégias de preservação adequa-

de com o padrão de tolerância estipulado

das, sendo de fundamental importância

previamente. Este padrão de tolerância

adotar um repositório para preservar os

se refere às alterações que não podem ser

objetos digitais e facilitar a implementa-

aceitas na representação dos objetos di-

ção das políticas e das estratégias de pre-

gitais interativos por serem considerados

servação (FERREIRA, 2006). Ao passo

aspectos fundamentais para sua fidedig-

que os objetos digitais interativos são

nidade.

monitorados em um repositório, as ações Com relação às funcionalidades

de preservação serão mais eficientes e

dos documentos oriundos de objetos di-

realizadas com maior segurança. A im-

gitais interativos, é importante definir os

plementação de repositórios digitais é

respectivos requisitos que deverão ser

uma questão evidenciada por diversos

preservados. Desta forma, procede-se à

autores, a qual é reforçada neste estudo

escolha das estratégias a serem aplica-

por ser uma iniciativa fundamental para

das. Sendo assim, é importante destacar

a presunção de autenticidade, garantia de

que estas atividades devem ocorrer em

integridade e consequentemente acesso

ambientes que garantam a confiabilidade

em longo prazo a documentos digitais

de suas ações e, respectivamente, pro-

fidedignos.

porcionem o armazenamento e a preser-

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

Ou seja, é possível encapsular objetos

109

plica necessariamente no uso da outra.

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

3.2.1 Repositórios Digitais Con-

permitindo, assim, a transposição dos

fiáveis para documentos arquivísticos

conhecimentos de preservação em longo

(RDC-Arq)

prazo.

Em se tratando de documentos

Durante a construção dos reposi-

arquivísticos, o repositório digital confi-

tórios digitais, deve-se considerar a con-

ável deve atender aos procedimentos ar-

fiabilidade nas medidas de segurança

quivísticos e aos requisitos de confiabili-

para garantir que os materiais armazena-

dade (CONARQ, 2014). No caso da

dos permanecerão autênticos em logo

submissão ao repositório, deve se consi-

prazo (MÁRDERO ARELLANO, 2008).

derar a importância do uso de metada-

Um repositório digital confiável deverá

dos, informando o contexto do objeto

proporcionar estratégias de segurança

digital

ARELLANO,

para os documentos contidos e garantir

2004). Desta forma, os objetos digitais

que estes são fidedignos e permanecerão

interativos terão toda e qualquer manipu-

seguros em longo prazo (RLG/OCLC,

lação registrada. Entende-se que essa

2002). Documentos compostos por obje-

manipulação serão as trocas de software

tos digitais interativos necessitam de me-

emulado, as migrações e conversões rea-

todologias diferenciadas para sua preser-

lizadas sobre cada objeto digital que

vação em longo prazo. Isto se deve ao

compõe o documento arquivístico.

seu elevado grau de complexidade, sen-

É preciso descrever requisitos de

do necessário documentar suas mais va-

metadados para a preservação em longo

riadas especificidades para que possam

prazo (SARAMAGO, 2004). A criação

ser corretamente interpretados no futuro

dos metadados de preservação aproxima-

por tecnologias que ainda não são co-

se de ser um componente-chave para

nhecidas.

ção

digital

(THOMAZ;

Para garantia de acesso contínuo

SANTOS,

em longo prazo aos documentos, torna-

2003). Os metadados são usados como

se necessária a criação de repositórios

suporte às funcionalidades básicas do

digitais partindo do modelo de referência

repositório digital, facilitando o acesso

Open Archival Information System –

aos objetos digitais armazenados (RA-

OAIS – a fim de proceder à implementa-

MALHO et al., 2007). O registro em me-

ção (LOPES, 2008). O modelo OAIS

tadados sobre os requisitos para preser-

pode ser utilizado para preservação de

vação dos objetos digitais será de grande

objetos digitais das mais diversas nature-

valia em longos períodos de custódia,

zas. Desta forma, possui uma estrutura

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

110

grande parte das estratégias de preserva-

Página

(MARDERO

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

capaz de contemplar as complexidades e

servação de documentos arquivísticos

especificidades dos objetos digitais inte-

digitais dependerá de um sistema confiá-

rativos.

vel, para o qual será necessário o inves-

A implementação de um arquivo

timento em tecnologias e o estabeleci-

em concordância com os modelos de

mento de políticas. Entende-se que não

funcionalidade e estrutura da informação

há como se obter um objeto digital fide-

do OAIS é considerado pré-requisito pa-

digno que não seja mais íntegro e autên-

ra desenvolver repositórios confiáveis,

tico. Logo, será necessário identificar,

garantindo a preservação em longo prazo

analisar, avaliar e implementar estraté-

(MÁRDERO ARELLANO, 2008).

gias e políticas de preservação digital para a manutenção de objetos digitais

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

interativos, os quais sejam íntegros e au-

que a definição de uma política de pre-

por natureza e a sua complexidade au-

servação digital seja realizada antes de

menta na medida em que possuem recur-

se proferir qualquer implementação das

sos de interatividade. O grau de comple-

estratégias.

xidade para preservação de objetos digi-

Após a identificação dos docu-

tais fidedignos aumenta demasiadamente

mentos compostos por objetos digitais

quando os recursos de interatividade ca-

interativos, deve-se definir qual será o

racterizam-se como elementos indispen-

grau de variação permitido para cada

sáveis para a correta representação dos

tipo de objeto. Para a definição de um

documentos. Logo, a preservação fide-

grau de variação aceitável, considera-se

digna de um documento arquivístico di-

a capacidade de transmissão da mensa-

gital dependerá da manutenção da fide-

gem para a qual o documento foi criado.

dignidade de todos os objetos digitais

Este é um procedimento complexo, pois

que o compõem. Para tal, será necessário

permite diferentes interpretações para

definir estratégias para preservar os re-

cada pessoa; logo, recomenda-se a pre-

quisitos necessários aos objetos digitais

servação do objeto digital original em

interativos.

paralelo. Tanto as estratégias de migra-

A finalidade de todas as estraté-

ção quanto as de conversão podem oca-

gias de preservação digital será propor-

sionar resultados totalmente imprevisí-

cionar o acesso em longo prazo a docu-

veis para os objetos digitais. Desta for-

mentos fidedignos. Desta forma, a pre-

ma, qualquer resultado indesejável pode-

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

Objetos digitais são complexos

111

tênticos. Deve-se chamar a atenção para

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

rá ser corrigido, retrocedendo-se aos ob-

senvolvimento futuro de uma tecnologia

jetos digitais originais preservados.

capaz de reproduzir os objetos encapsu-

Entretanto, haverá objetos digi-

lados.

tais que não poderão sofrer quaisquer

Por fim, considera-se indispensá-

tipos de alterações em sua interpretação

vel que a preservação de objetos digitais

por ocasionar interpretações indesejadas

interativos seja realizada em repositórios

no momento da representação do docu-

digitais confiáveis, questão que é am-

mento arquivístico. Considerando esta

plamente discutida por diversos autores.

questão, caso a migração e a conversão

O uso de metadados que documentem

não satisfaçam os resultados esperados,

todo o processo de preservação, o moni-

deve-se proceder à emulação dos objetos

toramento da obsolescência dos formatos

digitais que compõem o documento. A

de arquivo, entre outras tarefas que po-

emulação possibilitará a correta interpre-

dem ser destinadas ao repositório, serão

tação dos recursos interativos sem a ne-

fundamentais para a manutenção da fi-

cessidade de proferir alterações em seu

dedignidade dos objetos digitais interati-

conteúdo lógico.

vos. Porém, independente da estratégia

Caso não seja possível migrar,

escolhida, o acesso ao público externo

converter e emular os objetos digitais

continua sendo abstrato, pois não há co-

interativos, deve-se proceder às estraté-

mo prever a capacidade de interoperabi-

gias de encapsulamento. Desta forma,

lidade entre tecnologias de contextos

preserva-se o conteúdo lógico para de-

temporais diferentes.

Advances in information technologies on archival field caused a growing demand for digital documents, however, the preservation of these documents remains an abstract activity due to lack of preservation policies and strategies. There endowed digital documents of interactive features, these resources must be preserved because they are fundamental to the presentation and use of its features. Implementation of strategies emulation is considered essential to preserve specific features, although it is a complex strategy and may be costly. The objective of this study is to present a Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

Página

ABSTRACT

112

THE STRATEGIES OF EMULATION AS FUNDAMENT FOR PRESERVATION OF DIGITAL OBJECTS INTERACTIVE: THE WARRANTY OF ACCESS RELIABILITY IN LONG-TERM

Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

reflection to preserve reliability into documents comprised of interactive digital objects. It has been a principle discuss the maintenance of its integrity and authenticity, ensuring long-term access. The methodology consists in survey bibliographic of materials previously published, the data collected are analyzed qualitatively. It discusses the need to preserve requirements related to the interactivity of digital documents, and combine emulation with other digital preservation strategies. The results show advantages and disadvantages of emulation against other strategies, some of these disadvantages can be overcome with the help of strategies such as migration and encapsulation, but there are certain cases where you cannot migrate or encapsulate the interactive digital objects. One has to consider the development of emulators, converters and viewers, as they may be the only means of retrieving information from digital records. Finally, we recommend the implementation of trusted digital repositories for long-term preservation. Keywords: Digital preservation strategies. Emulation. Digital objects interactive. Reliability. Access in long-term.

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Henrique Machado dos Santos e Daniel Flores

Trabalho aceito em: 03 fev. 2015

Página

116

Trabalho recebido em: 06 out. 2014

Informação Arquivística, Rio de Janeiro, v. 3, n. 1, p. 95-116, jan./jun., 2014

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