As Infâncias nas Creches – Cenas do Cotidiano

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As Infâncias nas Creches – Cenas do Cotidiano
Jordana Aparecida Félix


Na Obra "As Infâncias nas Creches-Cenas do Cotidiano", publicado na Revista Educação em Questão, editora Natal, nº 31, páginas 111 á 130 do ano de janeiro/abril de 2013, escrito pelas autoras: Julice dias é doutora em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, cuja tese de doutoramento (Pré)-escola, cidade, famílias: produção de comunidades de sentido em cadeias ritualísticas de interação (1980-1999). Pedagoga pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (1994). Atualmente é professora do Departamento de Pedagogia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Professora credenciada para o Programa de Pós-Graduação em Educação da UDESC. Integra o GEDIN e o Grupo de Pesquisa Didática e Formação Docente, na mesma Universidade. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em educação da infância, atuando principalmente nos seguintes temas: educação infantil, planejamento, currículo, aprendizagem e formação de professores. E Luciana Mara² Espindola Santos com doutorado, o qual se encontra em andamento, em Educação da UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina, Linha de Pesquisa: História e Historiografia da Educação. Mestrado em Educação Física, Linha de Pesquisa: Teoria e Prática Pedagógica - Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Licenciada em Educação Física (UDESC). Atualmente é professor da PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS. Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Educação Física Infantil, atuando principalmente nos seguintes temas: educação física, educação infantil e movimento humano. Na obra, discutem a respeito das questões emblemáticas em torno das infâncias vividas nas creches, cujo objetivo é mostrar e discutir as dificuldades de garantir as crianças o direito de participação, o qual está garantido por lei.
O texto se inicia de forma esclarecedora a respeito do tema, onde as autoras afirmam que a infância foi alvo de interesse políticos, econômicos e religiosos, que nos períodos de disciplinamento das condutas, as instituições educativas pedagógicas, desde as creches até as escolas foram locais que auxiliaram a ocultação da existência da necessidade da diferenciação do que é ser criança e aluno. A criança agora institucionalizada, que perante a sociedade produz a imagem objeto aluno, acaba por demarcar a aceleração do tempo infância, passando a ser tema de diferentes áreas do conhecimento.
Na contemporaneidade a criança possui uma imagem de obediente, limpa, ordeira, cumpridora dos seus deveres, que brinca, fantasia, imita os adultos e assim constroem seus conhecimentos, ao nosso ver, esta imagem necessita de reforma, pois é extremamente importante observar a estrutura social e a forma como as crianças vivem a sua real infância e as suas relações sociais que estabelecem com os adultos e outras crianças. Conforme é situado pelo pesquisador Qvortrup (1994) que mostra a importância de considerar a criança como parte da mesma estrutura social que os adultos, ou seja, é necessário entender a realidade de cada criança é individual, pois a realidade da sociedade é fragmentada conforme os níveis sociais, desta forma requer uma analise mais aprofundada para podermos entender a forma como as relações se dão para esta criança.
As crianças que frequentam as instituições de educação infantil necessitam ser olhadas como agentes sociais, pois são seres que participam ativamente da cultura em que estão inseridas. No Brasil, apesar dos avanços e conquistas, os desafios tanto políticos como pedagógicos em reconhecer as crianças como cidadãs plenas de direitos, são barreiras destacáveis, pois os "adultos" ainda objetivam em tratar as mesmas nas instituições de ensino como alunos, deixando de lado que cada criança possui uma característica e personalidade própria, ignorando a importância de ouvi-las e compreende-las.
O ato de escolarização implicou na transformação da criança em aluno, sendo imposto pelos professores limitações nas suas formas de se expressar, resumindo-se o ato de aprender em perguntas e respostas previamente formuladas, e ao exercer tal papel com excelência representariam o papel de "bom aluno". Conforme entendemos este tipo de atitude limita e muitas vezes retrai a evolução dos alunos, por toda a nossa escolarização fomos testemunhas de uma relação aluno-professor, onde muitas vezes a opinião do professor era absoluta, e assuntos variados e de interesse estudantil não entravam em pauta devido ao plano de ensino considerar determinados assuntos mais importantes, até mesmo as praticas pedagógicas contemplavam sucessos a uma minoria e até mesmo privilegiada parte dos estudantes.
O processo de escolarização inclui um currículo que se manifesta no controle das emoções, na criação de competências previamente definidas a serem adquiridas mecanicamente, na capacidade de atender a ordens, de absorver conteúdos escolares fragmentados, de sedentarizar-se. A escolarização vem servindo, sobretudo, para construir habilidades morais e acadêmicas isto é, internalizar as regras, não discuti-las, nem criticá-las ou criá-las. (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 119).
Concordando com as autoras do texto, as quais acreditam que os espaços institucionais, que vão dos corredores até o parque, deveriam atender e ser palcos de referência para as crianças poderem expressar o que dizem, sentem, pensam, brincam, mostrando que estão incluídos e participando da cultura, cidade e instituição em que estão inseridos. Tais necessidades requerem dos adultos energia e dedicação, capacidade metodológica para poderem interagir com as crianças, pois é participando das atividades pedagógicas que poderão descobrir o mundo da criança, sempre respeitando a sensibilidade que a situação requer. Ao serem vistas como parte de uma relação, o professor necessita negociar e descobrir os caminhos metodológicos, construindo narrativas e negociações, ouvindo as diversas vozes infantis, é desta forma que abrimos espaços para que as crianças tomem suas próprias decisões e troquem pontos de vistas a respeito do que as envolve. Para melhorar a compreensão do "mundo" das crianças, se deve fazer do uso da etnografia, pois esta se torna uma ferramenta de aprimoramento, conforme as autoras alertam para a importância que o olhar e a escuta no processo de pesquisa infantil:
[...] Ver e ouvir são cruciais para que se possa compreender gestos, discursos e ações. Este aprender de novo a ver e ouvir (a estar lá e estar afastado; a participar e anotar; a interagir enquanto observa a interação) se alicerça na sensibilidade e na teoria e é produzida na investigação, mas é também um exercício que se enraíza na trajetória vivida no cotidiano. (BARBOSA, KRAMER; SILVA, 2005, p. 48).
O universo infantil, o qual não é independente do mundo dos adultos, no entanto, pode-se dizer que é bastante complexo, diverso e dinâmico. Esta afirmação é defendida pelas autoras assim como a relação entre a família e creche é de suma importância, a qual pode ser promovida por meio da organização de atividades culturais e pedagógicas, tais como sessões de curtas catarinenses, cafés pedagógicos, festa das famílias, dentre outras.
Segundo dados levantados pelas autoras 85% das famílias escolhem as creches para matricular seus filhos de acordo com a proximidade com suas residências e que 98% das crianças ficam na creche em período integral. Conforme estudos realizados pela Julice e Luciana as crianças não possuem liberdade de se expressarem, pois as rotinas das creches possuem horários rígidos e predeterminados, fornecendo raras possibilidades das crianças de participarem da organização e seleção das atividades. Nesse contesto as pesquisadoras tomaram como fontes os desenhos, falas, brincadeiras, seus movimentos, suas pinturas e construções e assim perceberam que as crianças buscam diferentes formas de poderem se manifestar quanto às interpretações e reinterpretações que fazem da convivência que tem com os adultos e outras crianças, os quais lhes servem de exemplos. Este estudo, no entanto, abriu espaço a uma pergunta que todos que lidam de certa forma com uma criança deveriam se fazer: por onde andam as manifestações expressivas das crianças e também dos adultos nos espaços institucionais?
Ao estudar o cotidiano da creche foi observado as diferentes formas que as crianças utilizam para se comunicar e se expressar, como o olhar, as expressões faciais as quais são manifestações expressivas importantes e que ao nosso ver o professor deveria incentivar mais. Assim, as autoras buscaram se aproximar das crianças para melhor entende-las como o objeto direto da pesquisa e assim a brincadeira torna-se a ferramenta mais importante que a criança encontra pra se expressar, pois assim elas podem interagir com os adultos de forma natural e ao mesmo tempo prazerosa, é uma maneira também de reproduzirem o mundo dos adultos e em conformidade com o universo infantil.
As autoras demonstram ao longo do texto a falta sensibilidade por parte dos educadores, pois na sua posição de adulto impõem uma relação de autoritarismo. Destacam que os professores ainda vivem na função de outro tempo, o do relógio, deixando de lado a importância do tempo da atividade, nesse quesito ouvir as crianças é de extrema necessidade e importância como é afirmado por Paulo Freire (1990) que ao escutar as crianças os professores e adultos estarão abrindo um espaço para conhecer suas emoções e saberes, possibilitando uma troca de conhecimento que ao nosso ver só trará benefícios pra ambas as parte, além do enriquecimento das culturas.
Por fim, chegamos a conclusão de que o fato da criança estar em qualquer instituição de ensino, a criança não deixa de ser criança, ou o adulto não deixa de ser adulto quando se torna professor. O estudo em tela apresenta diversos métodos e direções a uma escuta e visão sensível as diferentes vozes e formas de expressão que as crianças utilizam para suas relações e para poderem ser vistos como parte da sociedade. Ao dar espaço a voz das crianças nas creches nada mais é que lhes assegurar o que é garantido por lei: o direito a participação. Devemos lutar sempre por isto, pois a criança assim como os adultos, tem necessidade de expressar seus mundos, suas singularidades participando ativamente como agentes e protagonistas de seu futuro, no entanto necessitam que os adultos lhe deem mais ouvidos e escutem o que querem dizer sem serem menosprezadas ou inferiorizadas, além de serem vistas como um ser inteiro, mas que precisam de orientações de como seguir um caminho historicamente construído e a forma de como molda-lo de acordo com suas relações e realidades.








Referências:
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira; DELGADO, Ana Cristina Coll. A infância no ensino fundamental de 9 anos. Porto Alegre: Penso, 2012.
QVORTRUP, Jens. Childhood matters: social theory practice and politics. Aldershot: Avebury, 1994.
DIÁRIO de campo. Relato. Florianópolis, 2012. (Julice Dias e Luciana Espíndola Santos – autoras do relato).
GIMENO-SACRISTÀN, José. El alumno como invención. Madri: Morata, 2003.




Acadêmica do Curso de Pedagogia - Primeira Fase do ano de 2015, no Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina
Informações a respeito dos autores retiradas do site do Portal da Transparência do Poder Executivo de Santa Catarina.




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