As Múltiplas Identidades em \"O Filho de Mil Homens\", de Valter Hugo Mãe

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM, IDENTIDADE E SUBJETIVIDADE PROCESSO SELETIVO 2014-2015

Autor: Rodrigo da Silva Tomé Título do Projeto: As múltiplas identidades em “O filho de mil homens”, de Valter Hugo Mãe Área de concentração: LINGUAGEM, IDENTIDADE E SUBJETIVIDADE Linha Pesquisa:

de ( ) SUBJETIVIDADE, TEXTO E ENSINO (X) PLURALIDADE LINGUÍSTICA, IDENTIDADE E ENSINO

As múltiplas identidades em 'O filho de mil homens', de Valter Hugo Mãe

O futuro estudo pretende analisar as múltiplas identidades no romance “O filho de mil homens”, do escritor angolano, naturalizado português, Valter Hugo Mãe. Como suporte teórico, será utilizada a concepção de identidade do crítico cultural Stuart Hall. Segundo Hall (2002), a ruptura da humanidade com a tradição, graças ao avanço das sociedades modernas, fez com que se repensasse o conceito de identidade. Até então, o termo identidade se referia à nacionalidade, tradição e/ou etnia de uma comunidade. Com a expansão do capitalismo em todo o mundo – a globalização aproximou as culturas, gerando inúmeras identidades; além de incentivar a individualidade. Nesta conjuntura, houve o que alguns teóricos chamam de “crise de identidade”, enquanto que para outros teóricos, assim como Hall, houve a fusão de culturas e a formação de novas identidades. Para estes, a modernidade tardia trouxe o desafio de, se não interpretar, ao menos, compreender a identidade cultural na pós-modernidade como múltipla e heterogênea. O romance, “O filho de mil homens”, tem em seu plano de fundo a ruptura com a tradição, nacionalidade, questões de gênero e constituição da família tradicional. As personagens de Valter Hugo Mãe, neste romance, são levadas a questionar suas verdadeiras identidades em oposição ao que se espera delas pela fictícia aldeia sem nome e atemporal em que vivem.

Palavras-chave: Identidade, Literatura, Pós-modernidade

1. APRESENTAÇÃO “Ser o que se pode é a felicidade. Pensou nisso a Isaura. Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser.” ― Valter Hugo Mãe

O futuro estudo pretende analisar as múltiplas identidades no romance “O filho de mil homens”, do escritor angolano, naturalizado português, Valter Hugo Mãe. “O filho de mil homens” é o quinto romance do escritor. Escrito em terceira pessoa – discurso indireto livre –, compreende vários personagens que se demonstram ora comuns, ora míticos, vivendo numa aldeia sem nome e atemporal. Por meio de uma narrativa poética e permeada de silêncios, o autor dá conta ao leitor de se tratar de uma sociedade conservadora e inóspita quanto aos comportamentos e identidades não tradicionais. No entanto, as personagens se encontram em dilemas identitários, e, ao fim do livro, acabam aceitando suas próprias identidades ou a de seus familiares e amigos – não antes passar por situações catárticas que alternam entre solidão, angústia e beleza. O Camilo começou a pensar que tantas coisas se aprendiam quando se ficava sozinho. Era importante que muita coisa fosse decidida nessa clausura da solidão, para que a natureza de cada um se pronunciasse livremente, sem estigmas. (MÃE, Valter Hugo, 2012, pg. X)

Como suporte teórico, será utilizada a concepção de identidade do crítico cultural Stuart Hall. Segundo Hall (2002), a ruptura da humanidade com a tradição, graças ao avanço das sociedades modernas, fez com se repensasse o conceito de identidade. Até então, o termo identidade se referia à nacionalidade, tradição e/ou etnia de uma comunidade. Com a expansão do capitalismo em todo o mundo – a globalização aproximou as culturas, gerando inúmeras identidades; além de incentivar a individualidade.

2. JUSTIFICATIVA

Nesta conjuntura, houve o que alguns teóricos chamam de “crise de identidade”: Em essência, o argumento é o seguinte: as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. (HALL, Stuart, 2002, pg. 8)

No entanto, para outros teóricos, assim como Hall, houve a fusão de culturas e a formação de novas identidades. Para estes, a modernidade tardia trouxe o desafio de, se não interpretar, ao menos, compreender a identidade cultural na pós-modernidade como múltipla e heterogênea. Se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte é apenas porque construímos uma cômoda história sobre nós mesmos ou uma confortadora “narrativa do eu”. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente. (HALL, Stuart, 2002, pg. 13)

No entanto, Stuart Hall não propõe que as tradições ou a perspectiva essencialista e cartesiana sejam abolidas, que uma “verdade” seja substituída por outra. Para Hall (2000), “diferentemente daquelas formas de críticas que objetivam superar conceitos inadequados, substituindo-os por conceitos “mais verdadeiros” ou que aspiram à produção de um conhecimento positivo, a perspectiva desconstrutiva coloca certos conceitos-chave “sob rasura”, ou seja, os conceitos até então sedimentados ficam em suspenso para serem novamente analisados e discutidos. Desconstruir e, a partir dessa desconstrução, dialogar. Neste caso, desconstruir o conceito de identidade. A proposta de Hall (2002) se baseia em cinco grandes descentramentos

O romance, “O filho de mil homens”, tem em seu plano de fundo a ruptura com a tradição, nacionalidade, questões de gênero e constituição da família tradicional. Sou muito crítico em relação ao espartilho criado para o que deve ser uma família. Porque as famílias são tudo e não há famílias normais. As famílias são feitas de todas as formas. Creio que, (...) em “O filho de mil homens” e em todos os meus livros, faço uma crítica à visão fechada da família. (...) Preciso acreditar numa família diferente, preciso acreditar que outras pessoas podem me ser familiares. Então, os meus livros passam muito por essa construção ou desconstrução do mito da família tradicional. (...). Em “O filho de mil homens”, o que eu faço? Invento um mundo de gente que não tem nada a ver uns com os outros, uma gente improvável que termina pertencendo-se. (MÃE, Valter Hugo, 2014)

As personagens de Valter Hugo Mãe, neste romance, são levadas a questionar suas verdadeiras identidades em oposição ao que se espera delas pela fictícia aldeia sem nome e atemporal em que vivem. A tensão entre o sagrado e o profano, entre o individual e o coletivo é, possivelmente, a grande problemática que o autor levanta com esta obra. Apesar de haver os ecos (não há uma voz presente), algo que sugere uma estrutura social, as personagens não se enquadram nesta estrutura e num primeiro momento se angustiam. Este mal-estar – que poderia ser atribuído à pós-modernidade ou pelos resquícios da tradição –, permeia todo o romance. O problema surge deste conflito tradição x pós-modernidade. Até onde essas duas visões de mundo são causa ou consequência deste mal-estar.

3. OBJETIVOS

Partindo da proposta dos descentramentos culturais de Stuart Hall, localizar no romance de Valter Hugo Mãe as

REFERÊNCIAS HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. Inglaterra: Open University, 1997; ____________A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002; ____________Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. MÃE, Valter Hugo. O filho de mil homens. Rio de Janeiro: Cosac Naify, 2012. _______________ “Acho que a arte tem de conter uma utopia”, Entrevista à revista Continente Online. Disponível em: 18/08/2014

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