As peças de cerâmica do Sector II da Senhora do Barrocal

June 1, 2017 | Autor: Margarida Cércio | Categoria: Medieval History, Medieval Archaeology, Medieval rural settlement, Rural Archaeology
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Do Império ao Reino. Viseu e o território (séculos IV a XI)

As peças de cerâmica do Sector II da Senhora do Barrocal Margarida Cércio | David Correia FCSH-NOVA

As cerâmicas são o vestígio arqueológico mais abundante, pois é também o que melhor se conserva e resiste ao passar do tempo. Durante as escavações arqueológicas da Senhora do Barrocal (Sátão) em 2014 foram intervencionados dois sectores. O sector I situa-se na plataforma virada à atual ermida e o sector II localiza-se junto ao tor granítico que domina o povoado e sob o qual existe um abrigo natural (Imagem 1). Aqui apresentam-se os principais resultados do estudo das peças em cerâmica que foram identificadas no sector II. Foram excluídos os materiais do sector I porque este ainda se encontra em escavação, estando planeada a última campanha para junho de 2016. Durante o período em que este povoado foi ocupado, as pessoas que ai residiram produziam a maioria dos seus objetos quotidianos em matérias perecíveis como a madeira, a cortiça ou fibras vegetais. Apenas utilizaram materiais mais duráveis, como a cerâmica, quando uma maior resistência do material conferia melhor funcionalidade ao objeto . Entre os artefactos feitos em cerâmica da Senhora do Barrocal encontram-se as telhas de meia cana, os cossoiros para fiar (1), e peças como potes/panelas, jarros, alguidares de base em disco (gráfico). Os potes/panelas (2) tinham a dupla função de armazenar e confecionar alimentos, normalmente cozidos e estufados. Os jarros (2) eram utilizados para a contenção de líquidos, tinham bases planas e são as únicas peças a ter pelo menos uma asa. O alguidar de base em disco (4) eram peças multifuncionais que tanto serviam para lavar (alimentos, roupa, etc.) como para misturar alimentos (como os que se usavam para fazer enchidos), amassar a massa do pão, etc. Função semelhante deveria ter o único vaso troncocónico aqui identificado, que é de menor dimensão que os alguidares, e não tem a característico fundo em disco daqueles. Semelhantes exemplares apareceram também em S. Gens (Celorico da Beira).

Imagem 1 – Escavação do sector I.

Jarro

10

Alguidar de base em disco

4

Pote/Panela

10

. Vaso Troncocónico

1

Gráfico - Número mínimo de recipientes (NMR ) do sector II por cada tipo de contentor cerâmico.

As peças eram fabricadas a torno rápido e eram cozidas em ambientes tendencialmente oxidantes.

1

2

Muitas das peças são decoradas quer no exterior da peça, quer, por vezes, no seu interior como ocorre frequentemente com os alguidares. As principais decorações são as caneluras, as incisões de pequenas traços, as digitações e punções. São também muito comuns os cordões plásticos (lisos, com incisões ou com digitações). As asas dos jarros eram em fita, que, em alguns casos , eram decoradas com incisões. O pequeno conjunto de peças em cerâmica identificado no sector II representa um conjunto doméstico do século X. Não obstante as peças não estarem completas, foi possível estabelecer o NMR (número mínimo de recipientes) e este é consentâneo com as peças usadas numa casa durante uma a duas gerações.

16

3

4

Bibliografia: DE MAN, A.; TENTE, C., Coords. (2014) – Estudos de cerâmica medieval. O Norte e Centro de Portugal -séculos IX a XII, Lisboa: IEM. TENTE, Catarina. (2010) Arqueologia medieval cristã no Alto Mondego: ocupação e exploração do território nos séculos V a XI. Lisboa: FCSH-UNL, Tese de doutoramento

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