Aspectos da cultura de massa e da ficção cientifica no livro “Carrie” de Stephen King.

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Aspectos da cultura de massa e da ficção cientifica no livro "Carrie" de
Stephen King.

Jurandir Lima dos Santos[1]


Como em toda produção em massa, critérios de padronização são sempre
necessários. Os produtos precisam trazer algo já familiarizado para que
haja uma identificação com seus consumidores. Muito mais do que um romance
de terror, "Carrie, a estranha" é uma obra extremamente melancólica e
dramática sobre uma menina que vive um verdadeiro tormento. O contexto
apresentado em Carrie expõe vários temas corriqueiros do nosso dia a dia
como, por exemplo, o problema da violência escolar, bullying, fanatismos
religioso entre outros, temas esses que mexem com muitos jovens e adultos
hoje em dia.
Um dos aspectos inerente da produção em massa é a busca pelo máximo
consumo, tendendo ao público universal. Nesse sentido, essa obra desempenha
muito bem esse papel. O que torna Carrie, um livro tão fascinante, tão
elogiado e sucesso de criticas, se da muito por conta daquilo que torna os
livros de Stephen King tão assustadores: a banalidade. Ele usa a vida
comum, pessoas comuns como vítimas de terrores inimagináveis. O livro caiu
nas graças do povo tornando-o um best-seller e sucesso de vendas atendendo
uma das necessidades da cultura de massa que é a venda do produto, Para que
uma obra atenda as demandas da cultura de massa e esse trabalho venha a se
tornar um best-seller, é preciso que essa obra "preencha um nicho". É
dar/mostrar algo que ninguém esteja escrevendo. Um bom exemplo é o que Dan
Brown fez com o "Codigo Da Vinci" ao ressuscitar o thriller religioso tão
popular na década de 50; com J.K. Rowling e a saga de Harry Potter no
segmento de romances de fantasia para adultos e jovens (bem escritos) e que
também podiam ser apreciados por pessoas mais velhas e etc. É nesse ponto
que King muda o jogo e conta a história conseguido mostrar Carrie através
de suas inseguranças comuns a qualquer moça de 16 anos. Talvez o que faça
Carrie ser tão icônico é o fato de tratar de pessoas comuns. Sem os poderes
paranormais dela, todo o resto poderia ser encaixado em qualquer escola e
em qualquer parte do mundo. Vemos, nesse sentido, um tema universal.
Carrie é tão popular que influenciou até uma novela da Globo. Se
pararmos pra analisar, um dos meios mais fortes da cultura massa hoje no
Brasil é a televisão. E apesar das diversidades culturais, econômicas,
politicas e etc, ela, a televisão, consegue veicular a maioria dos bens
simbólicos da cultura de massa. Uma tão importante que foi lançada num meio
midiático façanha que, até então, naquela época não se falava sobre isso.
Hoje com a ascensão dos meios de comunicação e da indústria cultural,
podemos ver novelas com referencias a Fiódor Dostoievksi, Clarisse
Lispctor mas naquela época não tinha essa conexão e Carrie, a Estranha
conseguiu muito bem ultrapassar fronteiras.
Na obra, nos deparamos com aspectos tipicamente feminizados, e ainda
sim se tornou sucesso em todos os segmentos sociais, de idade ou gênero.
Quantas pessoas nesse mundo não sofreram bullying? Quantos já praticaram
tal atrocidade. Um tema corriqueiro na sociedade onde, muitas vezes, começa
com uma simples brincadeira e termina onde a vitima passa a ser a
agressora. O que nos leva à análise de certas características dessa obra.
Primeiro Carrie é apresentada como a mocinha, um clichê nos romances,
vitima de bullying, tendo que suportar todas as privações da vida por parte
da sua mãe. Segundo, Carrie é colocada como agressora e é nesse contexto
que King se torna fenomenal. Quando Carrie se sente abandonada rejeitada
até por sua mãe, ela usa do seu único consolo que é o seu poder
telecinético para demonstrar sua superioridade e assim, poder se vingar
daquilo que sofreu. Quase 40 anos depois Carrie, a Estranha permanece atual
em sua temática (bullying) e é considerado um clássico do terror
psicológico. Fato esse, que hoje em dia é reconhecido por grande parte do
publico justamente por causa da reprodutibilidade. Essa reprodução técnica
viabilizou certa independência das reproduções artísticas. Com isso, os
meios de comunicação disponibilizam em longa escala, aproximando
principalmente o individuo da obra.
Desde o aparecimento da arte cinematográfica que obras literárias
servem de base para filmes. Nesta produção cinematográfica, Carrie, a
Estranha consegue sem o mínimo de esforço criar uma ligação muito forte com
o publico quando, expõe a eles, um contexto sombrio e de dor em um cenário
que suscita a perplexidade pelo estranhamento. Isso faz com que o publico
tenha a possibilidade de vivenciar, de experimentar as sensações de dor,
angustias e de desejo vividas por Carrie que, apesar de ser uma obra de
ficção, inclui na totalidade narrativa fatos presentes na realidade
cotidiana incitando o espectador a perder-se no limite entre ficção e
realidade. A adaptação ao cinema é sempre uma visão muito diferente sobre a
obra e que pode mostrar ou não, aquilo que o leitor podia não ter reparado
ao virar as páginas.
É inegável a responsabilidade da mídia por grande parte do sucesso de
Carrie ao adapta-la ao cinema e fazer os seus remakes. A adaptação de 1976
é considerada ate hoje como a mais famosa obra prima do cinema no gênero de
terror e junto com o Exorcista (The Exorcist - 1973), a ser indicada ao
Oscar. No século XX, a literatura de entretenimento fez aumentar
"vertiginosamente" o seu público consumidor. Um ponto positivo das
adaptações é que muitos livros são vendidos em massa em consequências das
adaptações, fato esse, que levam muitas pessoas a fonte. Muitas vezes o
livro precisa dessa ajuda para ser vendido, para entreter causando ou não
reflexão e para ser consumido em grandes quantidades com o objetivo de
lucrar. Há pessoas que simplesmente têm dificuldade em ler e, nesse caso, a
adaptação é mais uma forma delas se aproximarem da literatura. E em um país
como o Brasil que se lê muito pouco (média de 4 a 7 livros por ano)
adaptações como essas são importantes por que atingem mais pessoas e pra
muitos, são um atalho pra difundir as obras. Por esse motivo, é valido
salientar que o sucesso de uma obra adaptada ao cinema, e da propagação que
se tem da mesma devido a indústria cultural que investe em autores da moda,
produzindo livros capazes de cativar milhares de leitores, dão visibilidade
à história, levam mais pessoas a lerem os livros em que são baseadas
atuando de maneira otimista e positiva, uma vez que, colocam os bens
culturais produzidos pela humanidade ao alcance de todos.
Carrie, A Estranha é uma dessas histórias que, tanto na literatura,
quanto no cinema, são concebidas com o firme propósito de horrorizar.
Embora não muito corriqueiro, na maioria das vezes, pode-se ou não, um
trabalho como esse tornar-se um best-seller, uma referência mercadológica.
Uma característica da maioria dessas narrativas é o suspense um fator
praticamente inseparável do horror onde a intenção é fazer com que os
espectadores se vejam envolvidos com uma mistura de sensações. Essas
narrativas ficcionais, além da significação da vendagem, caracterizam-se na
cultura de massa apresentando ações imaginarias como se fossem reais, ou
seja, uma válvula de escape da rotineira realidade, podendo levar o leitor
não só visitar outros cenários, outras realidades, mas também visitar
outros indivíduos, coisa incabível no mundo real.
Ao encarar o livro Carrie, a Estranha o leitor não vê os fatos como
realidade, mas esse leitor devido a um acordo entre ele e o autor, mergulha
naquele mundo e os trata como verdade para aquela situação permitindo-o
aproveitar a obra mesmo que distante do seu cotidiano. E mesmo com duzentas
paginas o livro se tornou um clássico pelo folego que deu ao suspense e por
sua inovação.
REFERENCIAS

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica.
In: ADORNO, Theodor W. et al. (1990) Teoria da cultura de massa.
Introdução, comentários e seleção de Luiz Costa Lima. 3 ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, p. 205-240.
CALDAS, W. Literatura da cultura de massa. São Paulo: Musa Editora, 2000.
HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor W. A indústria cultural: o iluminismo como
mistificação de massas. In: ___ et al. (1990). Teoria da cultura de massa.
Introdução, comentários e seleção de Luiz Costa Lima. 3 ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, p. 155-204.
KING, Stephen. Carrie, A Estranha. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001.
SLATER, D. (2002). Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Nobel.
SODRÉ, Muniz. (1985). Best-seller: a literatura de mercado. São Paulo:
Ática.
SPIGNESI, Stephen. O Essencial de Stephen King. São Paulo: Madras Editora,
2003.


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[1] Graduando do nono do Curso de Letras com Habilitação em Língua
Inglesa, pela UNEB - 1 Universidade do Estado da Bahia, Campus-II,
Alagoinhas-BA.
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