Aspectos noéticos da teoria da intencionalidade em Husserl e em Gurwitsch: o ego transcendental

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Aspectos noéticos da teoria da intencionalidade em Husserl e em Gurwitsch: o ego transcendental
Hernani Pereira dos Santos
UNESP/Assis
Capes / Fapesp (2013/13035-7)
II Congresso Brasileiro de Psicologia & Fenomenologia – 27 a 29 de julho/2015
Referências
GURWITSCH, A. (1929). Phenomenology of thematics and of the pure ego: studies of the relation between Gestalt Theory and Phenomenology. In: ______. The Collected Works of Aron Gurwitsch (1901-1973), Volume II: Studies in Phenomenology and Psychology. Edited (this volume) by Fred Kersten. Heidelberg; Dordrecht; London; New York: Springer, 2009a.

______. (1940-41). A non-egological conception of consciousness. In: ______. The Collected Works of Aron Gurwitsch (1901-1973), Volume II: Studies in Phenomenology and Psychology. Edited (this volume) by Fred Kersten. Heidelberg; Dordrecht; London; New York: Springer, 2009b.

SARTRE, J.-P. La transcendence de l'ego: esquisse d'une description phénoménologique. Introduction, notes et appendices par Sylvie Le Bon. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1966.

ZAHAVI, D. Subjectivity and Selfhood: Investigating the First-Person Perspective. Cambridge: MIT Press, 2005.

ZAHAVI, D. Self and Other: Exploring Subjectivity, Empathy, and Shame. Oxford: Oxford University Press, 2014.

Margem da consciência











Campo temático







Tema
Esta explicação
O conjunto de implicações teóricas no sistema de Gurwitsch ou mesmo de Husserl etc.
A ansiedade de estar perante uma sala repleta de pessoas
Há pessoas em outras salas
Sinto saudades de minha casa
Sinto um desconforto provocado pelo frio ou pela fome
Etc.
Mesmo "universo" (mesma atitude)
"
Para cada tema, para cada estado mental na forma de cogitatio, há um domínio de co-dados. Se eu estou lidando com um eidos e vivencio a realização do ato em questão, eu estou, ao mesmo tempo, consciente de muitas outras coisas: outros objetos eidéticos relacionados ao eidos no qual a minha atenção está fixada; substratos individuais, concretos, que, possivelmente, servem de fundamento aos meus atos ideacionais; aquela parte do 'ambiente natural' que, eventualmente, está diante de mim, como a mesa, as paredes do quarto. Além disso, eu também tenho alguma consciência (awareness) do que está atrás de mim, do que está em minha casa, em meu jardim, na rua, na cidade na qual me encontro, do momento do dia e assim por diante. Memórias e expectativas que surgem. (GURWITSCH, 1929/2009a, p. 221).

"
Teoria do campo da consciência
Não apenas toda experiência possui um contexto, mas toda a vida consciente possui um ambiente imediato de vivências que são "co-dadas" à ocupação (tema) e uma "margem" que não está diretamente conectada com tal ocupação, mas que corresponde a um "halo" ou "horizonte" de temas potenciais.
Tema (noema) e campo temático. O primeiro é o centro organizador. Todo co-dado entra numa relação de Gestalt com ele.
Não é o raio de atenção que determina o objeto percebido, mas as conexões estruturais entre estes campos.
As modificações temáticas ocorrem no interior das possibilidades "previamente desenhadas pela natureza do tema e da organização estrutural de seus constituintes, pelo lugar que o tema tem em seu campo, pela estrutura específica do campo e pela distinção no interior do que é co-dado" (GURWITSCH, 1929, 2009a, p. 246).
A identidade do tema é apenas relativa a seu potencial de significação. Este apenas se atualiza em determinado contexto que é determinado estruturalmente pelo próprio tema.

Três séries de modificações temáticas (Gurwitsch, 1929/2009a, §§V-VII) relativas à profundidade progressiva nas variações do objeto percebido (tema):
Claridade e obscuridade entre o tema e o campo temático, sem que o tema seja destituído de seu lugar central no campo e sem que o conteúdo material do tema seja tocado. A clareza ocorre no centro do campo, em torno do tema, ao passo que a obscuridade pertence às zonas externas do campo. O campo possui um grau de indeterminidade. A clarificação é um processo de reorganização dos componentes do campo e não um ato de um agente.
Destituição do lugar central do tema no campo temático, sem que seja acarretada uma mudança no conteúdo material do tema. O tema aparece a partir da margem da consciência e ocupa o lugar de tema central. O tema que ocupava o lugar central se esvanece e passa a ocupar a margem, apesar de continuar como co-dado. Exemplo: demonstração de proposições matemáticas.
Mudança do conteúdo material do tema nos casos de reestruturação, singularização e sintetização do tema e de seus constituintes. Exemplo: destacamento abstrativo da linha de um retângulo (como constituinte de uma estrutura temática).



O ego deve corresponder à unidade de todos as vivências e ele é acessível apenas por meio da reflexão (que está na base do índice "meu").
O ego é, pois o contexto para as vivências. A "subjetividade" só pode se definir como pertença a este contexto, à "cadeia" de vivências, à partilha da "ordem de experiências".
Neste sentido, o ego não se opõe ao dinamismo do fluxo de consciência, mas corresponde ao próprio fluxo unitário.

Ao ter a experiência de algo, tenho experiência de mim mesmo? (Cf. ZAHAVI, 2005; 2014).
Para a teoria não-egológica, a experiência direta (irreflexiva) nunca coloca um ego, mas apenas o objeto. Os atos desta atitude são "impessoais" (GURWITSCH, 1940-1/2009b, p. 322).
A experiência do ego (autopercepção) é, pois, dependente da reflexão.
Também, o ego fenomenal "excede", como a coisa no espaço, a percepção que se tem dele. Ele se dá apenas "parcialmente".
Crítica do "ego puro"
Fenomenologia da temática e do ego puro, §IX (GURWITSCH, 1929/2009a) e Uma concepção não-egológica da consciência (1940-1/2009b).
Concordância com a posição da primeira edição das Investigações Lógicas e com o texto de Sartre, intitulado La transcendance de l'ego (SARTRE, 1966).
Não há ego como livre agente que estaria "por trás" dos atos psíquicos e que permaneceria idêntico apesar das variações no fluxo de consciência. O ego transcendental, sendo "vazio de qualquer conteúdo", é apenas um princípio formal que excede a imanência.
Não há, também, uma consciência direta do "eu empírico" (único eu possível para a concepção não-egológica)..
Os atos de atenção são reinterpretados nos termos destas modificações:
"Apreender" = voltar-se a um tema; "permanecer na apreensão" = "ser um tema" etc.;
Os modos de atividade do ego não são mais do que modificações da consciência temática;
Os objetos sofrem alterações no decorrer das modificações temáticas (não são idênticos);
A atenção não é uma função unitária, mas designa uma multiplicidade de fenômenos heterogêneos (realização noemática específica).
Não há evidência de um sujeito puro do ato, da mesma forma que a doutrina hylé-morphé se revela desprovida de fundamento.

A teoria da atenção
Em sua tese de 1929, com base nos desenvolvimentos da Psicologia da Gestalt, Aron Gurwitsch desenvolveu uma teoria contrária à teoria clássica da atenção (Husserl, Pfänder, Stumpf, Lipps).
Teoria clássica:
Atenção: "uma função que emana do 'sujeito psicológico' ou do ego" (GURWITSCH, 1929/2009a, p. 242). O ego ou sujeito psicológico é o centro a partir do qual os raios atencionais irradiam. Proximidade dos objetos = iluminados (noticiados); distância = obscuros (não-noticiados).
Os raios atencionais não modificam nada no conteúdo objetivo. Eles podem "singularizar" um dos elementos do objeto percebido (núcleo noemático) sem que o restante da estrutura sofra alteração. Por conseguinte, o objeto percebido não possui estrutura instrínseca.
O ego tem liberdade para dirigir os seus raios para objetos antes obscuros e torná-los claros e que permanecem, nesta variação de iluminação, idênticos.

Do ponto de vista da Psicologia da Gestalt, é inaceitável que o objeto percebido permaneça idêntico apesar das variações nos atos atencionais. Isto porque modificar uma parte do objeto percebido é alterá-lo por inteiro, visto que ele possui uma "estrutura intrínseca" (Gestalt). Teoria do campo da consciência.


§2. A concepção não-egológica de Gurwitsch.
Ego puro
A crítica de Natorp: toda vivência intencional possui, essencialmente, relação com um ego que deve se manter idêntico apesar de todas as variações no fluxo temporal. Este é um princípio formal (no sentido axiomático) que é exigido, mas que não necessita de legitimação.
Introdução à Psicologia segundo o método crítico (Einleitung in die Psychologie nach kritische Methode), 1ª edição de 1888. Em 1912, uma nova versão do primeiro volume foi publicada, mas, agora, o livro teria o título geral "Psicologia geral segundo o método crítico" (Allgemeine Psychologie nach kritische Methode).
Na primeira edição das Investigações, Husserl discorda que haja um "centro de referência subjetivo" chamado "eu primitivo" (Investigações Lógicas, II, v, §§4, 6, 8, 12b).
Diz que há apenas um eu empírico como "complexo concreto de vivências".
A autopercepção do "eu" se dá da mesma forma que a percepção de qualquer objeto externo. Há certa "inadequação". Perfilamentos (Abschattungen).

Na segunda edição (1912), no entanto, Husserl muda de posição: o ego puro é o sujeito das vivências. O eu empírico, pelo contrário, é transcendente como todas as outras transcendências. A unidade da consciência requer um princípio egológico, como aquilo que permanece na mudança (§4).
Para Husserl, contudo, diferentemente de Natorp, o ego puro possui uma evidência própria (possuindo uma relação particular com a evidência do cogito). Ele pode ser constatado fenomenologicamente.
Em Ideias I, fala do ego como uma "transcendência na imanência". É um "resíduo" da redução fenomenológica (§57). Toda vivência possui relação com ele e ele espraia o sentido de subjetividade (§80). É o "sujeito da espontaneidade" (volição) (§122).
Os três conceitos de consciência
Investigações Lógicas, v, I-II.
§1: O termo "consciência" (Bewußtsein) é plurívoco.

Consciência como fluxo unitário de vivências ("eu empírico") (§2-4, 6, 8)
Vivências (Erlebnisse) = "conteúdos de consciência" (Bewußtseinsinhalte) (ex.: percepções, representações da fantasia, de imagem, atos de pensamento conceitual, suposições e dúvidas, alegrias e dores etc.). É o que está presente na unidade da consciência.
As partes ou momentos das vivências são, também, "vividos" (erlebt), são "conteúdos de consciência intrínsecos" (reelle Bewußtseinsinhalte).
As vivências formam um único tecido através de suas múltiplas ligações e interpenetrações. Esta é a sua "unidade intrínseca" (reele Einheit).

Consciência como "percepção interna"
"Ser-vivenciado" (Erlebnitsein).
É a percepção que se dirige para vivências que são simultâneas a ela e as apreende como "objeto" (Brentano). Pensamento circular.
Em Husserl, é o ato que se volta para o fluxo unitário de vivências que pode ser simultâneo ou sucedâneo, como "complexão" de vivências (como no primeiro sentido). Apoia-se na retenção (passado implicado no presente). É a reflexão.

Consciência como vivência intencional
A relação da pessoa (eu empírico) com o objeto intencional.
"Ser-objeto" (Gegenstandsein).
Vivências intencionais: aquelas nas quais algo aparece (etwas erscheint). Elas "dirigem-se para" (richten sich) os objetos. Estes objetos não são, portanto, conteúdos intrínsecos (reelle).
Em Ideias, este conceito desenvolve-se no de noema.
§1. O ego na teoria da intencionalidade de Husserl.
Conteúdo
§1. O ego na teoria da intencionalidade de Husserl
1.1. Os três conceitos de consciência
1.2. Ego puro
1.3. Atenção e mudanças atencionais
§2. A concepção não-egológica de Gurwitsch
2.1. A teoria da atenção
2.2. Teoria do campo da consciência
2.3. Crítica do ego puro

"
[…] nenhuma exclusão de circuito pode suprimir a forma do "cogito" e eliminar o "puro" sujeito do ato: o "estar direcionado para", o "estar ocupado com", o "posicionar-se em relação a", o "experimentar", o "sofrer de" esconde necessariamente em sua essência que cada um deles é justamente um raio [Richtungsstrahl] "a partir do eu" ou, na direção inversa, "em direção ao eu" – e esse eu é o eu puro, ao qual a redução não pode causar dano algum (Hua III/1, p. 179; Suzuki, p. 182-183).

[...] ele é totalmente vazio de componentes de essência, ele não tem absolutamente nenhum conteúdo explicável, é em si e por si indescritível: é eu puro e nada mais (Hua III/1, p. 179; Suzuki, 183). 

"
Atenção e mudanças atencionais
Em Ideias I, o ego desempenha um papel central (e funcional) na teoria da atenção (§§35, 92).
Toda percepção tem um "halo de intuições de fundo", com seu "fundo objetivo" que é "co-intuído" (§35). Os objetos do "fundo" estão implícitos. O "olhar do espírito" os torna explícitos. "Atenção". Ocorre algo parecido na recordação, por exemplo, mas, também, em outros modos do cogito. "Raio de visão do eu puro". Direcionamentos e desvios do olhar.
Na esfera noética ou noemática, o raio que parte do eu desempenha uma função importante (§92).
Do lado noético, é responsável por fazer o sujeito "passear" nos níveis de recordação ou mudar do mundo recordativo para um mundo imaginário.
Do lado noemático, privilegia este ou aquele aspecto ou momento objetivo. Traz para a "luz" ou envia para a "penumbra". Altera os modos de aparecer, mas não a composição de sentido daquilo que aparece.
"
O raio de atenção se dá como partindo do eu e terminando no objeto, orientando-se na sua direção ou dele se afastando. O raio de atenção não se separa do eu, mas ele mesmo é e permanece raio do eu. O "objeto" é atingindo, é alvo, posto somente em referência ao eu (e por ele mesmo), mas ele mesmo não é "subjetivo". Uma tomada de posição que comporta em si o raio de atenção do eu é, por isso, ato do próprio eu, o eu age ou sofre, é livre ou condicionado. O eu [...] "vive" em atos como estes. [...] O que ocorre no fluxo de vividos, fora do raio de atenção do eu ou do cogito, se caracteriza de maneira essencialmente outra, está fora da atualidade do eu, porque é o campo de potencialidade para os atos livres do eu. (Hua III/1, pp. 214-215; Suzuki, 213).

"







Eu puro
Raio de atenção
Fundo objetivo
(Campo de potencialidades)
Objetividade
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