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Idem.
Idem.
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Idem.
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Idem.
Idem.
Idem.
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GLAAD, op citi, p. 5
GLAAD, op citi, p. 7
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COLSTON, Cherese E. Seeing the Unseen: Underrepresented Groups in Prime-Time Television. Eastern Michigan University (2013). Senior Honors Theses. Paper 331.
Idem.
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Idem. Original: The caricatured and stereotyped portrayal of trans issues is the same as racist and sexist jokes. It gives phobic people a means of expression towards other people who are specifically targeted by these jokes. Where are the transgender social heroes who have raised thousands of pounds for charity?
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Idem.
Como sua orientação sexual não foi atestada pela série e ele tem envolvimentos com mulheres, me refiro a esta como uma heterossexualidade passável, uma vez que ele pode ser lido como heterossexual em uma sociedade heteronormativa.
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Como sua orientação sexual não foi atestada pela série e ele tem envolvimentos com mulheres, me refiro a esta como uma heterossexualidade passável, uma vez que ele pode ser lido como heterossexual em uma sociedade heteronormativa.
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JEFFRIES, Stuart 'There is a Clue Everybody's Missed': Sherlock Writter Steven Moffat Interview. In: The Guardian. Postado em 20/01/2012. Disponível em http://goo.gl/QtxoUn
JEFFRIES, Stuart 'There is a Clue Everybody's Missed': Sherlock Writter Steven Moffat Interview. In: The Guardian Postado em 20/01/2012. http://goo.gl/QtxoUn
Priscilla Majella
[email protected]ícula: 1210816JornalismoOrientador: Gustavo ChataignierPriscilla Majella
[email protected]ícula: 1210816JornalismoOrientador: Gustavo ChataignierA Assexualidade na Mídia TelevisivaA Dificuldade de Desmistificar a Narrativa SexualA Assexualidade na Mídia TelevisivaA Dificuldade de Desmistificar a Narrativa SexualPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
Priscilla Majella Binato
[email protected]
Matrícula: 1210816
Jornalismo
Orientador: Gustavo Chataignier
Priscilla Majella Binato
[email protected]
Matrícula: 1210816
Jornalismo
Orientador: Gustavo Chataignier
A Assexualidade na Mídia Televisiva
A Dificuldade de Desmistificar a Narrativa Sexual
A Assexualidade na Mídia Televisiva
A Dificuldade de Desmistificar a Narrativa Sexual
Departamento de Comunicação Social
25/11/2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 2
ASSEXUALIDADE & NORMATIVIDADE SEXUAL 6
ASSEXUALIDADE, AVEN E COMUNIDADE ASSEXUAL 6
ASSEXUAIS E SEUS ESTEREÓTIPOS 7
NORMATIVIDADE SEXUAL E MEDICALIZAÇÃO 10
REPRESENTAÇÃO LGBTQIAP+ NA MÍDIA TELEVISIVA 15
O QUE SIGNIFICA FALAR EM REPRESENTAÇÃO? 15
VISÕES DE REPRESENTAÇÃO LGBTQIAP+ 19
THE BIG BANG THEORY E SHERLOCK: ASSEXUALIDADE NA TELEVISÃO? 25
SHERLOCK: ATUALIZAÇÃO COM VALORES TRADICIONAIS 25
THE BIG BANG THEORY: HUMOR DE (RIR DA) MINORIA 28
ESTEREÓTIPOS E NEGAÇÃO 32
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
INTRODUÇÃO
LGBTQIAP é um termo que surge como uma forma dar visibilidade a alguns grupos que fazem parte da chamada "comunidade gay" mas que não são homossexuais. Abrigando mais letras e mais orientações sexuais (e identidades de gênero), o termo se torna amplo. As letras LGBT continuam representando lésbicas, gays, bissexuais e transexuais – a única identidade de gênero abrangida pela sigla. O Q entra como um acrônimo para queer (uma pessoa que está dentro do espectro de identidades de gênero ou orientações sexuais, mas que não se identifica especificamente com alguma das já conhecidas) ou questioning, que seria aquele que ainda está se questionando sobre estar dentro de algum arquétipo de sexualidade. O I se enquadra no intersexual, que são pessoas que nasceram com anatomia e/ou genética que não se encaixam facilmente nos estereótipos de pessoa ovariada ou de pessoa testiculada. O P é para o poliamoroso, pessoas que não se enquadram na forma monogâmica de relacionamento e também para o pansexual, pessoas que sentem atração por outros de qualquer identidade de gênero e orientação sexual. O A entrou para representar os assexuais... e os aliados ao movimento – pessoas que não estão nem dentro do espectro de identidades ou orientações e que são abrangidas pela mesma letra.
A invisibilidade da assexualidade como uma orientação sexual pode ser vista até na própria sigla do movimento, então não é exatamente uma surpresa que isso se reflita na sociedade em geral. A ideia de que alguém simplesmente pode não ser interessado pelo ato sexual (ou até não sentir atração sexual) parece ser tão distante da nossa sociedade sexualizada que isso, nos raros momentos em que é apresentado, é na forma de estereótipos. A narrativa do sexo como auge da felicidade humana que se perpetuou na mídia televisiva durante os anos leva à ideia de que pessoas que não querem fazer parte de tal parte da sociedade são erradas e, por isso, devem ter algum problema. Dessa forma, quando a visibilidade de assexuais entra em foco na mídia, ela é muitas vezes apresentada de formas a fazer um desserviço ao debate da assexualidade. A assexualidade não só é muitas vezes confundida com o celibato – a decisão de se manter privado do ato sexual, apesar de ter o desejo sexual e a atração sexual – como também muitas vezes é relacionada com estereótipos de personagens com doenças mentais ou distúrbios de personalidade – como a Síndrome de Asperger, a psicopatia e outras disfunções.
Esse fator se agrava ainda mais quando vemos tanto em pesquisas recentes quanto em mais antigas que o número de assexuais na sociedade é de 1%. Esse dado foi primeiro encontrado por Alfred Kinsey, fundador do Instituto Kinsey para Pesquisas sobre Sexo, Gênero e Reprodução. Sua pesquisa, feita entre 1940 e 1950, apontou que aproximadamente 1% dos entrevistados não demonstrava interesse pela atividade sexual. Esses dados foram recolhidos com base nas respostas dos sujeitos da pesquisa, que foram feitas com base em relatos subjetivos. Em 1994, um estudo feito na Inglaterra que se propôs a fazer uma análise da sexualidade dentro do país constatou que 1% dos que responderam nunca se sentiram sexualmente atraídos por ninguém.
Outro ponto relevante para a discussão é que a assexualidade ainda não foi estabelecida como uma orientação sexual, pois há uma confusão se esta poderia realmente ser uma dessas tantas orientações. Como Elisabete de Oliveira apontou no seu texto "Saindo do Armário: A Assexualidade na Perspectiva da AVEN", a assexualidade é um desafio para os estudos da sexualidade pois há uma dificuldade de compreender como um conceito de sexualidade poderia acontecer na não-sexualidade. Apesar disso, da mesma maneira como outros grupos sociais lutam por uma melhor representação dentro da mídia – o chamado quarto poder – seja de uma forma jornalística ou de uma forma ficcional. Hoje em dia, a importância da televisão para a formação de uma estética social e a compreensão de fatores da nossa sociedade é enorme. A televisão tem influência na nossa sociedade das telas, o que não sofre uma interferência tão grande pela audiência da própria televisão estar diminuindo, uma vez que os mesmos programas são vistos em outras telas. Na tela celular, na tela computador, na tela tablet, tudo pode ser visto da mesma forma e recebido pelo expectador ainda com mais força, pelos produtos midiáticos estarem cada vez mais presentes ao que nós nos cercamos de telas.
A representação de minorias na mídia, então, se faz de grande importância. Tanto sendo uma representação negra, indígena, asiática ou de etnias prejudicadas pelo racismo, até uma representação de diferentes orientações sexuais e identidades de gênero, a representação é importante em todos os meios tanto para poder quebrar estereótipos que cercam essas minorias, quanto para dar visibilidade à elas, como no caso da assexualidade. Como disse Alexandre Cavalcante na sua pesquisa sobre representação LGBT em telenovelas: "Não é só a representação pela representação. Ela vem carregada de ideias que se difundidas de maneira errada, podem fazer mais mal do que bem. Esse é o punhal de dois gumes que a mídia televisa enfrenta hoje".
Esse tipo de tratamento e a importância que é dada pelo espectador para esses meios de mídia faz com que a análise dos seus personagens e das mensagens que eles passam sejam importantes. Mas, acima de tudo, algo que já ficou concretizado é que a representação de minorias é necessária nesses programas de grande audiência. Isso não só é uma forma de implantar a ideia dessas minorias na mentalidade do espectador, fazendo com que ele compreenda a presença deles no seu mundo, mas também é uma forma de membros dessas ditas minorias se observarem dentro dos programas que assistem e verem que são parte da sociedade como um todo. Isso pode ajudar a melhorar a autoestima de todo um grupo social. A má representação, entretanto, pode fazer o contrário.
Utilizando o exemplo dos negros na televisão, já foi constatado em diversas pesquisas que a má representação dos negros faz com que eles se vejam de forma depreciativa e a mesma coisa é feita com a má representação feminina para a autoestima feminina em geral. O artigo "A Representação da Mulher Negra nas Telenovelas Brasileiras: Um Espaço em Construção" das graduandas em história da UEPB Guarabíra Francijane Lima dos Santos e Marcia Ramos da Silva junta essas duas hipóteses em uma análise da representação dos estereótipos que cercam a mulher negra. Elas analisam a novela Anjo Mau e constatam que os arquétipos feitos na novela inferiorizam a sua presença e "expressam as reais intencionalidades de uma sociedade que – mesmo de forma camuflada – procura diminuir a cultura e autoestima do outro".
A mesma coisa acontece com a má representação de outras minorias em meios de comunicação de massa. Os que se veem dentro daquela representação estereotipada e, muitas vezes, humorística ao ponto do ridículo sofrem com um humor feito as custas do oprimido. Isso não só com os negros na cultura de massa que pode ser vista como "embranquizada" – onde o molde de beleza é feito no padrão branco europeu. Também é feito, como citado por Przybylo, com os homossexuais, bissexuais, pansexuais, etc. dentro de uma sociedade heteronormativa. Assim como é feito com os transexuais ou de outras identidades de gênero dentro de uma sociedade cisnormativa, e com as mulheres em uma sociedade patriarcal. O último exemplo é exatamente o ponto: os assexuais dentro da sociedade sexonormativa.
ASSEXUALIDADE & NORMATIVIDADE SEXUAL
ASSEXUALIDADE, AVEN E COMUNIDADE ASSEXUAL
A melhor descrição de assexualidade é de que esta é uma orientação sexual baseada na falta de atração sexual ou ainda que sentem muita pouca atração. A quantidade de outras "suborientações" ou pequenos grupos de pessoas com identificações diferentes que se engloba dentro do conceito da assexualidade ainda é desconhecida, principalmente à medida que diferentes pessoas com diferentes vivências começam a identificar as próprias orientações como vertentes desse conceito tão abrangente. O portal Comunidade Assexual A2 (www.assexualidade.org), que é a principal fonte de informação sobre essa orientação sexual no Brasil, afirma que a falta de atração sexual pode acontecer por diversos motivos. Esses são tanto a própria orientação como "devido à traumas, problemas hormonais ou transtornos psicológicos". Nisso, o próprio website faz a sugestão: "Aqueles que não se sentem confortáveis com a falta de interesse sexual devem procurar tratamento".
Essas discrepâncias na auto identificação – que vem da própria decisão da pessoa, do seu conforto e aceitação dessa orientação como parte da sua identidade, não de um diagnóstico clínico – assim como a invisibilidade da orientação sexual, são pontos que ajudam na criação e no estabelecimento de estereótipos muito comuns de como são os assexuais. Há um desconhecimento geral do que significa ser parte desse grupo que sites como a já citada comunidade e a AVEN – Assexual Visibility and Education Network (www.asexuality.org/), nos Estados Unidos, procura esclarecer ao explicar melhor o significado de ser assexual. A AVEN é, atualmente, o maior grupo de assexuais da internet, com mais de 30.000 membros e possuindo páginas em inglês (língua original), chinês, checo, holandês, finlandês, francês, alemão, hebraico, italiano, espanhol, japonês, polonês, russo e turco.
A AVEN, assim como a Comunidade Assexual A2, tem como objetivo a visibilidade da assexualidade e o debate público desta orientação sexual. Ela começou como um território de discussão antes de evoluir em um espaço para a pesquisa e a criação de conhecimento sobre a assexualidade, com o uso de fóruns de conversa pelos membros que não só compartilham informações sobre o que eles sentem e vivem como o que recebem de volta da sociedade. Ela foi fundada em 2001 pelo americano David Jay e desde então a página traz explicações gerais sobre a orientação com um FAQ (perguntas frequentes) e explicações direcionadas aos pais, familiares e amigos de assexuais. Além disso, a página também tem uma sala de bate-papo e uma loja virtual.
A Comunidade Assexual A2 foi criada anos depois com objetivos e uma formatação bem parecida do que a AVEN e, inclusive, listando-a no seu espaço de principais links. O blog começou com um fórum criado em 2009 por Júlio Neto e que sofreu uma grande modificação durante os anos, com o maior destaque em 2012. Os seus principais objetivos eram dar suporte a outros assexuais e trazer conhecimento sobre a assexualidade em uma plataforma brasileira. O site também ganhou um fórum de discussão em 2014 onde os assexuais brasileiros poderiam conversar e discutir mais sobre a orientação.
Além da discrepância na identificação do pertencimento à orientação sexual, também há um grande problema de falta de embasamento teórico dentro da formação da assexualidade como uma orientação sexual válida. Por ser um conceito recentemente identificado e rotulado, muito do conhecimento que há sobre a orientação vem das pessoas que se identificam por ela, dos que interagem dentro dos fóruns de discussão dos portais e dos que estão constantemente debatendo o que significa ser assexual.
ASSEXUAIS E SEUS ESTEREÓTIPOS
Uma das confusões que se faz sobre a assexualidade é de achar que ela é um bloco fechado de pessoas que não sentem atração sexual, não tem relacionamentos, não fazem sexo e não tem nenhuma conexão com outras pessoas. Isso é um dos primeiros estereótipos do assexual: o pensamento de que eles são pessoas frias que não conseguem se conectar com os outros, por não sentirem essa atração sexual tão normativa na sociedade ocidental.
Nessa questão, a AVEN é bem enfática na distinção de vários tipos de atrações que podem contextualizar a sexualidade de uma pessoa. Na página de perguntas frequentemente perguntadas do site, eles fazem a distinção entre atração sexual, atração sensual, atração romântica e atração estética. A sexual se define no "desejo de ter contato sexual com uma pessoa, de dividir a sua sexualidade com eles", já a sensual é colocada como o "desejo de ter contato não-sexual com uma pessoa, como toques afetivos". A atração romântica é o desejo de se envolver romanticamente com outra pessoa e a atração estética é a atração à aparência de uma pessoa, sem que seja romântica ou sexual.
Na mesma página, a comunidade procura desenvolver melhor a questão das diferentes atrações e como elas interferem na identificação do assexual. A comunidade faz a distinção entre o assexual romântico e o assexual arromântico. O primeiro é uma pessoa que não sente atração sexual, mas sente atração romântica, por isso esta não teria problemas em ter relacionamentos ou se apaixonar, ela só não se interessaria diretamente por sexo ou sentiria atração sexual. Já o segundo é o assexual que também não sente nenhum impulso atrativo por outra pessoa dentro de uma dinâmica romântica. Ele não se sente compelido a entrar em um relacionamento com ninguém, independente do gênero.
Ainda nesse ponto, o assexual romântico também pode ser heteromântico (que só sente atração romântica pelo diferente sexo), homoromântico (somente sente pelo mesmo sexo), biromântico (sente pelos dois sexos), panromântico (sente apesar da identidade de gênero, por todas as identidades de gênero) ou até outros, dependendo da sua orientação dentro dessa atração específica. Dessa forma, o espectro de orientações sexuais fica ainda mais distinto, preparado para englobar uma diversidade maior de seres humanos nas mais diversas possibilidades e variações.
Entretanto, o esclarecimento dessa questão não termina de desmistificar o estereótipo do assexual. A ideia de que uma pessoa simplesmente pode não querer sexo é colocada no mesmo patamar de alguém que tem uma doença. Slogas e emblemas de "sexo é vida" e a constatação de que o ato sexual é o apogeu da vida de um ser humano destacam ainda mais essa influência do pensamento. Não só como esse status no significante da vida – nasce, cresce, se reproduz (faz sexo) e morre – como também no status social e na criação de vínculos interpessoais – o sexo ou o desejo sexual (na forma de libido) pode ser teorizado como o motor para toda e qualquer relação humana. Qual seria o motivo para uma pessoa não iria "querer" fazer sexo? O sexo nos é apresentado o tempo todo como uma exigência para a classificação de ser humano, para a colocação como parte de um mundo intrinsecamente sexual, por que alguém iria "querer" estar tão desconectado assim?
O assexual, como o homossexual ou membro de qualquer outra orientação sexual, tem a sua sexualização como algo fora da sua escolha, algo acima do "querer" supracitado. Ele não escolhe não sentir atração sexual, apesar dele escolher ter uma vida sexual ou não – o que muitos assexuais têm, apesar de não sentirem essa atração. Essa é a principal diferenciação entre a assexualidade e o celibato, que é outra confusão que é bastante feita. O celibatário é alguém que decidiu se abster do ato sexual, independente dos seus motivos, sejam eles religiosos ou políticos ou quaisquer. Ele pode sentir atração sexual ou não, podendo fazer parte dessa minoria ou não. A principal diferença é que apesar do celibatário poder ser assexual – ao que uma pessoa pode ser celibata por não sentir atração sexual – nem todo assexual é celibatário, já que um assexual pode decidir ter uma vida sexual ativa independente da sua orientação romântica ou da sua falta de atração sexual.
Na própria questão do fazer sexo ou não há divergências dentro da comunidade que dividem ainda mais. Um costume ao se falar da comunidade é de chama-la de "área cinza" como uma forma de abranger diferentes pessoas com diferentes narrativas. Dentro da área cinza se enquadram algumas outras orientações sexuais que são afiliadas à assexualidade e ao conceito de que não sentem atração sexual. Há, por exemplo, os demissexuais, que são pessoas que se identificam como só sentirem atração sexual depois de formarem um vínculo emocional. Eles se identificam dentro do espectro da assexualidade, desse grupo, mas se colocam como uma forma diferente de experimentar a assexualidade, de sentir essa falta de atração sexual. Da mesma forma, outras pessoas acabam criando identidades diferentes e identificações diferentes, como uma forma de poderem se encontrar uma denominação que as englobe e, assim, de poderem ter um núcleo onde também podem se socializar com outras pessoas.
Entretanto, acima de tudo, a assexualidade se monta como uma oposição ao mundo hipersexualizado e ao ideal de sexonormatividade, que vê em todas as pessoas um desejo sexual e uma necessidade de suprir tal desejo. A assexualidade como uma forma de se posicionar politicamente e se excluir da sexusociedade, como define Przybylo (2011), que domina a cultura ocidental. Dessa forma, há quem coloque a assexualidade até como um movimento político de combate, uma forma de contracultura, uma reação aos valores comuns. Em algumas teorias mais radicais, há até a noção de que quando o assexual se coloca contra essa cultura do sexo e, também, da reprodução, ele até se propõe a ser um ponto de foco na destruição da noção do sexo. A ideia da assexualidade como uma quebra de um padrão da sexusociedade, para Przybylo, entra como a noção do pensamento feminista para quebrar a lógica patriarcal – uma nova força que se propõe a desestruturar paradigmas.
NORMATIVIDADE SEXUAL E MEDICALIZAÇÃO
Depois que se desqualifica a ideia de que o assexual poderia estar, na verdade, optando por se abster da vida sexual, só se pode chegar à conclusão de que há algum problema – seja endócrino ou psicanalítico ou ainda de outra forma – com a pessoa que se identifica dessa maneira. Do mesmo jeito como a Comunidade Assexual A2 e a AVEN correm nas suas definições para afirmar que o assexual não é celibatário, as duas comunidades também fazem questão de afirmar que o assexual não está doente ou que ele não tem nenhuma disfunção. O que é uma percepção bem comum para allosexuais (termo utilizado dentro das comunidades para definir as pessoas que não são assexuais, ou seja, que sentem atração sexual) que desconhecem a orientação.
Um bom exemplo disso é esse trecho de uma das postagens do blog da Comunidade Assexual A2, onde os administradores da página contam das suas frustrações antes de se depararem com a possibilidade de existir uma assexualidade:
"Somos pessoas que pensavam possuir algo de errado. Algo não estava certo. A sociedade nos impunha a obrigação de aceitar certos pensamentos e nós éramos impelidos a seguir um modelo comportamental incompatível com a nossa psique e a nossa sexualidade. Mas essa realidade começou a mudar quando, através da internet, percebemos que não estávamos sozinhos e que existiam outras pessoas como nós".
Há uma medicalização (usando o conceito de Peter Conrad de que medicalização seria a explicação de problemas não médicos com termos médicos) forte do assexual, uma voz científica que diz que essa pessoa só pode ser dessa maneira por traumas, problemas hormonais e até transtornos psicológicos. Esses três podem, de fato, serem causas clínicas para a falta de libido ou desejo sexual, como apontado pelas duas comunidades assexuais, mas não tiram a base da assexualidade como orientação sexual. Ainda mais quando se constata que os indivíduos identificados dessa forma podem ser perfeitamente saudáveis e ainda não sentirem desejo sexual, como uma forma insipiente de se manter sociável.
A psicanálise, especialmente, é comumente negada dentro de meios assexuais por uma resistência das duas partes de verem que há possibilidade de uma compreensão mútua. Os assexuais comumente vêm a psicanálise com ressalvas, principalmente por uma concepção de que esta tem uma matriz sexunormativa e fechada para esses novos conceitos. Mas em releituras de Freud e Foucault é possível encontrar um pensamento assexual. Éléonore Pardo, pesquisadora de psicologia clínico do Centro de Pesquisa para Psicanálise, Medicina e Sociedade (CRPMS), por exemplo, sugere em um artigo de que assim como Freud descreve no Complexo de Édipo a percepção de que a pessoa poderia se tornar heterossexual ou homossexual durante a formação da libido e do ego, também poderia haver a pessoa assexual.
Ainda na ideia da medicalização da assexualidade, Anthony Bogaert contesta os discursos clínicos que conectam a orientação assexual com doenças mentais. Para isso, ele usa o exemplo do homossexual, que mesmo as pessoas dessa orientação tendo uma preocupação com a saúde, isso não mais é tratado como algo endêmico de toda a orientação. 'Então, mesmo se há um nível elevado de preocupação ou outro problema mental ocorrente nas pessoas assexuais, isso não deveria ser usado para patologizar todos os assexuais ou a assexualidade em geral'.
Esse ideal médico analítico da assexulidade é permeado por um outro conceito, o da normatividade sexual. Ela Pryzbylo, que faz pesquisas em estudos feministas no Canadá, faz uma análise desse conceito no seu artigo "Crisis and Safety: the Asexual in a Sexusociety" e ela monta a ideia de que a normatividade sexual é baseada em toda uma sociedade que repete esses conceitos – a sexusociedade. Ao definir o termo, Pryzbylo afirma que "o 'mundo sexual' é para os assexuais muito parecido com o que o patriarcado é para feministas e a heteronormatividade é para a população LGBTQ". Dessa forma, a sexusociedade seria uma força opressora que colocaria essa população em embate com o status-quo social. Entretanto, Pryzbylo estabelece a diferença entre a opressão às feministas e aos assexuais com a afirmação de que diferente da sexusociedade, o patriarcado tem uma representação monolítica, dispersa e incoerente. A semelhança entre os dois e a heteronormatividade vem no fato de que as três estão organizadas ao redor do imperativo sexual.
O imperativo sexual que rege as três formas de opressão se dá na forma de quatro fundações do sexo na cultura ocidental. As quatro são: o sexo sendo visto como a forma superior de relacionamento, uma forma privilegiada; a sexualidade sendo um ato fundamental para a formação pessoal; o ato sexual configurado como algo imprescindível para a saúde; e o sexo configurado como genital e, no caso do heterossexual, referente ao coito, com o objetivo do orgasmo ou da ejaculação. Esse imperativo se coloca em toda sociedade como uma regra, constituindo que toda pessoa a não cumprir essa formatação ideal não está fazendo de forma correta ou até não está tendo uma relação prazerosa.
Essa repetição contínua da ideia de que o sexo é mandatório e essencial é reproduzida no ideal de que um casal não pode ser feliz sem sexo, por exemplo. Mas também de que uma pessoa não pode ser feliz sem sexo, de que uma pessoa que não faz sexo não é saudável, de que o sexo só pode ser composto por coito ou ato genital e de que ele não foi bem-sucedido se não houve orgasmo e/ou ejaculação. Tais conceitos se extrapolam dos relacionamentos allosexuais para os relacionamentos assexuais independente destas pessoas quererem estar posicionadas em tais situações. Eles estão inerentes à nossa sociedade, à sexusociedade.
Dessa forma é quase compreensível entender porque as primeiras conclusões para a assexualidade são que há alguma coisa de errado com o assexual. Se a sociedade se baseia em uma formatação de um sexo normativo, se todas as comunicações sociais que existem vêm com essa forma de existir.... Então realmente não deveria haver a possibilidade de existir uma pessoa que vive bem e que é saudável tanto física quanto psicologicamente continuar sem isso. Utilizando a base da sexusociedade, a educadora Elisabete Oliveira escreve o texto "Assexualidade e Medicalização na Mídia Televisiva Norte-Americana" onde ela analisa a presença de assexuais em programas de auditórios, especificamente em talk-shows. O objetivo da escolha desse tipo de programa é para, principalmente, observar a maneira como o tópico da assexualidade é abordado pela ampla mídia, com esta sendo uma peneira do que seria interessante para a audiência, para o público geral.
Nesse artigo, Elisabete procura provar que há uma medicalização completa da assexualidade no meio comum. Ela começa a sua análise apontando que nas "ciências sociais é comum dizer que a medicina se constitui numa das instâncias que mais promove o controle social sobre a vida dos indivíduos". Essa influência vai desde a visão de que homossexuais tinham uma disfunção – visão que perdurou até a década de 90, quando a homossexualidade foi retirada da classificação internacional de doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS) –, até a presença da transexualidade ainda nessa mesma listagem da OMS, listada como 'transexualismo' e ainda caracterizada como distúrbio mental. Para uma pessoa transexual conseguir se submeter à cirurgia de readequação ao gênero no sistema público de saúde brasileiro, por exemplo, ele precisa ter acompanhamento psicológico, psiquiátrico e endocrinológico para que seja constatado que ele tem a "patologia" específica que permite a qualificação como transexual. Essa obrigação do acompanhamento psiquiátrico e psicológico é muito criticado por ativistas transexuais, uma vez que estes entendem que a transexualidade não é uma doença. Em outro exemplo, isso também acontece com pessoas acima do peso que são vistas como não saudáveis por estarem gordas e que, na realidade, não tem nenhum tipo de problema de saúde.
Para a assexualidade, essa repressão médica não é tão forte quanto para a transexualidade. Não há nenhum postulado médico internacional dizendo que assexuais são doentes, mas há o ideal comum da sexusociedade que os coloca nessa posição. Mas, de acordo com Elisabete, os estudos de psiquiatria e psicologia continuam a reproduzir a ideia existencialista de que o sexo é "como uma força natural, pré-existente à vida social, sendo, nesse sentido, imutável, associal e ahistórico". O que Elisabete e outros teóricos que falam sobre a assexualidade, nesse aspecto específico, é que é a assexualidade pode trazer uma bifurcação teórica tão forte quanto a diferença apresentada por Judith Butler entre o sexo e o gênero. Dessa forma, do mesmo jeito que quando Butler aponta a divisa entre sexo e gênero acaba negando o determinismo biológico, concordando com a noção de que tanto a identidade de gênero quanto a orientação sexual são construções sociais e não relacionadas ao sexo biológico, essa visão inevitavelmente reafirma uma visão sexualizada dos corpos biológicos. Se todos têm uma sexualização – seja ela em orientação sexual ou identidade de gênero, seja relacionada ao sexo biológico ou não – então não há porque existir um corpo que não se aplica dentro de tal lógica sexual, mais uma afirmação da sexusociedade.
REPRESENTAÇÃO LGBTQIAP+ NA MÍDIA TELEVISIVA
O QUE SIGNIFICA FALAR EM REPRESENTAÇÃO?
A ideia de representação é um conceito amplamente utilizado em discussões, mesmo que sem a profundidade necessária para um argumento mais complexo. Ele virou quase um jargão quando se conversa sobre mídia, uma forma de passar uma ideia, uma informação, sem deixar que o discurso saia sem conteúdo. A falta de representação, nesse momento, é uma reclamação comum de grupos minoritários quando se vem comentar sobre a mídia em fóruns de discussão ou até em argumentos mais elaborados. Há um processo endêmico dessa falta que muito se fala sobre, mas pouco se explica.
Porém, o que é representação? Como afirma Vera Regina Veiga França, representações podem ser vistas como "sinônimos de signos, imagens, formas ou conteúdos de pensamento, atividade representacional dos indivíduos, conjunto de ideias desenvolvidas por uma sociedade". Dessa forma, elas têm várias maneiras de aparecerem, em vários conceitos sociais diferentes que se simplificam em uma imagem. A palavra é a explicação da palavra. O significado mais simples de representação é que ela é um espelho, uma imagem da sua própria identidade.
Ela desenvolve o conceito dentro da estética das ciências sociais, da psicologia e da semiótica, explicando a ideia de que a representação tem uma vasta explicação. O conceito que mais serve para a ideia da análise de mídia, entretanto, é a ideia do signo, da representação como símbolo, que também está "submetida a códigos, estruturada em linguagens, realizada em produções discursivas". Para explicar isso, França cita Bergson (1990) por onde as imagens seriam uma formação em cima de outras imagens e a representação seria, então, o resultado da nossa ação sobre tais imagens – um recorte e uma eliminação daquelas que não interessam ao interlocutor, assim como uma ênfase nas que interessam para o sentido.
Entretanto, não basta desenvolver a ideia de que representação é algo necessário para se compreender a falta da própria na mídia. É necessário entender as forças que empreendem essa dita forma, as forças que controlam o canal por onde o conteúdo é passado. Nos estudos das mediações é preciso abordar a representação como uma escolha dentro de um meio que está envolto de características individuais de cada receptor e de cada interlocutor. J. Klapper, em Os Efeitos da Comunicação de Massa (1978), chama esse processo de "enfoque fenomênico", um foco onde os meios de comunicação atuam como uma influência dentro de outras influências. Dessa forma, não é possível pensar a representação sem levar em conta as mediações que, em grosso modo, podem ser explicadas como algo que se refere às nossas práticas sociais, nossa inserção na cultura, na história e no cotidiano. Como França articula: "Representações, portanto, existem 'processadas' por filtros cognitivos dos indivíduos e no contexto de suas experiências e relações: elas existem dentro e enquanto práticas comunicativas".
Dessa forma, falar em uma ideia utópica de representação real se torna cada vez mais um sonho distante, uma ideia distante de longo alcance que pede por uma completa mudança na esfera de produção. Pegando o conceito de mediação como nessa explicação, acentua-se que uma pessoa não poderia fazer uma inserção na mídia de algo que não faz parte do seu cotidiano. O melhor exemplo para se explicar isso vem da análise que Bourdieu faz do jornalismo televisivo. Em seu texto, ele fala de uma metáfora comumente apresentada por professores de jornalismo e pelos próprios jornalistas, uma metáfora que apresenta a ideia de que todo jornalista usa um par de óculos para poderem ver as informações que são necessárias a serem passadas. Entretanto, esses óculos também, muitas vezes, fazem com que essa observação seja seletiva diante do que cabe nos princípios da audiência que também vai selecionar o que quer assistir.
"O princípio da seleção é a busca do sensacional, do espetacular. A televisão convida à dramatização, no duplo sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância, a gravidade, e o caráter dramático, trágico. Em relação aos subúrbios, o que interessará são as rebeliões".
Essa seletividade que Bourdieu fala vem, principalmente, da mediação cultural que é feita por meio da representação mental feita pelos nossos óculos. Se pudermos expandir a metáfora citada por ele, todos nós teremos uma espécie de óculos especial na frente da nossa visão que nos inspira a ver a realidade pelas nossas lentes. Como Stuart Hall apresenta no seu texto The Work Of Representation (1997), nós todos temos um mapa de conceitos diferente na nossa cabeça e isso faria com que uma pessoa visse e interpretasse as coisas de uma forma diferente de qualquer outro – assim como acontece com qualquer produto cultural. Enquanto uma pessoa pode observar um produto cultural e vê-lo de uma certa forma, outra pessoa o veria de uma forma diferente pois seu mapa de conceitos estaria formado em bases diferentes, com conceitos diferentes do mundo e da sociedade. Entretanto, Hall aponta que se isso fosse feito de uma forma tão abrupta como esse conceito abrange, nós seríamos incapazes de nos comunicar uns com os outros. Ele explica isso pela base cultura:
"Entretanto, nós somos capazes de nos comunicar porque nós dividimos amplamente os mesmos mapas conceituais e então fazemos sentido ou interpretamos o mundo de formas aproximadamente semelhantes. Isso é de fato o que significa quando dizemos que pertencemos a 'uma mesma cultura'. Porque nós interpretamos o mundo em formas aproximadamente semelhantes, nós somos capazes de construir uma cultura compartilhada de significados e assim construir um mundo social que nós habitemos juntos".
Dessa forma, Hall investiga como se constrói o significado das coisas que vemos e significamos ao nosso redor. Ele aponta que esses significados culturais não estão na nossa cabeça, que eles têm um efeito e, muitas vezes, regulam práticas sociais, uma vez que o reconhecimento do significado faz parte do senso da nossa própria identidade, por meio da sensação de pertencimento dessa cultura coletiva. Esse processo não atua somente no plano do pensamento, mas atua sobre a regulação das relações e sobre a própria prática social.
Só que ele vai muito além: Para Hall, os objetos, pessoas e eventos só adquirem um sentido mediante a representação mental que lhes é atribuída em um determinado sistema sociocultural. Com essa visão mais ativa da representação, ele tem uma apreensão sobre quais são os efeitos e consequências da representação, como na criação de estereótipos. Essa apreensão vem, também, da noção da arbitrariedade do signo que foi criado para representar os conceitos ou as relações conceituais entre os conceitos que levamos nas nossas mentes e que contrapõem os sistemas de significação da nossa cultura. Essa arbitrariedade é apontada no momento em que levamos em conta de que essa relação entre o conceito, o signo e o objeto poderia ser feita de uma maneira completamente diferente se a que foi feita não fosse determinada pela construção social vigente. Como explica Hall:
"O relacionamento nesses sistemas de representação entre o signo, o conceito e o objeto para qual ele talvez seja utilizado é completamente arbitrário. Por 'arbitrário' nós queremos dizer que o princípio em qualquer coleção de letras ou em qualquer som em qualquer ordem faria o trabalho igualmente bem. Árvores não iriam se importar se nós usássemos a palavra SEROVRÁ – 'árvores' escrito de trás para frente – para representar o conceito delas. Isso é claro pelo fato que, em francês, letras bem diferentes e sons bem diferentes são utilizados para se referir a algo que, para todas as aparências, é a mesma coisa – uma árvore 'real' – e, tanto quanto nós podemos dizer, para o mesmo conceito de uma planta que cresce na natureza. Os franceses e os ingleses parecem estar usando o mesmo conceito. Mas o conceito que em inglês é representado pela palavra TREE é representado em francês pela palavra ARBRE."
Ou seja, a palavra 'árvore' significa, para nós, uma planta, mas o objeto árvore poderia ser significado por qualquer outra denominação, algo que dependeria de uma convenção histórica diferente. Isso acontece porque, segundo Hall, o significado não está no objeto, nem no evento, nem na pessoa e muito menos na palavra. Esse significado é estabelecido em arbitrariedade pela formação histórico-cultural e, em seguida, ele vem a parecer natural e imutável. Hall usa como exemplo das culturas diferentes a nacionalidade, a língua que as pessoas falam, que seria uma espécie de primeira cultura adquirida.
Só que essa cultura pode ser adquirida por diversas outras formas, além da língua e do nascimento e, então, a representação também precisa ser capaz de abranger essas outras formas. Religião, família, classe social são fatores, por exemplo, que costumam interferir na cultura de um indivíduo. Uma pessoa que nasce em uma classe social mais abastada vai ter acesso a informações e a signos diferentes de uma pessoa que nasceu em uma classe social mais baixa, por exemplo. Assim se segue com cada especificidade de grupo social, tal qual as diferentes orientações sexuais e identidades de gênero. Do mesmo jeito que acontece por entre classes sociais, uma pessoa com identidade de gênero diferente de outra terá uma narrativa diferente, um léxico de signos diferente e uma cultura diferente. Tal qual, também, terá uma representação diferente a ser abrangida.
VISÕES DE REPRESENTAÇÃO LGBTQIAP+
Em 2015, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República publicou segunda edição da Pesquisa Brasileira de Mídia que afirmou que 95% considera a televisão como seu principal meio de informação. Apesar disso, são 73% dos brasileiros que assistem todos os dias e que estão igualmente distribuídos em todas as regiões do Brasil. Com isso, ele pode ser considerado o meio de comunicação em massa que mais atinge a população brasileira, fato que possivelmente se repete ao redor do mundo. Por exemplo, nos Estados Unidos, um americano passa em média 5 horas por dia assistindo televisão.
Esses números são importantes para se falar de televisão porque com eles é possível estabelecer que temos um meio hegemônico na sociedade ocidental de se comunicar. Apesar da internet estar crescendo – tanto no estudo brasileiro (em 2013 26% da população brasileira usava a internet todos os dias, em 2014 foram 37% da população) quanto no americano (de 2013 para 2014 o uso da internet aumentou em 80% nos Estados Unidos) os números concordam com isso – ainda não chega a relevância da televisão como meio de comunicação de massa. Enquanto esses números são vistos como absolutos em classificar a nossa maneira de ver os produtos audiovisuais e consumir cultura de massa, é importante fazer um questionamento sobre essa produção: Como é feita a representação dos grupos minoritários da sociedade dentro desse meio de comunicação?
De acordo com grupos representantes das minorias, a representação na televisão é feita de uma maneira desigual. Um exemplo palpável disso é a análise feita pelo Bunche Center da diversidade em Hollywood em 2014 onde eles se propõem a fazer uma análise de 172 filmes lançados em 2011 e 1.061 programas de televisão que foram ao ar no período de 2011 e 2012. O primeiro dado importante é que a maior parte dos atores principais dos filmes estudados (89,5%) era branca e somente 10,5% é de uma minoria étnica. Ao mesmo tempo, a porcentagem desses mesmos atores que são homens (74,4%) é muito maior do que a porcentagem de mulheres (25,6%). O estudo também confirma as teorias de que a representação só poderia ser feita de maneira devida por alguém com essa visão de diversidade – apresentada no item interior do capítulo – ao constatar que as porcentagens de etnias e gênero na direção, roteiro e criação dos filmes e programas de televisão são parcialmente iguais a dos atores principais. O estudo, ao seu fim, conclui que há "uma aparente desconexão entre o suposto foco da indústria em sua linha de produção e a real atuação das equipes envolvidas em filmes, televisão aberta e televisão paga". Essa leitura, de acordo com o Bunche Center, "cria um ciclo vicioso que garante a marginalização de talento diversificado na indústria", ou seja, mantém um status-quo vigente de colocar as minorias para trás.
Mas como seria uma maneira de se consertar isso? De uma forma prática, seria pegar as estatísticas de senso – tanto étnicas quanto de orientação sexual, identidade de gênero, classe social, nacionalidade, etc. – e aplicar isso na mídia de forma que mesmo os grupos minoritários consigam ligar a televisão e se visualizar naquele programa ou naquele personagem. Entretanto, como é apontado pelo estudo do Bunche Center, isso acontece por haver uma dominância na indústria e nas agências de "homens brancos que são diretores, criadores, escritores e astros, muito para a exclusão de minorias e de talento feminino". Eles apontam, ainda, que em uma sociedade onde cada vez mais os grupos étnicos e a população feminina crescem, isso vai se manifestar na escolha dos programas que essas pessoas vão assistir.
Informações parecidas são apontadas no estudo de diversidade da mídia feita pela GLAAD, um dos principais sites que pesquisam a representação na mídia de grupos LGBTQIAP+, que procura avaliar a representação de personagens de orientações sexuais diferentes de heterossexual – os personagens LGBQAP+ – e também de diferentes identidades de gênero – transexuais, intersexuais e diferentes identidades. Essa análise foi feita pegando os programas de televisão no horário nobre dos principais canais americanos (ABC, CBS, CW, Fox e NBC) durante o período entre 2014 e 2015. Foram 115 programas e 813 personagens analisados na televisão aberta para encontrar que 4% (32 personagens) são de orientação diferente de heterossexual (no caso, somente lésbicas, gays e bissexuais foram encontrados nos programas pesquisados). Mesmo com esse número pequeno ainda houve um aumento, uma vez que no período entre 2013 e 2014 eram 26 personagens não heterossexuais. Na mesma análise, a GLAAD aponta que desses 813 personagens 40% são mulheres e 60% são homens, o que é uma queda dos anos anteriores (2013 eram 43% e em 2012 eram 45% dos personagens). Na televisão a cabo americana os números se repetem com o aumento de personagens LGBT, apesar de ainda serem uma minoria na televisão. Além disso, a televisão a cabo tem personagens de identidades de gênero diferentes, apesar da maioria ainda ser masculina (56%).
Esses números são importantes para explicar a importância da representação porque há uma conexão entre esses números e os altos números de suicídio, depressão e homicídio de comunidades minoritárias, principalmente de grupos LGBT+ (aqui uso a sigla menor, sem as últimas letras, pois os estudos somente abrangem esses grupos). Há duas formas de exemplificar e entender o porquê de a representação ser tão importante na televisão, que são explorados por Cherese Colston em seu artigo Seeing the Unseen: Underrepresented Groups in Prime-Time Television, que propõe analisar os efeitos da má representação nesses grupos pouco representados. As suas formas são mainstreaming e resonance:
O primeiro processo é 'mainstreaming', que se refere a convergência das percepções de uma pessoa da realidade e a percepção da televisão. O segundo processo é 'resonance', que afirma que os espectadores são mais possíveis de acreditar e ficarem mais investidos em um programa que se relaciona com a sua vida.
O primeiro processo, mainstreaming, afirma que é necessário que o que é apresentado na televisão seja relativo ao que é visto na vida real, que o espectador possa conectar aquela realidade apresentada pela televisão fictícia com a realidade que ele consegue ver – ou ao menos imaginar como possível. O segundo processo, resonance, afirma que os espectadores são mais capazes de acreditar e ficarem investidos em assistir um programa de televisão que se relaciona com a sua própria vida, a sua narrativa. Dessa forma, a televisão, como a narrativa televisiva é a que mais afeta a população mundial, então ela é a que tem mais chance de afetar a maneira como as pessoas pensam e no que é importante apresentar quando se representa a sociedade.
Outro meio de se verificar a efetividade da representação de grupos minoritários na televisão é o que Cherese chama de "Modelo de Clark". Nele há uma série de passos para entender como a representação do personagem é feita e, dessa maneira, avaliar a forma como essa comunidade minoritária, esse grupo oprimido da sociedade está sendo apresentado para aquele bolo que assiste televisão. O modelo consiste em quatro estágios: a não-representatividade (a minoria não é nem reconhecida como existente pela dominante), ridicularização (os personagens da minoria são ridicularizados por estereótipos), regulação (o grupo minoritário é apresentado como reguladores ou reforçadores do controle do grupo dominante) e respeito (o grupo minoritário é apresentado de forma igualitária ao grupo dominante). Cada um desses estágios é visto dentro do modelo como um degrau para que a representação de grupos seja melhor.
O primeiro estágio, da não-representatividade, é muito conclusivo no estudo de Cherese, uma vez que ela chega à conclusão que em nenhuma das redes de televisão e em nenhum dos programas selecionados há um personagem transexual. Nesses números também há a apresentação de 11 personagens bissexuais, 10 homossexuais e 2 lésbicas. Um problema apresentado na pesquisa é que, por exemplo, há personagens que foram eliminados por serem convidados especiais. Nisso ela cita o exemplo de que há diversos personagens transexuais que aparecem em dramas policiais ou de crime. Porém, a GLAAD também fez uma pesquisa que colocou que personagens transexuais são retratados como vítimas de crimes em 40% das suas aparições em programas. Eles também foram colocados como assassinos ou vilões em 21% dos episódios catalogados e a profissão mais comum para os personagens dessa minoria era de profissionais do sexo (20%). Além disso, os episódios faziam uso de diversos termos transfóbicos em 61% dos casos.
Outro aspecto importante para identificar e entender a importância da representação (positiva) de minorias na mídia televisiva, principalmente usando essas informações na questão das pessoas transexuais, é quando se olha aos dados do Trans Mental Health Study. Apesar do último estudo ser de 2012, eles são um dos poucos estudos que relaciona as tentativas de suicídio de jovens transexuais à sua representação na mídia. Nisso, 51% dos entrevistados afirmaram que a maneira como pessoas transexuais são representadas na televisão teve um aspecto negativo na sua saúde emocional. Em um dos depoimentos dos participantes, o entrevistado transexual deu a seguinte fala:
A forma caricata e estereotipada de apresentar os problemas trans é equivalente a piadas racistas ou sexistas. Ela dá a pessoas fóbicas um meio de expressão direcionada a essas pessoas que são especificamente o alvo dessas piadas.
Ainda em outro estudo é apontado que a taxa de suicídio de adolescentes transexuais já é considerada uma epidemia, ao ponto de que 41% dos jovens transexuais já tentaram suicídio, com o maior número estando em pessoas de 25 a 44 anos.
Além disso, o Grupo Gay da Bahia, que faz um cálculo anual estatístico de homicídios de grupos LGBT+ que são motivados por preconceito. No relatório referente a 2014, foram confirmados 326 assassinatos de gays, travestis ou transexuais, bissexuais e lésbicas em todo o Brasil. De acordo com o grupo, isso condiz a um assassinato há cada 27 horas e também foi um aumento de 4,1% em relação ao ano anterior. Outra estatística do relatório do grupo bastante relevante é o fato de que o Brasil representa 50% das mortes de travestis ou transexuais do mundo. A tendência é de que os números reais sejam ainda maiores do que esses, uma vez que grande parte das mortes desses grupos acabam sendo caracterizadas de outras formas ou nem são contabilizadas. Há um estigma em ser membro da comunidade LGBT+ no Brasil e isso se repete, unindo-se a outros pontos, ao redor do mundo.
Utilizando a comunidade transexual especificamente como exemplo clássico da má representação dentro do grupo LGBT+ é possível ter perspectiva de como a abordagem da mídia é importante para a percepção dessas pessoas como parte de uma sociedade. A forma como a televisão retrata essas pessoas é importante para como elas mesmas vão se compreender, vão conseguir se ver em torno da sociedade. Se a televisão trata transexuais como anomalias – ou assexuais como anomalias, como abordado no primeiro capítulo – então por que eles teriam uma visão melhor de si mesmos? Como se pode basear uma autoestima quando todo o resto do mundo te diz que é errado?
Dessa forma, se abrange que como a televisão é a forma mais importante de distribuição de informação – uma vez que é a forma que mais atinge outras pessoas – então pode se reconhecer que se esses grupos não recebem reconhecimento e respeito dentro dessa mídia a sociedade provavelmente também não dará reconhecimento e respeito a esses grupos.
THE BIG BANG THEORY E SHERLOCK: ASSEXUALIDADE NA TELEVISÃO?
SHERLOCK: ATUALIZAÇÃO COM VALORES TRADICIONAIS
Sherlock é uma série de televisão que teve sua estreia em 2010 e ainda está em andamento, apesar de ter temporadas mais esporádicas do que o comum para esse modelo. Sua terceira temporada foi finalizada e a quarta temporada está prevista para 2016, além de ter um episódio de Natal para estrear nesse ano. O seriado foi criado por Steven Moffat e Mark Gatiss e teve seu primeiro episódio exibido no Reino Unido pelo canal BBC One, o principal canal da Corporação Britânica de Radiodifusão (British Broadcasting Corporation, BBC). No Brasil a série costumava estar disponível no canal BBC HD, mas recentemente deixou a grade. Steven Moffat e Mark Gatiss, além de criadores da série também têm créditos de roteiristas e de produtores executivos, além de Gatiss também atuar na série. Eles venceram 7 Emmys (o principal prêmio da televisão americana) – inclusive um pela atuação do personagem principal – e 6 BAFTAs (o principal prêmio da televisão britânica).
A audiência de Sherlock é bastante alta para o padrão do Reino Unido, apesar dos números serem pequenos comparados com as audiências de seriados americanos. O primeiro capítulo da terceira temporada conseguiu 9.2 milhões de espectadores e o segundo teve 8.84 milhões, número que demonstra 32% da audiência de televisão britânica, e o último episódio da terceira temporada atingiu também 8.77 milhões. Esses números foram mantidos nas outras temporadas, apesar de terem aumentado esporadicamente depois da série ganhar mais notoriedade e começar a ser reproduzida em outros canais ao redor do mundo.
O programa conta a história do detetive Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch) e o seu parceiro em investigações, o médico James Watson (Martin Freeman). Os dois personagens e suas histórias são uma adaptação dos livros de Sir. Arthur Conan Doyle, de 1887, mas a série se propõe em atualiza-las e trazer o detetive para o século XXI. Dessa forma, Watson agora é um médico do exército britânico e ao ser atingido por um tiro na Guerra do Afeganistão precisa retornar à Londres, desempregado. Sem dinheiro para pagar o aluguel, Watson procura um colega de apartamento que acaba encontrando em Sherlock. Este é um detetive consultor da Scotland Yard que atua em casos tão complicados que a própria agencia admite não conseguir resolver e chama a sua consultoria.
Sherlock Holmes é o personagem de título da série e o personagem principal, além de ser interpretado por Benedict Cumberbatch, vencedor de um Emmy por esse papel. Com uma personalidade arrogante, Sherlock também é extremamente inteligente. As suas habilidades como detetive vêm da sua histórica capacidade de dedução e interpretação das evidências ao seu redor. Habilidades que o destacam de qualquer outro detetive e o colocam no patamar de ser considerado o melhor detetive do mundo. Holmes também é orgulhoso e frio em relações interpessoais, não demonstrando afeto e preferindo se focar no seu trabalho. Essas características fazem com que ele pareça um personagem rude, distante e frio.
Outros pontos importantes para a escolha desse personagem como analisado neste trabalho é a identificação de membros de comunidades assexuais e de assexuais em geral com o personagem. Tanto no fórum da AVEN quanto em comunidades assexuais, há diversos membros que citam esse personagem como um que poderia ser assexual. Sherlock, tanto o do programa de televisão quanto do cinema e da literatura, são inclusive citados no artigo informal da AVEN sobre personagens midiáticos que seriam assexuais. No site, a descrição constata:
"Holmes diz que ter uma namorada 'não é a sua área', ele considera a si mesmo "casado com o seu trabalho", e diz para Watson que "eu estou lisonjeado pelo seu interesse, mas eu realmente não estou procurando ninguém'. "
Essa conexão feita pelos membros das comunidades e das próprias comunidades em si vem pela caracterização do personagem como assexual arromântico. Ele é um personagem que não aparenta ter desejo sexual ou interesse em ter uma relação sexual, que são as principais caraterísticas de uma pessoa que se representa dessa maneira. Outros pontos que ligam Sherlock ao estereótipo do assexual arromântico são o fato dele ser muito ligado com o seu trabalho, dele ser frio e não gostar de contato físico e dele parecer ser intocável aos apelos sexuais do mundo ao redor dele. Esses estereótipos vêm de uma ideia de que como o assexual arromântico não sentiria nem atração sexual e nem romântica, então ele teria uma empatia faltando em si. Dessa forma, por não conseguir ter empatia com as pessoas ao seu redor e se conectar com elas, o assexual arromântico seria uma pessoa distante, fria, desconexa. Ele também seria arrogante e se veria como superior a outras pessoas, algo que Sherlock faz muito durante a série, principalmente por conta do seu intelecto. Outro ponto bastante comum atribuído a essa falta de empatia estereotipada nesse tipo de assexual são as atitudes sarcásticas e ridicularizantes diante dos outros personagens que este vê como inferior a si.
Outro ponto que poderia ser colocado nesse estereótipo do assexual arromântico incapaz de ser empático é que ele é incapaz de compreender a sexualidade e a romanticidade do mundo ao seu redor. Ele seria, de certa forma, imune à sexusociedade e a uma romansociedade – uma sociedade que também nos obriga a ver o ideal romântico como obrigatório. Dessa forma, quando Sherlock é abordado por mulheres na série, ele age como se não tivesse compreendido essa abordagem (ou até faz observações como se tivesse visto o que lhe foi dito na forma literal, incapaz de compreender a conotação do que foi dito) ou como se fosse puramente arrogância não reconhecer. Como exemplo há o caso de Molly Hooper (interpretada por Louise Brealey), uma personagem que se mostra interessada em Sherlock. Logo em uma das primeiras cenas do primeiro episódio da série, Molly o convida para um café e a resposta dele é lhe dizer como ele gosta do café, como se ela tivesse lhe oferecido para trazer um.
Molly: Escuta, eu estava pensando: talvez depois, quando você tiver terminado... (Sherlock olha para ela enquanto está escrevendo, então dá uma segunda olhada e franze a testa para ela.)
Sherlock: Você está usando batom? Você não estava usando batom antes.
Molly (nervosa): Eu, hm, eu mudei um pouco.
(Ela sorri para ele, flertando. Ele lhe dá um longo e desconexo olhar e então volta a escrever no seu laptop.)
Sherlock: Desculpe, você estava dizendo?
Molly (olhando para ele atentamente): Eu queria saber se você gostaria de tomar um café.
(Sherlock coloca o seu laptop para o lado.)
Sherlock: Preto, dois açúcares, por favor. Eu estarei lá em cima.
(Ele vai embora.)
Outro momento da sua caracterização como alguém inapto de compreender as nuances da sexusociedade e dessa romansociedade é quando, no segundo episódio da série, John Watson tem um encontro e Sherlock sabota esse encontro romântico em favorecimento da investigação que os dois estão guiando. Quando questionado sobre, ele demonstra todas as vezes não saber que era um encontro romântico, apesar de não ser claro se ele realmente não sabe ou se ele só finge não saber pois admitir iria demonstrar que era irrelevante para ele o envolvimento romântico de John. Essa falta de compreensão de Sherlock – ou a opção do personagem de não admitir que sabe – da existência do romance é esse estereótipo da desconexão. Uma voz sexonormativa e romântica-normativa que diz que esse assexual ele seria tão desconectado dessa realidade que não a compreenderia.
Os outros motivos para esse personagem ter sido selecionado foram as suas características em comum com o outro personagem analisado, Sheldon Cooper (de The Big Bang Theory). Os dois são brancos, passáveis por heterossexuais, cisgêneros, de classe média alta, moradores de países desenvolvidos e eles tem empregos que trabalham com a ideia de intelectos superiores. Além de muitas das características de Sherlock também se repetirem em Sheldon.
THE BIG BANG THEORY: HUMOR DE (RIR DA) MINORIA
The Big Bang Theory ou Big Bang: A Teoria (título traduzido para o português) é um seriado de 2007 que está na sua 9ª temporada, mas já foi confirmado que continuará no mínimo até a 10ª, com possível confirmação de mais temporadas. A série foi criada por Chuck Lorre e Bill Prady e é exibida pelo canal CBS (Columbia Broadcasting System), de propriedade do grupo Sony, que é uma das três redes de televisão que têm maior controle no mercado americano. No Brasil, a série é exibida pelo canal Warner Chanel, na rede fechada de televisão, e pelo SBT, na televisão aberta. Chuck Lorre, além de ser co-criador da série, também é produtor executivo e é dono de uma das empresas responsáveis pela produção. A série já venceu 7 Emmys e um Globo do Ouro (dois dos principais prêmios da televisão norte americana), a maioria deles pelas atuações do elenco, em especial de Jim Parsons, que interpreta Sheldon Cooper.
A série conta a história dos físicos Leonard Hofstadter (Johnny Galecki) e Sheldon Cooper (Jim Parsons) cujas vidas mudam quando uma jovem moça chamada Penny (Kaley Cuoco) se muda para o mesmo andar do apartamento deles, na Califórnia. Logo no primeiro episódio da série, o episódio piloto, Leonard começa a se apaixonar por Penny, enquanto Sheldon só quer que a sua vida continue exatamente como estava antes. Howard Wolowitz (Simon Helberg), um engenheiro aeroespacial, e Rajesh Koothrappali (Kunal Nayyar), um astrofísico que não fala com mulheres por ter mutismo seletivo, entram na história sendo amigos dos dois. Um dos pontos chaves do humor da série é que apesar de todos os personagens (homens) cientistas serem brilhantes eles não conseguem ter interações sociais, especialmente com mulheres.
O piloto da série foi o programa com a sétima maior audiência na noite de estreia, tendo 9.52 milhões de espectadores, e o episódio final da temporada teve 7.34 milhões e a média de audiência da temporada foi de 8.44 milhões, de acordo com o site medidor de audiências Series Monitor. Na sétima temporada a série teve o seu auge na audiência, conseguindo uma média de 19,96 milhões de espectadores e ficando somente atrás da exibição de futebol americano, que teve 21,52 milhões. Apesar disso, na última temporada os números caíram bastante com a série ficando com 19.05 milhões, a primeira queda desde que a audiência começou a crescer.
Sheldon Cooper é um dos personagens principais do seriado tendo participação em todos os episódios que já foram ao ar. Jim Parsons, o ator que o interpreta, já recebeu 4 Emmys e um Globo de Ouro pela performance, além de ser elogiado pela crítica especializada. Originalmente do Texas, Sheldon é um físico teórico que tem um temperamento arrogante e é fã de histórias em quadrinhos, séries de ficção científica, RPG e vídeo games. Sheldon tem dois doutorados e um mestrado e é dito que ele entrou na faculdade com 11 anos de idade, além de ter um Q.I. de 187 pontos.
Em sua personalidade, Sheldon é muitas vezes representado como não tendo empatia por parte dos seus amigos. Ele os destrata e não entende porque tem que pedir desculpas por tais ações, demonstrando uma falta de empatia pelo outro. Essa falta de empatia só se destaca ainda mais pelas pessoas que são afetadas pelas suas ações serem os seus próprios amigos, companheiros de laboratório e, futuramente, sua namorada. Há diversos exemplos no seriado em que Sheldon coloca todos os seus desejos acima dos desejos de seus amigos, até dos mais próximos, como Leonard Hofstadter, com quem ele divide um apartamento. O que Sheldon quer fazer é sempre o que o grupo vai fazer, ou ele vai agir de forma mal-humorada e desagradável com as mudanças – uma situação recorrente na série que causa, inclusive, a identificação de Sheldon com outros estereótipos é que ele tem muitas dificuldades de aceitar mudanças de rotina.
Além disso, o Sheldon também engloba características do estereótipo do assexual arromântico nessa questão da falta de empatia, tal como Sherlock. Ele, apesar do seu intelecto superior amplamente destacado (assim como o detetive apresentado no tópico anterior, Sheldon é arrogante e precisa destacar essa superioridade em todos os momentos), não compreende investidas românticas. Por exemplo, no quinto episódio da primeira temporada, Leonard faz sexo com uma personagem, Leslie Winkle. Por conta disso, ele coloca uma gravata na maçaneta – que é uma situação comum na sociedade americana, um signo comum da cultura norte-americana, que é utilizado como uma representação de que está acontecendo um ato sexual dentro daquele ambiente. Ao ver a gravata na maçaneta, Sheldon vai ao apartamento da frente e pede para Penny lhe explicar. Quando ela explica, ele fica sem saber o que fazer diante daquela situação.
Sheldon (entrando na sala de estar): Isso é muito desconfortável.
Penny: Ah, qual é, você sabe, Leonard já teve garotas aqui antes, não é?
Sheldon: Ah, sim, mas normalmente há planejamento, namoro e aviso prévio. Na última vez eu consegui reservar um cruzeiro ao Ártico para ver um eclipse solar.
Penny: Espera, você teve que sair do estado porque o seu companheiro de quarto estava fazendo sexo?
Sheldon: Eu não tive que, as datas só aconteceram de coincidir.
Penny: Então, você sabe quem está lá?
Sheldon: Bom, tem o Leonard. (Ele pega a caixa do violino) E ele está ou com Leslie Winkle ou com um gangster de 1930.
Penny: Hmmm. Bom para ele. Bom para o Leonard. Ok, boa noite.
Sheldon: Não, não, espere, espere.
Penny: Qual o problema?
Sheldon: Eu não sei qual é o protocolo aqui? Eu fico, eu saio? Eu espero para cumprimenta-los com uma bebida refrescante?
Penny: Nossa, Sheldon, você está perguntando para a garota errada. Normalmente eu estou do outro lado da gravata.
Na cena seguinte Sheldon está na sala sozinho e liga para Leonard, para lhe avisar que entendeu o significado da gravata na porta, como se tivesse que atestar essa constatação para ter certeza que tinha sido compreendido. Esse tipo de comportamento de Sheldon é repetitivo durante a série. Toda vez que Leonard tem um envolvimento romântico ou sexual que não seja óbvio – mas ainda o suficiente para que a audiência entenda – ele tem dificuldade de entender e é necessário que a trama lhe explique. Isso também é algo recorrente em questão de comportamento subjetivos, na realidade. Ele não compreende sarcasmo e outras nuances da personalidade.
Essas características, assim como foi explicado no tópico anterior, são estereótipos do assexual aromântico, de que como ele é uma pessoa desconectada do mundo sexual – o mundo "normal" –, então ele seria incapaz de compreender os dogmas e símbolos dessa sociedade. Dessa forma, o assexual aromântico se torna um pária, um personagem excluído da cultura e da linguagem mesmo dentro da sua própria cultura e da sua própria linguagem. Como se surgisse uma bolha ao seu redor e o deixasse desconectado dos signos sociais compreendidos pela sexusociedade.
Assim como Sherlock, Sheldon é um personagem brancos, passável por heterossexual, cisgênero, de classe média alta, morador de um país desenvolvido e ele tem um emprego que trabalha com o ideal de um intelecto superior – no caso, um cientista. Outro motivo para a escolha desse personagem é que ele também é citado por membros da AVEN e na lista informal feita pela comunidade de personagens que poderiam ser assexuais. O texto explicativo para Sheldon na lista é direto: "personagem Sheldon Cooper expressa tendências assexuais".
ESTEREÓTIPOS E NEGAÇÃO
Obviamente é impossível que um personagem consiga representar totalmente uma comunidade tão extensa quanto a LGBTQIAP+ assim como é improvável que personagens gays, lésbicas, bissexuais e de outras orientações sexuais e identidades de gênero consigam representar completamente os seus grupos respectivos. Há gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, assexuais, pansexuais de todos os tipos vivendo no mesmo mundo em que existem os estereótipos desses grupos e ainda outros grupos de orientações e identidades de gênero que não são nomeados ou tem ampla visibilidade.
Entretanto, quando se há a repetição contínua de um estereótipo na mídia, esses trejeitos passam a ser vistos como trejeitos de todo o grupo. Por exemplo, há a ideia comum de que todo homem gay é apaixonado por moda e estilo, ao mesmo tempo em que há o uso contínuo do gay afeminado como forma de alívio humorístico. Dentro desse estereótipo podemos citar Kurt Hummel, de Glee, Marc St. James, de Ugly Betty, ou Titus Andromedon, de Unbreakeable Kimmy Schmidt. Outro estereótipo comum é um criado para bissexuais, onde o personagem sente atração sexual pelo gênero igual ao seu e por outro gênero e a série se obriga a não usar o termo bissexual para defini-lo, geralmente usando que o personagem é bi-curioso ou fluído. Por exemplo, temos Brittany Pierce, de Glee, Amy Raudenfeld, de Faking It, ou Irene Adler, de Sherlock.
Os assexuais também têm os seus estereótipos, que são ainda mais enfatizados pelo fato de que há uma pouca representatividade desse grupo para quebrar a predominância deste. Isso acontece porque, sem uma variedade representada em programas televisivos, somente esse estereótipo, essa "face" da assexualidade, vai ser utilizada para definir o grupo na mídia e, também, para o espectador que desconhece membros desse grupo. Dessa forma, pessoas ignorantes do conceito da assexualidade ou de que assexuais sequer existem vão olhar para aquele personagem estereotipado e compreender que aquilo é uma representação verídica do que é a assexualidade. A mesma coisa acontece com todos os grupos e traz problemas para todos. É muito comum um preconceito diante de gays afeminados com a justificativa de que eles seriam irritantes ou de que não deveriam ser levados a sério – o que se reflete nos programas de televisão citados como estereótipos. Também é muito comum que a bissexualidade seja vista como só uma fase ou algo fluido, tal como acontece com os personagens presos nesse estereótipo.
A escritora e ativista assexual Elizabeth Leuw explica alguns dos estereótipos que são colocados sobre os assexuais ou sobre os personagens que supostamente seriam assexuais, uma vez que há pouquíssimos (se não nenhum) personagem assumidamente dessa orientação sexual. Ela aponta 14 grandes afirmações que são feitas sobre as pessoas dessa orientação sexual, como que "assexuais são socialmente inaptos" ou "assexuais são frios, analíticos, como robôs", além de que "assexuais são todos grandes nerds" e outros:
"1) Assexuais não são atraentes. 2) Assexuais são socialmente inaptos e/ou estão no espectro do autismo. 3) Assexuais passam muito tempo na internet. Fazem muitas palavras novas. 4) Assexuais são frios, analíticos, como robôs. Não são calorosos. 5) Assexuais são ou muito sexualmente inexperientes ou tiveram um trauma sexual. Isso faz com que eles tenham muita ansiedade ao pensar em sexo. 6) Assexuais são todos celibatários ou preferem ser celibatários. 7) Assexuais são brancos. As vezes asiáticos. 8) Assexuais são não conformados com seu gênero. 9) Assexuais são isolados, sozinhos. 10) Assexuais são dissimulados, escondem a sua assexualidade para conseguirem encontros. Ou estão escondendo que eles NÃO são assexuais, de forma delirante ou autodepreciativa. 11) Assexuais são aspirantes para mulheres dos gatos. 12) Assexuais são todos grandes nerds. 13) Assexuais tem algo fisicamente errado com eles (problemas hormonais, hipotireoidismo, tumores no cérebro, disfunção erétil, etc.) 14) Assexuais acham que eles são melhores do que pessoas que fazem sexo."
No caso de Sheldon Cooper, de The Big Bang Theory, se aplica, por exemplo, a ideia de que o assexual é socialmente incapaz e/ou está no espectro do autismo (número 2 da lista de Leuw). Também se aplicam ao personagem "assexuais são frios, analíticos, parecidos com robôs" (3), "assexuais são todos sexualmente inexperientes" (5), "assexuais são grandes nerds" (12), "assexuais tem algo de errado com eles" (13), "assexuais acham que eles são melhores do que pessoas que fazem sexo" (15).
Todos os três pontos do estereótipo 2 na lista de Leuw – assexualidade, incapacidade social e o autismo – são hipóteses consideradas para justificar Sheldon Cooper. No caso da terceira, há a ideia de que ele teria algum grau da Síndrome de Asperger, que é uma condição psicológica dentro do espectro do autismo que se caracteriza por dificuldades significativas na interação social e comunicação não-verbal. Estes são apresentados nos episódios da série, por exemplo, na dificuldade que Sheldon tem de entender sarcasmo ou em entender que os comentários rudes que ele faz por vezes podem ferir outras pessoas, assim como seus rituais que não podem nunca serem modificados. No episódio 8 da 6ª temporada da série, Sheldon desabafa:
Sheldon: Talvez você não note, mas eu tenho uma dificuldade em navegar certos aspectos da vida diária. Você sabe, entender sarcasmo, fingir interesse nos outros, não falar sobre trens tanto quanto eu quero. É exaustivo.
Todos esses aspectos poderiam ser um sinal da Síndrome de Aspergers, que é muito especulada para o personagem. Entretanto, essa caracterização dele foi negada, Sheldon não tem Síndrome de Asperger, como o ator Jim Parsons confirmou em entrevista ao site Inquisitr:
"Asperger veio como um questionamento logo nos primeiros episódios. Eu fui questionado sobre isso por um repórter, e eu tinha ouvido sobre isso, mas eu não sabia o que era, especificamente. Então eu perguntei aos roteiristas – Eu disse, 'Eles estão me perguntando se Sheldon tem Asperger' e eles ficaram tipo 'Não'. E eu disse, 'Ok'. E eu voltei e disse, 'Não'. E então eu li um pouco sobre e fiquei, 'Ok, bom, se os roteiristas disseram que ele não tem, então ele não tem, mas ele certamente divide algumas qualidades com as pessoas que tem. Eu gosto da maneira como isso é lidado'. "
Outra negação que acontece é da sexualidade de Sheldon, que continuamente não recebe uma classificação por parte dos roteiristas. Isso não se dá nem como assexual e nem como homossexual, outra sexualidade que é considerada para o personagem (e também para Sherlock Holmes, de Sherlock). A ideia de que o homem assexual seria homossexual é, também, um estereótipo desse grupo causado pela noção de que como ele não tem interesse em sexo, então ele não teria interesse em mulheres, de uma forma geral. Ou seja, como ele não é atraído pelo sexo oposto, então ele obviamente é homossexual. Isso é apontado pelo portal Asexual Awareness Week (http://www.asexualawarenessweek.com/) que promove todos os anos uma semana para se falar de assexualidade e trazer visibilidade para a orientação. No seu documento sobre a assexualidade e comunidade LGBT, Emma Absolon e Michael Doré procuram desmistificar algumas ideias sobre a assexualidade dentro da comunidade e chegam nesse impasse dos preconceitos e estereótipos que os assexuais sofrem. Um deles, para assexuais homens, é a própria homofobia.
"É comumente assumido, pelos ignorantes, que se alguém não é atraído pelo gênero oposto, então eles devem ser homossexuais. Alguns assexuais foram, portanto, sujeitados a insultos direcionados a gays, ao bullying homofóbico e agressão física. "
Mesmo que Sheldon nunca tenha demonstrado atração sexual por nenhum homem (assim como nenhuma mulher), ele recebe esse rótulo em notícias sobre a série e, mais uma vez, os roteiristas respondem negativamente. Entretanto, a resposta de Chuck Lorre, criador e showrunner da série, é bastante enfática em vários pontos:
"Por que nós teríamos que [rotular ele] se o personagem é tão completamente focado no seu trabalho? Se tocar outro ser humano de qualquer gênero é irrelevante para ele, por que rotular a coisa? Por que não pode haver um terceiro gênero – homem, mulher e Sheldon? "
Nessa resposta, Lorre não só nega que Sheldon seria homossexual, mas também acentua que ele tem todo seu foco no seu trabalho, o estereótipo já abordado de assexuais, principalmente assexuais arromânticos. Como eles não tem interesse em romance ou sexo, então o personagem teria uma obsessão pelo seu emprego ou por um hobby para "suprir" essas necessidades. O trabalho, dessa forma, seria uma maneira de canalizar suas energias que não estão sendo 'gastas' com a atração sexual que esse personagem não tem. Lorre também coloca que "tocar outro ser humano de qualquer gênero é irrelevante para ele", afirmando que Sheldon não sente o desejo de fazer sexo com nenhum ser humano de nenhum outro gênero. Isso poderia ser um ponto para se considerar na possível assexualidade do personagem, uma vez que muitos assexuais (arromânticos ou não) decidem não fazer sexo (chamados de assexuais sexo-negativos). Mas, ao mesmo tempo, ele destrói a possibilidade de caracterização ao colocar a ideia do terceiro gênero, que mostra uma confusão do interlocutor ao confundir orientação sexual e identidade de gênero.
Os outros estereótipos atribuídos ao personagem - "assexuais são frios, analíticos, parecidos com robôs" (3), "assexuais são todos sexualmente inexperientes" (5), "assexuais são grandes nerds" (12), "assexuais tem algo de errado com eles" (13), "assexuais acham que eles são melhores do que pessoas que fazem sexo" (15) – também são relevantes na análise da negação de Chuck Lorre de que Sheldon faria parte dessa minoria.
Como apontado no número 12 da lista de Leuw, Sheldon é um grande nerd, assim como esse os outros personagens principais. Ele e os três amigos – Leonard, Wolowitz e Koothrappali – são vistos por toda a audiência como nerds obcecados por ficção científica e que, por isso, se encaixam nos estereótipos desse grupo, principalmente o de que nerds seriam socialmente inadequados e que não sabem agir ao redor de mulheres. Alguns dos diálogos da série exemplificam isso, como este retirado do episódio piloto em que Howard Wolowitz justifica a incapacidade de falar com mulheres de Raj Koothrappali (que tem mutismo seletivo) como algo 'de nerd':
Penny (para Raj): Então, vocês trabalham com o Leonard e o Sheldon na universidade?
(Raj olha para Penny, olha de volta para a sua comida e come um bocado).
Penny: Ah, me desculpa, você fala inglês?
Howard: Ele fala inglês, ele só não consegue falar com mulheres.
Penny: Sério, por quê?
Howard: Ele é meio que um nerd.
A ideia de que o assexual é frio, analítico e até robótico apresentada no número 3 da lista de Leuw também está presente em Sheldon durante o seriado. Ele não se conecta muito bem com os seus amigos e muitas vezes não demonstra empatia por eles, agindo de forma a priorizar os seus interesses sempre. Mas essa caracterização se torna até uma piada dentro do roteiro da série, como nesse diálogo do terceiro episódio da primeira temporada:
Howard: Sheldon, se você fosse um robô e eu soubesse e você não, você iria gostar que eu te contasse?
Sheldon: Isso depende. Quando eu descobrir que eu sou um robô, eu vou ser capaz de lidar com isso?
Howard: Talvez, apesar da história da ficção científica não está do seu lado.
Sheldon: Uh, deixa eu te perguntar isso: quando eu descobrir que eu sou um robô, eu vou estar preso às três leis de robótica de Asimov?
Raj: Talvez você esteja preso nelas agora.
Howard: Isso é verdade. Você já machucou um ser humano ou, por inatividade, permitiu um ser humano a se machucar?
Sheldon: Claro que não.
Raj: Você já se machucou ou permitiu a si mesmo ser machucado exceto em casos onde um ser humano estaria em perigo?
Sheldon: Bom, não.
Howard: Eu sinto cheiro de robô.
O diálogo acima é uma brincadeira com o conto de ficção científica que cria a ideia da robótica na ficção, Runnaround, de Isaac Asimov. Entretanto, a ideia de Sheldon como um robô volta a aparecer em outros diálogos. Há inclusive um episódio (segundo episódio da quarta temporada) onde Sheldon decide que ele quer conseguir viver até seu aniversário de 300 anos, então ele tem que começar a viver uma vida mais saudável. Eventualmente, ele chega à conclusão de que ele não é apto a fazer exercícios e comer comidas mais saudáveis e começa a utilizar um monitor sobre rodas para se locomover, uma forma robótica.
Leonard: Sheldon, você vai se juntar a nós?
Sheldon: Estou indo! (Ele grita da área de quarto. Um dispositivo com rodas que consiste de uma base, uma camiseta em um cabide, e um monitor de computador com a cara de Sheldon, aparece). Saudações, amigos.
Leonard: Cumprimentos, o que diabos você seja.
Sheldon-bot: Eu sou um dispositivo de presença virtual móvel. Os recentes acontecimentos demonstraram para mim que meu corpo é muito frágil para suportar as mudanças do mundo. Até ao momento em que eu sou capaz de transferir minha consciência, eu permanecerei em um local seguro e interagir com o mundo dessa maneira.
Howard (depois de Raj sussurra para ele): Sério? Essa é a sua pergunta? Quando ele colocou uma rampa aqui?
Sheldon-bot: Você está no meu lugar. Isto pode parecer um pouco estranho no início, mas ao longo do tempo você vai se acostumar a lidar comigo nessa configuração.
Penny: É, para ser honesta, eu não vejo muita diferença.
Enquanto Sheldon é um típico exemplo de como um personagem assexual poderia ser escrito dentro dos estereótipos básicos desse grupo, Sherlock (de Sherlock, da BBC) é um exemplo mais complicado. Assim como acontece com Sheldon, em Sherlock os espectadores também viram sintomas da Síndrome de Asperger e características da assexualidade no personagem principal. Entretanto, Sherlock é muitas vezes tratado como um psicopata ou um sociopata por outros personagens durante a trama, o que se enquadraria ainda mais no estereótipo de que assexuais são frios e analíticos – uma vez que isso é uma característica de personagens psicopatas ou sociopatas. Sherlock, também, ainda mais do que Sheldon, é bastante solitário, o que se enquadra em outro estereótipo.
Na questão do Aspergers, o jornal The Guardian fez uma postagem sobre a interpretação que Cumberbatch dava à Sherlock, antes mesmo do piloto ir ao ar para o público. Nessa postagem a jornalista fala que Cumberbatch "tem uma reputação para interpretar homens bizarros e brilhantes muito bem e que o seu Holmes é frio, tecnológico e com traços de Aspergers". Sherlock, de fato, tem alguns dos sintomas da síndrome como a dificuldade de se relacionar com outras pessoas e a dificuldade de compreender as normas sociais – tal como o número 2 da lista de Leuw dos estereótipos – mas, de acordo com Steven Moffat, o showrunner do seriado, isso não significa que ele tenha a síndrome. Quando o roteirista foi questionado diretamente, sua resposta foi que Holmes "se contenta com fazer o que as pessoas estão dizendo que ele faz, porque isso é mais fácil".
Uma das cenas mais famosas do piloto de Sherlock é quando um dos detetives que estão investigando a cena de crime do episódio afirma que ele seria um psicopata – algo que é repetido por outros personagens durante a série – e este retruca falando que ele não é um psicopata, mas um sociopata.
Anderson: Isso não importa. Nós achamos a posta! De acordo com ALGUÉM, "o assassinto tem a pasta" e nós achamos nas mãos do nosso psicopata favorito.
Sherlock Holmes: Eu não sou um psicopata, Anderson. Eu sou um sociopata de alto funcionamento. Faça sua pesquisa.
Esse diálogo e toda a personalidade de Sherlock, entretanto, foram esmiuçados pela psicóloga Maria Konnikova em um texto onde ela pede para que parem de chamar Sherlock de sociopata. Neste ela discorre sobre o porquê dele não estar dentro dessa caracterização de doença mental, enfatizando que se trata do estereótipo televisivo do que seria um psicopata. Ela começa afirmando que o próprio Holmes não parece ter feito a sua pesquisa, uma vez que psicopatia e sociopatia são terminologias diferentes para a mesma doença – onde psicopatia é a utilizada na medicina moderna e sociopatia era utilizada na década de 30. O principal ponto do artigo é a afirmação feita por Konnikova de que a frieza de Sherlock (um dos principais pontos para a caracterização da psicopatia no personagem e um dos estereótipos do assexual) é algo que ele construiu para si ao invés de ser uma característica de personalidade inata de si.
"A frieza de Holmes é nada do tipo [que é encontrada em verdadeiros psicopatas]. Não é que ele não sente qualquer emoção. É que ele já treinou a si mesmo para não deixar que as emoções nublem seu julgamento, algo que ele repete muitas vezes para Watson. Em "The Sign of Four", lembre a reação de Holmes para Mary Morstan: "Eu acho que ela é uma das mais charmosas senhoras jovens que eu já conheci." Ele realmente a acha charmosa, então. Mas isso não é tudo o que ele diz. "Mas o amor é uma coisa emocional, e qualquer coisa que seja emocional é oposta da fria e verdadeira razão que eu coloco acima de tudo", Holmes continua. Se Sherlock fosse um psicopata, nenhuma dessas declarações faria algum sentido. Não só ele iria deixar de reconhecer tanto encanto de Mary e seu potencial efeito emocional, mas ele não seria capaz de desenhar a distinção que ele faz entre a fria razão e a quente emoção. A frieza de Holmes é aprendida. É deliberada. É uma autocorreção constante. "
A ideia de que a frieza desse personagem seria uma forma criada por ele mesmo de ser mais eficiente no seu trabalho e, também, de afastar as emoções que poderiam nublar o seu julgamento é um ponto importante, também, na avaliação de Sherlock dentro do estereótipo do assexual arromântico. Há a ideia, como apresentado em Sheldon, de que o assexual arromântico é uma pessoa fria e pouco capaz de se conectar com outros seres humanos, uma pessoa que não sente empatia por conta da sua inabilidade de sentir atração romântica e sexual. Esses dois pontos são, também, características muito atribuídas aos psicopatas da ficção e historicamente listadas como dois pontos importantes para o diagnóstico dessa doença.
Entretanto, se Sherlock tem a sua frieza forjada como uma característica do personagem, então o que ele poderia estar forjando também? De acordo com Benedict Cumberbatch e Steven Moffat, ele também estaria forjando a assexualidade com o mesmo motivo. Benedict deu uma entrevista à revista Elle inglesa onde ele fala diretamente que Sherlock é a assexual "por um motivo", que seria para ele ser mais eficiente no seu trabalho. "Ele é assexual por um motive, não porque ele não tem um desejo sexual, mas porque é algo suprimido para que ele faça seu trabalho", afirma o ator. O mesmo tipo de afirmação é feita por Steven Moffat em uma entrevista ao The Guardian, onde ele diz que Sherlock faz uma escolha de se abster de uma vida sexual:
"É a escolha de um monge, não a escolha de um assexual. Se ele fosse assexual, não iria haver tensão nisso, nenhuma diversão nisso – é alguém que se abstém que é interessante. Não há nenhuma garantia de que ele vai ficar dessa maneira até o final – talvez ele case com a Sra. Hudson. Eu não sei!"
Moffat e Cumberbatch não só afirmam que Sherlock não é um assexual como eles cometem dois grandes erros ao falar de orientações sexuais. O primeiro é a afirmação de que esta é uma escolha. A assexualidade muitas vezes é confundida com a ideia de que esta seria uma escolha – algo bastante atrelado com a dificuldade dessa orientação ser validada na sociedade – que é um efeito principal da sexusociedade, da ideia de que todos somos seres sexuais. Da ideia de que o sexo está intrínseco na nossa natureza. Então uma pessoa que nasce sem a atração sexual (ou o interesse de fazer sexo) deve estar escolhendo isso para a sua vida por algum motivo, qualquer que seja. Além disso, há a confusão entre a ideia de assexualidade com celibato, que Moffat chega a diferenciar ao falar que a escolha de Sherlock é a de um monge.
Outra conexão entre o estereótipo apontado para Sheldon e Sherlock é que os dois são vistos como representação de homossexuais. A ideia de que Sherlock é gay e de que ele teria um romance com o médico John Watson permeia os grupos de fãs do seriado e o próprio roteiro da série. Há diversos momentos onde tanto Sherlock quanto Watson têm que se explicar, afirmar que não são gays e repetir essa fala – mesmo quando eles não estão fazendo nada que seja indicativo de homossexualidade. Uma dessas cenas, por exemplo, aparece no episódio piloto onde Watson e Holmes ainda estão se conhecendo. Os dois estão em um restaurante e o dono do restaurante chega na mesa lhes tratando como um casal.
Angelo: Por conta da casa, para você e para o seu encontro.
Sherlock (para John): Você quer comer?
John (to Angelo): Eu não sou o encontro dele.
Nesse primeiro momento é demonstrado um desconforto com a situação por parte de John, que pula de uma vez para atestar que ele não é o encontro ('date', no original) de Sherlock. No caso, os dois só estavam sentados na mesma mesa. Não havia motivo nenhum para o garçom (Angelo) agir dessa maneira com Sherlock e John. O questionamento do porquê ele agiu, assumindo que os dois estavam em um encontro, confunde o espectador, mas a cena continua com o jantar.
Angelo (para John): Vou pegar uma vela para a mesa. É mais romântico.
John (indignados, enquanto Angelo vai embora): Eu não sou o encontro dele!
(Sherlock coloca o seu menu sobre a mesa.)
Sherlock: Você poderia muito bem comer. Podemos ter uma longa espera.
(Angelo volta com uma pequena tigela de vidro contendo uma vela acesa. Ele coloca sobre a mesa e faz para John um sinal com polegar para cima antes de se virar e ir embora novamente.)
John (incomodado): Obrigado.
A cena segue com Sherlock e John ficando sozinhos na mesa enquanto esperam sua comida. Sherlock está imerso nos seus pensamentos e John, depois da comida chegar, questiona o companheiro de quarto sobre a sua sexualidade. Ele questiona sobre uma namorada, depois de ter começado todo o discurso afirmando que Sherlock não seria normal. Ao que o detetive nega ter uma, ele lhe questiona sobre um namorado. A ideia da inevitabilidade de um relacionamento romântico-sexual e do binarismo – ou hétero ou homossexual – estão bastante presentes nesse diálogo, uma vez que a primeira coisa pensada na negação de um relacionamento heterossexual seria o homossexual. Não chega a passar pela cabeça de John que há inúmeras possibilidades de orientações sexuais, o que também não parece estar passando pela cabeça dos próprios roteiristas.
Sherlock: O que as pessoas têm, então, na vida real?
John: Amigos; conhecidos; pessoas que gostamos; pessoas que não gostamos... Namoradas, namorados…
Sherlock: Sim, bem, como eu estava dizendo – Entediante.
John: Então você não tem uma namorada?
Sherlock (ainda olhando pela janela): Namorada? Não, não é realmente a minha área.
John: Mm.
(Um momento se passa antes que ele perceba o possível significado do comentário).
John: Ah, sim. Você tem um namorado?
(Sherlock olha para ele ofendido.)
John: O que não tem problema, aliás
Sherlock: Eu sei que não tem problema.
(John sorri, indicando que ele não queria dar nenhum significado negativo ao que estava dizendo).
John: Você tem um namorado então?
Sherlock: Não.
John (ainda sorrindo, apesar de seu sorriso estar se tornando um pouco fixo e desconfortável): Certo, ok. Você não se apega. Como eu. (Ele baixa o olhar para o seu prato, aparentemente ficando subitamente sem ter o que dizer). Bom. (Ele limpa a garganta). Bom.
(Ele continua comendo. Sherlock o encara desconfiado por um momento, mas então volta sua atenção novamente para a janela. Ele, porém, parece responder o comentário de John em sua cabeça e então parece assustado. Virando-se para John de novo, ele começa a falar desconsertadamente e tropeça mais e mais nas palavras até que John o interrompe)
Sherlock: John, um ... Eu acredito que você deveria me considerer casado com o meu trabalho, e apesar de eu estar lisonjeado com o seu interesse, eu não estou realmente procurando por nenhum...
John (interrompendo): Não. (Ele vira o rosto brevemente para limpar a garganta.) Não, eu não estou perguntando. Não.
(Ele fixa o olhar em Sherlock, aparentemente tentando exprimir ainda mais sua sinceridade)
John: Eu só estou dizendo, não tem problema
(Sherlock olha para ele por um momento, e então balança a cabeça afirmativamente)
Sherlock: Bom. Obrigado.
No próprio diálogo, ao mesmo tempo que há a negação da homossexualidade dos personagens, também há a afirmação de que Sherlock não se envolve com relacionamentos porque se considera "casado com o seu trabalho" – um estereótipo bastante comum, como já citado. Além disso, há a inclusão da ideia de que John estaria interessado em Sherlock, com os trejeitos dele na cena que são narrados no diálogo e a maneira como ele se esforça para negar que não estaria, ao ser questionado.
O pretexto da homossexualidade de Sherlock pode ser, assim como no caso de Sheldon, uma forma de lidar com a possível assexualidade do personagem sem ter que apresentar tal sexualidade. Como já explicado, é comum que homens assexuais sejam colocados dentro da normatização da homossexualidade por uma lógica de que se ele não gosta de mulheres, então ele deve ser gay. Entretanto, tal normatização também é uma forma estereotipada de ver os personagens e de ver a assexualidade que condiz com o apagamento assexual conivente da mídia televisiva.
CONCLUSÃO
A representatividade é uma das formas mais comuns de se colocar pessoas que são membros de minorias sociais dentro de uma narrativa mundial. A televisão norte-americana ou inglesa, a televisão do idioma inglês, é a forma que mais alcança as pessoas no mundo. São milhares de pessoas assistindo esses dois programas. São milhares de pessoas recebendo as leituras de mundo que esses personagens passam e absorvendo, tanto consciente quanto inconscientemente, a caracterização deles.
A ideia de que esses personagens são representações de seres humanos é criada como parte disso, como parte do coloquialismo de estar vendo televisão e se sentir identificado por aquele personagem. O ideal comum de ver a televisão como parte da sua casa, da sua rotina e até da sua família. Dessa forma, personagens baseados em minorias são extremamente importantes como uma espécie de bússola para que exista a compreensão de que essas pessoas, essas minorias existem. Elas estão respirando, caminhando, pulsando, vivendo ao nosso redor a cada minuto do dia, mesmo que não saibamos da sua existência.
Nisso, a representação desses dois personagens falha. Tanto Sheldon quanto Sherlock são personagens deslocados na nossa sociedade. São dois personagens que são narrados dentro de tantas camadas de estereótipos para agradar ao público e conseguir uma identificação mais extensa do que as minorias que eles representariam. Mas, acima de tudo, por serem as duas únicas representações desse grupo minoritário em meios da grande mídia, Sherlock e Sheldon criam para muitos expectadores a ideia de que esses estereótipos são realidades.
A ideia de que o assexual arromântico é frio, distante, nerd, socialmente inapto e possivelmente com Aspergers é perpetuada pela criação desses personagens. A afirmação de Sherlock de que ele seria um sociopata também reforça a medicalização desses grupos, como já havia sido afirmado na pesquisa de Elisabete Oliveira e em outras citadas na primeira parte desse texto. Já existe a ideia na sociedade de que o assexual é uma pessoa anormal, uma pessoa fora da normatividade comum, sem a necessidade de um rosto para esse estereótipo. Quando existe um, ele somente se fortalece.
Porém, diferente de alguns estereótipos que ajudam na criação de uma consciência da existência de grupos minoritários, o estereótipo do assexual arromântico só contribui ainda mais para a discriminação e a associação desses grupos com coisas negativas. Cada vez mais os assexuais são vistos de forma clínica e medicalizada. Cada vez mais os assexuais são arrastados para a noção de que a assexualidade e o celibato são ideias parecidas. Mas, acima de tudo, cada vez mais os assexuais têm a sua orientação sexual negada.
Uma representação positiva é importante, uma representação que verdadeiramente faça uma apresentação o mais real o possível para inibir o desconhecimento e o preconceito é importante. Isso tem esse grau porque, como Hall e outros teóricos da representação apresentam, é necessário criar um signo, um símbolo correto de quem essas pessoas são para haver uma representação. Os estereótipos precisam evoluir e, acima de tudo, personagens assexuais precisam ser personagens assexuais. Eles precisam sair do armário e se tornarem um foco bom, positivo, tanto para quem desconhece a assexualidade poder interagir mais com essa forma de vida quanto para quem é assexual poder se ver na tela.
A desmistificação da narrativa sexual obrigatória está longe de ser realizada, mesmo quando existem dois personagens bastante lidos como assexuais pelos seus grupos de fãs. Enquanto as pessoas que estão escrevendo e fazendo televisão não virem como necessário incluir esses grupos de minorias excluídas nos seus personagens e continuarem dando, como Moffat fez, declarações de que a assexualidade não é interessante, então ela vai continuar sendo vista dessa forma. Personagens sem interesse em relações sexuais vão continuar sendo vistos como personagens chatos ou anormais. Mas, acima de tudo, personagens que não tem desejo sexual vão continuar sem aparecer na televisão.
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