ATELIÊ DE MÍDIAS Uma parceria entre a escola e o museu MAR

June 6, 2017 | Autor: Lindomar Araujo | Categoria: Scholarship of Teaching and Learning
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ATELIÊ DE MÍDIAS Uma parceria entre a escola e o museu MAR. Por LINDOMAR DA SILVA ARAUJO

JUSTIFICATIVA Trabalhar numa escola de tempo integral exige, de todos do/no cotidiano escolar, diferentes e novas formas de aprender e ensinar. Especificamente no Ginásio Carioca, alunos e professores convivem sete horas diariamente, com o maior comprometimento de todos os adultos na formação global de cada aluno. No plano de ação do Ginásio Carioca Vicente Licínio Cardoso, dedicamos carga horária ampliada ao ensino da Arte, na sua matriz diversificada, com a formulação de Ateliês específicos, em forma de disciplina Eletiva. Nesse espaçotempo de aprendizagem, o aluno escolhe o ambiente, a linguagem e o professor para “trabalhar”, a cada semestre. Este é um diferencial qualitativo que implementamos na aprendizagem dos alunos, por ser a linguagem da Arte uma forma de imaginar, (re)criar e transformar mundos. No Ateliê de Mídias, ministrado pelo professor Lindomar Araujo, o aluno é direcionado a desenvolver habilidades e competências, por uma prática pedagógica denominada “educação para as mídias”. De acordo com BELLONI1, a educação para as mídias objetiva formar um usuário ativo, crítico e criativo, pois “é condição sine qua non da educação para a cidadania.” Educar para as mídias é levar o aluno a aprender fazendo mídia, dominando sua arquitetura e estética. Nesse ateliê, trabalhamos com múltiplas linguagens artísticas e focando nas tecnologias digitais, ao explorar a produção de imagens, vídeos e blogs, manipula-se essas ferramentas de acordo com os projetos estruturados de forma colaborativa, por decisões coletivas, considerando os currículos ocultos dos alunos, e num diálogo direto com os conteúdos específicos das disciplinas Arte e Projeto de Vida. Aqui, apresentaremos alguns resultados relevantes de projetos realizados no Ateliê de Mídias, relacionados à criação de curtas-metragens, em que foram pautados por uma parceria direta com o Museu de Arte do Rio – MAR. Acreditamos que nosso relato possa provocar no leitor novas reflexões e/ou estimular novas ações pedagógicas.

METODOLOGIA Nossa escola encontra-se na região portuária, e apesar de a maioria dos nossos alunos serem de comunidades carentes, temos fácil acesso a museus e centros culturais. No entanto, tal facilidade não garante, de imediato, a motivação dos alunos em realizar visitas guiadas e exploração a uma cultura mais sofisticada, devido à necessidade de conhecer para valorizar. É próprio de um processo educativo apresentar aos estudantes diversas ações culturais, que se diferenciem daquelas já praticadas em sua comunidade, e em seu cotidiano, que passam a serem vistas como senso comum, inclusive pela influência das mídias comerciais, que incutem nos jovens uma estética de massa. Então, propomos aos alunos novos e diferentes olhares, pelo uso das tecnologias digitais, na produção de imagens e vídeos, de forma crítica e significativa. O Ateliê de Mídias é formado por alunos dos 7º, 8º e 9º anos, em forma de Eletiva, com a interação de faixas-etárias diferentes, objetivando o aprender a conviver na diversidade. Acreditamos numa ações de aprenderensinar baseadas nos valores humanos, alinhadas a abordagem triangular2 de Ana Mae Barbosa. 1

BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação? Campinas, SP: Autores Associados, 2005, p.12. De acordo com a “abordagem triangular” para o ensino da Arte, proposta por BARBOSA (1999), quando o professor trabalha articulando a Contextualização, o Fazer Artística e a Apreciação, promove uma intensificação 2

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Iniciamos, sempre que possível, com um diálogo, para provocar uma ação experimental, que envolva a fotografia, por ser a imagem fixa precursora do cinema. “Vivemos em um mundo saturado de imagens. (...) Diante do papel central da imagem no mundo contemporâneo, refletir sobre usos potentes do audiovisual no contexto escolar é um grande desafio.”3 (LEBLANC, 2012, p. 38). Após delimitarmos nosso campo de atuação, ultrapassamos os muros da escola para apreciação e registros com focos definidos. Ao retornarmos, já temos tarefas projetadas em editores de imagem (photoshop). Inicialmente, aprende-se a depurar e manipular imagens, resignificando-as, e produzindo imagens em novo contexto (anexo 01). Num momento seguinte, é introduzida a produção de imagens em movimento, onde normalmente trabalhamos com gif animado e/ou pixilation. Só depois partimos para a produção de vídeos, que pode ser videoclipes, curtas-metragens, autorretratos, etc. O trabalho que apresentamos agora é a criação de filme na linguagem de animação por pixilation. Consideramos importante citá-lo por ser um exercício anterior a produção de curtametragem. O primeiro procedimento foi apresentar um curta-metragem retratando a solidariedade e após a apreciação do filme, a discussão sobre os valores éticos e estéticos contidos no curta. Outro curta-metragem foi apresentado, mas dessa vez na linguagem pixilation, para que compreensão da forma desse produto. Depois, foi solicitado que se dividissem em pequenos grupos e elaborassem roteiros a partir de um valor humano. Cada grupo apresentou seu roteiro e em seguida elaboramos, coletivamente, um roteiro único de todo o grupo do Ateliê, elegendo um dos valores, para realizarmos a montagem do filme de animação. Foi escolhido o tema “Amizade” e o curta-metragem intitulado “Amizade Solidária” (Anexo 02), gravado com os alunos em funções diferenciadas. O que fazemos de diferente, em relação à técnica de pixilation, é não trabalhar diretamente com fotografia durante a produção/criação das cenas. Normalmente, gravamos as ações em filme e levamos para o editor de vídeos, onde o aluno fotografa os frames, como permite os editores, que deseja inserir no pixilation. Todas as fotos já saem numeradas para a criação do curta. Após termos compreendido a base de um roteiro e o esquema de gravação, iniciamos a criação de curta-metragem dramatizado ou em documentário. Apresentamos a seguir, dois processos de criação que se originaram na parceria, que ainda hoje mantemos, com o Museu de Arte do Rio – MAR, baseados na exposição denominada “Do Valongo à Favela: imaginário e periferia”. Em dois grupos de Ateliê, o processo de elaboração de roteiro foi bem parecido, com o professor apresentando o folder da exposição e abrindo para dialogar sobre o tema. Assim que as imagens do folder foram expostas, todos logo se identificaram e passaram a contar histórias sobre a região portuária, as comunidades em que moram e suas experiências pessoais e locais. Após o diálogo sobre a exposição e os currículos ocultos dos alunos, combinamos de visitarmos a exposição, mas com um objetivo: “encontrar uma obra que lhe tocasse a alma e que lhe contasse uma história.” No dia da visita, quando chegamos ao museu MAR, fomos recebidos e guiados pelos monitores, no entanto, todos eram constantemente lembrados da tarefa de observação atenta, para anotar sua obra preferida. Após a visita, no Ateliê realizamos um diálogo, descrevendo as impressões sobre a exposição, apresentando, cada um, a obra que teria lhe tocado. Após esse bate-papo realizamos uma tempestade de ideias, com anotações no quadro branco, para criação de um roteiro básico da aprendizagem e quando no espaço dos ateliês, os alunos encontram-se em constante fruição da arte, por conter diferentes procedimentos artísticos num mesmo espaço. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999. 3 LEBLANC, Paola Barreto. (IN) Multirio. A escola entre mídias: linguagens e usos. (Imagem e Educação). Rio de Janeiro: Multirio, 2012.

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coletivo, contendo personagens e espaços das obras escolhidas pelos alunos. Um dos grupos de Ateliê escolheu a obra do artista Carlos Vergara (Série Carnaval, 1972 – Metacrilato - 100 x 150 cm), com a imagem de três negros com a palavra poder no peito (Anexo 03), o filme se chama “Quase memória: um convite à obra”4. O outro grupo elegeu duas obras, sendo uma do artista Caetano Dias (Cabeças, 2007 – Açúcar - 40 x 40 x 40 cm), que é uma cabeça exposta sobre a mesa (Anexo 04), e outra obra do artista André Komatsu (Disseminação concreta, 2006/2014 - Cascalho de escombros do Elevado da Perimetral e peças de roupas Cópia de exibição), cuja obra denominamos “O homem de pedra” (Anexos 05). Este ultimo curta foi denominado “Realidade imaginária”5. Para gravação do filme, realizamos um cronograma/planejamento que incluía gravações na rua e no MAR (parte externa e interna do museu). A parceria com o museu facilitou nossa ação, exigindo apenas os agendamentos prévios, de forma que pudéssemos utilizar os materiais de gravação no interior da instituição. Toda a parte externa, de rua, gravamos na própria comunidade local, como no morro da Conceição, Mosteiro do São Bento, Praça do Valongo, Praça São Francisco da Prainha, entre outros locais. A edição dos filmes precisou ser realizada, inicialmente, pelo professor fora da escola, por necessitar de computador adequado e internet de qualidade. Mas cada trecho montado era mostrado aos alunos e discutido sobre as possíveis mudanças, acontecendo reedição de um ou outro trecho, para marcar a apropriação da obra com os alunos. Todas as músicas foram baixadas pelos alunos em sites com licença livre (Creative Commons License)6. Após a finalização dos filmes, apresentamos aos alunos da escola, postamos em nosso blog e nas redes sociais. Acrescentamos a essa parceria com o museu MAR, a criação do curta-metragem que o ateliê de Mídias produziu, de forma interdisciplinar com a disciplina de Ciências, abordando o tema Mata Atlântica, num projeto que envolveu a maioria dos alunos da escola e que teve sua culminância no auditório do mesmo museu, quando projetamos o filme “Nossa Mata Atlântica7” (Anexo 05) para a comunidade escolar e outros convidados. AVALIAÇÃO Ao desenvolvermos projetos com as TIC no ambiente escolar, potencializou o trabalho em equipe, gerando relações mais amistosas entre os alunos, pelo envolvimento e compromisso com as ações emergentes do próprio grupo. Muitos alunos descobriram novas habilidades com as tecnologias digitais, fortalecendo a autoestima. Todos os alunos que se envolveram nessas ações passaram de ano e desejaram repetir a Eletiva numa próxima oportunidade. A parceria entre a escola e o museu redimensionou as possibilidades no/do cotidiano escolar, permitindo maior gama de ações pedagógicas que esgarçassem os limites dos muros da escola.

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Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=0v6vd7W0xiQ Visitado em 14 Set. 2015. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ONfQhaSpd-s Visitado em 14 Set. 2015. 6 Visite o site e veja exemplos de links: http://atelieoutrasmidias.blogspot.com.br/2015/09/sites-quedisponiblizam-musicas-livres.html Visitado em: 14 Set. 2015. 7 Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=x-P-ja31llQ&feature=youtu.be Visitado em 14 Set. 2015. 5

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ANEXOS (Anexo 01)

(Anexo 02)

(Anexo 03)

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(Anexo 04)

(Anexo 05)

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(Anexo 05)

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