Atributos de valorização das profissões futuras

July 3, 2017 | Autor: Rosário Mauritti | Categoria: Higher Education, Social Representations, Student Motivation And Engagement, Social status
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TEXTO ORIGINAL PUBLICADO EM: Almeida, João Ferreira de e outros (2003), Diversidade na Universidade: Um Inquérito aos Estudantes de Licenciatura, Oeiras, Celta Editora, pp. 141-151.

Capítulo 9 ATRIBUTOS DE VALORIZAÇÃO DE PROFISSÕES FUTURAS Rosário Mauritti

Na análise das representações de posição social ou de status social (capítulos 6 e 7) uma das convicções mais amplamente difundidas pelo conjunto de estudantes de licenciatura tende a atribuir à passagem pela universidade o alargamento virtual das oportunidades futuras de inserção na actividade profissional. Eventualmente, esta percepção que têm da educação como direito de entrada em ocupações profissionais de reconhecida importância, bem como a um estatuto social compatível, poderá radicar na sua relativa escassez no mercado ou, mais especificamente, nas características ligadas ao baixo nível de instrução e formação da população activa portuguesa. É provável também que, nas projecções que fazem sobre as suas próprias trajectórias, a maior ou menor confiança que exprimem reflicta ainda o facto de estarem, ou não, a frequentar o curso que elegeram como primeira opção, quando se candidataram à universidade (o que acontece em 80,4% dos casos). Sabemos que apenas uma minoria dos estudantes inquiridos exerce ou já exerceu actividades profissionais remuneradas. Pelo que, as percepções que têm do mundo laboral decorrem essencialmente dos dados de que dispõem a partir da diversidade de experiências vivenciadas pelos seus familiares e amigos mais próximos e pelo que genericamente lhes é transmitido nos meios de comunicação social, bem como, talvez de forma mais saliente – nomeadamente quando as referenciações tomam as posições de destino –, nos contextos de socialização mais directamente associados ao ensino superior e ao domínio de formação que frequentam; o qual, como se referiu antes, tenderá a proporcionar uma aquisição diferenciada de meios e atributos objectivados que podem convocar. Neste capítulo pretende-se saber 1) em que medida os estudantes perspectivam o trabalho como um valor em si, 2) o que desejam e o que esperam concretizar na actividade profissional. Para operacionalização destes objectivos colocou-se aos estudantes a seguinte questão: “em termos do que pessoalmente lhe interessa, que importância atribui a diversos aspectos ligados à actividade profissional?” Uma primeira ilustração dos resultados obtidos nesta questão é proposta na figura 9.1.

141

Importante 100,0 90,0

99,6

97,8

93,9

80,0

96,0

Muita importância

95,2

92,8

90,8

87,4

77,2

72,6

70,0 60,0

59,3

58,6

55,8

50,0 44,7

40,0

42,6

30,0 23,9

20,0 10,0

Figura 9.1 Atributos de valorização das profissões futuras (em percentagem) Ver notas à figura 8.1

Em convergência com os dados apurados no capítulo 8, constata-se que todos os aspectos contemplados são genericamente considerados importantes pela esmagadora maioria dos estudantes, assumindo uma expressão claramente residual as atribuições de “não importância” (excepto, talvez, na dimensão relativa à “possibilidade de exercer um cargo de chefia”, na qual as avaliações de não importância envolvem 27,4% dos estudantes). Estes resultados acentuam ainda a valorização da dimensão expressiva da actividade profissional. Neste sentido, “desenvolver um trabalho cujo conteúdo lhe agrade” corresponde à aspiração mais valorizada pelos estudantes (com 99,6% de atribuições de importância), um trabalho onde, por outro lado, possam “ter autonomia” (96,0%), “ser criativos” (92,8%) e “assumir responsabilidades” (90,8%). Estes vectores ligados a factores intrínsecos ao trabalho, aparecem ainda associados à valorização da dimensão extrínseca da remuneração (95,2%) e do prestígio (87,4%), bem como a aspirações que indiciam algum descentramento do indivíduo, como a “possibilidade de ser

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Exercer um cargo de chefia

Profissão com prestígio

Assumir responsabilidades

Ter uma boa remuneração

Ser criativo

Ter grande autonomia

Ser útil

Trabalho de conteúdo agradável

0,0

útil” (com 97,8% das atribuições de importância, o segundo elemento mais valorizado). Também aqui, é quando se consideram, nas atribuições de importância positiva dos vários vectores, as diferenças entre os dois primeiros graus (muita e alguma importância) que a valorização do trabalho como factor de realização assume maior relevo: desenvolver um trabalho que goste é, nesta perspectiva, a aspiração mais salientada pelos estudantes de licenciatura (com 93,9% de frequências nas atribuições de muita importância). Nestas avaliações, a centralidade da actividade profissional que esperam vir a desempenhar passa ainda pelo reconhecimento da sua utilidade social (aspecto considerado muito importante para 77,2% dos estudantes). Já os vectores ligados à autonomia, criatividade e a recompensas remuneratórias têm sensivelmente um peso equivalente, e ainda bastante expressivo, nas atribuições de muita importância (59,3%, 58,6% e 55,8%, respectivamente). Assumir responsabilidades e exercer uma profissão com prestígio, correspondem aos aspectos valorizados logo de seguida (envolvendo 44,7% e 42,6% de atribuições de muita importância), enquanto exercer um cargo de chefia é uma aspiração assumida, declaradamente, como muito importante apenas por 23,9% do conjunto de estudantes. A articulação destes resultados com características ligadas, designadamente, ao domínio de formação que frequentam vem apenas confirmar as tendências evidenciadas na abordagem referenciada às representações sobre as razões de escolha da licenciatura. Como se pode observar no quadro 9.1, todos os estudantes, independentemente do domínio de formação que elegeram são unanimes na valorização do trabalho como factor de realização. É na especificação dos elementos que poderão suscitar maior satisfação/motivação na actividade profissional, ou pelo menos evitar a insatisfação, que são notórias ligeiras oscilações. Sem grandes preocupações de exaustividade, destaque-se, por exemplo, o maior interesse dos estudantes de letras e artes quanto à possibilidade de virem a ter uma profissão onde possam ser criativos; e, no caso dos estudantes de economia e gestão e de direito, a valorização mais acentuada de aspectos de natureza extrínseca ou instrumental, como a remuneração, a possibilidade de virem a assumir responsabilidades associadas ao exercício de um cargo de chefia, e ainda, o prestígio da profissão. Em todos estes vectores os estudantes de ciências médicas apresentam frequências abaixo da média, mas em contrapartida revelam (nas atribuições de muita importância) maiores aspirações do que os seus colegas das restantes áreas quanto à possibilidade de virem a desempenhar uma profissão de reconhecida utilidade social.

143

Quadro 9.1 Atributos de valorização das profissões futuras, por área científica (em percentagem) Área científica Atributos

Grau de importância Letras e Direito Ciências Economia Ciências C. Naturais e Engenharias Artes

Desenvolver um

Importante

Ter uma boa remuneração

Assumir responsabilidades

Ter uma profissão com prestígio

Exercer um cargo de chefia

Total

Matemática

100,0

100,0

99,5

100,0

99,6

99,7

99,6

-

-

0,5

-

0,4

0,3

0,4

Mta importância

95,6

95,9

95,4

92,0

96,9

92,5

92,3

93,9

Importante

97,5

97,9

98,5

96,9

99,0

98,9

97,4

97,8

2,5

2,1

1,5

3,1

1,0

1,1

2,6

2,2

Mta importância(**)

74,5

82,6

79,9

74,6

87,6

81,5

71,0

77,2

Importante

95,9

96,4

97,0

97,4

92,8

92,9

96,3

96,0

4,1

3,6

3,0

2,6

7,2

7,1

3,7

4,0

Mta importância(**)

61,6

67,9

58,7

59,8

47,4

56,4

57,7

59,3

Importante (*)

92,8

Ter grande autonomia Não importante

Ser criativo

Médicas

0,9

Não importante

Ser útil

e Gestão

99,1

trabalho de conteúdo Não importante agradável

Sociais

96,9

88,8

93,9

93,7

79,2

95,1

91,5

Não importante (*)

3,1

11,2

6,1

6,3

20,8

4,9

8,5

7,2

Mta importância (*)

74,2

55,8

65,2

50,8

36,5

59,8

54,5

58,6

Importante (*)

95,2

92,1

98,0

92,4

99,5

85,6

92,8

98,3

Não importante (*)

7,9

2,0

7,6

0,5

14,4

7,2

1,7

4,8

Mta importância (*)

44,5

69,5

46,2

70,7

28,9

47,9

62,4

55,8

Importante (*)

85,2

94,4

87,5

98,1

87,5

88,2

90,6

90,8

Não importante (*)

14,8

5,6

12,5

1,9

12,5

11,8

9,4

9,2

Mta importância (*)

29,9

50,8

42,7

59,7

34,4

38,0

46,3

44,7

Importante (*)

79,4

94,9

82,6

95,3

85,4

83,5

89,0

87,4

Não importante (*)

20,6

5,1

17,4

4,7

14,6

16,5

11,0

12,6

Mta importância (*)

28,9

55,3

39,9

52,0

37,5

36,1

45,2

42,6

Importante (*)

51,4

83,7

64,4

95,6

54,6

58,6

81,1

72,6

Não importante (*)

48,6

16,3

35,6

4,4

45,4

41,4

18,9

27,4

Mta importância (*)

10,7

30,1

18,5

43,9

10,3

10,5

27,1

23,9

(*) Qui-quadrado significativo p
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