AUDIÊNCIA E REASSISTIBILIDADE DA TELENOVELA MEXICANA NO BRASIL1 Joana d’Arc de NANTES, (UFF)2 Resumo: A presente pesquisa analisa a prática de “reassistibilidade” – conceito cunhado por Jason Mittell – a partir da audiência de telenovelas mexicanas. Desde que o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) começou a importar telenovelas mexicanas, na década de 1980, tais tramas têm sido comumente reexibidas. Dessa forma, neste trabalho, em fase inicial, propõe-se investigar as telenovelas reprisadas por essa emissora, bem como introduzir a reflexão sobre a prática de “reassistibilidade” de seus telespectadores. Palavras-chave: Reassistibilidade; Reprise; Telenovela mexicana; Audiência. Resumen: Esta investigación analiza la práctica de la “reasistibilidad” - un concepto acuñado por Jason Mittell - de la audiencia de las telenovelas mexicanas. Desde la importación de telenovelas mexicanas por el Sistema Brasileño de Televisión (SBT) en la década de 1980, las tramas han sido comúnmente reexhibidas. Por lo tanto, en este trabajo, en su fase inicial, se propone investigar las telenovelas reproducidas por esa emisora, así como introducir la reflexión sobre la práctica de la “reasistibilidad” de sus espectadores. Palabras clave: Reasistibilidad; Reexhibición; Telenovela Mexicana; Audiencia.
INTRODUÇÃO Em 21 de dezembro de 1951 foi exibida pela TV Tupi Difusora de São Paulo a primeira telenovela brasileira Sua Vida me Pertence, de Walter Forster. As primeiras telenovelas seguiam os moldes das radionovelas já populares no país, apresentando características como, por exemplo, a figura do narrador. As produções eram transmitidas ao vivo, tinham poucos capítulos e não eram exibidas diariamente. Elas eram oferecidas entre duas a três vezes por semana, com capítulos de cerca de vinte minutos. Sua Vida me Pertence, por exemplo, teve quinze capítulos e era exibida apenas às terças e quintas-feiras às oito horas da noite. No Rio de Janeiro, a primeira telenovela não diária foi O Drama de uma Consciência, de J. Silvestre, exibida em 1953 às quartas e sextas-feiras. A telenovela diária só foi possível graças ao desenvolvimento do videoteipe. A nova tecnologia foi lançada no mercado norte-americano em 1956 pela empresa Ampex e chegou ao Brasil na virada da década de 1950 para 1960, mas foi a partir de 1962 que Trabalho apresentado ao Grupo de Pesquisa NEMACS, durante a II Jornada Internacional GEMInIS, na Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, de 17 a 19 de maio de 2016. 2 Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). Linha de pesquisa: Mídia, Cultura e Produção de Sentido. Membro do NEMACS – Núcleo de Estudos em Comunicação de Massa e Consumo. E-mail:
[email protected] 1
ela começou a ser utilizada regularmente pela televisão brasileira (SIMÕES, 1986, p. 50). A chegada do videoteipe ampliou recursos e possibilidades para a televisão. Passou a ser possível, por exemplo, gravar um programa em São Paulo e transmiti-lo no Rio de Janeiro, sendo necessário apenas transportar as gravações. Do mesmo modo, esse novo equipamento viabilizou a comercialização de produtos televisivos para outros países. Assim, no ano de 1958, o México principiou a exportação de telenovelas ao vender a primeira trama para outra nação, a telenovela Gutierritos (MAZZIOTTI, 1996, p. 47). Enquanto no Brasil, a TV Globo deu início a prática nos anos de 1970, lançando internacionalmente a telenovela brasileira O Bem Amado (1973). Em direção oposta ao processo da produção e da exportação de telenovelas nacionais, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), no ano seguinte a sua estreia (1982), importou e transmitiu a primeira telenovela mexicana no território brasileiro. Há mais de 30 anos no ar, a emissora de Silvio Santos ainda mantém em sua programação tramas importadas. Regularmente, o SBT transmite as telenovelas no período vespertino, com maior destaque para as tramas mexicanas da Televisa. Muitos desses produtos ficcionais são reprises, como é o caso de Maria do Bairro, reapresentada em 2015 pela sétima vez desde sua primeira exibição em 1997. Nota-se, então, que o uso do videoteipe proporcionou a transmissão dos produtos em outras localidades, mas também possibilitou que as emissoras reprisassem as produções. Ao longo dos anos, novas tecnologias sucederam ao videoteipe, tais como o VCR, o DVD, a difusão on-line via streaming, entre outras. O desenvolvimento desses artefatos oferece cada vez mais autonomia ao consumidor, que tem uma ampla variedade de conteúdo a sua disposição e não precisa se prender a grade fixa de canais de televisão. Contudo, ainda que o público tenha acesso a inúmeros conteúdos e diferentes meios de assisti-los, existem aqueles que optam por ver reprises transmitidas pela televisão e é sobre essa parcela da audiência que esta pesquisa irá se debruçar. Assim sendo, propõe-se nesta comunicação investigar as tramas retransmitidas pelo SBT, bem como a prática de “reassistibilidade” de seus telespectadores. TELENOVELAS MEXICANAS E SUAS REPRISES NO SBT O SBT foi a primeira emissora a importar e exibir uma telenovela estrangeira no Brasil. A pioneira foi a produção mexicana Os Ricos Também Choram – de título
original Los ricos también lloran (1979). A trama foi transmitida entre 5 de abril de 1982 e 24 janeiro de 1983, e teve grande êxito entre os telespectadores brasileiros, sendo reprisada no mesmo ano de seu término (de julho a dezembro de 1983) e no ano seguinte (entre setembro de 1984 e fevereiro de 1985). A prática de compra de telenovelas estrangeiras iniciada nos primórdios da emissora ganhou regularidade e nos anos seguintes o SBT exibiu e reprisou várias produções de países latino-americanos, grande parte advindas do México. Ainda na década de 1980, outro sucesso de audiência foi Chispita escrita por Abel Santa Cruz e exibida pela primeira vez no SBT em 1984 em dois horários: às 18h15 e 19h15. No que tange as ficções brasileiras, constatou-se que de 1986 até 1989, o SBT não produziu telenovelas nacionais, Bronosky (1998) aponta que isso ocorreu devido à falta de recursos. Em 1989, quando retoma a exibição de uma trama brasileira (Cortina de Vidro), ela é comprada fechada de uma produtora independente, ratificando a falta de estrutura do SBT para produzir telenovelas (BRONOSKY, 1998, p. 10). Como demonstra o gráfico abaixo, na década de 1980, o SBT importou doze telenovelas (nove de origem mexicana, uma argentina, uma venezuelana e uma portoriquenha) e produziu dezessete telenovelas no Brasil – dentre as quais doze eram adaptações3 de textos estrangeiros. Nesse mesmo período a emissora reprisou doze telenovelas de origem estrangeira.
Gráfico 1 – Telenovelas exibidas pelo SBT na década de 1980 As adaptações contabilizadas em todos os gráficos desta pesquisa correspondem a produções nacionais de textos estrangeiros. 3
É possível ver na Tabela 1 que a telenovela mais vezes exibida na década de 1980 foi Chispita, totalizando quatro transmissões. Destaca-se que no final do decênio seguinte o SBT exibiu Luz Clarita, um remake mexicano dessa telenovela infantil. Pontua-se que a Televisa, emissora responsável pela maioria de tramas mexicanas transmitidas pelo SBT, tem uma tendência a fazer remakes (MAZZIOTTI, 2006, p. 32). Nesse sentido, muitas telenovelas exibidas pelo Sistema Brasileiro de Televisão são remakes de produções já apresentadas anteriormente na emissora.
Tabela 1: Telenovelas importadas exibidas no SBT na década de 1980 Título
1ª Exibição
Reprise
Origem
Os Ricos Também Choram
5/04/1982 a 24/01/1983
1983 e 1984
México
Desprezo
25/01/1983 a 31/08/1983
1984, 1991
México
O Direito de Nascer
19/09/1983 a 3/03/1984
1985 a 1986
México
Amor Cigano
1982
1984
Argentina
Cristina Bazán
1983
Porto Rico
Chispita
1984
1985 e 1987 1985, 1992 e 1996
Estranho Poder
20/08/1984 a 6/04/1985
1988
México
Viviana, em Busca do Amor
1984
1987 e 1991
México
Soledade
1985
1986
México
Angelito
1985
1986
Venezuela
Só Você
18/11/1986 a 6/01/1987
-
México
A Vingança
1987
1991
México
México
Fontes: Jornal do Brasil4, Wikipedia5 e Central de Notícias6
No início da década de 1990, o SBT contratou Walter Avancini para instalar e dirigir o núcleo de teledramaturgia da emissora (BRONOSKY, 1998, p. 11). Em “As Telenovelas no SBT”, Marcelo Engel Bronosky aponta que o novo diretor de núcleo iniciou propondo três horários para as telenovelas (18h, 19h e 20 horas). Segundo ele, o Jornal do Brasil, 4 fev. 1988. Disponível em: . Acesso em 17 de junho de 2015. 6 Disponível em: . Acesso em 2 de abril 2016. 4 5
objetivo de Avancini não era competir com as outras emissoras, mas criar e consolidar uma identidade de telenovelas para o SBT (BRONOSKY, 1998, p. 11). A primeira telenovela dirigida por Walter Avancini foi Brasileiras e Brasileiros (1990-1991). Segundo um anúncio vinculado no Jornal do Brasil em 23 de outubro de 1990, tratava-se de uma novela “inédita” e “inovadora”. Ela era baseada no neorrealismo e propunha-se abordar os problemas da população da periferia de São Paulo. Embora “inovadora”, a telenovela foi um fracasso, marcando 4 pontos de audiência, número muito baixo para o período. Bronosky afirma que o erro da trama estava em justamente discutir os infortúnios das camadas mais pobres da população, quando a atração deveria entreter (BRONOSKY, 1998, p. 11). Após o insucesso da trama nacional, o SBT volta a transmitir telenovelas mexicanas. Em 20 de maio de 1991, estreia às oito horas a telenovela infantil Carrossel e às nove horas Rosa Selvagem. A primeira, apresentava o dia a dia da turma de crianças do 2º ano do Ensino Fundamental da Escola Mundial, alunos da carinhosa professora Helena. Enquanto a segunda, era o clássico enredo dos dramas mexicanos, no qual uma jovem pobre se apaixona pelo homem rico e precisa enfrentar adversidades para viver o amor. Carrossel e Rosa Selvagem triplicaram em uma semana os índices de audiência da antecessora, Brasileiras e Brasileiros, as tramas marcaram respectivamente, 16 e 11 pontos de audiência (MARTINS, 1991, p. 9). O êxito dos importados mexicanos surpreendeu, como é possível observar na reportagem do Jornal do Brasil: [...] O primeiro desafio é explicar tamanha audiência para um produto que não chega aos pés da sofisticação de imagem e produção das novelas da Globo e Manchete. Se o público pode ter um produto melhor embalado, por que insiste no velho? [...] O sucesso dos dramalhões mexicanos quebra muitos tabus e desmente, mais uma vez, a ideia de que o público de televisão é homogêneo (MARTINS, 1991, p. 9).
Segundo Motta (2006), Carrossel “foi a porta de entrada” para que outras produções mexicanas fizessem sucesso no Brasil, como, por exemplo a trilogia das Marias – Maria Mercedes (1996), Marimar (1996) e Maria do Bairro (1997) – protagonizadas pela cantora e atriz Ariadna Thalía Sodi Miranda, a Thalía. Ainda na década de 1990, o SBT firmou uma parceria com produtoras e emissoras argentinas e realizou duas coproduções: Antônio Alves, Taxista (1996) e Chiquititas (1997-2000). As duas telenovelas eram adaptações de textos argentinos,
contavam com atores brasileiros e as cenas eram gravadas na Argentina. Chiquititas “[...] foi uma febre entre as crianças do Brasil no período de 1997 e 2000” (MOTTA, 2006, p. 49). No âmbito da produção nacional, a emissora de Silvio Santos só voltou a fabricar novas tramas em 1994, com Éramos Seis. Tratava-se da quarta adaptação televisiva do romance homônimo de Maria José Dupré. Segundo Alencar (2004), foi uma das melhores realizações da emissora no gênero (ALENCAR, 2004, p. 158). No decorrer da década, o SBT produziu tramas nacionais até julho de 1998, quando exibiu o último capítulo de Fascinação. De acordo com Motta, a proposta de Fascinação “era repetir a fórmula das novelas ‘água com açúcar’ mexicanas” (MOTTA, 2006, p. 49). O gráfico abaixo demonstra que mais da metade das telenovelas exibidas na década de 1990 foram importadas do México. Enquanto no que se refere as reprises, o SBT contou com quatorze, entre as quais cinco produções haviam sido exibidas inicialmente na década anterior e nove exibidas primeiramente na mesma década de 1990.
Gráfico 2 – Telenovelas exibidas pelo SBT na década de 1990
Foi durante os anos de 1990 que o SBT exibiu pela primeira vez as três telenovelas mais reprisadas ao longo de sua história: Marimar (exibida cinco vezes) Maria do Bairro (exibida sete vezes) e A Usurpadora (exibida seis vezes) como é possível constatar na Tabela 2.
Tabela 2: Telenovelas importadas exibidas no SBT na década de 1990 Título
1ª Exibição
Reprise
Origem
Carrossel
20/05/1991 a 21 de abril de 1992
1993, 1995 e 1996
Mexicana
Rosa Selvagem
20/05/1991 a 28/09/1991
1993
Mexicana
Simplesmente Maria
9/09/1991 a 9/03/1992
-
Mexicana
Quinze Anos
30/09/1991 a 30/11/1991
-
Mexicana
Ambição Alcançar uma Estrela
2/12/1991 a 23/03/1992
1992
Mexicana
24/03/1992 a 4/06/1992
-
Mexicana
Vovô e eu
22/04/1992 a 3/08/1992
1996
Mexicana
Alcançar uma Estrela II
5/06/1992 a 3/08/1992
-
Mexicana
Topázio
14/07/1992 a 1/03/1993
-
Venezuelana
A Fera
4/08/1992 a 2/11/1992
-
Mexicana
Eu não acredito nos homens
2/03/1993 a 31/05/1993
-
Mexicana
Garotas Bonitas
2/03/1993 a 31/05/1993
-
Mexicana
Paixão e poder
13/04/1993 a 31/05/1993
-
Mexicana
Marielena
1993
-
Estados Unidos
1/06/1993 a 9/08/1993
-
Mexicana
26/02/1996 a 21/06/1996
-
Mexicana
Maria Mercedes
12/08/1996 a 20/11/1996
1997 e 2012
Mexicana
Marimar
21/11/1996 a 18/02/1997
Maria do Bairro
20/02/1997 a 26/07/1997
Na Própria Carne
15/03/1997 a 3/05/1997
-
Mexicana
Luz Clarita
4/01/1999 a 5/04/1999
-
Mexicana
A Usurpadora
22/06/1999 a 9/11/1999
2000, 2005, 2007, 2012 e 2015
Mexicana
Amor em Silêncio Carrossel das Américas
1998, 2004, 2011 e 2013 1998, 2004, 2007, 2012, 2013 e 2015
Mexicana Mexicana
Fontes: Wikipedia7 e Central de Notícias8
Disponível em: . Acesso em 17 de junho de 2015. 8 Disponível em: . Acesso em 2 de abril 2016. 7
Em 2001, o SBT firmou uma parceria com a Televisa para a produção de adaptações brasileiras de textos mexicanos. Salienta-se que as adaptações não consistem em reproduzir os originais. De acordo com Fernanda Motta (2006), mantêm-se os aspectos originais, porém, sem exibir uma cópia fiel. As mudanças mais comuns são as épocas em que se passam as histórias, os locais e os aspectos culturais (MOTTA, 2006, p. 51). No que se refere a exibição de telenovelas estrangeiras, como demonstra o Gráfico 3, na década de 2000 mais de 73% das produções eram importadas, dentre as quais 65% tinham origem mexicana. Dentre elas, destaca-se a telenovela Rebelde9 (2005-2006), que se tornou um sucesso no Brasil e em todos os países onde foi transmitida (MOTTA, 2006, p. 49). Rebelde [...] trabalhou com estereótipos e assuntos de interesse universal a ponto de arrebatar públicos em mais de 70 países – e de culturas, em alguns casos, extremamente diversas, como México, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Peru, Venezuela, Espanha, Angola, República Dominicana, Israel, Canadá, Rússia, Índia, Inglaterra e Japão (BACCEGA; BUDAG; RIBEIRO, 2013, p. 96-97, grifo do autor).
O êxito dessa telenovela infanto-juvenil fez com que ela fosse reprisada pelo SBT na década seguinte e que ela ganhasse uma versão brasileira produzida pela Rede Record nos anos de 2011 e 2012.
Gráfico 3 – Telenovelas exibidas pelo SBT na década de 2000
Rebelde (2005/ 2006) é uma adaptação da telenovela argentina Rebelde Way. Contudo, a versão mexicana fez mais sucesso que a original. Em 2011 a Rede Record produziu uma adaptação brasileira com o mesmo da mexicana Rebelde. 9
Em relação às reprises de tramas estrangeiras, no decênio de 2000, elas compuseram apenas cerca de 16,6% do total de exibições no período, como mostra a Tabela 3.
Tabela 3: Telenovelas importadas exibidas no SBT na década de 2000 Título
1ª Exibição
Reprise
Origem
O Diário de Daniela
3/01/2000 a 24/04/2000
2007
Mexicana
Kassandra
5/01/2000 a 14/07/2000
-
Venezuelana
Sigo te amando
17/07 a 20/11/2000
-
Mexicana
A Mentira
8/05/2000 a 2/10/2000
-
Mexicana
Esmeralda
2/10/2000 a 6/03/2001
-
Mexicana
Maria Isabel
20/11/2000 a 19/02/2001
-
Mexicana
Coração Selvagem
4/12/2000 a 12/03/2001
-
Mexicana
Gotinha de Amor
22/01/2001 a 10/04/2001
2012
Mexicana
Camila
19/02/2001 a 22/06/2001
-
Mexicana
5/03/2001 a 3/09/2001
2005 e 2014
Colombiana
12/03/2001 a 20/07/2001
-
Mexicana
Serafim
9/04/2001 a 10/07/2001
-
Mexicana
Por teu amor
18/06/2001 a 22/10/2001
2014
Mexicana
Carinha de anjo
9/07/2001 a 26/02/2002
2003
Mexicana
Rosalinda
23/07/2001 a 13/11/2001
2004 e 2013
Mexicana
Abraça-me muito forte
1/10/2001 a 22/04/2002
2014
Mexicana
Preciosa
22/10/2001 a 4/02/2002
-
Mexicana
A alma não tem cor
12/11/2001 a 11/03/2002
-
Mexicana
Maria Belém
25/02/2002 a 25/06/2002
-
Mexicana
Salomé
11/03/2002 a 7/10/2002
-
Mexicana
Amigas e Rivais
22/04/2002 a 24/02/2003
-
Mexicana
Cúmplices de um resgate
25/06/2002 a 31/01/2003
2006
Mexicana
Café com aroma de mulher Amigos para sempre
Fontes: Wikipedia10 e Central de Notícias11
Disponível em: . Acesso em 17 de junho de 2015. 10
Tabela 3: Telenovelas importadas exibidas no SBT na década de 2000 Título
1ª Exibição
Reprise
Origem
Manancial Viva às Crianças! Carrossel 2 Primeiro Amor A mil por hora No limite da paixão Poucas, Poucas Pulgas
7/10/2002 a 10/02/2003
-
Mexicana
27/01/2003 a 14/10/2003
-
Mexicana
24/02/2003 a 25/07/2003
-
Mexicana
28/07/2003 a 26/01/2004
-
Mexicana
29/09/2003 a 23/04/2004
-
Mexicana
Amor Real
5/01/2004 a 17/05/2004
-
Mexicana
Menina... Amada Minha
26/01/2004 a 17/05/2004
-
Mexicana
A Outra
15/03/2004 a 14/08/2004
-
Mexicana
26/04/2004 a 10/09/2004
-
Mexicana
13/09/2004 a 12/02/2005
-
Mexicana
Rubi
14/02/2005 a 13/05/2005
2006 e 2013
Mexicana
A Madrasta
16/05/2005 a 28/10/2005
2013
Mexicana
Rebelde
15/08/2005 a 30/03/2006
2013
Mexicana
Mariana da noite
16/01/2006 a 2/06/2006
-
Mexicana
A Feia Mais Bela
20/03/2006 a 23/03/2007
2014
Mexicana
Feridas de Amor
14/08/2006 a 29/12/2006
-
Mexicana
A vida é um jogo
1/01/2007 a 10/02/2007
-
Mexicana
Destilando amor
26/03/2007 a 20/04/2007
-
Mexicana
Mundo de Feras
26/03/2007 a 22/07/2007
-
Mexicana
Chiquititas 2000
20/08/2007 a 18/01/2008
-
Argentina
Lalola
21/01/2008 a 28/06/2008
-
Argentina
Chiquititas 2008
17/03/2008 a 18/08/2008
-
Argentina
Amy, a Menina da Mochila Azul Alegrifes e Rabujos
Fontes: Wikipedia12 e Central de Notícias13
Disponível em: . Acesso em 2 de abril 2016. 12 Disponível em: . Acesso em 17 de junho de 2015. 13 Disponível em: . Acesso em 2 de abril 2016. 11
Durante os anos de 2010 a 2015, o SBT investiu em adaptações de telenovelas infantis. A primeira foi Carrossel (2012-2013), que foi um “[...] sucesso comercial e de público. Carrossel inspirou o SBT a embarcar numa viagem no tempo e ressuscitar mais um sucesso infantil dos anos 1990”14. Na sequência, a emissora produziu Chiquititas (2013-2015) e Cúmplices de um Resgate (2015). Em paralelo, no início da década de 2010, o SBT fixou a faixa da tarde para exibição de telenovelas com quatro a três produções, divididas entre tramas inéditas e reprises. Ao analisar dados da medição de audiência do Ibope entre março e julho de 2015, notou-se que, na maior parte do tempo, as telenovelas mexicanas reprisadas a tarde no canal de TV SBT mantiveram o segundo lugar. Assim, pressupõe-se que a vice-liderança do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) no último ano tenha correlação com o incremento de público das telenovelas. Destaca-se ainda que embora o período de 2010 a 2015 corresponda apenas a metade de uma década, foram reprisadas mais telenovelas do que as décadas anteriores, tal como é possível verificar no gráfico a seguir.
Gráfico 4 – Telenovelas exibidas pelo SBT de 2010 a 2015
Nesse ínterim, a emissora reexibiu mais de uma vez, em curtos intervalos de um a dois anos, os sucessos da década de 1990: Marimar (1996), Maria do Bairro (1997) e A Usurpadora (1999). Enquanto entre as tramas inéditas figuraram produções, como, No embalo de 'Carrossel', SBT fará remake de 'Chiquititas'. Disponível em: . In: Veja, 19 set. 2012. Acesso em: 24 de junho de 2015. 14
por exemplo: Camaleões (2010-2011), Cuidado com o Anjo (2013) – reprisada em 2015 –, Meu Pecado (2014) e Teresa (2015). As quatro protagonizadas por atores da telenovela mexicana Rebelde (2005-2006). Na tabela abaixo, é possível observar na íntegra a lista dos títulos estrangeiros desse intervalo de tempo pesquisado.
Tabela 4: Telenovelas importadas exibidas no SBT de 2010 a 2015 Título
1ª Exibição
Reprise
Origem
As Tontas não vão ao céu
19/04/2010 a 22/10/2010
-
México
Camaleões
25/10/2010 a 25/03/2011
-
México
Cuidado com o Anjo Por ela... sou Eva Meu Pecado
1/04/2013 a 3/12/2013
2015
México
2/12/2013 a 30/05/2014
-
Argentina
2/06/2014 a 31/10/2014
-
Porto Rico
Sortilégio
27/10/2014 a 27/02/2015
-
México
Coração Indomável
23/02/2015 a 16/10/2015
-
México
A Dona
17/08/2015 a 07/03/2016
-
México
Teresa
5/10/2015 a 2016
-
México
Fontes: Wikipedia15 e Central de Notícias16
É importante ressaltar que, desde a década de 1990, outras emissoras importam produções estrangeiras e realizam adaptações. A Rede Bandeirantes, por exemplo, exibiu algumas atrações estrangeiras, entre elas: a telenovela venezuelana Maria Celeste (1997), a mexicana Traição (1997) e a portuguesa Olhos de Água (2004). No ano de 2015, a Rede Bandeirantes exibiu as séries turca As Mil e Uma Noites e Fatmagul: A Força do Amor. Entre as adaptações da emissora destaca-se Floribella (2005), com texto de origem argentina. Assim como o SBT e a Bandeirantes, a Rede TV! também importou telenovelas, dentre elas salienta-se a novela colombiana Betty, a Feia (2002), que garantiu durante sua exibição a terceira posição na audiência, conseguindo, eventualmente, ocupar o segundo lugar (MATTOS, 2003). Disponível em: . Acesso em 17 de junho de 2015. 16 Disponível em: . Acesso em 2 de abril 2016. 15
A AUDIÊNCIA E A PRÁTICA DE REASSISTIBILIDADE Em um estudo17 com os telespectadores da telenovela mexicana A Usurpadora realizado em 2015, observou-se que a maioria havia assistido mais de uma vez a trama. A amostra de audiência dessa pesquisa era composta por 168 mulheres e 36 homens, entre 14 e 55 anos, e dentre eles 78% assistiu pelo menos uma das reprises do SBT. Destaca-se ainda que 63% também viu por meio de outros dispositivos on-line – YouTube, Netflix, site do SBT e outros. O uso de reprises pode estar relacionado para a emissora ao baixo custo para ocupar a grade, contudo, independente da motivação da empresa, essas tramas mantêm uma significativa audiência para o horário, o que é um indicativo do interesse do público. Em meio as entrevistas com os telespectadores de A Usurpadora, muitos elogiavam a prática de repetição e afirmavam ser uma característica do sucesso. Corroborando com essa perspectiva a estagiária de 21 anos de Pernambuco afirma: As reprises são sinônimas de muito sucesso. [...] eu acho excelente ser reprisada várias vezes, porque abarca, vai abarcando várias gerações. Várias pessoas vão conhecendo o trabalho, né? [...] A gente começa a conhecer outras pessoas que começam a trocar experiências de como está sendo o sucesso da novela (Estagiária, 21 anos, em entrevista).
Tendo em vista esses aspectos, iniciou-se esta pesquisa com o objetivo principal de investigar o que desperta o interesse dos telespectadores brasileiros em reprises de telenovelas mexicanas exibidas pelo canal SBT. Para refletir sobre esse aspecto, acionase o conceito de “reassistibilidade” concebido por Jason Mittell (2012). Em uma análise sobre a prática de rever ficções televisivas, ele associa a prática de ver e rever ficções seriadas às facilidades possibilitadas por novas mídias como, por exemplo, a criação do DVD. Contudo, o hábito de rever programas televisivos também é possível através das reprises, tal como se nota nesta pesquisa. De acordo com Mittell (2012), haveria quatro formas de reassistir: “reassistir analítico” (compreende um assistir para apreender mais sobre a narrativa), “reassistir por razões emocionais” (para reviver as emoções de quando viu pela primeira vez), “reassistir como experiência social” (rever com amigos, conhecidos e familiares para
Trata-se do meu trabalho de conclusão de curso, intitulado Audiência da telenovela mexicana no Brasil: o caso de A Usurpadora, defendido na Universidade Federal Fluminense em 2016. 17
compartilhar com outro e/ ou presenciar a experiência dele ao ver a trama) e a última, que condensaria as anteriores, “reassistir como forma lúdica”. A presente pesquisa ancora-se na hipótese principal de que os brasileiros reassistem as telenovelas mexicanas como experiência emocional e social. Isto é, configura-se uma experiência social na medida em que as pessoas reveem as narrativas visando compartilhar informações nos ambientes sociais on-line e off-line em que estão presentes. Caracteriza-se como uma experiência emocional uma vez que os telespectadores buscam reviver as emoções acionadas na primeira vez que viram aquela narrativa, seja a raiva (ou algumas vezes amor) pelo vilão ou mocinha ou até mesmo o riso por determinada atuação. Ressalta-se que as emoções são frequentemente incitadas devido a base melodramática clássica das tramas mexicanas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reprise de produtos ficcionais não é algo recente na televisão. Desde a década de 1950, com o advento do videoteipe, já é possível notar reprises de programas televisivos. A reexibição de telenovelas na TV brasileira também não é uma prática exclusiva do Sistema Brasileiro de Televisão, na TV aberta a Rede Globo reapresenta tramas no Vale a pena ver de novo e no canal fechado Viva é possível acompanhar algumas produções antigas da emissora. Assim, pressupõe-se que existência de distintos canais que se dedicam às reprises de telenovelas é um indicativo do interesse dos telespectadores em reassistir. Dessa forma, torna-se pertinente a realização de estudos sobre a prática “reassistibilidade”, tal como se propõe nesta pesquisa. É importante pontuar que os dados e considerações apresentadas neste artigo compõem o início do estudo, nesse sentido, não são apresentadas reflexões mais aprofundadas sobre a questão. Buscou-se apresentar um panorama do volume de reprises de telenovelas mexicanas exibidas ao longo de mais de três décadas, bem como introduzir o conceito a ser desenvolvido no decorrer do artigo. REFERÊNCIAS ALENCAR, Mauro. A Hollywood brasileira: panorama da telenovela no Brasil. Rio de Janeiro: Senac, 2004.
BACCEGA, M. A.; BUDAG, Fernanda Eloise; RIBEIRO, L. M.. Rebelde(s): consumo e valores nas telenovelas brasileira e mexicana. Comunicação e Educação (USP), v. 18, p. 95-104, 2013. Disponível em: . Acesso em: 24 de junho de 2015. BRONOSKY, M. E.. As Telenovelas do SBT. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 1998, Recife. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 1998. Disponível em: . Acesso em: 17 de junho de 2015. MARTINS, Marília. Sai o talento e entram os dramalhões. In: Jornal do Brasil. ed. 54, Caderno B, p. 9, 01 jun. 1991. MATTOS, Laura. Rede TV! engata “namoro” com grupo venezuelano Cisneros. In: Folha de São Paulo, 2003. Disponível em: . Acesso em: 17 de junho de 2015. MAZZIOTTI, Nora. La industria de la telenovela: la producción de ficción en América Latina. Buenos Aires: Paidós, 1996. ______. Telenovela: Industria y Prácticas Sociales. Buenos Aires: Grupo Editoral Norma, 2006. MITTELL, Jason. Notes on Rewatching. In: JustTV. Janeiro de 2011. Disponível em: . Acesso em: 15 ago. 2015. MOTTA, Fernanda Gosser. Muito além da maquiagem carregada: O sucesso das telenovelas mexicanas no Brasil – A visão dos telespectadores. Vitória: FAESA, 2006. SIMÕES, Inimá Ferreira. “TV à Chateubriand”. In: COSTA, A. H.; KEHL, M. R.; SIMÕES, I. F. Um país no ar: história da TV brasileira em três canais. São Paulo: Brasiliense, 1986, p. 11-121.