AVALIAÇÃO DAS PERDAS, RECUPERAÇÃO DA MATÉRIA SECA E COMPOSIÇÃO BROMATOLOGICA DA SILAGEM DE CAPIM- TANZÂNIA COM CANA-DE-AÇÚCAR

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AVALIAÇÃO DAS PERDAS, RECUPERAÇÃO DA MATÉRIA SECA E COMPOSIÇÃO BROMATOLOGICA DA SILAGEM DE CAPIMTANZÂNIA COM CANA-DE-AÇÚCAR ANDERSON DE MOURA ZANINE1 EDSON MAURO SANTOS2 DANIELE DE JESUS FERREIRA3 JOÃO CARLOS CARVALHO DE ALMEIDA4 ODILON GOMES PEREIRA5

1-Pós-Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa/UFV, Avenida Olívia de Castro nº 45 apt. 02, bairro Clélia Bernardes, Cep. 36570-000, E-mail: [email protected] 2-Doutor em Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa/UFV, Cep. 36570-000. 3-Estudante de Pós-Graduação em Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa/UFV, Departamento de Zootecnia, Cep. 36570-000. 4-Professor do Instituto de Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ, Seropédica–RJ, Br 465, km 47, Cep. 23890000. 5Professor do Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa/UFV, Cep. 36570-000.

RESUMO: ZANINE, A.M.; SANTOS, E.M.; FERREIRA, D.J.; ALMEIDA, J. C. C.; PEREIRA, O.G. Avaliação das perdas, recuperação da matéria seca e composição bromatológica da silagem de capim-tanzânia com cana-de-açúcar. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 27 n. 1, p. 40-47, jan-jun., 2007. Foram avaliados os efeitos da adição de cana-de-açúcar ao capim-tanzânia sobre as perdas, recuperação de matéria seca e valor nutricional da silagem. O experimento foi o inteiramente casualizado com 3 tratamentos (0, 25 e 50% de cana-de-açúcar), e 5 repetições por tratamento. Foram utilizados baldes, com capacidade de 6,5 litros, com válvulas tipo “bunsen” adaptadas em suas tampas e 1 kg de areia colocado no fundo, para captação e quantificação do efluente. Foram avaliadas as perdas por gases, efluentes, carboidratos solúveis, recuperação da matéria seca, pH, N-amoniacal, matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido e hemicelulose das silagens. Houve diferenças significativas para as perdas por gases, sendo que as silagens com 50% de cana-de-açúcar foram as que apresentaram maiores perdas. O mesmo foi observado para as perdas por efluentes, onde a silagem com 50% de cana resultou em uma produção de efluentes de 24 kg/ton. A adição de cana reduziu o pH e o teor de N-amoniacal. O teor protéico foi reduzido com a adição de cana-de-açúcar. O uso da cana-de-açúcar como aditivo para a silagem de capim-tanzânia é uma boa opção. Palavras-chave: capim, efluentes, fermentação, gases, qualidade. ABSTRACT: ZANINE, A.M.; SANTOS, E.M.; FERREIRA, D.J.; ALMEIDA, J. C. C.; PEREIRA, O.G. Evaluation of losses, dry matter recovery and bromatological composition of the tanzania-grass silage with sugarcane. Revista Universidade Rural: Série Ciências da Vida, Seropédica, RJ: EDUR, v. 27 n. 1, p. 40-47, jan-jun., 2007. The effects of the sugar-cane addition on losses, dry matter recovery and nutritional value of tanzania-grass silage were evaluated. The experimental was complete randomized design, with 3 treatments (0, 25 and 50% of sugar-cane), and 5 replications per treatment. Buckets were used, with capacity of approximately 6.5 liters, with valves type “Bunsen” adapted in your covers and 1 kg of sand placed in the bottoms, for reception and quantification of the effluent. There were evaluated the losses by gases, effluents and dry matter recovery, the pH and N-amoniacal, dry matter, crude protein, neutral detergent and acid detergent fiber and hemicellulose of silages. There were significant differences for the losses by gases, and the silages with 50% of sugar-cane had been presented larger losses. The same tendency was observed for the losses by effluents, where the silage with 50% of cane resulted in a effluents production of 24 kg/ton. The cane addition promoted reduction of the pH and of N-amoniacal. The protein content was reduced with the sugar-cane addition. The use of the sugar-cane as addictive for the silage of grass-tanzania is a good option. Key words: effluent, fermentation, gases, grass, quality

Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. da Vida, RJ, EDUR, v. 27 n. 1, p.40-47, jan-jun., 2007.

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INTRODUÇÃO A carência de volumoso para ruminantes no período seco do ano consiste no principal fator limitante da pecuária no Brasil Central. Dentre as várias tecnologias de reserva de forragem para fornecimento no período crítico, a silagem consiste numa boa alternativa, por não ser afetada pelas condições climáticas durante seu armazenamento. As características das forrageiras que favorecem uma boa fermentação são: o teor de matéria seca, a microflora epifítica e, principalmente, a quantidade de carboidratos solúveis. O milho e o sorgo são as duas gramíneas mais apropriadas para serem ensiladas, devido ao seu alto teor de carboidratos solúveis e alta produção de matéria seca. Todavia, alguns trabalhos têm mostrado que capins podem ser aproveitados, desde que se empreguem técnicas de pré-murchamento e aplicação de aditivos (SANTOS et al., 2006). A preservação dos alimentos, por meio da ensilagem deve-se à produção de ácidos orgânicos, principalmente o ácido lático, a partir de açúcares solúveis, o que promove uma redução do pH e, conseqüentemente, inibição de microrganismos deletérios indesejáveis. Este processo ocorre em condições de anaerobiose, de modo que se requer uma boa compactação e vedação dos silos (IGARASI, 2002); (MCDONALD et al., 1 9 9 1 ) ; (MCDOLNALD, 1981); (MCCULLOUGH, 1977). Um outro importante fator a ser considerado quando se trata de silagem de capim é o menor custo quando comparada com silagem de milho e sorgo ou outras fontes de suplementação volumosa. Jobim et al. (2003), verificaram que silagem de capim custou 60% menos do que silagem de milho, o que compensou a menor produção de leite observada, resultando, por fim em lucratividade semelhante.

A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) é uma gramínea de grande importância, em todo o Brasil, devido à suas características agronômicas, dentre elas a tolerância a períodos de estiagem e o alto potencial de produção de matéria seca e carboidratos por hectare. A confecção de silagem de cana-de-açúcar tem sido pouco usual, mas pode ser recomendada quando se deseja aproveitar a cana em seu estádio de maior valor nutritivo (época seca) para uso durante o ano todo (MOLINA at al., 2002). Dentre as principais e desejáveis características da cana, merecem destaque: grande produção de forragem por unidade de área, resultando em baixo custo por unidade de matéria seca produzida, sendo a produção coincidente com o período de escassez de forragem, relativa simplicidade no estabelecimento e manejo da cultura e manutenção do valor nutritivo durante o período de até seis meses após a maturação (EVANGELISTA et al., 2004). Indubitavelmente, a cana-de-açúcar é uma gramínea de grande importância, devido ao seu alto potencial de produção de matéria seca e de carboidratos por hectare. Contudo, silagens exclusivas de cana-de-açúcar geralmente são caracterizadas pela formação de etanol, decorrente do excesso de carboidratos solúveis, no entanto, a mistura com cana-de-açúcar pode promover o enriquecimento do capim com carboidratos solúveis, promovendo melhoria no padrão de fermentação, com reduzida fermentação alcoólica. Por isso, é necessário verificar se silagens mistas com cana-de-açúcar são de boa qualidade e reduzem as perdas de nutrientes. Objetivou-se com o experimento, avaliar as perdas por gases, efluentes, recuperação da matéria seca, pH, Namoniacal e a composição bromatológica de silagens de capim-tanzânia acrescido de cana-de-açúcar.

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MATERIAL E MÉTODOS

60 kg de N/ha, e 70 dias após o material foi cortado a 10 cm do solo para posterior ensilagem. A cana-de-açúcar variedade IAC 64-257, foi oriunda de um canavial devidamente manejado e com idade de um ano e cortado a 10 cm de altura. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com três tratamentos: T1 - capim-tanzânia, T2 - 75% de capim-tanzânia + 25% de cana-de-açúcar, T3 - 50% de capim-tanzânia + 50% de cana-de-açúcar, com 5 repetições por tratamento. A composição bromatológica dos tratamentos antes de serem ensilados pode ser observada na Tabela 1.

O experimento foi realizado na Universidade Federal de Viçosa, localizada no município de Viçosa-MG. A cidade de Viçosa está situada a 200 e 45’de latitude sul, 420 e 51’de longitude oeste e 657 m de altitude, apresentando precipitação média anual de 1341 mm, dos quais cerca de 86% ocorrem nos meses de outubro a março. O capim-tanzânia utilizado foi oriundo da área experimental do setor de Agrostologia, em uma pastagem já implantada. Após um corte a 10 cm do solo, realizou-se uma adubação de cobertura com

Tabela 1. Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HEM) e carboidratos solúveis (CHO) dos tratamentos de capimtanzânia, capim tanzânia + 25% e capim tanzânia + 50% de cana-de-açúcar. Tratamento

MS

PB

FDN

FDA

HEM

CHO

%

% MS

% MS

% MS

% MS

% MS

Capim-tanzânia

21,98

10,10

59,85

33,55

26,30

6,04

Capim-tanzânia + 25% cana

22,95

7,52

62,33

31,25

31,08

24,53

Capim-tanzânia + 50% cana

23,07

6,59

69,23

33,55

35,68

26,85

Os silos experimentais foram confeccionados, utilizando-se baldes experimentais de aproximadamente 6,5 litros, vedados e com uma válvula de “bunsen” adaptada em sua tampa, para permitir o escape dos gases oriundos da fermentação. No fundo de cada balde foi colocado 1 kg de areia, separados da forragem por uma camada de tecido de algodão, de maneira que fosse possível medir a quantidade de efluentes retida. As perdas foram mensuradas, segundo metodologia descrita por MARI (2003). As perdas por gases foram obtidas pela seguinte equação: G = (PCi – PCf)/(MFi x MSi) x 10000, onde: G: perdas por gases (%MS); PCi: peso do balde cheio no fechamento (kg); PCf: peso do balde cheio na abertura (kg); MFi: massa de forragem no fechamento (kg);

MSi: teor de matéria seca da forragem no fechamento. As perdas por efluente foram calculadas pela equação abaixo: E = [(PVf – Tb) – (PVi – Tb)]/MFi x 100, onde: E: produção de efluentes (kg/tonelada de MS); PVi: peso do balde vazio + peso da areia no fechamento (kg); PVf: peso do balde vazio + peso da areia na abertura (kg); Tb: tara do balde; MFi: massa de forragem no fechamento (kg). A seguinte equação foi utilizada para estimar a recuperação de matéria seca: RMS = (MFf x MSf)/(MFi x MSi) x 100, onde: RMS: taxa de recuperação de matéria seca (%);

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MFi: massa de forragem no fechamento (kg); MSi: teor de matéria seca da forragem no fechamento (%); MFf: massa de forragem na abertura (kg); MSf: teor de matéria seca da forragem na abertura (%). Para avaliação da composição bromatológica das silagens, f oram coletadas amostras do material fresco, antes da ensilagem (amostra picadas), e após a abertura dos silos, que ocorreu 40 dias após a ensilagem. Estas amostras foram submetidas à pré-secagem por 72 horas em estufa de ventilação forçada a 650 C e, em seguida, foram moídas em moinho tipo Willey. Foram determinados os teores de MS, PB, FDN, FDA, HEM e o carboidrato solúvel, segundo metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). Para a análise de pH, foram coletadas subamostras de aproximadamente 25 g, às quais foram adicionados 100 mL de água, e, após repouso por 2 horas, efetuou-se a leitura do pH, utilizando-se um potenciômetro. Em outra subamostra de 25 g, foram adicionados 200 mL de uma solução de H2SO4, 0,2 N, permanecendo em repouso por 48 horas para, em seguida, efetuar-se a filtragem em filtro tipo Whatman 54. Este filtrado foi armazenado em geladeira para posterior análise de N-amoniacal (AOAC 1999). Os dados foram submetidos à análise de variância e os valores médios dos constituintes bromatológicos, pH, Namoniacal, do percentual de perdas por efluentes e gases e da recuperação de matéria seca foram testados pelo teste de Tukey (á = 0,05), utilizando-se o programa SAEG versão 8.1 (Universidade Federal de Viçosa-UFV, 1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2 observam-se os valores de perdas por gases, efluentes e recuperação da matéria seca das silagens.

O uso da cana-de-açúcar aumentou os processos de perdas. As maiores perdas por gases ocorreram nos tratamentos com adição de cana-de-açúcar, que pode ter sido decorrentes da maior quantidade de carboidratos solúveis, que poderia ter promovido o crescimento de leveduras. As perdas por gases estão associadas ao tipo de fermentação ocorrida na ensilagem, e segundo Nussio et al. (2002), o excesso de carboidratos estimula a produção de álcool, havendo um aumento considerável de perdas por gases, sendo esse tipo de fermentação promovido por bactérias heterofermentativas e leveduras. Em relação às perdas por efluentes, pode ser devido ao tamanho das partículas que facilitou a acomodação do material e, por conseguinte, aumentou as perdas de forma considerável. Santos et al. (2007), também observaram maiores perdas por gases e efluentes com a adição de 50% de cana-de-açúcar em silagem de capim elefante (Penisetum purpureum). Embora, tenha sido observada perda por efluentes e gases no tratamento com adição de cana-de-açúcar, a recuperação da matéria seca foi maior nesses tratamentos (79,56 e 84,04%). Fato que pode ser explicado pelo excesso de consumo de carboidratos solúveis pela microbiota da silagem (NUSSIO et al., 2002). Mari (2003) avaliando silagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, com diferentes idades de corte, observou valores de perdas por gases, efluentes e recuperação de matéria seca de 4,9%, 37,6 kg/ton e 91,7%, respectivamente. Valores, acima dos observados no presente experimento. Enquanto, Igarasi et al. (2002), avaliando as perdas em silagens de capim-tanzânia com diferentes tamanhos de partícula, observaram perdas por gases variando entre 3,1 a 4,0%.

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Tabela 2. Valores médios das perdas por gases (PG), perdas por efluente (PE), recuperação da matéria seca (RMS) das silagens de capim-tanzânia e das misturas de capim-tanzânia e cana-de-açúcar.

Tratamentos

PG % MS

PE kg/ ton

RMS %

Capim-tanzânia

1,40c

9,97c

73,50c

Capim-tanzânia + 25% cana

2,75b

15,85b

79,56b

Capim-tanzânia + 50% cana

4,40a

24,08a

84,04a

CV (%)

22,01

10,30

1,75

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Os valores da matéria seca (MS), proteína bruta (PB) fibra detergente neutro (FDN), fibra detergente ácido (FDA), hemicelulose (HEM) carboidratos solúveis, pH, e N-amoniacal podem ser observados na Tabela 3. A adição de cana-de-açúcar promoveu aumento no valor da matéria seca, comportamentos similares ao observado por Zanine et al. (2005) avaliando silagem mista de capim elef ante (Penisetum purpureum shum) com 25 e 50% de cana-de-açúcar. Para o valor da PB verificou uma diluição do seu valor à medida que se aumentou à quantidade de cana-de-açúcar, o que é comum, considerando-se que se trata da adição de um material com baixos valores deste nutriente. É interessante ressaltar que os teores de proteínas nos tratamentos com cana-de-açúcar foram superiores na silagem, quando comparados com o material antes da ensilagem; fato que se deve às perdas de matéria seca, que promoveram a concentração de nutrientes. O mesmo não foi observado para a silagem de capim, que obteve menor recuperação da matéria seca, o que sugere que foi maior a perda de proteína para este tratamento. O mesmo comportamento foi relatada por Zanine et al. (2005), que observaram uma diminuição no teor de PB de 7,43% na silagem sem cana-de-açúcar, para 4,51% na silagem de capim mais 50% de cana. Os valores da FDN, FDA e HEM foram maiores à medida que se aumentou a quantidade da mistura com cana-de-açú-

car, devido a pior qualidade da fibra da cana-de-açúcar em relação à fibra do capim-tanzânia. Já, Zanine et al. (2005), não observaram diferenças significativas para essas variáveis, nos tratamentos com (0, 25 e 50% de cana-de-açúcar), embora os valores tenham sido maiores que os observados no presente estudo. Provavelmente pela grande proporção de colmo que é rico em lignina. Enquanto, Ávila et al. (2003), observaram redução dessas variáveis, avaliando a inclusão de farelo de trigo em silagem de capim-tanzânia, com evidente redução na quantidade da porção fibrosa, tanto FDN quanto FDA, e elevação do teor protéico. Com relação aos carboidratos solúveis das silagens, houve uma maior quantidade remanescente no tratamento com maior nível de cana-de-açúcar (5,62%), embora, quando comparado com o material antes da ensilagem, conclui-se que houve uma utilização muito maior destes carboidratos nas silagens mistas. O maior consumo de carboidratos solúveis pode explicar o menor pH e a menor concentração de N-amoniacal observados nas silagens mistas. Resultados semelhantes foram obtidos por Santos et al. (2007), testando níveis de cana-de-açúcar na silagem de capim elefante. O menor valor de pH foi observado no tratamento com 50% de cana-deaçúcar, e o valor de N-amoniacal seguiu o mesmo comportamento. Esses valores encontrados estão dentro dos considerados ótimos por Mcdonald et al. (1991).

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Santos et al. (2005), também observaram diferenças em relação à testemunha de capim elefante em relação ao tratamento com 50% de cana-de-açúcar com valores de 3,82 para o pH e 2,70 para o Namoniacal. Enquanto Ruman e Lopez (1980) verificaram que este aditivo reduziu o pH e nitrogênio amoniacal das silagens. Normalmente, a adição de aditivos que resultem em rápido abaixamento do pH também promovem uma redução da produção de N-amoniacal. Aguiar et al. (2000) adicionando 10% de polpa cítrica na ensilagem de capimtanzânia, observaram menor teor de N-amoniacal em relação à silagem sem aditivo, associado a uma redução da atividade de enzimas proteolíticas, por meio do rápido abaixamento de pH. Ferreira et

al. (2002), verificaram redução do pH de 4,65 para 4,19 com adição de resíduo da agroindústria do suco de caju na ensilagem de capim-elefante. De acordo com Vilela (1998) o limite superior de pH para as silagens de qualidade satisfatória seria de 4,2. Lembrando, que para se ter sucesso na ensilagem, deve-se garantir a fermentação lática e inibir o crescimento de microrganismos como “clostridium”, “enterobactérias”, leveduras e fungos aeróbios. O controle do desenv olv imento de “clostridium” é feito através da redução do pH. As “enterobactérias” são inibidas geralmente em pH abaixo de 4,5. No presente experimento, o tratamento com cana-de-açúcar proporcionou a silagem estar dentro desses limites.

Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), carboidratos solúveis (CHO), pH e N-amoniacal, das silagens. Tratamento

Capim-tanzânia Capim-tanzânia

MS

PB

FDN

FDA

HEM

CHO

(%)

(% MS)

(% MS)

(% MS)

(% MS)

(% MS)

pH

N-NH3 %N-total

19,95b

9,65a

57,53c

36,83b

20,70b

3,28c

4,6a

1,91a

+

21,57a

7,64b

65,66b

41,25a

24,4ab

4,40b

4,4a

1,12b

+

21,02a

6,98b

69,16a

42,95a

26,20a

5,62a

4,1b

0,91b

6,53

6,23

2,06

2,39

8,59

9,46

3,58

26,9

25% cana Capim-tanzânia 50% cana CV (%)

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

CONCLUSÃO

A adição de 25% de cana-de-açúcar já mostra eficiência em reduzir o pH e N-amoniacal, proporciona aumentos nos carboidratos solúveis e maior recuperação da matéria seca na silagem de capim-tanzânia.

pim Tanzânia. In: XXXVII REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, Anais. Viçosa. UFV-Viçosa. p. 32, 2000.

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