Avaliação dos fatores de risco para doença arterial coronariana em pacientes de São Caetano do Sul segundo o Escore de Framingham e sua relação com a síndrome metabólica

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Arq Sanny Pesq Saúde 1(1):8-17, 2008

ARTIGO ORIGINAL Avaliação dos fatores de risco para doença arterial coronariana em pacientes de São Caetano do Sul segundo o Escore de Framingham e sua relação com a síndrome metabólica. Reynaldo Mascagni Gatti, Brigitte Rieckmann Martins dos Santos, Cristiane Jaciara Furlaneto, Rita Maria Monteiro Goulart, Patrícia Aparecida Moreira Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS Resumo As doenças cardiovasculares são as principais causas de morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo. Atualmente é possível avaliar o risco cardiovascular individual com base em estudos observacionais. Assim, aliando o elevado risco cardiovascular atual à possibilidade de se prever a ocorrência de eventos, realizou-se neste estudo a avaliação dos fatores de risco e o desenvolvimento de Doença Arterial Coronariana (DAC) em 10 anos em pacientes do município de São Caetano do Sul, com o objetivo de determinar o risco cardiovascular dos mesmos com base no Escore de Framingham e relacionar o risco encontrado com outras variáveis que caracterizam a Síndrome Metabólica (SM). Pôde-se observar uma baixa prevalência de DAC nos 63 pacientes analisados, já que 47,6% encontravam-se em grupos de baixo risco, 36,5% em médio risco e apenas 15,9% em alto risco. Entretanto, esse quadro inicialmente favorável não se confirmou quando relacionado à SM, pois 23,3% dos pacientes com baixo risco para DAC tiveram diagnóstico positivo para SM. Concluiuse que, o baixo risco resultante da avaliação dos pacientes baseada apenas nos critérios de Framingham, não significa que os mesmos estão isentos de risco cardiovascular, pois podem apresentar outros fatores que não estão incluídos neste escore de predição clínica. A abordagem que possui maior respaldo na análise detalhada das evidências disponíveis consiste em estimar o risco cardiovascular total não pela elevação de fatores isolados e sim pela soma de risco decorrente de múltiplos fatores, estimada pelo risco absoluto global em cada indivíduo. Palavras chave: Doença Arterial Coronariana; Escore de Framingham; Fatores de Risco, Síndrome Metabólica. Abstract Cardiovascular diseases are the main cause of mortality in Brazil and all over the world. Nowadays it is possible to evaluate the individual cardiovascular risk based on observational studies. Therefore, linking the high cardiovascular risk level to the possibility of preventing the occurrence of events related to it, an evaluation of risk factors and development of Coronary Artery Disease (CAD) in ten years in patients of the city of São Caetano do Sul was made with the objective of determining the risks involved according to the Framingham Score and also relate these risks to other data that might describe a Metabolic Syndrome. A low appearance of CAD was observed in the 63 patients evaluated, 47,6% low risk, 36,5% in a medium risk level and only 15.9% in a high level of risk. However, these results, firstly favorable, were not confirmed when related to the Metabolic Syndrome, because 23,3% of the patients with low risk of having a CAD had a positive diagnosis for Metabolic Syndrome. It was concluded that the low risk resulting from the patients’ evaluation based only on the Framingham criteria doesn’t mean that these patients are free from cardiovascular risks, because they might present other factors that are not included in this score of clinical prediction. The approach that has greater endorsement in the detailed analysis of the available evidences consists of estimating the total cardiovascular risk not by the rising of isolated factors but for the addition of the decurrent risk of multiple factors, estimated by the global absolute risk in each individual. Key Words: Coronary Artery Disease; Framingham Score; Risk Factors; Metabolic Syndrome

Gatti et al., Fatores de risco e doença coronariana.

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Introdução As doenças cardiovasculares permanecem como a principal causa de morte tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. De acordo com as projeções para 2020 os óbitos por doença arterial coronariana (DAC) aumentarão em 100% entre homens e 80% entre mulheres. Estes dados epidemiológicos reforçam a necessidade da implantação de medidas imediatas voltadas à diminuição dos fatores de risco1. Para melhor identificação e controle dos fatores de risco é fundamental o entendimento das suas várias categorias2. Temos em primeiro lugar os fatores condicionantes, que são aqueles relacionados ao perfil genético e ao estilo de vida. Nas doenças cardiovasculares, a herança genética tem grande importância na geração de alterações metabólicas como os portadores de hipercolesterolemia familiar homozigótica (dislipidemia de causa genética). Porém, o estilo de vida é o grande fator condicionante, pois favorece o sedentarismo, o tabagismo, o excessivo eestressee psicológico e a elevada ingestão de calorias. Em segundo lugar estão os fatores causais, relacionados diretamente ao dano cardiovascular e em terceiro lugar estão os fatores predisponentes que são facilitadores do aparecimento dos causais. Apesar de uma série de fatores causais como a elevação da lipoproteína (a), do fibrinogênio e da homocisteína ainda necessitarem de melhores esclarecimentos, alguns despontam como principais, são eles: dislipidemias, hipertensão arterial, intolerância à glicose, diabetes e o tabagismo. Como fatores predisponentes destacam-se o sobrepeso e obesidade, sedentarismo e excessivo eestressee psicológico3. A prevenção de doenças cardiovasculares é, atualmente, uma prioridade em termos de saúde pública, principalmente naqueles indivíduos considerados de alto risco cardiovascular. Mais importante do que simplesmente taxar um indivíduo como portador de um fator de risco isolado é classificar seu risco cardiovascular total. A partir dos resultados

Gatti et al., Fatores de risco e doença coronariana.

de grandes estudos de base populacional e revisões sistemáticas, é possível classificar indivíduos de acordo com a intensidade e número de fatores de risco causais ou de acordo com a presença de doença cardiovascular manifesta5. O Escore de Framingham, adotado pela IV Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose baseia-se em valores numéricos, positivos e negativos, a partir de zero, de acordo com o risco atribuível aos valores da idade, pressão arterial, colesterol total, colesterol das lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), tabagismo e diabetes mellitus (DM)6. A cada escore obtido corresponde a um percentual da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular (infarto agudo do miocárdio fatal e não-fatal, morte súbita ou angina) nos próximos dez anos. Assim, indivíduos de baixo risco teriam uma probabilidade menor que 10%; médio risco, entre 10% e 20% e alto risco, igual ou maior que 20%7. Outros fatores de risco não avaliados no Escore de Framingham são também extremamente importantes e podem caracterizar a Síndrome Metabólica cujo termo descreve uma constelação de alterações que se manifestam em um indivíduo e também aumentam as chances de desenvolvimento de doenças cardíacas. Este conjunto de fatores inclui: intolerância à glicose, resistência à insulina, obesidade abdominal, dislipidemias e hipertensão8,9. De acordo com o exposto anteriormente, este trabalho considerou a avaliação de todos os fatores de risco de cada paciente, principalmente daqueles que apresentaram baixo risco pelos critérios de Framingham, mas que, por outro lado, tiveram diagnóstico positivo para Síndrome Metabólica. Material e Métodos Trata-se de um estudo descritivo realizado no período de agosto de 2005 a julho de 2007. Todo o processo de pesquisa obedeceu aos princípios éticos dispostos na Resolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, garantindo

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aos participantes, o consentimento livre e esclarecido, sigilo das informações e privacidade. Foram convidados para o estudo jovens (até 29 anos), adultos (entre 30 e 59 anos) e idosos (a partir de 60 anos) de ambos os gêneros, obesos definidos a partir do critério de seleção, residentes no município de São Caetano do Sul (SP) e que realizaram acompanhamento nutricional nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade. Atualmente cinco UBSs possuem consulta nutricional por meio de um convênio entre a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul e a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Participaram do estudo, 104 indivíduos sendo 6 jovens, 52 adultos e 46 idosos. Destes, 37 não realizaram todos os testes necessários (bioquímicos) e por isso foram excluídos da pesquisa. Foram incluídos no estudo 67 indivíduos (4 jovens, 33 adultos e 30 idosos) que apresentaram Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 (trinta) e que realizaram todos os exames bioquímicos. Os jovens foram incluídos apenas no diagnóstico para SM. Inicialmente, os pacientes foram convidados a comparecer à Clínica de Nutrição da USCS após ter mantido um período de jejum de 12 horas, ocasião em que responderam os questionários esclarecendo dados como idade, gênero, uso de medicamentos, tabagismo e etilismo. Antes da tomada das aferições de pressão arterial para o estudo, foi realizada uma aferição em cada membro superior do indivíduo por técnica auscultatória e esfigmomanômetro aneróide, devidamente calibrado para afastar a presença de valores divergentes entre os níveis pressóricos nos dois membros superiores e para determinar qual o membro a ser utilizado nas aferições para o estudo. Foram realizadas pelo menos duas avaliações, com intervalo mínimo de um a dois minutos entre elas para obtenção da média. Para a determinação do peso os indivíduos foram pesados em balança eletrônica (marca Plenna com capacidade para 150kg e precisão de 100g), descalços e com roupas leves. Para medir a altura, utilizou-se estadiômetro de parede da marca Mogiglass, com precisão de

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0,1 cm. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido dividindo-se o peso em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. A medida da circunferência abdominal (CA) foi realizada com fita métrica inextensível no ponto médio entre a crista ilíaca anterior superior e a última costela. Uma CA
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