Bases Ecológicas para o Desenvolvimento Sustentável - Aula 2 Os Solos e o Homem.

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Cap. 02 – Solos

Autor Principal: David Dent Outros autores: Ahmad Fares Asfary, Chandra Giri, Kailash Govil, Alfred Hartemink, Peter Holmgren, Fatoumata Keita-Ouane, Stella Navone, Lennart Olsson, Raul Ponce-Hernandez, Johan Rockström, e Gemma Shepherd Contribuições: Gilani Abdelgawad, Niels Batjes, Julian Martinez Beltran, Andreas Brink, Nikolai Dronin, Wafa Essahli, Göram Ewald, Jorge Illueca, Shashi Kant, Thelma Krug, Wolfgang Kueper, Li Wenlong, David MacDevette, Freddy Nachtergaele, Ndegwa Ndiang’ui, Jan Poulisse, Christiane Schmullius, Ashbindu Singh, Ben Sonneveld, Harald Sverdrup, Jo van Brusselen, Godert van Lynden, Andrew Warren,Wu Bingfang, and Wu Zhongze.

Revisão: Mohamed Kassas. Coordenação Geral: Timo Maukonen and Marcus Lee. Adaptação Brasileira: Ricardo Motta Pinto–Coelho.

Cap. 02

População e terras disponíveis O crescimento das populações humanas já ultrapassou a biocapacidade dos solos na Ásia, Europa e A. Norte. - A não sustentabilidade dos recursos naturais da terra está cada vez mais evidente. A competição desenfreada, a explosão das demandas nos BRICS e o enorme crescimento das populações em vários países em desenvolvimento (África) colocaram em cheque a disponibilidade de recursos (água, energia, comida, espaço). - A produção de alimentos que é necessária para manter toda a população humana está obrigando a países tais como o Brasil a exaurir os seus antes abundantes recursos naturais. A crise das águas no Brasil é um bom exemplo. - De acordo com o Relatório “Footprint of Nations” pulicado em 2005, a humanidade necessita de 21,9 hectares por pessoa enquanto estariam disponíveis apenas 15,7 hectares por pessoa considerando a capacidade real de suporte dos agroecossistemas terrestres. O resultado desse déficit é a crescente escassez de água, a crescente degradação dos solos e dos recursos pesqueiros. Fontes: IEA, 2007; UNFCCCCDIAC, 2006, World Bank, 2006, WWF, 2006)

Usos globais da terra. Áreas intocadas (milhares de km2) e áreas que sofreram algum tipo de conversão entre 1987 e 2006 (milhares de km2 por ano).

Para Florestas

Campos

Áreas Agrícolas

Áreas Urbanas

Perdas

Ganhos

Mudança Líquida

De Florestas

39699

30

98

2

-130

57

-73

Campos

14

34355

10

2

-26

50

24

Áreas Agrícolas

43

20

15138

16

-79

108

29

Áreas Urbanas

n.s.

n.s.

n.s.

380

0

20

20

-235

235

0

Total

Durante os últimos 20 anos, a expansão exponencial de terras de cultivo diminuiu, mas a terra é agora usada de forma mais intensa. Em 1980, em média, um hectare de terra agrícola produzia 1,8 toneladas, e, agora, produz 2,5 toneladas. Atualmente, mais da metade da população mundial vive em cidades. As cidades demandam extensas áreas rurais do interior para captação de água e eliminação de resíduos, enquanto que suas demandas por alimentos, combustíveis e matérias-primas aumenta de forma exponencial. Uso insustentável da terra está causando a degradação dos solos. Adicionalmente, as mudanças climáticas e perda de biodiversidade pioram ainda mais essa situação. A terra, o ar e a água estão sofrendo demais com as atividades tais como mineração, manufatura, esgotos domésticos e não domésticos, produção de energia e rede de transportes. As sociedades industriais modernas não têm agido na medida necessária para amenizar a degradação dos solos e da água. Estamos nos aproximando do ponto a partir do qual a recuperação é difícil ou impossível. Poluentes nocivos e persistentes, tais como metais pesados ​e produtos químicos orgânicos (POP´s) multiplicam-se por todas as partes. Nos BRICS, principalmente no Brasil, ainda temos o uso de agroquímicos obsoletos e constante vazamento de produtos químicos altamente nocivos (incêndio de Cubatão). Devemos reconhecer que houve progressos na luta contra a poluição nos países mais industrializados, onde o problema surgiu pela primeira vez, mas a mudança da indústria para os países recémindustrializados ainda está para ser seguido por aplicação de medidas adequadas para proteger o meio ambiente e à saúde humana. O grande dilema é que os efeitos nocivos da degradação dos solos não são politicamente visíveis em países como o Brasil mas, os seus efeitos sobre a saúde humana são diretos e cada vez mais bem compreendidos. Os políticos brasileiros pagarão uma conta elevada para toda a humanidade.

Desmatamento Urbanização

Erosão

Agrotóxicos Desertificação

Degradação do Solo Escassez de Água

Acidificação Poluição e Contaminação

Salinização

Extensão dos principais agroecossistemas na biosfera

Degradação global estimada a partir dos dados de produção de biomassa e da eficiência do uso da água da chuva entre os anos de 1981 e 2003.

Mudanças nos ecossistemas florestais Entre 1990 e 2005, as áreas cobertas por florestas no mundo sofreram um decréscimo de uma taxa de 0,2% ao ano. As maiores perdas foram registradas na África, América Latina e no Caribe. As áreas cobertas por florestas expandiram, ao contrário, na América do Norte e na Europa e, por incrível que pareça até mesmo na Ásia (após 2000).

Usos do solo a partir da produção de biomassa e de eficiência no uso da água de chuva, no Quênia

Cerca de 80% da superfície de Quênia está em zonas do semiárido. Análises, baseadas em 25 anos, identificaram duas áreas de degradação: uma ao redor do Lago Turkana e nas províncias orientais.

A grande devastação florestal no Haiti A imagem de satélite abaixo ilustra um exemplo de degradação ambiental. A República Dominicana tem mais de 28 por cento de cobertura florestal , enquanto Haiti havia reduzido sua cobertura florestal de 25 por cento em 1950 para 1 por cento em 2004. Na imagem, a área desmatada corresponde ao Haiti (esquerda) , enquanto a República Dominicana (direita) é a área mais verde. Este aspecto ambiental é significativo, porque muitas vítimas se afogaram ou morreram em avalanches de lama no Haiti, fenômenos fortemente influenciados por mudanças de cobertura da terra.

Haiti

São Domingos

Número de pessoas afetadas por desastres ambientais associados às mudanças climáticas nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Nova Friburgo, em fevereiro de 2011.

O desmatamento é uma das principais fontes da emissão de gases formadores do “efeito estufa”. O Brasil tem feito algum progresso na redução desse triste processo mas muito está para ser feito ainda.

No Brasil, existem 200 milhões de hectares de pastagens dos quais 50 milhões degradados. Essas áreas (localizadas no anel do desmate da Amazônia) não produzem nada e ainda contribuem para gerar calor e falta de água e são fontes de assoreamento. Essas áreas já apresentam características climáticas de semiárido e de deserto.

A degradação da terra Erosão do solo, esgotamento de nutrientes, escassez de água, salinidade e perturbação dos ciclos biológicos são problemas fundamentais e persistentes. A degradação da terra diminui a produtividade, biodiversidade e outros serviços dos ecossistemas, e contribui para as mudanças climáticas. Os serviços dos ecossistemas florestais estão ameaçados. A exploração das florestas tem sido à custa da biodiversidade e regulação natural da água e do clima, e minou o apoio de subsistência e os valores culturais para alguns povos. O declínio histórico na área de floresta temperada foi invertido, com um aumento anual de 30.000 km2 entre 1990 e 2005. Ao contrário, o desmatamento nos trópicos avança a uma taxa anual de 130.000 km2, no mesmo período. O declínio na área florestal pode ser combatido através de investimento em florestas plantadas e uma utilização mais eficiente da madeira. Há uma necessidade urgente de construir capacidade institucional e de uma boa governança para garantir a integridade das florestas tropicais. Estas questões são cada vez mais reconhecidas como fundamentais e estão exigindo mais comprometimento das nações em desenvolvimento. Acordos não vinculativos (como o Fórum das Nações Unidas sobre as Florestas) para conservar as florestas e novos mecanismos financeiros são ainda muito necessários. A obtenção de um nível de segurança aceitável, em todo o mundo, requer o fortalecimento da capacidade institucional e técnica em todos os países, bem como a integração e implementação eficaz de controles existentes em todos os níveis. Resta uma inaceitável falta de dados, mesmo que por proxies, como a produção total e aplicação de produtos químicos.

Área coberta por Florestas Primárias (por região)

Florestas e o Ciclo do Carbono

Um dos principais serviços prestados pelas florestas ao homem é sua capacidade de regular o clima, de manter os recursos hídricos e ainda sequestrar o carbono existente na biosfera. Esses serviços justificam a grande ênfase que vem sendo dada no aumento das ações de conservação de florestas em todo o mundo.

Declínio do carbono fixado na biomassa e a extensão das florestas

O número de florestas designadas para fins de conservação cresce a cada ano. Isso é resultado da percepção de que são enormes os valores dos serviços prestados pelas florestas para a civilização humana tais como proteção de solos, conservação dos recursos hídricos, regulação do clima, etc. Esses serviços, apesar dos avanços, têm diminuído em uma escala planetária. A taxa de declínio do carbono fixado tem sido ainda maior do que a taxa de declínio total das áreas florestais, em termos percentuais.

Designações e usos múltiplos de florestas por continente (2005).

Os usos múltiplos das florestas variam muito dependendo da região considerada. Na América do Norte e na Ásia Ocidental predominam os usos múltiplos. A produção (madeira e outros produtos) é o principal tipo de uso das florestas na Europa e na África. A América Latina apresenta um complexo padrão de uso das florestas. Em todo o mundo, os percentuais de proteção das florestas podem ser considerados baixos.

Tab. 3.4 – Progressos na sustentabilidade do manejo florestal (Fonte: FAO ). Elemento Temático

Tendências FRA Variáveis ou derivadas

Mudanças Anuais (%) 1990-2005

Mudanças Anuais 19902005

Unidades

Extensão dos Recursos Florestais

Área de Floresta Area de C. Florestal Florestas em crescimento Estoque de Carbono por hectare Floresta Primária Florestas Conservadas Área total – florestas plantadas Áreas afetadas pelo fogo Áreas afetadas por insetos, doenças ou outros distúrbios Áreas de produção Áreas de produção (plantadas) Estoque comercial em crescimento Remoções totais de estoque florestal Totais removidos (NWFP) não madeira. Áreas designadas para proteção Áreas florestais plantadas conservadas Valor total da madeira extraída

-0,21 (N) -0,35 (N) -0,15 (N) -0,02 (N) -0,52 (NEG) 1,87 (POS) -0,26 (N) -0,49 (N) 1,84 (NEG)

-8.351 -3.299 -570 -0,15 -5.848 6.391 -9.397 -125 1.101

1000 hectares 1000 hectares Milhões de m3 Toneladas por ha 1000 hectares 1000 hectares 1000 hectares 1000 hectares 1000 hectares

-0,35 (N) 2,38 (POS) -0,19 (N) -0,11 (N) 2,47 (POS) 1,06 (POS) 1,14 (POS) 0,67 (POS)

-4.552 2.165 -321 -3.199 143.460 3.375 380 377

Valor total das extrações extra-madeira

0,80 (POS)

33

Emprego

-0,97 (NEG)

-102

Áreas florestais sob domínio privado Áreas florestais designadas para serviços sociais

0,76 (POS) 8,63 (POS)

2.737 6.646

1000 hectares 1000 hectares Milhões de m3 Milhares de m3 toneladas 1000 hectares 1000 hectares Milhões de dólares (US$) Milhões de dólares (US$) 1.000 pessoas por ano. 1000 hectares 1000 hectares

Diversidade Biológica

Saúde e viabilidade das florestas Produção de recursos florestais

Proteção dos recursos florestais Aspectos sócio-econômicos.

Legenda: N= mudanças não significativas; POS = boas mudanças (>0,5%); NEG= más mudanças (< 0,5%)

Manejo de Florestas Equatoriais A experiência do Acre e da Embrapa

Manejo de Florestas Equatoriais A experiência do Acre e da Embrapa

Desde 1998, os fazendeiros no Brasil tem que manter 80% de suas terras como florestas (em alguns casos, 50% e agora com a nova proposta do Código Florestal, ainda menos). A idéia original era a de estimular o homem do campo a realizar um uso econômico da floresta. Em 1995, a EMBRAPA no Acre desenvolveu um sistema sustentável de exploração e manejo florestalbaseado em práticas tradicionais. A estrutura da floresta e a biodiversidade são mantidas. Os distúrbios são leves e de baixo impacto. O sistema é melhor operado em propriedades em torno de 40 hectares. Cooperativas locais disponibilizam maquinas, implementos e insumos. Ao adotar essa nova tecnologia, um produtor local pode facilmente aumentar sua renda em até 30% ao ano. O programa tem recebido diversos prêmios nacionais e internacionais.

Poluição do Solo Uma das principais formas de degradação ambiental observadas em zonas urbanas, áreas de mineração, agricultura intensiva e distritos industriais.

Aterros Sanitários A correta deposição e descarte de resíduos sólidos (lixo urbano, rural e industrial) eixge a construção de aterros sanitários que demandam altos investimentos para obtenção das áreas, construção e manutenção mesmo aquela devida depois que o aterro estiver com sua capacidade esgotada. Hoje, a exportação de lixo (tráfico de lixo) é uma realidade.

Composição e natureza da deposição ultra-fronteiras nacionais de resíduos sólidos, segundo a convenção da Basiléia (Suíça) de 2000.

Cerca de 90% do lixo que é exportado anualmente pode ser classificado como lixo tóxico. Desse total, pelo menos 30% são poluentes orgânicos persistentes (POP) tais como DDT e outros pesticidas (FAO 2002). O principal resíduo exportado é o chumbo e seus compostos, geralmente para firmas de reciclagem em outros países (UNEP 2004).

Produção, armazenamento e contaminação de resíduos radiativos, químicos e biológicos na Ásia Central.

The Ferghana Valley is shared by Uzbekistan, Kyrgyzstan and Tajikistan. The region is a typical example of former centrally planned economies, where development plans paid little attention to environmental aspects. The social progress was planned to be achieved through large-scale industrial projects. In the Ferghana Valley, the construction of enormous irrigation schemes made the region a major cotton producer. It also became a heavy industrial area, based on mining and oil, gas and chemical production. Discoveries of uranium ore led to extensive mining, and it became an important source of uranium for the former Soviet Union’s civilian and military nuclear projects.

Muitos poluentes químicos permanecem no ambiente circulando entre os diferentes compartimentos da biosfera: água, ar, solo e sedimentos. Muitos poluentes conseguem assim chegar às áreas pristinas (De Vries et al. 2003). Os orgânicos persistentes (POP´s) e o mercúrio são agora encontrados em concentrações crescentes junto aos esquimós (Hansen, 2000). As emissões químicas para a atmosfera vão mais tarde cair sob a forma de precipitação e assim contaminam águas e solos. As figuras mostram as concentrações e o “fallout” de policlorohidrobenzenos (PCDD) na Europa para o ano de 2003.

DIOXINA

Erosão dos Solos nos Pampas A erosão causada pela água é a principal forma de degradação do solo na América Latina. Vastas áreas dos pampas argentinos e brasileiros estão sendo afetadas pelo fenômeno. Os casos mais graves estão no noroeste da Argentina. Os resultados mais promissores são quando essas áreas são submetidas a ações conservacionistas tais como o plantio direto que aumenta a infiltração da água no solo. As áreas submetidas a um melhor manejo do solo passaram de zero nos anos 80 a mais de 250.000 km2 por volta do ano 2000. Os melhores resultados foram obtidos nas fazendas de grande porte que utilizam intensa mecanização.

Erosão: um mal do desenvolvimento no campo.

A erosão do solo está prioritariamente associada às más práticas de uso do solo nas atividades agropecuárias, de silvicultura, de mineração e também estão ligadas à expansão urbana.

Erosão causa o assoreamento de rios:

Um rio em Madagascar.

Erosão causa o assoreamento de lagos e reservatórios:

Represa da Pampulha, Belo Horizonte.

Erosão Já existem inúmeros métodos que podem mitigar os processos erosivos. No entanto, é preciso divulgálos, treinar pessoal e mudar paradigmas no campo.

Depleção de Nutrientes

Com fertilizantes (N, K e P)

O uso intensivo do solo e más práticas de manejo levam a uma rápida depressão de nutrientes do solo nas áreas tropicais.

Sem fertilizantes (N , K e P)

Escassez da água e as Terras Áridas Segundo a UNEP, a escassez da água está relacionada não somente ao clima, mas também às atividades humanas. A falta de água aumenta muito a vulnerabilidade das populações humanas que estão sob esse tipo de stress.

As terras áridas podem ser sub-divididas em hiper-áridas, áridas, semi-áridas, secas, secas e sub-úmidas, Excluindo as hiper-áridas, as demais são também conhecidas como terras secas susceptíveis. A escassez de água é um problema a ser enfrentado em todas essas categorias.

Depleção dos Aquíferos na Ásia Ocidental Os solos salinos chegam a cobrir 22% da terra arável na Ásia Ocidental. Enquanto o Líbano livre do problema, solos salinos cobrem 55-60% da superfície do Kuwait e do Bahrain. Solos tornam-se salinos tanto pela irrigação excessiva quanto pela intrusão de água do mar nos aquíferos subterrâneos que os invadem em virtude do uso excessivo e prolongado dessas reservas. Nos últimos 20 anos, a área irrigada na Ásia Ocidental cresceu de 4100 a 7300 km². A agricultura consome cerca de 60-90 de toda água acessível, mas contribui apenas com 10-25% do PNB na Ásia Ocidental. De um modo geral os sistemas de irrigação nessa região são ineficientes e são grandes as perdas de água. Pode-se constatar a exaustão de aquíferos subterrâneos em todas as partes. Fontes: ACSAD et cols. 2004; Al-Mooji & Sadek, 2005; FAOSTAT, 2006 World Bank, 2005.

Pinto-Coelho, R.M. & K. Havens. 2014. Crise nas Águas. Educação, ciência e governança, juntas, evitando conflitos gerados por escassez e perda de qualidade das águas. Recóleo Editora, Belo Horizonte, (MG). ISBN 978-85-61502-05-8, 162 pgs.

Pinto-Coelho, R.M. & K. Havens. 2014. Crise nas Águas. Educação, ciência e governança, juntas, evitando conflitos gerados por escassez e perda de qualidade das águas. Recóleo Editora, Belo Horizonte, (MG). ISBN 978-85-61502-05-8, 162 pgs.

Pinto-Coelho, R.M. & K. Havens. 2014. Crise nas Águas. Educação, ciência e governança, juntas, evitando conflitos gerados por escassez e perda de qualidade das águas. Recóleo Editora, Belo Horizonte, (MG). ISBN 978-85-61502-05-8, 162 pgs.

Tendências no índice de vegetação no Sahel, 1982–1999 Algumas áreas que sofreram muito no passado com as secas têm se recuperado de modo notável. No Sahel, imagens de satélite mostram um acréscimo das áreas verdes ao longo dos anos 90, que se seguiram a drásticas secas nos anos 80. Além de aumentos nas chuvas, melhorias no uso do solo, no manejo e na migração também ajudaram a melhorar o quadro de aridez da região.

A recuperação de áreas totalmente desertificadas é possível Requerimentos: Base tecnológica, investimentos e vontade política

Uma área desertificada, China, 2000.

A mesma área na China em 2004.

Escassez de Água O homem desenvolveu diferentes estratégias de manejo para cultivar a terra sob diferentes regimes de aridez. As mudanças climáticas estão colocando em risco a agricultura de vastas regiões da África e da Ásia Central. O Irã é um exemplo onde as mudanças climáticas estão aumentando drasticamente os índices de aridez. Zona

Extensão (% da superfície global)

Precipitação (mm) Índice de Aridez 270

Cheias frequentes

Florestas

60-119

Deserto, estepe Pastoreio, nômades Secas Pradaria, matas Pastoreio, agroalternando com secas pastoril chuvas intensas em curtos períodos Secas com Savanas Cultivos mistos enchentes sazonais

Nômade. Coleta de Água. Irrigação

Conservação do solo e da água e irrigação suplementar Cultivos mistos, a Conservação do maioria anuais. solo e da água e irrigação suplementar Cultivos perenes Conservação e e anuais drenagem.

Salinização dos Solos

O fenômeno está relacionado muitas vezes com a irrigação. Casos de salinização dos solos são comuns na Àsia Ocidental e em várias outras regiões semi-áridas do planeta.

Dust Bowl: uma tragédia com final feliz! Nos Estados Unidos, ao final dos anos 20, houve um enorme avanço da agricultura mecanizada. Na década de trinta, os EUA foram afetados por uma longo período de secas que acarretou trágicas perdas de solo por erosão. No início dos anos 40, pelo menos 2,5 milhões de pessoas tinham abandonado as grandes pradarias americanas.

Como os EUA controlaram o “Dust Bowl” Durante os anos 30, o governo americano passa a adotar um “pacote” muito eficaz e amplo. Esse conjunto de medidas visava tanto a adoção de medidas que causavam certo alívio imediato quanto propostas a longo termo que incluíam: -Suporte ao crédito -Suporte aos bancos -Ajuda ao pagamento de dívidas dos agricultores -Ajuda na compra dos produtos cultivado -Abertura de frentes de trabalho para gerar empregos -Um vigoroso programa de compras de terras que não podiam mais ser cultivas. -Criação de um Serviço Nacional de conservação de solos, com inúmeras medidas para incremento da pesquisa acadêmica, novas aplicações tecnológicas e fomento ao empreendedorismo ligado aos novos programas de conservação de solos. - Um programa nacional de conservação de solos que incluía uma tipologia nacional dos solos. Esse pacote de medidas gerou , além das melhorias imediatas, sensíveis progressos a longo prazo tanto econômicos, socais quanto institucionais. O uso combinado da ciência e tecnologia, ao lado de uma ajuda financeira vigorosa e rigorosa e da inserção imediata e continuada dos atores econômicos levou ao meio oeste americano passar de uma região flagelada pela seca em uma das maiores potências agrícolas do mundo nos anos subsequentes.

Como enfrentar a desertificação ? 1- Ação direta dos Governos -

Monitoramento mais ativo e avisos precoces e inclusão de novas áreas afetadas. Gestão ambiental integrada e adoção de tecnologias e medidas de controle preventivas.

2- Engajamento dos setores públicos e privados -

Comunicação eficaz entre a ciência, tecnologia, saber tradicional e os setores produtivos. Maior envolvimento de ONG´s com o setor produtivo. Melhorar a gestão dos ecossistemas. Adotar a capacidade de reagir em diferentes escalas. Melhorar e aprimorar os programas locais de treinamento de mão de obra . Envolver os atores locais nas grandes ações internacionais UNCCD, CBD, Sítios Ramsar, etc.

3- Novas oportunidades e novos mercados -

-

-

Novos hábitos de consumo, habitação e transporte. Novas alternativas alimentares (menor dependência a carne bovina) Novas formas de energia (energia solar) Estímulo a alternativas econômicas : reciclagem, ecoturismo, p. exemplo.

Os Solos como Fontes de Carbono Mudanças nos padrões de uso dos solos nos últimos dois séculos são as responsáveis por uma crescente emissão de CO2 e CH4 na atmosfera. Não somente a devastação de florestas tropicais deve ser mencionada aqui mas também as emissões de GHG são muito severas em áreas úmidas com elevados teores de matéria orgânica tais como as turfeiras, mangues, alagados. O derretimento do gelo que se obseva nos solos congelados do Ártico (Permafrost) pode disponibilizar uma quantidade de GHG jamais vista em poucos anos. A crescente devastação das florestas tropicais especialmente na Ásia pode não deve ser também menosprezada.

Degradação do solo e pobreza andam juntas. O fato é politicamente invisível e largamente ignorado. Podemos reverter esse descaso com investimentos a longo prazo, melhor integração entre as autarquias públicas entre si e entre elas e todos os setores produtivos envolvidos (agronegócio, silvicultura, mineração, etc.). A pesquisa não deve apenas fornecer dados, mas buscar uma constante adaptação de tecnologias apropriadas às circunstâncias locais. A união de pesquisa básica e aplicada mostrou, por exemplo, os benefícios da ciclagem biológica de nutrientes, a integração de leguminosas em diversos sistemas de cultivo, rotação de culturas, o plantio direto e os sistemas agroflorestais. A simples adição de adubo ou fertilizante pode aumentar o rendimento das culturas entre 0,5 a 6-8 toneladas de grãos / ha. Entretanto, o uso intensivo de fertilizantes bem degradando rios, lagos, reservatórios e nossas águas subterrâneas. O uso de fertilizantes também prejudica a competitividade de muitos pequenos agricultores em países pobres, pois ele não têm os meios para comprar fertilizantes, apesar razões custo-benefício favorável. O aumento da escassez de água está a prejudicar o desenvolvimento, a segurança alimentar, a saúde pública e os serviços ecossistêmicos. 70 % da água doce disponível está armazenado no solo e acessível para as plantas. Desse total, apenas 11% está acessível como vazão a partir das águas subterrâneas. Melhor gestão do solo e da água pode aumentar significativamente a capacidade de resistência dos sistemas agrícolas e da disponibilidade de água à jusante, mas quase todo o investimento vai para a retirada de água, dos quais 70-80 % é usada para irrigação.

A fome vai exigir a duplicação do uso da água pelas culturas em 2050. Mesmo com as melhorias tão necessárias em termos de eficiência, a irrigação não pode fazer isso sozinha. A mudança de política é necessária para uma maior eficiência na utilização da água na agricultura de sequeiro, que também vai reconstituir o abastecimento de água na fonte. A desertificação ocorre quando os processos de degradação do solo, agindo localmente, se combinam para transformar grandes áreas de savanas em desertos. Cerca de 2 bilhões de pessoas dependem de terras áridas, 90 % delas nos países em desenvolvimento. Existem 6,0 milhões de km2 de terras áridas. É difícil lidar com o problema, por causa de oscilações cíclicas na precipitação, a posse da terra que não é mais bem ajustados ao ambiente, e porque a gestão local é impulsionada por forças regionais e locais. Estas forças têm de ser objeto de políticas nacionais, regionais e globais. As respostas locais precisam ser guiados por medição consistente de indicadores das mudanças nos ecossistemas a longo prazo. O crescimento da população, o desenvolvimento econômico e urbanização irá aumentar muito as demandas por alimentos, água, energia e matérias-primas. Percebe-se uma migração do cereal para produtos de origem animal. A recente demanda por biocombustíveis vai aumentar ainda mais demanda para a produção agrícola. Mudanças climáticas aumentarão as demandas de água e aumento da variabilidade de chuvas pode aumentar a escassez de água em terras secas.

Desertificação Queda na Diversidade de Plantas e de Organismos do Solo

Reduções na Produção Primária e na Ciclagem de Nutrientes

Redução na Fixação do Carbono

Aumento na Frequência De Eventos Extremos Erosão do Solo

Aumento das Emissões do Carbono

Mudanças Climáticas

Flutuações nas Densidades das Espécies

Má Conservação do Solo

Perdas de Nutrientes

Simplificações na Estrutura das Comunidades

Perda de Biodiversidade

Mudanças na Estrutura das Comunidades

Feedbacks entre desertificação, mudanças climáticas e perda de diversidade

Problemas Ambientais

Problemas Ambientais

Foco em Soluções testadas

Políticas Públicas

Problemas Ambientais

Foco em Novas Soluções

Políticas Públicas

Políticas Convencionais Administrando demandas Tapando buracos e apagando incêndios...

Políticas Públicas

Políticas Inovadoras e Transformadoras

Gestão: Manejo, Gestão: Manejo, Conservação e Manejo, Conservação e Mitigação Conservação e Gestão: Mitigação Mitigação

Gestão Convencional Foco em alvos específicos Sem mudanças de paradigmas

Mudanças estruturais Gestão ambiental adaptativa e Criativa.

Mudanças Ambientais

Serviços Ambientais

Saúde Humana

Depleção de O3 na Estratosfera

Alterações na Produção de Alimentos, Perda de Diversidade.

Aumento dos efeitos danosos da radiação UV (Câncer).

Mudanças Climáticas (Eventos Extremos).

Aumento na erosão, assoreamento, enchentes.

Aumento na taxa de mortalidade associada aos eventos extremos.

Degradação do Solo.

Falta de alimento.

Aumento das doenças parasitárias.

Mudanças nos Usos do Solo.

Aumento da Poluição do Ar.

Aumento nas taxas de mortalidade.

Degradação dos Recursos Hídricos.

Piora na Qualidade de Àgua.

Aumento das doenças parasitárias.

Degradação do Litoral (Oceanos).

Perda de qualidade de vida nas grandes cidades do litoral.

Aumento nas taxas de migrações, aumento dos conflitos mundiais.

Tabela 3.3 – Ligações entre mudanças nos padrões de usos do solo e bem-estar social Mudanças nos Usos do Solo

Impacto Ambiental

Intensificação da atividade agrícola

- Perda de diversidade; Distúrbios no ciclo da água; - Aumento da erosão; - Depleção ou aumento de nutrientes ou M.O.; Aumento da salinidade; Eutrofização

Perda de florestas, campos e de áreas úmidas

Expansão Urbana

Necessidades Materiais

Saúde

Segurança

Sócio-economia

- Aumento da produção de alimento, fibras e biocombustíveis; - Aumento no uso dos recursos hídricos e dos conflitos em relação ao uso da água. -Perda de habitats, -Diminuição na biodiversidade, retenção e variedade dos recarga de aqüíferos. recursos disponíveis -Distúrbios generalizados (madeira, etc). nos ciclos biológicos e nas -Diminuição da teias alimentares. quantidade e da qualidade da água disponível.

- Aumento de algumas doenças transmitidas por vetores ligados a distúrbios na ecologia vegetal ou nos recursos hídricos. - Maior exposição aos agrotóxicos seja no ar, no solo ou na água. -Perda de serviços ecossistêmicos, incluindo o potencial de novas descobertas de medicamentos a partir das espécies das florestas.

- Aumento de desastres ambientais tais como enchentes, secas, deslizamentos, soterramentos e dias com eventos climáticos extremos.

- Amento da segurança dos orçamentos domésticos e mudanças na estrutura social e de poder.

Distúrbios nos ciclos hidrológicos e ecológicos, perda de biodiversidade, aumento da poluição atmosférica e problemas com lixo urbano. Aumento das ilhas de calor.

Amento das doenças respiratórias ou de veiculação hídricas (favelas). Maior incidência de doenças relacionadas ao stress (cardiopatias, etc).

Melhor alimentação, água tratada, melhor saúde. Melhor acesso aos bens materiais e aumento da renda per capta.

- Aumento do risco de enchentes, deslizamentos, tempestades de areia e aumento do assoreamento de lagos e rios.

-Perda de renda a partir dos produtos da florestas (madeira, pesca, extração vegetal, etc). -Mudanças nos estilos de vida com perda de tradições populares. -Perda de oportunidades para o ecoturismo e de áreas para recreação. Aumento dos índices Aumento das oportunidades de de violência e de progresso pessoal. Melhor criminalidade. acesso aos serviços sociais. Aumento da crise nos Aumento da competição pelo sistemas de crédito. Diminuição do senso transportes. Aumento coletivo em troca do das enchentes. indivivualismo.

Tabela 3.3 (B) – Ligações entre mudanças nos padrões de usos do solo e bem-estar social

Degradação

Mudanças nos Usos do Solo

Impacto Ambiental

Necessidades Materiais Escassez de água

Saúde

Segurança

Acúmulo de POP´s, envenenamento de populações.

Risco de exposição Queda no número de dias aos agrotóxicos, trabalhados por doenças água contaminada em áreas contaminadas. com nitratos.

Contaminação Química

Poluição dos solos e da água

Erosão

Perda de nutrientes do solo, degradação do valor da terra, assoreamento

Queda na produção Fome, desnutrição, agrícola, escassez de queda na imunidade. água.

Depleção de Nutrientes

Empobrecimento dos solos

Queda na produção agrícola e de produtos florestais.

Escassez de Água

Queda dos fluxos dos rios e da recarga dos aqüíferos.

Salinidade

Perda de produção dos solos e perda de habitats (aquáticos).

Perdas na segurança Deshidratação, queda alimentar, conflitos na higiene pessoal, pela água. aumento nas doenças de veiculação hídrica. Diminuição na Queda na produção agrícola. disponibilidade de água potável, aumento nos custos de tratamento da água.

Desastres ambientais (enchentes, deslizamentos, etc).

Má nutrição e fome.

Sócio-economia

Queda no valor das propriedades. Decréscimo na produção de hidroeletricidade. Queda no crescimento econômico em geral. Diminuição no crescimento econômico, queda nas exportações de alimentos.

Aumento generalizado nos conflitos pelo uso da água.

Queda no crescimento econômico. Aumento da pobreza.

Queda no crescimento da economia em geral. Depreciação na infraestrutura das regiões afetadas.

Tabela 3.3 (C) – Ligações entre mudanças nos padrões de usos do solo e bem-estar social Mudanças nos Usos do Impacto Ambiental Solo Desertificação Perda de habitats, redução na disponibilidade de água subterrânea e na fertilidade dos solos, aumento da erosão e das tempestades de areia. Ciclo do Carbono Mudanças climáticas, acidificação dos oceanos,

Ciclos de Nutrientes

Acidificação

Necessidades Materiais Saúde

Segurança

Sócio-economia

Diminuição da produção agrícola. Escassez de água e de alimentos frescos.

Má nutrição e fome. Aumento das doenças de veiculação hídrica. Aumento das doenças respiratórias.

Conflitos pelo uso do solo e da água.

Aumento da pobreza, marginalização das comunidades afetadas, decréscimo da resiliência econômica e aumento das migrações.

Aumento da escassez de alimentos em virtude do aumento na produção de biocombustíveis.

Aumento das Aumento das cardiopatias e das enchentes, doenças respiratórias. tempestades oceânicas. Aumento do consumo do açúcar e das doenças relacionadas a esse consumo. Efeitos ainda pouco estudados da bioacumulação de N e P nas cadeias tróficas. Decréscimo da disponibilidade de água potável. Envenenamento de plantas e animais que se alimentam com produtos contaminados com metais.

Eutrofização das águas interiores, contaminação dos aqüíferos (com nitratos, etc.). Depleção das reservas mundiais de apatita. Deposição ácida está Decréscimo afetando lagos e generalizado na pesca diversos ecossistemas. continental e oceânica. Acidificação dos oceanos.

Poderá haver mudanças abruptas na produção de energia já que 80% da produção mundial de energia está associada ao ciclo do carbono. Haverá benefícios imediatos na produção de alimentos e de biocombustíveis.

Grandes danos à florestas temperadas, à pesca e ao turismo. Aumento da corrosão de estruturas de transporte, na indústria e nas habitações.

Muito Obrigado ! Prof. Dr. Ricardo Motta Pinto-Coelho LGAR – ICB - UFMG

Para outras informações LGAR-ICB-UFMG Sala I3 254 Telefone: 031 3409 2574 E-mail: [email protected] http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/BEDS/

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