Biótipos e a Cultura de Consumo na Sociedade Hipermoderna

June 3, 2017 | Autor: Sandra Regina Rech | Categoria: Marketing, Consumer Behavior
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Biótipos e a Cultura de Consumo na Sociedade Hipermoderna Sandra Regina Rech, UDESC (Brasil), FA-ULISBOA (Portugal), Bolsista CNPq (Brasil) [email protected] Valter Carlos Cardim, IADE_U (Portugal) [email protected] Nelson Pinheiro Gomes, IADE_U (Portugal), FLUL-ULISBOA (Portugal) [email protected]

Resumo A globalização, o desenvolvimento tecnológico, novas formas de comunicação, entre outros elementos, provocam a necessidade de uma revisão constante dos padrões de comportamento dos consumidores, através da averiguação de novas mentalidades. Por conseguinte, na atual sociedade hipermoderna, que revela uma exacerbação dos valores concebidos na modernidade e uma obsessão pelo tempo, importa desenvolver novas percepções através de investigações sobre o comportamento de consumo. Isto é, a hipermodernidade caracteriza-se por uma cultura do excesso, onde as transformações acontecem num ritmo frenético, marcado pelo efémero, pela fluidez e pela flexibilidade. Nos dias atuais, cada indivíduo pertence a várias tribos e segmentos, considerando a complexidade e as conexões de informações que perpassam aos vários grupos consumidores. Em vista disso, o enfoque da presente investigação é apresentar um modelo conceitual de identificação de biótipos do comportamento humano, pautado pelos três tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica. O trabalho caracterizou-se como uma pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo, do ponto de vista da abordagem, e exploratório descritivo, do ponto de vista de seus objetivos.

Palavras-chave Biótipos, Hipermodernidade, Sociedade de Consumo, Medicina Ayurvédica, Doshas.

1. INTRODUÇÃO A globalização, o desenvolvimento tecnológico, novas formas de comunicação, entre outros elementos, provocam a necessidade de uma revisão constante dos padrões de comportamento dos consumidores, através da averiguação de novas mentalidades. Portanto, nesta sociedade hipermoderna, que revela uma exacerbação dos valores concebidos na modernidade e uma obsessão pelo tempo, importa desenvolver novas percepções através de investigações sobre o comportamento de consumo. Isto é, a hipermodernidade caracteriza-se por uma cultura do excesso, onde as transformações acontecem num ritmo frenético, marcado pelo efêmero, pela fluidez e pela flexibilidade. Assim, o estudo de biótipos permite o estabelecimento de indicadores sobre novas mentalidades e comportamentos do consumidor, possibilitando ações em várias áreas: sensorial, física, emocional, mental ou espiritual. Posto isto, este presente artigo apresenta um modelo conceitual de identificação de biótipos do comportamento humano, pautado pelos três tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica, um sistema de medicina tradicional, que entende o ser humano como um conjunto que integra corpo, mente e espírito. O conhecimento dos doshas, que interage no organismo de todas as pessoas, base da medicina ayurvédica, permite a consecução de um plano de equilíbrio, em busca de um estilo de vida adequado à matriz de cada ser. Atualmente, o desenvolvimento de produtos e de campanhas de marketing não podem ser orientados por perspectivas segmentárias. Na sociedade hipermoderna, onde cada indivíduo pertence a várias tribos e segmentos, o foco de tais planeamentos deve ser pautado em biótipos, considerando a complexidade e as conexões de informações que perpassam aos vários grupos consumidores.

2. METODOLOGIA 2.1. ETAPAS DA PESQUISA O desenho metodológico adotado compreendeu a documentação indireta e direta. Num primeiro momento, o trabalho consistiu em fazer o levantamento e a leitura da bibliografia pertinente a hipermodernidade, comportamento de consumo, biótipos da Medicina Ayurvédica, desenvolvimento de produtos e de campanhas de marketing. A revisão de literatura contribuiu para obter informações sobre a situação atual do tema ou problema pesquisado, bem como conhecer publicações existentes sobre o tema e os aspectos que já foram abordados. O objetivo desta etapa é a reunião de informações relevantes para a compreensão da temática investigada e elaboração de um referencial teórico sobre o assunto. A análise fundamentada nesses aspectos possibilitou a concretização dos objetivos a que esta investifação se propõe a cumprir.

2.2. PESQUISAS DOCUMENTAL E BIBLIOGRÁFICA Fazendo uso de metodologias de cunho qualitativo e quantitativo, a investigação deste trabalho foi desenvolvida em cinco estágios: (a) coleta de dados primários e secundários; (b) aplicação dos instrumentos de coleta de dados; (c) análise e interpretação das respostas; (d) elaboração de um modelo conceitual de de identificação de biótipos do comportamento humano, pautado pelos três tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica; (e) redação e editoração do texto final.

2.3. TIPO DE PESQUISA Esta fase abrangeu a pesquisa de campo, também nomeada de coleta de dados direta, fundamentada na ideia de que a análise de uma unidade de determinado universo oportuniza a apreensão da generalidade do mesmo ou o assentamento de bases para uma futura investigação. Considerada a sua natureza, esta pesquisa é aplicada por delinear a geração de conhecimentos para a aplicação prática na solução de problemas específicos. É do tipo exploratória descritiva por delimitar as características de grupos relevantes, e a frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características.

3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. HIPERMODERNIDADE A hipermodernidade propõe que, ao contrário do que o contexto da modernidade permitia, as mudanças na sociedade são tão rápidas que não é possível ter uma distância histórica e as ferramentas objetivas necessárias que permitam compreender como as dinâmicas sociais se estão a desenvolver neste momento. Tal como Gilles Lipovetsky (2014, p. 55) sugere: O que é que já não revela uma modernidade elevada à potência superlativa? Ao clima de epílogo seguese uma consciência desenfreada feita de mercantilização proliferante, de desregulações económicas, de um furor tecnocientífico […] Foi tudo muito rápido: o pássaro de Minerva anunciava o nascimento do pós-moderno no momento em que já se esboçava a hipermodernização do mundo. O conceito de hipermodernidade não entra em conflito com os de modernidade e de pós-moderna. Ele apenas sublinha e atribui ênfase aos objetivos das suas naturezas e projetos. Estamos perante um sistema fluído e flexível, com um número crescente de processos, modelos e estruturas, que permite a adaptação a um ritmo de transição cada vez mais rápido que projeta uma realidade utópica e futurista, que é apenas uma construção na mente presente. Não obstante, cada vez mais, as mentalidades e os comportamentos associados apresentam um carácter volátil que potencia mudanças rápidas e significativas no meio social e na forma como interpretamos e lidamos com o mundo. A exacerbação dos valores da sociedade, e os perigos que isso acarreta como o politicamente correto, a par da crescente produção simbólica e consumo trouxe à luz um nova sociedade de consumo. Esta nova realidade permite criar, destruir e reconstruir narrativas e significados de uma forma mais rápida e efémera. Tal como Zygmunt Bauman (2007, p. 03) refere, esta reconstrução não é uma necessidade nova: Modern times found the pre-modern solids in a fairly advanced state of disintegration; and one of the most powerful motives behind the urge to melt them was the wish to discover or invent solids of - for a change - lasting solidity, a solidity which one could trust and rely upon and which would make the world predictable and therefore manageable. Todas estas questões prendem-se com a alteração das estruturas e das relações de poder, já para não falar nas redes de associações simbólicas que estão rápida a entrar num jogo de mudança que leva a falhas graves na comunicação entre indivíduos e grupos. Uma orgânica mais participativa poderia ajudar a estabilizar o sistema e os seus códigos, atribuindo maior densidade cultural aos símbolos produzidos. Neste sentido, os Estudos de Tendências, ao contrário do estudo da moda e das ondas passageiras, ajudam a compreender a densas e mais sólidas mentalidades por detrás das mudanças sociais. As tendências são as estruturas capazes de orientar a o exercício semiótico de análise cultural e a emergência de arquétipos de estilos de vida. Logo, os Estudos de Tendências posicionam-se como uma análise à cultura rápida e lenta (McCracken, 2011), ou seja, à articulação entre o que é a vanguarda e cool e entre os processos e estruturas com maior densidade cultural no quotidiano. Sobre a definição de cool, importa referir a visão de Peter Gloor et al. (2009, p. 1-2): We have defined “coolness” as a property combined of four characteristics. First, cool things are fresh and new. […]. Second, cool things make us part of a community, they help us to be with “people like us”. […] Third, cool things are fun. Owning an iPhone is fun, because it looks so well-designed and cool. […] Fourth, cool things give meaning to our life. Cool things make people happier and feel good. Este equilíbrio entre as várias alterações nos comportamentos e nas mentalidades é o cunho desta área interdisciplinar que torna possível um trabalho de campo e uma reflexão sobre o indivíduo e o coletivo através de uma desconstrução dos objetivos e manifestações culturais do quotidiano, incluída nas práticas correntes e nas relações de poder presentes na sociedade. Em qualquer dos casos - sem detrimento do marketing, da cultura de consumo, da economia, da gestão, da sociologia, da antropologia e dos estudos do futuro – estamos a falar de semiótica cultural. Por outras palavras, da construção de sentidos e dos elementos que os comunicam, já para não falar dos vários agentes presentes na disseminação e na construção e desconstrução simbólica que ocorre a todo o momento.

A importância do Estudo das Tendências na compreensão de dinâmicas sociais não se baseia apenas no poder das marcas, dos mercados e dos seus intervenientes, mas principalmente na sua vitalidade e constituição como expressão interpretativa dos comportamentos. William Higham (2009, p. 17) sublinha, sobre a importância da análise de tendências: The speed of consumer and product change, the blurring of traditional demographics boundaries, the growing power of the consumer and the nature of globalism are all making trend determination a necessity. Trends can help companies make sense of their market in time of change. Desta forma, importa alertar que a análise de tendências não se esgota numa interpretação, permitindo um conjunto de conflitos de visões e de possíveis realidades sobre o padrão de comportamento e a mentalidade adjacente. Como um grande mapa de conceitos e de práticas, depende da subjetividade interpretativa do analista a construção do jogo dos pormenores e dos elementos que se acredita determinarem a natureza da cultura e da mentalidade associada, conforme a perceção dos diferentes estilos de vida que são interpretados na vida quotidiana e que estão condicionados a diferentes contextos temporais e espaciais. Torna-se assim claro que, independentemente das competências de tradução, análise e interpretação das mentalidades, entramos numa questão de coesão social onde estes padrões, os seus objetos e os processos associados funcionam como elementos complexos que agregam indivíduos em estilos de vida específicos, se bem que líquidos e efémeros, sendo um suporte para as suas construções identitárias e para a proliferação simbólica de práticas e de significados. O desenvolvimento de uma tendência tem início com um artefacto cultural, ou com uma atitude, que traduz a estrutura mental e cultural abstrata e que é adotado por inovadores, sendo em seguida disseminado por mais sujeitos. Henrik Vejlgaard sugere que uma tendência não representa algo que aconteceu, mas sim uma previsão de algo que vai ocorrer de uma certa forma e que será aceite pelo público em geral (VEJLGAARD, 2008, p. 7). Esta afirmação deve ser interpretada não como futurismo, mas como um resultado normal da disseminação das mentalidades. De acordo com a natureza de cada grupo social, é possível que uma nova mentalidade nasça no seio de um grupo, como elemento distintivo, podendo depois se disseminar por outros sujeitos. Importa sublinhar que um novo padrão de comportamento ou um novo discurso simbólico podem criar novos grupos ou gerar profundas alterações na identidade de um grupo já existente. O surgimento de um novo discurso, associado a uma nova mentalidade, pode provocar grandes alterações no estilo de vida, indo para além das próprias práticas de consumo.

3.2. CULTURA VÉDICA E OS DOSHAS A Cultura Védica classificou o ser humano, a partir da observação profunda, em categorias físicas, a que chamou de doshas, biótipos. Os biótipos desenvolvidos pelos sábios desta civilização milenar, ainda hoje, podem ser aplicados em todas as áreas da vida contemporânea, seja a nível individual, orientando estilos de vida distintos para cada ser, social ou empresarial, podendo dar origem ao desenvolvimento de novos produtos, novos negócios e serviços, campanhas de marketing e publicidade mais direcionadas para o públicoalvo, reordenar e organizar a estrutura interna das empresas, tanto interna como na sua atuação externa. Autores e investigadores contemporâneos, como D’Angelo e Côrtes (2008), Lad (2012) e Dasa (2011), ao estudarem o vasto conhecimento desenvolvido pela antiga Cultura Védica, reapropriaram-se dos conceitos desta tradição tornando-a acessível para todos nos dias de hoje. A Medicina Ayurveda, que faz parte da Tradição e Cultura Védica, é um dos ramos que cuida da saúde e do bem-estar. É um sistema que olha o ser humano na totalidade, vendo-o como um conjunto que integra o corpo, a mente e o espírito (GERSON 1995). Frawley e Ranade (2001) esclarecem que as bases filosóficas da Ayurveda, segundo os tratados mais antigos, estão centradas na teoria dos cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra; bem como nos três tipos corporais, biótipos ou doshas, a saber: Vata, Pitta e Kapha. A Cultura Védica indica, igualmente, segundo o biótipo, qual o tipo de tecido mais apropriado para ser utilizado, as cores que o harmonizam tanto nas roupas como no ambiente físico, gemas, aromas e essências específicas (CARNEIRO, 2012). Todas estas indicações são importantes para o mercado consumidor, para o marketing, a comunicação e a publicidade, podendo gerar novos desenvolvimentos de produtos e serviços. Desta forma, o conhecimento da constituição corporal, dos doshas ou biótipos, é um dos pilares centrais da Ayurveda, que nos possibilita desenhar e executar planos de equilíbrio possíveis e inteligentes no caminho da

busca pela longevidade junto com maior qualidade de vida. Os três doshas, ou humores, constituem as forças básicas que interatuam e se encontram presentes no organismo de todas as pessoas. Estes são dados no momento da fecundação e seriam a matriz, única e irrepetível, que está presente em cada ser de forma singular. Vata é a expressão da força do movimento, Pitta a de transformação e Kapha a da estabilidade e estrutura. A constituição doshica, ou mente-corpo, é a manifestação do predomínio dessas forças no nosso ser. Representam um mapa de nossas áreas de força e também das debilidades que fazem com que o nosso corpo ou a nossa mente fiquem debilitados com o tempo (VERMA, 1995). As pessoas de constituição Vata, que possuem uma percentagem maior de ar e éter, tendem a ser ativas, inteligentes, inquietas e criativas. O seu corpo é delgado com ossos e tendões proeminentes, a pele tende a ser seca e fria. O sono e o apetite nestas pessoas são irregulares e podem, por isso, passar a ter, ao longo dos anos, insônia, ansiedade e temor. Aqueles seres com predomínio de Pitta, que possuem maior percentagem de fogo e água, mostram um grande interesse intelectual e tem tendência a serem mais executivas. As proporções corporais neste tipo de biótipo são medianas e as suas extremidades são quentes, transpiram com facilidade, possuem um apetite e uma digestão muito forte. Normalmente reagem com ira e irritabilidade frente aos desequilíbrios quotidianos. As pessoas com predomínio do biótipo Kapha, com maior percentagem de água e terra, são metódicas e pensativas, impressionam, são calmos e pouco afetadas pelo cansaço. Possuem uma constituição corporal sólida, com tez suave, cabelo oleoso e grosso. A digestão neste tipo de ser é lenta e constante, com uma tendência para ao sono (VERMA, 1995). Também interatuam, num nível fundamental, em todos os seres as qualidades mentais. Cabe ressaltar que todos os seres humanos possui os três doshas, condição essencial para estar vivo. Se um deles ficar deficiente, a pessoa ficará doente e, se falhar por completo, a pessoa morre. Seria como o DNA, matriz. Por isso os sábios antigos, depois de muita observação, dividiram os seres viventes em dez tipos biótipos: V,P,K, V-P, V-K, P-V, P-K, K-V, K-P, V-P-K. Para todos esses tipos de seres há indicações para o estilo de vida que devem ter; produtos, alimentos, desportos a praticar, aromas e essências mais propícios; tecidos e cores, etc. No mercado atual, observa-se uma série de empresas a utilizar esse conhecimento como forma diferencial num mercado altamente concorrencial. O vasto conhecimento que a Cultura Indiana antiga possui poderá abrir novas possibilidades para a compreensão do ser humano, do mercado e da sua dinâmica cultural. A sua aplicação em termos práticos poderá proporcionar outputs diferentes das que temos hoje, em todos os sentidos. Tendo em conta esta nova realidade, almeja-se alcançar com este projeto uma compreensão maior do modo de vida atual e de como ele pode ser transformado de forma criativa, podendo, se houver pertinência, propor a sua aplicações nos diversos campo das Ciências Empresariais, na Área da Saúde e Bem-Estar e processos criativos individuais.

4. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 4.1. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo, do ponto de vista da abordagem, e exploratório descritivo, do ponto de vista de seus objetivos. A abordagem qualitativa permite uma profunda e detalhada imersão do investigador sobre a realidade social pesquisada. Do mesmo modo, este trabalho apresenta teor quantitativo visto a aplicação de inquérito e análise estatística.

4.1.1. PESQUISA QUANTITATIVA A literatura pertinente aos métodos e técnicas de pesquisa, ainda hoje, legitima as diretrizes de cientificidade dos métodos quantitativos, seja para a investigação dos acontecimentos físicos como para os culturais. Em vista disso, pode-se afirmar que este trabalho utilizou métodos de pesquisa survey exploratória, uma vez que proporciona a organização de ideias para a assimilação do conjunto do problema (PRODANOV e FREITAS, 2013).

4.1.1.1.

AMOSTRA E AGENTES ENVOLVIDOS NA PESQUISA QUANTITIVA

De acordo com Gil (2010), população conceitua-se como um grupo determinado de elementos com certas características e amostra é o subconjunto desta população, através da qual as características são estabelecidas. Nesta investigação, a população escolhida foi alunos dos cursos de Mestrado em Branding e Design de Moda,

Licenciatura em Marketing e Publicidade e Licenciatura em Design do IADE – Instituto de Arte, Design e Empresa - Universitário. A amostra foi censitária e recaiu sobre os alunos das turmas de Visual Merchandising ano 2014-15 (2º. Semestre); Turma Criatividade e Inovação ano 2014-15 (2º semestre); Turma Criatividade e Inovação ano 2015-16 (1º. Semestre) e Turma História e Crítica da Moda ano 2015-16 (1º. Semetre), totalizando 100 questionários respondidos.

4.1.1.2.

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

A ferramenta escolhida para a coleta de dados foi o questionário estruturado e não disfarçado, composto por três partes, uma para cada dosha (biótipo), a saber: Vata, Pitta e Kapha. Cada uma das partes continha vinte perguntas fechadas e as respostas deveriam ser respondidas conforme a identificação do “humor” do respondente aquela pergunta, em uma escala de 1 a 6, a saber: (a) escala de 1 a 2: não se aplica; (b) escala de 3 a 4: se aplica às vezes; (c) escala de 5 a 6: se aplica quase sempre. O instrumento de coleta de dados foi aplicado de forma pessoal entre os meses de fevereiro a novembro de 2015.

4.1.1.3.

DESCRIÇÃO DO TRABALHO ESTATÍSTICO

A situação de pesquisa survey exploratória definiu a triagem de itens do instrumento proposto, conforme os objetivos delineados para a investigação, isto é, a construção de um modelo conceitual de identificação de biótipos do comportamento humano.

4.1.1.4.

DADOS ESTATÍSTICOS

A princípio, fez-se uma análise descritiva das informações obtidas no questionário para cada dosha independentemente. Posteriormente, foram realizados os seguintes cruzamentos: (a) entre o tipo físico do aluno e o resultado obtido; (b) entre as pesquisas bibliográficas realizadas e a compilação dos resultados; (c) entre os resultados obtidos e a identificação de categorias de pessoas com determinadas características pessoais.

4.1.2. PESQUISA QUALITATIVA Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 70), a pesquisa qualitativa “considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números”. Portanto, esta etapa da pesquisa foi conduzida com base no método indutivo, uma vez que objetivou gerar informações descritivas da realidade pesquisada. Logo, o processo e seu significado foram os pontos centrais da abordagem. Para a execução desta fase da pesquisa, utilizou-se o método de grupo de foco on-line.

4.1.2.1.

AMOSTRA E AGENTES ENVOLVIDOS NA PESQUISA QUALITATIVA

Nesta fase da pesquisa, a amostra examinada foi integrada por pesquisadores em áreas afins à proposta do modelo (medicina ayurvédica, biótipos, marketing, design, administração, comportamento do consumidor, desenvolvimento de produtos). Os experts selecionados eram procedentes de vários locais de Portugal e do Brasil, o que engrandeceu a pesquisa em termos de outros conhecimentos regionais e possibilitou o intercâmbio de informações sobre o comportamento do consumidor. A amostra foi não-probabilística intencional e, no final das três rodadas, 18 (dezoito) pesquisadores compuseram a amostra do grupo de foco on-line.

4.1.2.2.

MÉTODO DE COLETA DE DADOS

Na etapa de pesquisa com os especialistas, a opção incidiu sobre a utilização de pesquisa qualitativa na forma de grupo de foco on-line com a utilização da técnica Delphi (ou método Delphi), indicado para circunstâncias em que há interesse na discussão de certa temática; obstáculos e impedimentos de encontros presenciais ou a necessidade de manutenção do anonimato dos participantes. O instrumento de coleta de dados foi enviado para os respondentes por meio eletrônico, acompanhado de uma correspondência explicativa, e com reforço de duas vezes para lembrança da necessidade do envio de resposta.

4.1.2.3.

DESCRIÇÃO DO TRABALHO ESTATÍSTICO

Esta pesquisa, sendo do tipo exploratório descritiva, apresentou a frequência com que um dado aparece, sua relação e conexão com outros elementos. Efetivou-se através da utilização de grupo de foco on-line e da técnica Delphi, que busca o consenso de opiniões de um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros. A operacionalização do método Delphi realizou-se nos seguintes termos: (a) definição do problema/tema a ser pesquisado; (b) seleção dos especialistas; (c) consulta aos especialistas, por meio de rodadas de questionário; (d) primeiro questionário com o propósito de obter o posicionamento inicial dos participantes sobre facetas gerais; (e) segundo questionário para a identificação de aderência na abordagem e um primeiro exame para a construção de prioridades; (f) terceiro questionário com a intenção do estabelecimento de consenso e determinação de melhores conceitos. A aplicação do método Delphi foi executada entre os meses de novembro de 2015 a fevereiro de 2016. Os potenciais respondentes de áreas afins foram contatados, individualmente, por estes pesquisadores, através de correspondência via correio eletrônico. O documento apresentava quais os objetivos da pesquisa; explicações sobre a técnica Delphi; um resumo da investigação; além de mostrar a importância da participação deles no estudo. Aos integrantes que, efetivamente, aceitaram compor a pesquisa, foram enviados os questionários; uma breve explicação dos motivos do projeto e instruções para o preenchimento e devolução, via email. No primeiro questionário, de seis perguntas, os vinte especialistas envolvidos escolheram os cinco tópicos mais representativos para cada questão, atribuindo notas de 1 a 5 conforme sua importância, sempre considerando a identificação de biótipos do comportamento humano, pautado pelos três tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica. Nesta etapa, houve abstenção de 10% de respostas, e o prazo para devolução foi de duas semanas. Os resultados do grupo de foco foram ponderados a partir da metodologia denominada Análise de Conteúdo, considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema. Optou-se por uma grade de análise aberta, flexível, definida durante o curso da pesquisa e passível de modificações até que se obteve um conjunto final. A síntese dos resultados foi comunicada aos membros do grupo que, após tomarem conhecimento, responderam o segundo questionário que apresentou, obrigatoriamente, os resultados do primeiro questionário, possibilitando que cada respondente revisse sua posição frente à presciência e argüição do grupo em cada pergunta. Nesta etapa, o grupo escolheu, de acordo com o seu conhecimento, os três tópicos mais representativos para cada pergunta, atribuindo notas de 1 a 3 conforme sua importância para a identificação de biótipos do comportamento humano Não houve abstenção de respostas e o prazo para devolução foi de uma semana. As interações se sucederam desta maneira até que um consenso foi obtido, no terceiro round de perguntas, apresentadas através de textos referentes aos tópicos das questões anteriores. Além de comentários e observações a respeito do resultado obtido, os participantes escolheram uma das alternativas apresentadas: (a) Concordo plenamente com o texto; (b) Concordo parcialmente com o texto. Por quê? (c) Não concordo com o texto. Por quê? Neste estágio igualmente não houve abstenção e o prazo para devolução foi de duas semanas. O anonimato nas respostas eliminou o alcance de fatores como o status acadêmico ou profissional do respondente, ou sua capacidade de oratória, na consideração da validade de seus argumentos. Contudo, é interessante notar que os profissionais ligados diretamente à área específica foram unânimes em suas respostas, diferentemente, de especialistas de áreas afins. Isso, com certeza, demonstrou o efetivo engajamento no processo dos participantes atuantes no campo , importante vantagem que confere credibilidade ao estudo.

5. MODELO PROPOSTO Diante do exposto e pautado nas pesquisas bibliográfica e documental deste trabalho, elaborou-se um modelo conceitual de identificação de biótipos do comportamento humano, pautado pelos três tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica, um sistema de medicina tradicional, que entende o ser humano como um conjunto que integra corpo, mente e espírito. Foi desenhado a partir das análises qualitativa e quantitativa com designers, estudantes, especialistas da academia, experts em medicina ayuvérdica e de áreas afins.

O modelo proposto é relacional, em rede, tendo como pilares de sustentação os tipos corporais (doshas) da Medicina Ayurvédica, a behavioral meteorology, os Estudos de Tendências e a gestão estratégica. A natureza deste modelo é abrangente, mas com escopo delineado, desafiador, mas alcançável pelas empresas de desenvolvimento de produtos e serviços. Para a identificação dos biótipos, o modelo proposto utiliza como indutores: (a) Aumento gradual da capacitação em inovação do produto de design: (b) Melhoria da qualidade do processo e do produto; (c) Sinergia interna nas estratégias de diversificação; (d) Maior interação com usuários e consumidores; (e) Aperfeiçoamento da gestão em todo o processo produtivo. É um modelo participativo e seus atores são os empresários e os clientes. É um consenso bipartido (indústria X gestão de pessoas), estruturado em torno do cliente, exigindo mudanças essenciais para o processo existente atualmente. A empresa deve planejar e alinhar suas ações de negócios, de marketing, suas comunicações, sua tecnologia e seu pessoal para sustentar o valor desejado pelo cliente. O objetivo do modelo é criar condições para a delimitação de grupos comportamentais na contemporaneidade. A ideia de público-alvo, atualmente, é complexa, pois as segmentações por idade, classe social ou estilo de vida não correspondem à realidade (LEVINBOOK e BARBOSA, 2010). Outros valores como pensamentos e atitudes, relações interpessoais, seus interesses pessoais e valores (morais, éticos, políticos, etc) contribuem para o constructo destes conjuntos de pessoas. Na primeira etapa da investigação, finalizou-se o modelo conceitual, o qual deverá ser aplicado e validado na segunda fase da investigação. Nesta fase serão escolhidas cinco empresas de porte pequeno, na área do design, para a validação do modelo. A proposta é utilizar grupos de foco para cada tipo corporal (doshas) da Medicina Ayurvédica. Portanto, serão utilizados métodos de pesquisa quantitiva e qualitativa. A partir de então, o desenho metodológico do modelo será divulgado, de forma ampla e irrestrista, à todas as empresas interessadas em aplicar o modelo.

6. CONCLUSÕES O modelo conceitual de identificação de biótipos do comportamento humano apresentado representa uma opção para estimular o comprometimento dos setores industriais envolvidos com o desenvolvimento de produtos e serviços. É um instrumento de articulação e organização para ações estratégicas, além de representar um espectro de futuro compartilhado e uma direção estratégica de consenso. Os benefícios podem impactar positivamente toda a sociedade e sua execução será possível por um movimento amplo, fundamentado, não em ações individuais, mas, sim, em associações e alianças fortes e duradouras entre a indústria e seus públicos-alvo. Portanto, quando validado, o modelo poderá ser sugerido para as micro e pequenas empresas de desenvolvimento de produtos e serviços.

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