Black Blocs – O Papel do Estado e a Vida dos Cidadãos

July 22, 2017 | Autor: Thales Carmo | Categoria: Sociology, Social Sciences, Political Science, Black Bloc
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Black Blocs – O Papel do Estado e a Vida dos Cidadãos Introdução as Ciência Sociais: Nação, Brasil e Identidade Nacional

Grupo: André de Almeida Carmona Mazitelli Eduardo do Amaral Lisbôa Felipe Hoch de Proença Thales Veneziani Ribeiro Paoli do Carmo

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Índice

 Introdução............................................................................................. 3

 O Papel do Estado e a Ordem Social...................................................... 4

 Black Blocs............................................................................................. 6

 Conclusão.............................................................................................. 9

 Anexos................................................................................................. 11

 Referências Bibliográficas.................................................................... 14

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Introdução Existe um limite estabelecido pela lei até onde se possa ir numa manifestação? A democracia permite qualquer coisa? Qual sua legitimidade? Na oportunidade gerada pelas manifestações de junho de 2013, surgiu no cenário nacional os Black Blocs, que se autointitulam um grupo de estratégia de ataque, e utilizam predominantemente uma forma violenta e desenfreada de protesto. O grupo tem enfrentado e desafiado as autoridades resistindo as mais diversas formas de repressão. Seus membros são, em sua maioria, jovens de classe média baixa, com os rostos sempre cobertos (com a clara intenção de evitar a identificação) e vestidos sempre de preto. Geralmente atacam os símbolos do capitalismo, com uma postura ofensiva muito bem montada, na qual chegam, dominam o cenário e ocupam desde cedo o comando de operações. Com a clara vocação anarquista utiliza-se desta forma de protesto para questionar não somente o governo, mas também o sistema politico vigente. Classificados inicialmente como criminosos, por imagens feitas por redes de televisão, que apresentam o grupo como “saqueadores”, porem, por meio de outras imagens contrastadas a essas primeiras, informações foram sendo dirimidas e foi-se aos poucos conhecendo se uma estratégia elaborada, que segue os padrões dos Black Blocs no mundo. Este trabalho busca não somente analisar a atuação dos Black Blocs e seu impacto sobre o cidadão comum, mas também discutir o papel do Estado em relação as consequências dos atos promovidos pelos Black Blocs no contexto das manifestações no Brasil. Seguindo sempre os pensamentos de Karl Marx e Emile Durkheim como referência. O trabalho esta dividido em três partes: reflexão conceitual sobre as ideias de Marx e Durkheim análise de argumentos a favor e contra os Black Blocs e por fim uma conclusão que procura analisar as consequências da ação dos Black Blocs a respeito do papel do Estado e da vida dos cidadãos.

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O Papel do Estado e a Ordem Social “Na embalagem do chá verde Celestial Seasonings há uma breve explicação de seus benefícios: ‘O chá verde é uma fonte natural de antioxidantes que neutralizam os radicais livres, moléculas nocivas ao corpo. Controlando os radicais livres, os antioxidantes ajudam o 1 corpo a manter a saúde’”.

E não é precisamente a existência dos radicais livres que suscita algumas das principais controvérsias entre Marx e Durkheim? Evidentemente estes inesquecíveis arquitetos da sociologia (pós) moderna, tem muito mais em comum além de sua origem judaica. Encarar a priori, um como conservador e o outro como revolucionário, seria, em primeiro lugar, cair na ausência de rigor científico das pré-noções – entristecendo nosso prezado francês – em segundo lugar, se deixar iludir pela falsa consciência da classe dominante – como poderia ter dito o extraditado alemão – e seria, finalmente, contribuir para a manutenção da falácia de falso dilema, tão típica nos tempos atuais. Antes de imputar, portanto, diretamente a um ou a outro a categoria de antioxidante ou infecção ideológica (respectivamente com a função de controlar ou produzir os ditos radicais), vale recorrer a uma análise propriamente dialética: destacando de início o que compartilham em suas teses para só em seguida desconstruir suas contradições inerentes com a ambição de uma síntese elucidativa. Assim como Marx, Durkheim não concebeu propriamente aquilo que se poderia chamar de uma teoria de Estado. São ambos utópicos – muito aquém do traço pejorativo que se incorporou ao termo recentemente – no sentido de defender originalmente um ideal normativo distante do presente empírico mensurável. À sua maneira ficaram para a história, tendo enfrentado a maior dificuldade de todo gênio inovador, que é justamente se fazer reconhecer como tal. Os dois pensadores concordam aparentemente em sua noção de “Estado subordinado” e simultaneamente agente moral que garante uma espécie de organização social. Para Marx essa subordinação se dá no nível de sua historicidade como superestrutura: sua dependência ligada à infraestrutura das relações econômicas de produção da sociedade civil. Já para Durkheim ele se submete como representante de certos objetivos centrais da coletividade, dialogando com o que ele chama de grupos secundários e/ou sociedade política, na qual são forjadas as identidades individuais por meio da educação e mediação de interesses: “O Estado não se move com suas próprias forças, ele tem de seguir o rastro dos obscuros sentimentos da multidão. Ao mesmo tempo, entretanto os poderosos meios de ação de que dispõe o tornam capaz de exercer uma pesada repressão sobre os mesmos indivíduos de 2 quem, por outro lado, permanece servo” .

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ZIZEK, Slavoj. Alguém disse Totalitarismo? DURKHEIM, Émiles.d.apud GIDDENS, 1998.

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Entretanto, ao contrário de Durkheim, Marx insiste em chamar atenção para o papel do estado enquanto expressão do poder da classe burguesa. Logo, ele não apenas teria a função de impedir a degeneração dos antagonismos de classe em forma de luta, como de preservar a desigualdade da propriedade privada dos meios de produção. É interessante notar que, partindo da sugestão marxista de que a História é a história das lutas de classes (sendo, portanto um fenômeno encontrado nos mais diversos tipos de sociedade) e fundindo-o com a distinção durkheimiana entre fatos sociais normais e patológicos, seriamos tentados a inferir que a própria luta em questão – enquanto força motriz universal – se trata de um fato normalizado e consequentemente a ordem social imediata um sintoma patológico; e não o contrário. É claro que em sua cosmovisão biologizante, Durkheim encarava o dever dos homens de Estado como o de médicos preventivos, desfavoráveis a qualquer violência que pudesse desequilibrar a harmonia do corpo social. Mas sua premissa de que o social só se conecta a uma cadeia causal com o social, gera dúvidas quanto à efetividade dessas medidas de cura e quanto ao próprio sentido da profissão de cientista social, dado que este – por mais que se ateste ao contrário – não passa de um indivíduo; sem poder suficiente, por conseguinte (seguindo sua própria concepção), para interferir de modo significativo em seu objeto de estudo. Marx parece se aproximar de um paradoxo semelhante quando atesta que “Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, pelo contrário, seu ser social que determina sua consciência."3 Ora, o leitor distraído poderia imaginar nesse ponto que Marx se trata de um reducionista, crente na inevitabilidade do determinismo econômico. Por outro lado, quando se percebe a importância que este atribui à passagem da consciência de classe em si para si (da intersubjetividade de classe imposta como mera detentora de sua força de trabalho para a união política concreta, consciente de seu papel social/interesse real), fica evidente que este não é o caso. O que Marx caracteriza de fato é a essência de sua “filosofia da práxis”: a necessidade de não se limitar ao campo da crítica ideológica e sim materializar-se no mundo através da ação, para que a consciência seja mais do que um epifenômeno. Sendo assim, verdadeiramente capaz de desafiar o status quo e propiciar uma dinâmica de desalienação a longo prazo. Da reflexão conceitual que se propôs deve-se reter, enfim, as afirmativas de que: “Após ter estabelecido pela observação que o fato é geral, ele remontará às condições que determinaram essa generalidade no passado e procurará saber, a seguir, se tais condições ainda se verificam no presente ou, ao contrário, se alteraram. No primeiro caso, ele terá o direito de qualificar o fenômeno de normal e, no segundo, de recusar-lhe esse caráter.”4 “Quando já não existir nenhuma classe social que precise ser submetida; quando desaparecerem, juntamente com a dominação de classe, juntamente com a luta pela existência individual, engendrada pela atual anarquia da produção, os choques e os excessos resultantes dessa luta, nada mais haverá para reprimir, nem haverá necessidade, portanto, dessa força especial de repressão que é o Estado.”5

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MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política. DURKHEIM, Émile. Regras do Método Sociológico. ENGELS, Friedrich. Do Socialismo utópico ao Socialismo Científico.

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Black Blocs  O que é e quais as origens dos Black Blocs? Os Black Blcos tiveram origem nos anos 80 em Berlim Ocidental, onde o movimento denominado Autonomen (autonomista) empregou pela primeira vez a tática do Black Bloc, caracterizados pelo uso de roupas inteiramente pretas. O movimento Autonomen tem o marxismo, o feminismo, o ambientalismo e o anarquismo como bases ideológicas. Em seus protestos e manifestações lutavam, em geral, pela garantia da liberdade em múltiplos aspectos sociais e pediam pela redefinição da política, uma política mais inclusiva, igualitária e democrática. No Brasil os Black Blocs mantem as bases ideológicas anarquistas do Autonomen. Em geral atuam com o rosto coberto e com roupas pretas. Nas manifestações iniciadas em junho de 2013 no Brasil, que ocorreram em todas as partes do país, o grupo teve muitas vezesseu nome ligado a questão da violência e da “baderna” vistos durante as manifestações. Muitas vezes transformavam manifestações pacíficas em confrontos contra todos aqueles que eles dizem ser o mal da sociedade (polícia e estado principalmente).Segundo eles a utilização do enfrentamento e da violência se faz necessária para expressar a sociedade e ao Estado toda sua revolta diante de um Estado totalmente ausente e de um sistema corporativo “perverso”. A questão que fica, todavia, na mente tanto da sociedade, do estado e da mídia, é até que ponto o uso da violência é válido para expressar ideias e ideais? Quais os pontos positivos e negativos da atuação dos Black Blocs?

 Críticas à atuação dos Black Blocs Existem muitas críticas com relação a atuação dos Black Blocs, no que se refere tanto a forma como agem, como também a forma como pensam e até mesmo o foco de suas reivindicações. Um dos pontos mais criticados com relação à forma como atuam os Black Blocs durante as manifestações, é com relação ao uso da força e da violência. Através da violência e do “quebra-quebra” muitas pessoas ficaram feridas durante suas manifestações e, além disso, casos como a morte do cinegrafista Santiago de Andrade no Rio de Janeiro, nos levam a questionar até que ponto este uso da brutalidade e da violência é valido dentro de manifestações. Algumas pessoas dizem que foi com o uso da força e do enfrentamento com a polícia e da consequente resposta brutal da polícia contra os manifestantes, que efetivamente as manifestações por todo o Brasil começaram a ganhar tamanho. Todavia, não necessariamente foram os Black Blocs que estavam reivindicando nas primeiras manifestações que foram o fruto das grandes manifestações por todo o Brasil. Além disso, muito ainda deve ser questionado com relação ao uso da violência do grupo, que expulsou muitos 7 FGV – Introdução as Ciências Sociais: Nação, Brasil e Identidade Nacional

manifestantes pacíficos das ruas, que temiam as consequências de toda aquela brutalidade, além de passarem a desacreditar no efeito que as manifestações pacíficas poderiam ter. Outro ponto questionável do grupo é a menção presente em algumas manifestações dos Black Blocs, a partidos políticos. Especialistas alegam que o grupo possivelmente estaria agindo de forma aliada a partidos políticos de esquerda, como pode ser visto tanto em algumas convocações no site oficial do grupo além de faixas em algumas de suas manifestações que diziam “Fora Alckmin”. Este ponto, todavia, é de certa forma controverso pois não há muita informação com relação ao perfil das pessoas que atuam nos Black Blocs. Pegando de exemplo o os 2 jovens que foram presos pela morte do cinegrafista Santiago de Andrade, seus perfis eram absolutamente distintos, o que deixa ainda mais dúvida com relação a quem efetivamente atua no grupo. Crítica também deve ser feita no que diz respeito ao que o grupo busca reivindicar, qual seu foco principal de manifestação. Ao mesmo tempo em que o grupo reivindica contra muitos fatores da sociedade e da politica nacional, eles não possuem um foco principal, o que dificulta ainda mais a manifestação. Muitas pessoas deixam de ir a rua devido essa falta de pauta, de perspectiva dos protestos, o que em união com a violência deixa as ruas ainda mais vazias. Por último internamente existem algumas divergências tanto no que diz respeito ao uso da violência durante os protestos, como no que diz respeito ao foco do uso da violência. Primeiramente há certo debate com relação ao uso da violência, onde alguns dos Black Blocs acreditam que o combate deve ser usado apenas de forma “simbólica” enquanto outros creem que a violência deve ser usada de forma mais pesada contra a polícia e o Estado. Além disso, há divergência no fato de alguns acreditarem que o Estado em si deve ser o foco principal, ao passo que outros dizem que a polícia deve ser o foco.

 Pontos à Favor da atuação dos Black Blocs

Ante às inúmeras críticas referentes às atuações dos Black Blocs, seja pela ausência de foco nas manifestações, seja pelo emprego da extrema violência ou ainda pela partidarização do “movimento”, não faltaram argumentos em defesa do movimento. Primeiramente, a conceituação desses particulares reivindicantes é inexorável para entender seus princípios. Compará-los à quaisquer grupos de manifestantes violentos é um equívoco. O Black Bloc não é um grupo. O Black Bloc é uma tática de manifestação cuja origem deu-se pela perseguição aos manifestantes e

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pela violenta repressão policial durante tais manifestações. Diante disso, resta discutir os seguintes pontos referentes à atuação deles: A princípio, a questão estética é primordial para explicar diversos outros fatores e acontecimentos. A uniformidade dá a ideia de um coletivo agindo como um só braço, de indivíduos juntos agindo como um só. A apropriação de rostos cobertos e todos vestidos – essencialmente – de preto despersonaliza a autodefesa dos protestantes se protegendo contra a ação da PM ou contra os símbolos do capitalismo (como bancos) e converge para a coletivização de um corpo que se comporta uniformemente, com um mesmo objetivo. Tal característica, por sua vez, justifica o equívoco relacionado ao caso da morte do cinegrafista da Band, Santiago Andrade, no Rio de Janeiro: o rapaz acusado, Caio, estava de cinza quando supostamente acendeu o rojão que vitimou o cinegrafista. É por esse motivo que não se pode vincular essa morte aos Black Blocs. Ainda conectados, a desobediência civil, característica bastante criticada dos manifestantes, pode ser avaliada sob o ponto de vista democrático. Em âmbito história, o regime democrático no mundo somente evoluiu, em termos de ampliação da garantia de direitos, por meio de rupturas e revoluções. É exatamente essa a proposição dos Black Blocs. Suas ações, mesmo quando violentas, mesmo quando inaceitáveis, preveem objetivos de melhorias de sua crença política. Nesse sentido, se diferencia no plano ético-político do ato de bandidagem. Por outro lado, é inaceitável alegar que os Black Blocs foram responsáveis pela difusão da violência generalizada nas manifestações: no começo de junto do ano passado, quando sua presença ainda era mínima, a repressão veio invariavelmente. Na grande maioria das vezes, a própria PM inicia as provocações e a repressão, mas quando os manifestantes reagem, são tidos como violentos. Outra crítica bastante auferida aos revolucionários é sobre suas possíveis visões antipolíticas e o, consequente, apoio a um clima fascista que generaliza a politização brasileira. Em vista disso, a confusão entre autodefesa popular – visto que sofrem com as forças descomunais da PM – ou o repúdio de alguns manifestantes aos partidos tradicionais e o sentimento contrário de boa política é extremamente distante da realidade. Já quanto a “generalização simplista”, termo utilizado pelo cientista político Marcio Saraiva publicado pelo “Vi o Mundo” em sua crítica à atuação dos Black Blocs, há distinções claras entre a rejeição das instituições carcomidas do Estado e da atuação partidária, especialmente do PT, PMDB e PSDB – declarados falaciosamente esquerdistas – e uma simples vulgarização dos políticos eleitos. No entanto, é irrefutável que grupos se apropriem deste discurso e o transformem num discurso esvaziado e de tons fascistas, mas estes grupos claramente não representam a maioria daqueles que saem para a luta.

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Conclusão De uma maneira geral o trabalho buscou analisar a forma como atuam os Black Blocs no que diz respeito a suas ações durante as manifestações e os protestos, e todos os desdobramentos disso no que diz respeito ao papel do Estado e na vida dos cidadãos. Junto a isso, servindo de base teórica e referência analisou a fonte ideológica de dois grandes sociólogos, Durkheim e Marx, no que diz respeito ao papel do Estado e a Ordem Social. Ambos pensadores, Émile Durkheim e Karl Marx, concordam, em parte, no que diz respeito ao papel do Estado na sociedade. Isso parte da concepção aceita por ambos de “Estado subordinado” e simultaneamente agente moral que garante uma espécie de organização social. A diferença nesse aspecto, se da na forma como cada um dos sociólogos vê a forma como se dá essa subordinação. Para Marx se dá no nível de sua historicidade como superestrutura. Por outro lado, para Durkheim o Estado se submete como representante de certos objetivos centrais da coletividade. Isso se difere, novamente, da visão de Estado de Marx, pois este afirma o papel do estado enquanto expressão do poder da classe burguesa. Partindo destes pressupostos ideológicos, pode-se analisar a atuação dos Black Blocs. O grupo busca, em suas manifestações, contestar o papel do Estado na sociedade e a forma como atuam e como a representam. Para eles o Estado foge ao máximo da concepção durkheiminiana de submissão como representantes de certos objetivos centrais da coletividade. Isso pode ser visto em um dos lemas do grupo que seria: o uso do enfrentamento e da violência em suas manifestações, que se faz necessária para expressar a sociedade e ao Estado toda sua revolta diante de um Estado totalmente ausente e de um sistema corporativo “perverso”. Diante deste estado de ausência de um Estado essencialmente representante do coletivo e do povo em geral, onde na verdade se é visto um Estado que atua expressando o poder e beneficiando classes mais poderosas, gerando cada vez mais desigualdade, concentração de renda e uma subsequente violência, os Black Blocs procuram expressar nas manifestações que se fazem presentem suas mais diversas insatisfações perante essa situação. Desta maneira pode-se traçar um paralelo duplo do grupo e da sua forma de pensar e atuar com o pensamento marxista. Primeiramente de certa forma a maneira como os Black Blocs veem a forma como atua o Estado, em geral em beneficia de uma determinada classe social, pode se relacionada a concepção de Marx do papel do Estado de expressar o poder de uma só classe, a burguesa. Além disso pode-se fazer uma relação 10 FGV – Introdução as Ciências Sociais: Nação, Brasil e Identidade Nacional

entre a forma de agir dos Black Blocs e a forma como Marx acreditava que as pessoas deveriam agir. Isto pois na visão dos Black Blocs a maneira de se conseguir fazer com que o Estado entenda seus objetivos e que respectivas mudanças ocorram e através de manifestações e enfrentamento. Paralelamente, para Marx, agora pensando do ponto de vista de uma sociedade que busca a mudança do capitalismo para o socialismo, a única maneira de atingir esta transformação seria através da Revolução Socialista. O que é, todavia, mais debatido com relação ao grupo é a legitimidade da maneira como atuam. A forma como os Black Blocs manifestam-se, muitas vezes usando da violência e do enfrentamento com a polícia e com o governo, estaria efetivamente representando as vontades do povo? Até que ponto pode-se dizer que o uso da violência deve ser considerado legitimo? A partir disto algumas críticas foram levantadas no que diz respeito, primeiramente, a maneira como atuam, sempre muito violentas, o que levam a muitas pessoas que manifestavam-se de forma pacífica nas ruas a ficar em casa. Além disso, a presença, em alguns atos do grupo, de objetos e faixas referentes a partidos políticos, alegando uma possível aliança dos Black Blocs com partidos, pode ser questionada. Muitas vezes a falta de um foco único de protesto e também uma divergência, de certa forma, ideológica entre os participantes dos Black Blocs levam a outras inúmeras críticas. Em contraste a estes contrapontos em relação ao grupo, alguns elogios podem ser feitos a sua forma de atuação. Eles buscam, de uma forma geral, representar toda a sociedade em busca de garantia de direitos. Somente através de muita luta e possíveis Revoluções pode-se adquirir as mudanças desejada por todos nós e desta maneira os Black Blocs ao irem para a rua estariam representando a sociedade como um todo.

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Anexos Anexo A. Entrevista com o PAI (Partido Anarquista Internacional) 1. Por quê? Qual sua pretensão/ambição última, o princípio pelo qual se guiam, a convicção que os leva a agir, enfim o horizonte que os norteia? R: O Black Block nasceu em Hanoover na Alemanha e tomou forma final em Londres, através do Movimento Autonomista e da ampla Frente Anticapitalista. Poderíamos dizer que os princípios que norteiam o Black Block é a Luta contra o Capitalismo, pelo fim da Classe Patronal, pelo fim da Classe Politica, por um modulo de produção cooperativista e autônomo e por um sistema politico descentralizado de comunas e territórios autônomos federados.

2. Quem? Quais são os participantes, existe um processo de seleção, uma organização interna, um determinado perfil geral pelo qual a maioria se define? R: O Movimento Autonomista na Europa é um movimento praticamente formado por Anarquistas, mais não somente por Anarquistas. O autonomismo defende a Autonomia Politica e Produtiva e não admite patrão e políticos no Autonomismo. Não existe seleção, somente o uso da Roupa Preta, porem existem consciências internas seletivas, pelo grau do discurso nos identificamos, pelo grau da ação nos posicionamos em posição interna livremente. O movimento é uma tática Anarquista de manifestação nascido contra a perseguição à manifestação e contra a violência por parte da policia militar contra as manifestações, fenômeno este igual em todo o mundo e por causa disto levou o Black Block ao mundo inteiro.

3. Como? Qual é a estratégia de ação, existe sempre um plano, ele se foca a curto ou longo prazo, o papel dos indivíduos varia entre si? R: O Black Block é um braço de ação direta do Anarquismo Organizado ou se preferir dos muitos Partidos Anarquistas que foram a anos jogados na clandestinidade politica. 12 FGV – Introdução as Ciências Sociais: Nação, Brasil e Identidade Nacional

Como Braço de ação direta a tática é padronizar os protestos em uma unidade simbólica e uma Unidade de Ação Padrão Black Block. O Objetivo inicial é de se defender como grupo politico das perseguições e violências policiais e o objetivo intermediário é se constituir em um exercito mundial anarquista contra o capitalismo e por fim, desmilitarizar todas as sociedades do mundo. Somos Partizans, soldados da Resistencia Mundial Anarquista, porem como todo corpo não existe somente um braço, mais um corporativismo onde cada um tem a sua parte como Partizão.

4. Qual sua relação com o anarquismo? R: A ligação com o Anarquismo é um fato, o Black Block é uma Ação Anarquista Anti Capitalista. Nós somos do Partido Anarquista Internacional, que resolve se apresentar publicamente e dizer que o Black Block é um braço de Ação direta dos Partidos Anarquistas. As experiências militares Anarquistas que norteiam o Black Block são: O Povo em Armas na Revolução e Guerra Civil na Espanha, o Plataformismo Anarquista que organizou o Exercito Negro da Macknovichina na Ucrânia Anarquista durante a Revolução Russa de 1917, as Frentes e Exércitos de Libertação da ordem vermelha e Negra da América Latina, criada pelo Anarco Bolcheviques históricos, os braço de ação direta do clandestino Partido Anarquista Italiano de Erricomalatesta que promovia atentados contra as Estatuas da Aristocracia e contra as Fabricas que exploravam os trabalhadores na Itália, a OPR33 ou braço de Ação direta do clandestino Partido Anarquista do Uruguai. Ou seja a experiência do Anarquismo com ação direta existe a mais de um século e o Black Block é a atualidade de um Exercito Negro SEM ARMAS, contra um Exercito das Nações Brancas ARMADOS até os dentes. 5. Como lidam com a manipulação dos seus feitos pela mídia? Quando ela o usa para enfraquecer a própria aderência ao movimento por exemplo. R: A Mídia morde o próprio rabo, pois o povo não é bobo e sabe distinguir as coisas e perceber a manipulação, o que a mídia burguesa esta fazendo é criar um ódio contra ela mesma por parte de toda a população por agir como um partido midiático sem neutralidade e que toma posicionamentos políticos, atacando e perseguindo grupos políticos. Depois quando isto gerar uma insurgência contra ela da maior violência possível, esta vai cair e chorar. Lembro que os Artistas da Rede Globo se manifestaram a favor dos Black Block, pois estão dizendo para nos e para todos que são trabalhadores e apoiam

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trabalhadores e que a luta é contra o Patrão ou seja contra a instituição Rede Globo e não contra os seus trabalhadores. 6. Existem conflitos internos? Seria possível acrescentar algum tipo de autocrítica ou limitação? Já que afinal existem consequências que fogem ao controle. R: Conflitos internos não existem pois a unidade é na Ação Direta e na Ação não tem o que se discutir, tem que se unir para agir. Porem, no Black Block mundialmente existem outros grupos como partidos comunistas revolucionários, porem também estão juntos na unidade da ação direta, por tal motivo não a diferenças internas entre anarquistas e comunistas no Black Block já que ambos são de orientação revolucionaria.

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Referências Bibliográficas  Websites http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,para-especialista-protesto-arrefeceu-norio-por-falta-de-pauta-precisa,1167757,0.htm http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,ela-esta-no-meio-denos,1164948,0.htm http://globotv.globo.com/globo-news/entre-aspas/v/entre-aspas-discute-a-atuacaodos-black-blocs-na-morte-do-cinegrafista-santiago-andrade/3147060/ http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/134346-violencia-black-bloc-visachamar-atencao-de-um-estado-ausente.shtml http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/03/1422098-um-perfil-historico-dosblack-blocs.shtml http://www.tsavkko.com.br/2014/02/a-estetica-e-acao-black-bloc.html http://www.tsavkko.com.br/2013/10/sem-querer-black-bloc-ajuda-direita.html

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