Black Sabbath e a contracultura

June 6, 2017 | Autor: João Paulo Araújo | Categoria: Historia Cultural, Contracultura, Rock Music, Heavy Metal Music
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Discente:João Paulo Araújo

Docente: Robson Potier

O termo contracultura foi criado pela imprensa americana nos anos 60
para designar o conjunto de manifestações culturais que surgiram não só nos
Estados Unidos, mas também na Europa, e que repercutiram na América Latina
e em muitas outras partes do mundo. Esse termo de alguma maneira se adequa
ao movimento já que uma das suas características básicas é o fato de se
opor, de formas, à cultura vigente e oficializada pelas principais
instituições das sociedades ocidentais (PEREIRA,1988). A contracultura vai
surgir por causa das "doenças" sociais do consumismo, tradicionalismo,
guerras,da repressão aos direitos individuais e de liberdade de expressão,
contrapondo-as com a visão juvenil. Na imprensa, o termo ganha mais
notoriedade recebendo diversos rótulos e espaços de discussão, de modo que,
graças à imprensa, o movimento teve uma maior magnitude.
Tratava-se, de fato, de um movimento de contestação que
colocava frontalmente em xeque a cultura oficial, prezada
e defendida pelo Sistema, pelo Establishment. Diante desta
cultura privilegiada e valorizada, a contracultura se
encontrava efetivamente do outro lado das barricadas. A
afirmação e a sobrevivência de uma parecia significar a
negação e a morte da outra. E agora, amplificada e
difundida pelos meios de comunicação de massa, a recusa
radical da juventude ganhava a cena com grande alarde e
assumia ares de uma verdadeira contracultura.[1][1]



Os jovens que faziam parte dos movimentos da contracultura eram
constantemente vistos como delinquentes juvenis, transviados, baderneiros e
afins. Modelos e julgamentos de uma sociedade tradicionalista e machista
que faziam tais associações para desqualificar essa nova onda da cultura
juvenil. Estas associações surgiram em função do consumo de drogas, álcool
e tabagismo e por romper com a ideia de uma juventude saudável, criada no
tradicionalismo e conservadorismo. O consumo de álcool e tabaco aumentou
consideravelmente entre os jovens dos 17 aos 25 anos, sendo que este fato
tinha um sentido na época, como já foi explicado anteriormente. As drogas
faziam parte do cotidiano das famílias de classe média dos países
desenvolvidos na década de 1970. Nesse período, o jovem queria lutar e
desejava mudança na ordem do sistema. Encontrava nas coisas proibidas como
drogas e álcool uma forma de se expressar e, não necessariamente, por estar
ligado a problemas pessoais, fossem eles internos ou externos. Mas quem
eram esses jovens e de onde eles vinham? No livro O que é Contra Cultura?,
o autor Carlos Messeder Pereira mostra de maneira objetiva quem eram estes
jovens:

Era exatamente a juventude das camadas altas e médias dos
grandes centros urbanos que, tendo pleno acesso aos
privilégios da cultura dominante, por suas grandes
possibilidades de entrada no sistema de ensino e no
mercado de trabalho, rejeitava esta mesma cultura de
dentro. E mais. Rejeitavam-se não apenas os valores
estabelecidos, mas, basicamente, a estrutura de pensamento
que prevalecia nas sociedades ocidentais. [2][2]

No meio social da contracultura, a juventude encontrava uma maneira
de expressar a liberdade e combater os modelos sociais impostos pela
sociedade. Nesse meio era mais fácil dele se integrar e achar pessoas que
estavam com as mesmas ideias e preocupações que os motivavam para a causa.
Uma música dos Beatles do álbum "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" –
"She´s living Home" – fala de uma garota com problemas mal resolvidos com
seus pais e que decide ir embora de casa. Ela teve tudo que o dinheiro
podia comprar, mas faltava o afeto de seus pais, gerando um vazio que a fez
abandonar o lar, e atrelado a isso ainda estava a vontade de explorar sua
sexualidade. Deixar seu lar nesse período era também uma maneira de
demonstrar que este jovem não estava contente com sua situação e precisava
de uma mudança radical em sua vida. Muitos foram os jovens que saíram de
casa com mochila nas costas, abandonando tudo para viajar o mundo sem saber
pra onde ir, apenas se libertando da vida regrada.

A droga era o pavor dos pais nesse período. Muitos filhos se drogavam
às escondidas de seus pais, com os amigos ou mesmo num quarto fechado. Os
pais, por sua vez, muitas vezes sabiam que seus filhos usavam, mas, com
vergonha do que a sociedade fosse julgar a maneira na qual eles criaram
seus filhos. Era o medo de ter a imagem de pais fracassados e de que sua
educação destruiu a família .

O rock, assim como o heavy metal e a Contracultura, estavam inseridos
neste contexto, pois seu público era composto principalmente de jovens de
classe média brancos. O heavy metal, por sua vez, surgirá mais à frente
entre o final da década de 60 e o inicio da década de 70. No entanto, muito
do que o heavy metal utilizou foram signos criados nas décadas de 60 e 70
como os cabelos longos dos artistas de rock, as roupas coladas, jeans e
muitos outros símbolos que estão também presentes nessa vertente do rock e
da contracultura.

Outro acontecimento muito importante dessa época foi o surgimento de
uma sociedade de consumo forte. O jovem, segundo Eric Hobsbawm (2006), terá
o privilégio de comprar seus próprios discos, gastar com viagens, sair de
um emprego e já, em seguida, entrar em outro, ou seja, é a sociedade de
consumo atrelada a um desejo de liberdade com o capital necessário que
fomentou algumas bases para a construção do movimento. A Era de Ouro[3][3]
nas economias capitalistas como do Reino Unido e EUA deu mais liberdade
financeira e econômica.
Nos anos oitenta o heavy metal construiu sentidos de um som ligados
ao demônio, ocultismo, inimigos do religioso e amigos do profano. Algumas
bandas que fomentaram este tipo de imagem foram os grupos Venom, Iron
Maiden, Judas Priest, Led Zeppelin, Black Sabbath, Ozzy Osbourne, King
Diamond, MercyFull Fate, Slayer, Sodom, Sepultura, Destruction, Celtic
Frost, Metallica, Nuclear Assault, para citar apenas algumas(LOPES,2006). A
banda Black Sabbath por exemplo, é hoje considerada o grupo que fundou o
heavy metal e no site da própria
banda(http://www.blacksabbath.com/history.html), podemos encontrar letras
com temáticas ligados ao demônio e magia negra. Na música Black Sabbath de
álbum homônimo, podemos ver que ela fala do medo em relação ao satanás:
Satan sitting there he's smiling/Watch those flames get higher and higher.
/Oh no, no /Please God help me!. Em tradução livre : Satan está sentado lá,
ele está sorrindo/ veja estas chamas cada vez mais altas/ oh não, não/ Deus
ajude-me por favor. A música é cantada numa lentidão que gera uma
ansiedade proposital. Ela cria um clima de suspense e terror atrelada a
figura do inimigo de Deus. Usar o inimigo de uma sociedade cristã em sua
narrativa é muito mais do que falar dele, é trazer ele para o presente, é
mostrar a sua face e construir uma ideia paisagem quase mortífera.
O nome das bandas era outro ponto importante pois ele traz a
identidade da banda. O próprio nome do grupo em questão remete a um Sabá
Negro(Black Sabbath - Um Sabbath Negro é uma reunião de bruxas e
feiticeiras. A banda se chamava Earth e resolveu assumir o nome de uma
música composta por Geezer Butler, inspirada em um suspense do novelista
Denis Wheatley)[4][4]. Sendo a banda mais cultuada de sua geração, o Black
Sabbath deu os ingredientes básicos para a geração dos anos 80 fazer o som
voltado para o obscuro, o desconhecido e as trevas, a tortura, o
sofrimento, a dor, o medo,a morte, e etc, tudo isso simbolizou e simboliza
o que se entende por heavy metal. Um som que provoca incomodo, agonia, mal
estar, liberdade, agressividade.(LOPES,2006).
Contudo, a banda em questão, Black Sabath tem uma imagem também muito
ligada a contracultura no sentido da musicalidade, das letras e da sua
indumentária. O grupo em questão começou sua carreira fazendo um som
mesclado entre folk, jazz e blues. As músicas geralmente eram escritas pelo
baixista da banda Geezer Butler e utilizava muito temáticas obscuras como
na música citada acima e na literatura ocultista do autor Aleister Crowley.
No entanto, ela ainda guardava algumas influências do movimento da
contracultura, já que foi produto deste momento histórico.
O movimento da contracultura criou em seus muitos discursos uma ideia
de liberdade, de se desprender daquilo que te oprime. É um modus vivendi
baseado na vivência, na experiência, na luta contra os modelos sociais, na
luta contra o racismo, homofobia, machismo e etc. No que tange a ideia de
experiência, uma das formas mais usadas nesse período era o uso de drogas
alucinógenas como a maconha. Com isso, trago neste trabalho uma música da
banda Black Sabbath para mostrar como ela usava de sua carreira artística
com o intuito de projetar seus discursos. Mas que discurso é esse?
Sweet Leaf
Alright now!
Won't you listen?

When I first met you, didn't realize
I can't forget you or your surprise
You introduced me to my mind
And left me watching you and you kind
Oh, yeah

I love you. Oh, you know it

My life was empty, forever on a down
Until you took me, showed me around
My life is free now, my life is clear
I love you sweet leaf though you can't hear
Oh, yeah!

Come on now, try it out

Straight people don't know what you're about
They put you down and shut you out
You gave to me a new belief
And soon the world will love you sweet leaf
Oh, yeah, baby!

Come on now! Oh, yeah!
Try me out, baby!
Alright! Oh, yeah-ah!
I want you part of this sweet leaf!
Oh, yeah!
Alright, yeah, yeah, yeah, oh, try me out
I love you, sweet leaf, oh


Doce Erva

Está tudo bem, agora!!
Você não vai me ouvir?

Na primeira vez que te vi, não percebi
Não consigo te esquecer, ou a sua surpresa
Você me introduziu à minha mente
E me deixou você e seu tipo
Oh yeah

Eu te amo, oh você sabe

Minha vida estava vazia e deprimente
Até você me pegar, e levar para um passeio
Minha vida agora está livre, minha vida está clara
Eu te amo erva doce, apesar de você não me ouvir
Oh, yeah!

Vamos lá, experimente

Pessoas corretas não sabem o que você é
Eles te colocam pra baixo e te excluem
Você me deu uma nova crença
E logo o mundo te amará, doce erva
Oh yeah babyVamos! Yeah!

Tudo bem! Oh yeah-ah!

Experimente baby!
Quero que você faça parte dessa doce erva!
Oh yeah!
Tudo bem! Yeah, yeah, yeah, me experimente!
Eu te amo doce erva,oh

A música em questão tem uma narrativa bem direta em relação a
maconha. Contudo, para não perder um pouco da poética da letra e da música,
é preciso analisa-la ouvindo o conjunto da obra por esta razão não irei
aqui quebra-la e discutir instrumentos e depois a letra ou mesmo apenas a
letra. É preciso fazer isso em conjunto pois a música é toda uma narrativa
construída a partir de um conjunto de ações.
A letra mostra como a maconha trazia determinadas experiências como a
liberdade, a ilusão, um mundo irreal, mas que num curto espaço de tempo
retira o sujeito de um mundo e o projeta pra dentro de sua mente. A música
se inicia com uma tosse, mostrando ai que esse foi o primeiro trago e a
partir disso ele narra sua experiência de amor em relação a liberdade de se
sentir livre, de perceber o mundo de outra forma,. Os instrumentos tem uma
sonoridade muito arrastada quase que simulando um estado de leveza do
corpo, mas aí o vocalista já inicia sua narrativa. Neste momento ele já não
está alí como pessoa, mas sim num estado de espírito em que a erva o leva a
descrever uma relação de amor pela experiência que a maconha produz. Ao
narrar sua experiência ele leva consigo não apenas ele mas o espectador, o
ouvinte que em seu estado inerte não pode fazer nada a não ser se deixar
projetar por esse jogo de imagens que é jogado através do som e da letra,
chamando ele para provar deste "sonho de liberdade". Nas primeiras estrofes
ele parece induzir uma relação de amor entre duas pessoas, mas isso vem à
baixo quando se percebe que os sentimentos que ele tem são na verdade o de
poder desfrutar dessa nova experiência. A música parece fluir num vai e vem
numa espécie de pendulo lento. A bateria é lenta, a guitarra parece estar
indo e vindo, o baixo acompanha o ritmo e a voz faz seu papel de enquadrar
a atmosfera de uma experiência que transcende o corpo.
Com isso, concluo este trabalho verificando que a banda em questão na
sua música e letra, trazia uma ideia de experimentação da liberdade.
Através da relação de sua letra e dos sentidos que ela tem, percebo que o
Black Sabbath apesar de ser uma banda de heavy metal ela tinha influências
de um movimento cultural jovem ao tratar questões como liberdade, amor,
experimentação. Estes discursos eram uma das premissas do movimenta da
contracultura e em grande medida influenciou uma cultura jovem e diversos
seguimentos da música.




























Referências Bibliográficas

CHACON, Paulo. O que é Rock? 3. ed. Sao Paulo: Brasiliense,[s.d.](Coleção
Primeiros Passos).

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). 2. ed. Rio
de Janeiro: Companhia das Letras, 2001.

LOPES, Pedro Alvim Leite. Heavy Metal no Rio de Janeiro e dessacralização
de símbolos religiosos: a música do demônio na cidade de São Sebastião das
Terras de Vera Cruz. 2006. Tese (Doutorado em Antropologia Social).
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro/RJ.

NAPOLITANO, Marcos. História & Música: história cultural da música popular.
3.ed.Belo Horizonte:Autentica,2005.

PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é Contracultura?. 6. ed.. São
Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros Passos).

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[1][1] PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é Contracultura. São
Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros Passos). 6 ed.

[2][2] Ibidem. p.15
[3] Era de Ouro como diz o autor Hobsbawm (2001) é o surto econômico
movido pela revolução tecnológica em que muitos países da Europa vão se
desenvolver por causa da indústria e da morte do campesinato em países de
economia agrícola.

[4] Origens dos nomes de bandas e artistas de rock. Disponível em

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