Blogs de educadores: Perspectivas inovadoras na formação continuada de professores?

December 27, 2017 | Autor: Cristina Silveira | Categoria: Blogs, Teaching EFL and Teacher Training, Blogs for education
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Descrição do Produto

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação e Humanidades Faculdade de Educação da Baixada Fluminense

Maria Cristina de Oliveira Silveira

Blogs de Educadores: perspectivas inovadoras na formação continuada de professores?

Duque de Caxias 2013

Maria Cristina de Oliveira Silveira

Blogs de Educadores: perspectivas inovadoras na formação continuada de professores?

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas.

Orientadora:

Prof.ª Dra. Sonia Regina Mendes dos Santos

Duque de Caxias 2013

CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/C

S 587

Silveira, Maria Cristina de Oliveira. Blogs de educadores: perspectivas inovadoras na formação Continuada de professores? / Maria Cristina de Oliveira Silveira. 2013. 170 f. Orientadora: Sonia Regina Mendes dos Santos. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 1. Professores – Formação -Teses. 2. Prática de ensino – Teses. I. Santos, Sonia Regina Mendes dos. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educação da Baixada Fluminense. III. Título. CDU 371.13

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte.

_______________________________________ Assinatura

______________________ Data

Maria Cristina de Oliveira Silveira

Blogs de Educadores: perspectivas inovadoras na formação continuada de professores?

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas.

Aprovada em 2 de abril de 2013. Banca Examinadora: Prof.ª Dra. Sonia Regina Mendes dos Santos (Orientadora) Faculdade de Educação da Baixada Fluminense - UERJ Prof. Dr. Ivanildo Amaro de Araújo Faculdade de Educação da Baixada Fluminense - UERJ Prof.ª Dra. Célia Frazão Soares Linhares Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Duque de Caxias 2013

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos: Abner, Adson e Milena Cristina, desejando ser para eles um espelho profundo, diante do qual possam sonhar.

AGRADECIMENTOS

                         À  minha  mãe  Maria  Joanna  de  Oliveira  Silveira  (in memoriam),  que  nos dezesseis  anos  de  convivência  postou  em  meu  coração  valores  grandiosos  que moldaram e influenciaram minha personalidade.         À minha orientadora Sonia Mendes, simplesmente por ser Sonia Mendes: parceira  dotada  de  bom-humor  e  confiança  inigualável!  Sua  presença  é reconfortante!                 À  professora  Célia  Linhares  e  ao  professor  Ivanildo  Amaro  (Ivan)  pelas orientações e participação neste momento importante da minha vida.         À amiga Leila de Paula, responsável pela minha inscrição no mestrado. Ela disse: _vamos? E eu fui. Até hoje estou aguardando a companhia dela...         À amiga Sara Fazollo, pela Amizade (assim mesmo, com A maiúsculo), pelas lágrimas  de  alegria,  pelos  sorrisos  de  esperança  e  pelas  palavras  de encorajamento.                 À  minha  eterna  chefe  Myrian  Medeiros,  pela  amizade,  torcida,  confiança, compreensão e ajuda inestimável.         À amiga Ana Valéria de Figueiredo, pela ajuda desde a escrita do pré-projeto de pesquisa até à conclusão final da dissertação, pelas orientações e formatação do texto e, acima de tudo, pela Amizade!         À Mirian Borges e Bruna Oliveira, por toda ajuda, sempre. Deixaria de fazer muitas coisas se não fosse a atenção e o carinho dedicados à minha casa e aos meus filhos.         À amiga Janaína Cruz, grande achado no mestrado, pelas trocas e partilhas de dores e delícias nesses dois anos. Amizade para a vida toda!                 Ao  amigo  Tiago  Ribeiro,  pelas  trocas  de  ideias,  sugestões,  confecção  de gráficos,  correção  ortográfica,  imagens  salvas,  apresentações  formuladas  e entrevista  concedida.  Tudo  isso  contribuiu  muito  para  a  clareza  e  a  melhor qualidade do texto.         Ao professor José Armando Valente, pelas entrevistas e sugestões de livros e materiais. As trocas de ideias foram valiosas reflexões.         Ao Francisco Caruso, pelo incentivo e livros comprados nesses dois anos. Não foram poucos...         Às amigas Geisa de Mattos e Vera Reis pelos carinhos e colinhos sempre que precisei. Vocês são amigas mais chegadas que irmãos.

        A todos os blogueiros que se dispuseram a participar desse trabalho, abrindo as portas de seus blogs e de suas redes sociais para minhas visitas e pesquisas.                 Aos  amigos  e  colegas  não  citados  e  nem  por  isso  esquecidos,  que partilharam das alegrias e angústias ao longo desse caminho.         A vocês, só tenho a agradecer!!!                                                      

Ao refletir sobre minha existência e minha vida social, vejo claramente minha estrita dependência intelectual e prática. Dependo integralmente da existência e da vida dos outros. E descubro ser minha natureza semelhante em todos os pontos à natureza do animal que vive em grupo. Como um alimento produzido pelo homem, visto uma roupa fabricada pelo homem, habito uma casa construída por ele. O que sei e o que penso, eu o devo ao homem. E para comunicá-los utilizo a linguagem criada pelo homem. Mas quem sou eu realmente, se minha faculdade de pensar ignora a linguagem? Sou, sem dúvida, um animal superior, mas sem a palavra a condição humana é digna de lástima. Albert Einstein

RESUMO

SILVEIRA, Maria Cristina de Oliveira. Blogs de Educadores: perspectivas inovadoras na formação continuada de professores?. 2013. 154 f. Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e Comunicação) - Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, 2013. O presente trabalho discute as perspectivas para a formação de professores presentes nos blogs de educadores, que buscam e transmitem conhecimentos, em uma rede colaborativa que desponta como uma nova modalidade de formação continuada. Optou-se pela abordagem metodológica qualitativa, dada as características do objeto de estudo e pela possibilidade de ampliação do diálogo entre a teorização e os dados coletados. Procedeu-se uma discursão a partir do discurso dos professores blogueiros entrevistados e da observação de seus blogs. Os 31 blogs que se teve acesso foram classificados segundo suas características preponderantes. Responderam o questionário proposto 27 blogueiros. Pode-se afirmar que os blogs dados seus aspectos de ferramentas de interação, de fácil acesso e uso e de aglutinação de pessoas em razão de interesses comuns, têm efeitos sobre a prática docente. Embora se tenha identificado nos blogs a prevalência de uma concepção compensatória, eles se mostram como ações de autogerenciamento por parte dos docentes, que não mais se isolam com suas dúvidas, incertezas e insegurança, mas, valendo-se da democratização da informática, lançam-se na internet para socializar saberes, partilhar práticas em uma rede de colaboração mútua. Palavras-chave: Blogs. Formação de professores. Redes colaborativas.

ABSTRACT

This paper discusses the prospects for the formation of teachers present in the blogs of educators who seek and transmit knowledge in a collaborative network that is emerging as a new form of continuing education. We opted for the qualitative methodological approach, given the characteristics of the object of study and the possibility of expanding the dialogue between theory and data collected. Proceeded from one discursão speech of bloggers interviewed teachers and observing their blogs. The 31 blogs that had access were classified according to their predominant characteristics. Answered the questionnaire proposed 27 bloggers. It can be argued that blogs data aspects of interaction tools, easy to access and use and assemblage of persons on grounds of common interests, have effects on teaching practice. Although it has been identified in the prevalence of blogs compensatory conception, they show how self-management actions on the part of teachers that no longer isolate themselves with their doubts, uncertainty and insecurity, but taking advantage of the democratization of computing, throw on the internet to socialize knowledge, sharing practices in a network of mutual collaboration. Keywords: Blogs, teacher training, collaborative networks.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 -

Solicitação de participantes ......................................................

Figura 2 -

Professor blogueiro se oferecendo para participar da pesquisa ...................................................................................

Figura 3 -

36

Valores do curso de Pedagogia em universidade particular campus Ribeirão Preto .............................................................

Figura 4 -

35

47

Valores do curso de Pedagogia em universidade particular campus Campinas ....................................................................

47

Figura 5 -

Perfil da blogueira Nº 13 ...........................................................

78

Figura 6 -

Aparência do blog Nº 7 .............................................................

81

Figura 7 -

Aparência do blog N.º 14 ..........................................................

81

Figura 8 -

Aparência do blog N.º 5 ............................................................

80

Figura 9 -

Organização das postagens antigas nos blogs de N.º 15, 14, 6 e 2, respectivamente .............................................................

83

Figura 10 -

Solicitação de autoria de materiais postados ...........................

83

Figura 11 -

Comentário deixado no blog N.º 18, convidando para participar da pesquisa ...............................................................

Figura 12 -

84

Cópia do comentário que segue para o e-mail do autor do blog ...........................................................................................

84

Figura 13 -

Retorno do autor do blog ..........................................................

85

Figura 14 -

Anúncio em blog de educador .................................................

85

Figura 15 -

Anúncios em blogs de educadores ..........................................

86

Figura 16 -

Anúncio que aparece em blog de educador ............................

86

Figura 17 -

Página de abertura do Blogger ................................................

87

Figura 18 -

Imagem do administrador de anúncios do AdSense do Google ......................................................................................

88

Figura 19 -

Página de anúncio que se abre ao clicar em alguns blogs ......

88

Figura 20 -

Página de contato para a venda de material em blog de educador ...................................................................................

89

Figura 21 -

Comentário com solicitação de material ...................................

90

Figura 22 -

Página para baixar arquivos em blog de educador ..................

90

Figura 23 -

Propaganda de material postado no blog de N.º 1 ...................

Figura 24 -

Lista de blogs sugeridos e solicitação para que outros

91

blogueiros "linkem" o blog ........................................................

92

Figura 25 -

Anúncios de sites parceiros dos blogs .....................................

93

Figura 26 -

Páginas de contato com os autores de dois blogs ...................

93

Figura 27-

Páginas de acesso aos e-mail de autores de dois blogs...........

94

Figura 28 -

Barra de opções onde se vê o acesso ao contato com o autor do blog .....................................................................................

94

Figura 29 -

Página de contato com o autor do blog ...................................

95

Figura 30 -

Página de comentário no blog .................................................

95

Figura 31 -

Páginas de recadinhos deixados nos blogs .............................

96

Figura 32 -

Solicitação de comentário em blog ...........................................

96

Figura 33 -

Diálogos entre blogueiros e seguidores via comentários às postagens .................................................................................

97

Figura 34 -

Diálogos entre blogueiros e seguidores ...................................

97

Figura 35 -

Imagens de painéis de membros de blogs de hospedeiros diferentes ..................................................................................

98

Figura 36 -

Página de cadastro no blog para segui-lo por e-mail ..............

99

Figura 37 -

Registros de visitas nos blogs ..................................................

100

Figura 38 -

Mostra de atividade realizada por aluno postada em blog tipo "vitrine" ......................................................................................

106

Figura 39 -

Atividade oferecida em blog tipo "vitrine"..................................

107

Figura 40 -

Aparência do blog N.º 17 ..........................................................

108

Figura 41 -

Aparência do blog N.º 4 ............................................................

108

Figura 42 -

Postagens no blog N.º 19 .........................................................

109

Figura 43 -

Solicitação de auxílio postada em blog tipo "estudos teóricos"

110

Figura 44 -

Postagem de texto no blog N.º 3 ..............................................

110

Figura 45 -

Postagem de sugestão de atividade no blog N.º 3 ...................

111

Figura 46 -

Postagem de texto no blog N.º 1 ..............................................

111

Figura 47 -

Postagem de sugestão de atividade no blog N.º 1....................

112

Figura 48 -

Aparência do blog N.º 20 ..........................................................

112

Figura 49 -

Aparência do blog N.º 11 ..........................................................

113

Figura 50 -

Aparência do blog N.º 12 ..........................................................

114

Figura 51 -

Aparência do blog N.º 26 ..........................................................

114

Figura 52 -

Atividades oferecidas nos blogs ...............................................

117

Figura 53 -

Painel de seguidores/membros ................................................

118

Figura 54 -

Texto com resultado de pesquisa .............................................

123

Figura 55 -

Sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas. .....

147

Figura 56 -

Postagens de textos para reflexão e estudo ............................

148

Figura 57 -

Postagem de sugestão de postagem para o dia do índio.........

149

Figura 58 -

Postagem de texto para reflexão e estudo................................

149

Figura 59 -

Comentário elogioso em blog....................................................

151

Figura 60 -

Diálogo entre blogueiro e membro de blog................................

151

Figura 61 -

Palavras de abertura de grupo de discussão no Facebook......

153

Figura 62 -

Diálogo em grupo de discussão no Facebook...........................

154

Figura 63 -

Página do blog N.º 10 no Facebook..........................................

156

Figura 64 -

Fan page do blog N.º 10 no Facebook......................................

157

Figura 65 -

Página do blog N.º 1 no Facebook............................................

157

Figura 66 -

Fan page do blog N.º 1 no Facebook .......................................

158

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 -

Professores de educação básica segundo o sexo ...............

121

Gráfico 2 -

Blogs criados de acordo com o ano ...................................... 122

Gráfico 3 -

Acesso à internet de acordo com a idade ............................. 123

Gráfico 4 -

Por que decidiu ser professor(a)? ......................................... 135

Gráfico 5 -

O que pensa da carreira docente?........................................

Gráfico 6 -

Como descreve o professor da sociedade atual?.................. 139

Gráfico 7 -

Você fez curso de formação de professores?.......................

139

Gráfico 8 -

Normalmente utiliza aparatos tecnológicos em suas aulas?.

140

Gráfico 9 -

Qual sua motivação para criar um blog?...............................

141

Gráfico 10 -

Como descreveria seu blog?.................................................

144

Gráfico 11 -

Em qual categoria enquadra seu blog?.................................

145

Gráfico 12 -

Com que frequência posta material no blog?........................

145

Gráfico 13 -

Quais critérios você utiliza para selecionar o material das

136

postagens? ............................................................................ 146 Gráfico 14 -

Quem são os frequentadores ou seguidores do seu blog?...

150

Gráfico 15 -

Como ocorre a interação com seus seguidores? .................

150

Gráfico 16 -

Qual a importância de ter ou frequentar blogs? ...................

158

Gráfico 17 -

Ao postar material de interesse de professores, existe alguma intenção de ajuda-los a melhorar a prática pedagógica? .......................................................................... 159

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 -

Sinopse dos blogs pesquisados .................................................

37

Quadro 2 -

Classificação dos blogs...............................................................

41

Quadro 3 -

Síntese de relatório de atualização dos processos......................

44

Quadro 4 -

Graduações à distância mais procuradas....................................

46

Quadro 5 -

Valores de cursos superiores em universidade particular............

47

Quadro 6 -

Diferença entre WEB 1.0 e WEB 2.0...........................................

76

Quadro 7 -

Gêneros emergentes e gêneros já existentes..............................

77

Quadro 8 -

Quantitativo de blogs por tipo......................................................

120

Quadro 9 -

Tipo de blog por gênero do autor.................................................

120

Quadro 10 -

Tipo de blog por idade do autor...................................................

121

Quadro 11 -

Formação profissional dos blogueiros.........................................

123

Quadro 12 -

Disciplinas específicas nas quais os blogueiros são formados...

125

Quadro 13 -

Quantidades de pedagogos e outros profissionais por tipo de blog ............................................................................................... 125

Quadro 14 -

Áreas específicas de formação dos blogueiros...........................

126

Quadro 15 -

Formação tecnológica dos blogueiros.........................................

127

Quadro 16 -

Formação dos autores dos blogs tipo "vitrine"............................

127

Quadro 17 -

Formação dos autores dos blogs tipo "sala de aula ampliada" ...

129

Quadro 18 -

Formação dos autores dos blogs tipo "estudos teóricos" ............

130

Quadro 19 -

Formação dos autores dos blogs tipo "estudos teóricos em área 131 específica do conhecimento" ,.....................................................

Quadro 20 -

Formação dos autores dos blogs tipo "institucional" ...................

132

Quadro 21 -

Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo "vitrine" ...........

132

Quadro 22 -

Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo "sala de aula ampliada" ..................................................................................

Quadro 23 -

Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo "estudos teóricos" ..................................................................................

Quadro 24 -

Quadro 25 -

133

134

Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo "estudos teóricos em área específica do conhecimento" ............................

134

Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo "institucional"..

135

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 -

Licenciandos: tipo de ensino médio concluído ...............................

Tabela 2 -

Disciplinas obrigatórias, segundo as categorias e subcategorias de análise ........................................................................................

Tabela 3 -

48

49

Disciplinas optativas segundo categorias e subcategorias de análise .............................................................................................

50

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................

17

1

EDUCAÇÃO: ONTEM E HOJE ................................................................

24

1.2

As inquietações ......................................................................................

29

1.3

Objetivos ..................................................................................................

30

1.3.1

Geral .........................................................................................................

30

1.3.2

Específicos ................................................................................................

30

1.4

A relevância da pesquisa .......................................................................

30

1.5

Metodologia da pesquisa .......................................................................

33

1.5.1

Caracterização da amostra selecionada ...................................................

35

1.6

Ser ou Não Ser Professor no Século XXI? Eis a Questão ..................

42

1.7

Formação de professores e trabalho docente .....................................

52

1.8

Os modelos de formação e as marcas que imprimem nos docentes

56

1.8.1

Perspectiva acadêmica de formação docente .........................................

57

1.8.2

Modelo ou perspectiva técnica de formação docente ..............................

58

1.8.3

Modelo ou perspectiva prática de formação docente...............................

60

1.8.4

Modelo crítico ou perspectiva de reflexão na prática para a reconstrução da prática ..............................................................................................

62

1.9

Para onde caminha a formação continuada .........................................

66

1.10

A autonomia necessária ao docente na atualidade..............................

72

2

CULTURA & COMUNICAÇÃO ................................................................

75

2.1

Blog: uma maneira de se colocar na rede ............................................

75

2.2

Caracterização da ferramenta blog .......................................................

80

2.3

A interação humana: no meio do caminho tinha um computador.

101

Tinha um computador no meio do caminho ........................................ 2.4

Os tipos de blogs: arriscando uma classificação ..............................

105

2.5

O perfil dos professores blogueiros ...................................................

115

3

ANÁLISES DOS RESULTADOS .............................................................

119

3.1

Analisando os dados da pesquisa ........................................................

119

3.2

Algumas observações iniciais ...............................................................

119

3.3

As respostas dos entrevistados ao questionário.................................

135

3.4

Tentando responder às inquietações iniciais.......................................

160

4

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................

162

REFERÊNCIAS ........................................................................................

167

17

INTRODUÇÃO [...] cada época e cada geração elaboram sua maneira de pensar, transmitem-na e constituem, assim, as marcas características de uma comunidade. Por isso cada um deve participar na elaboração do espírito de seu tempo. Albert Einstein

A Criança Nova que habita onde vivo Dá-me uma mão a mim E a outra a tudo que existe E assim vamos os três pelo caminho que houver, Saltando e cantando e rindo E gozando o nosso segredo comum Que é o de saber por toda a parte Que não há mistério no mundo E que tudo vale a pena. Fernando Pessoa

O interesse em pesquisar blogs de professores surgiu há alguns poucos anos, quando fui preparar uma palestra para participar de uma mesa redonda que trataria sobre o índio na literatura infantil e juvenil, ocorrida na Universidade do Grande Rio (Unigranrio). A mesa seria composta por um inusitado grupo: um artista indígena (Cristino Wapichana), uma professora de Língua Portuguesa e Literatura, estudiosa de literatura indígena (Profª Dra. Vera Kauss) e uma pedagoga (que narra o fato). Fiz uma pequena pesquisa na internet buscando materiais sobre as representações do índio nos livros, nos textos e nas histórias infantis e juvenis, pois queria apresentar um panorama de como a imagem do índio era “construída” nas escolas. Também queria estar “antenada” com o que de mais novo e atual estivesse circulando na rede. Encontramos muitos blogs com nomes similares a “blog da tia”, “blog da professora” ou outros com nomes no diminutivo, remetendo a “coisa para criança”. Essa recorrência nos chamou a atenção, assim como os materiais das postagens,

18

que vimos repetir em muitos. Quase todos ofereciam aos visitantes a facilidade de baixar materiais para serem usados nas aulas. Ao observar esses materiais, vi que se tratava de uma versão digital das antigas coleções de atividades que possuía durante o curso de formação de professores, que bastava reproduzir e distribuir aos alunos. Essas coleções vinham com diversas pranchas soltas e até “aulas prontas”, como eram chamados os “projetos” a serem executados. Fiquei surpresa em ver que o mesmo tipo de material que era usado há vinte anos, ainda era oferecido aos professores, agora na forma digital, através de um meio de comunicação moderno e passível de tantos recursos mais atraentes, lúdicos e interessantes. Preocupante me pareceu à época, é que tais materiais apresentavam uma imagem distorcida, errônea, romantizada, estigmatizada e muito distante da realidade do indígena brasileiro, chegando até mesmo a misturar elementos culturais indígenas estrangeiros com nacionais, como se tudo fosse parte de um mesmo universo cultural. Fiquei curiosa em perceber que a quantidade de blogs com esses perfis era significativa, assim como a quantidade de “seguidores” desses blogs, que são as pessoas que se cadastram neles para receber avisos de postagens, facilidade para enviar comentários e acesso aos arquivos disponibilizados. Essa curiosidade também me levou a olhar os perfis dos autores desses blogs e constatei que se tratavam, em sua maioria, de professor das séries iniciais, pedagogos ou estudantes de pedagogia. Reparei ainda que o layout deles era similar: bem colorido, jovial, alegre, com temas que poderia chamar de infantis (personagens de histórias infantis ou graciosos bichinhos) a joviais (muitas flores, joaninhas, estrelas e elementos brilhantes, piscantes e cheios de efeitos chamativos). Computei as informações “pesquisadas” e segui com a vida sem pensar muito no fato, pois nunca tive disposição para me tornar blogueira também. Passando para o mestrado em Educação, Cultura e Comunicação na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF), propondo um projeto de pesquisa que dependia de um projeto de fomento à leitura da Secretaria Municipal de Educação de Duque de Caxias (RJ), local onde trabalho, cuja proposta era acompanhar a formação continuada em serviço de professores do primeiro e segundo segmentos do ensino fundamental, que seria iniciada no ano de 2010. Por

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questões alheias à minha vontade a formação continuada não saiu do papel, o que inviabilizou a pesquisa, me forçando a mudar o objeto de estudo no mestrado. Passei, então, a me enamorar da ideia de pesquisar professores egressos de formações continuadas, como o PRÓ-LETRAMENTO, oferecido pelo Governo Federal, porém, ao fazer uma busca por pesquisas anteriores realizadas sobre o tema, percebi que já havia um elevado número de trabalhos sobre esse programa de formação, o que me fez romper o laço ainda nem mesmo constituído de interesse pela pesquisa, aceitando prontamente a proposta de minha orientadora, a professora Sônia Mendes, de pesquisar a possibilidade de formação continuada ocorrida nos interstício das interações entre os professores nos blogs que são criados, mantidos, visitados e seguidos por uma rede de professores. O interesse foi imediato por se tratar de algo novo, desconhecido (ao menos para mim), um verdadeiro desafio. Outro ponto a favor desse interesse foi o fato de estar em um programa de mestrado em Educação, Cultura e Comunicação, e assim, seriam três aspectos que poderia contemplar no estudo dessa questão, pois, sendo blogs de educadores, que se apropriam de uma cultura midiática atual e se comunicam entre si, trocando com seus alunos e com seus pares, para além da sala de aula, “globalizando”, por assim dizer, seu trabalho docente. Acreditei de imediato, se tratar de uma questão de estudo que se apoia no tripé educação-cultura-comunicação e me senti muito confortável com isso. Ao iniciar a busca pelos blogs, pensava que seria algo trivial conseguir contato com os blogueiros para fazer as entrevistas, por julgar serem “pessoas públicas”, que não têm problemas em se expor, em trocar experiências com outras pessoas. Julgava que fossem, inclusive, altamente desinibidos. Julguei dessa maneira porque não tinha muito conhecimento de causa: nunca administrei um blog, embora tenhamos feito um, há muito tempo atrás e o abandonei por falta de habilidades com o manuseio das ferramentas e falta de tempo disponível para mantê-lo atualizado de maneira que fosse “útil” aos usuários, visitantes e seguidores. Em outra ocasião, cheguei a colaborar com algumas amigas que criaram um blog para divulgar material sobre dificuldades de aprendizagem, que também abandonei por falta de tempo para me dedicar a ele. Enfim, sabia muito pouco em relação às ferramentas, usos e propósitos de um blog, o que me instigou

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mais ainda, por vislumbrar a possibilidade de aprender mais sobre algo novo para mim. Iniciando a busca pelo objeto da pesquisa, visitei 81 blogs, sendo 45 no estilo que nesse trabalho chamo de “VITRINE”1, onde são postadas atividades feitas pelos blogueiros com seus alunos e oferecidas várias outras atividades para se fazer em sala. Em muitos casos são relatos das experiências pessoais dos autores do blog, que postam atividades que consideraram exitosas e com as quais outros professores podem se inspirar e também fazer em suas salas com seus alunos. Selecionei 06 blogs desse grupo para acompanhar na pesquisa. Visitei 20 blogs no estilo que classifiquei como “ESTUDOS TEÓRICOS”, que oferecem materiais variados que servem para reflexão dos professores e para aprimoramento da prática. Oferecem ainda informações sobre eventos de interesse de professores, como seminários, cursos, vídeos e livros. Alguns Desses ofertam também atividades para a sala de aula ou apresentam um pouco da prática do autor do blog. Selecionei cinco blogs desse grupo para acompanhar na pesquisa. Visitei 16 blogs classificados como “ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO”, que tratam de conteúdos da disciplina que o autor leciona e oferecem materiais relativos a ela. Alguns abordam um tema específico (quadrinhos, por exemplo) e ambos trazem informações de interesse dos seguidores, como eventos, vídeos, revistas e livros. Selecionei oito blogs desse grupo para acompanhar na pesquisa. Uma surpresa negativa que tive foi que, mesmo deixando um contato em todos os blogs que visitei, falando da pesquisa e solicitando um contato, apenas cinco blogueiros me retornaram. Em alguns casos a resposta veio muito tempo depois do contato inicial e em outros casos ainda, nem mesmo com repetidos contatos consegui a entrevista solicitada. Em casos mais extremos, recebi duas entrevistas respondidas enquanto concluía o trabalho, motivo pelo qual tive que descartá-las, não sem, no entanto, lê-las, o que me fez perceber que não se diferenciavam ou se destacavam das demais. Houve casos em que fiz contato em julho de 2012, retornei a fazer contato nos meses seguintes, até chegar ao mês outubro do mesmo ano, quando fiz os últimos contatos, e não tive retorno. Em outros, os blogueiros respondiam à 1

No capítulo de análise dos resultados detalharemos os elementos que analisamos para classificar os blogs.

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solicitação de entrevista, pedindo que enviasse o questionário e mesmo com vários pedidos, não enviaram de volta as respostas, nem mesmo deram algum tipo de satisfação. Na tentativa de ganhar tempo, em alguns casos, passei a enviar o questionário logo no primeiro contato, mas isso não fez diferença na quantidade de retorno que obtive. Uma blogueira nos enviou o questionário respondido em dezembro, quando já havia terminado a análise dos dados recebidos e não incorporei seu questionário à pesquisa. Ressalto que as respostas não se diferenciavam das demais. Solicitei a alguns blogueiros que repassassem meu pedido de entrevistas para alguns de seus amigos também blogueiros, o que foi feito através do blog e das redes sociais e, mesmo com toda capacidade de divulgação que essas redes possuem – haja vista as quedas de governos no oriente médio – não consegui um número elevado de pessoas interessadas em participar da pesquisa. Por conta disso, formei outros grupos de entrevistados, que classifiquei do modo que apresentamos a seguir: cinco blogs tipo “SALA DE AULA AMPLIADA”, que os professores fazem para se relacionar com seus alunos, oferecendo atividades e materiais de reforço. A maioria é de professores universitários, abordando temas muito específicos referentes aos seus conteúdos de ensino, para atender determinadas pessoas, como seus próprios alunos e outras pessoas interessadas no tema. Também formei um grupo, composto por seis blogs que classifiquei como “INSTITUCIONAL”, que são blogs de escolas ou de organizações específicas, voltados, principalmente para os interesses delas, porém não apenas, levando em conta outros docentes que visitam os blogs, que trazem informações sobre eventos, textos, vídeos, dicas de livros e materiais diversos para uso em sala de aula. Nessa classificação encontram-se blogs de doutorandos, utilizado como instrumento de pesquisa e blogs de escolas de ensino fundamental. Mesmo com todas as tentativas de contatos que foram feitas, consegui apenas 27 blogueiros interessados em colaborar com a pesquisa, sendo que desses, um blogueiro não é professor, embora tenha criado e gerencie quatro blogs voltados para professores. As explicações detalhadas sobre as entrevistas encontram-se no capítulo terceiro da dissertação. A falta de amparo teórico, por se tratar de um tema novo e pouco pesquisado, foi um dos grandes entraves que encontrei durante a pesquisa, o que fez mudar o foco sobre o tema mais de uma vez, pois não queria ficar no “achismo”. Sentia a

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necessidade de elaborar um quadro de referências teóricas que me fornecesse condições de diálogo e foco sobre a possibilidade de formação continuada que os blogs de educadores permitem ou fomentam de alguma maneira. Na construção do referencial teórico encontrei respaldo nas reflexões a respeito da formação de professores em Nóvoa (1991); Sacristán e Gómez (2000); Silva (2001); Contreras (2002); Pereira e Zeichner (2008); Karsenti (2008); Tardiff e Lessard (2008 , 2011); Formosinho e Machado (2009); Formozinho e Niza (2009); Gatti e Barreto (2009); Ferreira (2009); Imbernón (2010); Gatti (2010); Primo (2007), e das interações humanas em Marcuschi e Xavier (2010) e Máximo (2007). Encontrei também segurança nas orientações, às vezes matinais e vespertinas, de Sônia Mendes, que ouviu todas as minhas lamentações com paciência infinita, acalmando e orientando para o foco, o que muitas vezes me parecia difícil conseguir sozinha. Quanto mais avançava nas pesquisas, mais queria me aprofundar e mais ajuda necessitava para conseguir abrir mão de muitos focos que pareciam atraentes e instigantes. Creio que esse papel de “podadora” da curiosidade também não agradou muito à Sônia, mas ela sabia que era necessário focar em algo que fosse exequível para tão pouco tempo disponível para a conclusão da pesquisa. Quisera neste trabalho poder lançar o olhar atento a todos os focos que vislumbrei ser possível investigar neste tema tão interessante e cheio de nuances como são os blogs, porém o tempo de curso e a angústia da conclusão do mesmo me permitiu apenas investigar as possíveis formações continuadas intencionais ou não que acontecem entre os professores que interagem nos blogs, mas não esgotei as possibilidades dessa investigação e ainda deixei várias “pistas” no ar, para outros que virão depois de mim. Este trabalho está dividido em três grandes capítulos. O primeiro, denominado “Educação: ontem e hoje” traz um panorama do cenário educacional brasileiro, começando pela apresentação do atual professorado brasileiro, o perfil daqueles que buscam os cursos formação de professores e mais adiante os cursos de Pedagogia. Essas informações se fazem relevantes na discussão dos dados encontrados na pesquisa. Neste capítulo também se discute a formação dos professores e o trabalho docente, os modelos de formação e a influência deles na prática dos docentes, além de um panorama histórico da formação continuada,

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apontando seus possíveis percursos e a autonomia necessária aos docentes de uma nova era. O capítulo segundo, denominado “Cultura & Comunicação” apresenta uma discussão sobre as ferramentas da internet e o uso que os professores fazem delas, interagindo com outros professores. Nele é apresentada uma discussão sobre a “interação” e interatividade, visando esclarecer a utilização do termo e uma caracterização da ferramenta blog, objeto de estudo desse trabalho, além da apresentação de uma classificação criada, com base no agrupamento de determinadas semelhanças e é apresentada também a caracterização do perfil dos professores blogueiros, com base na observação dos entrevistados. No

capítulo

terceiro,

denominado

“discussão

dos

resultados”

são

apresentados os “achados” da pesquisa, apontados os dados coletados nas observações feitas e nas respostas aos questionários.

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1 EDUCAÇÃO: ONTEM E HOJE Isto não são palavras de páginas efêmeras: isto é uma velha inscrição na alma - onde nada se apaga nem deforma. Cecília Meireles

A vida impele; transforma o ser [...]. Gaston Bachelard

Estamos imersos em uma sociedade onde há muito os processos manuais foram substituídos pela automação, em uma crescente e galopante ascensão das tecnologias, que, se por um lado facilitam a vida da humanidade, sendo criadas, recriadas e reformuladas para melhor atender suas necessidades e demandas, das mais úteis às mais fúteis; por outro são desencadeadoras das maiores mudanças nos modos como as pessoas fazem quase tudo atualmente, tornando a sociedade atual, de certa forma, dependente de seus aparatos tecnológicos. Quem nasce (nativo digital2) ou se acostumou com a dinâmica desse mundo tecnológico (imigrante digital3), sente-se desconfortável na ausência ou impossibilidade de usufruir deles em sua plenitude. Todas as formas de interações humanas foram afetadas pelo uso que se faz das tecnologias que permeiam o cotidiano nosso de cada dia! Porém, dentre todas as parafernálias eletrônicas e digitais que inundam nossas vidas, nenhuma é mais incisiva atualmente que a informática. Quase tudo foi informatizado! Das transações financeiras mais simples, em um mercadinho na esquina de nossa casa, à comunicação com os familiares. E a escola não tem como se manter refratária aos aparatos tecnológicos que nos acompanham no dia a dia. Dessa forma, também o modo como ensinamos e aprendemos, ou ainda, como achamos que devemos ensinar e que o outro deve e pode aprender, sofreram fortes modificações.

2

Segundo John Palfrey e Urs Gasser (2011) nativos digitais são as pessoas nascidas após os anos de 1980, quando as tecnologias digitais chegaram on line. 3 Para os mesmos autores, pessoas nascidas antes dos anos de 1980 e que lidam com os aparatos tecnológicos modernos são imigrantes digitais, pois tiverem que reconfigurar certas vivências do cotidiano.

25

O modo como os professores se apropriam dos meios tecnológicos para tornar as aulas mais atraentes e o aprendizado menos árido tem a ver não apenas com a formação profissional do professor, mas também com sua autonomia pessoal para buscar além do que lhe é apresentado nas formações, sejam iniciais ou continuadas e também na própria necessidade de interação com outras pessoas, professores ou não, e também com sua disponibilidade, interesse e curiosidade diante da vida. Se por um lado a formação inicial dos professores – aqui compreendida como a que é oferecida nos cursos de formação de professores de nível médio ou nas licenciaturas em nível superior – não os capacita para o uso adequado das tecnologias disponíveis no trabalho docente, de modo a aperfeiçoar seu uso pedagógico, uma vez que isto não consta nos currículos dos cursos de formação de professores nem de pedagogia; tampouco os auxilia a aprender a utilizar o que de mais moderno chega ao mercado e em pouco tempo adentra os muros das escolas, de maneira licenciosa ou não. Quando muito, as instituições oferecem como atividade extracurricular, oficina ou encontro de formação onde essas e outras questões que não são abarcadas pelo currículo são trabalhadas “en passant”. Dessa forma, a formação profissional de professores não tem conseguido responder com eficácia à democratização do acesso à escola e ao consequente direito que os alunos têm a serem bem-sucedidos na sua escolaridade. (FORMOZINHO ; NIZA, 2009, p. 119).

No Brasil, a formação continuada está associada a uma formação mais diretiva, associada a agências de formação que se estruturam para a

elaboração de

propostas de formação, com definição de tempo e espaço. Já nos blogs, este espaço virtual, livre de “obrigações” em relação a propostas governamentais ou institucionais (cada um socializa aquilo que julga ser importante para a formação profissional dos docentes), atemporal (o conhecimento está lá e cada um se apropria dele quando e como quiser), há a possibilidade de que cada pessoa possa ser autônoma em relação a sua formação, podendo ter ou não seus saberes valorizados. García (1999) diz que uma ação de formação "corresponde a um conjunto de condutas, de interações entre formadores e formandos que pode ter múltiplas

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finalidades explícitas ou não, e em relação às quais existe uma intencionalidade de mudança" (GRACIA, 1999, p. 21). As formações continuadas, por sua vez, possuem um caráter muito específico e geralmente são relacionadas à prática em si só, fazendo com que os professores procurem essa formação como “consumidor” de uma prática de sucesso ou passível de sucesso, como uma receita que já foi testada e que basta repetir para se alcançar êxito. Em grande medida estas iniciativas de formação contínua levadas a efeito pelas diversas entidades assumem o carácter de “reciclagem” ou “actualização” dos professores, assentam no voluntariado, têm um carácter pontual e de curta duração e realizam-se, frequentemente, na forma de “jornada pedagógica” no início do ano lectivo” (FORMOSINHO; MACHADO, 2009, p. 148).

Apoderamo-nos da definição de Francisco Imbernóm (2010) para esclarecer o que chamamos de formação continuada de professores neste trabalho. Segundo este autor Toda intervenção que provoca mudanças no comportamento, na informação, nos conhecimentos, na compreensão e nas atitudes dos professores em exercício. Segundo os organismos internacionais, a formação implica a aquisição de conhecimentos, atitudes e habilidades relacionadas ao campo educacional”. (IMBERNÓN, 2010, p.115)

Não desprezamos, no entanto, a posição de Alarcão (1998), que afirma que essa formação deve ser “uma formação que transforme a experiência profissional adquirida e valorize a reflexão formativa e a investigação conjunta em contexto de trabalho” (ALARCÃO, 1998, p.118). Já Ferreira (2011) propõe que a formação continuada de professores seja ministrada nos parâmetros da educação de adultos, levando-se em consideração as experiências pessoais e profissionais dos professores no desenvolvimento do processo de seu aprimoramento profissional, como também as angústias, dúvidas e ansiedades próprias da profissão. Sendo todos adultos e profissionais em exercício, têm plena consciência das mazelas que os afeta de maneira muito próxima e semelhante. Compartilhando e trocando as experiências do trabalho docente podem, assim, aprender a lidar com o estresse pertinente ao espaço da sala de aula, tirando proveito das experiências compartilhadas, o que lhes será útil em novas situações,

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quando poderão “acessar” esse novo conhecimento adquirido no compartilhamento para reagir às novas demandas. Apesar de se tratar de um campo de formação profissional de adultos, a formação continuada tem-se desenvolvido, predominantemente, à imagem do “molde escolar” e com influências das lógicas de racionalização das reformas educativas, contrariando os princípios participativos, democráticos e emancipatórios que caracterizam a educação de adultos. (FERREIRA, 2011, p. 110)

Segundo Ferreira, mais importante que as produções escritas dos cursistas, demonstrada na elaboração de projetos e de relatórios é a troca entre os pares e as reflexões sobre as práticas, que podem gerar processos autônomos de mudanças efetivas no trabalho docente. Essa troca entre profissionais que atuam em ambientes perecidos e com grupos similares permitiria, inclusive, aproximar o professor dos aparatos tecnológicos disponíveis e já utilizados por eles ou por alguns deles, como possível ferramenta para o trabalho pedagógico, como as redes sociais, os chats, os blogs, entre outros. Discutindo a problemática do uso das tecnologias na prática pedagógica,

Karsenti

(2008)

afirma

que

“as

tecnologias

são

geralmente

apresentadas como uma especialidade e não como um instrumento de aplicação geral na didática e na pedagogia”. Como já dissemos, as mudanças tecnológicas estão aí e não é mais possível à escola fingir não vê-las ou querer ignorá-las, tampouco mantê-las longe da sala de aula. Porém, o ideal seria integrar o aprendizado do uso das tecnologias ao aprendizado da função docente, pois [...] as competências tecnopedagógicas são competências transversais que deveriam ser construídas pelos futuros docentes no conjunto de suas atividades de aprendizagem, e não em um único curso sobre as tecnologias. (TARDIF; LESSARD, 2008, p.183).

Indo na direção das mudanças que as tecnologias impõem de certa forma ao trabalho docente, alguns professores utilizam uma poderosa e acessível ferramenta da internet que possibilita a comunicação instantânea e interativa (o que nem sempre acontece) com seus pares, em um espaço colaborativo e democrático,

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porém sobre o qual se tem certo nível de “controle”, os chamados blogs 4, onde divulgam suas atividades exitosas em sala de aula, expõem materiais didáticos diversos, oferecem uma infinidade de textos teóricos e de cunho acadêmico a quem queira deles desfrutar, e ainda monitora e incrementa a aprendizagem de seus alunos. Muitos outros educadores “seguem” ou apenas visitam esses blogs, “consumindo” os materiais que neles são disponibilizados, entrando nessa roda viva de informações e materiais pedagógicos que circulam pela internet. Observamos nesse trabalho os modos como se dá a interação entre o professor blogueiro e o professor que acessa os blogs, em uma tentativa de entender como se dá a influência de um sobre o outro. Voltamo-nos para a perspectiva dos professores que vão buscar as experiências de outros professores para usar em suas salas de aula. Interessa-nos as formas como essa relação de oferta e busca se dá. Acreditamos, inicialmente, ser uma relação colaborativa e os resultados de nossa pesquisa nos remetem para os dados que apresentamos no capítulo de análise dos resultados. Mesmo com tantos blogs na internet e tantos outros sendo criados a cada dia, poucas pesquisas nessa área são realizadas para que possamos compreender de que maneira os educadores se apropriam dessa ferramenta, enquanto profissional docente, interagindo com outros, pretendendo (ou não) interferir em suas práticas pedagógicas. A presente pesquisa busca preencher esta lacuna, contribuindo para a compreensão dos aspectos relacionados aos interesses de professores na construção de blogs destinados a outros professores e como as interações entre eles favorecem a troca de saberes e a consequente formação continuada de ambos. Cremos que compreender essas questões e refletir sobre elas pode favorecer uma oferta de formação que vá ao encontro dos anseios desses educadores e suas novas necessidades impostas pela evolução das tecnologias e dos usos que vão se fazendo delas e até mesmo dos novos modos de interagir dentro da escola e nos espaços não formais de aprendizagem.

4

Palavra que deriva do inglês web log (diário da web). Site interativo onde é possível postar comentários diários, além de vídeos, fotos e aceitar comentários dos visitantes, em uma rede de troca de informações.

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1.2 As inquietações A curiosidade dinamiza a mente humana. Gaston Bachelard

Quais seriam os interesses de professores para usar os blogs como forma de contato com outros, dentre tantas outras ferramentas da internet? Seriam eles atraídos pela facilidade que o blog oferece de manter contato com outros professores, de forma atemporal, virtual e em rede? Estariam movidos pela oportunidade de ultrapassar os limites do grupo de amigos, buscando e transmitindo conhecimentos, em uma espécie de rede de formação continuada que não está associada a uma formação mais tradicional com definição de tempo e espaço, associada a instâncias de formação como instituições de ensino e secretarias de educação? A intenção desses professores seria apenas participar de um modismo, como forma de demonstrar estar “antenado” com as novas maneiras de se vivenciar as relações interpessoais? Será que para eles prevalece também a lógica da reparação da formação formal dos professores, ou seja, eles fornecem nos blogs conhecimentos que julgam necessários para que os professores tenham uma boa prática docente, colaborando assim com a formação dos outros, reparando a falta dos saberes que a formação inicial dos seguidores ou visitantes não ofereceu? Como os professores blogueiros concebem a educação, a profissão docente e a formação do professor? O que moveria os professores para criarem e manterem blogs destinados a outros professores? Haveria uma intencionalidade de partilhar os dilemas da própria formação ou da ação docente e assim “formar” outros professores? De que forma os blogueiros atuam ou pretendem atuar como formadores de outros professores? Quais seriam as evidências dessa intencionalidade? Quais aspectos estão presentes nos blogs que apontam para a colaboração e a

aprendizagem

mútua

entre

os

professores

blogueiros

e

seus

seguidores/frequentadores? Até que ponto podemos afirmar que os blogs possibilitam a interação entre os professores blogueiros e seus seguidores?

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Que características os blogs apresentam que permitem classificá-los de acordo com os principais modelos de formação continuada de professores? Tentamos dar conta dessas questões, mas sabemos que são complexas demais para apenas uma singela dissertação.

1.3 Objetivos:

1.3.1 Geral: 

Discutir as perspectivas para a formação de professores presentes nos blogs criados por professores.

1.3.2 Específicos: 

Identificar a concepção que os professores blogueiros têm a respeito da profissão docente;



Classificar os blogs de professores tendo como referência os tipos de postagens e as interações com outros professores.



Relacionar os aspectos presentes em blogs de educadores com a formação continuada dos professores.

1.4 A relevância da pesquisa

Embora o tema blog seja algo novo, pertinente à cultura globalizada, essas inquietações nos levaram a fazer buscas por dissertações e teses que tratassem de seus usos e pouco encontramos, o que nos fez sentir o peso da responsabilidade de estar pesquisando algo novo, sem muito amparo teórico e sem grandes referenciais. Em

levantamento

feito

no

banco

de

teses

da

Coordenação

de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no mês de março de 2012, constatamos que entre os anos de 2005 e 2010 foram realizadas poucas pesquisas sobre blogs. Utilizamos as palavras “blogs” e “formação de professores” e encontramos apenas oito pesquisas voltadas para as ferramentas da web 2.0, entre elas os blogs e sua utilização na formação de professores. Dessas oito, apenas uma tratava diretamente dos blogs feitos, mantidos e/ou frequentados por professores,

31

porém a maioria aponta para o uso pedagógico dos blogs no ensino de determinada disciplina. A distribuição das pesquisas pelos anos já citados se deu da seguinte maneira: nenhuma pesquisa foi encontrada em 2005. No ano de 2006, encontramos uma dissertação de mestrado, de Adriane Lizbehd Halmann, da Universidade Federal da Bahia, que investigou a reflexão partilhada sobre a prática docente nos diários, em alguns ambientes da web, com ênfase nos blogs, buscando identificar suas formas de ocorrência, implicações com a rede web e repercussões nas práticas. Esse trabalho é o que mais se aproxima dessa pesquisa. Em 2008, encontramos a tese de doutorado defendida por João Luís de Almeida Machado, da PUC de São Paulo, cujo objetivo foi verificar a possibilidade de utilização da ferramenta blog, por sua facilidade de uso e de manutenção, entre outros aspectos, como instrumento complementar na apreciação de conteúdos, troca de experiências e intercâmbio de subsídios teóricos na formação de professores a distância. No ano de 2009 encontramos quatro dissertações de mestrado, sendo de Claudenice de Freitas Souza, da Universidade Federal do Ceará, que investigou a atuação docente em ambientes virtuais de aprendizagem buscando diagnosticar quais os papéis que o professor-tutor assume na Educação a Distância. Outra de Diana Maria Farias Pessoa, da Universidade Federal de Pernambuco, cujo objetivo foi investigar o uso dos blogs brasileiros, buscando compreender o funcionamento destes espaços virtuais no contexto educacional. E ainda outra de Fabio Maia de Souza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que investigou as possibilidades de uso pedagógico das ferramentas da Web 2.0, entre elas os blogs nos cursos de graduação em Medicina, favorecendo a aprendizagem dos conteúdos por parte dos alunos e da apropriação dessas tecnologias no contexto educacional por parte dos professores. E por último, encontramos também a dissertação de Gilvani Alves Pilé Torres,

da

Universidade

Federal

de

Pernambuco,

cuja

pesquisa

buscou

compreender como os professores desenvolvem a mediação pedagógica através da integração das tecnologias no ato educativo, utilizando blogs no espaço do laboratório de Informática das escolas. No último ano pesquisado, 2010, encontramos duas dissertações de mestrado, de Maria Leopoldina Pereira, da Universidade Federal de Juiz de Fora, cuja pesquisa investigou de que maneira os blogs literários podem se constituir

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como uma possibilidade de formação do aluno-autor no processo de produção escrita no interior das aulas de Língua Portuguesa; e outra de Vanessa Cristiane Rodrigues Bohn, da Universidade Federal de Minas Gerais, que investigou como que as ferramentas da Web 2.0, tais como Blogs, Wikis, Podcasts e redes sociais oferecem aos usuários possibilidades de interação e colaboração no meio virtual, através de recursos com interface amigável e intuitiva. Mudando as palavras da busca para “professores blogueiros”, encontramos apenas três dissertações de mestrado diferentes das encontradas anteriormente e que mantinham alguma relação com o tema desse estudo. Em 2005 encontramos a dissertação de Patrícia Nogueira Spinosa, da Universidade de Sorocaba, que estudou a ligação e o entrelaçamento de computadores situados em lugares geograficamente distantes, através de redes telemáticas que permitem a manipulação de dados e a troca rápida de informações entre as máquinas e seus usuários, dentro do qual surge a cibercultura. Ela não tratou da questão dos blogs. Outra dissertação encontrada foi a de Maurício de Azevedo Valentin, da Universidade de Franca, que apresenta uma análise dos discursos que circulam em weblogs educativos com o objetivo de responder qual o discurso do professorblogueiro e como esse discurso

constitui

o professor como sujeito na

contemporaneidade. Essa dissertação oferece alguns elementos que se aproximam de nossa discussão, e com a qual também podemos “dialogar”. No ano de 2010 encontramos apenas a dissertação de Rosângela Leffa Behenk, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que investigou o funcionamento do discurso pedagógico, tomando como corpus de análise uma série de blogs inscritos na comunidade virtual denominada Blogs Educativos. Usando palavras diferentes, encontramos outros trabalhos que tratam de blogs, mas em sua maioria tratavam sobre o seu uso pedagógico, investigando como os professores os utilizam para trabalhar determinadas disciplinas curriculares. Esses resultados não foram levados em consideração por não “dialogarem” com o foco da pesquisa. Usando as palavras “blog e professores”, encontramos no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em Bibliografias Temáticas (http://portal.inep.gov.br/bibliografias-tematicas) apenas duas dissertações sobre o tema: uma publicada em 2007 e outra em 2008, que investigam o uso dos blogs

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como ferramenta pedagógica para o ensino de disciplinas específicas e, portanto, não dialogam com nosso trabalho. No site da Scielo, usando as mais variadas palavras referentes ao tema blogs e formação de professores, encontramos apenas dois artigos, mas ambos não têm referência com nossa pesquisa. Usando apenas a palavra BLOGS, encontramos dez artigos, porém nenhum deles também tinha a ver com nosso trabalho, motivo pelo qual não os levamos em consideração em nossa busca por bibliografia atual sobre o tema. Com o exposto, podemos afirmar que nossa pesquisa se faz relevante pelo fato de ser pioneira em relação ao estudo da questão da formação dos professores e a influência dessa formação na autoria de seus blogs. Causa certo espanto a ferramenta blog ser “antiga”, popularizada na internet, de fácil utilização, tanto que os professores, mesmo aqueles com pouco conhecimento técnico, estão se lançando na rede, e ainda ser algo tão pouco pesquisado, ainda mais em um espaço onde tudo se torna obsoleto tão rapidamente. Acreditamos que talvez venhamos a nos voltar tardiamente para o estudo e pesquisa dos blogs, quando então aqueles professores mais “antenados” com os aparatos tecnológicos já estarão exercitando sua docência pós-sala de aula em outros espaços. Talvez estejamos “perdendo o bonde” do ciberespaço.

1.5 Metodologia da pesquisa

Na realização dessa pesquisa optou-se pela abordagem metodológica qualitativa, dada as características do objeto de estudo e pela possibilidade de ampliação do diálogo entre a teorização e os dados coletados. Não coletamos dados para confirmar as hipóteses iniciais que levantamos ao visitar diversos blogs de educadores. Muito pelo contrário. Permitimos que a caminhada durante o avanço das investigações nos surpreendesse e acabamos por nos inquietar mais ainda, pois não se trata de montar um quebra-cabeças cuja forma final conhecemos de antemão. Está-se a construir um quadro que vai ganhando forma à medida que se recolhem e examinam as partes. O processo de análise dos dados é como um funil: as coisas estão abertas de início (ou no topo) e vão-se tornando mais fechadas e específicas no extremo. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50).

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Procedemos a uma discussão sobre os dados coletados, à luz de Laurence Bardin, com quem concordamos que [...] é preciso dizer não “à leitura simples do real”, sempre sedutora, forjar conceitos operatórios, aceitar o caráter provisório de hipóteses, definir planos experimentais ou de investigação (a fim de despistar as primeiras impressões). (BARDIN, 2011, p. 34).

No percurso da pesquisa, por vezes formulamos hipóteses que caíram por terra, deixando-nos confusos em relação ao caminho a trilhar e que pistas seguir. Essas dúvidas geraram novas curiosidades e, mantendo o foco nos modelos de formação de docentes que poderiam ter orientado a escolha dos blogueiros em relação à construção do blog, seguimos em frente, vasculhando blogs e redes sociais dos blogueiros a fim de perceber com clareza as informações que nos eram apresentadas com o avançar da pesquisa, mas salientamos que não tivemos a intenção de abordar a questão das redes sociais, apenas utilizamos alguns elementos que apontam outros meios onde se dá também as interações entre os professores blogueiros, em um estágio de “migração” na internet. Também foi possível em razão do tema entrevistar o Professor Doutor José Armando Valente, Professor do Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação do Instituto de Artes, e Pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e também o Professor Doutor Tiago Ribeiro da Silva, professor de Língua Portuguesa da FEBF, uma vez que ambos estudam temas relacionados às tecnologias e à educação. Optamos por um trabalho qualitativo, mas não abrimos mãos de elementos quantitativos, a título de ilustração dos fatos observados, pois acreditamos que [...] a opção por modalidades qualitativas de investigação têm sido cada vez mais frequente na pesquisa em educação, visto que os educadores e os professores têm se interessado pelas qualidades dos fenômenos educacionais em detrimento de números que muitas vezes escondem a dimensão humana, pluralidade e interdependência dos fenômenos educacionais na escola. (TELLES, 2002, p. 102).

Embora essa pesquisa se realize fora do espaço escolar, ou para além dele, os fenômenos a ela relacionados têm ligação com a escola, no momento em que o objeto de estudo é o professor – uma vez que ele e o blog são visto indissociavelmente – que se “estende” do mundo real ao mundo virtual, onde

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também se assume como educador e se relaciona com outros geograficamente distantes ou perto, em tempos comuns e diferenciados, inserindo-se em uma rede cujas interações podem “afetar” de maneira muito positiva o trabalho de vários docentes no chão da escola.

1.5.1 Caracterização da amostra selecionada

Definimos como de interesse para a pesquisa os blogs criados e mantidos por professores, destinados a outros professores. Blogs que professores mantêm por questões pessoais, sem ligação com o magistério, voltados para artesanato, moda, religião ou outros temas, por exemplo, não foram acompanhados. Blogs de professores universitários ou da educação básica, usados para orientações de seus alunos em relação a temas específicos, de disciplinas curriculares e blogs coorporativos, de exposição das atividades das unidades escolares onde os professores entrevistados trabalham também não foram acompanhados de forma sistemática como os demais, porém não dispensamos a entrevista com os blogueiros. Figura 1 – Solicitação de participantes.

Tivemos dificuldades para chegar até os blogueiros ou para ter retorno dos contatos feitos, solicitando entrevistas. Por isso, recorremos aos próprios blogueiros para angariar outros que se dispusessem a participar da pesquisa. Assim, recebemos vários contatos, que vieram até nós atendendo a solicitação feita por outros blogueiros via blog ou via Facebook.

Fonte: blog Nº 10. Cristina Silveira, abril de 2013

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Figura 2 – Professor blogueiro se oferecendo para participar da pesquisa.

Fonte: caixa de entrada de e-mail pessoal da pesquisadora. Cristina Silveira, abril de 2013

Dessa forma, recebemos o contato de vários blogueiros se dispondo a participar da pesquisa, dentre eles, um que, embora mantenha quatro blogs onde disponibiliza materiais variados para professores, não é professor. Ele afirma ter criado os blogs para ajudar professores, por ver sua irmã, que é professora, com dificuldade para encontrar materiais que possa utilizar nas aulas. Não computamos essas entrevistas na pesquisa, mas discorremos sobre ela nesse trabalho. Do total de 26 blogueiros que selecionamos para a pesquisa, 19 são mulheres e 7 são homens. Desses, 1 homem e 4 mulheres possuem 2 blogs cada, fazendo um total de 31 blogs acompanhados na pesquisa. Dos demais blogueiros acompanhamos apenas 1 blog de cada. Após contato com os blogueiros, passamos a investigar os blogs, analisando o aspecto, os tipos e a frequência das postagens, a quantidade de seguidores, os diálogos entre o autor e os seguidores/visitantes. Fizemos um levantamento de suas características e, com base nessas observações, construímos o quadro a seguir, que apresenta uma sinopse dos blogs, para situar o leitor em relação à amostra investigada. Demos aos blogueiros um número que identifica também seu blog. As letras A e B (também C e D no caso do blogueiro número 8) acompanham o número, fazendo referência aos blogs, quando o autor possui mais de um. A cor da linha identifica o sexo do autor do blog:

37

Quadro 1 – Sinopse dos Blogs pesquisados. Sinopses dos Blogs pesquisados 1

Blog de divulgação educacional, onde são divulgados os trabalhos do autor, como livros, palestras, oficinas e cursos de contação de história e alfabetização que ministra, além de seus artigos, entrevistas e fotos em eventos.

2

Blog de divulgação científica, onde são divulgadas informações e materiais sobre a área de conhecimento Física, destinado a professores e alunos de ensino médio e superior. Nele o autor divulga seu livro de Física para o ensino médio, que foi elaborado com base no novo currículo de Física proposto pelo MEC.

3

Blog de divulgação educacional, onde o autor posta informações, atividades e matérias de interesse de professores, além de divulgar seu trabalho pessoal, palestras e livro de sua autoria.

4

Blog destinado aos alunos dos autores do blog, com postagem de conteúdo técnico e específico da disciplina lecionada por eles, direcionado para estudantes e professores universitários de Química.

5

Blog de divulgação científica e educacional, direcionado a alunos da educação básica, professores e estudantes de graduação, com postagens sobre ensino dos conteúdos de Matemática.

6a/b

Ambos os blogs são de divulgação educacional, onde são postados materiais sobre assuntos específicos, sendo que A trata do uso pedagógico de quadrinhos e das novidades desse material no mercado editorial. Ao clicar nele, abre-se blog de propaganda. Já o blog B apresenta os resultados das pesquisas que a autora faz sobre a história de sua cidade e a ligação dela com o mundo.

7

Blog de amostragem de trabalhos de designer, destinado aos alunos de designer da autora e também a designers profissionais. Nele são postadas informações de interesse da área de designer e de educação, além de divulgação do trabalho pessoal da autora.

8a/b/c/d5

5

Blogs onde são postadas atividades pedagógicas para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental.

9

Blog de divulgação educacional e tecnológica, onde são postadas mostras de materiais artesanais e sugestões de atividades destinadas à educação infantil e às séries iniciais do ensino fundamental. A tecnologia e sua relação com a educação é um dos focos marcantes das postagens, principalmente dos textos.

10

Blog de divulgação educacional, de perfil marcantemente informativo, onde são postados materiais de interesse de professores. Também são postadas matérias de divulgação do trabalho pessoal da autora do blog.

11

Blog específico sobre divulgação de fatos históricos, onde são oferecidos materiais para pesquisa e os serviços de historiador e pesquisador para fins diversos do autor do blog.

12

Blog de escola pública, criado por professora da escola, destinado a fazer a amostragem do trabalho realizado nela e a oferecer materiais de interesse de professores, como leis, textos para reflexão e atividades detalhadas, para serem desenvolvidas por outros professores.

13

Blog de amostragem de trabalho pessoal da autora e de compartilhamento de materiais e atividades para serem desenvolvidos em aulas, por outros professores, principalmente para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental. Nele a autora posta atividades que faz com seus alunos e outras que encontra em outros blogs, em livros ou em revistas.

14

Blog de amostragem de trabalho pessoal da autora e de compartilhamento de materiais e atividades para serem desenvolvidos em aulas, por outros

Não acompanhamos esses blogs na pesquisa por fugir das características da amostra, não sendo professor, mas apresentaremos esse caso no capítulo de análise dos resultados.

38

professores, principalmente para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental. Nele a autora posta atividades que faz com seus alunos e outras que encontra em outros blogs, em livros ou em revistas. 15

Blog de perfil informativo eclético em relação ao campo educacional. Nele o autor posta, com a ajuda de outras pessoas, materiais diversos que tenham alguma relação com o campo educacional: textos para reflexão, poesias, críticas literárias, política, cultura etc.

16

Blog de amostragem de trabalho pedagógico e de compartilhamento de materiais e atividades para serem desenvolvidos em aulas, por outros professores, principalmente para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental. Nele a autora posta atividades que encontra em outros blogs, em livros ou em revistas.

17

Blog de divulgação científica, de perfil informativo específico, destinado a estudantes das áreas de imunologia, enfermagem, saúde em geral e jornalismo científico.

18

Blog de perfil de amostragem de trabalho e de compartilhamento de materiais e atividades para sala de aula, principalmente para a educação infantil e para as séries iniciais. Nele a autora posta atividades que os professores façam com seus alunos, que encontra em outros blogs e que copia de livros ou revistas.

19

Blog de divulgação educacional, de perfil reflexivo, com textos de interesse de professores, estudantes de magistério, pedagogia e psicologia.

20

Blog de divulgação científica, onde são postadas informações e materiais sobre a área de conhecimento Física, destinado a professores e alunos de ensino médio e estudantes de graduação em Física. A autora apresenta experiências que vivenciou em laboratório internacional de pesquisas Físicas.

21

Blog de amostragem de trabalho e de compartilhamento de materiais e atividades pedagógicas para serem desenvolvidas por outros professores, principalmente para a educação infantil e para as séries iniciais do ensino fundamental. São postadas também matérias de interesse de pais, com imagens e dicas de decoração, tudo relacionado à infância. Nele a autora posta atividades que realizou com seus alunos ou que sugere que os professores desenvolvam nas aulas, retiradas de outros blogs ou copiadas de livros ou revistas.

22a/b

Ambos os blogs são de divulgação de fatos históricos, sendo que A é de perfil informativo e apresenta materiais de interesse de alunos do ensino fundamental/médio e de graduação, professores de História e todos que se interessam em conhecer a História do Brasil e a História Geral. Ao clicar nas postagens, abre-se site de anúncio. Já o blog B é destinado a professores e alunos de História. Nele são postadas sugestões de atividades e questões de vestibulares referentes à disciplina História.

23a/b

O blog A é de divulgação tecnológica e educacional, onde são postadas novidades em relação ao uso da tecnologia na educação e o trabalho pessoal da autora e as interações com outras pessoas dão subsídio à sua pesquisa de doutorado. Já o blog B é de divulgação de evento ocorrido na instituição da autora.

24a/b

Ambos os blogs são de divulgação tecnológica e educacional, onde são postadas experiências pessoais da autora na formação de professores de rede pública em relação à utilização da Lousa Digital nas aulas.

25

Blog institucional, onde são postados materiais de interesse exclusivo da comunidade escolar local, além de informações e materiais de interesse de professores em geral.

26a/b

O blog A é de perfil institucional. Nele são postadas matérias de divulgação das atividades realizadas pela escola onde a autora trabalha, além de informações e materiais variados de interesse de professores em geral. Já o blog B é de amostragem dos trabalhos que a autora com os alunos das turmas em que leciona informática educativa.

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27

Blog onde são postados materiais específicos para pesquisas na área de design, de interesse dos alunos da disciplina planejamento visual gráfico, oferecida pelo autor do blog no curso de Comunicação Social, em sua instituição.

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013

Acompanhamos os blogs, fazendo visitas regulares, observando as aparências, os tipos de anúncios que são veiculados, as atividades expostas ou propostas, o quantitativo de seguidores ou membros, os sites relacionado (“linkados” neles), os outros blogs indicados, os recadinhos deixados por outros blogueiros,

as

imagens,

os

elementos

diferenciados

apresentados

e

principalmente as postagens e os comentários feitos a elas, visando a compreensão do comportamento e das experiências humanas ali vivenciados, investigando e apreendendo os processos pelos

quais os seres humanos

constroem seus significados, relacionando esse aprendizado com questões educacionais mencionadas no capítulo teórico. Dizemos aprendizado e não descoberta por acreditar que o campo da pesquisa foi muito mais um aprendizado que apenas palco de descobertas. Inicialmente acreditávamos que seria necessário ouvir, além dos professores blogueiros, os professores seguidores dos blogs, porém a pesquisa nos apontou se tratar de um mesmo grupo, pois todo seguidor de blog também é blogueiro, conforme pudemos constatar com os entrevistados e também com a observação dos comentários às postagens, onde nos interessava tanto o texto quanto o link do autor do comentário. Clicando nesses links fomos levados para diversos outros blogs e neles encontramos alguns dos blogueiros cujos blogs estávamos acompanhando na pesquisa. Isso nos levou a perceber como esses blogueiros estão conectados em redes, unidos por interesses comuns. Quanto aos visitantes não-blogueiros, sinalizados nos comentários como “anônimos”, foi impossível chegar até eles por falta absoluta de contato, o que até tentamos, postando comentários abaixo de comentários deixados por outros visitantes, mas sem nenhum sucesso. Optamos pelo uso de entrevistas semiestruturadas ou não diretivas, como forma de colher informações baseada no conteúdo dos discursos dos informantes, através da interlocução por via de e-mails trocados com os entrevistados, conversas informais através da ferramenta de bate-papo Skype

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e através de mensagens enviadas para o site de relacionamento Facebook, onde mantemos uma conta e a ela adicionamos a maioria de nossos entrevistados a fim de poder acompanhar a interação desses com outros professores, uma vez que nas entrevistas muitos alegaram interagir por esse canal. Com tantos blogueiros apontando para a rede social Facebook, resolvemos ver de mais perto os modos como se dão essas interações, sem, no entanto ter a pretensão de ampliar este estudo para tal rede, o que sabemos, nos seria impossível em tão pouco tempo. Partimos de um questionário básico, enviado por e-mail para todos os que aceitaram participar da pesquisa e, recebidas as respostas, elaboramos outras questões complementares, diferenciadas, a fim de entender com clareza a situação pesquisada. Como já foi dito, realizamos as entrevistas através de e-mails, do chat do Skype e de mensagens pessoais no site de relacionamentos Facebook. Isso porque os blogueiros envolvidos na pesquisa moram em regiões distantes da nossa, o que inviabilizou que as entrevistas fossem feitas pessoalmente. Outro motivo para que as entrevistas fossem exclusivamente on line é que queríamos estar inseridos no meio digital, que é bastante utilizado por esses professores e acreditamos que “as ações são mais bem compreendidas em seu ambiente habitual de ocorrência” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 47), no caso em questão, o ciberespaço. Lamentamos não ter participado mais a fundo deste ambiente, como blogueira e não o fizemos por absoluta falta de tempo para criar e manter um blog. Talvez, se estivéssemos inseridos na blogosfera teríamos observado outras nuances dessa ferramenta e das interações acontecidas por intermédio dela. Agrupamos por questões as respostas dos professores ao questionário inicial para melhor perceber a recorrência de determinados termos nos discursos dos professores. Investigando através da observação o modo como os blogueiros percebem a carreira docente, a postura diante de outros professores e o tipo de postagem que privilegiam nos permitiu elaborar uma classificação para melhor apresentar os resultados obtidos.

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Quadro 2 - Classificação dos blogs VITRINE São postadas atividades feitas pelas blogueiras com seus alunos e oferecidas várias atividades para serem feitas em sala.

9, 13, 14, 16, 18, 21

SALA DE AULA AMPLIADA São blogs que os professores fazem para se relacionar com seus alunos, oferecendo atividades e materiais de reforço.

4, 7, 17, 26A, 27

ESTUDOS TEÓRICOS São blogs que oferecem materiais variados que servem para reflexão dos professores e para aprimoramento da prática.

ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO

1, 3, 10, 15, 19, 23ª

2, 5, 6A, 6B, 11, 20, 22A, 22B

Blogs que tratam de conteúdos da disciplina que o dono leciona e oferecem materiais relativos a ela ou ainda tratam apenas de assunto específico.

INSTITUCIONAL Blogs de escolas ou de organizações específicas, voltados, principalmente para os interesses delas, porém não apenas, levando em conta outros docentes que visitam os blogs.

12, 23B, 24A, 24B, 25, 26B

Fonte : Cristina Silveira, abril de 2013

Esta classificação só foi possível generalizando-se as características mais recorrentes e marcantes dos blogs, sem levar em consideração as múltiplas peculiaridades que cada um apresenta. Se assim o fizéssemos, teríamos muitas outras subdivisões e trabalhamos com a perspectiva de agrupar de acordo com as caraterísticas mais relevantes, levando em consideração o tipo de postagem. No capítulo terceiro retornamos aos dados observados, fazendo uma discussão sobre eles.

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1.6 Ser ou Não Ser Professor no Século XXI? Eis a Questão... No dia seguinte o sol se levanta para todos, recomeça-se a viver e a trabalhar. Na ordem da imaginação dinâmica, tudo está bem quando começa bem. Gaston Bachelard

Com a obrigatoriedade da educação básica no Brasil, aumentou muito a demanda de professores para suprir a necessidade de atendimento em todo o país e, com o aumento dessa demanda, não foi possível manter a qualidade da formação oferecida aos jovens que buscam a carreira do magistério, seja pelo motivo que for. Isso é comprovado pelas avaliações educacionais que apontam para a ineficácia ou ineficiência do ensino ministrado, uma vez que ficamos entre os últimos lugares 6 em avaliações como a do PISA7 (2009), por exemplo, onde os estudantes brasileiros estão sempre abaixo da média aceitável, estabelecida pela OCDE8, instituição responsável pela avaliação, análise e comparação dos dados. Segundo João Formosinho e Joaquim Machado [...] a expansão escolar obrigou a alargar a sua base de recrutamento (habilitações académicas e profissionais), conduziu à diminuição do perfil da função docente e ao abaixamento do nível médio geral de qualificação dos professores. (FORMOSINHO; MACHADO, 2009, p.143)

Com o exposto, nos perguntamos qual seria, então, a motivação dos jovens para se tornarem professores em pleno século XXI, uma vez que o mercado de trabalho tem aberto novas possibilidades de carreiras e atuações a cada dia, que oferecem salários melhores que os salários de professores? Educamos hoje nas escolas os profissionais de áreas que serão modificadas ou que ainda sequer existem. Educamos para o novo, para um mundo novo que nem sabemos como será. O fantasma da obsolescência nos assola. 6

Em um ranking de 65 países somos o 53º colocado em Leitura e Ciências e 57º em Matemática. Programa Internacional de Avaliação de Alunos. 8 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico 7

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Com isso, a busca por qualificação profissional também cresceu muito. Dados do Censo da Educação Superior, feito pelo Inep de 2010 divulgam que o número de matrículas nos cursos de graduação cresceu 7,1% de 2009 a 2010. Segundo o Censo do Inep 2010: vários fatores podem ser atribuídos a essa expansão: do lado da demanda: o crescimento econômico alcançado pelo Brasil nos últimos anos vem desenvolvendo uma busca do mercado por mão de obra mais especializada; já do lado da oferta: o somatório das políticas públicas de incentivo ao acesso e à permanência na educação superior, dentre elas: o aumento do número de financiamento (bolsas e subsídios) aos alunos, como os programas Fies e ProUni e o aumento da oferta de vagas na rede federal, via abertura de novos campi e novas IES, bem como a interiorização de universidades já existentes. (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA, 2010)

Ainda segundo a avaliação dos resultados do Censo 2010, a necessidade de resposta rápida à demanda do mercado de trabalho e o desenvolvimento de tecnologias que favorecem o ensino à distância, foram motivos para a crescente ascensão do ensino superior no Brasil. Quanto aos cursos de Pedagogia e Normal Superior, responsáveis pela formação dos educadores, a situação não é das mais animadoras. Em 2009 o Ministério de Educação (MEC), através da Coordenação Geral de Supervisão da Educação Superior, abriu processo de supervisão especial dos cursos de pedagogia e normal superior para analisar a situação de 60 Cursos de Pedagogia que tiveram resultados insatisfatórios no ENADE 9 anterior. O quadro abaixo faz parte do relatório de atualização dos processos, da Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação:

9

Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

44

Quadro 3 – Síntese do relatório de atualização dos processos.

Fonte: Secretaria de Educação Superior (MEC), abril de 2013.

Se, em boa parte, são os pedagogos que formam os futuros professores, ministrando disciplinas fundamentais para a formação docente, como Didática, Prática de Ensino e Metodologias diversas, esses dados, por si só já são alarmantes. Quando analisamos a ementa curricular dos cursos de pedagogia ficamos ainda mais desalentados, pois [...] chama a atenção o fato de que apenas 3,4% das disciplinas ofertadas referem-se à “Didática Geral”. O grupo “Didáticas Específicas, Metodologias e Práticas de Ensino” (o “como” ensinar) representa 20,7% do conjunto, e apenas 7,5% das disciplinas são destinadas aos conteúdos a serem ensinados nas séries iniciais do ensino fundamental, ou seja, ao “o que” ensinar. Esse dado torna evidente como os conteúdos específicos das disciplinas a serem ministradas em sala de aula não são objeto dos cursos de formação inicial do professor. Disciplinas relativas ao ofício docente representam apenas 0,6% desse conjunto (GATTI, 2010, p. 14;).

45

Ora, se o professor se forma em uma instituição sem qualidade ou que não vá prepará-lo a contento para a demanda da sala de aula, isso, por si só, já é um dos fatores relacionados com as causas da baixa qualidade do ensino no país, o que não quer dizer que seja apenas legado aos profissionais da educação esse fracasso. Fatores outros, de natureza diversa, também corroboram para o fracasso ou pouco sucesso escolar dos estudantes. Essa afirmativa torna-se ainda mais evidente nas escolas públicas, sobre as quais o governo possui certos mecanismos de “controle da qualidade”, explicitado nas avaliações aplicadas anualmente para inferir o índice de aproveitamento dos alunos e que apontam avanços muito pouco contundentes, o que é validado pelos dados da já citada avaliação PISA, onde o Brasil se classifica abaixo da média em todos os itens avaliados. Somos os 57º colocados, ficando à frente de apenas oito países, todos bem mais pobres e menores. Impressiona a quantidade de alunos nos cursos de Pedagogia, sendo a terceira graduação com o maior número de estudantes no País, perdendo apenas para Administração e Direito, segundo dados do Censo da Educação Superior realizado em 2010. É a primeira mais procurada quando se trata de educação a distância, como mostra o quadro abaixo:

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Quadro 4 – Graduações a distância mais procuradas. As 30 graduações a distância mais procuradas no país Cursos Pedagogia Administração Serviço social Competências gerenciais Ciências contábeis Gestão de pessoal / recursos humanos Administração pública Formação de professor de língua/literatura vernácula (português) Formação de professor de matemática Formação de professor de biologia Gestão logística Gestão ambiental Formação de professor de história Mercadologia (marketing) Formação de professor de língua/literatura estrangeira moderna Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Tecnólogo) Tecnologia da informação Gestão financeira Formação de professor de geografia Produção industrial Formação de professor de língua/literatura vernácula e língua estrangeira moderna Formação de professor de física Saúde e segurança no trabalho Gestão de comercio Segurança pública Negócios internacionais Formação de professor de química Sistemas de informação Negócios imobiliários Formação de professor de artes visuais

Total Federal Estadual Municipal Privada 273.248 18.558 14.790 221 239.679 128.186 10.746 10.846 . 106.594 74.474 . 17.659 . 56.815 45.880 . . 32 45.848 40.936 892 4.166 . 35.878 35.486 . . 25 35.461 34.611 18.695 3.888 . 12.028 28.591 5.431 8.242

.

14.918

23.328 19.087 19.051 18.721 17.919 16.056

22 27 20 . 6 .

8.287 10.475 19.031 18.201 15.144 16.056

14.654 3.279 1.353

.

10.022

11.278 2.651 3.975

.

4.652

10.156 9.593 9.495 7.602

. . 2.138 .

. . 1.218 .

. . 3 .

10.156 9.593 6.136 7.602

6.876

223

208

.

6.445

5.871 5.674 5.561 5.290 4.336 4.309 4.216 3.892 3.663

4.926 . . . . 3.129 1.922 . 1.236

488 . . . . 305 . . 219

. . 8 . . 9 . . 33

457 5.674 5.553 5.290 4.336 866 2.294 3.892 2.175

11.700 5.954 . 520 1.809 .

3.319 2.631 . . 960 .

Fonte: MEC/INEP/DEED, abril de 2013.

Se levarmos em consideração que o setor privado responde pela maior oferta de cursos de Pedagogia e que o valor da mensalidade desse curso é baixo, comparado aos demais da área educacional, isso pode justificar a grande procura pelo curso, o que se configura como possibilidade de estudantes de baixa renda possuir um curso superior e ainda estar em condições de angariar uma melhor colocação profissional. As imagens a seguir corroboram a afirmação. Foram retiradas de sites de universidades particulares:

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Figura 3 – Valores do curso de Pedagogia em universidade particular campus Ribeirão Preto.

Fonte: site de universidade particular brasileira, abril de 2013.

Figura 4 – Valores do curso de Pedagogia em universidade particular campus Campinas.

Fonte: site de universidade particular brasileira, abril de 2013

As imagens acima mostram que a mesma universidade cobra valores diferenciados pra o mesmo curso em cidades diferentes, porém ainda assim são valores abaixo do valor de custo de outros cursos. O quadro a seguir apresenta os valores de cursos graduação de uma universidade particular brasileira e podemos perceber que o curso de Pedagogia também é o de valor mais baixo em relação aos demais. Quadro 5 – Valores de cursos superiores em universidade particular. CURSO

VAGAS

TURNO

TEMPO

PARCELA C/ DESCONTO

Administração

140

Noturno

4 Anos

R$ 415,20 *

Ciências Contábeis

70

Noturno

4 Anos

R$ 415,20 *

Direito

50

Vespertino 5 Anos

R$ 783,20 *

Direito

70

Noturno

5 Anos

R$ 783,20 *

Pedagogia

70

Noturno

4 Anos

R$ 351,20 *

48

Serviço Social

70

Noturno

4 Anos

R$ 527,20 *

Fonte: site de universidade particular brasileira, Abril de 2013

Em pesquisa realizada por Gatti e Barreto em 2009, constatou-se que a escolha da docência como uma espécie de “seguro desemprego”, ou seja, como uma alternativa no caso de não haver possibilidade de exercício de outra atividade, é relativamente alta (21%), [...]. (GATTI ; BARRETO apud GATTI, 2010, p. 7).

Ainda segundo Gatti (2010), baseada em dados do ENADE, alunos oriundos de escola pública são os que mais se matriculam nos Cursos de Pedagogia:

Tabela 1- Licenciandos: tipo de ensino médio concluído.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação e Cultura, 2005.

E, na mesma pesquisa, analisando os currículos dos cursos de pedagogia as autoras declaram [...] pode-se afirmar que o currículo efetivamente desenvolvido nesses cursos tem a característica fragmentária, com um conjunto disciplinar bastante disperso. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 119).

Mais adiante do texto elas completam que “essa formação é feita de forma ainda muito insuficiente” (GATTI; BARRETO, 2009, p.121). Curioso é que a palavra “insuficiente” já daria a noção da pobreza e inadequação da ação, mas elas fizeram mais ainda o discurso com o uso da palavra “muito”, a fim de marcar o tamanho da distância entre o real e o necessário. Ainda analisando tais currículos, as pesquisadoras apresentam dados que chamam a atenção para a quantidade de disciplinas obrigatórias e disciplinas

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optativas e a falta de relação entre elas, o que justifica a afirmação de currículo fragmentado: Tabela 2 – Disciplinas obrigatórias, segundo as categorias e subcategorias de análise.

Fonte: GATTI; BARRETO, 2010, p.123.

Podemos ver que disciplinas relacionadas com as questões tecnológicas, que favoreçam o aprendizado de seus usos e as reflexões sobre cibercultura representam o menor quantitativo dentre as demais. E, mesmo entre as optativas, a situação não é muito diferente:

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Tabela 3 – Disciplinas optativas, segundo categorias e subcategorias de análise.

Fonte: GATTI ; BARRETO, 2010, p. 125.

As autoras pontuam ainda que 25 % das disciplinas optativas tentam dar conta de novos elementos introduzidos nos currículos dos alunos das séries iniciais para atender, de alguma maneira, as exigências da sociedade contemporânea, como as questões ambientais e o irreversível avanço tecnológico. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 122). Os cursos de nível médio de Formação de Professores, oferecidos pela rede pública de ensino também estão com as salas lotadas, o que é um paradoxo diante das várias pesquisas que apontam para a desmotivação dos jovens para a escolha do magistério como carreira. Porém, há que se levar em consideração que aqui falamos em cursos de escolas públicas, onde o magistério é visto por muitos como uma certeza mínima de emprego garantido e rápido. Talvez isso se deva ao nível socioeconômico dos alunos dessas escolas, pois, se fossem de famílias abastadas não teriam a preocupação de ter que trabalhar após o término do ensino médio.

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Quanto a isso, Nóvoa (1991) aponta que a falta de critério para o ingresso nos cursos de formação de professores favorece a entrada de indivíduos que jamais quis ser professor ou que não se realiza na carreira. Segundo ele ainda, “é preciso contrariar a lógica de uma ‘passagem pelo ensino’, à espera de encontrar coisa melhor” (NÓVOA, 1991, p.23; aspas no original). É uma pena que o texto citado, embora já conte dozes anos ainda se mantenha atual, não podendo ser refutado. Em pesquisa realizada em 2009, pela Fundação Carlos Chagas, por encomenda da Fundação Victor Civita foi apontado que os alunos oriundos de escolas particulares estão certos que cursarão o ensino superior, com a possibilidade de apenas estudar, sem a necessidade de trabalhar, o que lhes favorece a escolha de carreiras que demandam grande tempo para leituras, estudos e pesquisas (como Direito, Medicina e Engenharia) ou que lhes rendam maiores ganhos financeiros futuramente, relegando a carreira do magistério e outras menos rentáveis aos jovens das classes mais baixas. Já os alunos oriundos de escolas públicas acreditam que terão grande dificuldade para ingressar nas universidades públicas, tendo como opção as universidades particulares e cursos mais baratos, como pedagogia e licenciaturas, o que demandará um custo a ser pago por eles mesmos, devido às condições financeiras de suas famílias e, para isso precisarão trabalhar. Cursos profissionalizantes são as escolhas mais acertadas nesse caso, segundo eles, uma vez que proporcionará ingresso no mercado de trabalho, o que poderá viabilizar o desejo de cursar o ensino superior. Os fatos descritos nos chamam a atenção para a escolha do magistério como uma profissão de “passagem”, pois possibilita a conjugação do trabalho com os estudos, o que contribui mais ainda para a queda na qualidade do ensino, uma vez que não há identificação pessoal com a carreira, nem satisfação, tampouco haverá investimento de tempo e dinheiro em qualificação profissional. Acabamos assim por manter cada um no mesmo “lugar social” de seus pais e antecessores. É a Educação cumprindo seu papel de reprodução do quadro social, o que é um paradoxo, já que ela também tem “uma capacidade potencial de redefinição social” (CONTRERAS, 2002, p.72). Quando se fala na ambição de estabilidade profissional – o que diz respeito mais diretamente aos jovens das classes populares, embora todos queiram sentir-se seguros profissionalmente, chegamos ao campo da escola pública, que acaba recebendo esses professores que assumem carreiras no magistério público pela

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segurança financeira mínima oferecida, porém buscam trabalhos alternativos para complementar a renda e, exercendo a mesma função de professor, em rede privada, o serviço público é sempre o sacrificado em detrimento do trabalho nas redes particulares. Afirmamos isso com conhecimento de causa e de muitos profissionais que conhecemos que vivem situação análoga a essa. Esse é outro fator que corrobora para a queda da qualidade do ensino no Brasil, deixando em desvantagem quem mais necessita da escola pública. Com o exposto, resta-nos concluir que a carreira docente deixa de lado o “glamour” que já tivera em outrora, ingressou em um estado de proletarização e hoje se apresenta como uma carreira mais favorável às populações de menor renda ou, em menos casos, em carreira de exercício por paixão e realização pessoal. Este panorama serve para nos situar em relação ao professor que pesquisamos – criador e mantenedor de blogs destinados a outros professores. Uma pessoa que, aparentemente, se identifica com o trabalho docente e nele se realiza profissionalmente. Estaria buscando/oferecendo nos blogs o complemento que faltou em sua formação e que julga faltar nas formações oferecidas atualmente? Sua disposição para criar, manter e pesquisar em blogs, relacionando-se com outros professores, trocando informações e conhecimentos em uma rede de formação mútua-contínua-não formal, que não é imposta por nenhum tipo de gestão extrínseca, antes, parte de sua motivação pessoal, serve de parâmetro para inferirse sua identificação com o magistério, perceber seu prazer com a tarefa de lecionar e sua satisfação com a carreira.

1.7 Formação de professores e trabalho docente A Na realidade, podemos colocar a hipótese de que a condição e a profissão docentes estão atualmente em fase de mutação. Maurice Tardif & Claude Lessard Com o avanço das tecnologias e a crescente inserção de crianças, jovens e velhos na rede mundial de computadores, o céu é o limite para a globalização que

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atualmente vivenciamos. Falar em comunidade local não faz muito sentido quando as fronteiras entre os espaços estão sendo desconstruídas e reconstruídos. É uma constante desterritorialização e reterritorialização, redefinindo espaço de contatos sociais virtuais e reais. Até mesmo as fronteiras entre real e virtual hoje são muito tênues e difíceis de precisar. Local e global já se confundem de tal maneira que fica complicado demais querer demarcar território. Se as escolas possuem páginas na internet, tornando “público” seus trabalhos, seu movimento e seu cotidiano, como definir até onde e a quem ela afeta? A internet, de todas as redes que conecta computadores é a mais conhecida e de alcance mundial. É possível acessá-la praticamente de qualquer lugar do planeta, bastando alguns poucos dispositivos. Nem ousarei citar algum, pois na publicação desse trabalho, já será obsoleto e estará ultrapassado meu exemplo. A mídia não apenas veicula informações, mas constrói discursos e produz significados. Estar conectado hoje é existir. A máxima de Descarte “Penso, logo existo” hoje já pode ser modificada para “acesso, logo existo”. Vincula, inclusive uma brincadeira entre os internautas que diz que, se uma coisa qualquer não está no Google10, ela não existe. Com o exposto, falar em educação hoje sem falar das novas exigências do trabalho docente, dos novos alunos em nossas salas, dos novos modos de aprender e ensinar e dos imensuráveis conhecimentos e informações disponíveis na internet, parece-nos falar de um processo educacional e de uma escola do passado, que já não existem mais, pois para além dos prédios, a escola somos nós: alunos, professores e demais atores educacionais que a povoamos. Essa nova escola, nesse novo cenário é que nos interessa e sobre a qual nós, pesquisadores, devemos nos debruçar para tentar entender seu ritmo, que pulsa no compasso da globalização e não tem como não percebermos nem voltarmos atrás, pois [...] vale dizer que, com as novas tecnologias, o lugar do saber se descentraliza e se expande, fazendo com que o conhecimento esteja em todo lugar e em nenhum lugar. (SILVA, 2001, p. 22)

A forma como os professores concebem o trabalho docente e a visão positiva ou negativa que têm da carreira docente vai interferir, inevitavelmente, em sua 10

Empresa multinacional de serviços on line e software dos Estados Unidos. O Google hospeda e desenvolve uma série de serviços e produtos baseados na internet e gera lucro principalmente através da publicidade.

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prática pedagógica. E, por falar em trabalho docente, vamos esclarecer o que chamamos neste trabalho de profissionalização docente. António Nóvoa (1991) fala de uma cultura profissional dos professores. Segundo ele, a produção de uma cultura profissional dos professores é um trabalho longo, realizado no interior e no exterior da profissão, que obriga a intensas interações e partilhas. O novo profissionalismo docente tem de basear-se em regras éticas, nomeadamente no que diz respeito à relação com os restantes atores educativos e na prestação de serviços de qualidade (NÓVOA, 1991, p. 27).

Nóvoa, Tardiff e Lessard concordam que a docência é uma atividade de interações humanas. O discurso de Nóvoa se afina com o de Contreras quanto à ética necessária ao trabalho docente. Tardif e Lessard (2011) compreendem a interação humana como fator de legitimação da profissão docente. Para eles “a presença de um ‘objeto humano’ modifica profundamente a própria natureza do trabalho e a atividade do trabalhador” (TARDIF; LESSARD, 2011, p.28). O fato de o professor lidar com outro ser humano, interagindo com ele, ensinando e também aprendendo, faz toda diferença na profissão docente, configurando-se como uma profissão de interação humana. “[...] ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos” (TARDIF; LESSARD, 2011, p.31). O professor exerce um trabalho interativo com outros seres humanos, um trabalho material, porém que também é cognitivo, sobre o outro, com todas as sutilezas que caracterizam as relações humanas. Nisso reside a centralidade da profissão docente para os autores. Os autores apresentam ainda a docência como um trabalho flexível, pois lidando com seres humanos, suas especificidades, peculiaridades e subjetividades, todas misturadas em um mesmo ambiente, sobe as mesmas condições, porém com reações tão distintas diante de delas, fazem com que uma aula, uma turma, um professor nunca seja o mesmo na presença do outro, do grupo, em dado momento do processo de ensino. A docência é, então, concebida como um “artesanato”, uma arte aprendida no tato, realizada principalmente às apalpadelas e por reações parcialmente refletidas em contextos de urgência. (TARDIF; LESSARD, 2011, p.46).

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Para Contreras “[...] a profissionalidade refere às qualidades da prática profissional dos professores em função do que requer o trabalho educativo”. E, mais adiante, eles completam o pensamento: falar de profissionalidade significa, nesta perspectiva, não só descrever o desempenho do trabalho de ensinar, mas também expressar valores e pretensões que se deseja alcançar e desenvolver nesta profissão. (CONTRERAS, 2011, p. 74).

O autor apresenta ainda três dimensões da profissionalidade docente que situam o professor em condições de dar uma direção adequada à sua preocupação em realizar um bom ensino e são importantes para conceber a autonomia docente a partir de uma perspectiva educativa. A saber: a) a obrigação moral: [...] acima das conquistas acadêmicas, o professor está comprometido com todos os seus alunos e alunas em seu desenvolvimento como pessoas, mesmo sabendo que isso costuma causar tensões e dilemas: é preciso atender o avanço na aprendizagem de seus alunos, enquanto que não se pode esquecer das necessidades e do reconhecimento do valor, que como pessoa, lhe merece todo alunado” (CONTRERAS, 2011, p.76).

E mais adiante complementam: “este aspecto moral do ensino está muito ligado à dimensão emocional presente em toda relação educativa” ( CONTRERAS, 2011,

p. 77). Novamente aparece a questão da interatividade nas relações entre

alunos e professores; b) o compromisso com a comunidade: em relação a isso o autor afirma que “a educação não é um problema da vida privada dos professores, mas uma ocupação socialmente encomendada e responsabilizada publicamente” (CONTRERAS, 2011, p. 79). Ou seja, cada sociedade vai formar professores dentro de sua cultura local para lidar com sujeitos também se desenvolvendo dentro dessa mesma cultura, então, há que se esperar certo modo de convivência social pertinente à comunidade onde o trabalho desse professor se dá. “Isso obriga a que as práticas profissionais não se constituam como isoladas, e sim como partilhadas” (idem); c) a competência profissional: o autor afirma que “a competência profissional transcende o sentido puramente técnico do recurso didático” (CONTRERAS, 2011, p. 82), referindo-se a uma competência complexa, que combina habilidades, princípios e consciência do sentido e das consequências das práticas pedagógicas (CONTRERAS, 2011, p.83).

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A seguinte afirmação de Tardiff e Lessard, sobre o trabalho docente nos remete ao também à ação dos professores blogueiros: a docência é um trabalho cujo objeto não é construído de matéria inerte ou de símbolos, mas de relações humanas com pessoas capazes de iniciativa e dotadas de certa capacidade de resistir ou de participar da ação dos professores (TARDIF; LESSARD, 2011, p. 35).

Essa interação, que pode ser participativa ou de resistência, está bastante evidente nos blogs de professores, muito mais participativa que de resistência, sendo que blogs os debates entre eles são quase sempre de concordância com o que é postado, quando não, de complemento ao que fora dito. Raramente refutando alguma afirmação ou informação. O mesmo já não acontece nos debates desenvolvidos nas redes sociais, como veremos mais adiante. Os autores consideram ainda do trabalho docente como status, que representa, no fundo, aspectos normativos da função e remetem à questão da identidade do educador, tanto dentro da escola quanto na sociedade. Onde antes se destacava a instituição escola, hoje se destaca o professor (TARDIFF; LESSARD, 2011, p. 50-51). É mais frequente ouvir-se a respeito do status dos professores que das escolas onde trabalham. E, por fim, os atores também relacionam a docência como experiência, remetendo às experiências acumulados pelos docentes ao longo da carreira, que fazem com que adquiram o chamado “domínio de turma”, por possuírem manejo das mais variadas situações, repetindo comportamentos que se mostraram eficazes; e também remetendo às experiências que marcam definitivamente a carreira do professor, amadurecendo-o e apurando seu profissionalismo. (TARDIFF; LESSARD, 2011, p.51). Isso porque ambos os tipos de experiências se dão no âmbito do processo ensino-aprendizagem, nas interações com os alunos, reforçando mais ainda o fato da docência ser primordialmente uma profissão de interações humanas.

1.8 Os modelos de formação e as marcas que imprimem nos docentes

Ser educador é educar-se permanentemente, pois o processo educativo não se fecha, é contínuo. Luis Eduardo Prada

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O professor blogueiro que observamos é um sujeito que se assume e se expõe publicamente como educador para além das salas de aula. Ao criar e gerenciar um blog ou criar perfis nas redes sociais, não há uma “obrigação”, uma cobrança de ninguém, nenhuma imposição para que este sujeito se apresente e interaja com as pessoas dando visibilidade à sua profissão, à sua escolha acadêmica, mas ela o constitui. Pesquisando os professores blogueiros, seus blogs e a forma como interagem com outros professores, sentimos a necessidade de buscar respaldo teórico a fim de compreender sua escolha por um determinado tipo de blog e, assim, poder classificá-los, tendo em vista a formação desses professores e a proposta, implícita ou não, de contribuir para a formação de outros professores que frequentam e/ou seguem esses blogs. Buscamos nos escritos de Gómez (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000) e de Pereira (PEREIRA; ZEICHNER, 2008) uma síntese dos modelos de formação mais comumente encontrados. Tal conhecimento nos ajuda a lançar um olhar mais esclarecido sobre os educadores que investigamos, em uma tentativa de compreender a escolha desses educadores em determinada configuração de seus blogs e a intencionalidade (ou não) de sua interferência na formação dos outros educadores que acessam e interagem com eles nesses blogs. Embora algumas nomenclaturas possam divergir e outros perspectivas e enfoques sejam apontados, parte-se basicamente de três classificações para elencar o panorama das formações docentes: técnica, prática e crítica. Não faz parte do escopo deste trabalho o detalhamento aprofundado desses modelos, porém apenas a compreensão de seus mais básicos princípios, a fim de nos auxiliar na classificação dos blogs pesquisados.

1.8.1 Perspectiva acadêmica de formação docente

Esta perspectiva concebe o ensino como um processo de transmissão de conhecimento e de aquisição da cultura que a humanidade acumulou ao longo de sua história. O professor é visto como um especialista nas disciplinas que leciona e

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sua formação está vinculada estritamente ao domínio dessas disciplinas. Essa perspectiva não se distancia muito da racionalidade técnica que veremos mais adiante, tanto que Pereira (2008), dentre os modelos de racionalidade prática, inclui o modelo acadêmico tradicional, que equivale à esta perspectiva. Gómez (2000) diferenciam dois enfoques extremos dentro desta perspectiva:  O enciclopédico, onde o importante é o acúmulo de conhecimentos, já que nesta perspectiva ensinar é transmitir conhecimento, então o professor deve saber muito para ter conteúdo para transmitir. O “como ensinar” não é a questão mais importante, pois acredita-se que o sucesso da aprendizagem está na obediência à sequência lógica da estrutura epistemológica da disciplina. Esse é um modelo de formação docente cuja lógica é a homogeneidade, pois leva a crer que basta saber um conteúdo e ir ensinando-o (transmitindo-o) paulatinamente, respeitando e seguindo certa hierarquia crescente de dificuldades, para que todos aprendam ou possam ao menos ser avaliados positivamente. Professores que atuam no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio, lecionando disciplinas específicas, figuram entre os docentes formados sobre este enfoque e também no enfoque a seguir.  O compreensivo, onde o importante é que o professor seja um intelectual que compreende logicamente a estrutura da matéria que leciona, sendo capaz de ensinar os conteúdos de suas disciplinas de modo que provoque a compreensão conceitual das mesmas. É ele quem coloca o aluno em contato com as aquisições científicas e culturais acumuladas pela humanidade, para tanto, sua formação deverá estar voltada para o estudo das estruturas epistemológicas de suas disciplinas, além de história e filosofia da ciência. E, para bem ensinar (transmitir), o professor precisa dominar técnicas didáticas.

1.8.2 Modelo ou perspectiva técnica de formação docente

Este modelo de formação, ainda dos mais difundidos, também denominado racionalidade técnica ou epistemologia positivista da prática, visa superar o estado

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antiquado e medieval do ensino como atividade artesanal, para elevá-lo ao status de ciência aplicada, uma vez que nesta perspectiva “o professor é um técnico que domina as aplicações do conhecimento científico produzido por outros e transformado em regras de atuação” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 356). Ainda segundo Pereira: de acordo com essa visão, a prática educacional é baseada na aplicação do conhecimento científico e questões educacionais são tratadas como problemas “técnicos” os quais podem ser resolvidos objetivamente por meio de procedimentos racionais da ciência (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 21).

Esse é um papel de passiva conformidade com as recomendações práticas dos teóricos e pesquisadores educacionais, ou seja, o professor, em sala de aula, apenas põem em prática os conhecimentos pedagógicos pesquisados e formulados por outros, sem responsabilidade pelas escolhas e pelas decisões do fazer pedagógico. (PEREIRA; ZEICHNER, 2008) O “como fazer” é ensinado para ser aplicado sem questionamento, pois garante a eficácia da atuação, uma vez que foi formulado por estudiosos da educação, legitimados pelo mundo acadêmico e científico. O papel da teoria seria iluminar o pensamento do professor. “Assim, para se preparar o profissional da educação, conteúdo científico e/ou pedagógico é necessário, o qual servirá de apoio para sua prática” (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p.22). A racionalidade técnica é uma ampla e influente perspectiva de formação, que se apresenta ainda hoje na formação dos professores brasileiros e de outros países, conforme afirma Pereira: em diferentes países do mundo, mesmo considerando algumas variações, a maioria dos currículos de formação de professores é construída de acordo com o modelo da racionalidade técnica. (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p.23)

Pereira

(2008)

apresenta

dentro

dessa

perspectiva

o

“modelo

de

transmissão”, que não se diferencia muito do “enfoque enciclopédico” apresentado por Gómez (200) e já descrito acima. Assim, apresentaremos a seguir o modelo de treinamento (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000) ou modelo de treinamento de habilidades comportamentais (PEREIRA; ZEICHNER, 2008), porém adotaremos o termo proposto por Gómez (2000) pela amplitude do mesmo.

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 Modelo de treinamento: este modelo visa treinar o professor nas técnicas, nas habilidades e nos procedimentos

que se mostraram eficazes nas

investigações dos teóricos e estudiosos da educação. Segundo Gómez: o objetivo prioritário é a formação, no docente, de competências específicas e observáveis, concebidas como habilidades de intervenção, as quais são consideradas suficientes para reproduzir na prática os resultados eficazes almejados (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 358)

Segundo este modelo, o treinamento do futuro docente na aplicação de técnicas dadas como eficazes é o suficiente para o sucesso da ação pedagógica. Um bom curso de professores é aquele que faz um bom “treinamento” nos docentes. Para além de conhecer os conteúdos das disciplinas a serem ensinados, o professor precisa saber como ensinar de modo eficiente, que técnica deve ser aplicada e em que circunstância deve-se optar por uma ou por outra, pois os professores “tratam com pessoas que necessariamente sentem, pensam e agem; reagem ao aprender. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000)”. E é justamente aí que esses modelos são criticados, pela inconstância do ser humano e pelos modos tão variados quanto imprevisíveis têm de agir e de reagir, tornando a convivência entre alunos e professores algo peculiar e específico demais para ser generalizado.

1.8.3 Modelo ou perspectiva prática de formação docente

Este modelo de formação docente se confronta com os princípios da racionalidade técnica, pois concebe o ensino como uma atividade complexa, que se dá em situações ímpares, imprevisíveis e que, portanto, não comporta a aplicação de técnicas, uma vez que cada situação necessita ser avaliada pelo professor que, fazendo uso de sua sabedoria profissional formulado no exercício da prática docente, reflete e delibera sobre a melhor decisão a ser tomada. Pereira (2008) cita Carr e Kemmis (1986) para ratificar a complexidade do processo educacional segundo a perspectiva da racionalidade prática: “[...] a visão prática concebe a

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educação como um processo complexo ou uma atividade modificada à luz das circunstâncias” (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 24). Ainda segundo Gómez, nesta perspectiva, “A formação do professor/a se baseará prioritariamente na aprendizagem da prática, para a prática e a partir da prática” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 363) e aposta no contato de profissionais em formação com outros mais experimentados, o que nos remete aos modelos de formação continuada, que são, geralmente, ministradas por profissionais com larga experiência na prática que se propõem a ensinar. Gómez afirma que a orientação prática confia na aprendizagem por meio da experiência com docentes experimentados, como o procedimento mais eficaz e fundamental na formação do professor e na aquisição da sabedoria que requer a intervenção criativa e adaptada às circunstâncias singulares e mutantes da aula. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 363).

“A prática não é apenas locus da aplicação de um conhecimento científico e pedagógico” (PRADA, 2006, p. 113), pois as demandas da prática docente exigem dos professores posicionamento e julgamento sobre a melhor forma de atuar e este julgamento estará apoiado em seus próprios conhecimentos e em sua experiência (PEREIRA; ZEICHENERM 2008, p. 25). É este conhecimento tácito que leva o professor a refletir sobre sua ação, a criar novas teorias aplicáveis a casos únicos, deliberando sobre sua prática. Isso é o que torna o trabalho docente tão peculiar e específico. Dentre os modelos de formação docente cujo enfoque baseia-se na racionalidade prática, Gómez (2000) apresenta:  O enfoque tradicional, que concebe o ensino como uma atividade artesanal, onde o conhecimento inerente ao fazer pedagógico é acumulado ao longo do tempo e transmitido aos professores em formação no contato com profissionais mais experientes. Isso nos remete aos artesãos e seus aprendizes nas oficinas artesanais, onde o fazer se aprende na prática, na observação do mestre exercitando seu ofício. Esse enfoque também nos faz pensar nos estágios realizados durante os cursos de formação de professores, “[...] no qual se prepara o aprendiz para aceitar lentamente a cultura profissional herdada e os papeis profissionais correspondentes” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 364).

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 O enfoque reflexivo sobre a prática, que traz em si “o desejo de superar a relação linear e mecânica entre o conhecimento científico-técnico e a prática na aula” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 365).

A sala de aula é um ambiente extremamente complexo, onde pessoas interagem em situações tão diversas quanto às próprias reações delas mesmas diante do inusitado de cada dia. Dessa forma, esse enfoque preconiza que seja impossível solucionar os problemas do dia a dia com a aplicação de alguma técnica específica. Cada situação única deve ser pensada de acordo com sua especificidade e, ao se refletir sobre ela, chegar-se à solução pontual e singular. Já Pereira (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p.27) apresenta outros três modelos baseados na racionalidade prática:  Modelo humanístico: no qual os professores são os principais definidores de um conjunto particular de comportamentos que eles devem conhecer a fundo;  Modelo de “ensino como ofício”: no qual o conhecimento sobre ensino é adquirido por tentativa e erro por meio de uma análise cuidadosa da situação imediata;  Modelo orientado pela pesquisa: cujo propósito é ajudar o professor a analisar e refletir sobre sua prática e trabalhar na solução de problemas de ensino aprendizagem na sala de aula.

1.8.4 Modelo crítico ou perspectiva de reflexão na prática para a reconstrução da prática

Nesse modelo ou nessa perspectiva foi onde encontramos a maior divergência de nomenclatura, porém percebemos as semelhanças entre as propostas. Pereira cita Carr e Kemmis (1986), que apresentam uma visão diferente da relação teórica-prática, uma visão crítica, em que o principal objetivo é a transformação da educação e da sociedade. (PEREIRA; ZEICHNER, 2008). Para

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Pereira os modelos de racionalidade crítica concebem a educação como uma ação historicamente localizada, que acontece sobre “um pano de fundo sócio-histórico e projeta uma visão do tipo de futuro que nós esperamos construir”, sendo uma atividade social, com consequências sócias. (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 28). Já Gómez salienta que: Na perspectiva de reconstrução social, agrupam-se aquelas posições que, com matizes diferentes, concebem o ensino como uma atividade crítica, uma prática social saturada de opções de caráter ético, na qual os valores que presidem sua intencionalidade devem ser traduzidos em princípios de procedimentos que dirijam e que se realizem ao longo de todo o processo de ensino-aprendizagem. O professor/a é considerado um profissional autônomo que reflete criticamente sobre a prática cotidiana para compreender tanto as características dos processos de ensinoaprendizagem quanto o contexto em que o ensino ocorre, de modo que sua atuação reflexiva facilite o desenvolvimento autônomo e emancipador dos que participam no processo educativo. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 373).

Ambos os autores, em relação aos modelos críticos, apontam a influência do processo ensino-aprendizagem nas transformações sociais, o que nos leva a inferir que se tratem apenas de nomenclaturas diferenciadas para lidar com uma mesma questão. Gómez (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000) apresenta dois enfoques dentro dessa ampla perspectiva:  Enfoque de crítica e reconstrução social: os modelos de formação docente ligados a este enfoque pretendem desenvolver nos professores e, consequentemente em seus alunos, valores singulares e concretos que favoreçam processos emancipatórios individuais e coletivos que permitam interferir e transformar a injustiça social atual, através do cultivo “em estudantes e docentes da capacidade de pensar criticamente sobre a ordem social” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 373 - 374). Dentro desse enfoque os programas de formação de docentes e os professores em atuação sustentam posições políticas quanto à instituição escolar e ao contexto social da escola. o professor é ao mesmo tempo um educador e um ativista político, no sentido de intervir abertamente na análise e no debate dos assuntos públicos, assim como por sua pretensão de provocar nos alunos o interesse e compromisso crítico com os problemas coletivos [...] (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 374).

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Os programas de formação de professores dentro desse enfoque enfatizam três aspectos: a aquisição por parte dos docentes de uma bagagem cultural de clara orientação política e social; o desenvolvimento de capacidade de reflexão crítica sobre a prática, afim de desmascarar as influências ocultas da ideologia dominante em qualquer instância do processo educacional; o desenvolvimento no professor de atitudes de busca, de experimentação e de crítica, de interesse

e trabalho solidário, de generosidade, de iniciativa e

colaboração. Gómez reconhece este como um enfoque “marginal” que, “embora esteja tendo um importante desenvolvimento teórico, tem muito pouca influência prática na formação do professorado” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p.375).  Enfoque de investigação-ação e formação do professor para a compreensão: no qual “o desenvolvimento do currículo é construído pelo professor e, por isso, requer a atividade intelectual e criadora do mesmo, para aprofundar seus conhecimentos acerca dos valores educativos e para transferir tais valores para a prática da aula” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p. 376), ou seja, os professores não agem como meros técnicos que aplicam no contexto de suas aulas o que fora aprendido durante a formação acadêmica, mas se transformam em investigadores de sua própria ação educativa, refletem sistematicamente sobre suas práticas e utilizam os resultados dessas reflexões para melhorar as aulas que ministram, como em um processo cíclico sem fim estabelecido, “já que cada momento de reflexão conduz inevitavelmente a outro momento de experimentação na ação, sobre o qual, por sua vez, é indispensável que se reflita” (SACRISTÁN; GÓMEZ, 2000, p.376), reiniciando o círculo. Esse é um esforço pela melhoria da qualidade do ensino mediante o aperfeiçoamento da prática e um instrumento privilegiado de desenvolvimento profissional docente.

Já Pereira (PEREIRA ; ZEICHNER, 2008) apresenta três modelos de formação docente baseados no modelo crítico de formação docente que, se observarmos estão relacionados aos modelos anteriores de Gómez:

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 Modelo sociorreconstrucionista: que concebe o ensino e a aprendizagem como veículos para a promoção de uma maior igualdade, humanidade e justiça social na sala de aula. Na escola e na sociedade.  Modelo emancipatório ou transgressivo: que concebe a educação como expressão de um ativismo político e imagina a sala de aula como um local de possibilidade, permitindo ao professor construir modos coletivos para ir além dos limites, para transgredir.  Modelo ecológico crítico: concebe a pesquisa-ação como um meio para desnudar, interromper e interpretar desigualdades dentro da sociedade e, principalmente, para facilitar o processo de transformação social. Pereira defende o movimento denominado “pesquisa de educadores” como sendo um verdadeiro movimento popular e democrático de produção de conhecimento e de transformações educacionais e sociais. Segundo ele, ao fazer pesquisa de sua própria prática o professor se aproxima mais dos agentes sociais com os quais interage – seus alunos, a comunidade escolar e circundante – e tem a oportunidade de mudar não só sua prática, mas a si mesmo.

Percebemos que em ambas as perspectivas e enfoques os modelos de formação de docentes baseados na racionalidade crítica apontam ou desembocam na pesquisa-ação (como proposto por Gómez) ou pesquisa de educadores (como proposto por Pereira), sendo que ambos os termos se referem ao fato de professores pesquisando e refletindo sobre a própria prática, fomentando em seus alunos o desejo de mudança da situação social atual, uma vez que refletindo sobre ela tem a oportunidade de perceber as desigualdades sociais e pensar maneiras de combatê-la, transformando-se assim ao longo do processo de aprendizagem, que é, ao mesmo tempo, uma ação educacional e política. Este movimento de pesquisa-ação ou pesquisa dos educadores não tem destaque no cenário educacional e não se configura como uma corrente forte nos programas de formação de professores, embora já no ano de 1997, no Fórum das Licenciaturas realizados na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, a

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professora Magda Becker Soares, segundo Pereira (2007) defende a formação do “professor investigador”, afirmando que tal formação deve começar na graduação, onde o “futuro professor não só aprenda, mas também apreenda o processo de investigação e, o mais importante, incorpore a postura de investigador em seu trabalho cotidiano na escola e na sala de aula” (PEREIRA, 2007, p. 118 - 119). A professora ainda afirma que essa postura deveria ser aprendida com os professorespesquisadores deveria ensinar tal postura praticando-a ao investigar a própria prática (PEREIRA, 2007, p. 118). Este pequeno relato sobre os principais modelos de formação docente não abrange, de forma alguma todos os modelos existentes, até porque, eles se mesclam, se transformam e sofrem alterações em decorrência da cultura, da política e das transformações sociais. Recorremos a eles para nos orientar o olhar durante a análise das respostas dos professores blogueiros e também das observações detalhadas que fizemos em seus blogs durante a pesquisa. Tais relatos nos ajudaram a inferir em qual perspectiva cada blogueiro se apoiou ao construir seu blog, contribuindo assim a formação de outros professores.

1.9 Para onde caminha a formação continuada No presente a mente, o corpo é diferente E o passado é uma roupa que não nos serve mais.

O que há algum tempo era jovem novo, Hoje é antigo. Belchior

A formação de professores caminha mais lenta, muito mais lenta que os avanços sociais e tecnológicos. O fantasma da obsolência nos assola fora e também dentro da escola. O que é ensinado para o aluno hoje pode não fazer muito sentido para o mundo fora dos muros da escola e a sala de aula é sempre, a cada dia, uma surpresa. O progresso nos cutuca dentro das escolas e, segundo Libâneo (1998), o mundo hoje

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Está marcado pelos avanços na comunicação e na informática e por outras tantas transformações científicas. Estas transformações intervêm nas várias esferas da vida social, provocando mudanças econômicas, sociais, políticas, culturais, afetando, também, as escolas e o exercício profissional da docência. (LIBÂNEO, 1998, p.15)

Talvez, por isso nunca estamos ou estaremos preparados para ela, sempre teremos a sensação de ter deixado de fazer algo. O novo nos afronta! As necessidades de novos modos de ensinar novos conhecimentos (alguns que ainda nem mesmo foram elaborados) para novos alunos, nascidos em uma era já tomada pelo digital, com outra “configuração”, pressiona mudanças no contexto educacional. Dessa maneira Os professores são pressionados a substituir os processos tradicionais de transmissão e reprodução de conhecimentos por formas de ensino que permitam ao aluno o desenvolvimento de formas cognitivas mais complexas, domínio de conhecimentos básicos, uso de novas tecnologias, desenvolvimento de valores e atitudes que o habilitem a aprender em cooperação. O propósito é oferecer uma educação que o prepare para construir com independência seu processo de aprendizagem contínua e para o exercício de uma postura crítica e participativa na vida social. (GATTI; BARRETO, 2009, p.227)

Essa pressão tem sobrecarregado por demais os professores e, em uma tentativa de “dar conta” de tudo não se consegue um trabalho de excelência, nem na transmissão dos conhecimentos acadêmicos nem em mudança de postura. Esclarecemos. A frase “exercício de uma postura crítica e participativa na vida social” nos faz sentir calafrios, pois quase sempre é um discurso que figura bonito nos planejamentos, mas não se traduz em verdade nos resultados da prática docente. Haja vista a banalização da corrupção no Brasil, exercida nos meios políticos, para citar um exemplo, que representa uma parcela pequena da população e os demais cidadãos, maioria absoluta, assiste, reclama “entre os dentes”, porém de protesto e ação contundente que dê resultados reais não se vê nada. As transformações sociais, políticas, econômicas e os avanços tecnológicos impõem mudanças também ao trabalho do professor, ao papel da instituição escola e, não poderia deixar de também impor à formação dos professores, que, em muitos casos, tiveram uma formação inicial muito aquém do desejável para se encaixarem no perfil de “bons professores”, necessitando de algo que “compensasse” a carência profissional, ou seja, a falta de conhecimentos que pudessem ajudá-lo a se tornar mais eficiente e ter uma prática mais eficaz.

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Com problemas crescentes nos cursos de formação inicial de professores, a ideia de formação continuada como aprimoramento profissional foi se deslocando também para uma concepção compensatória destinada a preencher lacunas da formação inicial. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 195)

Se a formação inicial não consegue dar conta da demanda de informações e de novos conhecimentos que se formam e acumulam não apenas no cenário educativo, mas na sociedade como um todo, que sofre mudanças em várias áreas, com reflexos nas escolas, como as famílias, por exemplo, que sofreram alterações em suas “configurações” e a escola não pode fechar os olhos para isso, ignorando esse novo status familiar. Essas mudanças sociais inspiram um novo professor, que, se não é “gestado” na formação inicial, é “lapidado” nas formações continuadas, que passam a ser o foco de políticas públicas em meados dos anos de 1990, quando [...] a institucionalização da formação continuada nasce com a intenção de adequar os professores aos tempos atuais, facilitando um constante aperfeiçoamento de sua prática educativa e social, para assim adaptá-la às necessidades presentes e futuras. (IMBERNÓM, 2010, p.19)

Ela é a possibilidade de se reconfigurar o professor que está em atuação, de se criar um novo perfil profissional para a profissão docente e de se mostrar uma necessidade intrínseca à prática pedagógica, uma vez que o professor, em sua condição de ser humano, inacabado, sabe que todo saber é provisório e pode a qualquer momento ceder lugar a outro, a uma nova verdade, tão efêmera quanto a própria vida. Ela é tão necessária à melhoria do ensino que é ministrado hoje nas escolas que vigora na legislação educacional como obrigatoriedade dos governos e tem recebido atenção e recursos dos de todas as instâncias. No artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) consta que os sistemas de ensino deverão promover a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério, aperfeiçoamento profissional contínuo, inclusive com licenciamento remunerado para estudos. No artigo 80 da mesma lei consta que o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância em todas as modalidades de ensino e de educação continuada. Mais adiante, no artigo 87, parágrafo 3º, inciso III frisa que é dever de cada município realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância. Em obediência à Lei, estados, municípios e distrito federal se organizam para atender o que ela preconiza

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e várias ações de fomento à formação continuada foram e são implementadas, como visto anteriormente no escopo do texto, porém a caminhada nos mostra que “o futuro requererá professores e uma formação inicial e continuada muito diferentes, pois o ensino, a educação e a sociedade que os envolvem serão também distintos” (IMBERNÓN, 2010, p. 31). Mas são necessárias também mudanças na postura e no compromisso dos professores em relação à atuação docente. Imbernón (2010) considera ser fundamental para o sucesso da formação continuada que, “no momento de planejar a formação, executá-la e avaliar seus resultados, os professores participem de todo o processo e que suas opiniões sejam consideradas”. Porém questionamos se os professores brasileiros já teriam alcançado tamanha autonomia profissional, necessária para participar desse processo de modo a adquirir respeito enquanto profissionais. Isso nos parece questionável por conta das posturas antagônicas que observamos nos professores: ou se mostram muito “politizados”, no que se refere às cobranças e questionamentos das condições de trabalho; ou se mostram absolutamente passivos, desinteressados pelas ações de formação, pelos fatos ocorridos fora de sua sala de aula, agindo como verdadeiros “tarefeiros”, fazendo aquilo que lhes é solicitado sem questionamento. Quanto ao exposto, Gatti e Barreto (2009) concluíram em pesquisa realizada no ano de 2009 que os professores “Mantêm em relação à formação continuada uma expectativa ambígua: pedem respostas prontas e únicas [relacionamos essa parte com os “tarefeiros”], ao mesmo tempo em que advogam valorização de sua experiência, criatividade e poder de decisão [e esta, relacionamos aos “politizados”]”. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 217 - 218) Concordamos plenamente com algumas questões salientadas por Imbernón (2010), apontadas como fatores a serem levados em consideração quando se discursa sobre a necessidade de mudanças urgentes nas formações inicial e continuada de professores. Segundo ele, os fatores seriam: as transformações políticas e sociais (novas tecnologias, nova economia, pós-modernidade, crise da família ou, melhor dito, constituição de outras famílias, diversidade, multiculturalismo, etc.); certos fracassos na aplicação das reformas baseadas excessivamente no currículo; a idade dos professores; as mudanças sociais na infância e adolescência; os problemas derivados do contexto social; o avanço de certas ideologias neoconservadoras e neoliberais; as “situações de conflito e de reivindicação” que podem ocasionar a formação, de forma que uma boa formação provoca inovação e em situação de escassez provoca uma justa reivindicação. (IMBERNÓN, 2010, p. 36)

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Manter o mesmo caminho das formações tendo em vista os novos atores, os novos cenários e os novos públicos é garantir o mesmo resultado que se tem hoje: muita formação para pouca mudança. Talvez seja porque ainda predominam políticas e formadores que praticam com afinco e entusiasmo uma formação transmissora e uniforme, com predomínio de uma teoria descontextualizada, válida para todos sem diferenciação, distante dos problemas práticos e reais e fundamentada em um educador em um educador ideal que não existe. (IMBERNÓN, 2010, p.39)

Esse comentário traz à tona os eventos ditos de formação, nos quais os formadores, desconhecendo a realidade dos formandos, fazem suposições, apresentam sugestões, conselhos, dicas e orientações genéricas, que não se aplicam à “base da pirâmide”, que são suas salas de aula, seus alunos, suas escolas. Não há sintonia com as necessidades e as dificuldades dos professores (GATTI; BARRETO, 2009). Não se faz formação apenas para ouvidos e olhos atentos. É preciso ouvir os professores, conhecer suas necessidades e dar crédito aos seus saberes, partindo deles para planejar as ações de formação, que precisa ser dialógica. O autor ainda expõe três ideias gerais a fim de sugerir o que fazer na prática da formação:  “Não começar do zero”. Processos anteriores não devem ser desprezados. O que vem dando certo deve ser mantido, ampliado, valorizado e, o que vier a ser criado, que seja a partir de experiências exitosas, inspirado nelas. É uma insanidade perigosa exigir que um professor abandone os meios que utiliza com segurança e que demonstram dar resultados para “forçá-lo” a trabalhar de uma maneira dita inovadora por conta de um modismo ou de uma crença em sucesso, que venha de cima para baixo.  “Evitar os processos inacabados”: que o autor chama de “curto-circuito”. A descontinuidade das iniciativas, desprezando tudo feito por uma gestão administrativa anterior, como é costume da classe política de nosso país, lança por terra ações de sucesso, que deveriam ter continuidade a fim de se alcançar os resultados planejados. O trabalho pedagógico não é uma ação instantânea, para o momento, ainda mais quando se trata de formação

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humana. Há que se esperar o momento certo da semente brotar e dar seus frutos. Esses curtos-circuitos também acontecem quando há uma ruptura na formação, quando o professor não se sente seguro ou confortável para experimentar em sua prática os novos conhecimentos adquiridos nas formações, necessitando de acompanhamento.  “Cursos de formação não deveriam ficar apenas na teoria explicativa”: o autor sugere que as demonstrações ou simulações deveriam ser levadas para as salas de aula, aplicadas e depois retornarem em forma de relato, de discussão, de análise da concretização da prática nas diversas situações problemáticas, observando-se, as complexidades que forem surgindo, acompanhando coletivamente a implantação das novidades no contexto escolar. Esta reflexão favoreceria aos professores um amadurecimento profissional, além de um estímulo à sua criatividade, uma vez que vislumbraria as possíveis dificuldades encontradas e teriam que criar soluções para saná-las. Por outro lado, os professores não estão parados, passivos, alheios à passagem do tempo e das transformações sociais que os circunda, e as proposições da formação insistem em esquecer que o professor, em seu livre arbítrio escolhe seu caminho profissional, independente da formação em serviço ou das que são oferecidas por suas instituições. O que relatamos até aqui serve apenas para situar o leitor sobre a situação das formações continuadas no Brasil hoje. Não temos a pretensão de fazer resumo da história da educação brasileira ou mesmo apresentar em detalhes os modelos de formação, pois, em ambos os casos, existe vasta bibliografia sobre os temas e mesmo um elevado número de pesquisas e estudos disponíveis. Tal localização se faz necessária para tratarmos das alternativas não formais que alguns professores têm buscado para aprimorar sua formação, dando assim continuidade a ela, pois vemos surgir um autogerenciamento por parte dos docentes, que não mais se isolam com suas dúvidas, incertezas e insegurança, mas, valendo-se da democratização da informática, lançam-se na internet para socializar saberes, partilhar práticas em uma rede de colaboração mútua, que é midiatizada pelo computador e ganha alcance nunca antes imaginado.

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1.10 A autonomia necessária ao docente na atualidade O papel de uma educação liberal é “criar um sentido de valor diferente do de dominação, ajudar a criar os cidadãos sábios de uma comunidade livre e, através da combinação de cidadania com liberdade no âmbito da criatividade individual, capacitar os homens para dar à vida humana o esplendor que alguns poucos têm se mostrado capazes de atingir. Bertrand Russell Não dá para falar em autonomia docente sem antes entender com clareza o que o termo significa. E, embora autonomia docente seja um jargão entre os educadores, tal qual educação de qualidade, o termo encerra um significado valioso que devemos resgatar e reconstruir para validar nosso discurso enquanto educadores (CONTRERAS, 2002). Buscamos as definições mais primárias do termo antes de nos apoiarmos em Contreras para uma definição mais acadêmica e próxima de nossas crenças. Fomos ao dicionário eletrônico Houaiss e encontramos que se trata da capacidade de governar-se pelos próprios meios; direito reconhecido de um país de se dirigir segundo suas próprias leis; direito de um indivíduo de tomar decisões livremente; capacidade da vontade humana de se autodeterminar segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida; capacidade de um veículo percorrer uma distância em determinado tempo sem que haja necessidade de reabastecimento. No dicionário Eletrônico Michaelis encontramos ainda, como definição de autonomia: autodeterminação, liberdade moral ou intelectual e independência funcional de partes do organismo ou do organismo inteiro. No Diccionario de Filosofia (MORA,1981, p.255) encontramos a explicação de que o termo autonomia é muitas vezes usado em dois sentidos, sendo um sentido ontológico e outro sentido ético. Atualmente os professores apresentam uma posição negativa em relação à carreira docente, o que nos remeteu para Contreras e seu alerta para a perda da autonomia docente

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A desqualificação, a rotina, o controle burocrático, a dependência de um conhecimento alheio legitimado e a intensificação conduzem à perda de autonomia, perda que é em si mesma um processo de desumanização no trabalho. (CONTRERAS, 2002, p. 194).

Essa perda de autonomia estaria ligada à relação corrompida entre a prática educativa e sua finalidade. Há um controle sobre os resultados finais desejados por instâncias acima dos professores, o que direciona a sua prática para os resultados esperados, previstos e desejados, mas não por ele, enquanto profissional. Aqui fazemos uma menção clara às avaliações externas, institucionais, entre outras. Pode ser que em algum momento ele incorpore o discurso produzido por essas instâncias superiores, o que configuraria, de vez, sua perda de autonomia, passando para uma situação de autômato – quando fazem no automático o que esperam que ele faça –, não autônomo. Por conseguinte, a relação entre autonomia e profissionalidade é, ao mesmo tempo, uma reivindicação da dignidade humana das condições trabalhistas dos professores e uma reivindicação de oportunidade para que a prática de ensino possa se desenvolver de acordo com determinados valores educacionais, valores que não sejam coisificados em produtos e estados finais, mas que atuem como elementos constitutivos, como orientadores internos da própria prática. (CONTRERAS, 2002, p. 194).

Porém, dentro de sua sala de aula, o professor está sozinho em sua tomada de decisões em relação aos caminhos de aprendizagem de seus alunos e se vê obrigado a assumir, por si só, um compromisso pessoal com os casos concretos, a atuar em função de suas próprias interpretações, convicções e capacidades. (CONTRERAS, 2002). O que quer dizer que ele tem certa autonomia, mas não sabe a “força” que tem ao possuir essa autonomia. Tal qual o elefante, forte e poderoso, que aceita as amarras e os comando do ser humano, muito mais frágil que ele. Contreras nos alerta para a distorção que este fato pode gerar em relação à autonomia profissional, pois tomar as decisões em relação aos caminhos de aprendizagem de sua turma não quer dizer que os docentes não terão que prestar conta de suas decisões ou não devam levar em consideração os interesses de outros setores envolvidos no ensino ou na gestão escolar. O professor não é um “técnico absoluto”, que tem todos os direitos reservados, enquanto educador, para decidir sozinho e por si só quais as melhores decisões a tomar em relação ao trabalho pedagógico e à aprendizagem de seus alunos. O domínio da técnica de

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ensino e do conhecimento científicos não é suficiente para neutralizar suas obrigações morais em relação ao futuro acadêmicos de seus alunos, pois A autonomia, como os valores morais em geral, não é uma capacidade individual, não é um estado ou um atributo das pessoas, mas um exercício, uma qualidade da vida que vivem. (CONTRERAS, 2002, p. 197)

A autonomia do professor vai se atualizando, se configurando no dia a dia das relações da sala de aula, na mediação dos conflitos diários é que surge a necessidade de se ser autônomo, de se ter posturas autônomas, de se vivenciar a autonomia docente. Ela é construída circunstancialmente nos interstícios das relações diárias, enquanto se desenvolve o trabalho docente. Ela não é uma condição, mas uma construção que se estabelece no âmbito das relações sociais (CONTRERAS, 2002). Mais especificamente a autonomia nos auxilia a compreender a ação dos blogueiros e o modo autônomo como agem.

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2 CULTURA & COMUNICAÇÃO

A cultura tornada integralmente mercadoria deve também se tornar a mercadoria vedete da sociedade espetacular. Guy Debord

2.1 Blog: uma maneira de se colocar na rede

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. Mário Quintana

Nosso cotidiano foi modificado pelas novidades que foram aparecendo e das quais nos apoderamos rapidamente e a partir daí aprendemos maneiras diferentes de fazermos o que sempre fizemos. Objetos ficaram obsoletos, roupas e calçados saíram de moda, modos de se comportar não fazem mais sentido. Mudaram as coisas, o cotidiano e as maneiras de as pessoas se relacionarem. Fomos aos poucos invadidos por uma série de palavras que já não nos causam mais nenhum estranhamento. Já quase não falamos mais em cartas, mas mandamos e-mails. Cartas só na lembrança das canções, que falam das que são trazidas pelo carteiro e, na possibilidade de serem notícias ruins, são rasgadas e queimadas. Ou ainda na poesia de Pessoa, onde são ridículas cartas de amor! Não estranhamos mais palavras como chat, software, hardware, messenger e outras, mesmo não fazendo parte de nosso idioma. Sabendo que mouse é camundongo em inglês, ninguém se remete ao animal quando ouve a palavra no contexto informático, mas todos se lembram do periférico computacional. E hoje já encontramos “baixar” nos dicionários de Língua Portuguesa fazendo referência à transferência de arquivos digitais via internet. A supremacia do inglês sobre outras línguas é vista na massificação de palavras de origem estrangeira que fazem parte do campo semântico da informática. Proibir tais palavras em qualquer idioma seria tentar impedir o avanço dos aparatos tecnológicos. Elas chegam “normalizadas”, ou seja, aceitas como palavras de um

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idioma globalizado. Também já assimilamos palavras como digital, eletrônico e virtual.

Tudo faz parte de um pacote tecnológico pertinente ao tempo que

vivenciamos. Diários sempre existiram, onde as meninas, em especial, relatavam suas aventuras diárias, as tristezas de amores não correspondidos ou os beijos secretos trocados com efêmeros amores eternos. Hoje eles já não são mais de papel, são digitais e, ao contrário dos antigos, cadernos com chaves, são públicos e para ter acesso a eles, basta um clique. “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”, canta Lulu Santos, marcando a evolução da vida. Tudo caminha por estradas que só permitem mão única, de direção sempre para frente, sem retornos. Se evoluem os equipamentos eletrônicos, também evoluem os meios digitais. A internet, maior ícone da cibercultura, também sofreu mudanças com o passar dos tempos. Ela evolui do que é chamado de web 1.0 para a web 2.0, conforme mostra o quadro a seguir: Quadro 6 – Diferenciação entre WEB 1.0 e WEB 2.0

Fonte: COUTINHO ; JUNIOR, 2007, p. 200.

Na web 1.0 havia menor a quantidade de ferramentas disponíveis e os usuários eram mais consumidores de informações e conhecimentos que produtores. Com a evolução que se seguiu, quem consome também produz informações e os conhecimentos circulam livremente, sempre reproduzidos, modificados e recriados por quem dele se apropria. As novas ferramentas colaboram para isso. O maior potencial da internet é a capacidade de conectar pessoas, o que dá a humanidade a chance de fazer coisas nunca antes imaginadas. A chance de colaboração sem precedente. É a possível era das cooperações, desde que as pessoas queiram e se engajem para que aconteçam. É o momento de se tentar o

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impossível, de se experimentar, de se lançar em projetos ousados e em vida nova! Mas tudo isso há que se querer... Muito do que circula pela internet é a versão digital de algo analógico, que já existia. Mudamos apenas o jeito de fazer. O novo se cria a partir do velho. O quadro abaixo exemplifica bem isso: Quadro 7 – Gêneros emergentes e gêneros já existentes

Fonte: MARCUSCHI apud MARCUSCHI ; XAVIER, 2010, p.37.

Neste trabalho nos interessa estudar a ferramenta weblog ou simplesmente blog, que se tornou uma verdadeira febre na internet e, segundo Máximo, essa febre começou [...] em meados dos anos 1990, quando alguns “sites pessoais” passaram a ser preenchidos, de forma sistemática, com relatos e apontamentos do dia a dia dos seus autores, com certa ênfase para aqueles episódios frequentemente entendidos como pertencentes à esfera da “vida privada” ou da “intimidade”. O sucesso desses sites em termos de números de acessos (de audiência) criou um apelo comercial que impulsionou, em grande parte, a criação de serviços que facilitassem a publicação pessoal na internet e, ao mesmo tempo, dessem conta do formato e da dinâmica de atualização que se configuravam. O termo blog, ou weblog, destinou-se, então, à denominação daquilo que passou a ser frequentemente entendido como uma reedição dos “diários íntimos” tradicionais e a ser chamado, também, de “diários virtuais”. (MÁXIMO, 2007, p. 28)

De lá para cá esta ferramenta evoluiu com o uso, para atender a necessidade dos usuários, que se apoderaram dela como forma de “botar a boca no mundo”. De jornalistas a estilistas ou ainda adolescentes preocupados com suas questões pessoais, logo todos viram a facilidade de se lançar na rede mundial de

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computadores, conquistando o seu espaço nessa teia, tornando-se um fio dela. A pessoa que cria e administra o blog é chamada de blogueira11 e a pessoa que se inscreve para acompanhar o blog é chamada de seguidora. Aquelas que apenas visitam, sem acompanhar, são os visitantes. Em 2002, a imprensa brasileira estimava que existissem 170.000 escreventes de blogs no Brasil e a cada dia surgiam mais 2.000 (KOMESU, 2010). Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que hoje (ano de 2013), já existam mais de 7.000.000 (sete milhões) de brasileiros que criam e mantém blogs sobre os mais variados assuntos. Desses, interessa-nos aqueles que são criados e mantidos por professores e são destinados a outros professores. Nos quais o que há de pessoal implica em “publicidade” e não em “intimidade”. Esses professores mostram o que sabem fazer, aquilo em que são bons. Uma entrevistada fala em mostrar no blog, além de seu trabalho, seus fracassos, mas isso não é visto em momento nenhum... Figura 5 – Perfil da blogueira Nº 13

Fonte: blog Nº 13. Cristina Silveira, abril de 2013.

Isso por que “o que se expressa nos blogs não é a “vida como ela é”, mas um cotidiano encenado, dramatizado por meio de jogos performáticos que ensejam uma apresentação do eu” (MÁXIMO, 2007, p. 29).Cada um só mostra aquilo que deseja mostrar. Na verdade, mostra aquilo que foi simbolicamente “combinado” com os demais agentes dessa interação. Explicando melhor, ao manter um blog e através dele interagir com outras pessoas, o blogueiro vai moldando seu “eu” para atender 11

A pessoa que tem por costume visitar o blog também pode ser chamada de blogueira.

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as expectativas do “outro” que o assiste e, assim, esse outro vai dando visibilidade e legitimando o “eu” do blogueiro. Em relação ao modo como isso se dá, Máximo, recorrendo à obra de Goffman (1995), afirma que [...] em interação, os sujeitos representam, atuam, representando papéis sociais, e devem controlar a impressão que os outros recebem da sua atuação. Por sua vez, este processo não se dá fora de uma gramática interacional, de um conjunto de normas, códigos e regras sociais relativas ao contexto específico em que a interação se desenvolve, que devem ser conhecidas e reconhecidas pelos participantes que colaboram na construção de uma ‘definição geral da situação’. (GOFFMAN, 1995, p. 29).

Os blogueiros se constroem “em” e “na” relação com os outros. Por isso vemos modificações ao longo de seus blogs, que vão se transformando com o passar do tempo, por conta das “reavaliações” que se dão nessas interações. O blog é uma ferramenta de auto expressão, que dá ao autor liberdade de expressão e a oportunidade de trabalhar de forma colaborativa com outras pessoas. É uma das ferramentas mais populares da internet, onde seu criador ou autor publica o que bem entender, sem a necessidade de editor, conselho editorial ou qualquer tipo de autorização para isso e sem correr o risco de “censura”. E o faz para quem quiser ler, ver, ouvir, desfrutar. Nele é possível publicar textos, vídeos, imagens e músicas. É possível também copiar de outros blogs, de portais, de sites, fazendo dele um espaço de replicagem. E, para os educadores, especialmente, é uma ação voltada à universalização das informações e do conhecimento. Um blog bem movimentado pode fazer de seu autor desconhecido, um ilustre conhecido na rede e dela para as demais mídias. Aliás, a internet tem também essa característica: ela engloba todas as outras formas de comunicação humana, seja por textos, imagens, vídeo, som... Ainda só não foi inventada uma maneira de se tocar o outro fisicamente via internet e não nos arriscaremos a dizer que tal façanha seja impossível, apenas porque hoje o seja. O improvável está, provavelmente, no devir. Para a fama em qualquer meio há que se depender do outro: que o veja, que assista, que visite, que dê ibope. Isso nos faz lembrar que não somos nada sem que haja um “outro”. É na existência desse “outro” que nos construímos. E conclui Komesu (KOMESU, 2010, p.138) que “o sucesso do exibicionismo, [...] deve-se, também, ao olhar do Outro, leitor e telespectador atentos, computáveis enquanto audiência [...]”. mas não há de se negar que é um espaço de trocas e

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[...] o que se troca nos blogs é, acima de tudo, da ordem da cortesia, da “gentileza”. “Gentileza gera gentileza”: esta ideia, central ao entendimento nativo de como operam as trocas nos blogs, é familiar ao universo da dádiva, pois enfatiza a gratuidade e a espontaneidade dos gestos em detrimento da obrigação e do interesse. Visitando, comentando e linkando outros blogs, os blogueiros se dispõem ao vínculo social e fazem isto como um ato voluntário, pautado no “prazer”, no “gosto” [...]. (MÁXIMO, 2007, p. 39)

2.2 Caracterização da ferramenta blog

Nem todos os blogs são iguais ou possuem os mesmos elementos, mas eles são bastante parecidos e algumas características são comuns a maioria deles. Listaremos a seguir algumas dessas características que são pertinentes aos blogs, isso ajuda a situar o leitor que não esteja familiarizado com essa ferramenta da web.  Aparência Uma marcante característica dos blogs é que, em geral, eles têm organização muito parecida, com cabeçalho contendo o nome do blog, data e alguma chamada (frase ou desenho que o identifique). Ao escolher a aparência ou visual do blog (conhecida como template), o usuário é limitado às imagens e modelos oferecidos pelo hospedeiro, mas não são poucas as possibilidades. Existem também sites que oferecem template para baixar e personalizar o blog. Sendo a internet um espaço de alcance incalculável, com tantos outros blogs disponíveis, como atrair a atenção do leitor para ele? Cada blogueiro investe em componentes que possam tornar seu blog mais atraente aos olhos do visitante. Remetendo aos blogs que pesquisamos, uns investiram em uma aparência sóbria, enquanto outros em uma aparência mais jovial, definida por uma blogueira como aparência “fofa” e outros ainda ficaram no que chamaríamos de “meio termo”. As imagens a seguir são de alguns dos blogs que pesquisamos.

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Figura 6 – Aparência do blog Nº 07

Fonte: blog Nº 07 Cristina Silveira, abril de 2013.

Figura 7 – Aparência do blog Nº 14

Fonte: blog Nº 14 Cristina Silveira, abril de 2013.

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Figura 8 – Aparência do blog Nº 5

Fonte: blog Nº 05 Cristina Silveira, abril de 2013.

 Postagens ou “post” É o que garante a especificidade do blog: a possibilidade de publicar textos, imagens e vídeos, a qualquer hora e utilizando as ferramentas do servidor, sem necessidade de capacitação ou da ajuda de um webdesigner para isso. É o que dá “alma” ao blog e faz com que visitantes entrem nele e queiram segui-lo ou não. Alguns blogs são atualizados diariamente, outros semanalmente ou mensalmente e, em alguns casos, até várias vezes por dia. Tudo depende da disponibilidade do blogueiro. É possível também fazer agendamento de postagem, especificando a data que deseja que seja publicada, mantendo, assim, o blog atualizado mesmo durante viagens ou em período de férias. A maioria dos blogs arquiva as postagens em ordem cronológica inversa (da mais recente para as mais antigas), classifica por assunto (marcadores) ou gera uma lista das mais acessadas. Essas listas ajudam os frequentadores a fazerem buscas por assunto, por postagem ou ainda por data.

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Figura 9 - Organização das postagens antigas nos blogs de Nº 15, 14, 6 e 2, respectivamente

Fonte: blogs de Nº 15, 14, 06 e 02 respectivamente. Cristina Silveira, abril de 2013.

Preocupados com a autoria dos materiais postados no blog, alguns blogueiros deixam ao final da página inicial uma recado para os visitantes, deixando clara a intenção de dar os devidos créditos aos materiais postados no blog, caso haja qualquer tipo de requerimento de reconhecimento da autoria: Figura10 – Solicitação de autoria de materiais postados.

Fonte: blog Nº. 13. Cristina Silveira, abril de 2013.

O interessante neste caso é que a autora do blog postula como sendo de sua autoria as atividades retiradas de várias fontes, como diz mais adiante no texto. Perguntamos se a enorme circulação de materiais na rede põe em xeque a propriedade intelectual, que entra no “esquema” global, sendo de todos e não sendo de ninguém? Essas são curiosidades para outros momentos, reconhecemos... Notamos, porém, a forma respeitosa como a blogueira se coloca diante do leitor de seu blog, mostrando-se disposta a “dar a César o que é de César”. Entendemos essa postura e o recadinho, uma vez que há uma grande circularidade de atividades e materiais entre os blogs de mesma categoria e que obedecem a uma mesma

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“linha editorial”, com especificidades semelhantes e é costume dos blogueiros “replicarem” essas postagens.  Comentários às postagens Na maioria dos blogs é possível comentar as postagens, pois existe um espaço para isso, abaixo dela. Caso o autor do blog ache que o comentário do visitante é inapropriado, ele simplesmente o exclui. Isso evita, às vezes, ao autor do blog a possibilidade de um embate ou de um confronto que ele não deseja ter. Alguns blogueiros ativam a opção de envio e cópia dos comentários no blog para seus e-mails, dessa forma, mesmo que não entrem no blog, tomam conhecimento dos comentários feitos e podem responder aos visitantes. Recebemos alguns e-mails de blogueiros que contatamos por comentários às postagens.

Figura 11 – Comentário deixado no blog Nº 18, convidando para participar da pesquisa

Fonte: blog Nº 18. Cristina Silveira, abril de 2013

Figura 12 – Cópia do comentário que segue para o e-mail do autor blog

Fonte: e-mail pessoal da pesquisadora. Cristina Silveira, abril de 2013.

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Figura 13 – Retorno do autor do blog

Fonte: e-mail pessoal da pesquisadora. Cristina Silveira, abril de 2013.

 Anúncios Todos os blogs fazem parte da blogosfera12. Nesse espaço, alguns blogueiros se destacam por algum fato relevante e seus blogs recebem tantas visitas (também são chamadas de acesso) que acabam ficando famosos, como foi o caso da blogueira cubana Yoani Sánchez13, presa por divulgar em seu blog notícias sobre as arbitrariedades cometidas pelo governo de seu país. Outros ganham dinheiro com os anúncios que são veiculados em seu blog, como é o caso a seguir: Figura 14 – Anúncio em blog de educador

Fonte: blog não participante da pesquisa. Abril de 2013.

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Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa como sendo o espaço virtual os blogs ou o conjunto de blogs. 13 Filóloga e jornalista cubana que alcançou fama internacional e numerosos prêmios por seus artigos e suas críticas à situação social em Cuba, usando para isso um blog.

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Figura 15 – Anúncios em blog de educadores

Fonte: blogs variados não participantes da pesquisa. Abril de 2013.

Figura 16 – Anúncio que aparece em blog de educador

Fonte: blog de educador não participante da pesquisa. abril de 2013.

Todos esses anúncios foram retirados de blogs de educadores. Alguns são relacionados ao tema do blog, como é o caso dos anúncios de apostilas e livros de interesse de professores da educação infantil e séries iniciais, já outros são anúncios dos mais variados produtos ou serviços. O Adsense é uma ferramenta do Google que administra os anúncios nos blogs, pagando aos blogueiros valores que estejam de acordo com a quantidade de visualização deles. Uma blogueira nos informou em entrevista pelo Skype que, ao fazer o blog, a pessoa diz se aceita ou não anúncios nele.

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Na página de abertura do Blogger, um dos maiores hospedeiros de blogs, é apresentada explicitamente a possibilidade de o blogueiro ganhar dinheiro com seu blog através dos anúncios: Figura 17 – Página de abertura do Blogger

Fonte: Disponível em:. Acesso em: abr.2013.

Nessa página é oferecida a possibilidade de se conhecer vários blogs, ver os tipos de configurações possíveis, as ferramentas disponíveis e as vantagens, como acesso às estatísticas de visitas e as formas de se anunciar. Existe, inclusive, um vídeo explicativo, mostrando todas essas possibilidades. Abaixo está a imagem do administrador dos anúncios que são vinculados nos blogs do hospedeiro Blogger. Esta imagem foi retirada de um e-mail recebido por uma blogueira, na época do acerto de contas referente ao pagamento dos anúncios e nos foi enviado espontaneamente pela blogueira, a fim de conhecermos o material pesquisado. Segundo ela, os pagamentos são feitos em forma de depósito em conta corrente que é informada ao se aceitar anúncios nos blogs, o que é facultativo ao blogueiro.

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Figura 18 – Imagem do administrador de anúncios AdSense do Google

Fonte: Gloogle Adsense. Abril de 2013.

Alguns blogs quando são acessados abrem junto um blog exclusivo de propaganda e, em muitos casos, são páginas de venda de empresas conhecidas, como no caso abaixo, que abre ao se acessar um blog da categoria educação: Figura 19 – Página de anúncio que se abre ao clicar em alguns blogs

Fonte: site de vendas on line. Disponível em: < www.polishop.com.br>. Acesso em: abr. 2013

Nem sempre a página que se abre é a mesma, mas todas são de empresas de vendas, como roupas, calçados, utensílios para casa, ferramentas etc. Para muitas pessoas os blogs são fonte de informações, lazer ferramenta de trabalho e auxílio de diversos profissionais, especialmente jornalistas, repórteres e professores. Muitos se prestam também a fazer divulgação artística das mais variadas modalidades, possibilitando a publicação de artistas independentes como poetas, desenhistas, artesãos e fotógrafos, que antes não tinham como mostrar seu trabalho para tantas pessoas sem ter que pagar caro pela publicidade. Isso também não deixa de ser um tipo de anúncio.

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Nos blogs não são feitos apenas anúncios de produtos e serviços alheios, mas também do próprio blogueiro em alguns casos. Existem educadores que aproveitam o contato fácil com diversos outros colegas de profissão para vender materiais que confeccionam, sejam materiais pedagógicos ou artesanato. Colocam imagens dos produtos à venda ou comentam sobre eles com os usuários, disponibilizando um e-mail para contato ou site onde possam adquiri-los:

Figura 20 – Página de contato para venda de material em blog de educador.

Fonte: blog Nº 14, abril de 2013.

Neste caso o material oferecido é para enfeite das salas e a compra é combinada por e-mail.

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Figura 21 – Comentário com solicitação de material

Fonte: blog Nº 14, abril de 2013.

Neste outro caso a seguidora se interessa por materiais que a blogueira disponibiliza em arquivo digital, porém não diz se é pago ou não, mas indica o site onde ela pode baixar os arquivos. Em muitos casos, para baixar arquivos nos blogs o interessado precisa ser cadastrado nele, conforme mostra a imagem a seguir: Figura 22 – Página para baixar arquivos em blog de educador

Fonte: blog Nº 14, abril de 2013.

Essa é uma maneira de o blogueiro ter controle sobre a quantidade de acesso ao material e também de cobrar dos usuários, se for o caso.

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Existem ainda os anúncios que são feitos como propaganda subliminar pelo autor do blog, que posta algum material sem a intenção de vendê-lo, mas colaborando para sua divulgação. Figura 23 – Propaganda de material postada no blog de Nº 1

Fonte: blog Nº 1. Abril de 2013.

 Blogrolls14 Todos os blogs trazem uma lista de outros blogs, que, em geral, são similares a eles ou tratam de assuntos afins. Alguns apresentam apenas o link15 endereçando para eles, outros, além do link trazem alguma imagem do blog. É costume entre os blogueiros solicitar que outros coloquem o link de seus blogs no blog deles, como vemos na imagem abaixo.

14

15

Adotaremos aqui a definição de Máximo (2007, p. 30) cultivadas pelos blogueiros”

“listas de links para blogs “favoritos”

Elemento de hipermídia formado por um trecho de texto em destaque ou por um elemento gráfico que, ao ser acionado (ger. mediante um clique de mouse), provoca a exibição de novo hiperdocumento. (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

92

Figura 24 – Lista de blogs sugeridos e solicitação para que outros blogueiros “linkem” o blog

Fonte: blog Nº 13, Abril de 2013.

Muitos ainda apresentam lista de livros e vídeos para acesso, podendo o visitante assistir ou baixar.  Lista de parceiros Alguns apresentam anúncios de eventos, sites, portais, ou outras referências importantes para os visitantes, sendo tudo relacionado com a categoria do blog. Do mesmo modo que os links para outros blogs, a lista de parceiros também aparece com o link no nome do parceiro ou na imagem dele. Em ambos os casos, basta clicar para seguir para a página do site sugerido.

93

Figura 25 – Anúncios de sites parceiros dos blogs

Fonte: blogs Nº 1, 10 e 25, abril de 2013

 Contato com o autor do blog Quanto ao contato com os blogueiros é possível fazê-lo por e-mail, quando o blogueiro disponibiliza um endereço para contato. Assim, o interessado pode fazer contato diretamente com o autor do blog. Figura 26 – Páginas de contato com os autores de dois blogs

Fonte: blogs Nº 1 e 4, abril de 2013.

Essa foi uma das grandes dificuldades que enfrentamos ao tentar contatar os blogueiros para entrevista. Muitos disponibilizam o e-mail na página de seu perfil, em forma de link. Para chegar ao e-mail do dono do blog é preciso ir até o perfil dele, clicando na foto ou no link “ver perfil completo” e ter uma conta de e-mail cadastrada no programa de e-mail padrão do computador, que, sendo Windows, é o Outlook.

94

Figura 27 – Páginas de acesso ao e-mail dos autores de dois blogs

Fonte: blogs Nº 13 e 5, abril de 2013.

Como não usamos e-mail padrão cadastrado no Outlook isso nos impediu de fazer contato com muitos blogueiros e imaginamos que essa seja uma dificuldade enfrentada por muitas outras pessoas também. Outros blogueiros disponibilizam na barra de opções de navegação do blog um link para o contato: Figura 28 – Barra de opções onde se vê o acesso ao contato com o autor do blog.

Fonte: blog Nº 1, abril de 2013

Esses links nas barras de opções direcionam para endereços de e-mail, como mostramos anteriormente, para “caixas” de diálogo, onde o visitante coloca seus dados e escreve o recado:

95

Figura 29 – Página de contato com o autor do blog

Fonte: blog Nº 2, abril de 2013.

Também é possível o contato por comentário às postagens, sendo que alguns blogueiros ativam a moderação dos comentários às postagens, o que faz com que o visitante aguarde a liberação do autor do blog para que seu comentário apareça entre os demais. E, além disso, também tem que se provar que não é um tipo de robô que dissemine spam. Essa foi uma das formas que usamos em muitos casos para fazer contato com os blogueiros. Figura 30 – Página de comentário no blog

Fonte: blog Nº 7, abril de 2013.

Alguns blogs tem ainda a possibilidade de se deixar um recadinho no “mural de recados”, que, na maioria dos casos, limita o número de caracteres do escrevente. Esse também foi um dos meios que utilizamos para fazer contato com os blogueiros e solicitar uma entrevista.

96

Figura 31 – Páginas de recadinhos deixados nos blogs

Este foi um recurso que usamos em muitos casos, quando não víamos outra maneira de fazer contato com o blogueiro. O espaço pequeno e a limitação de caracteres fez com que fôssemos muito sucintos e bastante informais nessa abordagem.

Fonte: blogs Nº. 18 e 21, abril de 2013.

Os comentários nos blogs são o termômetro para alguns blogueiros saberem se suas postagens estão agradando aos visitantes ou não. Alguns colocam um recadinho a todos os visitantes, pedindo que comentem a postagens, admitindo que é isso que dá vida ao blog: Figura 32 – Solicitação de comentário em blog

Fonte: blog Nº 18, abril de 2013.

Através dos comentários é possível um diálogo com o leitor, uma troca de ideias com eles, como se pode ver nos exemplos de comentários às postagens e de retorno do blogueiro que seguem:

97

Figura 33 – Diálogos entre blogueiros e seguidores via comentários às postagens

Fonte: blogs Nº 9 e 13, abril de 2013.

Esses comentários foram retirados de uma série de comentários em postagens feitas em dois dos blogs que acompanhamos. Em ambos os casos o blogueiro retorna o contato com quem escreve o comentário. Acompanhando esses blogs e as formas como os autores se relacionam com os visitantes/seguidores, percebemos certa constância na interação. Eles também se apresentam como maneira de angariar novos seguidores para o blog do visitante, como os comentários a seguir mostram: Figura 34 – Diálogos entre blogueiros e seguidores

Fonte: blog Nº 19, abril de 2013.

98

O que os blogueiros chamam de “banner” é o link do blog com a imagem.  Seguidores (membros) e visitantes Seguidores ou membros são as pessoas que se inscrevem para acompanhar as postagens do blog e são avisados por e-mail quando há novidades. Em nossa pesquisa, inicialmente pretendíamos contatar esses seguidores também, porém percebemos que todos também são blogueiros e, muitas vezes encontramos nos blogs deles as mesmas postagens do blog seguido por eles. Aqui é interessante diferenciar visita de acesso. Quando um internauta entra no blog e sai em seguida isso é considerado um acesso. Quando ele permanece por algum tempo e percorre alguns links, isso é considerado uma visita. A maioria dos blogs traz uma lista de seus seguidores, que também são chamados “membros”, remetendo-se à comunidade, com quantidade, foto de alguns, chamada para fazer login16 e um convite para o visitante seguir ou se tornar membro do grupo de seguidores: Figura 35 – Imagens de painéis de membros de blogs de hospedeiros diferentes

Fonte: blogs Nº 1, 2 e 14, abril de 2013.

Geralmente a foto exposta é dos últimos membros que fizeram “login”. Por conta dessas fotos, que são as mesmas dos perfis dos blogueiros, identificamos vários deles como seguidores de vários blogs em comum, formando uma verdadeira rede, onde uns são seguidores dos outros, sempre unidos pelos interesses. Visitantes são as pessoas que frequentam o blog, mas não são inscritos nele como seguidores, não aparecem no quadro dos seguidores. Podem passar pelo blog

16

Fornecer nome de usuário e senha para ter acesso ao blog como seguidor ou membro.

99

incógnitos, porém o blog regista o acesso, sem saber de quem. Caso não seja blogueiro, para se tornar seguidor, mas queira receber aviso das postagens, a maioria dos blogs oferece a possibilidade do visitante cadastrar um e-mail para isso: Figura 36 – Página de cadastro no blog para segui-lo por e-mail.

Fonte: blog Nº 13, abril de 2013.

São colocadas também listas de seguidores on line17 ou de visitantes que estão acessando o blog, dando, em alguns casos, a localização geográfica deles. Outros ainda sinalizam quantas vezes o visitante já esteve lá:

17

Aqueles que fizeram login.

100

Figura 37 – Registros de visitas nos blogs

Fonte: blogs Nº 14, 13 e 21, abril de 2013.

Após este contato inicial, desenvolvemos o processo de análise e acompanhamento do blog e a pesquisa com a educadora que o criou e o mantém. Uma vez que pesquisamos blogs de educadores, os tipos de materiais postados, os comentários a eles e o retorno dos blogueiros ao visitantes/seguidores foram os principais focos de nossas observações neste trabalho, pois, através deles, pudemos analisar o “tipo” de formação continuada passível de se desenrolar e a qualidade da interação entre os blogueiros e seus visitantes 18.

18

Detalharemos mais essas observações no capítulo de análise dos resultados.

101

2.3 A interação humana: no meio do caminho tinha um computador. Tinha um computador no meio do caminho...

Conheço com lucidez e sem prevenção as fronteiras da comunicação e da harmonia entre mim e os outros homens. Albert Einstein Vivemos em um espaço-tempo digital, que questiona conceitos como material, real, virtual. É o ciberespaço19, onde cada um é potencialmente emissor e receptor de informações. O que une as pessoas reais neste espaço são os interesses comuns. Mais do que nunca identidades são questionadas, recriadas e reformuladas; mentes são expandidas; fronteiras deixam de fazer sentido; culturas se confrontam, se modificam, se globalizam. Para adentrar no ciberespaço basta conectar-se à internet, porém esse acesso não é gratuito, como alardeiam. Há o custo dos aparelhos (que se tornam obsoletos e ultrapassados na mesma velocidade com que são produzidos), o custo da energia elétrica necessária para que funcionem, do provedor ou da operadora para a conexão. Tudo isso deixa de fora (exclui) uma parcela da população. Cada meio cria suas formas peculiares de exclusão. Analfabetos foram “criados” junto com a invenção da escrita. Excluídos digitais na criação dos aparatos digitais. Basta um olhar atento aos perfis de blogueiros e veremos um menor número de negros entre eles, o que chama a atenção, principalmente se levarmos em conta que a população negra brasileira tem menor poder aquisitivo que a população branca, o que configura um quadro de desigualdade no país. (SILVEIRA, 2012). A internet é um meio democrático de transporte ou de teletransporte de nossa voz, de nossa expressão e de nossa imagem. Estando dentro de nossa casa podemos estar “presentes” em outros países, nos relacionando com outras pessoas e, às vezes, com mais de uma ao mesmo tempo, em locais geograficamente distantes, o que seria impossível antes dela. O paradoxo torna-se paradigma e ousaríamos dizer o paradigma da divindade onipresente humana, mediado pelas mídias digitais, que aqui chamaremos genericamente de computador.

19

Lévy (1999) define ciberespaço como o espaço onde ocorre a comunicação na qual as pessoas estão quando conectadas à internet.

102

Pesquisando educadores que se relacionam com outros na internet, nos deparamos muitas vezes e em muitos casos com as palavras interação e interatividade sendo usadas indiscriminadamente, sem noção de seu sentido real ou sem coerência nas ações ditas interativas. Na era digital interação e interatividade são as palavras “da moda”, verdadeiro slogan, que se usa indistintamente (PRIMO, 2011). Deixamos claro para o leitor que não pretendemos fazer definição teórica, aprofundada sobre os termos interação e interatividade. Pretendemos apenas diferenciá-los, pois consideramos relevante para a compreensão do discurso dos entrevistados. Faremos isso com base no dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2009) e na obra de Alex Primo (2011). No dicionário Houaiss (2009) encontramos o seguinte significado para interação: “influência mútua de órgãos ou organismos inter-relacionados; ação mútua ou compartilhada entre dois ou mais corpos ou indivíduos; comunicação entre pessoas que convivem; diálogo, trato, contato”. Consta também que a palavra é etimologicamente formada por inter + ação, o que sugere “ação entre”, ou seja, a ação que ocorre entre pares. Essa definição nos parece até satisfatória para o modo como a palavra é empregada no que se refere aos modos de comunicação na internet, em especial, nos blogs e nas redes sociais. Porém, o mesmo dicionário traz ainda outra definição para a palavra, que na Física apresenta uma pequena modificação: “qualquer processo em que o estado de uma partícula sofre alteração por efeito da ação de outra partícula ou de um campo”. Esta definição, usual no campo da Física se aproxima mais do modo como acreditamos que deveria ser definida em relação às relações, aos encontros humanos mediados (ou não) por computador, pois acreditamos em um processo interativo em que um interlocutor sofra o efeito da ação do outro, não apenas reagindo a ele, mas se permitindo criar junto (em conjunto) um cenário para o diálogo que se trava. É a lógica do dito popular: “quando um não quer, dois não brigam” e acrescentaríamos que, se dois querem, algo acontece e este algo aconteceria por meio de uma interação não reativa, que é aquela em que um apenas reage à ação primeira do outro, sem reflexão e envolvimento emocional, como acontece entre o homem e a máquina (computador).

103

Primo (2011) define primariamente em sua obra o termo interação como sendo “a ação entre os participantes do encontro (inter + ação)” (PRIMO, 2011, p. 13), concordando com a definição do dicionário Houaiss, porém o autor alerta que “interação não é o mesmo que interação social”, pois a interação social é uma das formas de interação, mas não a definição dela. Outra questão que o autor deixa bem clara logo no início de sua obra, que é bastante vasta e complexa, é que “a interação mediada por computador não se reduz ao modelo um-todos” (PRIMO, 2011, p.10), que seria a comunicação de via única, em que um emissor enviaria informação ou faria contato com vários outros sem que fosse permitido um retorno, sem que houvesse uma linha aberta de diálogo, o que acontece nos indesejáveis spams que recebemos em nossos emails ou nos portais. Mais adiante o autor declara que Outro caminho tomado com insistência é observar a interação como simples transmissão de informações. Pensar a interação humana de forma transmissionista e a cognição como processamento de informações simplifica o processo de maneira reducionista, servindo de atalho para teorias tecnicistas igualarem cognição e computador, comportamento humano e funcionamento informático. (PRIMO, 2011, p.71).

Isso nos remete ao modo como professores acreditam estar interagindo com outros nos blogs, quando na verdade apenas estão transmitindo informações, não havendo verdadeira troca de ideias, diálogo ou conversação pautada em concordância ou discordância a partir de argumentação. O autor reitera que interagir não é algo que alguém faz sozinho, num vácuo. Comunicar não é sinônimo de transmitir. Aprender não é receber. Em sentido contrário, querse insistir que interação é um processo no qual o sujeito se engaja. (PRIMO, 2011, p. 71 - 72).

Dessa forma, um espaço (no caso, um blog) no qual sejam depositadas informações, conteúdos (postagens) destinados a quem quer que seja, sem que haja uma expectativa de retorno, uma resposta que gere um diálogo, que aceite ou refute as informações, que acrescente novas questões às questões colocadas, não pode ser chamado de um espaço interativo, pois este exige que haja reciprocidade.

104

Esta frase de Primo também salienta a nulidade dos processos de ensino e de aprendizagem que se propõe com as postagens nos blogs quando não há retorno dos professores, quando não uma troca quanto à aplicação do conhecimento, quando não se aparam as arestas do conceito ou do conteúdo, lapidando-o. Fica a informação pela informação e só, ou o depósito do conhecimento na rede, sem reconstrução coletiva deste, o que remete à lógica um para todos que o autor menciona anteriormente. Já a palavra interatividade, segundo o mesmo dicionário significa: “qualidade de interativo; capacidade de um sistema de comunicação ou equipamento de possibilitar interação”. Ou seja, a interação tem a ver com o relacionamento entre pessoas, presencialmente ou não. Já a interatividade tem a ver com a interação mediada por equipamento eletrônico. Porém há uma confusão no que se refere à qualidade da comunicação interpessoal, quando muitos acreditam que interatividade é uma simples troca de mensagens, atendendo a lógica “toma lá da cá”, mediada pelo computador, pelo telefone ou pela televisão, quando um manda mensagem e o outro responde a ela usando um equipamento eletrônico para isso, como acontece com os programas de televisão, que oferecem opções e a pessoa liga para escolher. Primo nos alerta para tais equívocos A comunicação interpessoal, pois, não pode ser reduzida ao simples envio e recebimento de mensagens, na verdade, é justamente desse equívoco que partem boa parte dos textos sobre interatividade” (PRIMO, 2011, p. 104).

As mensagens são produzidas com nossas palavras e essas não são meras coisas, mas nossas ações, pois elas nos compõem. Liberamos palavras impregnadas do que somos, na verdade são parte de nós, com as quais compartilhamos com outros um mundo que especificamos por meio de nossas ações (palavras). Por elas nos damos a conhecer e abrimos as possibilidades de criar um relacionamento. Assim, neste trabalho, seguindo as orientações de Primo, observamos para fins de estudo, a relação mantida pelos participantes dos blogs com seus seguidores ou frequentadores. No capítulo de análise dos resultados apresentaremos nossas observações quanto à qualidade das interações observadas nos blogs, entre os interagentes. Isso porque “a interação é mais que a soma de seus elementos constituintes” (PRIMO, 2011, p.102), pois “em cada encontro as ações de cada

105

interagente definem (ou redefinem) o relacionamento” (PRIMO, 2011, p. 103). E, se nos interessamos em investigar as possibilidades de formação continuada não formal nos interstícios desses relacionamentos, nos interessa também a qualidade dessas interações, a fim de inferir efetividade a ela ou não.

2.4 Os tipos de blogs: arriscando uma classificação As classificações a seguir foram denominadas por nós, na falta de uma classificação já existente, visando a melhor compreensão do leitor na análise dos resultados e não têm a pretensão de dar conta da infinidade de tipos de blogs existentes na blogosfera20. Agrupamos os blogs principalmente pelas características das postagens. VITRINE – É o tipo de blog de educadores que mais encontramos na internet. O template21 de muitos apresenta temas infantilizados, com figuras que se movem e brilham. Em outros, mesmo não havendo movimento, há a prevalência da cor rosa ou tons pastel e muitas imagens de bonequinhas e bichinhos de pelúcia. Isso, à primeira vista, nos passou a impressão (que pode ser real ou não) de seu autor ser uma pessoa ou um profissional imaturo, porém mostra-se também como uma estratégia para atrair seguidores jovens, professores recém-formados ou em formação. Nele são postadas as atividades que o autor realiza com sua turma e ilustra com fotos ou com vídeos, mostrando como fazer ou como seus alunos fizeram. É notório o orgulho que este professor blogueiro sente de seu trabalho como educador.

20

21

Segundo Máximo (2007): “Blogosfera” é um termo nativo que designa um conjunto de blogs interrelacionados tanto em níveis mais globais – como a “blogosfera brasileira”, constituída por todos os blogs escritos por brasileiros –, como em níveis locais, pelo compartilhamento de interesses, afinidades e experiências particulares. Aparência ou layout do blog.

106

Figura 38 – Mostra de atividade realizada por aluno postada em blog tipo “vitrine”

Fonte: blog Nº 13, abril de 2013.

Nesses blogs são disponibilizados muitos materiais de interesse de professores da educação infantil e das séries iniciais, como desenhos, textos e atividades diversas, que podem ser impressas e distribuídas aos alunos, que é na verdade o que muitos buscam

nos

blogs.

Esses

blogs

possuem

um

elevado

número

de

seguidores22(membros) e de visitantes. Alguns chegam a ter mais de mil pessoas cadastradas.

22

Pessoa que visita o blog, gosta e se conecta a ela, recebendo notificações sobre ele e pode ter acesso livre nas postagens.

107

Figura 39 – Atividade oferecida em blog tipo “vitrine”

Fonte: blog Nº 13, Cristina Silveira, abril de 2013.

Os comentários às postagens são quase sempre elogiosos e não costuma ter réplica do autor, o que muitos alegam não fazer por falta de tempo para dar conta da demanda de solicitações e comentários ou ainda dizem fazê-lo por outras vias, como e-mail ou redes sociais. A maioria desses blogueiros é do sexo feminino. Isso pode ter relação com o fato do magistério hoje ser majoritariamente feminino. SALA DE AULA AMPLIADA – É o tipo de blog criado por professores para fazer o acompanhamento e o reforço da aprendizagem de seus alunos. Também é utilizado como meio didático, onde as atividades são propostas, postadas e comentadas. Servem de fonte de pesquisa para outros alunos, professores e pesquisadores da área em destaque. A aparência em geral tem relação com a disciplina lecionada, não fugindo à sobriedade. Os seguidores são os alunos e amigos dos blogueiros, ou pessoas que se interessam pelo tema, assim, a maioria tem poucos membros ou visitantes.

108

Figura 40 – Aparência do blog Nº 17

Fonte: blog Nº 17, abril de 2013.

Figura 41 – Aparência do blog Nº 4

Fonte: blog Nº 4, abril de 2013.

ESTUDOS TEÓRICOS – É o tipo de blog que também encontramos com muita frequência e a denominação escolhida faz menção à intencionalidade do autor de oferecer aos professores textos que tratem de assuntos diversos, ligados ao ensinoaprendizagem, ao desenvolvimento cognitivo do ser humano, à legislação educacional, às doenças comuns em crianças e adolescentes em idade escolar, à orientação para pais e responsáveis, entre outros, além de informações que julgam de interesse de professores, como vídeos, livros e links para outros sites afins. A aparência é mais sóbria e discreta que a do tipo vitrine. Os textos postados são de

109

autoria do próprio dono do blog ou copiadas de sites diversos, quase sempre com a citação da fonte. Figura 42 – Postagens no blog Nº 19

Fonte: blog Nº 19, abril de 2013.

Em relação ao tipo “vitrine”, a maioria possui menos seguidores, porém alguns chegam a se equivaler. Quando há comentário nas postagens, o autor costuma responder, o que gera a possibilidade de um diálogo entre eles e/ou outros seguidores.

Encontramos,

também,

professores

fazendo

colocações

complementares ao texto postado, fazendo perguntas ou solicitando orientações ao autor, que gera a troca de saberes entre ambos:

110

Figura 43 – Solicitação de auxílio postada em blog tipo “estudos teóricos”

Fonte: blog Nº 1, abril de 2013.

Alguns trazem, além dos textos acadêmicos, sugestões de atividades para serem realizadas na sala de aula, destinadas aos professores da educação infantil e das séries iniciais, mas dentre os entrevistados e classificados nessa categoria, apenas dois o fazem, os demais não trazem tais atividades. Figura 44 – Postagem de texto no blog Nº 3

Fonte: blog Nº 3, abril de 2013.

111

Figura 45 – Postagem de sugestões de atividades no blog Nº 3

Fonte: blog Nº 3, abril de 2013.

Figura 46 – Postagem de texto no blog Nº 1

Fonte: blog Nº 1, abril de 2013.

112

Figura 47– Postagem de sugestão de atividade no blog Nº 1

Fonte: blog Nº 1, abril de 2013.

ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO – É o tipo de blog voltado para a disseminação do conteúdo de alguma disciplina curricular (Física, Química, História, Biologia,...) ou para a divulgação de saberes sobre um tema específico (quadrinhos, aparatos tecnológicos, jogos educacionais,...). A organização e a aparência costuma estar ligada ao foco do blog. Percebemos que é um blog movido pela paixão do autor pelo tema. Nele o blogueiro se apresenta como um especialista na área para qual o blog é voltado e se dedica a focalizar as postagens em assuntos que tenham relação com ela. Figura 48 – Aparência do blog Nº 20

113

Fonte: blog Nº 20, abril de 2013

Figura 49 – Aparência do blog Nº 11

Fonte: blog Nº 11, abril de 2013.

A aparência do blog costuma estar relacionada com o tema ou ser bem simples e sóbria. A maioria não tem número elevado de seguidores e as interações entre eles, quando observadas nos comentários, costuma ser um diálogo de troca de saberes.

INSTITUCIONAL – É o tipo de blog feito por uma instituição para divulgar seu trabalho, além de postar materiais de interesse de seus frequentadores. No caso de nossa

pesquisa,

classificamos

dessa

maneira

os

blogs

de

escolas,

de

pesquisadores e de promotores de materiais educacionais. Os seguidores são poucos e, em geral, são pessoas relacionadas à instituição ou amigas do autor do blog. A aparência depende do autor do blog que geralmente é um professor da escola que já seja blogueiro e, apaixonado por tecnologia e pelas ferramentas da internet, resolve criar um blog para a escola onde trabalha, ficando, quase sempre, como responsável pelas postagens.

114

Figura 50 – Aparência do blog Nº 12

Fonte: blog Nº 12, abril de 2013.

Figura 51 – Aparência do blog Nº 26

Fonte: blog Nº 26, abril de 2013.

Cremos ser importante ressaltar que as classificações não são puristas, pois em todos os casos os blogs foram classificados por maior número de afinidades, levando-se em conta, principalmente os tipos de postagens que são privilegiados pelos autores. Alguns blogs foram acompanhados e investigados por mais tempo que outros, tamanha a dificuldade em classificá-los. Foi preciso acompanhar as postagens e as interações entre os participantes desde a criação até a mais recente, para então, levando-se em conta a predominância de algum tipo de postagem, mantê-lo em algum dos grupos citados acima.

115

Os autores de blogs do tipo “institucional” apontam para um trabalho coletivo, mas que é iniciado e mantido graças ao empenho de um membro da comunidade escolar que, por já ser blogueiro e conhecer as facilidades de uso e os benefícios da ferramenta blog, sugerem a criação dele, faz a manutenção e ainda envolve os demais colegas, chegando, inclusive a despertar em alguns o interesse pela criação de blogs pessoais. É um “contágio” coletivo, um levante rumo à apropriação dos elementos do ciberespaço.

2.5 O perfil dos professores blogueiros

[...] o blogueiro se apresenta e procura criar uma determinada impressão a respeito do que ele é e do que espera que entendam a respeito do que é.” Elisa Máximo

Máximo (2007) afirma que não dá para falar em blog sem falar de blogueiro e que, de certo modo eles são uma mesma “entidade”, formada pela tríade nome do blogueiro, nome do blog e endereço na internet. Trata-se de uma tríade nominativa que identifica tecnicamente o blog na e para a Internet – como um ponto específico da Rede, com um endereço exclusivo –, e que, ao mesmo tempo, o identifica socialmente, como um sujeito singular cuja constituição se inscreve num contexto de supostas afinidades. (MAXIMO, 2007, p.33)

Sendo indissociáveis. Aonde o blogueiro vai seu blog vai junto. Não existe o blog sem o blogueiro e este, só se torna blogueiro ao criar um blog. Tornar-se blogueiro é dizer aos outros internautas 23 quem é a que veio. Alguns decidem mostrar-se como professor, mesmo que criem outros blogs para também mostrar outras “facetas”. Essa pesquisa investiga essas pessoas, que se apresentam como professores, mesmo em um contexto fora da escola, no ciberespaço, sobre o qual não há regulação, regulamentação ou qualquer tipo de 23

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: usuário interativo da rede internacional Internet.

116

supervisão que o “obrigue” a se identificar profissionalmente. Pesquisamos um professor que se assume como tal para além de sua sala de aula, que se expõe, que se dedica a fazer algo que o aproxime de seus pares, por livre e espontânea vontade, empenhando seu tempo em construir-se como professor blogueiro para interagir com outros que partilhem dos mesmos interesses e tenham as mesmas afinidades, formando uma rede de professores que pode ser observada por vários ângulos e a partir de vários pontos. O ponto de partida que escolhemos nos determinou o rumo da pesquisa. Outro pesquisador, partindo de um ponto diferente, seguirá outros fios dessa meada e encontrará outros perfis de uma mesma rede. A condição de professor e blogueiro remete a uma postura autônoma, que faz referência à autonomia postulada por Contreras (2002), que seria a “capacidade de decidir de modo responsável a adequação entre o propósito educativo e a realidade concreta na qual ele tenta se realizar” (CONTRERAS, 2002, p.72). O professor que cria um blog e nele se assume e se apresenta como professor assume para si a responsabilidade de interferir na formação de outros, mesmo que não tenha planejado essa ação. Isso porque o blog surge como forma de expor seus saberes docentes. Tanto os práticos: atividades que já tenha experimentado em suas aulas e que submete à crítica de outros ou oferece como uma receita já testada e exitosa; quanto os conhecimentos teóricos: que já adquiriu ou absorveu e julga que foram importantes de alguma maneira para torná-lo um professor mais competente. Dizemos competente porque essa é a palavra foco da meritocracia que vivenciamos na educação brasileira hoje. As atividades pedagógicas a serem impressas, oferecidas em alguns blogs se mostram antiquadas e até mesmo inadequadas em alguns casos, como pode ser observado a partir dos exemplos a seguir, retirados de blogs do tipo que classificamos como “vitrine”:

117

Figura 52– Atividades oferecidas nos blogs

Fonte: blogs Nº 13 e 3, abril de 2013.

Essa atividade é extremamente inadequada por confundir a criança em relação a posição do papel e das orientações expressas no texto: a criança deve escrever na carteira do colega, sujando o móvel da escola? Ou deve escrever no retângulo do desenho, que remete à “mesa do colega”? Isso não fica claro.

Consideramos essa atividade inadequada pelas informações contidas na imagem e no texto. O tatu não é um animal que as crianças tenham acesso no dia a dia delas, portanto, se o texto e a imagem afirmam que ele “toma suco” isso se faz em uma informação incorreta para elas e que é passada como “verdade”, uma vez que é a escola que está veiculando isso.

Percebemos professores utilizando um meio moderno para reproduzir uma postura metodológica tradicional. Cremos que foram atividades que esses mesmos professores fizeram em época de estudante. Assim, ao tornarem-se educadores buscam a segurança de “como ensinar” imitando os professores que tiveram, criando um estilo “tradicional” para sua práxis pedagógica. É a discência interferindo

118

na docência, “porquanto a docência é uma profissão que se aprende pela vivência da discência [...]” (FORMOSINHO ; MACHADO, 2009, p.145). Isso gera a manutenção “do que sempre foi feito”, sem reflexão e sem inovação, inaceitável em um mundo que muda a todo instante, que é “invadido” por tecnologias que poderiam ser aliadas dos professores nos processos educacionais e que acabam alijadas deles por ineficiência em sua formação, o que não lhes favorece a criatividade e a ousadia em sala de aula, mas sim a segurança de fazer “o que vem dando certo”. E a pergunta é: dando certo como, se nossas crianças e adolescentes desconhecem cada vez mais a utilidade do que é aprendido nas escolas para resolver problemas do cotidiano? Outra questão que nos chamou a atenção é em relação à cor de pele dos blogueiros. Quase não encontramos negros ou pardos observando as fotos dos perfis dos blogueiros expostas nos blogs ou nos quadros de seguidores, como pode ser observado abaixo, em um exemplo do que se repete em muitos outros blogs brasileiros. Figura 53 – Painel de seguidores/membros

Fonte: blog Nº 2, abril de 2013

119

3 ANÁLISES DOS RESULTADOS

O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê Nem ver quando se pensa. Fernando Pessoa 3.1 Analisando os dados da pesquisa

Quantos aos resultados apresentados a seguir, ressaltamos que eles se deram por conta do ponto da rede do qual partimos. Se tivéssemos seguido por outros caminhos, com certeza nossas respostas e achados seriam outros. Apresentamos primeiro, algumas observações iniciais para melhor situar o leitor em relação ao contexto da pesquisa. Em seguida, discutimos as respostas dos pesquisados, levando em conta todas as respostas obtidas dos entrevistados, em todos os meios: questionários, e-mail, chat e mensagem via Facebook. Após isso apresentamos mais alguns achados que podem servir de inspiração para outros pesquisadores. Com o exposto, tentamos responder às inquietações que foram feitas no início do trabalho, chegando finalmente às considerações finais.

3.2 Algumas observações iniciais

Como já foi dito neste trabalho, cada blogueiro recebeu um número para identificar sua participação e seu blog e uma letra acompanhando o número quando se refere a mais de um blog do mesmo autor, preservando assim sua identidade. Nossa tentativa com as questões que levantamos aqui é identificar elementos que diferenciasse os grupos, nos apresentando evidências do que levaria os blogueiros a optar por determinado tipo de blog. Seguem nossas observações e comentários.

120

O quantitativo de blogs e blogueiros acompanhados na pesquisa aparece na quadro abaixo: Quadro 8 – Quantitativo de blogs por tipo Quantidade de blogs Quantidade de professores Professores com mais de um blog Masculino Feminino

31 26 5 7 19

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Os blogueiros 6, 22, 23, 24 e 26 são os que possuem dois blogs na pesquisa. Desses, apenas um (Nº 22) é do sexo masculino. Chamamos a atenção para o número de blogueiros de sexo feminino exceder em muito os de sexo masculino e o fato de também terem mais de um blog. Perguntamos aos participantes se tinham ou já tiveram outros blogs. As mulheres foram maioria em responder que sim, algumas possuem outros blogs, mas, como não são educacionais, ficaram de fora da pesquisa. A autora do blog Nº 14 escreveu: “Aqui estão alguns endereços de blogs que eu montei e organizei as aparências, se puder vá lá conhecer”, seguido de uma lista de dez endereços de blogs, tendo deixado de fora os três que afirma ter “estregado” antes de aprender a lidar com a ferramenta. No quadro a seguir aparece o quantitativo dos tipos de blog, que já foram definidos anteriormente, separados pelo gênero dos professores: Quadro 9 – Tipo de blog por gênero do autor Tipo de blog VITRINE SALA DE AULA AMPLIADA ESTUDOS TEÓRICOS ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO INSTITUCIONAL Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Homens 0 2 2 3

mulheres 6 3 4 5

0

6

Especulamos que esse grande número de mulheres entre os autores de blogs pode ter relação com o fato de o magistério hoje ser majoritariamente uma carreira feminina, conforme comprova o gráfico abaixo:

121

Gráfico 1 – Professores de educação básica segundo o sexo

Fonte: Brasil. Ministério da Educação e Cultura, 2007.

A idade dos blogueiros, distribuída de acordo com a classificação dos blogs é a seguinte: Quadro 10 – Tipo de blog por idade do autor Tipo de blog VITRINE SALA DE AULA AMPLIADA ESTUDOS TEÓRICOS ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO INSTITUCIONAL Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Idade dos blogueiros De 29 a 35 anos. De 32 a 50 anos. De 25 a 57 anos. De 28 a 48 anos. De 34 a 45 anos.

Encontramos os blogueiros mais jovens entre os autores de blog do tipo “vitrine”, em cujo grupo a faixa etária não ultrapassa os 35 anos. Embora nos outros grupos tenhamos encontrado blogueiros com idades inferiores, podemos notar que há um maior distanciamento entre a menor e a maior idade dentro do grupo, o que não acontece entre os autores do tipo “vitrine”. Por exemplo, a menor idade entre os autores de blog do tipo “estudos teóricos” é 25 anos, porém a maior idade é 57 anos,

122

já no grupo “vitrine” a menor é 29 anos e a maior é 35 anos, em um grupo de seis elementos. Se em algum momento especulamos que os blogueiros mais jovens seriam os autores de blogs mais voltados para a exposição de trabalhos realizados com seus alunos (“vitrine”), a tabela acima poderia nos ajudar a corroborar essa ideia, mas não nos sentimos à vontade para fazer essa afirmação diante de uma amostra tão pequena em um universo tão amplo como é a blogosfera e dentro dela o enorme número de blogs existentes na categoria educacional. Não computamos à idade dos autores a decisão pela escolha de determinado tipo de blog. Quanto ao ano de criação dos blogs, a maioria se deu no ano de 2008, conforme apresenta o quadro a seguir: Gráfico 2 – Blogs criados de acordo com o ano

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Essa informação nos aguçou a curiosidade e fomos pesquisar um motivo para 2008 ser o ano com maior

número de blogs criados entre os pesquisados.

Descobrimos que este o ano em que o IBGE registrou o maior número de acesso à internet a partir das próprias residências, ficando o acesso nas lan houses em segundo lugar e pessoas com mais anos de estudo acessavam mais a internet.

123

Gráfico 3 – Acesso à internet de acordo com a idade.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2008.

Como a informação era do ano de 2008, buscamos ocorrências sobre este ano, mas acabamos por descobrir outra pesquisa feita em 2010, onde se constatava que, embora a qualidade do acesso tivesse melhorado, ele não havia aumentado em relação ao ano de 2008: Figura 54 – Texto com resultado de pesquisa

Fonte: Disponível em:. Acesso em: 14 jun. 2012.

Este foi um ano importante para o Brasil em relação ao aumento de acessoas à internet, portanto um ano em que ela foi popularizada entre a população em geral, o que pode ter relação com o maior número de professores se tornando blogueiros. Quanto à formação profissional dos entrevistados, cremos ter encontrado informações que são relevantes para corroborar com nossas especulações quanto às escolhas dos diferentes tipos de blogs por parte dos autores: Quadro 11 – Formação profissional dos blogueiros Professores (ensino médio) Pedagogos Disciplinas específicas Áreas específicas Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

1 12 7 6

124

Dentre os entrevistados apenas um não possui graduação concluída, mas em andamento e cursa justamente a carreira que mais aparece como escolha profissional dos blogueiros: Pedagogia. Marcamos os pedagogos nessa tabela para salientar que representam quase metade dos entrevistados. E, se levarmos em conta a graduação em andamento, teremos a metade do grupo formado por pedagogos. Destes, apenas um (nº 03) é do sexo masculino e podemos associar isto ao fato da carreira pedagógica ser majoritariamente feminina. Retomando dados do capítulo 1 deste trabalho, onde constatamos que, o curso de formação de professores e a pedagogia são cursos muito procurados por estudantes de baixa renda, tanto pelo valor dos cursos nas universidades particulares, quanto pela menor exigência de pontos para aprovação nas universidades públicas. Aliado a isso, os dados que encontramos entre os pesquisados, de um universo de 26 professores, de lugares diversos do país, metade escolheu a carreira pedagógica. Desses, 18 lecionam na Educação Básica, sendo 13 na rede pública de ensino e 5 na rede privada. Sete cursaram Pedagogia e trabalham como docentes ou como pedagogos escolares. As questões levantadas no capítulo 1, aliada a esses dados nos levam a inferir que o curso de Pedagogia é um curso muito procurado por quem exerce o magistério. E, pelo que pudemos observar nos perfis dos autores de diversos blogs, mesmo entre aqueles que não acompanhamos na pesquisa, é uma carreira muito procurada pelos professores que exercem o magistério na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Chama atenção a resposta de uma entrevistada ao responder sobre os motivos de sua escolha pelo magistério: “Na época era a minha única chance de formação – depois amei ser professora e busquei me capacitar melhor”. Outros entrevistados também apontaram a escolha do magistério a partir de uma “necessidade” de formação profissional que permitisse acesso rápido ao mercado de trabalho, corroborando com as questões que discutimos no capítulo primeiro desse trabalho. As disciplinas específicas nas quais os professores são formados estão distribuídas da seguinte maneira:

125

Quadro 12 – Disciplinas específicas nas quais os blogueiros são formados Física

2

História Matemática Biologia

3 1 1

Disciplinas específicas

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Nenhum desses professores possui blog do tipo “vitrine”. Ou tratam de assuntos referentes às disciplinas que lecionam ou de algum tema específico, tendo seus blogs classificados na categoria “estudos teóricos” ou “estudos teóricos em área específica do conhecimento”. Apenas um deles está na categoria “institucional” e especulamos que isso se deva ao fato de o autor ter mestrado em tecnologia educacional e, conhecendo as potencialidades da ferramenta blog, apostou nela como elemento agregador de sua instituição. Os blogs desses professores trazem temas que são tratados com mais rigor no segundo segmento do Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. Acreditamos que o aspecto mais específico de seus blogs se deva à sua formação acadêmica, que, por se tratar de área específica, prioriza o domínio de saberes relacionados aos conhecimentos ministrados na disciplina. O “como ensinar” não é a prioridade, por isso, o foco na teoria, no conhecimento acadêmico. O quadro abaixo apresenta a quantidade de pedagogos e de profissionais educacionais de outras áreas específicas entre os autores dos blogs pesquisados: Quadro 13 – Quantidade de pedagogos e de outros profissionais por tipo de blog. Tipo de blog VITRINE SALA DE AULA AMPLIADA ESTUDOS TEÓRICOS ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO CONHECIMENTO INSTITUCIONAL Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

pedagogos 6 1 3 0

Outras áreas 0 4 3 6

3

2

Chama atenção a inversão dos quantitativos nos blogs tipo VITRINE e nos blogs tipo “estudos teóricos em área específica do conhecimento”. Se nos primeiros todos os autores são formados em Pedagogia, no segundo grupo citado, nenhum autor possui essa formação. Tanto no grupo “estudos teóricos” e “institucional” há certo equilíbrio nesse quantitativo. No primeiro caso, supomos que isso se deva à uma mudança de

126

postura que do autor, ocasionada pelo amadurecimento profissional no decorrer da atividade, conforme alegação da entrevistada Nº 1: “Criei o blog com o objetivo de auxiliar o professor em suas aulas e abrir um canal de comunicação direto com eles. […] Hoje o objetivo de auxiliar os profissionais da educação continua, porém não mais com modelos e sugestões, mas com artigos escritos por mim incentivando a reflexão e a troca de opiniões.”

Supomos que esse amadurecimento profissional seria favorecido ou estimulado pelas trocas ocorridas nas interações com outros professores o que levaria os blogueiros a mudarem os rumos de suas postagens, buscando incorrer mais nas questões que fomentem discussões do que nas sugestões de atividades práticas. Isso se daria de forma cíclica: discussões levando a amadurecimento pessoal e profissional e consequente mudança de foco, buscando direcionar o foco das postagens para as inquietações profissionais emergentes, suscitadas pela e na demanda do fazer docente dos interagentes. Os professores que lecionam em áreas específicas têm sua formação distribuída da seguinte forma: Quadro 14 – Áreas específicas de formação dos blogueiros. Química

1

Designer Jornalismo Letras

2 2 1

Áreas específicas

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Interessante notar que, mesmo oriundos de áreas distintas, todos estão ligados à educação de certa maneira. Seus blogs estão na categoria “sala de aula ampliada” e “estudos teóricos”. Os primeiros por lecionarem disciplinas muito específicas, ministradas em graduações variadas e os segundos, na verdade apenas um caso, por se tratar de um profissional formado em uma área, que dá continuidade a seus estudos em outra e que, por ser educador, mantém o blog com postagens variadas, porém todas dentro do campo educacional e que favorecem a reflexão dos leitores. Quase metade dos entrevistados possui algum tipo de pós-graduação relacionada às tecnologias:

127

Quadro 15 – Formação tecnológica dos blogueiros. Especialização

7

Mestrado Doutorado

1 2

Formação tecnológica

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Se em algum momento especulamos que os professores com algum tipo de formação tecnológica seriam os blogueiros mais antigos, os dados encontrados aqui não nos permitem essa afirmação, pois os dois blogs mais antigos que encontramos pertencem a autores que não possuem pós-graduação na área de tecnologias, sendo um do grupo “estudos teóricos em área específica do conhecimento” e o outro do grupo “institucional”. Apenas um dos blogueiros com pós-graduação em tecnologia possui blog do tipo “vitrine”, sendo que tal blog também traz textos teóricos e foi classificado nesta categoria porque as postagens com sugestões de atividades excedem às postagens de textos teóricos para reflexão de professores. Os quadros a seguir apresentam cada um dos grupos de tipos blogs, e a formação de seus autores: Quadro 16 – Formação dos autores dos blogs tipo “vitrine” TIPO DE BLOG



FORMAÇÃO DO AUTOR

9

Graduação em Pedagogia com Especialização em Informática Educativa.

13

Cursando graduação em Pedagogia.

14 16

Graduação em Pedagogia com pós-graduação na área educacional. Graduação em Pedagogia.

18

Graduação em Pedagogia.

21

Educadora de Infância, com Graduação em Pedagogia.

VITRINE

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Podemos observar que dos seis blogs, apenas dois dos autores são pósgraduados e trazem em seus blogs, além de sugestões de atividades práticas para que os professores desenvolvam em suas aulas, textos de reflexão para os

128

professores, mas em ambos os blogs, essas postagens representam uma parcela menor do total de materiais oferecidos. Nos demais blogs, as postagens são referentes às atividades que as autoras realizaram com seus alunos, apresentadas em detalhes, para que outros professores se inspirem e criem suas atividades ou simplesmente as repitam com seus alunos. Quando não, são atividades sugeridas para que os professores façam nas aulas, sejam textos, vídeos ou imagens. A preocupação aqui é com o “como fazer”. O foco são as práticas de sala de aula. Percebemos também uma preocupação grande com a estética: layout e proposta de confecção de artigos que remetam à “coisa de criança”. Uma blogueira desse grupo, descrevendo seu blog, diz que ele é “Alegre, com carinha fofa!” e, ao perguntarmos o que significa “carinha fofa” não obtivemos resposta. Se compararmos os blogs desse grupo com os demais, levando em consideração a aparência, veremos que todos são bastante coloridos, apresentam elementos graciosos e juvenis, como bonequinhas, ursinhos, flores, corações, estrelas, alguns com brilho, com movimento, dando ao blog um aspecto dinâmico e juvenil. A recorrência desses elementos nos blogs tipo “vitrine” acompanhados na pesquisa e em tantos outros que apenas visitamos, nos remete a que afirma Máximo, que “o blogueiro consiste num indivíduo que é livre para se prender e para assumir tantas identidades quantos forem os contextos sociais nos quais ele se engaja” (MÁXIMO, 2007, p. 36). Assim, envolvidos com o trabalho docente na educação infantil, legitimada entre os professores como atividade predominantemente prática e lúdica, tendem a assumir uma “identidade juvenil” facilmente confundida com uma postura imatura a fim de se enquadrar nesse contexto. Sendo todos formados em Pedagogia e atuando na educação infantil ou nas séries iniciais, questionamos se a formação acadêmica ofertou a esses professores condições para autonomia profissional e se a atuação profissional permitiria ou não observações, reflexões e ações de gerenciamento de uma prática em constante mutação, sempre adequada às especificidades dos alunos das diferentes turmas. A grande quantidade de atividades que poderíamos apontar como inadequada por questões variadas encontradas nos blogs classificados como “vitrine” sugere que a seleção e escolha delas para compor o “cardápio” do que é oferecido aos professores exigiria maior atenção e reflexão sobre os objetivos educacionais. A falta dessa reflexão e de um “rigor pedagógico” nessa seleção nos sugere uma prática com fim em si só.

129

Novamente especulamos, após recorrer ao exposto no capítulo primeiro do trabalho, em relação aos cursos de Pedagogia com seus currículos difusos, se oferecem ou facilitam o acesso a esses bens culturais aos estudantes, favorecendo assim sua conquista de autonomia profissional. O mesmo já não nos arriscaríamos a sugerir em relação aos professores dos blogs da categoria a seguir: Quadro 17 – Formação dos autores dos blogs tipo “sala de aula ampliada”. TIPO DE BLOG



FORMAÇÃO DO AUTOR

4

Graduação em Engenharia Química, cursando doutorado em Química. Graduação em Designer gráfico e em Educação Artística, com pós-graduação em Didática do Ensino Superior e em Tecnologias em EaD. Graduação em Jornalismo, mestrado em Educação e doutora em Multimeios. Graduação em Pedagogia, cursando pós-graduação em gestão escolar. Doutorado em Design.

7 SALA DE AULA AMPLIADA

17 26 27

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Excetuando a autora do blog Nº 26, graduada em Pedagogia com pósgraduação em andamento, que leciona para turmas do primeiro segmento do ensino fundamental, todos os demais lecionam para o ensino médio ou para o ensino superior. Isso implica que suas formações sejam distintas entre si, mas mantenham um ponto em comum: o foco em uma área específica de conhecimento. Área na qual são formados e cujos conteúdos precisam dominar. Para além de uma preocupação com “o que ensinar”, demonstram preocupação com o “como ensinar”, uma vez que usam a ferramenta blog não apenas para interagir com seus alunos, mas também com outros professores e alunos de graduação, mostrando assim maneiras diferenciadas de lidar com os saberes relacionados à área. As propostas que fazem nos blogs de textos, livros, vídeos e sugestões de atividades colaboram para que outros professores se inspirem e melhorem suas práticas a partir da observação de como esses professores lidam com o ensino determinados conteúdos referentes às disciplinas em questão. O autor do blog Nº 4 afirma que o blog é uma maneira de “cativar os alunos” para estudar os conteúdos da disciplina, os quais apresentam grande dificuldade na compreensão. A autora do blog Nº 17 diz que o criou para “complementação do

130

conteúdo da disciplina” que leciona no ensino superior. A autora do blog Nº 26 alega que o criou “por ocasião de um curso” que fez; era uma das atividades do curso. E, por último, o autor do blog Nº 27, ser perguntado sobre sua motivação para criá-lo, respondeu que “O blog, assim como outras ferramentas, permite o uso de recursos, neste caso não presenciais, que auxiliam no processo pedagógico”. Deixando, assim, clara sua intenção de utilizá-lo como ferramenta pedagógica no trabalho pedagógico com seus alunos do ensino superior. No grupo a seguir todos os autores são pós-graduados e os blogs trazem textos acadêmicos e/ou informativos, o que sugerem preocupação com a reflexão sobre a prática pedagógica. Quadro 18 – Formação dos autores dos blogs tipo “estudos teóricos”. TIPO DE BLOG



FORMAÇÃO DO AUTOR

1

Graduação em Direito, em Artes Plásticas e em pedagogia, com especialização em psicopedagogia, em docência EaD e em Educação Digital. Graduação em Pedagogia, com Especialização em Tecnologias e Mestrado em Educação, cursando doutorado em Educação. Graduação em Comunicação Social e em jornalismo, com pósgraduação em Tecnologias na Aprendizagem. Graduação em Arquitetura e mestrado em Cognição e Linguagem. Graduação em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia e mestrado em Políticas Sociais Para Crianças e Adolescentes em Conflito com a Lei. Doutorado em Tecnologia e Educação em andamento.

3 ESTUDOS TEÓRICOS

10 15 19

23

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Os blogs Nº 1 e Nº 3 apresentam, além dos textos para reflexão e informação, sugestões de atividades para a educação infantil e para as séries iniciais. Ambos os autores são graduados em Pedagogia. O blogueiro Nº 3 afirma: “o blog foi pensado para informar e oferecer subsídios para as práticas pedagógicas dos professores”. Nesse blog as atividades são acessadas de abas na parte superior dele. De forma prática, como é a ideia do autor: “A criação do blog baseia-se na ideia de que o professor precisa de praticidade”. Já no blog Nº 1, cuja autora criou-o com o objetivo de “auxiliar o professor em suas aulas e abrir um canal de comunicação direto com eles”, é preciso circular pelo blog para encontrar as atividades, que não estão em evidências. É preciso ir na

131

“sessão” TAGS, onde as atividades podem ser acessadas com um clique nas “etiquetas”. A autora ainda afirma que “Nos primeiros anos eu abastecia o meu blog com sugestões de atividades, e foi com este recurso que consegui me aproximar principalmente dos professores de cidades mais distantes, [...]”. Com o tempo surgiu a necessidade de uma interação mais efetiva, em que esses professores não apenas consumissem a produção, mas também se sentissem a vontade para “trocar” ideias e opiniões, deixando comentários no blog. Assim, podemos inferir que blogueira e seguidores evoluíram juntos, buscando novas formas de melhorar a qualidade da interação. Os blogs Nº 10, Nº 15, Nº 19 e Nº 23 não trazem nenhum tipo de sugestão de atividades para os professores, apenas textos informativos sobre o campo educacional, textos acadêmicos destinados à reflexão, vídeos, músicas, anúncios de eventos educacionais, poesias e matérias sobre variados assuntos que possam, de alguma maneira interessar aos professores. Como neste grupo todos os autores são pós-graduados acreditamos que este seja o motivo de priorizarem nas postagens textos teóricos, que sirvam para a reflexão dos professores, conforme afirma a blogueira Nº 10: “O meu objetivo real é refletir, discutir, [...]”. E a blogueira Nº 19 afirma que em suas postagens “tenta proporcionar reflexão sobre questões teóricas e práticas da educação”. Na fala de todos esses blogueiros é notória a preocupação com o acesso, por parte dos professores, aos textos teóricos, às pesquisas, aos eventos educacionais, a outros blogs, sites, vídeos e materiais que possam favorecer o amadurecimento profissional destes. O grupo a seguir está dividido em relação ao grau de instrução de seus autores, com metade pós-graduada (ou estudando) e a outra metade apenas graduada. Quadro 19 – Formação dos autores dos blogs tipo “estudos teóricos em área específica do conhecimento” TIPO DE BLOG

ESTUDOS TEÓRICOS EM ÁREA ESPECÍFICA DO



FORMAÇÃO DO AUTOR

2

Bacharelado e Licenciatura em Física

5 6

Licenciatura em Matemática, com Especialização em Educação a Distância e Novas Tecnologias no Ensino de Matemática. Licenciatura em História

11

Graduação em História, com Especialização em História Social

132

CONHECIMENTO 20

e Econômica do Brasil Colonial. Graduação em Física, cursando mestrado em Ensino de Física.

22

Graduação em História.

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013

Nesses

blogs

é

possível

identificar

o

quanto

seus

autores

estão

“encharcados” dos saberes referentes às áreas que são tratadas neles, não fazendo diferença entre eles o fato de terem cursado ou não algum tipo de pós-graduação. No grupo a seguir, apenas dois autores não possuem pós-graduação. Com exceção do blog Nº 23, todos são blogs de escolas. Quadro 20 – Formação dos autores dos blogs tipo “institucional”. TIPO DE BLOG

INSTITUCIONAL



FORMAÇÃO DO AUTOR

12 23

Graduação em Pedagogia, com pós-graduação em Mídias na Educação. Doutorado em Tecnologia e Educação em andamento.

24

Graduação em Pedagogia.

25

Graduação em Biologia e Mestrado em Tecnologia Educacional.

26

Graduação em Pedagogia.

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013

O quadro a seguir apresenta a quantidade de membros e de visitas nos blogs pesquisados Quadro 21 – Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo “vitrine”. TIPO DE BLOG

Nº/AN O

MEMBROS

9 780 membros e entre 3.000 e 5.000 visitantes por dia. 2005 13 384 membros. 2008 14 211 membros e até 2.000 visitas por dia. VITRINE 2008 16 722 membros e 3.781.985 visitas desde a criação. 2008 18 900 membros e de 30.000 a 50.000 visitas por dia. 2008 21 506 membros e 15.000 visitas mensais. 2006 Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013

133

Quadro 22 – Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo “sala de aula ampliada” TIPO DE BLOG

Nº/ANO

MEMBROS

1 1.375 membros e 8.000 visitas diárias. 2007 3 360 membros. 2009 10 1.504 membros e 160 visitas diárias. ESTUDOS 2010 TEÓRICOS 15 72 membros. 2011 19 80 a 100 visitas diárias. 2011 23 88.000 visitas (não especificadas). 2008 Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013

Os blogs classificados como “vitrine” e “estudos teóricos” são os que apresentam a maior quantidade de seguidores/membros. Isso nos sugere que os professores sentem necessidade tanto de orientações teóricas que subsidiem sua prática quanto de sugestões de atividades para dinamizar a prática. Conforme afirma o blogueiro Nº 2: “A criação do blog baseia-se na ideia de que o professor precisa de praticidade. A página reúne, além de sugestões de atividades, as notícias mais atuais da Educação”. Já a blogueira Nº 1, após mudar o foco das postagens do seu blog de sugestões de atividades práticas para textos reflexivos, afirma que “Hoje o objetivo de auxiliar os profissionais da educação continua, porém não mais com modelos e sugestões, mas com artigos escritos por mim incentivando a reflexão e a troca de opiniões”. Tais afirmações sugerem que com o tempo, a experiência como blogueiro e as interações com outros professores levam os professores com mais avanço acadêmico a modificarem o tipo de postagem do blog. Se em algum momento acreditamos que os blogs com sugestões de atividades práticas (“vitrine”) eram mais procurados que os blogs com postagens de textos teóricos (“estudos teóricos”) as tabelas sugerem que isto não se constitui em verdade, uma vez que o número de seguidores e de visitas ao segundo grupo de blogs é maior entre o número de entrevistados. Se considerarmos que quase todos os blogueiros do grupo “estudos teóricos” se propuseram a participar da pesquisa, chegando até nós por indicação de outro blogueiro, podemos inferir que esses professores são blogueiros experientes e, por terem avançado mais na vida

134

acadêmica, valorizam as pesquisas educacionais e são conscientes de sua pertinência. Quadro 23 – Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo “estudos teóricos”. TIPO DE BLOG

Nº/ANO

MEMBROS

4 Sem membros. Visitantes 2007 dependendo do assunto. 7 40 membros. 2009 SALA DE AULA 17 165 membros. AMPLIADA 2012 26 32 membros. 2012 27 Desconhecido. 2008 Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

variam

de

10

a

250,

Acreditamos que os blogs da tabela acima, por se tratarem de blogs destinados a grupos específicos, no caso, alunos dos autores, aglutinam menos pessoas, por serem mais “restritos” quanto aos grupos aos quais se destinam, o que pode, inclusive, inibir a participação de pessoas não alunas. Os autores focam em um grupo distinto e o contrário também parece acontecer. Já os blogs do grupo a seguir sugerem uma aglutinação por afinidades. Os autores mostram-se bastante entusiasmados e dedicados aos estudos referentes à área específica de que tratam os blogs, postando todo tipo de material que tenha relação com ela e que possa agradar a quem tenha os mesmos tipos de interesses. Quadro 24 – Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo “estudos teóricos em área específica do conhecimento” TIPO DE BLOG

Nº/ANO

MEMBROS

2 553 membros e 1.500 visitas diárias. 2004 5 194 membros. ESTUDOS 2010 TEÓRICOS EM 6 292 membros e 600 visitas diárias no blog A e 171 ÁREA ESPECÍFICA 2007 membros e 230 visitas diárias no blog B. DO 11 256 membros e 400 visitas diárias. CONHECIMENTO 2009 20 59 membros. 2011 22 279 membros. 2010 Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

135

Tal como acontece com os blogs do grupo “sala de aula ampliada” os blogs do grupo a seguir também aglutinam pessoas de grupos restritos, no caso os membros de certas comunidades ou pessoas ligadas a elas ou ainda aos próprios autores. Isso poderia inibir, de certa forma a participação de outras pessoas não relacionadas a ambos: instituição e autor. Quadro 25 – Quantidade de membros e visitas nos blogs tipo “institucional” TIPO DE BLOG

Nº/ANO

MEMBROS

12 20 membros. 2011 23 112.000 visitas (não especificadas). 2008 INSTITUCIONAL 24 Não informado. A/2004 B/2012 25 97 membros e 1.000 visitas semanais. 2007 26 Sem membros. Com visitas apenas dos próprios alunos. 2012 Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

3.3 As respostas dos entrevistados ao questionário Gráfico 4 – Por que decidiu ser professor (a)?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Com esta pergunta desejávamos saber quais foram os motivos dos entrevistados para se tornarem professores, o que nos permitiu agrupá-los em três (3) grupos distintos: aqueles que se tornaram professores por vocação, aqueles que se tornaram professores por incentivo ou influência de outras pessoas (familiares ou não) e aqueles que não planejaram ou desejaram como primeira opção profissional o magistério, mas que acabaram adentrando nele por motivos outros.

136

Alguns entrevistados responderam esta pergunta apenas com a palavra “vocação”, encerrando assim o assunto, mas a maioria que foi agrupada no grupo da escolha profissional por vocação, detalhou bastante os motivos de sua escolha, apontando, em muitos casos, um gosto por dividir o que sabe ou de partilhar os saberes acumulados ao longo da vida com outras pessoas. Outros ainda apontaram o gosto por lidar com crianças como motivo para a escolha do magistério. Dentre os que se tornaram professores por força das circunstâncias, três cursaram o magistério contra a vontade, mas alegam ter se encontrado com a profissão depois. Dois dos entrevistados disseram ter abandonado carreiras ditas “promissoras” para exercer o magistério e não se arrependeram. Todos que indicaram ter se tornado professores por força das circunstâncias, acabaram por descobrir a vocação e se identificaram com a profissão, passando a gostar de exercê-la. Sua disposição para criar, manter e pesquisar em blogs, relacionando-se com outros professores, trocando informações e conhecimentos em uma rede de formação mútua-contínua-não-formal, que não é imposta por nenhum tipo de gestão extrínseca, antes, parte de sua motivação pessoal, serve de parâmetro para inferirse sua identificação com o magistério, perceber seu prazer com a tarefa de lecionar e sua satisfação com a carreira. Atrelamos o fato de mais mulheres terem apontado a vocação ou a escolha por vontade de ser professora com o imaginário coletivo cultivado e legitimado socialmente de que o magistério é uma “carreira feminina”. Gráfico 5 – O que pensa da carreira docente?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

137

Nada mais complicado de analisar nessa pesquisa que a visão que os professores têm da carreira docente, pois, se por um lado quase todos indicaram pontos positivos no modo como concebem a carreira docente, do mesmo modo também enunciaram pontos positivos. Aqueles que demonstraram uma visão negativa afirmaram que a carreira é difícil, por ser o professor desrespeitado e a profissão desvalorizada, pela sociedade e pelos governos, porém, apontaram também que é uma das profissões mais importantes e gratificantes, segundo eles, o que sugere uma verdadeira paixão dos entrevistados pelo ato de ensinar, apesar das condições sociais contrárias. Mesmo os que demonstraram uma visão positiva em relação à carreira docente, reconhecem as dificuldades da profissão, apontando assim, uma não ingenuidade quanto às mazelas do magistério. Os homens listaram mais pontos negativos que as mulheres, sugerindo uma maior insatisfação por parte desses. Todos os que fizeram alguma ressalva em seu discurso quanto ao modo como concebem a carreira docente, tanto entre os que têm uma visão positiva quanto os que têm uma visão negativa, apontaram a falta de reconhecimento e de respeito como algo gritante no exercício do magistério atualmente, o que lhes parece altamente desestimulante. O trabalho docente, assim como qualquer outro trabalho nem sempre teve na vida social o impacto que tem hoje. Cada trabalhador estabelece relações complexas e subjetivas com seu trabalho. [...] O empenho, o interesse pelo desenvolvimento profissional ou o desejo de deserção resultam das implicações que o sentimento positivo/negativo tem naquele que executa determinado trabalho. Isso se torna particularmente importante porque tanto pode servir para desenvolver como também pode alienar e degradar a pessoa. (BRÁS; GONÇALVES, 2011, p.81).

Muitos professores mostram-se felizes e realizados com o magistério, mesmo reconhecendo as mazelas do entorno ou do próprio exercício dele. Esses professores buscam sempre fazer o melhor, desenvolver-se na área que atuam e o blog mostra-se um dos frutos desse desenvolvimento profissional.

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Isso também tem a ver com o tempo de estudos dos professores. Quanto mais eles se envolvem com o exercício do magistério, mais necessidades sentem de buscar atualização e novos conhecimentos para dar conta das novas demandas que o mundo globalizado leva para dentro da sala de aula, o que implica em formação continuada de forma contínua, autônoma (uma vez que os interesses e necessidades de novos conhecimentos dos professores tem a ver com os confrontos diários com suas turmas, o que é muito pessoal e particular, assim, cada professor buscará caminhos diferentes para essa formação permanente) e essa formação é sem fim, ou seja, enquanto ensinar ele terá que aprender. Muitos professores entrevistados apontam isso: o professor como um eterno pesquisador/estudioso “A essência da carreira docente deve ser a pesquisa. O bom educador está atento às publicações, pesquisas, tendências em educação e com isto compila sua prática, aperfeiçoando-a”. Vivemos em uma sociedade educativa, onde o ser humano se torna cidadão através da educação. É ela que dá ao ser status de homem (no sentido genérico). Políticos e administradores apelam para a educação como forma de ensino, disciplina e progresso: tudo é educação. Ela é a verdadeira panaceia da humanidade. Isso, de certa forma, sobrecarrega o professor, como afirmou a blogueira Nº 17: “[...] pois se coloca sobre ele a responsabilidade por toda a educação, não só aquela que se refere à formação escolar ou específica em determinada área”. O que impressiona é que mesmo com toda essa sobrecarga de trabalho e de expectativas que se depositam sobre seu trabalho, o professor ainda se lance em mais uma frente, como é o caso de criar e gerenciar um blog, o que não é algo simples de fazer haja vista a “necessidade” de mantê-lo atualizado. O professor dessa nova era (digital) é “pressionado” pelas novas gerações a adentrar nesse mundo digitalizado, os chamados nativos digitais, que nascem com a ambiência de conhecimento, de crenças, de artes, de morais, de leis, de costumes, de hábitos e de aptidões desenvolvidos por conta das exigências digitais (SILVA, 2011, p. 206). É necessário que os professores eduquem os alunos para que “[...] entendam o que se passa no mundo em que vivem”, afirmou a blogueira Nº. 20, referindo-se às atribuições da carreira docente. E, para isso, se faz necessário que também estejam imersos nos acontecimentos desse mundo, sempre atualizados.

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Gráfico 6 – Como descreve o professor na sociedade atual?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Neste item, tal qual no anterior, os professores apontaram pontos positivos e negativos, sendo que grande parte deles indicou a função de “formador” como sendo o foco principal do trabalho do professor. Assim sendo, nos apropriamos dessas afirmações para sugerir que, ao criar o blog, trazem esta concepção do professor como formador para suas postagens, fazendo delas um canal ou veículo para viabilizar esta formação não formal entre seus colegas, participantes dos blogs, tanto como membros quanto como visitantes. A quantidade de palavras que sugerem ambiguidade, como “mas”, “porém”, “se”, “apesar de”, “mas também”, “ao mesmo tempo”, entre outras, marcam que, embora haja insatisfação com o magistério, também há realização, sendo o contrário também uma afirmação verdadeira. Gráfico 7 – Você fez curso de formação de professores?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Dentre os professores que responderam “não”, nove possuem licenciatura e lecionam disciplinas específicas no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Há uma tendência em ver apenas o curso de formação de professores a nível médio como formação de professores.

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Gráfico 8 – Normalmente utiliza aparatos tecnológicos em suas aulas?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Embora todos se utilizem do blog para interagir com outros professores, o que sugere um professor “antenado” com os aparatos tecnológicos, nem todos fazem uso de algum tipo em suas aulas. Alguns alegam usar pouco por conta da dificuldade de acesso aos equipamentos, outros pelo excesso da demanda do fazer docente. Dentro aqueles que usam, alguns se mostram bastante entusiastas do uso das tecnologias nas aulas: “Sempre! Adoro tecnologia. E deixá-la de fora do processo educacional seria desperdício”.

E quem diz não usar, justifica: “Não.

Atualmente estou numa escola que não possui aparato tecnológico nenhum, sequer tem um computador na sala dos professores”. E as justificativas vão na contramão de tudo que é alardeado no meio educacional, quando se apregoa que o professor deve usufruir, dominar e se utilizar de meios tecnológicos no exercício de sua prática. A própria LDB, em seu artigo primeiro, parágrafo segundo diz que “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. Ora, tanto o mundo do trabalho quanto o convívio social estão impregnados de tecnologia em suas mais variadas formas. Dentre os que alegaram usar aparatos tecnológicos nas aulas a blogueira Nº 13 afirmou: “Gosto mesmo é de papel, voz, corpo...”. interpretamos as reticências como a continuidade de uma lista de outros elementos alheios aos aparatos tecnológicos, remetendo a uma aula mais “tradicional”. Essa mesma blogueira complementa: Uso vídeos e data-show, mas as crianças já passam muito tempo em casa diante de uma TV, então prefiro que eles soltem a imaginação, e utilizem o faz de conta o máximo que puder no horário escolar (Já que em casa ficam atônitos diante de uma TV e de tanta tecnologia).

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Tal afirmação sugere pouca “intimidade” com o uso das tecnologias como ferramenta de aprendizagem, apontando-as como meios de castração da imaginação. Um entrevistado disse usar apenas de vez em quando e sete disseram usar sempre, em todas as aulas. Apenas seis entrevistados consideraram a internet como aparato tecnológico, a maioria se referiu aos equipamentos tecnológicos e a seus periféricos. A blogueira Nº 7 considera uma questão de dignidade profissional o uso de aparatos tecnológico nas aulas: “[...] adquiri meu próprio equipamento de data show, assim como vários de meus colegas de profissão, para podermos trabalhar mais dignamente na sala de aula”. O blogueiro Nº 11 afirma que “com criatividade pode-se utilizar o lúdico em substituição de alguns aparatos tecnológicos”, dando a entender com a expressão “em substituição de” que aparatos tecnológicos seriam meios mais eficientes de se obter sucesso no processo de ensino e de aprendizagem, porém não os únicos. Ele sugere ainda visitas a museus e cidades históricas e pesquisas em arquivos em substituição à navegação na internet, onde é possível encontrar informações e conhecimentos, tal e qual se encontra em tais visitas e pesquisas. Gráfico 9 – Qual sua motivação para criar um blog?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Para responder a esta pergunta o verbo mais utilizado pelos professores foi “divulgar” (10), livro, trabalho pessoal ou de grupo (escola ou universidade) – mesmo aqueles que não usaram o verbo, dizendo diretamente que a intenção ao criar o blog

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era fazer divulgação de algo, usaram outros verbos que levam ao mesmo sentido – seguido por “ajudar” (3), “auxiliar” (2) e “compartilhar” (2). Tanto os que afirmam querer divulgar o trabalho que fazem como os que afirmam querer incentivar os professores nas aulas através do fomento à reflexão, se mostram interessados em ajudar outros professores a terem uma prática pedagógica mais eficiente e exitosa, sendo que um prioriza a prática e o outro a teoria que dá sustentação a ela. Não podemos afirmar que os professores que trazem em suas postagens o relato das práticas e as teorias para reflexão como os blogueiros do grupo “estudos teóricos” o fazem em comunhão, apresentando uma prática com fundamentação teórica e uma teoria com aplicação prática, pois aparecem em momentos distintos e sem relação entre si. Nas propostas de atividades práticas não há a explicação sobre a teoria que as fundamentam. Todos nós somos seres únicos, que habitamos determinados espaços sob a regência de determinado tempo. Nem mesmo os gêmeos são iguais e, por mais que vivenciem as mesmas experiências e tenham aparência semelhante, o modo de se relacionar com os outros, de reagir às ações externas e de se ver como pessoa ao desempenhar diversos papéis. Tudo isso fará de cada um deles pessoas muito distintas. Assim, dentro dessas distinções cada um, a seu modo, justifica a criação de seu blog, mas todos deixam clara a intenção de interagir com outras pessoas fora de seu circulo de amigos ou de colegas de trabalho. São as práticas sociais as maiores constituidoras de nós enquanto pessoas. Nelas nos recriamos, nos refazemos e nos reinventamos a cada dia, do mesmo modo que influenciamos outros, causamos mudanças no local e deixamos nossas marcas no tempo. Alterações sociais, políticas e econômicas nos afetam, assim como afetamos, de alguma maneira, os meios sociais, a politica e a economia. É a atuação do tempo passado, evoluído, sobre o velho, sobre o que fica para trás, ultrapassado. Da plataforma do velho fazemos o novo. Nada surge do nada. Tudo é criado a partir de alguma coisa que já existe. O blog existe a partir da ideia de relatar algo para alguém, a mais primária das relações de comunicação. As postagens se inspiram nas aulas, cuja finalidade é ensinar algo a alguém. O novo se faz a partir do velho e carrega consigo indícios dele, que podem vir à tona a qualquer momento. Percebemos isso claramente ao nos depararmos com postagens de materiais e atividades que remetem à uma prática pedagógica “tradicional”.

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Os modos de ensinar apresentados nos blogs remetem às práticas pedagógicas dos professores em sala de aula. Aqueles que lidam com questões experimentais, que exercem o magistério sob o postulado da divulgação científica, como os blogueiros físicos ou matemáticos que pesquisamos, fazem de seus blogs continuidade de suas salas de aulas, usufruindo no espaço do blog dos recursos e ferramentas que permitem uma “aula” mais elaborada, com hipertextos e a riqueza de vídeos, links para sites diversos, textos em DOC, PDF ou outros arquivos, músicas, etc. Vivemos na sociedade do espetáculo (DEBORD, 1997) e do consumo, onde a felicidade e o bem-estar são mercadorias vendáveis, oferecidas como moeda de troca, possíveis de serem alcançados a partir do consumo de bens e serviços. Estamos ou somos felizes se temos, se aparecemos, se somos reconhecidos como pertencentes a esta sociedade global mundial. Ser é ter e estar em evidência. Levados por este modismo, alguns professores alardeiam que uma boa aula só é possível com o uso de aparatos tecnológicos, como se as interações humanas tivessem menor valor que aquelas mediadas por meios tecnológicos. Vivemos em um espaço-tempo digital, que questiona conceitos como material, real, virtual. É o ciberespaço, onde cada um é potencialmente emissor e receptor. O que une as pessoas reais neste espaço são os interesses comuns. Muitos blogueiros afirmam diretamente ou forma subliminar que criaram seus blogs com a finalidade de agregar pessoas em torno de interesses comuns. Já o blogueiro Nº 15 sugere que o seu é um protesto, criado a partir de sua “Indignação com a mesmice e acomodação dos colegas professores e incompetência dos gestores da educação”. E complementa: O blog serve como uma espécie de catarse. Através dos artigos que leio e seleciono percebo que outros, assim como eu, buscam alternativas que amenizem as dificuldades que encontramos no caminho da Educação.

Poucos blogueiros comentaram sobre a motivação financeira que a blogueira Nº 18 menciona: A princípio começou como que por brincadeira. Sempre fui um pouco curiosa na utilização de novidades e atraída pelos bastidores (templates, layouts, HTML... etc). Mas como o passar dos dias fui percebendo a necessidade de passar a diante informações básicas de sala de aula, fui me envolvendo, conhecendo pessoas, trocando ideias... Mas hoje há um

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reconhecimento importante que é o Google adsense isso também nos impulsiona. É sempre bom ter uma renda extra no final do mês. Rs

Os textos, as imagens os vídeos e comentários nos blogs e na internet como um todo, são livres de avaliação ou de permissões para publicação. Não existe conselho consultor, editor ou conselho editorial. Cada um diz o que quer, para ninguém ou para quem quiser ler, ver e ouvir. Assim como a emissão de ideias é livre, o consumo também é e este se dá de acordo com as conveniências do receptor, que pode, inclusive, tornar-se um replicante e, se o fizer, será direcionando para um grupo que partilha de interesses comuns, em um ciclo sem dimensões definidas. A blogueira Nº 9 ratifica isso em sua afirmação: [...] minha intenção era registrar minhas descobertas no uso das TICs integradas ao currículo. [...] Acho interessante a dimensão que ele tomou, pois eu criei ele para mim! Ele iniciou como um diário [...]. E aos poucos outras pessoas foram encontrando significado nas minhas postagens. [...] foi maravilhoso encontrar pessoas com interesses parecidos aos meus”.

Gráfico 10 – Como descreveria seu blog?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Essa questão traz duas perguntas, que desmembramos para melhor analisar. Alguns professores responderam apenas uma das duas perguntas. Nem todos os entrevistados descreveram com clareza seu blog e tiveram dificuldades para expressar em que categoria o enquadraria, dando respostas difusas, que acabamos por interpretar a partir da análise detalhada do blog.

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Gráfico 11 – Em qual categoria enquadra seu blog?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Metade dos entrevistados teve dificuldade para definir a categoria de seu blog, dando respostas que não se referiam à categoria, mas ao estilo: “O meu blog é bem informativo e de visual muito agradável”. Aceitamos as respostas em que apareceram a palavra “educacional”, como referência à categoria Educação.

Gráfico 12 – Com que frequência posta material no blog?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Dois entrevistados que disseram postar diariamente material no blog, o fazem graças às postagens agendadas ou programadas. Um entrevistado respondeu à pergunta de maneira a não ser possível identificar a frequência das postagens.

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Alguns afirmaram fazer postagens diárias, mas, visitando diariamente os blogs, não confirmamos isso em todos que fizeram tal afirmação. Muitos blogueiros reclamaram de falta de tempo para fazer as postagens, mas não disseram que tempo utilizam para atualizar os blogs, se o horário livre ou o horário de trabalho. Houve um “empate” entre aqueles que alegaram não ter uma frequência definida e os que disseram postar diariamente. Visitando seus blogs percebemos que os que dizem não ter frequência o fazem quase que diariamente. Gráfico 13 – Quais critérios você utiliza para selecionar o material das postagens?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Alguns entrevistados indicam o critério “importância” para seleção dos conteúdos a serem postados no blog, porém o conceito de importância varia de pessoa para pessoa, de acordo com os valores pessoais. Dessa forma, isso atrai para os blogs seguidores e visitantes que desfrutam de interesses comuns. São muitos que alegam postar prioritariamente seus textos ou suas aulas. Estariam eles exercitando sua vaidade nessa seleção? Houve um empate entre os que afirmam selecionar as postagens de acordo com a utilidade que possam ter para o trabalho pedagógico e entre aqueles que afirmam fazê-lo de modo a favorecer a contextualização com os temas das áreas em que atuam o que sugere preocupações com a utilidade (o que seria importante para o professor) e a contextualização (que seria importante para os alunos), porém ambos os focos visam o sucesso da aprendizagem dos alunos. Com essa pergunta instigamos os professores a exporem suas motivações para a seleção dos conteúdos e, ao fazer isso, demonstram o tipo de influência que

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pretendem exercer sobre os membros e visitantes de seu blog, o tipo de “formação” que pretendem ministrar. Aqueles que optam por postar suas práticas ou sugestões de atividades para os professores, se mostram preocupados com a prática, com o fazer pedagógico, com o “como fazer” explicitam um viés de racionalidade prática, sugerindo um blog inspirado no modelo de treinamento, cujas postagens visam treinar os professores para uma prática exitosa. Os blogs classificados neste trabalho como VITRINE se enquadram nesse perfil de formação. O foco deles se mostra na aprendizagem e não no ensino, como pode ser observado na fala da blogueira Nº 16: [...] como professora e coordenadora sei o quanto é difícil ter tanta criatividade para montar e criar atividades e planejamentos que atenda aos conteúdos propostos e ainda sejam significativos e atraentes para os alunos que vivem numa era onde precisam de coisas que atraiam e façam com que tenham gosto pelo aprender.

É evidente a preocupação com o “como ensinar” de maneira que o aluno queira aprender e não com “o que ensinar” para que ele aprenda mesmo “sem querer”.

Figura 55 – Sugestões de atividades para serem realizadas nas aulas

Fonte: blog Nº 16 e 13, abril de 2013

Já os que se mostram preocupados com a “formação teórica” dos professores, que postam textos acadêmicos, de reflexão, anúncios de eventos de

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formação e notícias do campo educacional explicitam um viés enciclopédico, em que os professores devem estar munidos de conhecimentos teóricos (acadêmicos), a fim de alcançarem amadurecimento profissional e sucesso no processo de ensino e de aprendizagem. Figura 56 – Postagens de textos para reflexão e estudo

Fonte: blog Nº 15, abril de 2013.

Blogueiros que fazem os dois tipos de postagem acreditam estar atendendo a ambos os tipos de professores: aqueles que começam a carreira e precisam de apoio para garantir uma prática de excelência e aqueles que, já estando em exercício, precisam ter a visão educacional ampliada, amadurecendo sua percepção da carreira docente e, consequentemente, seu trabalho pedagógico, pautada na reflexão sobre a prática, ancorada no saber teórico. Os blogs classificados como “estudos teóricos” se enquadram nesse perfil de formação.

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Figura 57 – Postagem de sugestão de atividade para o dia do índio

Fonte: blog Nº 01, abril de 2013.

Figura 58 – Postagem de texto para reflexão e estudo

Fonte: blog Nº 01, abril de 2013.

Os blogs classificados como “estudos teóricos em área específica do conhecimento” se enquadram no modelo compreensivo de formação, onde o importante é que o professor seja um intelectual que compreende logicamente a estrutura da matéria que leciona.

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Gráfico 14 – Quem são os frequentadores ou seguidores do seu blog?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Um entrevistado não respondeu, deixando a questão em branco. Como mostra o gráfico, a maior parte dos frequentadores dos blogs de professores são outros professores, o que reafirma a questão da aglutinação por interesses comuns. Gráfico 15 – Como ocorre a interação com seus seguidores?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Esta questão fez com que sentíssemos falta de ser blogueira também para estar mais inserida no meio e entender com clareza como se dá essa interação com os membros e visitantes, uma vez que só pudemos ter acesso aos comentários e às redes sociais e a maioria dos entrevistados alega que interage por respostas aos comentários, troca de e-mails e pelas redes sociais. Como vimos no capítulo segundo desse trabalho, interação não é uma reação ao outro, nem uma simples troca de mensagens, mas ela acontece de fato quando um dos interagentes é afetado pelo outro. Alguns entrevistados se referem à interação

indicando

todo

e

qualquer

tipo

de

contato

com

os

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seguidores/frequentadores dos blogs, de um simples “obrigado” e até mesmo um “emoticon” postado em resposta a algum elogio ou breve comentário. Figura 59 – Comentário elogioso em blog

Este tipo de comentário não se traduz em interação, uma vez que um visitante demonstra estar “reagindo” ao que lhe fora exposto, sem retorno e sem um diálogo onde as partes se afetem mutuamente.

Fonte: blog Nº 6, Cristina Silveira, abril de 2013.

Alguns blogs apresentam situações em que há diálogo, troca de opiniões e uma interação de melhor qualidade: Figura 60 – Diálogo entre blogueiro e membro de blog

Fonte: blog Nº 1, abril de 2013.

Nesses comentários há troca de ideia, de opinião, diálogo e a possibilidade de reflexão a partir do ponto de vista do outro, podendo um afetar o outro com sua argumentação. É um diálogo que apresenta melhor qualidade na interação que os exemplos anteriores.

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Visitando os blogs e as postagens mais antigas, percebemos que com o passar do tempo os contatos por respostas aos comentários diminuíram. Indagamos aos blogueiros o motivo para essa diminuição no número de comentários às postagens e foram unânimes em responder que se deve ao crescimento das redes sociais, principalmente o Facebook, onde a interação é maior e mais rápida. Em entrevista via Facebook, o blogueiro Nº 22 afirmou: No Facebook as pessoas recebem imediatamente as suas postagens, a todo segundo aparecem mensagens, imagens, vídeos e outras informações, você querendo ou não vai receber a postagem de seu "amigo" do Facebook e se na primeira vista te chamar a atenção você vai dar uma olhada mais demorada, curtir, comentar e até compartilhar se você achar que os seus amigos precisam ver aquilo, então em questões de segundos as pessoas já podem estar dando algum tipo de resposta. Já no blog as pessoas tem que ir até o endereço ou fazer uma pesquisa na internet que o leve ao blog, além do mais, são poucas as pessoas que comentam em blogs, por achar que o comentário tem ser algo elaborado, a altura da postagem, no Facebook uma curtida já mostra que a postagem te agradou. Por isso tudo, tenho disponibilizado as postagem do meu blog no Facebook, sempre com uma imagem provocativa para chamar a atenção. Um abraço e estou a disposição.

Isso nos sugere que está ocorrendo uma migração do blog para as redes sociais e o Facebook vem se mostrando como o local preferido dos blogueiros para as discussões e as interações de melhor qualidade. O blogueiro Nº 3 afirma que: “A interação ocorre, geralmente, através de respostas aos comentários e pelas redes sociais, tendo em vista que são integradas ao blog”. As redes sociais não são extensões dos blogs, mas espaços diferenciados atrelados a ela, onde as interações acontecem com melhor qualidade, pois têm-se a chance de interagir instantaneamente através de chat. Os telefones celulares oferecem acesso às redes sociais em qualquer lugar onde o blogueiro esteja e, como já dissemos anteriormente, onde estiver o blogueiro aí estará o blog, pois não dá para separá-las, uma vez que sem o blogueiro não haveria o blog. “Sempre que possível eu respondo os comentários e temos página no facebook. Muitos seguidores do blog também participam do facebook” (texto como no original), afirma a blogueira Nº 6. Chamamos a atenção para o fato do uso da palavra “muitos” ao invés de “todos”. Isso sugere que não há um abandono do blog em preferência ao Facebook por conta de muitos internautas, ainda não muito “fluentes” no ciberespaço que não usam as redes sociais – e diríamos “ainda”. É

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como se os blogueiros, atentos à diminuição dos comentários às postagens e das interações via comentários e e-mails, quisessem estar próximos de seus seguidores, estreitando ou não deixando afrouxar os laços. “Como o blog ganhou, recentemente, uma Fan Page, as pessoas interagem mais através desse espaço”, ratifica a blogueira Nº 10 e também a Nº 17: “Temos perfil no Twitter e no Facebook e a interação se dá mais por essas mídias sociais do que pelo blog, que tem poucos comentários”. A blogueira Nº 1, que mantém um blog bastante movimentado, tanto em relação ao volume de postagens quanto de comentários a elas, teve uma diminuição significativa na quantidade de comentários de dois anos para cá. Ela mantém também dois grupos de discussão sobre educação no Facebook, onde também criou uma página do seu blog, assim como vários outros pesquisados fizeram. Abaixo a apresentação de um dos grupos e a seguir alguns comentários e discussões que acontecem nele:

Figura 61 – Palavras de abertura de grupo de discussão no Facebook

Fonte: página do Facebook administrada pela blogueira Nº 1.

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Figura 62 – Diálogo em grupo de discussão no Facebook

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Fonte: página do Facebook administrada pela blogueira Nº 1.

Ao ser entrevistado via e-mail sobre esta mudança nos meios e modos de interação entre os blogueiros, o Professor Doutor José Armando Valente, da Unicamp, respondeu: Realmente acho que os blogs mudaram de funcao. Agora eles sao mais repositorios ou vitrines para mostrar o que as pessoas fazem. A comunicacao estah acontecendo via outros meios.

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Sobre interacao e interatividade, realmente existe uma confusão. Isso eh causado princialmente pelo pessoal da Comunicação que nao entende nada de Educacao.

Já o professor Doutor Tiago Ribeiro, da FEBF afirmou: [...] acredito que os blogs não estejam com os dias contados, mas em constante ressignificação. Cada novo gênero digital que surge acaba modificando o papel dos outros que já existem. Os blogs surgiram como "diários digitais", foram mudando seu papel e, hoje, perderam o status de principal meio de comunicação entre o autor e seus seguidores. Acredito que eles sejam um pouco mais do que simples depósitos de conteúdos. Eles são também o meio em que as pessoas comentam a validade desses conteúdos, com críticas, elogios e os seguidores interagem com o autor; no blog, a interação seria com o conteúdo.

Dentre os entrevistados, apenas dois não possuem perfil no Facebook. A maioria tem perfil pessoal e “fan page” do blog, onde postam, em ambas em alguns casos, links remetendo às postagens. Na verdade é como se fosse um convite para que os contatos do Facebook visitem o blog, como afirma a blogueira Nº 20: Faço a divulgação dos novos posts no Facebook e Twitter, chamando a atenção de quem ainda não leu algum determinado post, para entrar no blog e conferir ou algo do gênero. E esta divulgação tem dado muito certo!

Figura 63 – Página do blog Nº 10 no Facebook

Fonte: página do Facebook da blogueira Nº 10, abril de 2013.

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Figura 64 – Fan page do blog Nº 10 no Facebook

Fonte: fan page do Facebook do blog Nº 10, abril de 2013.

Figura 65 – Página do blog Nº 1 no Facebook

Fonte: página do Facebook do blog Nº 1, 2013.

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Figura 66 – Fan page do blog Nº 1 no Facebook

Fonte: fan page do Facebook do blog Nº 1, 2013.

Alguns usuários fazem de suas páginas pessoais no Facebook ou das fan pages de seus blogs uma espécie de blog também, com postagens de atividades, fotos, imagens, textos e vídeos retirados de sites e blogs. Especulamos que sejam professores muito à vontade com o meio digital e as ferramentas disponíveis, que seguem a lógica capitalista da obsolescência. Pouco tempo atrás as pessoas interagiam via Orkut, rede social que perdeu o glamour com o crescimento e popularização do Facebook, que cederá lugar para outra e por aí vai... Gráfico 16 – Qual a importância de ter ou frequentar blogs?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Divulgar trabalho, livros, projetos ou materiais foram as expressões mais usadas pelos entrevistados, seguida de interagir com outras pessoas, porém o que chamam de interação é todo tipo de contado. É recorrente a aceitação da ideia de interação como uma reação a uma ação inicial, o que Primo (2011) chama de interação reativa. É notória também na maioria dos blogs a divulgação pessoal de eventos em que os autores participam, de momentos no exercício da docência ou

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mesmo em situações fora do contexto escolar, como em cerimônias religiosas ou no lazer. Gráfico 17 – Ao postar material de interesse dos professores, existe alguma intenção de ajudá-los a melhorar a prática pedagógica?

Fonte: Cristina Silveira, abril de 2013.

Nenhum dos entrevistados negou a intenção de contribuir para a melhora da prática de outros professores através de suas postagens nos blogs. Alguns disseram não ter sido essa a motivação para criar o blog, mas, ao perceber que poderiam ajudar outros professores, sentiram-se realizados e recompensados com o resultado. Não era esta a intenção inicial do blog. Mas ratifico que isso me deixa bastante realizado. Poder contribuir para a qualidade do trabalho de ensinar num país tão carente de boas referências acabou virando mais um bom motivo para eu continuar blogando. (Blogueiro Nº 2)

Já outros afirmam claramente essa intenção: “Na verdade existe a intenção de compartilhar, de aperfeiçoar”, a prática dos outros professores, afirma a blogueira Nº 6. A blogueira Nº 7 vai mais longe ainda: Sempre, tem uma segunda intenção, nunca é somente postar. É gostoso receber o feedback de alguns visitantes e seguidores, dizendo que conseguiram fazer algo novo ou que estão felizes em aprender algo novo.

O blogueiro Nº 15 sentencia: “Sem dúvida, mas tenho a consciência de que aqueles que mais necessitam de ajuda, são exatamente os que não acessam por falta de interesse”. Já blogueira Nº 18 não nega: “Sem dúvidas! Essa é a principal intenção que norteia nosso blog!” e pelas aspas podemos inferir sua veemência ao se expressar.

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A blogueira Nº 25 nos dá a certeza da intenção dos professores ao criarem seus blogs: “O objetivo inicial do blog foi esse, disponibilizar textos e material para formação continuada dos professores. O feedeback foi bom, quase mil acessos por semana”.

3.4 Tentando responder às inquietações iniciais

A tarde encontrou-me aqui, entre tentativas perdidas. Perguntas seculares se levantavam do meu coração [...]. Cecília Meireles No início deste trabalho nos perguntamos quais seriam os interesses de professores para usar os blogs como forma de contato com outros professores, dentre tantas outras ferramentas da internet. Mediante suas respostas podemos afirmar que é a facilidade da criação e manutenção dos blogs, que a cada dia aprimoram seus serviços, oferendo a oportunidade de atuar como blogueiro até as pessoas com pouco conhecimento do uso das tecnologias. Perguntamos se os professores seriam atraídos pela facilidade de manter contato com outros professores, de forma atemporal, virtual e em rede, oferecendo a oportunidade de ultrapassar os limites do grupo de amigos e o processo da pesquisa sugere que o “estar na rede” para ser visto e “acessado” é um atrativo bastante latente. Todo o contexto visto até aqui nos sugere que nos blogs eles buscam e transmitem conhecimentos, em uma rede que se caracteriza como sendo uma nova espécie de formação continuada que mesmo não estando associada à formação institucional, com definição de tempo e espaço específico para acontecer, nem associada às agências de formação institucionais ou governamentais não deixam de ter influência sobre a formação pessoal e profissional dos professores e impacto sobre a prática. Com o exposto, ousamos afirmar que criar e manter blogs destinados a outros professores são ações de autogerenciamento de formação continuada em um meio que não é reconhecido ainda como espaço de formação, mas onde ela ocorre de modo não formal. Questionamos se a intenção dos professores blogueiros seria apenas participar de um modismo, como forma de estar “antenado” com as novas maneiras de se

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vivenciar as relações interpessoais e não encontramos elementos que sustentem uma afirmação dessa natureza, pois encontramos motivações de natureza diversa, porém todas relacionadas a uma intenção de compartilhar saberes, mesmo prevalecendo em alguns casos a lógica da reparação da formação formal que os professores tiveram, ou seja, fornecem nos blogs conhecimentos que julgam necessários para que os professores tenham uma

prática docente de melhor

qualidade e acreditam estar colaborando para isso, reparando a falta de saberes que a formação inicial dos seguidores ou visitantes não ofereceu. Os professores blogueiros concebem a educação e a profissão docente de maneira conflitante e às vezes ambígua, pois a maioria elencou pontos positivos e negativos, sendo os pontos negativos mais evidenciados ao falar de educação e os pontos positivos muito mais mencionados ao se referir à carreira docente, porém a superação desses conflitos se dá, dentre outras formas, com a atitude autônoma de criar e manter o blog com entusiasmo, mesmo com toda falta de tempo que muitos relatam. Isso sugere autonomia docente pautada na reflexão. A grande quantidade de material nos blogs que intencionam levar os professores à reflexão sugere uma crença no fato que, refletindo sobre as questões relacionadas ao fazer pedagógicos, aos processos de ensino e aprendizagem, ao uso das tecnologias como ferramenta de melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, entre outras questões pertinentes à docência, os professores podem ganhar autonomia profissional. Os diferentes tipos de postagens nos blogs nos levam a inferir que os blogueiros pretendem atuar como formadores de outros professores de modo a propor uma prática mais voltada ao alcance de objetivos de ensino, através da observação das aulas expostas e da utilização dos materiais fornecidos. Já outros blogueiros o fazem pelo estímulo à reflexão, com a leitura dos textos propostos ou o maior domínio dos conteúdos de áreas específicas, apostando assim em um viés mais acadêmico para a melhora da qualidade do ensino ministrado por eles. Em ambos os casos o “eu” que esses professores lançam “em cena”, na rede, sugere um professor seguro de sua atuação como docente. Tão seguro que se sente a vontade para se expor para quem queira ver, sujeitam-se às críticas de outros. Na verdade, não percebemos em nenhum deles preocupação com crítica, mas, acima disso, uma vontade de criar redes relacionais.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como uma criança antes de ensinarem a ser grande, Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.

Fernando Pessoa

A internet é um veículo de transgressão, que permite transcender, ir além dos territórios reais, alcançando cantos e recantos que as limitações geográficas não conseguem imaginar. Ela permite ir além dos territórios “permitidos”, navegando entre todos os possíveis pontos da rede, indo a direções tão vasta quanto as possibilidades dos encontros. A formação do professor hoje precisa preparar um profissional para agir em um contexto social conflitante, onde a informação circula livremente. É preciso, mais que ensinar o que já está exposto, ensinar às novas gerações a aprender a aprender, a olhar criticamente, a selecionar e usufruir das informações ofertadas como ferramentas para a construção de um saber poderoso, capaz de permiti-lo agir e participar dos movimentos sociais. Quais são os caminhos anunciados para novas formações continuadas? Quais as expectativas dos professores e que necessidades eles enunciam como aquelas que esperam que sejam atendidas pelas formações vindouras? Não encontramos respostas para essas perguntas e desejamos que outros pesquisadores se inspirem e desejem trilhar por aí. O ciberespaço permite a criação de novas comunidades, reunidas para além do espaço físico, unidas por força de interesses comuns. E, enquanto a globalização efetiva a perda de identidade e o pertencimento a territórios físicos locais, os blogs institucionais prezam por reafirmar esse território, delimitando o espaço da escola dentro de uma massa disforme e sem contorno como é o ciberespaço. É o avivamento de uma comunidade local em espaços-tempos fora do real. É latente uma nova socialização, mediada pelo computador, que conecta pessoas que partilham dos mesmos interesses, valores e fundem suas culturas, recriando-se ao mesmo tempo em que criam uma cultura coletiva vivenciada em espaços-tempos diferenciados entre os membros dessa comunidade que se forma já em constante mutação. Sugerimos uma investigação dessas comunidades, dessas

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novas redes de socialização cuja coluna vertebral são os interesses comuns, não mais os aspectos físicos ou geográficos. Em um país de maioria parda encontrar a maioria de professores blogueiros brancos despertou nossa atenção para a reprodução do quadro de desigualdade em todos os sentidos que há entre brancos, pardos e negros. Onde estão nossos professores blogueiros pardos e negros? Não teriam esses interesses em criar blogs destinados a outros educadores? Estariam blogando em outras direções? Rumo a questões pessoais? Ou, como especulamos, estão alijados do domínio tecnológico, da mesma forma como o estão de tantas outras questões, nas quais os brasileiros brancos estão a sua frente? São questões que apontam para investigações inovadoras. O fato de a maioria dos blogs de educadores pertencerem a professoras também é uma questão que merece atenção dos pesquisadores da educação. Hoje, no Brasil, o magistério das séries iniciais é majoritariamente feminino. Isso justifica o maior número de blogueiras encontrado na pesquisa, porém também encontramos alguns homens autores de blogs do tipo “vitrine”, que postulávamos serem de autoria feminina. Acreditamos que pesquisas futuras podem apresentar resultados surpreendentes quanto aos autores dos blogs, suas motivações, concepções educacionais e exercícios da docência. Muitos professores ainda temem o uso das tecnologias e, se não temem, não dão a elas a devida importância por desconhecimento de seu potencial revolucionário. Alguns blogueiros apontaram esse medo como sendo fruto de informações erradas recebidas ao longo da vida e de outros que fizeram tentativas inadequadas e que foram frustradas. Quem são esses professores? Onde estão? E de que modo as formações continuadas podem contribuir para reverter este quadro e colocar os professores se não em pé de igualdade com a “cibergeração” ou geração digital que está nas escolas, ao menos permitir a eles um grau de autonomia profissional capaz de buscar novos conhecimentos e formas autônomas de se manter atualizado e em sintonia com seus alunos. Um dos blogueiros, que leciona no segundo segmento do ensino fundamental e no ensino médio, relaciona esse não uso fluente das tecnologias à falta de orientação dos pedagogos nas escolas. Essas também são questões que se mostram como frutíferos campos para outras pesquisas.

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Diz o dito popular que “cada um só dá aquilo que tem”, assim, o tipo de postagem privilegiado pelos blogueiros nos serve de termômetro ou instrumento de análise de sua autonomia profissional. O fato de todos os autores de blogs do tipo VITRINE serem pedagogos nos leva a questionar se a formação desses docentes estaria contribuindo para um maior foco na prática, esta sendo compreendida como ações que se possa vislumbrar a olhos nus, que apareçam em forma de “caprichos didáticos”:

cadernos

rigorosamente

de

encapadas

planejamentos e

enfeitados,

personalizados,

murais

cadernos

de

chamativos,

alunos artefatos

artesanatos atraentes e bem confeccionados, enfim, todo tipo de materiais “fofos” (como uma das blogueiras se referiu à esses caprichos). É notório a valorização exacerbada da prática em detrimento da reflexão, da análise, da pesquisa, do estudo teórico conceitual. A observação dos dados coletados apontam que os modelos de formação existentes nas formações institucionalizadas também se mostram latentes nos modos como os blogueiros organizam seus blogs. A formação docente dos autores dos blogs se mostra influente na elaboração e manutenção de seus blogs. Imprimem marcas em seu fazer pedagógico que se estendem em todos os domínios de suas ações, em sala de aula e para além dela, quando pessoal e profissional se mostram tão imbricados que impossível perceber a linha tênue entre um e outro. Os autores de blogs do tipo “estudos teóricos” se mostraram explicitamente os mais conscientes de certa interferência na formação de outros docentes, postulandose em alguns casos, inclusive, como “formadores de professores”, mantendo em suas postagens um tom acadêmico e/ou informativo. Acreditamos que um acompanhamento mais próximo de alguns deles, levando-se em conta que agora utilizam-se também de outros meios, como as redes sociais, poderia trazer à luz inovadoras ações formativas, mediadas por computador, sobre as quais não existem “holofotes” e que transcorrem, evoluem e se transmutam mais velozmente do que estamos acompanhando. Os dados levantados na pesquisa nos levam a inferir que os professores blogueiros também aprendem com os outros docentes que seguem seus blogs, pois através das interações com eles os blogs vão se modificando, o que indica que o blogueiro também foi afetado pelos frequentadores. Essas modificações se configuram em aspectos que apontam para a colaboração e a aprendizagem mutua entre os professores blogueiros e seus seguidores. Essa evolução tanto dos blogs

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quanto dos blogueiros se mostra como caminho investigativo promissor, capazes de nos revelar facetas da autonomia docente ainda não conhecidas ou reveladas. Um fato que se evidenciou muito e que não tem como ser desprezado é a qualidade das interações dos professores na rede social Facebook, que se mostrou muito maior que nos blogs. Notamos certo “desapego” do blog e um uso muito mais frenético dessa rede social nos dois últimos anos, período em que ela começou a se popularizar no Brasil. Usamos a palavra entre aspas na falta de uma que substituísse de forma menos árida a palavra abandono, por que os blogs não foram abandonados, mas mostram-se mais como um depósito de “materiais” (aqueles contidos nas postagens). Isso nos pareceu mais evidente ainda no caso dos blogs do tipo “estudos teóricos”, sobre os quais sugerimos que haja novos estudos pela riqueza de elementos presentes neles que nos despertaram tantas inquietações, as quais não foram possíveis contemplar e deixar fluir neste trabalho. Embora tenhamos identificado a prevalência de uma concepção compensatória nos

blogs,

onde

o

blogueiro

busca

compensar

ou

suprir

seu

membro/seguidor/frequentador naquilo que julga faltar em sua formação e que ele tem condições de oferecer, deixando em segundo plano as características dialógicas, investigativas e interativas de trocas de saberes docentes, que julgávamos ser a tônica dos blogs educativos, não podemos afirmar que não haja a intenção de formação de redes de diálogos, porém percebemos que isto se dá atualmente mais interativamente através das redes sociais, em especial o Facebook, onde as trocas de ideias e os debates são mais acirrados, instantâneos, pontuais e partem de provocações de qualquer membro da “comunidade”, diferente do que se dá nos blog, onde o autor do blog é quem decide e delibera sobre as postagens, cabendo ao membro apenas “reagir” a ela. Os blogs e as redes sociais têm a capacidade de promover a criação de redes relacionais em torno de temas específicos, mostrando-se como ferramentas eficazes para a formação continuada de professores. São meios modernos, atuais, que podem ser utilizados para formar um professor moderno e atual. Se a internet é transgressora, levando o homem para lugares nunca antes imaginados, a educação deve se valer dela para criar um sujeito transgressor, que consiga ir além de seu egoísmo e assim enxergar-se como um ser global, com compromissos que vão de encontro à coletividade.

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Os blogs se mostram como ações de autogerenciamento por parte dos docentes, que não mais se isolam com suas dúvidas, incertezas e insegurança, mas, valendo-se da democratização da informática, lançam-se na internet para socializar saberes, partilhar práticas em uma rede de colaboração mútua, que é midiatizada pelo computador e ganha alcance nunca antes imaginado.

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