Blogs Evangélicos: o impacto da mensagem cristã na internet [organizador] (Blogs Evangelicals: the impact of the Christian message on the Internet [organizer])

May 31, 2017 | Autor: V. Nascimento Mil... | Categoria: Blogs, Blogging, the Blogosphere, Teologia, Mídia
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Valmir Nascimento (org.) Renato Vargens - Geremias do Couto - Norma Braga - Leonardo Gonçalves Vinícius Pimentel - Carlos Roberto Silva - Uziel Santana - Eliseu Antonio Gomes Wallace Sousa - Tiago Santos - Wilma Rejane

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O IMPACTO DA MENSAGEM CRISTÃ NA INTERNET

1ª Edição Campina Grande – Paraíba

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José Fabiano Gonçalves Silva Diretor Geral Site: www.visaocristocentrica.com Email: [email protected] Facebook: Consciência Cristã VINACC Endereço: Rua Oswaldo Cruz, 229, Centenário, CEP 58428-095, Campina Grande - Paraíba Telefone: (83) 3322-6423

José Fabiano Gonçalves Silva Editor Geral Weber Firmino Alves e Mariana da Silva Gouveia Revisão textual Sandro Wagner Capas e Diagramação Conselho Editorial Euder Faber Guedes Ferreira Jorge Issao Noda Nelsivan Marques Weber Firmino Alves José Mário da Silva Janeide Andrade Feitosa Ferreira Renato Vargens

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DEDICATÓRIA

A todos os blogueiros evangélicos, que usam a internet pela causa do Mestre.

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SUMÁRIO

Prefácio .......................................................................................... 7 Introdução .................................................................................... 11 1.

A revolução dos blogs e o surgimento da blogosfera evangélica ........................... 13 Valmir Nascimento Milomem Santos

2.

O perfil da blogosfera evangélica brasileira ..................... 31 Wallace Sousa Circuncisão

3.

Os blogs e o futuro da igreja ................................................ 43 Vinícius Musselman Pimentel

4.

Os blogs e a produção teológica .......................................... 63 Tiago Santos

5.

Os blogs e a defesa da fé ...................................................... 79 Leonardo Gonçalves

6.

Como potencializar a influência da blogosfera evangélica ................................ 91 Geremias do Couto

7.

Os blogs e a liderança intelectual ...................................... 101 Norma Braga

8.

Os blogs e a guerra cultural ................................................ 117 Valmir Nascimento Milomem Santos

9.

A evangelização na internet ................................................ 129 Wilma Rejane

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BLOGS EVANGÉLICOS 10. A blogosfera evangélica: considerações de ordem jurídica ....................................... 139 Uziel Santana 11. A qualificação do blogueiro e a sua vida espiritual ................................. 157 Carlos Roberto Silva 12. Do blog para a editora .......................................................... 169 Renato Vargens 13. Como criar o seu blog .......................................................... 177 Eliseu Antonio Gomes 14. Entrevista com J. Richard e Nancy Pearcey ..................... 185

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PREFÁCIO

A palavra “Blog” nasceu de uma brincadeira com palavras. A expressão ‘weblog’, um diário registrado na web, tornou-se verbo “we blog”. O substantivo fez-se verbo e se espalhou entre nós! Daí para que o verbo ‘blogar’ estivesse na boca e nos teclados não demorou nada, como tudo o que acontece na rede. O texto desse livro não é tanto sobre o substantivo, mas sobre o verbo, ou seja, o que está acontecendo agora no mundo virtual e como isto afeta a igreja evangélica brasileira. E por que você deve ler este livro sobre blogs evangélicos? Primeiramente pelo tema de que trata; afinal já se sabe que blogar é coisa séria e não um complemento ao ócio dos desocupados. Inclusive muitos profissionais de várias áreas já vivem exclusivamente desse meio, desde os que concebem ferramentas até aqueles que diariamente noticiam o que acontece em nosso país e ao redor do mundo. É claro que existe muito lixo por aí no mundo dos blogs, mas não se pode negar o impacto que este meio de expressão está causando no mundo inteiro e, consequentemente, entre os cristãos. Da mesma forma, os blogs cristãos estão

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fazendo diferença na maneira como muitos vivem, sejam ou não cristãos. Sendo eu mesmo um blogueiro, leio, junto com meus companheiros, centenas de comentários, respostas, debates, críticas, xingamentos e lamentações. Alguns, só pelo gosto de criticar; mas vários, como uma exposição das dúvidas, dores, descobertas e louvores pelo acesso ao conhecimento da verdade do Evangelho por meio dos textos publicados. Outra razão para ler este livro é a sua originalidade. Já existem milhares de livros sobre blogs, mas não conheço em nossa língua um que tenha o foco na avaliação aqui feita: o que os blogs estão fazendo no meio cristão evangélico. O tema dos diversos capítulos vai lhe dar acesso a uma percepção singular sobre o impacto da blogosfera na igreja brasileira, incluindo uma introdução ao tema com uma pesquisa a respeito do que os tais blogueiros fazem. A título de exemplo, minha mãe, que agora tem 81 anos, tem um blog! Na sua simplicidade e limitações, expressa o seu pensamento: osonhodamenina.blogspot.com. Se você ainda não foi convencido a continuar, temos mais razões ainda: os autores dos diversos capítulos. Cada um deles é experiente líder, gente consciente do papel que exerce e do significado desse papel no meio de sua comunidade. Além disso, são praticamente todos blogueiros, ou seja, pessoas que estão com a mão na ferramenta que descrevem, avaliam e sintetizam neste livro. Tenho a convicção de que cada um descobriu esta ferramenta como uma maneira de estender a influência de seu pensamento e ministério entre os cristãos brasileiros, não por

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sórdida ganância, mas por entender que no Reino devemos usar todos os meios lícitos para fazê-lo visto e manifesto entre os homens. Para refletir sobre isto foram convidados Rick e Nancy Pearcey, respondendo a uma entrevista inédita para o livro a fim de refletir sobre a influência além Brasil do trabalho daqueles que descobriram esta ferramenta como meio de entrar na chamada guerra cultural, na qual temos que lutar para que o pensamento e os valores do cristianismo sejam ouvidos em meio a centenas de outros pensamentos contrários. No conteúdo dos capítulos você vai encontrar a relação dos blogs desde a evangelização, apologética, produção teológica, desenvolvimento cultural, avaliação jurídica, conselhos a blogueiros evangélicos, avaliações críticas até as coisas mais práticas como o que fazer, o que não fazer, como criar um blog e como ir dos textos de um blog para o livro impresso. Assim, concluo este breve prefácio: se você já bloga, deve ler o livro para enxergar seu trabalho diante das diversas perspectivas aqui apresentadas. Se pretende blogar, encontrará aqui um excelente e prático guia para esta tarefa. Se não faz nenhuma das duas coisas, leia para entender o que está acontecendo ao seu redor no mundo dos blogs. Essa ferramenta e seus recursos (textos, gráficos, e multimídia) não são mais parte do mundo dos alienígenas, mas estão presentes a toda hora e em todo lugar fazendo a cabeça do mundo em que vivemos. Como dito pelo nosso Senhor: “Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo”; “porque eles não são do mundo, como também eu

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não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou.” João 17:11; 14b-16 Mauro Meister é um dos autores do blog O Tempora, O Mores (Que tempos os nossos! E que costumes!  [Cícero]. Reflexões fortuitas de alguns calvinistas sobre praticamente tudo, com destaque a temas de religião, cultura e valores morais. http://tempora-mores.blogspot.com.br), juntamente com Augustus Nicodemus Lopes e Solano Portela. É professor de Antigo Testamento no Centro Presbiteriano de Pós Graduação Andrew Jumper e Diretor Executivo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI-Brasil).

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INTRODUÇÃO

Em virtude da sua simplicidade operacional, interatividade e facilidade de uso, nos últimos anos os blogs se transformaram em um dos principais meios de expressão e comunicação social. Essa nova ferramenta da cibernética tem sido responsável por uma verdadeira revolução na forma como se produz e compartilha conhecimento na rede mundial de computadores. Graças a essa nova interface, a publicação de conteúdo não é, nos dias atuais, monopólio das grandes empresas de comunicação e do jornalismo tradicional. Hoje, qualquer pessoa é capaz de produzir e distribuir informação para uma infinidade de pessoas em todos os cantos da terra. Pensando nisso, a Visão Nacional para a Consciência Cristã (VINACC) e a União de Blogueiros Evangélicos (UBE) idealizaram a presente obra, com o objetivo de abordar o surgimento dos blogs e analisar a atuação e o impacto da blogosfera evangélica no contexto da sociedade e da igreja brasileira. Trata-se de uma obra inédita na literatura evangélica, propondo-se a investigar o fenômeno da blogosfera evangélica à luz das Sagradas Escrituras e da cultura cristã. O livro foi escrito por um grupo composto por blogueiros cristãos consagrados e reconhecidos no

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Brasil, trazendo reflexões valiosas a respeito da utilização dessa ferramenta para a divulgação e defesa do evangelho na internet. Participam deste projeto Valmir Nascimento, Wallace Sousa, Vinícius Musselman Pimentel, Tiago Santos, Leonardo Gonçalves, Geremias do Couto, Norma Braga, Uziel Santana, Carlos Roberto Silva, Renato Vargens, Eliseu Antônio Gomes e Wilma Rejane. O livro contém ainda uma entrevista exclusiva - e certamente histórica - com o casal de pensadores cristãos Richard e Nancy Pearcey, onde falam sobre blogs, guerra cultural, cosmovisão cristã e literatura. Apesar da quantidade de coautores e das divergências de formações, o livro enfatiza unanimemente a supremacia de Cristo e da Palavra de Deus na prática da blogagem. Como lembrou Vinícius Musselman Pimentel, “precisamos ter a humildade de saber que a Igreja de Cristo irá sobreviver com ou sem nossos blogs, mas não sem a Palavra da Verdade”. A ética na vida virtual também foi um dos temas mais ressaltados, fazendo lembrar, como escreveu Tiago Santos, que o blogueiro cristão deve refletir os valores da fé e da ética cristã em seus textos, procurando oferecer uma palavra boa, graciosa, verdadeira, firme e bíblica. Além do profundo conteúdo teórico e reflexivo, a presente obra contém também um verdadeiro Manual do Blogueiro Evangélico, com dicas e sugestões sobre a criação, manutenção e divulgação do blog, além de recomendações jurídicas sobre o tema. Boa leitura! Valmir Nascimento Milomem Santos (UBE) Uziel Santana (VINACC)

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Capítulo 1 a REVoluÇÃo DoS BloGS E o SuRGIMENto Da BloGoSFERa EVaNGÉlICa No BRaSIl Valmir Nascimento Milomem Santos

Não importa qual seja a sua profissão ou escolaridade. Provavelmente você já ouviu falar em blogs. Nos últimos anos eles se tornaram fenômeno do mundo virtual e provocaram grandes mudanças na forma como se produz conhecimento e se publica informações na internet. Na verdade, eles promoveram uma revolução nos meios de comunicação a ponto de Jonathan Schwartz1, Presidente da Sun Microsystems, dizer que possuir um blog será tão obrigatório quanto possuir um e-mail ou um telefone, quem não tiver um blog se tornará inútil. Há quem diga até que estamos vivendo a era dos blogs: “uma nova era de constante formação de opinião, reforçada pelo lançamento de websites que potencializam ainda mais a voz das pessoas”2. Talvez essas afirmações soem um tanto quanto exageradas. Mas 1 CIPRIANI, Fábio. Blog Corporativo. Novatec Editora. São Paulo, 2006. 2 Idem; p.15.

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não são! O impacto provocado na mídia pelo surgimento dos blogs e o poder de influência que atualmente possuem são evidências incontestáveis, tanto que passaram a ser objeto de investigação nas áreas da Comunicação, Sociologia, Psicologia Social, Ciência da Informação, Literatura e até mesmo da Administração de Empresas3. Os números da blogosfera também falam por si: No início de 1999 havia menos de 50 blogs4; Em dezembro de 2007 já existiam em torno de 112 milhões de blogs, segundo o Technorati; A cada dia são criados mais de 175 mil novos blogs e produzidos 1,6 milhões de posts (cerca de 18 por segundo); Estima-se que atualmente existam em torno de 200 milhões de blogs no mundo todo, com o surgimento em média de 120 mil blogs por dia5; No Brasil, há entre 3 e 6 milhões de blogueiros/blogs e 9 milhões de usuários. Relembro, também, que hoje eles são empregados basicamente em todas as áreas do conhecimento, seja na esfera pública ou privada, e para diversas finalidades (opinião, debates, jornalismo, educação, pesquisa, política, diário virtual, prestação de serviços, download etc.), o que demonstra o seu poder de abrangência e a 3 SOUSA, Paulo Jorge [et al]. Blogosfera: perspectivas e desafios no campo da ciência da informação. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/7797. Acesso em 05/11/2012. 4 ROJAS ORDUÑA, Octavio L., [et al] Blogs: Revolucionando os meios de comunicação. Thomson Learning, São Paulo, 2007, p. 03. 5 LEMOS, Marcos. Seu blog não é nada na blogosfera. Disponível em: . Acesso em 22/10/2012.

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sua capacidade de alcançar todas as demandas da sociedade. Por essas razões, é possível entrever a importância de se encarar a blogosfera com seriedade. Deve ser vista não somente como um fenômeno tecnológico, mas também [ciber]cultural (ou como escreveu André Lemos: “fenômeno sócio-comunicacional de impacto planetário”6), com capacidade de alterar a dinâmica da produção de conhecimento e a forma de compartilhamento das informações. O QUE SÃO BLOGS? “Weblogs ou blogs são páginas pessoais da web que, à semelhança de diários on-line, tornaram possível a todos publicar na rede. Por ser a publicação on-line centralizada no usuário e nos conteúdos, e não na programação e do design gráfico, os blogs multiplicaram o leque de opções dos internautas de levar para a rede conteúdos próprios sem intermediários, atualizados e de grande visibilidade para os pesquisadores”. José Luis Orihuela “Blog é simplesmente uma página de internet muito fácil de implementar e colocar no ar. Alia-se a isso o fato de que possui uma interfáce agradável e simples de usar, o que abre as portas para qualquer pessoa que não saiba os segredos da programação web”. Fábio Cipriani

Desse modo, neste capítulo introdutório, após discorrer brevemente sobre o surgimento dos blogs, procuro demonstrar porque esse meio de produção de conteúdo promoveu uma verdadeira revolução na mídia. Ao final, trago algumas informações sobre o surgimento da blogosfera evangélica no Brasil. A GÊNESE DOS BLOGS Considera-se que o primeiro blog tenha sido a página What´s new in 97, publicada por Tim-Berners Lee a partir de janeiro de 6 AMARAL, Adriana; RECUERO, Raquel; MONTARDO, Sandra (orgs.) Blogs.com: estudos sobre blogs e comunicação - São Paulo: Momento Editorial, 2009; p. 17.

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1992 para divulgar as novidades do projeto World Wide Web7. O termo weblog, segundo a Wikipédia, foi criado por Jorn Barger8 em 17 de dezembro de 1997. A abreviação blog, por sua vez, foi inventada por Peter Merholz, que, de brincadeira, desmembrou a palavra weblog para formar a frase we blog (“nós blogamos”) na barra lateral de seu blog Peterme. com, em abril ou maio de 1999. Pouco depois, Evan Williams do Pyra Labs usou  blog  tanto como  substantivo quanto  verbo  (to blog ou “blogar”, significando “editar ou postar em um weblog”), aplicando a palavra blogger em conjunção com o serviço Blogger, da Pyra Labs, o que levou à popularização dos termos. 9 No entanto, de acordo com Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo, no livro “Blogs.com - Estudos sobre blogs e comunicação”, foi o surgimento das ferramentas de publicação que alavancou os weblogs: “Em 1999, a Pitas lançou a primeira ferramenta de manutenção de sites via web, seguida, no mesmo ano, pela Pyra, que lançou o Blogger. Esses sistemas proporcionaram uma maior facilidade na publicação e manutenção dos sites, que não mais exigiam o conhecimento da linguagem HTML e, por isso, passaram a ser rapidamente adotados e apropriados para os mais diversos usos. Além disso, a posterior agregação da ferramenta de comentários aos blogs também foi fundamental 7 Obra citada; p. 02. 8 Jorn Barger mantém até hoje o estilo original de seu blog Robot Wisdom . 9 Disponível em: . Acesso em 23/10/2012.

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para a popularização do sistema. Ainda em 1999, Cameron Barrett, do Camworld, escreveu um dos primeiros ensaios a respeito do formato, denominado “Anatomia de um weblog” (Blood, 2000). Outros fatos que popularizaram os blogs foram tanto a escolha de “weblog” como a palavra do ano pelo Merriam-Webster`s Dictionary, em 2004, como a compra do Blogger pelo Google no mesmo ano, o que pode ser percebido como indícios da consagração dos blogs na época”. Essas ferramentas foram concebidas inicialmente como CMS – Content Management System (sistema de gerenciamento de conteúdo), que permitiam ao usuário “gerar de maneira dinâmica os elementos que fazem parte de um site, desde a criação de páginas, a redação, o design e os arquivos e até as licenças”10. Os três sistemas pioneiros foram LiveJournal, Pitas e Blogger. Depois vieram Movable Type, Wordpress e outros.

Interface do Blogger de 1999. Um dos sistemas pioneiro de gerenciamento de conteúdo.

10 Obra citada; p. 22.

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Blogger a partir de 2007.

Antes dessa nova interface, a produção de conteúdo na rede mundial de computadores dependia de conhecimentos avançados em linguagem de programação para o desenvolvimento de sites ou home pages. Os valores cobrados para a criação de tais sites também era fator de inibição para que as pessoas comuns pudessem publicar textos, fotos e vídeos na web. O surgimento dos blogs alterou substancialmente essa realidade, facilitando sobremaneira a criação de espaços virtuais para a divulgação de todos os tipos de conteúdo, por possuir as seguintes características: Gratuidade do recurso; Simplicidade operacional; Facilidade de uso; Rapidez de edição e publicação; Democratização do acesso; Interatividade com o leitor. Inicialmente, eles foram usados como diários pessoais na rede. Espaços de expressão pessoal, publicação de relatos, experiências e pensamentos do autor. Entretanto, com o passar do tempo,

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passaram a se expandir para outras finalidades, atingindo objetivos jornalísticos, educacionais, corporativos, políticos, ideológicos etc. Os blogs contribuíram para propagação da denominada web 2.011, a segunda geração da Internet, de característica colaborativa e participativa. Depois, veio a expressão blogosfera, termo utilizado para representar o universo dos blogs. Na sequência, esses blogs ganharam novos formatos como os videoblogs ou vlogs (especializados em vídeos), fotoblogs (especializados em fotos e imagens), microblogs (blogs para publicação de pequenos textos, com no máximo 200 caracteres, sendo o twitter.com o seu maior representante) e até mesmo os moblogs (junção das palavras “móvel” + “blogs”, que representam as páginas alimentadas a partir de celulares, tablets e outros).

A REVOLUÇÃO DA BLOGOSFERA Embora tenha surgido como uma inovação tecnológica, o impacto da blogosfera foi bem além do mundo da cibernética, chegando a ser considerada como uma verdadeira revolução sociocultural. Na literatura, um dos primeiros autores a analisar esse fenômeno foi o blogueiro norte-americano Hugh Hewitt, com o livro “Blog: Entenda a revolução que vai mudar seu mundo”12. Escrito em 11 Web 2.0 é um termo criado em 2004 pela empresa americana O'Reilly Media para designar uma segunda geração de comunidades e serviços, tendo como conceito a "Web como plataforma", envolvendo wikis, aplicativos baseados em folksonomia, redes sociais e Tecnologia da Informação. Embora o termo tenha uma conotação de uma nova versão para a Web, ele não se refere à atualização nas suas especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e desenvolvedores, ou seja, o ambiente de interação e participação que hoje engloba inúmeras linguagens e motivações. (Wikipédia) 12 HEWITT, Hugh. Blog: Entenda a revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007.

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2005, Hewitt dizia que milhões de pessoas estavam mudando seus hábitos no que diz respeito à aquisição de informação. Segundo ele, isso havia acontecido muitas vezes antes, com o surgimento da imprensa, do telégrafo, do telefone, do rádio, da televisão e da internet – agora, estava acontecendo com a blogosfera. Ele afirma que a partir do big bang dos blogs nasceram 50 mil novos jornais virtuais, pois é isto um blog “atualizado diariamente”: um jornal com um editor e tantas fontes quanto ele quiser. De acordo com Hewitt, o poder das elites de determinar o que era notícia por intermédio de seu sistema de disseminação rigidamente controlado foi abalado. A capacidade de distribuir texto está hoje verdadeiramente democratizada. O autor assegura ainda que “não importa o que você é ou o que você faz: todo o mundo da informação nos Estados Unidos passou por uma grande revolução, e essa revolução está se estendendo a todos os cantos do planeta. Hoje, todo mundo é um jornalista em potencial, incluindo seu assistente e o office-boy. Qualquer um pode ter um blog e um celular com câmera para tirar um foto sua”. (p.10) No capítulo dois de sua obra Hewitt faz um paralelo entre a Reforma Protestante e a reforma da informação dos dias atuais. Ele observa que as transformações culturais, políticas e econômicas decorrentes da Reforma que afetaram o rumo da civilização ocidental foram impulsionadas em grande parte pelo advento da imprensa de Gutenberg. “A publicação de livros mais baratos descentralizou o poder do conhecimento e mudou para sempre a estrutura da sociedade. A possibilidade da leitura tirou das mãos da elite o papel de

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interpretação abalizada e permitiu que os membros da classe média burguesa avaliassem eles mesmos a informação. As ideias podiam circular sem controle das hierarquias estabelecidas, permitindo novos pontos de vista, informações e uma liberdade pessoal muito maior. O presente da página impressa, dada por Gutenberg, foi um convite a uma compreensão renovada das coisas, sem esquecer a nova responsabilidade da reflexão crítica.” Com a invenção da imprensa de tipos móveis, o custo médio caiu aproximadamente 400 vezes. Logo, sustenta Hewitt, a vida intelectual não era mais domínio exclusivo da Igreja e da corte, e a alfabetização tornou-se uma necessidade da vida urbana. Por isso, a impressão de livros despertou o fogo intelectual no final da Idade Média, ajudando a produzir o Iluminismo e a Renascença. Sem a impressão barata tornando os livros disponíveis a uma grande parcela da sociedade – afirma o autor – um grande número de escritores, músicos, políticos, religiosos, cientistas, médicos e exploradores não teriam como transmitir seu conhecimento e sua inspiração. Foi exatamente esse contexto que contribuiu para o êxito da Reforma Protestante. Martinho Lutero, o Pai da Reforma, ao compreender a riqueza da graça divina, passou a questionar tudo o que antes ele tinha aceitado da tradição da Igreja Católica, especialmente a interpretação e o controle que ela tinha das Escrituras, os quais, ele concluiu, não eram propriedade particular da elite eclesiástica, mas a revelação de Deus a todos os homens. A partir daí, surgiram as grandes confissões da Reforma:

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Sola Scriptura

Apenas pelas Escrituras

Sola Gratia

Apenas pela Graça

Solus Christus

Apenas por Cristo

Sola Fide

Apenas pela Fé

Soli Deo Gloria

Glória apenas a Deus

Com essas ideias em mente – prossegue Hewitt – o rompimento de Lutero com Roma tornou-se iminente em 1517, ano de suas 95 Teses. As teses foram escritas em latim e afixadas na porta da Catedral de Wittenberg, que era a forma tradicional de iniciar uma discussão, e Lutero enviou uma cópia a Albert de Mainz (Cardeal conhecido também como Alberto de Brandemburgo), para alertá-lo sobre as práticas de vendas de indulgências. Hugh Hewitt, então, relata o seguinte: “Mas Lutero estava vivendo em uma nova época. Quase que imediatamente após serem enviadas, alguém, não se sabe exatamente quem, conseguiu uma cópia das teses de Lutero, traduziu-as do Latim para o alemão e as publicou. Graças a Gutenberg, Lutero – e, mais importante ainda, suas ideias – ficou conhecido em toda a Alemanha em apenas duas semanas e em toda a Europa em um mês. Cópias de suas teses circulavam por toda parte, sendo enviadas de amigo a amigo. Lutero tinha o que Wycliffe e Huss não tiveram: tecnologia. Como afirma Bernd Moeller: ‘Sem a imprensa não teria havido Reforma’. Ela tirou Lutero da obscuridade, transformando-o em um nome familiar da noite para o dia. E seu questionamento dos abusos da Igreja estava encontrando eco em toda a cristandade” (p. 88/87).

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Depois, as publicações de Lutero em alemão se intensificaram. Entre 1517 e 1520 ele escreveu em torno de trinta obras, e os estudiosos estimam que ele tenha vendido mais de mil exemplares. Mas importante ainda foi a tradução e a publicação da Bíblia. A partir dos originais, ele concluiu uma primeira versão de sua tradução do Novo Testamento menos de um ano depois e publicou uma Bíblia completa em alemão em 1534. A partir de então, no todo ou em parte, a Bíblia foi traduzida para pelo menos 2.197 idiomas. Sem adentrar ao plano espiritual, Hewitt atribui o crescimento da Reforma protestante à imprensa criada por Gutenberg, pois “ele amplificou a voz humana de tal modo que pôde ser ouvida em todo o mundo. Ele forneceu os meios pelos quais uma pessoa pode se comunicar com as massas sem a interferência das estruturas institucionais. Finalmente os indivíduos podiam falar, e ninguém podia silenciá-los”. Por essa razão, Hewitt compara a Reforma protestante, potencializada pela Imprensa, com a revolução provocada pelos blogs. Afinal, essa nova ferramenta tecnológica proporcionou a toda e qualquer pessoa a expressão democrática de suas ideias no ambiente virtual, sem a necessidade de intervenções de terceiros ou de grandes estruturas institucionais. A comunicação tornou-se mais democrática e acessível, passando a depender somente da pessoa o sucesso e o impacto da sua mensagem. De fato. O advento dos blogs pode realmente ser considerado como uma revolução da mídia, porque deu voz aos excluídos e potencializou a mensagem dos pequenos, reconfigurando inclusive o panorama da liderança intelectual.

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Antes do fenômeno da blogosfera o líder intelectual era formado graças à instituição que representava, à Universidade em que havia se formado ou à sua constante exposição na mídia. Atualmente, a liderança intelectual não é mais um monopólio. A influência nessa nova mídia e o impacto da sua mensagem depende única e exclusivamente da competência intelectual e argumentativa do blogueiro. De acordo com Octavio Ordunã13, agora, graças aos blogs, pessoas com qualquer nível de formação ou cargo em uma empresa, profissionais independentes ou até mesmo neófitos em qualquer setor podem difundir seus conhecimentos para um imenso público potencial, composto por milhões de pessoas. Ele continua: “Embora seja verdade que nem todos os conteúdos da blogosfera são escritos com esse objetivo e que apenas alguns blogs conseguem isso, a possibilidade de criar e difundir conhecimento por meio dos blogs é real e há muitas pessoas apostando todas as suas fichas nessa oportunidade”. “Advogados, economistas, consultores políticos, técnicos em informática, jornalistas e, em geral, todos os profissionais comentam sobre o seu próprio setor ou analisam a atualidade a partir de sua ótica particular, ao expor seus conhecimentos e tentar passar sua experiência, mesmo que algumas vezes também exibam suas misérias e ignorância”. Portanto, os blogs não foram uma pequena onda passageira da Internet, mas uma ferramenta poderosa que tem alterado a dinâmica de produção de conhecimento na sociedade. 13 Obra citada; 15.

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O SURGIMENTO DA BLOGOSFERA EVANGÉLICA NO BRASIL No meio dessa revolução advieram também os blogs religiosos ou, como denominou Hugh Hewitt, os blogueiros da fé: “são homens e mulheres do mundo judaico-cristão que escrevem principalmente sobre sua fé, ou de um ponto de vista que quase sempre se ajusta à sua fé. Certamente outras crenças têm seus blogueiros, mas eu conheço melhor estes, e a expressão blogueiros da fé foi utilizada pela primeira vez em referência a eles”.14 Em seu livro, Hewitt diz existir oito categorias de blogs cristãos: apologia, organização da Igreja, periódicos, metablogs, ministérios, sábios, tecnoblogs e “zines”. Atualmente, uma grande quantidade de líderes e pensadores cristãos de linha evangélica reformada e de repercussão internacional mantém blogs. Dentre eles: Desiring God (www.desiringgod.org/blog) - Ministério de John Piper The Resurgence (http://theresurgence.com) – Ministério de Mark Driscoll Reasonable Faith (http://www.reasonablefaith.org) – William Lane Craig Albert Mohler (http://www.albertmohler.com) Pearce Report ( http://www.pearceyreport.com)– Nancy Pearcey The Gospel Coalition (http://thegospelcoalition.org) - D. A. Carson, Justin Taylor e outros

No Brasil, os primeiros blogs evangélicos surgiram entre 2004 e 2005. Nessa primeira geração tiveram início blogs como: 14 Obra citada; p. 131.

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Olhar Cristão de João Cruzué (http://olharcristao.blogspot.com.br), O Tempora O Mores, mantido pelo trio Augustus Nicodemus, Solano Portela e Mauro Meister (http://tempora-mores.blogspot.com.br), Norma Braga (http://normabraga.blogspot.com.br) e Volney Faustini (http://volneyf.blogspot.com.br).

Entre 2006 e 2007 iniciavam os blogs: Como Viveremos? deste autor (www.comoviveremos.com), Altair Germano (www.altairgermano.net), Point Rhema do Pr. Carlos Roberto (pointrhema.blogspot.com.br), Belverede de Eliseu Antônio Gomes (belverede.blogspot.com.br), Júlio Severo (juliosevero.blogspot.com.br), Teologia Pentecostal de Gutierrez Siqueira (http://www.teologiapentecostal.com), Geremias do Couto (http://www.geremiasdocouto.blogspot.com.br), Silas Daniel (http://silasdaniel.blogspot.com.br), Esdras Bentho (http://teologiaegraca.blogspot.com.br/, Ciro Sanches Zibordi (http://cirozibordi.blogspot.com.br), A Tenda na Rocha de Wilma Rejane (http://www.atendanarocha.com) Renato Vargens (http://renatovargens.blogspot.com.br) E muitos outros.

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A UNIÃO DE BLOGUEIROS EVANGÉLICOS Nesse mesmo período começaram a surgir os agrupamentos de blogs evangélicos. O projeto pioneiro foi idealizado o Blogosfera Cristã (blogosferacrista.wordpress.com), que assim se definia: “Nós somos uma comunidade de blogueiros cristãos, que se reúne numa comunidade no Orkut para interagirmos de diversas maneiras... nos conhecer melhor, divulgar nossos blogs na blogosfera e debater sobre qualquer tema. Somos pensadores de Cristo! Pensamos, questionamos, concordamos e discordamos... Uma sala sadia de amadurecimento e crescimento espiritual”. Posteriormente, em 30 de agosto de 2007, foi criada a União de Blogueiros Evangélicos – UBE (www.ubeblogs.net), fruto da ideia de Altair Germano, Esdras Costa Bentho e deste blogueiro (Valmir Nascimento), com o objetivo de congregar editores de blogs de confissão evangélica e incentivar a publicação de conteúdo cristão na web, propagação do Evangelho, defesa da fé, produção de notícias e literatura bíblica.

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Posteriormente, contribuíram com o projeto João Cruzué, Eliseu Antônio Gomes, Victor Leonardo (http://gqlgeracaoquelamba. blogspot.com), Gutierrez Siqueira, Sammis Reachers (http://arsenaldocrente.blogspot.com.br), Lucas Santos, Luis Carlos Ribeiro (http://www.evangelizacao.blog.br), Wallace Sousa (http://wallysou.com), Cintia Kanesigue (http://aultimahora-cintia.blogspot. com) e Ronaldo Corrêa. O ponto chave da UBE foi a idealização de um selo com a figura de três peixinhos, símbolo do Cristianismo, para que os blogueiros pudessem inseri-lo em seus blogs como declaração da fé cristã. Rapidamente passamos a receber dezenas de pedidos de pessoas querendo se afiliar à União e, em razão do crescimento acelerado, inauguramos uma rede social na comunidade Ning (www.ubeblogs.com.br). Na plataforma Ning, entre dezembro de 2008 até 23 de junho de 2009, a UBE cresceu de 1.300 para 4 mil blogs inscritos. No final de agosto de 2009, chegou a marca de 5 mil blogs. Em 16 de Janeiro de 2012, atingiu a marca de 16.800 agregados, com crescimento aproximado de vinte inscrições ao dia. Hoje, enquanto escrevo este capítulo, já são 18.500 inscritos. A UBE tem trabalhado com a missão de incentivar a publicação de conteúdo cristão na Internet por meio de blogs e sites, para alcançar e edificar pessoas com o poder do Evangelho. Por isso, temos conclamado os blogueiros evangélicos a promover os valores cristãos dentro do ambiente virtual, com a convicção de que o conteúdo das publicações com suporte bíblico servem como bênção para a salvação, edificação, aprendizagem, discipulado e conforto espiritual para muitos leitores.

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A INFLUÊNCIA DA BLOGOSFERA Atualmente, um bom número de blogs evangélicos tem repercutido a mensagem bíblica na Internet. E a cada dia mais cresce a quantidade dessas páginas, abordando assuntos teológicos e devocionais. Dentre esses blogs, além daqueles já citados, é possível mencionar o PúlpitoCristão.com, VoltemosaoEvangelho.com, Iprodigo.com, Maurício Zágari (http://apenas1.wordpress.com), Napec.org e muitos outros. No próximo capítulo, veremos um pouco mais sobre o perfil da blogosfera evangélica. V ALMIR N ASCIMENTO M ILOMEM S ANTOS é formado em Direito e Teologia. Mestrando em Teologia. Professor universitário. Presbítero da Assembleia de Deus em Cuiabá/MT. Escritor e blogueiro. Editor do blog Como Viveremos? [www.comoviveremos.com]. Foi um dos idealizadores da União de Blogueiros Evangélicos.

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