Boxe e Psicologia

August 16, 2017 | Autor: Miguel de Noronha | Categoria: Sport Psychology, Psicologia Do Desporto
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Boxe e Psicologia O boxe amador é uma disciplina desportiva que garante uma forte compensação para alguns fenómenos psíquicos que se produzem no desportista, como o desejo de se impôr, a aspiração em ser apreciado no seu próprio ambiente, a procura de segurança e a satisfação do desejo de aventura e agressão. Em termos competitivos, a preparação para a luta no ringue efectua-se com o objectivo de conseguir a melhor aplicação dos conhecimentos técnicos. Uma técnica correcta ajuda oboxeur a mover-se com facilidade e ligeireza, a atacar e defender com rapidez, força e eficácia, recebendo o menor número de golpes possíveis. No entanto, se as leis da mecânica e da dinâmica permitem a obtenção de melhores ângulos de movimento do corpo, costuma manter-se num plano equivalente o aperfeiçoamento das qualidades psicológicas. O combate de boxe é uma mistura de diversas emoções (prazer e medo, irritação, triunfo e decepção) e a capacidade de nele participar e ser bem sucedido está estreitamente relacionada com o estado psíquico do atleta. Neste domínio, o treinador e o psicólogo desportivo desempenham ambos um papel importante: o treinador, porque dele depende o êxito educativo e a orientação formativa do atleta, cabendo-lhe preparar psiquicamente através da sublimação das motivações e da satisfação dos impulsos de uma maneira útil à sociedade; o psicólogo desportivo, porque deve analisar os estados emotivos característicos que se apresentam durante as competições e impedem a obtenção de bons resultados. Na actividade competitiva em geral, «acontece» os atletas executarem resultados inferiores aos do treino quando as situações são de muita responsabilidade. No boxe isso é particularmente grave, porque o atleta tem de conservar a tranquilidade e confiança nas próprias forças aplicando correctamente os conselhos tácticos, e aproveitar as capacidades técnicas sem se excitar excessivamente ou duvidar da possibilidade de vencer, aguentando a realização de um combate em que os assaltos exigem muito do sistema nervoso. Um dos factores essenciais da preparação psíquica do atleta é a superação de certos tipos de transtornos psicológicos de que o treinador e o psicólogo desportivo se devem aperceber no indivíduo que estão a treinar. Os problemas que habitualmente surgem no boxe de competição ligam-se à tensão, forma corrente de impedimento psíquico que surge de uma elevada carga nervosa causada por estímulos fortes ou prolongados, e a pensamentos que distraem da tarefa principal, tais como o medo de lesões ou a sobrevalorização do próprio durante o combate. Daqui resultam muitas vezes dificuldades subjectivas, entre as quais se contam o nervosismo, a excitabilidade exagerada ou apatia e as tentativas de atribuir a outros os fracassos ou de alegar doenças e lesões fictícias. De certo modo, o boxe amador competitivo requer grande força de vontade para ultrapassar obstáculos, exigindo algumas qualidades pessoais como a iniciativa, a autoconfiança, o sentido da realidade, o autocontrolo e a vontade de vencer. Todas podem ser igualmente desenvolvidas, especialmente a capacidade para efectuar esforços máximos em momentos decisivos, apesar das condições difíceis do combate, dos fracassos iniciais e do cansaço. É nesta medida que o intervir na formação da vontade de vencer inclui o trabalho sistemático e intensivo, a autodisciplina, a vida desportiva e a participação regular em competições. A tendência para o trabalho individual do boxeur, em que o treinadorlhe transmite conhecimentos e tácticas ao mesmo tempo que educa as qualidades psíquicas do atleta influenciando a elevação das suas capacidades, é já uma constante dos nossos dias. Nesta, como noutras disciplinas desportivas.

[Artigo publicado (reescrito). Jornal SINTRA ILUSTRADO, Fevereiro de 1987. Republicado do LEX PRESS, Boletim Informativo da AAFDL.]

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