Braga e a colina das várias cidades

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Mestrado em Património Cultural

Braga e a colina das várias cidades

Maria Elisabete Oliveira – PG32200 Sara Costa – PG29926 Paulo Oliveira Sousa - PG32313

Ano académico de 2016/2017 Unidade Curricular: Cidade e Centro Histórico Docente: Maria do Carmo Ribeiro

Braga e a colina das várias cidades

ÍNDICE

Conteúdo ÍNDICE ......................................................................................................................................................2 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................4 2. DA FUNDAÇÃO ROMANA ATÉ À ALTA IDADE MÉDIA...........................................................................6 2.1. BRAGA ANTES DE BRACARA: O I MILÉNIO ANTES DE CRISTO ..........................................................................6 2.2. BRACARA AUGUSTA ............................................................................................................................7 2.2.1. Fundação ...............................................................................................................................7 2.2.2. Economia ...............................................................................................................................8 2.2.3. Urbanismo e Arquitetura .......................................................................................................9 2.2.4. Morfologia urbana ..............................................................................................................10 2.3. BRAGA MEDIEVAL ............................................................................................................................ 21 2.3.1. A Cidade dos Arcebispos ......................................................................................................23 2.3.2.A Sé Catedral ........................................................................................................................ 23 2.3.3. Morfologia e Organização do Núcleo Urbano Medieval .......................................................24 2.3.4. A Rua da Sapataria ..............................................................................................................25 2.3.5. A Rua da Triparia .................................................................................................................26 2.3.6. Rua da Erva .........................................................................................................................27 2.3.7. A Rua dos Burgueses ............................................................................................................27 2.3.8. A Rua da Olaria ....................................................................................................................28 2.3.9. A Rua Verde / Couto do Arvoredo ........................................................................................ 28 2.3.10. O núcleo urbano bracarense na transição para o período moderno ...................................29 2.3.11. O Paço Episcopal................................................................................................................30 2.3.12. O Castelo de Braga ............................................................................................................31 2.3.13. A Torre de Menagem .........................................................................................................31 2.3.14. O Arco da Porta Nova ........................................................................................................32 2.3.15. Paço do Concelho...............................................................................................................32 4. DO MUNDO MEDIEVAL À IDADE MODERNA ......................................................................................34 4.1. D. DIOGO DE SOUSA .........................................................................................................................34 5. DA IDADE MODERNA À CONTEMPORANEIDADE ...............................................................................38 5.1. MORFOLOGIA E ORGANIZAÇÃO DO NÚCLEO URBANO ................................................................................39

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Braga e a colina das várias cidades 5.1.1. Rua do Souto .......................................................................................................................39 5.1.2. Rua Nova de Sousa ..............................................................................................................41 5.1.3. Rua do Campo .....................................................................................................................41 5.1.4. Loura e Terreiro do Castelo ..................................................................................................43 5.1.5. Rua de S. João do Souto .......................................................................................................44 5.1.6. Rua da Vielinha ....................................................................................................................45 5.1.7. Rua do Alcaide .....................................................................................................................46 5.1.8. Rua dos Pelames ..................................................................................................................47 5.2. A ERA BARROCA ...............................................................................................................................48 5.3. O NEOCLÁSSICO ...............................................................................................................................51 5.4. O SÉCULO XIX .................................................................................................................................51 5.5. O SÉCULO XX ..................................................................................................................................53 6. CONCLUSÃO .......................................................................................................................................57 7. ROTEIRO CULTURAL ...........................................................................................................................58 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................62

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1. Introdução No âmbito da unidade curricular Cidade e Centro Histórico do mestrado em Património Cultural da Universidade, decidimos abordar o centro histórico da cidade de Braga, quer por uma questão de proximidade geográfica e social, quer pela riqueza e diversidade histórica e arquitetónica da mesma devido ao longo período de ocupação urbana e ao facto de o seu desenvolvimento ter sido lento 1. Para tal, recorremos a fontes diversificadas, tais como as fontes arqueológicas que chegaram até nós nos dias de hoje, fontes iconográficas e cartográficas existentes, fontes escritas histórico- documentais (livros e publicações académicas) e o próprio edificado e ordenamento urbano atual. Tentámos abordar todas as áreas do saber que estão intrinsecamente ligadas à história das cidades, interligando a antropologia, a sociologia e a geografia com a arqueologia, a arquitetura, a história da arte, o urbanismo e até o direito e a economia. Como as variáveis que influenciam o desenvolvimento de uma cidade (ou a falta dele) são inúmeras, as cidades nunca são iguais. Mas há um fator em que são semelhantes: as cidades são lugares onde se concentram elites e onde aqueles que as servem também moram. No nosso caso de estudo, a Igreja, os arcebispos, os cónegos, influenciaram marcadamente o desenvolvimento da cidade. Por outro lado, praticamente todas as cidades históricas europeias, excetuando as de génese industrial, passaram por 4 períodos preponderantes no seu desenvolvimento: a cidade romana, a cidade medieval, a cidade moderna e a cidade contemporânea. Isto faz das cidades históricas, e também da cidade de Braga, um complexo «palimpsesto repleto de marcas físicas que foram sendo inscritas no plano da cidade ao longo da sua ancestral história ocupacional».2 Mas a noção de cidade foi-se alterando ao longo dos tempos. Na antiguidade grega, Aristóteles definiu a pólis como sendo o Estado e viceversa. No período medieval, Afonso X, no século XIII, considera que uma cidade só o é se existerem muralhas a defendê-la. Na Europa renascentista começam a circular tratados de urbanismo, em busca de uma cidade racional, baseados essencialmente no de Vitrúvio, da Roma Clássica, que favoreciam uma cidade organizada segundo um

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Ribeiro, Maria do Carmo. “A evolução da paisagem urbana de Braga desde a época romana até à Idade Moderna. Forum – Universidade do Minho, Braga: 2010 pág. 21 2 Ribeiro, Maria do Carmo e Manuela Martins. «Contributo para o estudo do abastecimento de água à cidade de Braga na Idade Moderna: o livro da Cidade de Braga (1737)». Braga: CITCEM, 2012: pág.2

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Braga e a colina das várias cidades grelha ortogonal com uma praça central onde os edifícios mais importantes podiam ser encontrados (Portocarrero, 2010: 16). Cantillon, no século XVIII, definiu a cidade barroca como a residência senhorial, consumista e luxuosa (Chueca, Goitia, 1996). Os centros históricos são, ainda hoje, centros polarizadores de diferentes dinâmicas sociais e estão repletos de edifícios emblemáticos dos quais os seus habitantes se orgulham de preservar. A importância da preservação e revitalização dos centros históricos foi reconhecida em vários documentos internacionais, dos quais destacamos a Recomendação de Nairobi. Nela é determinado e aconselhado, que a conservação destes autênticos testemunhos culturais devem fazer parte das prioridades dos governos e cidadãos. Falar de Braga não é falar de uma cidade mas sim de várias, tantas foram elas que ocuparam esta geografia. Daí o título que escolhemos para este trabalho: Braga é uma polipólis, no sentido em que albergou várias cidades. Abordámos as fases que mais marcaram a história e o desenho urbano da cidade, começando pelos bracari, passando pela Bracara Augusta, a Braga medieval, a Braga Barroca e o surto demográfico do século XX.

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2. Da fundação romana até à alta idade média 2.1. Braga antes de Bracara: o I milénio antes de Cristo Não terá sido por mero acaso que César Augusto associou o seu nome ao de um povo bárbaro (para os costumes romanos): os bracari. Também não terá sido por mero acaso que escolheu a colina da Cividade para construir a cidade romana, planificando cuidadosamente aquela que viria a ser sede conventual dos três conventos do noroeste da península, Lucus (Lugo), Asturica (Astorga) e Bracara e, 300 anos mais tarde, sede da província Callaecia, que abrangia desde o Norte de Portugal, a Galiza, a Asturia transmontana e a Asturia augustana3. Os bracari habitavam a região de Braga, entre os rios Cávado e Ave e seus afluentes, e seriam um dos principais povos daquilo que hoje denominamos de Cultura Castreja do Noroeste Peninsular. Tendo já sido inventariados numerosos castros na região (Santa Marta das Cortiças, Monte Redondo, Monte da Consolação, Castro das Caldas, Castro Máximo), «diversos arqueólogos entendem que a colina onde mais tarde foi edificada Bracara Augusta teria sido um castro cujos vestígios foram totalmente arrasados pela construção da urbe romana»4. Porém, são equacionados outros cenários. A colina da Cividade e zonas adjacentes, poderiam ter sido um ponto central, de encontro, neutro e sagrado, dos principais povoados bracari. Poderiam ainda ter sido um mercado onde se adquiriam produtos exóticos. Indícios disto mesmo são, para além do posicionamento da colina na paisagem, o balneário proto-histórico (séc II-I A.C.) situado na estação de caminhos de ferro de Braga, a Fonte do Ídolo (santuário indígena posteriormente romanizado), e outros vestígios achados em zonas adjacentes.

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Lemos, Francisco Sande, «Bracara Augusta – Antiguidade Tardia (séc. IV)», (Braga: ASPA – Diário do Minho de 2016/03/07 - http://2.bp.blogspot.com/-9qrIOLaDscc/Vt8_42PB5XI/AAAAAAAACvs/MAPDBYRpbzU/s1600/dm160307.jpg ) 4 Lemos, Francisco Sande, «Braga antes de Braga – O I milénio antes de Cristo», (Braga: ASPA – Diário do Minho de 2015/12/14 - http://2.bp.blogspot.com/-ZIYZILqCid0/Vm7-Z7uaIDI/AAAAAAAACj4/OGbJNJufBXg/s1600/dm151214.jpg)

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2.2. Bracara Augusta É com a presença romana que, de acordo com a epigrafia mais remota em 27 A.C., se institucionalizou a civitas. Dela saiam 5 vias a ligá-la ao sistema urbanoregional romano. Bracara Augusta teria assim perpetuado a centralidade que de que já gozava na Proto-História, tornando-se num dos epicentros viários no noroeste peninsular (Bandeira: 1993, pág.133). A cidade romana foi planeada e edificada segundo o modelo latino e terá tido, inicialmente, um perímetro urbano em forma de quadrado regular definido pelo cardo e decumano que se cruzariam onde hoje se situa o Largo de S. Paulo. A crescente importância da cidade originou um alargamento do perímetro, que se torou oval e com uma cintura de muralhas. O Fórum situar-se-ia no atual Largo Paulo Orósio e as termas no local onde hoje podem ser visitados os seus vestígios, no alto da colina da Cividade. Várias domus se espalhariam pela civitas e outras mais pelos arrabaldes. Com o desmantelamento do Império Romano do Ocidente e a consequente chegada dos povos do Norte da Europa a urbe altera-se significativamente. «Aos Suevos (411), que de Braga fizeram a capital do seu Reino, sucedem-se os Visigodos (456), tendo estes, alternando com os Árabes (715), num deambular de fronteiras, de conquistas e reconquistas, suficientes para dissipar a cidade que Alhimiari, um cronista muçulmano, descreveu assim: Esta cidade de Braga, que remonta à antiguidade, foi uma das fundações romanas e uma das suas residências reais. Assemelhava-se a Mérida pela solidez dos seus edifícios e pela ordenação das suas muralhas. Está hoje quase inteiramente destruída e deserta: foi demolida pelos muçulmanos que expulsaram a população».5

2.2.1. Fundação A cidade de Bracara Augusta foi mandada fundar pelo imperador Augusto. Esta fundação decorreu no quadro da reorganização político-administrativa da Hispânia. A sua localização contribuiu para a sua importância. Era uma área muito povoada, o que contribuiu para a sua importância económica. Por volta de 200 AC, esta região viu

5 Bandeira, Miguel Sopas de Melo (1993). «O espaço urbano de Braga em meados do século XVIII». Revista da Faculdade de Letras – Geografia, Volume IX, Porto: pág. 134

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Braga e a colina das várias cidades muitos desenvolvimentos- agrícolas, comerciais e artesanais- o que permitiu criar mais infraestruturas. Para uma maior assimilação dos costumes romanos, o governo tentava englobar os indígenas e criava também infraestruturas, tais como vias. Estas eram vistas como um meio de aproximar os povos. A fundação de Bracara Augusta poderá ter acontecido por volta do fim das Guerras Cantábricas (cerca de 16 AC). A cidade de Bracara Augusta era muito bem organizada e planeada, como se denota a partir de: 

Vias



Redes de saneamento e abastecimento de águas



Construção de monumentos públicos (que homenageavam o imperador)

Na época de Augusto a cidade tinha um plano ortogonal, comprovado pela orientação NO/SE dos edifícios, cloacas e ruas bem alinhadas. Teve um traçado hipodâmico. Nessa época teria o comum de uma cidade romana, ou seja, residências, fórum, templos, termas, anfiteatros e mercados. Braga teve, desde a sua fundação, funções religiosas, jurídicas e económicas, indicando que a cidade possa ter sido criada já como sede de convento jurídico. É testemunhado por várias epigrafes, nomeadamente pela epigrafe colocada na parede da Sé, na rua de Nossa Senhora do Leite. Eta epigrafe fala de uma sacerdotisa, Lucretia, que prestava culto a Roma e a Augusto. No entanto, Augusto pode ter dado o direito latino á cidade desde a sua fundação. O direito latino permitia que a elite indígena pudesse ter cidadania romana, o que os possibilitava de ocupar cargos públicos. A cidade tinha assim também direito a senado e magistrados.

2.2.2. Economia Encontram-se muitos vestígios construtivos que datam da época flávia-antonina. Foi nesta época que Bracara se monumentalizou (Séc.I-II). Esta monumentalização foi acompanhada por um grande desenvolvimento económico, quer a nível de importações quer a nível de exportações. Durante o séc.IV, Bracara manteve a sua importância comercial e artesanal. Esta pode ter sido consequência da promoção de Bracara a capital da província da Galécia, o que trouxe mais responsabilidades politicas e administrativas. Estas responsabilidades acentuaram-se quando Bracara se tornou sede de bispado. 8

Braga e a colina das várias cidades Estas promoções foram também um fator fixador das elites nativas, devido á criação de novos cargos.

2.2.3. Urbanismo e Arquitetura As ruínas que chegaram até nós pertencem quase todas á época flávia e antonina.

Figura 1 Aparelho característico do Alto Império- Termas Cividade.

Alguns elementos arquitetónicos mostram que, no século I-II, a construção era de boa qualidade. Utilizavam blocos homogéneos e tinham boas valas de fundação. Em finais do século II a qualidade construtiva diminuiu de qualidade. Os blocos de pedra eram de talhe e irregulares, os paramentos do muro passaram a incluir tijoleiras.

Figura 2 Aparelho finais século III- inícios IV. Termas Cividade.

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Durante o século III-IV, Bracara sofreu uma renovação urbana, quer nos edifícios públicos quer nos privados. São reaproveitados certos elementos construtivos e valas de fundação. Nos séculos IV-V, a qualidade construtiva piora. Acontecem muitas renovações que modificam a função original dos edifícios. Os muros são mais fracos, os alicerces são muito raros e a pedra utilizada era de pior qualidade. Em todas as fases construtivas, a pedra mais utilizada foi o granito. O mármore também era utilizado, no entanto existem poucos indícios arqueológicos, devido á acidez do solo.

2.2.4. Morfologia urbana As ruas tinham uma dimensão média de 3 metros, exceto a rua que dava acesso ao fórum, que tinha 7,5 m de largura.

Figura 3 Vias que ligam a Bracara Augusta.

O decumano máximo passava pela Rua de S.Sebastião, Rua do Alcaide e o Largo de Santiago. O cardo máximo situa-se, na parte sul, na Rua dos Bombeiros Voluntários até ao cruzamento com a Rua Damião de Góis.

As vias Via XVI: o ponto inicial era Olisipo (Lisboa), seguindo em direção a Bracara passava por Scallabis (Santarém), Sellium (Tomar), Conimbriga (Condeixa), Aeminium (Coimbra) e Cale (Porto). A entrada para Bracara era feita pela parte sul da cidade.

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Braga e a colina das várias cidades Via XIX: Saia do norte de Bracara e ia em direção a Lucus Augusti (Lugo), passando por Limia (p.Lima) e Tudae (Tui).

Via XX: Era um percurso Per Loca Maritima. O seu percurso não reúne consenso, existem, no entanto, duas hipóteses. Hipótese 1: Percurso até Limia, onde teria o mesmo percurso da via XIX, no entanto depois seguia até á foz e a partir dai seguia em direção a norte sempre á beiramar. Hipótese 2: Sair de Bracara pelo lado oeste, em direção a Barcelos. Podendo estar assim associada á necrópole localizada em Maximinos.

Via XVII: Saída pelo leste da cidade, passava pela necrópole situada no largo Carlos Amarante, em direção a Aquae Flaviae. Em Chaves existiam dois percursos que davam acesso a Asturica Augusta.

Via XVIII: (Via Nova): Saída localizada a nordeste. Era a ligação mais direta a Asturica Augusta. O seu território era mais acidentado e com pouca povoação. Passava Amares até chegar á serra do Gerês. Existem vários miliários e ruinas que atestam a sua existência.

Figura 4 Bracara Augusta sobreposta na atual Braga.

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O Fórum Situava-se no atual Largo de Paulo Orósio. Os vestígios arqueológicos do fórum são testemunhados por bases de grandes colunas. Estas, pelas suas características, podem ter pertencido a edifícios administrativos e religiosos, localizados na parte mais alta da cidade.

O Mercado Situava-se debaixo da Sé, na época localizava-se na periferia da cidade. Só é conhecida a sua planta retangular e a existência de um pórtico de entrada a este. Durante as escavações foram encontrados alguns achados ósseos.

Figura 5 Planta do edifício debaixo da Sé.

Anfiteatro Alguns documentos do século XVII-XVIII falam de um anfiteatro situado na zona de Maximinos. Este estava localizado no alinhamento do decumano máximo. Atualmente não se encontra á vista. Nas fotografias aéreas de 1948 e 1972 vê-se parte do contorno dessa estrutura.

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Termas É o único exemplar conhecido em Braga. A sua construção foi iniciada no século II. Na sua construção foi utilizada parte de um edifício anterior, datado do século I. A sua escavação decorreu em várias Fases. A primeira decorreu de 19771980. Depois foram retomadas nos anos 90 até que serem concluídas em 1999. A sua planta é retangular, com orientação NO/SE.

Figura 6 Reconstituição 3D da fase I das termas. Proposta por Paula Silva.

Estas ocupavam um quarteirão, esta certeza foi baseada nos alinhamentos dos muros, cloacas e arruamentos. A entrada era feita na parte sul e era constituída por um pórtico com colunata que dava acesso a um átrio. Este átrio dava acesso ao apodyterium (apoditério), era aqui que as pessoas se despiam para depois começarem o seu percurso. O apoditério tinha uma pequena piscina de água fria, esta água no inverno era aquecida. Esta sala dava acesso ás restantes. O percurso tradicional era frio (frigidarium)-tépido(tepidarium)quente (caldarium). Para voltar ao ponto inicial faziam o inverso ou podiam ir ter á palestra. Era na palestra que se fazia exercício físico. O aquecimento das salas era garantido pelos hipocaustos. Estes eram câmaras ocas situadas debaixo do chão. O ar quente era produzido nas praefurnia (fornalhas), além de circular pelo hipocausto, circulavam também no interior das paredes, através de tijolos ocos (tubuli laterici). As termas possuíam várias zonas de serviços. A maior situava-se a norte e poderá ter sido utilizada para armazenar lenha. Foi também 13

Braga e a colina das várias cidades identificada uma possível cisterna, dada a sua forma circular, na parte norte do recinto.

Figura 7 Planta da fase 1 das termas.

Estas termas sofreram, pelo menos, quatro grandes reformulações. As renovações do edifício eram necessárias devido á grande circulação de pessoas, água e vapor. A grande remodelação aconteceu por volta do século III-IV, esta reorganizou os espaços das termas da cividade. Foi utilizada como termas públicas até ao século V, onde depois foram abandonadas. São visíveis os hipocaustos, as condutas que recolhiam a água, salas com pavimentos de opus signum e partes de piscinas.

Cloaca A cloaca encontra-se junto á Biblioteca Pública de Braga (ex-Albuergue Municipal). As escavações feitas no local encontraram um troço muito bem conservado. A sua orientação e traçado indicam-nos que pertenceu a uma das principais vias romanas. Esta rua tinha uma largura média de 7.5 metros e era ladeada por pórticos. Uma parte da cloaca foi conservada. Foram também preservados alguns pilares almofadados que definiam o pórtico. A cloaca é 14

Braga e a colina das várias cidades definida por dois muros similares, onde é visível o aparelho granítico. A cobertura era assegurada por grandes blocos de pedra dispostos horizontalmente. A base era também constituída por grandes lajes. São visíveis algumas bocas de esgotos secundários. A altura máxima é de 1,60 metros e prolongava-se até ao limite norte da cidade.

Figura 8 Cloaca junto á Biblioteca Pública de Braga.

Casa das Carvalheiras É a única habitação totalmente escavada em Braga. As escavações iniciaramse nos anos 80. Estas permitiram saber que a Ínsula era limitada por quatro ruas e que muitos dos muros foram desmontados para outras construções, como a muralha romana.

Figura 9 Escavações feitas na Insula das Carvalheiras.

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Braga e a colina das várias cidades Foi possível identificar grande parte da planta da casa e perceber as várias fases construtivas, recolher materiais e elementos de arquitetura. A casa foi ocupada durante quatro séculos, desde a sua construção até ao século V.

Fase 1: Foi construída no século I e originalmente era uma domus clássica, com átrio e peristilo, rodeada por pórticos. Nos pórticos localizados a Sul e a Oeste teria lojas, estas no entanto não teriam acesso á casa. Ocupava cerca de 1800m² e desenvolvia-se em duas plataformas, devido á topografia da colina. Possuía uma entrada a Norte e a Sul.

Figura 10 Fase 1- Insula das Carvalheiras.

Fase 2: No século II a casa sofreu uma remodelação na parte noroeste. Foi aí construído um balneário privado. São ainda visíveis as áreas que seriam aquecidas, os solos do frigidário, duas piscinas e o apoditério. Este balneário tinha acesso á rua. A fachada Oeste também foi organizada, ou seja, parte das lojas desapareceram.

Figura 11 Fase II- Insula das Carvalheiras.

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Braga e a colina das várias cidades Fase 3: No século III-IV foi novamente remodelada. Esta afetou os pórticos e fechou a casa sobre si. A qualidade construtiva piorou. Parte do pavimento que está conservado pertencia á rua situada a oeste. Será também por esta altura que o peristilo foi transformado em lojas.

Fase 4: Em finais do século IV deu-se a última remodelação antes desta ser abandonada. Foram encerradas ruas, construídos novos muros e algumas partes da casa foram desocupadas.

Domus de Santiago Foi nos anos 60, no claustro do Seminário de Santiago, que se encontrou um possível peristilo porticado que poderá ter pertencido a uma domus, construída no século I. Foi também identificado um tanque decorado com mosaicos. Estes tinhas figuras de golfinhos. Este tanque poderá ter sido construído na remodelação que ocorreu por volta do século III-IV.

Figura 12 Planta das estruturas encontradas no Seminário de Santiago.

Frigideiras do Cantinho As escavações feitas em 1996 descobriram vários muros e parte do peristilo datados do Baixo império. Estes muros poderão ter pertencido a uma Domus. Foi também descoberto um corredor de circulação, que na parte oeste abria a outros 17

Braga e a colina das várias cidades corredores. Um dos corredores tinha duas bases de colunas. A noroeste do corredor está presente uma parte do balneário privado, onde são visíveis o hipocausto e os colunelos.

Figura 13 Planta das ruínas das frigideiras do cantinho.

Fonte do Ídolo Foi escavada nos anos 50. Nessa escavação descobriram-se bases e fustes, tégulas e aras com epigrafes. É o único monumento romano que está praticamente intacto até hoje. Era um santuário que foi dedicado a uma divindade aquática indígena (Tongoenabiago). Foi mandada construir por Celico Fronto. O santuário foi talhado num afloramento rochoso. Numa parede encontram-se inscrições e relevos de duas figuras, estas podem ser a divindade e Celico Fronto.

Figura 14 Fonte do Ídolo.

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Muralha Muitas descrições atestam que Bracara Augusta tinha uma muralha. Uma das descrições é feita por Jerónimo contador de Argote (1721). Nessa descrição, Jerónimo diz-nos a sua morfologia e traçado.Baseado nessa descrição, José Teixeira propôs um traçado, em 1910. Comprovou-se que este traçado é muito próximo da realidade, principalmente a sul da cidade. Foi confirmado por várias escavações, como por exemplo, no Fujacal. Aqui escavou-se parte da fortificação, datada do século III-IV.

Figura 15 Fotografia aérea de 1948- Demonstração do perímetro da muralha.

A fortificação é uma estrutura larga e com aparelho irregular. Nota-se que foi objeto de várias intervenções, principalmente na Idade Média. Foi nesta época que parte da muralha foi utilizada como muro de contenção de terras. As fundações mostram um aparelho romano. Aparelho visível também em ruínas de dois torreões semi-circulares. Em 1997 foi feita uma escavação no cruzamento da Rua dos Bombeiros Voluntários com a Rodovia, onde se descobriu um possível alicerce de um torreão circular. Estas indicações de torreões mostram que a muralha de Bracara Augusta era parecida com a de Lugo e de Astorga. O traçado norte da muralha é mais difícil de saber com exatidão, no entanto sabe-se que se situa um pouco acima da Rua Paio Mendes.

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Figura 16 Reconstituição da muralha, com base nas escavações do Fujacal.

Foi também em 1997 que se escavou na Sé. Nesta escavação identificaram-se vestígios de uma grande construção. O seu enchimento era igual ao encontrado no Fujacal (opus quadratum).A muralha deixou muitos edifícios extramuros e aproveitou muitos materiais de edifícios abandonados para a sua construção.

Figura 17 Planta de Bracara Augusta e vestígios da muralha.

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2.3. Braga Medieval A entrada de Bracara Augusta no mundo medieval deu-se com uma série de acontecimentos que vieram a impulsionar algumas importantes mudanças na cartografia da cidade. A partir do século III, o Império Romano começou a apresentar os seus primeiros sinais de desgaste com grandes instabilidades políticas, sociais e problemas económicos. No século V, os povos germânicos invadem a Hispânia, sendo Bracara Augusta dominada pelos suevos. Torna-se capital política e administrativa sueva em 411, mas com o reino visigodo anexado ao reino suevo em 585. Na sequência destes acontecimentos, a cidade perde importância politica e poder económico, o que vai levar a um abandono de algumas áreas da cidade, nomeadamente a área das termas e do teatro (situados a poente do antigo fórum). Na envolvência desta área foram construídos novos edifícios habitacionais e artesanais. Estas novas construções já não respeitam a lógica ortogonal romana e havia a tendência de construir em áreas que até então correspondiam aos antigos eixos viários romanos (que deixaram de funcionar). Entre o século V e VIII a zona nordeste da antiga cidade romana é ocupada, verifica-se o desaparecimento e ruralização da restante área da civitas romana, a ocupação de zonas periféricas à urbe romana e o surgimento de locais de culto cristão, como S. Vicente, São Vitor e S. Pedro de Maximinos. Essa zona nordeste, mencionada a cima, trata-se de um novo polo administrativo e religioso que surge e que se afirma como o poder episcopal da cidade. Nos séculos IX e X, mais precisamente no ano de 873 a área amuralhada e protegida é redefinida e delimitada, tornando-se muito mais pequena do que a área defensiva da antiga cidade romana, e ficou conhecida como o bairro medieval das Travessas. Esta nova muralha não ultrapassava os 15 hectares e não incluía zonas que tinham pertencido á antiga urbe romana, como o fórum. Na zona norte da nova área amuralhada utilizava-se parte da muralha baixo-imperial romana (que vai ser utilizada até aos finais do século XIII, inícios do séc. XIV) pois tinha a porta que permitia a ligação com os rios Cávado e Homem e com o norte da península. 21

Braga e a colina das várias cidades É a partir do século XI que a cidade começa a crescer e a desenvolver.

Figura 188: Planimetria da cidade romana a medieval.6

Figura 19: Proposta de restituição da cidade alto -medieval7

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in Revista Medievalista Nº12, Pág:12. in Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos. Pág: 29.

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2.3.1. A Cidade dos Arcebispos A autoridade eclesiástica que surge na transição para o período medieval, vai afirmar o seu poder durante a época medieval, sendo a sagração da catedral em 1089 e a constituição do couto eclesiástico em 1112, um dos momentos mais importantes.

2.3.2.A Sé Catedral A Sé Catedral, construída a mando do Arcebispo D. Pedro, é edificada na zona noroeste da antiga urbe romana. Sagrada em 1089 possuía edifícios anexos, que pertenciam ao bispo, ao cabido e aos serviços administrativos da igreja. Esta nova Sé, ao estilo românico, vem substituir uma antiga basílica paleocristã que existia naquele local. Sabe-se que “O local escolhido possuía uma forte carga simbólica e histórica, em torno do qual os cristãos haviam podido praticar o seu culto e dar continuidade aos atos de fé e aos laços religiosos, que terão sustentado a coesão do pequeno núcleo populacional que aí se foi instalando, ao longo dos tempos mais conturbados da Alta Idade Média8.” Embora se encontrasse numa zona periférica da muralha, detinha um lugar central na organização do espaço: “(…) as sucessivas alterações e ampliações da Catedral tiveram uma interferência direta e marcante na organização do espaço urbano envolvente, determinando a abertura e/ou o encerramento de ruas e praças que lhe eram adjacentes. Refira-se, a título de exemplo, a abertura da Rua de S. João do Souto, como consequência das alterações realizadas na cabeceira da Sé Catedral, por D. Diogo de Sousa, no século XVI.”9 Aliás, era tão importante que em sua volta surgiram locais (ruas) que se destinavam as atividades comerciais e artesanais essenciais á vida do núcleo urbano.

Entre o século XI e XIV o núcleo urbano assiste a vários fenómenos: a destruição da antiga muralha a norte; o crescimento do núcleo para noroeste e norte com a construção do Paço Arquiepiscopal, do castelo e de novas ruas - “Ao que tudo

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Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, “A materialização dos poderes no espaço como expressão da memória e identidade”, Medievalista, Nº12 (2012):11. 9 Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, “A materialização… .,13.

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Braga e a colina das várias cidades indica, o crescimento de Braga medieval fez-se sentir gradualmente a partir dos inícios do século XIII, facto que parece atestado pela complexificação do sistema viário e pela construção da nova cerca fernandina que duplicará a área da cidade alto medieval.”10. Esta muralha foi mandada construir nos finais do séc. XIV por D. Fernando para uma melhor proteção da cidade11.

Figura 20: Proposta de restituição da cidade baixo -medieval e representação da R. Verde12

2.3.3. Morfologia e Organização do Núcleo Urbano Medieval A organização espacial da cidade medieval é influenciada pela morfologia romana. Exemplo disso é o reaproveitamento do traçado a norte da antiga muralha romana até ao século XIII e o facto de a maioria das vias medievais possuírem a mesma orientação das vias romanas, só que estão descentradas dos eixos romanos. A rede viária medieval era caracterizada por ter uma rua principal que estaria ligada ao centro religioso e por conjunto de pequenas ruas, becos, ruelas13. O que se

10

Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro, coord., “Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos” (Braga: CITCEM, 2012).,31. 11 A Cidade foi alvo de grandes ataques por parte de Henrique de Trastamara. 12 in Evolução da paisagem urbana: transformação morfológica dos tecidos históricos. Pág:33 13 Maria do Carmo Ribeiro, “Braga entre a época romana e a Idade Moderna: uma metodologia de análise para a leitura da evolução da paisagem urbana”, (Braga: Universidade do Minho, 2008), pág.78.

24

Braga e a colina das várias cidades verifica em Braga e em outros casos é que o desenvolvimento da cidade está relacionado com as atividades económicas que nela existiam. Sendo as atividades mais importantes o comércio e o artesanato, Braga possuía um grande número de profissionais ligados á alfaiataria, ao comércio, à metalurgia e aos couros14. O que levou a que algumas ruas do núcleo urbano adquirissem o topónimo da atividade que aí concentrava15. No seguinte é possível verificar algumas dessas ruas.

Figura 21: Mapa da cidade de Braga na época medieval (sécs. XIV e XV)16

2.3.4. A Rua da Sapataria A Rua da Sapataria ou Çapataria era o lugar onde se encontrava a produção e venda de calçado. Mantém o topónimo até ao século XIX, altura em que é praticamente toda destruída com a criação da atual Rua Frei Caetano Brandão. Desta rua restou apenas 2 casas que foram na idade média por sapateiros e barbeiros.

14

Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, coord., “Evolução da paisagem urbana: Sociedade e Economia” (Braga: CITCEM, 2012), 150. 15 Além da atividade maioritária que atribui o nome à rua podiam existir outras atividades profissionais. 16 in Evolução Da Paisagem Urbana: Sociedade e Economia. Pág: 154

25

Braga e a colina das várias cidades

Figura 22: Edifícios sobreviventes da Rua da Sapataria 17

2.3.5. A Rua da Triparia Na Rua da Triparia, tal como o nome indica, vendiam-se as vísceras dos animais. Encontrava-se paralelamente à Rua Verde (sentido Norte/ Sul), sendo que na zona norte encontravam-se os açougues (localizados perto da Sé Catedral), pois esta era uma zona rica em linhas de água, extremamente necessárias para este tipo de indústria. No século XV passa a designar-se de Rua da Judiaria Nova e no século XVI o seu nome modifica-se para Rua das Chagas. Segundo o Mapa de Georg Braun, a Rua da Triparia era uma das maiores da parte sudoeste da cidade e encontrava-se toda edificada.

17

in Evolução Da Paisagem Urbana: Sociedade e Economia. Pág:153.

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Braga e a colina das várias cidades

Figura 23: Mapa de Georg Braun de 159418

2.3.6. Rua da Erva Tal como o próprio nome indica, nesta rua realizava-se a venda de produtos hortícolas frescos em frente da Porta de Santiago. Ela estendia-se da Porta de Santiago á Sé Catedral e atualmente corresponde á Rua D. Gonçalo Pereira. Até ao final do século XV ela incluía a velho judiaria que se passou a encontrar na Rua da Triparia/ Rua da Judiaria Nova.

2.3.7. A Rua dos Burgueses Ligava a Sé á porta da muralha de Maximinos. Nesta via estavam concentrados os indivíduos ligados ao comercio de produção de bens. Esta rua ligava-se á Rua da Triparia, pois na zona norte encontrava-se os açougues.

18

in https://goo.gl/1Ie7pz acedido a 2016/12/28

27

Braga e a colina das várias cidades

2.3.8. A Rua da Olaria Estava concentrada a atividade de produção e venda de produtos em barro, e ficava frente da porta do sol da Sé Catedral.

2.3.9. A Rua Verde / Couto do Arvoredo No caso de Braga, A Rua Verde era uma das principais vias. Também conhecida como Couto do Arvoredo era um eixo estrutural, pois “(…) decalca inteiramente o traçado de uma rua romana, na circunstância o cardo máximo na sua configuração baixo-imperial.” 19. Efetivamente “Trata-se (…) de uma longa rua, orientada N/S, com início num postigo da muralha, designado de Postigo da Cividade, terminando na Rua dos Burgueses, ligando-se aí à Rua da Sapataria. Aproximadamente a meio do seu percurso, do lado nascente, liga-se à Rua das Travessas, atual Rua Afonso Henriques.”20 Embora se encontrasse numa zona pouco urbanizada, possuía um hospital e algumas dezenas de edifícios habitacionais das mais variadas tipologias: pequenas casas, pardieiros, casas sobradadas e casas terreiras21.

Figura24: Rua Verde no «Mappa das Ruas de Braga»22

Podemos, assim, verificar que estas ruas se localizavam na zona mais antiga da cidade: “(…) nota‑se uma concentração dos setores produtivos nas ruas do quadrante sudoeste da cidade. A justificar esta localização devemos desde logo considerar o facto de se tratar do setor mais antigo, onde a cidade terá estado acantonada desde o 19

Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro, coord., Evolução da Paisagem Urbana: Trans ….,28 Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro, coord., Evolução da Paisagem Urbana: Trans… .,31-32. 21 Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro, coord., Evolução da Paisagem Urbana: Trans…., 32. 22 in 3D representation of the urban evolution of using the CityEngine tool. Pág: 134 20

28

Braga e a colina das várias cidades século VIII até aos finais do século XIII, inícios do século XIV, momento em que a muralha medieval é alargada para norte e nordeste. 23”

2.3.10. O núcleo urbano bracarense na transição para o período moderno É com o governo do arcebispo D. Diogo de Sousa (entre 1505-1532) que a cidade verifica importantes transformações. D. Diogo vai empreender um conjunto importante de obras que vão permitir a modernização do núcleo urbano. Assim procede á construção de novas ruas e praças e vai regularizar e alargar de ruas já existentes. Exemplo disso, são os grandes largos que manda abrir em frente das muralhas da cidade (e que permitiu que o crescimento do núcleo para o exterior das muralhas). Isto numa altura em que o núcleo urbano passa a ter quase o dobro da população que existia nos finais do século XV, com aproximadamente 3575 habitantes24. D. Diogo de Sousa vai também investir no melhoramento das vias (passaram a estar calcetadas) e nas infraestruturas hidráulicas da cidade, através da construção de uma rede de fontes e chafarizes públicos e do melhoramento dos equipamentos já existentes. É precisamente com o crescimento urbano e demográfico que se sente na idade média, que o núcleo urbano vai sentir a necessidade de consumir uma grande quantidade de água. Necessidade esta que vai ser devidamente resolvida com o melhoramento do sistema hidráulico de D. Diogo de Sousa. Por exemplo, o Chafariz da Porta do Souto construído por D. Frei Agostinho de Jesus e encontra-se no mapa de Braga Primas, na imagem a seguir.

23

Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, coord., Evolução da paisagem urbana: Sociedade …,159. 24 Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro, coord., Evolução da Paisagem Urbana: Transf … .,34.

29

Braga e a colina das várias cidades

Figura 25: Chafariz da Porta do Souto em A água e o Património Cultural da Região de Braga. Pág:28.

D. Diogo de Sousa procede igualmente à modernização dos principais edifícios da cidade: a Sé, o Paço e o Castelo e no melhoramento geral dos edifícios urbanos.

2.3.11. O Paço Episcopal O Paço Arquiepiscopal de Braga foi mandado construir pelo Arcebispo Gonçalo Pereira nos inícios do século XIV para albergar os arcebispos da cidade. Sabe-se que, até então, os arcebispos residiam nos edifícios anexos à Sé catedral, mas como eram demasiado pequenos, houve a necessidade de construir um novo edifício. Com a expansão da nova muralha para norte25, o local escolhido para construção do Paço ficava próximo da Sé e do Castelo. “O Paço terá sido construído como uma fortaleza, encontrando-se todo fechado por muros e edifícios, com as suas fachadas viradas para o interior, formando um conjunto privilegiado e destacado em todo o núcleo urbano, como se pode observar na sua representação no Mapa de Georg Braun26”. Este edifício ao estilo gótico registou

25 26

Mandada construir pelo Rei D.Fernando. Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, «A material… ., 22.

30

Braga e a colina das várias cidades várias intervenções construtivas e arquitetónicas, levando a alterações na sua estrutura e morfologia.

2.3.12. O Castelo de Braga O Castelo de Braga terá sido construído entre os finais do século XIII e os inícios do século XIV, a mando ou do rei D. Dinis ou dos arcebispos. O espaço onde foi construído estava fora na muralha alto-medieval, na parte nordeste do núcleo. A construção do castelo potencializou o crescimento espacial e urbanístico do núcleo precisamente para norte e nordeste. O Castelo foi sofrendo alterações.

2.3.13. A Torre de Menagem Torre de Menagem, situada na zona nordeste da cidade medieval é quase tudo o que resta do castelo medieval de Braga. Esta torre construída, tal como o castelo, no séc. XIV. É feita em granito tem cerca de 30m de altura e uma base de 12 x 12m27.

Figura26: Mapa de Braga no século XVII, gravura, autor desconhecido28

27 28

Fernando Mendes, Guia de Braga Turístico e Histórico (Braga: Edições Nova Cultura, 1994), 120. in https://goo.gl/iOpzJO acedido a 2016/12/28

31

Braga e a colina das várias cidades

2.3.14. O Arco da Porta Nova Situado na atual Rua D. Diogo de Sousa, foi aberto por D. Diogo de Sousa em 1512 e era a entrada principal da área urbana de Braga no séc. XVI. O seu pórtico foi mandado construir pelo Arcebispo D. José de Bragança, no século XVIII, ao estilo barroco. Tem 2 coruchéus no lado direito e esquerdo do brasão episcopal e contém duas pilastras de ambos os lados do arco. A sua atual configuração é, muito provavelmente, uma das obras empreendidas pelo arquiteto bracarense André Soares.29

Figura 27: Arco da Porta Nova

2.3.15. Paço do Concelho O Paço do Conselho de Braga foi mandado construir por D. Diogo de Sousa, para substituir uma antiga câmara da cidade, num espaço próximo da Sé Catedral. Este era um edifício bem característico, pois: “Tratava-se de uma imponente construção em cantaria de dois sobrados, com três entablamentos e ameias, possuindo em baixo um alpendre com dois arcos grandes e assentos de pedra para se vender pão”30.

29

in https://goo.gl/Rx2bgD acedido a 2016/12/28 Maria do Carmo Ribeiro e Arnaldo Sousa Melo, «A materialização dos poderes no espaço como expressão da memória e identidade», Medievalista, Nº12 (2012):23. 30

32

Braga e a colina das várias cidades Este edifício foi demolido no séc. XVIII e um novo paço concelhio foi construído na atual Praça do Município.

Figura 28: Imagem em Azulejo do Antigo Paço Do Concelho de Braga 31

31

In https://goo.gl/TcaizW acedido a 2016/12/30

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Braga e a colina das várias cidades

4. Do mundo medieval à Idade Moderna A idade moderna foi um período de transição que decorreu entre os séculos XV até aos séculos XVIII. Numa altura em que surgem novos ideias, novas formas de ver o mundo, nova mentalidade que surge depois da queda do império bizantino, da época das viagens marítimas dos descobrimentos, da evolução e a afirmação do sistema capitalista, assim como uma nova conceção de cidade que surge marcada pela procura da beleza graças ao surgimento dos tratados de arquitetura, como é exemplo o Tratado de Vitrúvio. Na Europa e inclusivamente em Portugal vai se difundir o estilo barroco32 principalmente durante os reinados de D. João V e de D. Manuel I (com o estilo manuelino). Este estilo encontra-se muito nas igrejas e alguns edifícios habitacionais que se destacam pela sua beleza e exuberância decorativa a talha dourada e a azulejaria.

4.1. D. Diogo de Sousa Em Braga vai se destacar o Arcebispo D. Diogo de Sousa que empreende um conjunto de obras que vão permitir a modernização do núcleo urbano em vários níveis. “D. Diogo de Sousa nasceu em Évora, em 1461, no seio de uma família nobre. Iniciou os seus estudos em Évora e na Universidade de Lisboa, prosseguindo-os em Salamanca e Paris, onde se formou em Teologia. Quando regressou a Portugal ocupou vários cargos importantes, nomeadamente foi Bispo do Porto de 1495 a 1505, altura em que foi designado arcebispo de Braga, já com 44 anos de idade. Permaneceu neste cargo 27 anos até 19 de Junho de 1532, quando faleceu. Durante este período, Braga conheceu uma profunda transformação urbana, intervenção que ainda determina o desenho urbano actual. Foi também um defensor do património, tendo recolhido epígrafes e miliários romanos no Campo de Sant'Anna, conferindo um valor simbólico ao passado romano da cidade.33”.

32

33

Estilo que surgiu em Itália e que se difundiu possuindo assim variações locais. MDDS, «Biografia de D.Diogo de Sousa», Museu D. Diogo de Sousa, http://mdds.culturanorte.pt/pt-

PT/museu/Hipertexto%20Museu/ContentDetail.aspx?id=95

34

Braga e a colina das várias cidades Ao nível das infraestruturas viárias empreendeu um conjunto de obras de forma a facilitar a mobilidade no núcleo. Assim, manda construir e pavimentar a Rua Nova, a atual Rua D.Diogo de Sousa; manda construir 3 pequenas praças na zona Sul da Rua Nova: “ a praceta na face nordeste da Sé, entre a capela de S. Gonçalo e a fonte de São Geraldo (atual Largo D.João peculiar); no outro extremo da via, junto à porta nova, a pracinha do mercado de peixe (atual praça velha); e um pouco a poente da primeira, no mesmo alçado, a configuração geométrica do embutido de casas no complexo edificado da Sé (…) sugere a existência de um pequeno alargamento regular, hoje já desaparecido, muito admissivelmente destinado a albergar os antigos açougues34”. Também mandou construir a Travessa da Rua Sousa (atual Rua do Cabido). Melhorou as ruas que davam acesso á Sé Catedral, nomeadamente a Praça do Pão que foi alvo de uma restruturação, que permitiu o seu alargamento e alinhamento; mandou abrir a Rua de S. João. Procedeu também ao melhoramento das ruas já existentes, como a Rua Nova (atual Rua Frei Caetano Brandão); mandou alargar a porta de S. Marcos. Mandou construir grandes largos em frente das muralhas (do lado exterior) como o Campo de Sant`Anna (atual praça da republica e avenida central); o Campo dos remédios; o Campo de São Sebastião das Carvalheiras (parte do atual largo Paulo Osório) local do antigo forúm romano; Largo em frente da Porta Nova (atual Campo das Hortas) e o campo da Vinha. D. Diogo de Sousa investiu no melhoramento das infraestruturas de captação e abastecimento de água com a construção de uma rede de fontes e chafarizes públicos que além da sua fonte principal de abastecer água eram igualmente bem decorados possuindo assim uma função estética e mandou melhorar as estruturas já existentes. Surge a fonte de Sousa na Rua Nova, a fonte dos castelos no largo do Paço, no espaço extramuros surge chafarizes junto da igreja da Nossa Senhora a Branca e da Igreja de São Marcos35. Melhorou a fonte de S. Geraldo e a fonte Cárcova (perto do castelo).

34

Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista», Bracara Augusta : Revista Cultural da Câmara Municipal de Braga, nº49 (2000): 34-35. 35 Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…, 41.

35

Braga e a colina das várias cidades Criou também um conjunto de infraestruturas para impulsionar o desenvolvimento económico da cidade. Mandou criar alpendres para albergar os comerciantes e as suas mercadorias: “D.Diogo edificou dois destes alpendres, com calçada e leitos, bem como as respetivas estrebarias e as suas manjedouras, nos dois pontos limites do alinhamento das ruas do Souto/Nova que, atravessando lés a lés a cidade murada, ligava os extremos nascente/poente definidos entre as portas Nova e do Souto. 36” Implementou a criação de um mercado de peixe e de novos açougues no local se cruza a atual Rua do Cabido e Rua D.Diogo de Sousa. Além disto, o arcebispo procedeu à modernização dos principais edifícios da cidade e construir novos para dar uma melhor resposta ás necessidades da cidade. Assim mandou construir o Paço do Concelho: “A casa da câmara era toda ela construída em cantaria (…) tinha um alpendre térreo em arcos ogivais, destinado ao comércio do pão. Estruturava-se em dois sobrados e três entablamentos, sendo a fachada rematada por uma imagem da Virgem. O topo era rebordado por uma fileira de ameias. No interior dispunha de assentos para as audiências, continha armários (…)”37. Mandou realizar obras na Sé Catedral e no Paço Episcopal principalmente ao nível das fachadas, tal como anteriormente vimos. Os estudos públicos localizados no sul da cidade, como se pode ver no mapa de Braga de Georg Braun, foram também obra de D. Diogo de Sousa embora tenham sido concluídos depois da sua morte: “No domínio cultural e educativo, D. Diogo de Sousa promoveria o arranque dos estudos públicos, ao decidir instalá-los na antiga capela de S. Paulo e edifício anexo, no lugar defronte à igreja votada ao mesmo patrono, posteriormente aí edificada.”38. Continuou a construção do Hospital de São João Marcos e entregou a obra à responsabilidade da Câmara. Sabe-se também que D. Diogo de Sousa transferiu a Misericórdia de Braga, por volta de 1513 para a Rua Nova 39. Também se deve a ele, o surgimento de espaços verdes dentro e fora das muralhas, exemplo disso é o jardim do Paço Arquiepiscopal embora existissem várias

36

Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…, 41 Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…,44. 38 Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…,44. 39 Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…,45. 37

36

Braga e a colina das várias cidades quintas e hortas no espaço do núcleo urbano principalmente no interior dos quarteirões e nas áreas periféricas da muralha, entre outras várias obras que a foram realizadas na cidade40.

Figura 29: Mapa de Braunio com as praças abertas por D. Diogo de Sousa.41

40 41

Miguel Melo Bandeira, « D.Diogo de Sousa, o urbanista…,49. In https://goo.gl/jitGnA, acedido a 2017/01/11.

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5. Da Idade Moderna à contemporaneidade Depois das alterações significativas levadas a cabo por D. Diogo de Sousa, Braga explode na era barroca com a edificação de inúmeros edifícios barrocos, alguns deles autênticos ex-líbris da arte, e com a adoção do modelo das cidades barrocas. «É possível afirmar que a morfologia urbana de Braga se manteve praticamente inalterável, nomeadamente ao nível da estrutura viária, da distribuição das praças e do traçado da muralha, até ao século XVIII».42 No reinado de D. João V, Portugal foi um dos reinos mais ricos da Europa, pelo ouro e pedras preciosas do Brasil e também pela revolução agrícola que ocorria desde o século XVI, e que levou a um aumento da população. Por outro lado, no Minho era introduzida uma nova espécie de milho, mais produtiva.43 As artes passaram a ser mais apoiadas financeiramente e a todo o país chegavam artistas de variadas proveniências. Foi neste contexto que os arcebispos tornaram possível a proliferação de edifícios públicos barrocos em Braga, moda que depressa chegou à nobreza e burguesia e ao edificado privado. Vamos começar por analisar a morfologia e organização do núcleo urbano e passaremos depois a analisar os melhores exemplos do barroco que chegaram até aos dias de hoje. Depois falaremos um pouco do neoclássico e por fim viajaremos até ao século XIX e ao século XX.

Figura 30: Mappa de Braga Primas, da autoria de André Soare, de 1756s44

42

Fafiães, Mariana Leonor Costa, «Evolução urbana de Braga na Época Moderna. Espaços públicos e periferia.». Braga: Universidade do Minho, 2015, pág. 92. 43 Oliveira, Eduardo Pires de. «Braga de André Soares», Centro Atlântico, 2014, pág. 20. 44 in https://goo.gl/YbW3B0 acedido a 2017/01/06

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Braga e a colina das várias cidades

Figura 31: Centro histórico de Braga, na atualidade. 45

5.1. Morfologia e organização do núcleo urbano Na época moderna dão-se grandes modificações no núcleo urbano da cidade. Algumas ruas são regularizadas, são abertas novas artérias, mais amplas e regulares do que as medievais e novas praças com edifícios mais imponentes são ainda acrescentadas. O caminho da transição para a era barroca começa a ser traçado. Vamos analisar algumas das artérias mais relevantes.

5.1.1. Rua do Souto Consultando o mapa de Georg Braun de 1594 podemos constatar que esta, que é uma das ruas mais caras na atualidade, mantinha uma área substancial por urbanizar, nas traseiras de alguns dos edifícios. O seu topónimo, que se mantém na atualidade, poderá estar relacionado com este facto. Porém, com as intervenções efetuadas por iniciativa de D. Diogo de Sousa, a rua do Souto passa a ser a maior artéria intramuros e uma das mais emblemáticas, uma vez que cruza os Paços Arquiepiscopais e a Sé Catedral. Por outro lado, passa também a ser o eixo

45

Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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Braga e a colina das várias cidades fundamental da circulação da cidade intramuros. No mapa de André Soares, a morfologia mantem-se mas, aos poucos, a rua sofre transformações na sua dinâmica social e passa, juntamente com a arcada do Castelo, a constituir um dos eixos mais importantes da cidade, quer em termos urbanísticos, quer em termos económicos (Bandeira, 1993). A maioria das casas possuía varandas em madeira e gelosias, o que permitia ver sem ser visto, testemunho da religiosidade conservadora da cidade. No século XIX não são visíveis grandes alterações, embora tenham havido alterações nas fachadas dos imóveis, com a eliminação da quase totalidade das gelosias. No século XX são abertas duas ruas, a rua Francisco Sanches e a rua Dr. Justino Cruz, que permitiram a ligação rodoviária entre o Largo São João do Souto e o Campo da Vinha. Até então, a comunicação pedonal entre o Largo São João do Souto e a rua do Souto era feito por uma passagem na Casa do Passadiço, ainda entre nós.

Figura 32: Rua do Souto, no mapa de Georg Braun.

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Figura 33: Rua do Souto, na atualidade. 46

5.1.2. Rua Nova de Sousa Esta era a rua por onde entravam os arcebispos na cidade. Mandada abrir por D. Diogo de Sousa, a maioria das suas casas, à semelhança das da rua do Souto, possuíam varandas em madeira, gelosias e grandes portas no piso térreo. Também à semelhança da rua do Souto, todas as gelosias despareceram. Não foram feitas alterações substanciais à morfologia da rua excetuando a abertura da rua D. Frei Caetano Brandão, já no século XIX (Fafiães, 2015: 98).

5.1.3. Rua do Campo Esta rua sofreu diversas alterações morfológicas e toponímicas ao longo do tempo. Começou por chamar-se rua Nova e com D. Diogo de Sousa passou a denominar-se rua do Campo. Em 1890 passou a fazer parte da nova rua D. Frei Caetano Brandão, mais larga e retilínea. Através do mapa de Georg Braun conseguimos perceber que no século XVI existia nesta rua umas das portas da cidade e que teve diferentes toponímias ao longo do tempo: Porta de S. Francisco, Porta Limpa ou Porta do Campo dos Arcebispos (Freitas, 1890). Esta porta permitia o acesso à atual Praça Conselheiro Torres de Almeida. Embora não se saiba com exatidão a data de

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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Braga e a colina das várias cidades demolição desta porta, sabemos que, em 1745, a zona central do seu lado nascente terá sido destruída para se construir o edifício da Câmara Municipal (Smith, 1968).

Figura 34: Rua do Campo, no mapa de Georg Braun.

Figura 35: Rua Frei Caetano Brandão e Praça do Município, na atualidade. 47

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.1.4. Loura e Terreiro do Castelo Encontram-se atualmente integrados na rua do Castelo e no largo da Torre de Menagem. O topónimo Loura terá derivado de um campo de loureiros que ali existiria, tal como podemos ver no mapa de Georg Braun. Várias modificações foram feitas nesta zona, da qual destacamos a destruição do Castelo em 1906, do qual apenas sobrou a Torre de Menagem, que estaria no seu centro, e uma outra torre, mais tarde adaptada de torre sineira da igreja da Lapa.

Figura 36: Campo de Loureiros e o Castelo de Braga, no mapa de Georg Braun

Figura 37: Rua do Castelo e Torre de Menagem, na atualidade. 48

48 Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.1.5. Rua de S. João do Souto Mandada abrir por D. Diogo de Sousa no século XVI, tinha, no seu extremo, a Porta de S. João. No século XX foi aberta a rua Francisco Sanches, que passou a ligar o Largo São João do Souto à rua do Souto e, com a abertura da rua D. Afonso Henriques, várias casas do lado Sul foram destruídas. A Casa dos Coimbras, por exemplo, foi transladada para uns metros mais abaixo, para o local onde hoje se encontra.

Figura 38: Rua de São João do Souto, no mapa de Georg Braun

Figura 39: Rua de São João do Souto, rua Francisco Sanches, Rua Dom Afonso Henriques, Largo de São João do Souto e Casa dos Coimbras, na atualidade.49

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.1.6. Rua da Vielinha Agora denominada de rua da Violinha, talvez por aí ter existido alguma oficina de cordofones, é, na atualidade, a rua mais estreita da cidade. Era contígua à muralha da cidade, tal como podemos observar no mapa de Georg Braun.

Figura 40: Rua da Vielinha, no mapa de Georg Braun.

Figura 41: Rua da Violinha, na atualidade.50

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.1.7. Rua do Alcaide Esta rua, aberta no século XVI, ligava o Campo de Santiago ao Campo de São Sebastião, acompanhando a muralha medieval. Não se verificaram grandes alterações desde o século XVIII até à atualidade porém, com a abertura da atual rua dos Bombeiros Voluntários, parte do edificado foi demolido.

Figura 42: Rua do Alcaide, no mapa de Georg Braun.

Figura 43: Rua do Alcaide, na atualidade. 51

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.1.8. Rua dos Pelames A rua dos Pelames ligava o Campo de Santiago à ponte dos Pelames, no rio Este, que permitia a ligação ao Sul do país. Mandada abrir no século XVI e denominada Via Infantis, posteriormente passou a ser designada de rua dos Pelames por aí se encontrar uma fábrica de curtumes. No século XVII passa a designar-se rua de São Geraldo até à atualidade. No século XX foi cortada pela avenida Imaculada Conceição, tendo esta última seguido os traços da Quingosta de Urjais, tal como podemos observar no Mapa da Cidade de Braga Primas.

Figura 44: Rua dos Pelames, no Mapa da Cidade de Braga Primas.

Figura 45: Rua de São Geraldo, na atualidade. 52

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/08

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5.2. A era barroca O esplendor exuberante do barroco ia-se espalhando pela Europa católica do século XVIII. A rigorosa planificação das ruas das cidades, a geometria dos jardins e paisagens e a extravagância da pintura e escultura ganhava cada vez mais seguidores. Com o arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) a arquitetura bracarense ganha um ar sério, com notória influência do barroco. Com os cónegos, a cidade passa a conhecer uma arte mais trabalhada, com mais pormenores nos ornatos esculpidos. Mas é com D. José de Bragança (1741-1756), irmão do rei D.João V, e com o arquiteto seu protegido André Soares, que o burgo passa a viver num cenário de realeza, de formas opulentas e plásticas (Oliveira, 2014: 27). Surgem um pouco por todo o lado obras arquitetónicas representantes do rococó e do tardobarroco, mas também retábulos em talha nacional. Vamos enumerar alguns dos grandes exemplos do barroco bracarense e, principalmente, do trabalho único de André Soares.

Figura 46: Parte barroca do Paço Arquiepiscopal. 53

A parte moderna e barroca do Paço Arquiepiscopal de Braga, a zona onde atualmente é o Arquivo Distrital de Braga, é o primeiro trabalho conhecido do arquiteto bracarense. Faz parte duma das obras arquitetónicas mais notáveis da cidade, onde se podem testemunhar as diferentes fases da história de Braga, com um corpo medieval e outro moderno. Umas das singularidades desta obra, prende-se com o facto de a mesma se encontrar na Praça do Município, numa cota substancialmente

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Braga e a colina das várias cidades superior à da Câmara Municipal. «Este facto é, do ponto de vista sociológico, muito importante, porque mostrava bem quem era o Senhor da cidade: em Braga o poder religioso sobrepunha-se ao civil» (Oliveira: 2014: 52).

Figura 47: Palácio do Raio54.

O Palácio do Raio é a obra-prima do rococó português e uma das obras mais interessantes do panorama da arquitetura europeia da época. Aqui, a pedra é esculpida com uma exuberância tal, como se de talha se tratasse.

Figura 48: Palácio do Raio.55

O edifício da Câmara Municipal esteve situado, durante muitos anos, ao pé da Sé. O arcebispo e príncipe D. José de Bragança, que mandou erigir o seu paço na antiga Praça de Touros, num local desorganizado e pouco nobre, sugeriu à vereação que 54 55

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Braga e a colina das várias cidades mudasse a Câmara Municipal para o lado oposto da praça, seguindo assim as tendências do barroco europeu em que as praças deveriam ter monumentalidade através de importantes edifícios. Projetado por André Soares, o edifício foi considerado pelo historiador de arte norte-americano Robert Smith, o mais belo da Península Ibérica.

Figura 49: Pormenor arquitetónico do Convento dos Congregados 56.

A fachada da Igreja do Convento dos Congregados é uma das obras mais importantes do tardobarroco português e talvez europeu. Nesta obra, André Soares não projeta nenhum motivo decorativo, um facto estranho num arquiteto tão devoto de ornatos, dando primazia à linha e até à abstração (Oliveira, 2014:76). Outros grandes exemplos do barroco bracarense do século XVIII são, a Capela dos Monges, a Casa Rolão, a intervenção feita na Capela da Nossa Senhora da Torre, a porta da Igreja dos Terceiros, as fontes do Palácio dos Biscaínhos e fora do centro histórico a Capela de Santa Maria Madalena da Falperra e as 4 capelas e 2 fontes que projetou para o Bom Jesus do Monte.

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5.3. O neoclássico Também por mão dos arcebispos, a cidade vê ser introduzido o neoclássico, mas desta feita com outro protagonista: o engenheiro e arquiteto bracarense Carlos Amarante. Como obras mais emblemáticas temos a Igreja do Pópulo, a Igreja do Hospital e o Bom Jesus do Monte.

Figura 50: Igreja do Hospital.57.

5.4. O século XIX Nos países europeus já profundamente industrializados, a segunda metade do século XIX trouxe bastante crescimento e modernização urbana. Com os problemas trazidos com o êxodo rural, a crescente densidade populacional, os bairros operários mal organizados, a insalubridade, a falta de infraestruturas e o laissez-faire, Haussmann lidera a reforma urbana de Paris, que viria depois a servir de exemplo a outras cidades europeias e mundiais. Alicerçado em 4 grandes princípios, geometria, racionalidade, linearidade e modernidade, Haussmann abre o caminho para uma nova era da planificação urbana e do ordenamento do território. Os projetos urbanos, herdeiros das fórmulas geométricas e racionais da tradição barroca, responde agora aos problemas concretos das cidades industriais e das suas populações. A cidade passa

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Braga e a colina das várias cidades a ser pós-liberal, em que passam a ser estabelecidas fronteiras rígidas entre o espaço público e o espaço privado. Na primeira metade do século XIX, Braga é fustigada por conflitos. É vítima de vários saques por parte das tropas napoleónicas e é palco de confrontos entre a população e as autoridades, consequência da revolta da Maria da Fonte. Para além disso, com o fim das lutas liberais, várias ordens religiosas são expulsas, deixando o seu património à cidade. O plano urbano de Braga sofre significativas alterações. Algumas artérias são alargadas, outras são criadas alterando as que lhes antecederam no tempo. Em 1890 é aberta a rua Frei Caetano Brandão que destrói 3 ruas medievais: a rua Verde, a rua dos Sapateiros e a rua do Campo Novo. Fora do centro histórico surgem, na segunda metade do século XIX, duas fábricas, uma na rua do Taxa e outra na rua Nova de Santa Cruz.

Figura 51: Antiga Fábrica Confiança, na rua Nova de Santa Cruz. 58

De salientar ainda que, no final do século, o centro cívico da cidade altera-se paulatinamente da zona da Sé para a zona do Castelo. Em 1875 é inaugurada a estação de caminhos-de-ferro.

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Figura 52: Rua Frei Caetano Brandão, na atualidade. 59

5.5. O século XX No século XX são também sentidas profundas alterações ao plano urbano. No início do século, em 1906 o Castelo é destruído, do qual apenas sobrou a Torre de Menagem, que estaria no seu centro, e uma outra torre, mais tarde adaptada de torre sineira da igreja da Lapa. Também neste século são abertas 2 ruas perpendiculares à rua do Souto, a rua Francisco Sanches e a rua Dr. Justino Cruz, que permitiram a ligação rodoviária entre entre o Largo São João do Souto e o Campo da Vinha. Até então, a comunicação pedonal entre o Largo São João do Souto e a rua do Souto era feito por uma passagem na Casa do Passadiço, ainda entre nós.

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Figura 53: Ruas Dr. Justino Cruz e Francisco Sanches, na atualidade. 60

No século XX, foi construída a rodovia circular à cidade, atualmente já integrada em pleno centro, e que permitiu escoar o trânsito automóvel do centro histórico. Por exemplo, a rua de São Geraldo, antiga rua dos Pelames, foi cortada pela avenida Imaculada Conceição.

Figura 54: Circular de Braga..61

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Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/11 Fonte: Google Earth versão 7.1.7.2606, acedido a 2017/01/11

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Braga e a colina das várias cidades Em 1914 é inaugurada a rede de elétricos de Braga com 2 linhas, uma que ligava a estação de comboios ao Bom Jesus, passando pelo eixo Rua do Souto-Avenida Central-Rua Nova de Santa Cruz, e outra que atravessava a cidade entre o cemitério, rua de São Vicente, Avenida da Liberdade e Parque da Ponte.

Figura 55: Elétricos em Braga.62

Mais tarde começa-se a dar resposta a problemas estruturais, como são exemplo, na periferia, algumas ilhas operárias com péssimas condições sanitárias, destruição de bairros de lata e construção de bairros sociais e o alargamento das infraestruturas básicas. Embora os reflexos das cartas internacionais de valorização e preservação dos monumentos e centros históricos tenham demorado a chegar a Braga, estes foram-se alastrando aos poucos pela opinião pública e pelo poder político. Só no princípio dos anos 90, é que se começam efetivamente a refletir as problemáticas abordadas na Carta de Washington, de 1986, na Recomendação de Nairobi, em 1976, e das Cartas de Veneza e de Atenas, de 1964 e 1931 respetivamente. Na década de 1990 consegue-se tornar uma zona significativamente grande do centro histórico em área pedonal, o que, de certa forma, devolveu a zona aos cidadãos, que passaram a poder usufruir da mesma de uma forma mais segura, menos poluída e sem o tráfego automóvel. Ao mesmo tempo é ainda mais valorizado o legado arquitetónico dos monumentos do

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Braga e a colina das várias cidades centro histórico, levando à preservação dos mesmos mas também das suas envolventes. No entanto, com o tempo, a área pedonal foi perdendo população, quer pela falta de manutenção do edificado, com menos condições de habitabilidade para as novas exigências dos tempos, quer pelo simples facto de não terem sido planeadas, por exemplo, áreas de estacionamento para habitantes ou zonas verdes e de lazer. Recentemente, esta tendência tem sido contrariada através da revitalização das áreas pedonais e da recuperação de algum do edificado com o intuito de o colocar no mercado de habitação, porém, ainda há muita coisa a fazer para que o centro histórico se revitalize efetivamente, não apenas com atividade comercial e noturna, mas essencialmente com populações que lá habitam. Também no século XX, com a criação da Universidade do Minho, a cidade conseguiu captar habitantes de forma crescente, tendo sentido um aumento significativo da população, como podemos observar no seguinte gráfico.

Figura 56: Evolução demográfica do concelho de Braga. in https://pt.wikipedia.org/wiki/Braga acedido a 2016/12/29

Como podemos confirmar no gráfico, a população duplicou desde 1970 até 2011, um crescimento nunca visto na história da cidade.

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6. Conclusão Braga, com a sua colina da Cividade e o seu centro histórico, é uma urbe com mais de dois mil anos de história, que nos deixou um legado riquíssimo. Importante nó rodoviário enquanto plataforma giratória de mercadorias e de passageiros do Noroeste Peninsular, Braga sempre teve um papel importante na região em que se insere. Por ela passaram inúmeros povos, desde celtas, brácaros, romanos, suevos, visigodos, árabes, cristãos, até aos nossos dias. O legado patrimonial que chegou até aos nossos dias abrange áreas desde a arquitetura religiosa e civil, até às artes sacra e decorativa e a fotografia, com o vasto acervo do Museu da Imagem. Por outro lado, estudando as diferentes fases do seu centro histórico, aprofundamos os nossos conhecimentos em relação à própria história da Europa, da humanidade e da antropologia, do urbanismo e da arquitetura, da geografia e da sociologia, da história da arte e da economia. Podemos estudar a planificação de uma cidade romana, o quotidiano e os hábitos dessa sociedade; podemos estudar a importância geográfica da cidade e a relevância da mesma na economia da região; podemos estudar a arte e a arquitetura e as relações de poder entre o religioso e o civil; estudámos o renascimento, as ambiguidades do barroco, o neoclássico; estudámos a crescente importância da indústria, do comércio e do transporte ferroviário e rodoviário, e até do ensino universitário na cidade e como este ajudou a fixar populações e a alterar a demografia. Braga é uma cidade de inúmeras histórias mas com muitas outras ainda por contar. Esperemos que o presente e o futuro nos tragam mais oportunidades de estudar e descobrir novos factos da sua evolução ao longo do tempo, de maneira a que lhe seja restituída a importância e relevância que teve em tempos idos.

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7. Roteiro Cultural

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A e B – Ruínas das Termas Romanas do Alto da Cividade e Anfiteatro Romano Na colina do alto da cividade é possível visitar este Monumento Nacional. Erguido na época dos imperadores flávios, foi descoberto em 1977 e nele podemos conhecer melhor como se organizavam as termas romanas. No mesmo complexo, encontra-se ainda por musealizar o anfiteatro romano.

C – Domus da escola velha da Sé No edifício que outrora foi a escola primária da Sé, podemos visitar uma casa romana e a sua organização arquitetónica. Nesta domus podemos ainda ver parte da muralha medieval, uma vez que parte desta cerca foi construída por cima da casa.

D e E– Torre Medieval de Santiago e Museu Pio XII Edificada no século XV, a Torre de Santiago, foi construída no exterior da muralha preexistente para funções estritamente defensivas da porta com o mesmo nome. Permitia a entrada na cidade a quem vinha do Sul, fosse ou não a caminho de Santiago de Compostela. No cimo da Torre podemos vislumbrar uma vista panorâmica sobre a cidade. Já o Museu Pio XII alberga um espólio vasto do artista retratista Henrique Medina, bem como coleções de numismática, cerâmica, têxtil, escultura, pintura e ourivesaria.

F – Palácio do Raio Desenhado pelo arquiteto bracarense André Soares, o Palácio do Raio é a obraprima do rococó português e uma das obras mais interessantes do panorama da arquitetura europeia da época. Aqui, a pedra é esculpida com uma exuberância tal, como se de talha se tratasse.

G – Fonte do Ídolo Este é um santuário indígena posteriormente romanizado. Acredita-se que se tratava de um templo de adoração à divindade sincrética Tongoenaiago.

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H – Igreja de Santa Cruz Construída no século XVII em estilo barroco maneirista, é a expressão da paixão de Jesus Cristo. De salientar no seu interior a invulgar talha dourada.

I – Casa dos Coimbras Foi erguida no século XVI mas totalmente transladada para uns metros mais abaixo do seu local original, aquando da abertura da rua D. Afonso Henriques. Atente às suas janelas manuelinas e visite também o jardim.

J – Sé Catedral Construída num local onde se acredita ter existido um edifício romano religioso, é a mais antiga Sé Catedral do país. Conserva grande parte do projeto arquitetónico românico mas, no entanto, nela se misturam o barroco, o gótico e o neoclássico. O seu Tesouro-Museu integra inúmeras peças de grande interesse.

K – Igreja da Misericórdia É dos poucos monumentos renascentistas da cidade. Erguida no século XVI pelo arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, sofreu alterações e remodelações, adquirindo o atual aspeto em 1891.

L - Paço Arcebispal É um interessante complexo que demonstra diferentes fases da história urbana da cidade. Com um corpo medieval e outro moderno, foi alvo de constantes intervenções desde o século XIV. Umas das singularidades da parte barroca, projetada por André Soares, prende-se com o facto de a mesma se encontrar na Praça do Município, numa cota substancialmente superior à da Câmara Municipal. Este facto é, do ponto de vista sociológico, muito importante, porque mostrava bem quem era o Senhor da cidade: em Braga o poder religioso sobrepunha-se ao civil.

M – Arco da Porta Nova e Torre do Museu da Imagem O Arco da Porta Nova foi mandado construir por D. Diogo de Sousa em 1512 e estabeleceu o eixo fundamental de circulação intramuros. Foi posteriormente intervencionado pelo arquiteto bracarense André Soares. A Torre do Museu da Imagem tem as mesmas características construtivas das restantes torres do século XIV 60

Braga e a colina das várias cidades e XV. Atualmente alberga, juntamente com um edifíco do século XIX, o Museu da Imagem, que herdou um vasto espólio de fotografias das antigas “Foto Aliança” e “Casa Pelicano”.

N – Câmara Municipal O edifício da Câmara Municipal foi construído em frente ao Paço Arquiepiscopal por sugestão de D. José de Bragança, arcebispo e irmão do rei D. João V. Projetado por André Soares, o edifício foi considerado pelo historiador de arte norte-americano Robert Smith, o mais belo da Península Ibérica.

O – Jardim de Santa Bárbara A ala medieval do Paço Arquiepiscopal está virada a este belíssimo jardim. Dele vislumbram-se os arcos que anteriormente estariam no Salão Medieval da atual Reitoria da Universidade do Minho, com entrada pelo Largo do Paço.

P – Torre de Menagem Edificada no século XIV, estaria no centro do castelo de Braga, demolido no início do século XX. Foi mandada construir por iniciativa conjunta dos arcebispos bracarenses e da coroa portuguesa.

Q – Igreja da Lapa É outra parte do Castelo de Braga que também chegou aos nossos dias. Sob a torre da atual igreja está a parte inferior do cubelo noroeste.

R – Basílica dos Congregados A fachada da Igreja do Convento dos Congregados é uma das obras mais importantes do tardobarroco português e talvez europeu. Nesta obra, André Soares não projeta nenhum motivo decorativo, um facto estranho num arquiteto tão devoto de ornatos, dando primazia à linha e até à abstração

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