Breve análise do método fenomenológico de Heidegger em Ser e Tempo

June 6, 2017 | Autor: Patrick Carvalho | Categoria: Martin Heidegger
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Breve análise do método fenomenológico de Heidegger em Ser e Tempo Patrick Martins de Carvalho

O método fenomenológico Heideggeriano pressupõe ser um método de investigação que tem por objeto temático e conceitual o ser dos entes. A fenomenologia é uma busca pelo sentido do ser em um aspecto mais extenso. E aqui, se deve atentar que é um erro confundir a fenomenologia de Heidegger com a investigação conceitual próprio da ontologia, já que não se configura como tarefa da fenomenologia explicar o próprio ser ou mesmo tentar apreender o ser dos entes. Como Heidegger dará ênfase em diversas passagens de Ser e Tempo, como por exemplo, quando diz que: “[...] não se pode seguir o caminho da história das ontologias para se esclarecer o método” (HEIDEGGER, 2005, p. 56). Pois ambas, tanto a ontologia quanto a fenomenologia, tem vias de acesso diferentes de investigação sobre o que é o ser. Heidegger deixa bem claro essa separação nessa passagem de Ser e Tempo: Apreender o ser dos entes e explicar o próprio ser é tarefa da ontologia. O método fenomenológico, no entanto, permanecerá altamente questionável caso se queira recorrer às ontologias historicamente dadas ou a tentativas congêneres. Tendo em vista que, nessa investigação, o termo ontologia é usado em sentido formalmente amplo, não se pode seguir o caminho da história das ontologias para se esclarecer o método. (HEIDEGGER, 2005, p. 56)

Isto é, o modo que se trata uma questão pode ser fenomenológico. O que é perigoso é confundir o conceito de método, com alguma espécie de corrente filosófica ou uma interpretação subjetiva. A fenomenologia Heideggeriana busca definir o modo do ser, como eles são e como eles se manifestam, nesse sentido podemos entender a fenomenologia como a matéria que investiga as coisas em si mesmas, que busca desvelar os fenômenos. E, além disso, ser uma investigação que questiona as outras ciências que se dizem detentoras do processo do conhecimento científico. Um segundo ponto, é que para Heidegger, não se deve confundir fenômenos com manifestações. Porém, toda manifestação depende exclusivamente de um fenômeno. De forma que quando Heidegger diz que: “O fenômeno, o mostrar-se em si mesmo, significa um modo privilegiado de encontro.” (HEIDEGGER, 2005, p. 61), ele quer dizer, também,

que o próprio processar investigativo da fenomenologia pressupõe uma ida de encontro aos princípios mais básicos, aqueles que se manifestam e se mostram possíveis de serem conceituados e quantificáveis, pois somente assim se é possível falar de fenomenologia como uma ciência dos fenômenos. Heidegger percebendo a necessidade de fundamentar o processo fenomenológico como uma ferramenta investigativa das ciências, busca fundamentar o conceito de fenomenologia, para então esclarecer a função do Logos. Em Ser e o Tempo Heidegger dirá: Perceber o sentido do conceito formal de fenômeno e de seu uso devido na acepção vulgar é uma pressuposição indispensável para se compreender o conceito fenomenológico de fenômeno, prescindindo de como se deva determinar mais precisamente o que se mostra. Antes de se fixar a concepção preliminar de fenomenologia, deve-se definir o significado de logos, a fim de se tornar claro em que sentido a fenomenologia pode ser “ciência dos” fenômenos. (HEIDEGGER, 2005, p. 62)

Heidegger então aponta para um problema do logos como princípio absoluto da verdade, pois o logos é uma forma que permite deixar e fazer ver (HEIDEGGER, 2005, p. 63-64). Ora, há sim, para Heidegger uma conexão íntima entre esses dois conceitos. A saber, entre a interpretação do fenômeno e o logos. Pois a investigação fenomenológica não é como todas as outras ciências, em que se usam certas ferramentas investigativas, mas a fenomenologia é um modo de tratar uma questão que pode ser demonstrada, como Heidegger bem aponta: O termo fenomenologia tem, portanto, um sentido diferente das designações como teologia etc. Estas evocam os objetos de suas respectivas ciências, em seu conteúdo qüididativo. O termo “fenomenologia” nem evoca o objeto de suas pesquisas nem caracteriza o seu conteúdo qüididativo. A palavra se refere exclusivamente ao modo como se de-monstra e se trata o que nesta ciência deve ser tratado. (HEIDEGGER, 2005, p. 65)

A fenomenologia funciona como um modo de verificação daqueles conteúdos que podem ser considerados apofânticos, que tem uma pretensão de verdade e, através da fenomenologia se pode determinar o que é ou não tema da ontologia. Pois não são matérias que se excluem, mas que se complementam. Já que somente é possível pensar a ontologia através da fenomenologia, no sentido de que é preciso que os fenômenos do ente se manifestem para assim pensar o sentido originário do ser.

O problema principal para Heidegger ao propor a fenomenologia como método investigativo, é que para ele a fenomenologia só se torna uma medida necessária no momento que certos fenômenos não se apresentam de imediato, pois há certos fenômenos que não se desvelam sozinhos. E a fenomenologia permite esse desvelamento dos fenômenos para que assim possam se tornar conceitos mais sólidos. Por outro lado, o inverso de fenômeno, dirá Heidegger, é o conceito de encobrimento (HEIDEGGER, 2005, p. 66) e através dele Heidegger explicitará como existem fenômenos que não se apresentam inicialmente e que só podem ser atingidos e trazidos à luz sob certas circunstâncias: Diferentes são os modos possíveis de encobrimento dos fenômenos. Um fenômeno pode-se manter encoberto por nunca ter sido descoberto. Dele, pois, não há nem conhecimento nem desconhecimento. Um fenômeno pode estar entulhado. Isto significa: antes tinha sido descoberto mas, depois, voltou a encobrir-se. (HEIDEGGER, 2005, p. 67)

Portanto, há um movimento de ida e volta ao conceito, e que permite que se possa tratar de certos fenômenos que são ou estão encobertos e que se escondem atrás de um véu discursivo. E a ferramenta que admite essa via de acesso é a fenomenologia, pois ela é um modo de verificação daquilo que se mostra, que discute o que é o ser dos entes, os seus significados e, consequentemente, seu sentido. Heidegger percebe o quão sensível são as sentenças fenomenológicas e quão facilmente elas podem ser deturpadas a ponto de carecer de um significado profundo e um objetivo concreto, pois é necessária uma consciência crítica dos próprios conceitos fenomenológicos para que assim haja uma diferença no momento em que for analisar a questão. Heidegger ciente desse desvirtuamento possível durante a investigação fenomenológica assume em Ser e Tempo sua preocupação: Enquanto comunicação, todo e qualquer conceito e sentença fenomenológicos, hauridos originariamente, estão expostos à possibilidade de desvirtuamento. Perdem sua solidez, transformam-se em tese solta no ar e se transmitem numa compreensão vazia. A possibilidade de uma petrificação, endurecimento e inapreensão do que se apreendeu originariamente se acho no próprio trabalho concreto da fenomenologia. Toda a dificuldade destas investigações reside

justamente

em

torná-las criticas

positivo. (HEIDEGGER, 2005, p. 67)

a

respeito

de

si

mesmas, num

sentido

Ora, quando Heidegger assume essa preocupação é por um motivo anterior importante, a fenomenologia tem que ir de encontro à forma como apreendemos o ser e conhecemos a estrutura em si dos próprios fenômenos. E somente conseguimos atingir isso, se usando de ferramentas da fenomenologia, que permite desvelar os fenômenos. E somente se é possível isso através de uma metódica forma de investigar a natureza dos fenômenos, para que possa se manifestar e tirar todo encobrimento possível, e assim demonstrar e explicar a matéria do conceito. Só é possível conquistar o modo de encontro com o ser e suas estruturas nos fenômenos a partir dos próprios objetos da fenomenologia. É por isso também que o ponto de partida das análises, o acesso aos fenômenos e a passagem pelos encobrimentos vigentes exigem uma segurança metódica particular. A ideia de apreensão e explicação “originárias” e “intuitivas” dos fenômenos abriga o contrário da ingenuidade de uma “visão” casual, “imediata” e impensada. (HEIDEGGER, 2005, p. 67)

Heidegger evidencia que há diversas formas por qual um objeto se dá e existem diferentes formas de objetividade e diferentes formas pelos quais esses mesmos objetos se apresentam, e isso é o que exemplifica a necessidade de estudar como se dá os fenômenos do mundo. Referências bibliográficas HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Marcia Schuback, 15 ediçãoª, Editora Vozes, 2005.

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