Brincando de Sombra: reflexos do projeto poético de Suzy Lee

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Revista Laboratorio N°15, diciembre 2016.

BRINCANDO DE SOMBRA: REFLEXOS DO PROJETO POÉTICO DE SUZY LEEi PLAYING WITH SHADOW: REFLECTIONS ON SUZY LEE‟S POETICS PROJECT Autor: Luis Carlos Barroso de Sousa Girãoii Filiação: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, Brasil Email: [email protected]

RESUMO: Em meio à produção literária destinada ao público infantil e juvenil na contemporaneidade, o nome de Suzy Lee se destaca pela sua produção ímpar. A artista plástica sul-coreana publicou sua “Trilogia da Margem” mundialmente, recebendo diversos reconhecimentos. No entanto, para a abordagem que aqui propomos, daremos atenção para o terceiro livro-imagem desta série: Sombra (2010). Em um exercício de crítica de processo, buscando elucidar o projeto poético de Lee, embasaremos nossa breve análise nos estudos da pesquisadora Cecilia Almeida Salles sobre as redes da criação. Como apoio, iremos nos apropriar dos pensamentos de Gaston Bachelard e Roland Barthes sobre a imagem, buscando dar um novo olhar às reflexões sobre o imaginário, que é produtor de materialidade, em um livro que faz uso de textos visuais na construção de narrativas. PALAVRAS-CHAVE: imaginário, livro-imagem, projeto poético.

ABSTRACT: Amid the contemporary production for children and young adults, Suzy Lee stands out for her unique literary projects. The South Korean artist published her "The Border Trilogy" world-wide, getting recognized with many awards. That said, for our proposal, we will focus our attention on the third title of Lee's picture-book series: Shadow (2010). With a critical exercise about the process of creation, elucidating Lee's poetics project, we will base our brief analysis with the study of researcher Cecilia Almeida Salles about creation's networks. As support, we will appropriate ourselves with the thoughts of Gaston Bachelard and Roland Barthes about image, aiming to give a new look on the reflections about imagination which produces materiality, in a book that makes use of visual texts on its narratives constructions. KEYWORDS: imaginary, picture-book, poetics project.

O mercado contemporâneo de publicações literárias para crianças e jovens, naquilo que concerne os livros ilustrados – impressos com textos verbais e visuais em uma relação de suporte ou de complementaridade –, algum espaço se tem dado para 1

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pesquisar os livros-imagem. Tais obras, conhecidas na área da Educação como “livros de imagem”, são compostos por narrativas pictóricas: feitas em textos visuais, sem ou quase sem o uso de textos verbais. Dentre os nomes que se destacam na produção de livros-imagem, Suzy Lee é referência entre especialistas em literatura infantil e juvenil. A artista-narradora sulcoreana é artista plástica formada pela Seoul National University, na Coreia do Sul, tendo também realizado um mestrado em Book Arts pela Camberwell College of Arts, na Inglaterra. Lee, que em muitas entrevistas e relatos prefere ser apontada como book artist, deu início à sua produção literária há pouco mais de uma década, com a publicação de seu trabalho final de mestrado, Alice in Wonderland (2002), pela Corraini Edizioni. O livro-imagem, composto por recortes de fotografias e desenhos em carvão mesclados em uma ambientação de teatro, é uma tradução em imagens para o clássico da literatura mundial publicado pelo britânico Lewis Carroll, em 1865. No ano seguinte, a artista sul-coreana publicou o primeiro título de sua “Trilogia da Margem”iii, cujos direitos foram vendidos para diversos países – Brasil, Espanha, França, Estados Unidos etc. Mobilizando a margem central do livro como elemento suporte fundamental na elaboração de narrativas, Suzy Lee aborda sua trilogia pelo ponto de vista de que cada livro seja um meio de arte, de expor imagens poéticas. Para o exercício crítico do presente artigo, escolhemos o terceiro e último título da trilogia, Sombra (2010), que chegou ao Brasil pela editora Cosac Naify. Este livroimagem, em específico, chama a atenção por fazer uso de textos verbais em alguns momentos de reviravolta na narrativa feita em textos visuais, como será exposto mais adiante. Objetivando compreender algumas escolhas e movimentos que levaram à publicação de Sombra, naquilo que envolve o projeto poético de Suzy Lee, tomaremos como base para crítica do processo de criação os estudos realizados pela pesquisadora brasileira Cecilia Almeida Salles nos títulos O gesto inacabado: processo de criação artística (2013) e Redes da criação: construção da obra de arte (2006). Esse movimento, de aproximação e distanciamento da obra de Lee, propõe

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uma melhor compreensão da forma com a qual a autora “conhece, toca e manipula seu projeto de caráter geral” (Salles, O gesto 46). No entanto, compreender um projeto poético que resgata esta sensibilidade artística para livros que se destinam ao público infantil e juvenil, em uma sociedade repleta de imagens informativas – tão criticadas por Walter Benjamin na virada do século XIX para o XX –, faz-nos indagar sobre a produção de poeticidade a partir de imagens que não se apoiam em palavras. Naturalmente, nossa indagação ecoa nos escritos do francês Gaston Bachelard. Em A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria (1997), o filósofo da ciência expõe suas ideias – dentre os seus muitos estudos sobre os elementos da natureza relacionados à faculdade imaginativa do ser humano – acerca do elemento água e como a imaginação leva à materialidade. Em outras palavras: como aquilo que está em imagens que se ocultam no nosso pensamento líquido se torna raiz para a força imaginativa, resultando em materialidades figurais (imagens), escritas (palavras), faladas e cantadas (sons) etc. Uma vez que estamos abordando uma obra literária composta por imagens, complementamos nossa reflexão ao visitar os textos “Civilização da imagem” e “Visualização e linguagem”, presentes na compilação de ensaios Inéditos, vol. 3: imagem e moda (2005), do crítico e teórico literário francês Roland Barthes. Concluímos esta introdução trazendo um convite que a própria Suzy Lee faz em seu ensaio teórico (A trilogia 148): “Parece que os livros-imagem dizem: „Eu vou mostrar pra você. Apenas sinta‟”. Projeto poético em margem Ainda criança, Suzy Lee sempre teve interesse por desenhos e por artes em geral. Esse interesse resultou em uma graduação acadêmica em artes plásticas e a iniciou na carreira de ilustradora de livros infantis escritos por outros autores. Após alguns anos de experiência, a artista resolveu ir à Londres, cidade de Lewis Carroll e centro artístico europeu. Na capital britânica, Lee realizou um mestrado que envolvia estudos aprofundados em artes do livro, todos os aspectos que o circundam e suas funcionalidades. Esta exploração do objeto livro instigou-lhe e resultou em um livro-

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imagem, o qual já dá sinais do trabalho de caráter metaficcional que a artistanarradora realiza ao longo de sua obra. No livro sem palavras, Lee encontrou o meio ideal de passar suas ideias, em textos visuais, dentro de um objeto que é comumente apontado como “livro de artista” – em especial na área das Artes Visuais. Com o “desejo de expressar-se livre e completamente” (Salles, O gesto 46), a artista plástica deu início ao projeto de uma trilogia de livros-imagem que abordaria a separação dos mundos ficcionais – real e imaginário – por intermédio da margem central, da dobra do livro. Esse desejo de expor imagens que narram é natural para alguém que pensa por imagens, traço este presente no imaginário infantil, especialmente em crianças que ainda não fazem uso pleno da linguagem verbal, mas que permanece no imaginário do leitor jovem e adulto. Sobre este aspecto de seu projeto poético, Suzy Lee escreve:

Algumas histórias me chegam primeiro como imagens. Inclusive, há momentos em que apenas adiciono histórias às imagens específicas que gosto de usar. Em alguns momentos, penso que contar histórias pode ser uma desculpa para espalhar imagens. [...] À medida que coloco uma imagem próxima à outra, surge uma história entre elas como num passe de mágica. Ora, o que importa não são as imagens separadas, mas a história que elas criam juntas. (A trilogia 143)

Dando sequência à sua primeira obra literária, a book artist se apropriou dos ideais de Lewis Carroll em Alice in Wonderland, que dizia “um sonho dentro de um sonho”, assim como em Through the Looking-Glass, de “um espelho dentro de um espelho”, para criar suas obras seguindo o seu próprio ideal, de “um livro dentro de um livro”. Esta característica metaficcional, que aparece no primeiro livro-imagem de Lee com o uso da técnica de zoom in e zoom out no passar de páginas, está presente na “Trilogia da Margem” ao explorar o formato dos livros, fazendo com que o leitor lembre constantemente que a história só continuará com a passagem de uma

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página dupla para a sua seguinte – ou mesmo para a sua anterior. Em suma, trazendo à tona o tão conhecido estranhamento causado pelas artes em geral. Após explorar o formato retangular e vertical em Espelho, com o passar de páginas para o lado, bem como o formato retangular e horizontal em Onda, também com o passar de páginas para o lado, Lee queria concluir sua trilogia com uma nova proposta, que pudesse fazer um novo uso da margem narrativa: a passagem de páginas de baixo para cima. Como em Espelho a protagonista interage com o seu reflexo, passando pela margem central no momento ápice da brincadeira; assim como em Onda a menina e as gaivotas seguem o movimento de vai e vem das ondas do mar, interagindo diretamente com elas após a passagem pela margem central do livro; com Sombra veio a ideia de uma brincadeira do imaginário infantil que conta com uma margem separando mundos ficcionais real e imaginário, possibilitando assim uma imersão da menina nesse mundo imaginário, dominado por sombras produzidas a partir do mundo real.

Figura 1: Rascunhos de Sombra publicados no site Picturebook Makers (Lee, 2015).

Ao mobilizar espaço e tempo delimitados para mostrar suas histórias, estes momentos lúdicos onde uma criança se diverte ao interagir consigo mesma e com o seu duplo, sua sombra, Lee entra em diálogo com o que Cecilia Almeida Salles afirma sobre o projeto poético de um artista, em seu processo de criação, quando 5

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escreve: “O tempo e o espaço do objeto em criação são únicos e singulares e surgem de características que o artista vai lhe oferecendo, porém se alimentam do tempo e espaço que envolve sua produção” (O gesto 45). Apesar de “a mera constatação da influência do contexto histórico” (Salles, O gesto 45) não nos aproximar do processo criativo em si, cabe colocar aqui que Lee produziu Sombra durante sua estada em Cingapura, em 2009, onde o clima era quente e úmido, com muitas palmeirasiv. Referências de um mundo real que passaram pelo imaginário criativo da autora-narradora e resultaram em mundos real e imaginário ficcionais. Como mencionado anteriormente, Sombra é o único livro-imagem da trilogia que faz uso de textos verbais, especialmente da onomatopeia “Click!”, com o acender e apagar da luz no porão onde a menina se diverte com os objetos inanimados e sombras de si e desses mesmos objetos em animismo. O segundo momento de uso de textos verbais é quando a garotinha é chamada para jantar, por uma voz que vem de cima para baixo, do mundo ficcional real para o imaginário, fazendo com que nossa protagonista saia deste entremeio da página dupla.

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Figura 2: Página dupla de Sombra publicada no site Picturebook Makers (Lee, 2015). Estas escolhas que Suzy Lee faz ao produzir Sombra, agora passando as páginas de baixo para cima, fazendo uso de textos verbais, culminam com o que Salles reflete quando diz: “A partir do que o artista quer e daquilo que ele rejeita, conhecemos um pouco mais de seu projeto” (O gesto 48). Se em Espelho e em Onda não há uso de textos verbais, assim como seguem a tradicional passagem de páginas para o lado, o elemento comum a todos os livros-imagem da trilogia é a margem central. E é dentro dessa margem, na passagem pela dobra do livro, que a personagem incita o imaginário do leitor. Tal embate com a materialidade do objeto livro, lido/fruído pela criança ou jovem, incita uma imaginação líquida, baseada na capacidade de fabular desse leitor.

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Imaginário que narra Acerca das imagens pictóricas, que trazem poeticidade às obras de Suzy Lee, Gaston Bachelard já defendia, em seu “ensaio de estática literária” (11), que elas têm uma matéria, que “é uma planta que necessita de terra e de céu, de substâncias e de forma” (Bachelard 11). Essa materialidade, no caso específico da book artist sul-coreana, se dá no objeto livro – com maior precisão, no livro-imagem. Como mencionado há pouco, a história de Sombra se dá num tempo e espaço delimitados: uma menina em um porão interagindo com as sombras que ela mesma produziu no chão em resultado à luz acesa pelo “Click!”, dado por ela. Este momento de imersão da protagonista no mundo imaginário ecoa com o que Bachelard afirma sobre os devaneios na criança, estas criaturas materialistas: “A criança é um materialista nato. Seus primeiros sonhos são os sonhos das substâncias orgânicas” (9). Tal organicidade líquida e lúdica, apontada nas reflexões do pensador francês, nos leva de volta ao diálogo com Carroll na obra de Lee, sobre “um sonho dentro de um sonho” em Alice estar presente no “livro dentro de um livro”. A proposta da artista-narradora sul-coreana com a sua trilogia de livros narrados por imagens, pelo passar de páginas, sugere um movimento distinto daquele pregado pelo mundo dominado por imagens no qual os leitores infantis e juvenis vivem. Esta sugestão para o ato de ver também caminha em acordo ao que Bachelard reflete quando escreve: “Verá se tiver „visões‟. Terá visões se se educar com devaneios antes de educar-se com experiências, se as experiências vierem depois como provas de seus devaneios” (18). E na visão de Suzy Lee, a criança transita livremente entre o real e a fantasia, ela se diverte nesta zona fronteiriça.

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Figura 3: Página dupla de Sombra publicada no site Picturebook Makers (Lee, 2015).

Ao propiciar sensações de ludicidade em seus leitores, a book artist destaca suas obras das demais publicações destinadas a crianças e jovens, que passam mensagens diretas, simbólicas, em palavras e imagens, sem incitar a característica da literatura de transgredir o poder estereotipado, representativo da linguagem. E quando falamos em linguagem, trazemos a afirmação que Roland Barthes faz ao expor que “o que define uma linguagem não é o que ela diz, é o modo como diz” (68). No caso de Suzy Lee, tal linguagem se apresenta como narrativas feitas em sequência de imagens pictóricas, poéticas. No entanto, nesta mesma narrativa que se faz com as passadas de páginas duplas, a leitura visual da história nunca é a mesma, especialmente em Sombra. A cada nova abertura do livro-imagem, o leitor pode fruir as sequências de imagens com outro contexto em seu imaginário, com outros “conhecimentos adquiridos pela 9

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imagem” (Barthes 95). E todas estas novas possibilidades dialogam com o que Salles aponta sobre a trama do pensamento, em pleno processo de criação artística, ser feita na interação de linguagens, no entrecruzamento de matrizes do pensamento. Sendo assim, propomos um mergulho em algumas especificidades referentes à obra de Suzy Lee. Reflexos em sombras Ao escrever sobre expansões associativas nas tramas do pensamento em criação, Cecilia Almeida Salles indaga, no contexto do processo de criação do autor brasileiro Ignácio de Loyola Brandão, que “esse processo associativo, que vai expandindo ideias, faz o escritor agir literariamente” (Redes 123). Estas possibilidades de expandir as ideias em processo nos leva às informações dadas pela própria artista sul-coreana sobre o seu processo de criação – expostos nos mais diversos meios/mídias. Destacamos aqui, inclusive, o fato de tal processo ter sido materializado em obra quando a book artist publicou um ensaio teórico acerca de seu trabalho: A trilogia da margem: o livro-imagem segundo Suzy Lee (2012). Além de Lewis Carroll, Suzy Lee afirma ter sido influenciada por diversos outros artistas, obras e momentos. Estas influências mobilizaram seu ato criador, deram-lhe “poder de indicar o desenvolvimento de um pensamento visual” (Salles, Redes 160). Fora do âmbito literário, dentro da área que lhe é habitual, as artes visuais, temos Mystery and Melancholy of a Street (1914), do artista plástico italiano Georgio de Chirico – trazendo referências fortes relativas a silhuetas e cores que podemos ler/ver materializadas nas páginas internas de Sombra. A autora sul-coreana teve ainda forte influência da arte tradicional oriental, especialmente do teatro de sombras – que teve origem na China. A própria Suzy Lee, que realiza diversos eventos com leitores na Coreia do Sul, sugere esse momento lúdico com um teatro de sombras para as crianças. Ao brincar com os bonecos recortados em silhuetas, que são refletidas em uma parede – assim como as sombras da menina refletem no chão, em Sombra –, as crianças dão novos significados para esta característica lúdica do infantil, sobre o devaneio líquido de que Bachelard fala, anterior ao ato de materializar aquilo que é produzido no imaginário. 10

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Figura 4: Silhuetas de alguns personagens de Sombra para um teatro de sombras (Lee, 2014).

No âmbito das artes em geral, Suzy Lee diz ter sido bastante influenciada pelas leituras que fez do ensaio teórico A short History of the Shadow (1997), escrito pelo crítico de arte romeno Victor I. Stoichita. Já quando passamos para suas influências literárias, cabe citar, à priori, um mito grego escrito pelo poeta Ovídio nas Metamorfoses, sobre Narciso. Os sintomas de reflexo e duplos estão presentes em todos os títulos da “Trilogia da Margem”, porém o mergulho de cima para baixo, em si próprio, acontece na narrativa de Sombra. Além do mito de Narciso, a book artist afirma ter sido bastante influenciada pelo clássico literário do autor escocês Sir James Matthew Barrie, Peter Pan (1904). A teimosia da sombra de Peter, assim como do próprio protagonista do livro infantil, pode ser visto nas muitas transições feitas pela menina e suas sombras do mundo ficcional real para o imaginário. Além disso, nas páginas duplas finais de Sombra, podemos ver que as sombras repetem o “Click!”, proveniente do mundo real ficcional, habitado pela protagonista, e se divertem sem a presença da mesma, na 11

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sua ausência em um mundo imaginário ficcional. Faz-se uma materialidade proveniente do espaço líquido imaginário, anteriormente afetado pelo real.

Figura 5: Página dupla de Sombra publicada no site Picturebook Makers (Lee, 2015).

Tanto visual quanto conceitualmente, as referências que atingiram o imaginário de Suzy Lee como criadora, que formam os nós na sua rede da criação, reaparecem materializados em uma literatura visual, uma linguagem ainda não verbal, com potencial inesgotável para atingir o futuro leitor, fruidor de sua obra. Esse mesmo espaço da linguagem, que é líquido e submerso na imaginação, aponta para possíveis narrativas, para novas representações de elos inspiradores no processo de criação da artista sul-coreana. 12

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Considerações finais Levantar alguns nós da rede da criação de Suzy Lee teve por objetivo ampliar as leituras, fruições de sua obra sem palavras. Saber que o espaço líquido do imaginário, a partir do pensamento de Bachelard, está diretamente relacionado à memória e ao processo imaginativo apenas reforça o quão bem a book artist oriental soube operar com sua principal linguagem artística: a visual. As possíveis narrativas que podem irromper das páginas duplas de um livro-imagem trazem o potencial imaginário que é tão característico das artes, e aqui, em especial, a literária. Concluímos nossa breve análise de Sombra trazendo o que Cecilia Almeida Salles afirma quando escreve que “o processo de criação é como uma rede complexa em permanente construção” (Redes 169). Um construir de tessituras a partir dos textos visuais, verbais, sonoros, criados no imaginário do leitor, fruidor de um projeto poético que carrega significações, sensações atemporais. Bibliografia Bachelard, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. A. P. Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Impresso. Barthes, Roland. Inéditos, vol. 3: imagem e moda. Trad. I. C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Impresso. Lee, Suzy. A trilogia da margem: o livro-imagem segundo Suzy Lee. Trad. C. Knipel. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Impresso. - - - . Sombra. São Paulo: Cosac Naify, 2010. Impresso - - - . “Makers: Suzy Lee - KOREA”. Picturebook Makers, 23 jun. 2015. Web. 29 mai. 2016 - - - . “Shadow puppets”. curiouser and curiouser!, 17 jun. 2014. Web. 29 mai. 2016 Salles, Cecilia Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. 6a ed. São Paulo: Intermeios, 2013. Impresso. - - - . Redes da criação: construção da obra de arte. 2a ed. Vinhedo: Horizonte, 2006. Impresso.

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Fecha de recepción: 30/05/2016 Fecha de aceptación: 28/09/2016

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O presente artigo é parte de uma investigação sobre os livros-imagem na literatura infantil e juvenil contemporânea e expande reflexões de uma dissertação de mestrado em Literatura e Crítica Literária junto à PUC-SP. ii Mestrando em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, especialista em Design Gráfico pela Faculdade 7 de Setembro (2013) e graduado em Design de Moda pela Faculdade Católica do Ceará (2008). Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa "A voz escrita infantil e juvenil: práticas discursivas" pelo PEPG em Literatura e Crítica Literária na PUC-SP e do Grupo de Pesquisa em "Processos de Criação" pelo PEPG em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Tem interesse nas temáticas: História da Arte, Literatura Infantil e Juvenil e Tradução Intersemiótica. iii Espelho, primeiro livro da “Trilogia da Margem”, foi originalmente publicado pela Corraini Edizioni em 2003 com o título em inglês Mirror; Onda, segundo livro, foi originalmente publicado com o título em inglês Wave pela Chronicle Books, dos Estados Unidos, em 2008. Também pela editora norteamericana Chronicle Books, Sombra, o último livro da trilogia, foi publicado com o título em inglês Shadow, em 2010. iv Informação fornecida por Suzy Lee em troca de emails com o pesquisador brasileiro Luis Carlos Girão, realizada em Outubro de 2013.

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