Cafundó, a luta pela liberdade é todos os dias

September 16, 2017 | Autor: Sandro Silva | Categoria: Black Studies Or African American Studies, Cinema, African American, Racial Relations
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Cafundó: para brancos e negros o desafio da pós-abolição é todos os dias.
Sandro José da Silva

"É irracional a alma do mundo..."
Esta é a fala de abertura do filme Cafundó.
A primeira imagem é a multidão da metrópole desfocada, indagando sobre quem
ela é. João de Camargo também fez esta pergunta e construiu sua própria
resposta. Com elementos dispersos que uma sociedade escravista impõe: sem
sobrenome, propriedade, dinheiro, reconhecimento ou dignidade. Não se
possuir, não definir o que vai fazer no dia seguinte. Ficar e sair, sem
autonomia. O tempo é rei e quem conta é seu súdito. Somos súditos do tempo
em sua jornada infinita e circular. Estamos agora contando e recontando a
história daquele que buscou entre homens e mulheres o sentido de sua vida
que por um decreto voltava a lhe pertencer. A crônica do tempo da liberdade
que não pode ter fim é o fio da meada de Cafundó.
Quando contamos a história dos negros e negras é a dos brancos que ecoam.
Uns dirão que Cafundó é uma história sobre a miscigenação e outros sobre um
negro místico e sobre como o sincretismo camuflava as religiões negras, mas
esta é a nossa história, formada dos percalços que nos desafiam
diariamente: como ser livre? Ela é a história dos brancos refletida nos
desafios cotidianos da negrura de nosso povo: como ser livre? Perguntas
difíceis para um monte de respostas fáceis e incompletas dadas desde então.
A liberdade não se completou, pois ela se completa a cada dia. O povo negro
é o espelho deste mundo, cada pedaço dele foi construído no tempo, mas é
preciso desmontá-lo com histórias daqueles que resistiram e que resistem.
João de Camargo é um desses lugares da memória da resistência que desafiam
as maneiras fáceis de dar a respostas a perguntas complexas: como ser
livre?
Cafundó não é uma história sobre o passado. Ela não tenta reconstruir o
passado da escravidão dos negros no país de uma visão positivista. Ela é um
testemunho de como as liberdades chegaram a ser como elas são hoje, mas ao
mesmo tempo um desafio para saber como elas serão para nós amanhã. Nestas
trilhas nosso olhar deve sempre ficar colado no passado menos como
anacronismo, e mais como nossa vida não deve ser. A liberdade não se
completa nunca. Esta é a mensagem de João de Camargo e a do povo negro.
É esta resposta que todos os dias nossos pais, avós, bisavós negros se
impunham ao levantarem ao irem trabalhar. Silencioso, lento, meditativo:
como ser livre? Uma pergunta que vai se respondendo de maneiras às vezes
violentas, às vezes dura, inesperada e constante. Mas, apenas nosso povo
pode respondê-la. Não é possível esperar outra fonte de resposta. Elas vão
sempre nos recusar. Seja como resposta, seja como pergunta. Eles não podem
perguntar para nós.

O contexto do filme
A Constituição de 1988 representa um marco importante relativo ao povo
negro no Brasil. Cem anos após a abolição oficial da escravidão, os
brasileiros se perguntaram o que haveria mudado: nada, argumentaram muitos,
muito pouco, outros mais otimistas. No entanto, os debates representaram
que algo estava indo mal na definição de cidadania no Brasil: a exclusão
histórica de milhões de pessoas não deveria continuar como uma herança na
preocupação da construção de um país mais igualitário e com oportunidades
para todos. Era preciso rever os termos desta Democracia, fundada sobre uma
liberdade incompleta.
Escritores, ativistas, cineastas e parte do poder público se colocaram a
questão de como seria o ducentenário da abolição. A única certeza que
tiveram foi que o que contariam não seria uma história evolutiva e linear
da sociedade brasileira que naturalizasse suas lutas e disputas, fixando
heróis de todos os matizes ou redentores do povo negro. As liberdades
passaram a ser ponto central de debates e reconstruções da abolição: a
liberdade foi algo arrancado da sociedade escravista pelos escravizados,
ela não foi uma dádiva, mas um ato de agonia de um sistema que estava
corroído pelas inúmeras lutas do povo negro pela liberdade. Assim, tornou-
se fundamental contar a história de outro jeito, ouvir outras vozes e
deslocar a voz do poder que até aquela data havia "explicado o Brasil".
Esse é o convite de Cafundó.
Como exemplo, temos a bibliografia renovada sobre comunidades negras no
Brasil que revisita criticamente e com uma criatividade vibrante temas até
então subordinados à visão hegemônica simplista e simplificadora separando
um antes e depois da abolição. A verdade sobre as lutas dos negros não
permitiu que se continuasse a falar de uma única história, mas de múltiplos
pontos de vista e variadas estratégias de conquista de liberdade. Ou seja,
a liberdade não foi concedida pelo poder branco, mas, como mostra bem o
filme, o imaginário da escravidão negra permanece nas mentalidades que
associam a desordem da sociedade brasileira às reivindicações dos negros.
Não fomos nós que criamos uma sociedade desorganizada e à revelia do bem
comum, nem criamos a desigualdade e a sociedade violenta que se vê no
filme. E esta sociedade é criação do sistema escravista que nos viu como
coisa por mais de trezentos anos e que nos quer manter assim, como um
espelho de sua incompetência.
A historiografia vem recontando o que significou ser livre no pós-abolição
afirmando as lutas pela liberdade. Dentre as fontes podemos citar os
trabalhos dos núcleos de história social da UNICAMP e da Universidade
Federal Fluminense e da Universidade Federal do Rio de Janeiro que tem
renovado não apenas a metodologia de trabalho, mas o valor epistemológico
sugerido pelas lutas dos negros e seu impacto na construção da Democracia.
Cafundó é uma obra em consonância com o fato de que não é mais possível uma
história oficial povoada de heróis que tornam a experiência do homem e da
mulher comuns, este sim responsáveis pelas mudanças, indizíveis.

Os Joãos do Brasil
"Quando eu fecho os olhos eu vejo..."
Esta é outra frase paradigmática que representa os desafios do filme e do
povo negro entregues à liberdade que a nação brasileira lhes impunha.
Apesar da sinopse oficial do filme Cafundó dizer que ele "é inspirado em um
personagem real saído das senzalas do século XIX. Um tropeiro, ex-escravo,
deslumbrado com o mundo em transformação e desesperado para viver nele..."
de fato ele mostra como a sociedade africana escravizada conseguiu
reconstruir suas vidas diante da sociedade escravista: João de Camargo
afirma isto quando, na prisão, um negro o acusa de rezar para imagens dos
brancos e recusar os orixás africanos. Ele responde que aqui não é a África
e que para viver aqui seria necessário "juntar tudo". Neste sentido, o
filme mostra, na verdade, como a dominação branca não conseguiu compreender
aqueles que se colocavam diante dela com sua singularidade.
Foi muito fácil para o pensamento social brasileiro chamar isto de
Miscigenação ou sincretismo. Bastou olhar para santos brancos com nomes
africanos para afirmar que estes se escondiam para sobreviver. Esta
linguagem remonta à formas de dominação reificada, mas desconhecem que é
impossível falar em uma sociedade original: tratavam-se de sociedades que
já se conheciam antes da invasão do Brasil e estavam sob múltiplas
influências quando aqui pisaram. Olhar para a Europa ou África com um olhar
simplista e reducionista das experiências culturais, lingüísticas e
estéticas, é ocultar o tecido de disputas que já estavam em curso há
séculos.
Quem acusa João de Camargo na prisão não é seu companheiro de cela, mas uma
visão corrente maniqueísta que buscam os lugares das essências das
identidades, quando estas estão na luta cotidiana pela construção constante
de direitos e espaços de igualdade. Não há uma identidade africana, como
não há uma identidade européia. Se nosso olhar ficar fixado nas essências,
nos tornaremos ditadores do que devem ser os Outros e buscaremos menos
criar espaços de diálogos da diferença. Esta parece ser a prática do
"dividir para governar" que experimentamos ainda nas colonialidades de
nossa sociedade. Recusar o discurso essencialista não é abrir mão de
direitos baseados na discriminação racial e na afirmação de identidades,
mas sair do discurso de uma igualdade que não igualou ninguém até o
momento.
João de Camargo não é uma lenda, como afirma a sinopse do filme. Ele também
não é a figura do preto velho benevolente que opôs durante tanto tempo os
arquétipos dualistas pan-americanos do pai João e Zumbi. O filme consegue
mostrar que João de Camargo encarnava as contradições de seu tempo e que
ele conseguiu ler estas contradições e criar o seu espaço de liberdade.
Seria ilusório pensar que a sociedade brasileira tinha àquela época um
projeto de Brasil e, menos ainda que ela tivesse um projeto de Nação. Como
ficou bem descrita na historiografia recente, a busca por construir o que é
hoje o Brasil, foi um esforço que ainda não se completou. Isto fica
bastante evidente quando o amigo Cirilo ri de João: quando este diz que
eles iam para a Guerra do Paraguai, defender o Brasil, Cirilo diz que a
"guerra é coisa de branco". Em várias outras passagens é possível observar
como o poder colonial do Brasil se impunha como identidade hegemônica como
no caso da industrialização que colocou os negros libertos definitivamente
à margem da sociedade. Durante décadas os parlamentares discutiram entre
mandar os negros de volta para a África ou misturar o sangue deles com os
dos brancos até criar uma raça só.
Seria impossível pensar que os negros não compreendiam este jogo político e
que sua condição os colocava fora dos debates inclusive sobre seu destino.
Assim, como assinala Sidney Shalhoub, é nas visões da liberdade que devemos
buscar os significados da construção da resistência dos escravizados no
Brasil.
Este choque leva-o ao fundo do poço. Derrotado, ele se abandona nos braços
da inspiração, alucina-se, ilumina-se, é capaz de ver Deus. Uma visão em
que se misturam a magia de suas raízes negras com a glória da civilização
judaico-cristã. Sua missão é ajudar o próximo. Ele se crê capaz de curar, e
acaba curando. O triunfo da loucura da fé. Sua morte, nos anos 40,
transforma-o numa das lendas que formou a alma brasileira e, até hoje, nas
lojas de produtos religiosos, encontramos sua imagem, O Preto Velho João de
Camargo.
Diferente do que afirma o texto do site oficial para quem "Cafundó leva às
telas do cinema as loucuras da fé, da paixão, do poder e da espiritualidade
que marcam a formação cultural do Brasil...", o filme evoca a metáfora do
ver com os olhos fechados, ver com outros olhos: a história está em nossa
frente. Não basta olhar, é preciso ver e nem sempre isto ocorre com os
olhos.

- De que lado nóis está?
- De cabeça par baixo!
João de Camargo está inscrito em uma multiplicidade de personagens que
lutaram, a seu modo, pela libertação do Brasil. Sua atuação como líder
religioso desafiou a interpretação hegemônica do sagrado, obrigando as
elites a exporem sua intolerância religiosa e racial.

"Prá um culpado, qualquer preto serve..."
João de Camargo e sua forma de religiosidade enfrentam não somente o poder
da Igreja Católica, mas a discriminação racial que é constantemente
denunciada pela resistência do povo negro. Não bastou a abolição como ato
burocrático, seria preciso eliminar o racismo de trezentos anos de
escravidão das práticas do Estado, suas instituições e da mentalidade da
sociedade. O Estado deve garantir agora as condições para que os séculos de
desigualdade sejam eliminados por ações que libertem não somente os negros,
mas toda a sociedade. As ações afirmativas emergem como uma forma de
corrigir os erros do passado e ao mesmo tempo construir uma sociedade que
expresse suas diferentes culturas e visões de mundo a elas associadas.
Ainda que o discurso da igualdade da Casa Grande advogue que as divisões
raciais são perigosas, o fato da exclusão dos negros em função de uma
política pública: a comercialização de pessoas, é uma realidade a que
ninguém pode se furtar. As sociedades não são fundadas apenas em uma vida
mecânica de toma lá da cá, mas preenchidas de relações de reciprocidade em
diferentes níveis. As políticas de ação afirmativa são uma pequeníssima
forma de olhar objetivamente para o que significou a escravidão neste país.
Não temos o direito de recusar esta perspectiva, mesmo que os argumentos
"objetivos" se imponham – "eu não estava lá", "não há racismo no Brasil",
"somos um povo mestiço", "não se repara uma desigualdade com outra". Trata-
se de criar as condições de vida digna e alimentar a chama da justiça para
todos os que se julgam oprimidos e excluídos, pois a vida "não acaba na
esquina" e outras demandas por direitos podem ser criadas no seio da
sociedade, como já o foram o direito das mulheres, idosos e portadores de
necessidades especiais. É preciso estar atento às transformações que a
sociedade se recusa a fazer em nome de uma pureza e ver nela seu maior
percalço à construção de uma sociedade multiétnica e culturalmente diversa
em que o respeito figure como marca maior.

A tô tô: O rito de passagem e a liberdade.
A mitologia dos Orixás no Brasil falam de um mundo de partilha e
abundância. Os homens e mulheres surgiram das mãos dos deuses e carregam
deles suas virtudes e sinais de humanidade. Nesta mitologia, os homens não
eram "lobos dos homens", mas habitavam num mundo que não estava
desconectado da comunhão com o sagrado: vive-se o sagrado, conversa-se com
os deuses e deusas, alimentando-os e presenciando os ciclos infindáveis da
vida e da morte. Viver talvez seja o verbo divino da mitologia dos Orixás
nas religiões de matriz africana.
O protagonista do filme tem entre um de seus dons a cura, seja dos males do
corpo ou da alma. A mãe transmite estes saberes pela oralidade dos sons e
entonações e marca decisivamente a biografia de João de Camargo. No filme
esta característica ganha contornos mais precisos juntamente com a sua
biografia, e revela aos poucos aquele que seria o grande desafio da
passagem da escravidão à liberdade: afirmar valores culturais, práticas
sociais e identitárias distintas frente aos inúmeros vícios que resistiam à
lógica da democracia.
O grande rito de passagem é a perda das esperanças em relação ao amor que o
leva a uma viajem interior, profunda e radical que faz morrer o "negro
liberto" e faz renascer um cidadão posicionado política e socialmente em
relação à sociedade pós-abolição.
Não menos que Exú assiste os caminhos de João de Camargo. A trama do
"senhor dos caminhos", da comunicação e da dinâmica constante da vida,
desafia nosso protagonista a se levantar e duvidar sempre, mas nunca
desistir. Por duas vezes, Exú vem lembrar que João de Camargo não é santo,
é homem, homem no mundo, permeado de contradições, mas nem por isso sem um
lugar.
Então ele segue os caminhos que sua ancestralidade aponta e as inúmeras
faces do seu aprendizado é seguido de perto pelos arquétipos dos orixás: os
pés no caminho e a insaciedade de conhecimento de Exú, a busca da justiça
com Xangô, o cuidado de si e dos outros e o mistério da vida e da morte de
Omolú.
O grande desafio de situar-se "sem dar um dia de trabalho" é, desde os
primeiros anos da escravidão negra, o grande desafio frente à sociedade
colonial brasileira que à sombra da República nascente coexistam várias
formas de perceber a liberdade. Assim, não é possível ver os primeiros anos
da abolição apenas com a imagem que condenou os negros à perambularem pelas
estradas: a crise do sistema escravista iniciou-se quando o primeiro negro
escravizado pisou na Colônia e é ilusório pensar que não há história, do
ponto de vista dos crioulos, africanos, formas de organização política e
econômica que tinha no próprio sistema escravista suas formas de interação.

Sinopse e ficha técnica do filme analisado
Cafundó narra a vida de João de Camargo. Liberto com a abolição, presenciou
a escravidão, a guerra do Paraguai, a proclamação da república, a passagem
do século XX, a primeira e a segunda guerra mundial, as grandes descobertas
científicas, a República Velha, Getúlio Vargas. João de Camargo voltou-se
para a busca da liberdade a partir de uma interpretação singular da vida e
da religiosidade, levando o expectador a repensar os espaços de construção
da liberdade e as diferentes identidades do ser negro em nosso país. O
filme foi realizado em locações como Lapa, Ponta Grossa, Paranaguá e
Antonina no estado do Paraná e em São Paulo reconstrói, a partir das
memórias do próprio diretor em busca de suas raízes biográficas, a
biografia daquele que veio a se tornar uma referência religiosa no interior
paulista varrido pela escravidão negra.

Título: Cafundó
País: Brasil
Ano: 2005
Gênero: Ficção
Duração: 102 min
Tipo: longa-metragem 35 mm - colorido
Produção: Prole de Adão & Laz Audiovisual Ltda.
Direção Paulo Betti e Clóvis Bueno.

Possibilidades para trabalhar o filme na escola
A professora ou o professor tem neste filme um conjunto bastante
interessante de caminhos para a pesquisa e reflexão juntamente com os
alunos. Seguem abaixo alguns eixos e temas que vislumbro importantes numa
Educação das Relações Étnico Raciais.
O momento histórico da abolição e suas ramificações: as tensões entre
governo, proprietários, os escravizados e os movimentos pela abolição pode
ser problematizado a partir das relações de poder que constituíram a
República perguntando-se sobre a base econômica da Colônia e da República,
qual o significado da Nação na Colônia, como se constitui a Nação na
República, quais as implicações do período escravista para a formação da
cidadania no Brasil e em que medida estes debates são contemporâneos às
cotas raciais.
Os espaços da liberdade e a construção da autonomia. A liberdade
representava na Colônia, por exemplo, não trabalhar para ninguém, ser
"senhor de si". Em que medida os escravizados conseguiram, ainda na
escravidão, construir espaços de autonomia e liberdade é uma discussão
importante porque coloca a sociedade de escravos com protagonistas de sua
liberdade e não como meros objetos de ações dos abolicionistas. Assim,
podemos destacar as comunidades religiosas do candomblé e outras
denominações, as irmandades de homens livres de cor, ligadas ao Catolicismo
e as comunidades de quilombos e nos perguntar quais são os espaços da
liberdade que podem ser observados na nossa sociedade hoje em relação ao
negro
Do ponto de vista constitucional, o que o Artigo 68 da Constituição Federal
nos ensina sobre as comunidades de Quilombos, quais os projetos, ações e
reações em curso hoje sobre as comunidades de Quilombos, qual o conteúdo e
o sentido do artigo 215 da Constituição Federal em relação aos negros,
As religiões de matriz africana são duramente perseguidas no filme Cafundó.
É necessário pensar se a intolerância religiosa ainda persiste em nossa
sociedade, quais são as suas formas d manifestação, se há intolerância
religiosa no bairro dos alunos, qual a religião que é mais vítima de
intolerância religiosa e a que se atribui a intolerância religiosa contra
as religiões afro descendentes.
Sobre a escravidão e o sistema escravista repousa um silêncio ruidoso. Com
raras exceções, os negros e negras mais velhos contam ou fazem alguma
referência ao que chamam de "tempo do cativeiro", evitando falar de uma
experiência tão negativa imposta pelo Estado brasileiro. Em Cafundó, a
memória é uma forma de resistência dos grupos negros e é acionada como uma
forma dos sujeitos se localizarem diante do poder colonial. O professor
pode sugerir a reconstrução de uma biografia a partir da memória dos mais
velhos ou dos antepassados, narradas por aqueles é possível traçar a
biografia dos parentes mais velhos para identificar nestas narrativas o
lugar e as imagens do processo de emancipação dos negros, as forma de
contar e os temas que emergem nas narrativas de nossos avós e dos avós
deles são uma fonte importante de contar outras versões sobre eventos
históricos, tão importantes quanto os oficiais, a relação entre a formação
das famílias e grupos sociais, pode nos dar um caminho para perceber a
memória como uma forma de construção das identidades sociais. E cabe
lembrar que nós não surgimos do nada. Portanto, a trajetória de nossos
antepassados é fundamental para entendermos como chegamos até aqui e quais
foram as solidariedades que permitiram que isto ocorresse?
A própria palavra Cafundó é um testemunho da diversidade lingüística de
nosso povo. A partir das línguas faladas no filme, é possível fazer um
inventário das línguas africanas presentes ali e no cotidiano de nossas
falas de hoje. Neste sentido o professor pode fazer um exercício dos
diferentes falares presentes no filme e no cotidiano dos alunos perguntando-
se sobre quais as línguas reconhecidas pelo Estado brasileiro, quais as
línguas faladas no Brasil de hoje, existe algum projeto oficial que
valorize as línguas e os falares não oficiais da sociedade brasileira. É
possível ainda visitar um grupo religioso e/ou cultural que use a língua de
origem africana para sua expressão religiosa em sua cidade e elaborar um
pequeno dicionário de alguns verbetes destas línguas.
Cafundó é uma aula dos saberes dos povos negros africanos sobre medicina,
saúde, doença e saberes relativos à natureza. Neste sentido a professora e
o professor podem sugerir uma pesquisa sobre a relação entre as religiões
de matriz africana e os saberes médicos desta religião destacando quais os
saberes médicos, a partir da cosmologia das religiões de matriz africana,
sobre corpo, a cosmologia, a saúde e doença e sobre ecologia. Na esteira
destes saberes e cosmologias cabe também observar quais os saberes sobre a
pessoa humana a partir da cosmologia das religiões de matriz africana,
quais os saberes sociais a partir da mitologia das religiões de matriz
africana e, observando a questão do destino nas religiões de matriz
africana, qual a relação entre a noção de pessoa e o Orixá.
Em Cafundó, um preso diz que "retiraram a Senzala e nos deram a prisão".
Segundo o filme Cafundó, João de Camargo foi levado 17 vezes à cadeia, sem
que houvesse uma acusação oficial que justificasse a sua prisão. A
professora e o professor podem constatar nos registros e estatísticas
oficiais que a população carcerária no país é formada pela maioria de
negros e que estes são os que são mais condenados. Assim, e possível
relacionar cor e aprisionamento no sistema penal brasileiro, é possível
relacionar cor e condenação no sistema penal brasileiro, qual a estratégia
das polícias em relação ao policiamento de sua cidade.
"...religião de gente atrasada, macumbeiros..." afirma o guarda público ao
pai que quer consultar a filha com João de Camargo. A intolerância
religiosa é ainda uma marca na sociedade brasileira, revelando um Brasil
que discrimina a opção de culto especialmente as religiões de matriz
africana. Com base na trama sobre intolerância religiosa apresentada em
Cafundó, é possível formular interrogações sobre a relação entre
intolerância religiosa e raça no Brasil, as religiões mais discriminadas no
Brasil de hoje, os fundamentos sociais para a intolerância religiosa e se
no cotidiano dos alunos quais as manifestações de intolerância religiosa.


Resumo do texto de até 15 linhas

Mini-currículo e uma foto digital;
Nome Sandro José da Silva
Nascimento 10/11/1968 - Vitória/ES - Brasil
Carteira de Identidade - 18689187 SSP - SP - 25/04/1984 - CPF
07828230842

Endereço residencial Av. José Martins Rato, 156. bloco D, apt. 204 N.S.ª
Fátima – Serra 29160790, ES – Brasil. E-mail para contato:
[email protected]
Endereço profissional Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de
Ciências Humanas e Naturais. Av. Fernando Ferrari, departamento de Ciências
Sociais Goiabeiras – Vitória. 29000-000, ES – Brasil - Telefone: 27
33352506


Formação Acadêmica/Titulação

1997 - 1999 - Mestrado em Antropologia Social. Universidade Estadual de
Campinas, UNICAMP, Campinas, Brasil Título: O Tempo e Espaço entre os
Tupiniquins, Ano de obtenção: 1999 Orientador: Márcio Ferreira Silva
Bolsista do(a): Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

1993 - 1997 - Ensino Profissional de nível técnico em Bacharel em ciências
Sociais. Universidade Federal do Espírito Santo, UFES, Vitoria, Brasil

Atuação profissional
1. Faculdade de Turismo e Administração de Guarapari - FTG
2. Faculdades Integradas de Vitória - FDV
3. Faculdades Integradas São Pedro - FAESA
4. Instituto de Ensino Superior do Espirito Santo - IEES
5. Prefeitura Municipal de Vitória - P/VITORIA
6. Secretaria de Assistência Social Ceará - SAS-CE
7. Universidade Federal do Espírito Santo – UFES (D.E. 40h)

Prêmios e Títulos
2007 - Comenda ao mérito "Revolta do Queimado", Câmara Municipal da Serra
ES
2005 - Honra ao mérito, Assembléia Legislativa do Espírito Santo.

Produção em C, T & A
1. SILVA, S. J. Identidades Quilombolas na produção da natureza. Série
Documenta (UFRJ). , v.17, p.01 - 15, 2008.
http://www.psicologia.ufrj.br/pos_eicos/pos_eicos/arq_anexos/revsdocum/docum
17.htm
2. SILVA, S. J. Luzes, Câmera, Colonialismo: Colonialismo, filme
etnográfico e antropologia. Revista Eletrônica Sinais. , v.02, p.31 - 46,
2007.
3. SILVA, S. J. Quilombolas no Espírito Santo: identidade e
territorialidade.. Revista de História (UFES). , v.18, p.272 - 300, 2006.
4. SILVA, S. J. Legalidade e Assimetria: índios e terras no Espírito Santo.
http://www.geocities.com/alertanet. , 2004.
Palavras-chave: legislação, índios, Espírito Santo
5. SILVA, S. J. Preservação, Conservação e direitos coletivos em Vitória.
http://www.antropologia.com.br , 2004.
6. SILVA, S. J. Violência, Uma questão coletiva. SIGNUM - revista de
Direito. , v.02, p.84 - 85, 2001.
7. SILVA, S. J. Ajustando quais condutas? Tempo e espaço entre os
Tupiniquim. MOSAICO - revista de Ciências Sociais. , v.01, p.306 - 309,
1998.
8. SILVA, S. J. O índio que sumiu da praça:poder e símbolo In: Seminário
das navegações 500 anos, 2000, Vitória. Revista do IHGES. Vitória: 2000.
9. SILVA, S. J. Saúde das populações quilombolas no Espírito Santo In: V
Encontro regional de Psicologia Social, 2007, Vitória. (no prelo)
A produção da psicologia social no Espírito Santo. São Paulo: ABRAPSO,
2007.

Livros publicados
1. SILVA, S. J., FERREIRA, Simone Raquel batista, OLIVEIRA, Osvaldo
Martins, CORREIA, Jefferson Golçalves, ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de
Comunidade Quilombola de Linharinho. Brasília : Ford Fundation/UNAMAZ,
2007, v.1.500. p.12.

Capítulos de livros publicados
1. MATTOS, Sõnia Misságia, SILVA, S. J.
Prefácio In: Anchieta nosso patrimônio. 01 ed.Goiás : editora da
Universidade Católica de Goiás, 2006, v.01, p. 13-15.
2. BULHÕES, Dalívia Bento, CICCARONE, C., FERREIRA, Simone Raquel batista,
OLIVEIRA, Osvaldo Martins, SILVA, S. J.
Territórios quilombolas no Espírito Santo: a experiência do Sapê do Norte
In: O Incra e os desafios para regularização dos territórios
quilombolas.206 ed.Brasília : Nead debate, 2006, v.13, p. 116-142.

Produção Técnica
1. SILVA, S. J., CICARONE, C. Termo de Referência/FUNAI/EIA/RIMA, 2004.
Gasoduto Cacimbas-Vitória. 2004
1. SILVA, S. J. FUNAI - Formulação de quesitos para Termo de referência,
2007.
2. SILVA, S. J. INCRA - A comunidade quilombola de Angelim - Conceição da
Barra ES, 2006.
3. SILVA, S. J. Curso de fotografia e documentário, 2007. (Extensão, Curso
de curta duração ministrado) Referências adicionais : Brasil/Português. 2
dias.
4. SILVA, S. J. Laudos antropológicos, 2007. (Extensão, Curso de 16h
ministrado)
5. SILVA, S. J., GONÇALVES, Jefferson Ferreira. Regularização de terras de
quilombos, 2007. (Extensão, Curso de curta duração ministrado) Referências
adicionais : Brasil/Português. 8 horas. Meio de divulgação: Impresso
6. SILVA, S. J., PAVESI, P., LACERDA, G. G. São Benedito: território negro
urbano, 2007. Relatório de pesquisa apresentado ao FACITEC como conclusão
da pesquisa Quilombos urbanos em Vitória:etnicidade e territorialização
7. SILVA, S. J., MATTOS, Sônia Misságia. Comunidade negra rural de "São
Mateus do Sul" - Anchieta - ES, 2006. (Relatório de pesquisa)
(...)

Produção artística/cultural
1. SILVA, S. J., CICCARONE, C.
Tekoá Poran, vídeo 20 min. Cor. 1996.

Orientações e Supervisões
(...)
4. Cleber Teixeira. Não chuta que é macumba. 2007. Curso (Ciências Sociais)
- Universidade Federal do Espírito Santo.
6. Jefferson Golçalves Correia. A Festa nas comunidades quilombolas. 2006.
Curso (Ciências Sociais) - Universidade Federal do Espírito Santo
7. Vitor Hugo Simon Machado. Comunidades quilombolas e poder. 2006. Curso
(Ciências Sociais) - Universidade Federal do Espírito Santo
(...)
9. Gabriela Gomes de Macêdo Lacerda. Narrativas de uma liderança quilombola
feminina. 2005. Curso (Ciências Sociais) - Universidade Federal do Espírito
Santo
10. Janete aparecida de Souza Diniz. Naturezas negociadas: manguezeiros e
políticas públicas na Ilha das Caieras (vitória, ES). 2005. Curso (Ciências
Sociais) - Universidade Federal do Espírito Santo

Iniciação científica
1. Paulo Gois. Antropologia visual. 2007. Iniciação científica (jornalismo)
- Universidade Federal do Espírito Santo
2. Camila Bravim Silveira. Perspectivas de Saúde em Comunidades
Quilombolas. 2007. Iniciação científica (Ciências Sociais) - Universidade
Federal do Espírito Santo

Orientações e Supervisões em Pós-graduação.
1. Graziele Rodrigues da Silva Duda. A representação social da violência na
juventude como base na construção de políticas públicas de prevenção a
violência para este público. 2007. Monografia (Segurança pública) -
Universidade Federal do Espírito Santo
2. Rogério Fernandes Lima. Abordagem policial e discriminação. 2007.
Monografia (Segurança pública) - Universidade Federal do Espírito Santo
3. Almir Alves Barbosa da Cruz. Violência e construção da cultura do Medo.
Monografia (Segurança pública) - Universidade Federal do Espírito Santo

Participação em eventos
1. Simposiasta no(a) II Encontro da Nova Cartografia Social do Brasil,
2008. (Encontro)
2. Conferencista no I Semana do resgate quilombola, 2007. A regularização
das terras quilombolas
3. Simposiasta no(a) Semana de Extensão da UFES, 2007. As comunidades
quilombolas no Espírito Santo
4. Apresentação Oral no(a) Não deixe passar em branco: semana da abolição,
2007. As cotas na UFES.
(...)
6. Conferencista no(a) Programa de Fortalecimento da Identidade quilombola,
2007. (Oficina) Comunidades tradicionais: construindo identidade
(...)
8. Moderador no(a) VI Semana de Ciências Sociais, 2007. (Seminário)
Identidade, auto-afirmação e Reconhecimento
9. Conferencista no(a) I Encontro estadual das comunidades quilombolas do
Espírito Santo, 2007. (Encontro)
O processo de titulação das terras de quilombos
10. Conferencista no(a) V Encontro Regional de Psicologia Social do
Espírito Santo, 2007. (Encontro) "O que eu posso esperar da vida? saúde
quilombola"
11. Apresentação Oral no(a) IV Semana Estadual de Ciência e Tecnologia,
2007. (Encontro)
Os direitos das comunidades quilombolas no Espírito Santo
12. Conferencista no(a) Sessão solene de 158 anos da "revolta do queimado",
2007. (Outra) Patrimônio cultural e identidade
(...)
14. Conferencista no(a) Ato contra a intolerância religiosa em Cariacica,
2006. (Oficina) Intolerância religiosa e diversidade cultural
15. Moderador no(a) VI Encontro regional da ANPUH-ES, 2006. (Encontro)
Projeto Territórios quilombolas no Espírito Santo: memória e
territorialização
16. Conferencista no(a) Intolerância religiosa na Serra - ES, 2006.
(Encontro)
Quando as diferenças nos completam: intolerância religiosa e direitos
humanos
19. Moderador no(a) Oficina de Nivelamento conceitual e metodológico, 2005.
(Oficina) Oficina de Nivelamento conceitual e metodológico
(...)
25. Apresentação Oral no(a) V reunião de antropologia do MERCOSUL, 2003.
(Encontro) Preservação, conservação e direitos coletivos em Vitória.
(...)
28. Apresentação Oral no(a) IV reunião de antropologia do MERCOSUL, 2001.
(Encontro)
Comunicação no Fórum de Pesquisa: "Antropologia do Estado": Legalidade e
assimetria; índios, terras e poder local no Espírito Santo.
29. Apresentação Oral no(a) IV reunião de antropologia do MERCOSUL, 2001.
(Encontro) Comunicação no Fórum de Pesquisa "patrimônio, memória e saberes
indígenas": Tempo e espaço entre os Tupiniquim
(...)
31. II Seminário de Extensão e Pesquisa do Espírito Santo, 2000.
(Seminário)
Cidadania, Justiça e Direitos Coletivos.
32. Seminário da Associação nacional de História, 2000. (Seminário) Terra
Indígena Tupiniquim: crônica e territorialização.
(...)

Organização de evento
1. SILVA, S. J. Audiência Pública das Comunidades quilombolas no Espírito
Santo, 2007. (Outro, Organização de evento)
2. SILVA, S. J., OLIVEIRA, Osvaldo Martins Cotas na UFES, 2007. (Outro,
Organização de evento)
3. BRITES, J., CICCARONE, C., SILVA, S. J. Programa de formação para
mediadores sociais: Direitos humanos dos povos indígenas e minorias, 2007.
(Congresso, Organização de evento)
4. SILVA, S. J., ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de, OLIVEIRA, Osvaldo
Martins, FERREIRA, Simone Raquel batista, GONÇALVES, Jefferson Ferreira
Oficina Cartografia social, 2006. (Outro, Organização de evento)
5. SILVA, S. J. Identidade e Cidadania: direitos quilombolas, 2005.
(Outro, Organização de evento)

Bancas Curso de aperfeiçoamento/especialização
GUIMARÃES, Aissa, SILVA, S. J., ALBERNAZ, F. L.
Participação em banca de Maenara Lubve Guizardi. O corpo e a ancestralidade
afrodescendente, 2006. (especialização em ciências humanas e
desenvolvimento) Universidade Federal do Espírito Santo
(...)

Participação em banca de comissões julgadoras Concurso público
1. Banca de seleção de professor substituto, 2005 e 2006
Universidade Federal do Espírito Santo.

Outra
1. seleção de técnicos para o projeto "Territórios quilombolas no Espírito
Santo", 2005. Universidade Federal do Espírito Santo


1. Margens – As folhas devem apresentar margens esquerda e superior de 3
cm; direita e inferior de 2 cm;
2. As citações de mais de três linhas, as notas, as referências, as
legendas das ilustrações e tabelas, a ficha catalográfica, a natureza
do trabalho, o objetivo, o nome da instituição devem ser digitados em
espaços simples;
3. Siglas – Quando aparece pela primeira vez no texto, a forma completa
do nome precede a sigla, colocada entre parênteses. Ex.: Universidade
de Brasília (UnB);
4. Utilizar negrito e maiúsculas para o titulo principal e minúsculas nos
subtítulos das seções;
5. Para ênfase ou destaque no interior do texto, utilizar itálico;
assinalar os parágrafos com um único toque de tabulação e dar Enter
apenas no final do parágrafo.
6. Separar título de seção, nome do autor, do texto com um duplo Enter.
7. Para transcrição, usar a mesma Times New Roman, fonte 11, separadas do
texto principal com duplo Enter e introduzidas com dois toques de
tabulação.
8. As análises devem ser inéditas e também não devem exceder 20 páginas
com espaços, incluídas as referências bibliográficas e as notas;
9. As menções a autores, no decorrer do texto, devem subordinar-se à
forma (Autor, data) ou (autor, data, p.) como por exemplo: (SOUZA,
2006) ou : (SOUZA, 2006, p.42). Diferentes títulos do mesmo autor,
publicados no mesmo ano, deverão ser diferenciados adicionando-se uma
letra depois da data, por exemplo: SILVA, 1995c), (LOPES, 1995b) etc.
10. As notas de rodapé devem ser exclusivamente explicativas. Todas as
notas deverão ser numeradas e aparecer no pé de página (usar comando
automático do processador de texto: inserir/Nota);
11. Por fim, escreva um texto com a alma, pois só assim ampliamos nossos
sonhos.

Grande abraço e muito obrigada!
Edileuza Penha de Souza
[email protected]
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