Andrés Esteban de la Plaza
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Cálculo das Órbitas Planetarias por Ing. Andrés Esteban de la Plaza © De livre publicação desde que o autor seja mencionado, direitos reservados. Última revisão 29 junho 2016 – Rio de Janeiro, Brasil.
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Homines dum docent discunt. - Séneca o Moço (Córdoba 4 a.C.- Roma 65 d.C.)
ÍNDICE: 1. REPRESENTAÇÃO DE VETORES 2. ACELERAÇÃO EM COORDENADAS POLARES 3. FORÇAS CENTRAIS E GRAVITAÇÃO 4. RESOLUÇÃO DE EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO PROBLEMA 5. CONSIDERAÇÕES PARA AS ÓRBITAS ELÍPTICAS 6. CÁLCULO DA POSIÇÃO NA ÓRBITA ELÍPTICA 7. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTANTE DE GAUSS, O MOVIMENTO DIURNO MÉDIO E A EQUAÇÃO DE KEPLER 8. CÁLCULO DE ÓRBITAS NÃO ELÍPTICAS: ÓRBITAS PARABÓLICAS E HIPERBÓLICAS
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1. REPRESENTAÇÃO DE VETORES
A posição de um ponto P no espaço pode ser definida por um vetor posição P com origem num centro O de coordenadas ortogonais retangulares. Definindo nesta terna xyz, os versores (vetores unitários) dos eixos, obtemos respectivamente: o versor i como versor da direção x, o versor j como o versor da direção y, e o versor k como o versor da direção z. Assim, qualquer vetor definido num destes eixos estará representado pelo produto de um escalar igual ao módulo e do versor da direção X X i x i .
Portanto, podemos decompor o vetor P em seus componentes ortogonais x P , y P e zP no
sistema de centro O: ( projeções de P nos eixos x, y, e z ) de forma que P xP yP zP xP i yP j zP k . Também podemos representar este vetor de forma matricial: x P P yP zP
r P
x y z 2
P
2
P
2
P
Porém esta não é única representação possível para o ponto P. Podemos imaginar um plano que contém o vetor P e o centro O, de maneira que, embora ainda continuemos no espaço tridimensional, a representação de P é feita num plano, entretanto, este plano será um plano complexo ou seja, o eixo x será real, e o eixo y será imaginário, ou seja: A vantagem de procedermos assim está dada pela possibilidade de representarmos um número complexo na sua forma exponencial, como um vetor. Ë fácil observar que se definimos o versor i para a direção x, então a direção de r estará definida por um versor r tal que
r e i i
onde i = 1 , logo: i r e i cos i sen i i cos i i sen e como i i j pois multiplicar por i equivale a girar i 90 : r i cos j sen de forma que:
P = r r r r e i i que é a expressão do raio vetor em coordenadas polares.
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2. ACELERAÇÃO EM COORDENADAS POLARES
i
Podemos agora proceder a derivar P = r r r r e i respeito de tempo para encontrar a aceleração. Porém antes vamos calcular a derivada respeito do tempo de r , pois é uma função de , ou seja que r = r ():
i d e i i d e i d d r r ie i i n n onde n versor normal a r dt dt d dt logo: r n i d n d n d d ie i d n i 2 e i i e i i r dt d dt d dt logo: n r vamos calcular então a primeira derivada de r , ou seja r :
dr d r d rr d r r r r r r r n dt dt dt dt r r r r n vamos calcular agora a segunda derivada de r , ou seja r :
2 d r d r d d n d r d r d r r r n d r r r r n r n r 2 dt dt dt dt dt dt dt dt n r r r r + r n r n r rr 2r n r n r 2 r r r r 2 r 2r r n
n r r r 2 r 2r r onde:
a r r r 2 aceler. normal: a n 2r r aceler. total en coordenadas polares: a a r r a n n
aceler. radial :
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3. FORÇAS CENTRAIS E GRAVITAÇÃO Inicialmente vamos deduzir as fórmulas que determinam as trajetórias dos corpos que se encontram sujeitos à atração de forças centrais, no caso particular da a lei da gravitação universal, ou seja
M m F G S2 r . De acordo com a figura 1 temos: r Onde o ponto m está submetido à força :
Mm F G 2 r r r é o versor (vetor unitário) da direção de F e:
r r( t ) ( t )
t = tempo MS = massa corpo central m = massa objeto A resolução deste problema deve proporcionar as seguintes funções:
r r( ) ( t ) As expressões para a aceleração em função das componentes normal e radial da aceleração são: 2 d r ar 2 a rr a nn dt
onde
d2 r d 2 2 a r r r r ( ) d t2 dt dr d d2 a n = 2r r 2 r dt dt d t2
Mas nos sistemas de forças centrais sabemos que a aceleração normal é nula an=0, portanto a aceleração será: 2 d r a r = 2 arr dt 2 d r d 2 2 a r r - r r ( ) dt d t2
e lembrando que a equação diferencial geral do movimento central neste caso é:
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MSm d2 r m 2 G 2 r dt r 4. RESOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO PROBLEMA A equação diferencial geral do problema pode ser decomposta em duas particulares:
M m mar r an n G s2 r r
e
an 0
temos então: mar = G man=
M sm r2
0
ar G
an
Ms r2
0
(pois m 0)
[2]
então a equação diferencial que temos que resolver será:
d2 r d 2 2 ar r r r ( ) d t2 dt
[1]
porém não conhecemos as relações r r( t ), = ( t) , mas lembrando da equação [2] obtemos que:
an = 0 2r r 0 ou seja
dr d d2 2 r 2 0 dt dt dt De
0 2r r
entretanto
dr dr d dt d dt
r r
, ou seja: podemos obter
2r = d e como r dt = d 2r mas r r dt r 2r 2r 2 dr e como r r r d d dr 1 2 [2a] dt d r fazendo passagem de términos na [2 a] obtemos: 5
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d d r 2 d 2 dt r d r 2 d 2 r
dr d 2 r d dr 2 r
[3]
d dr 2 r
integrando agora a [3]:
ln 2 ln r constante
ln 2 ln r C1 constante ln ln r 2 C constante 1
ln( r 2 ) C1 const. introduzindo a constante 1/ 2
portanto
1 ln( r 2 ) C 2 const. 2
1 2 r e c2 constante 2
que não é outra coisa senão a velocidade areolar do ponto m na sua trajetória, como podemos observar na figura 2:
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Se a velocidade areolar é constante, então:
“O raio vetor que une o planeta ao sol varre áreas iguais em tempos iguais”.
A área do triângulo será:
1 rrd 2 1 d A r2 d 2
dA=
Vamos fazer agora algumas considerações energéticas. Para isto definimos:
r raio vetor m massa p quantidade de movimento LINEAR = m v L quantidade de movimento angular ou momento da quantidade de movimento linear = r p
L chamando a l m
1 1 temos que l r v ( r p ) ( r mv ) r v m m 1 1 2 d A mas a metade do modulo de l vale rv r A 2 2 dt 1 1 r 2 logo l A 2 2 L ou r 2 que como sabemos = constante, portanto m
L L constante = m mr 2
L r m 2
[3a]
podemos determinar agora a partir da [3a] o valor de r 2 pois
r 2
r
2
r3 L2 2 r 2 3 mr
2
L m r3
2
[4]
Logo, para resolver a equação diferencial [1], já temos o valor r 2 porém falta conhecermos o valor de r . Para isto, e voltando agora à aceleração radial:
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M r r 2 G 2s r
[5]
observamos que:
r
dr dr d dr dt d dt d dr L d mr 2 dr L 2 r md 1 L d r md
L d 1 m d r
logo r
d r d r d dt d dt d r d d L d 1 L d m d r mr 2 r =
L2 d 2 1 m 2r 2 d 2 r
[6]
Agora, substituímos [6] e [4] na eq. diferencial [5] e obtemos então:
r
r 2
L2 d 2 1 L2 2 2 2 -r 2 4 m r d r mr L2 m2
ou seja Fazendo z
d 1 1 2 d r r
Ms r2 M G 2s r G
GM s 2
d 2 1 1 M sm2 G d 2 r r L2 1 e substituindo, chegamos a uma equação diferencial [7] de fácil resolução: r M sm2 d 2 1 1 G d 2 r r L2 M sm2 d2 z z G d 2 L2
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M sm 2 z z G L2
[7]
A solução geral da equação [7] compõe-se de duas soluções; a solução homogênea zh que GM s m 2 provém de resolver z z 0 , e a solução particular zp . L2 Solução homogênea:
z h e (C 1 cos C 2 sen ) ou seja
onde = 0
e
=1
z h C 1 cos C 2 sen
introduzindo agora as constantes 0 e Q de forma que:
C1 Q cos 0
e
C 2 Q sen 0
chegamos a
tan 0
C2 C1
z h Q cos( 0 )
Solução particular:
Msm2 zp G L2 Solução completa:
Msm2 z zh zp Q cos( 0 ) + G L2 de forma que
Msm2 1 Q cos( 0 ) + G r L2 operando chegamos a
1 r
Msm2 L2 Q cos( 0 ) + 1G GM s m 2 L2
ou seja
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L2
GM s m 2 r L2 Q 1 2 cos( - 0 ) GM s m
[8]
que obviamente corresponde à equação de uma cônica (Figura 3), cuja fórmula geral é:
r
p
1 e cos 0
p 1 e f
[8aa]
ou seja que: 2 L 1 e f
GM s m 2
[8 a]
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5. CONSIDERAÇÕES PARA AS ÓRBITAS ELÍPTICAS Figura 4
Os parâmetros da elipse na Figura 4 são: a: semi-eixo maior b: semi-eixo menor c=a2-b2 e: excentricidade = c/a f: distância focal = a( 1 e ) A: área da elipse = ab= a 2 1 e 2 T: período para uma revolução
A equação da elipse em coordenadas cartesianas é:
A equação da elipse em coordenadas polares é:
( x c )2 y 2 2 1 a2 b
p r 1 e cos
b2 p a( 1 e 2 ) a
A velocidade com que o raio vetor r varre a área da órbita vale:
ou seja
d A 1 r 2 A dt 2 L A [9] 2m
mas
1 2 L r constante 2 2m
se agora integramos a [9] no tempo T obteremos a superfície total A: T
T
T
dt L dt L dt L T AA 0 2m 2m 0 2m 0
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A a
LT 1 e 2m
2
2
agora vamos isolar T:
2ma 2 1 e 2 T L L2 agora vamos calcular T2 lembrando que f ( 1 e ) GM s m 2 , ou seja:
4 2 a 3 T GM s 2
[10]
porém para o sistema solar, Ms=massa solar, a=distância média do planeta ao sol, T=seu
4 2 período de revolução. Olhando a eq. [10] é óbvio que a quantidade GM s é uma constante T12 T22 4 2 para todos os planetas do sistema solar. Assim temos que onde os a 13 a 32 GM s subíndices 1,2, representam os diferentes planetas. Tal é a 3 a. Lei de Kepler: “Os quadrados dos períodos de revolução dos planetas são inversamente proporcionais às distâncias medias do sol”.
6. CÁLCULO DA POSIÇÃO NA ÓRBITA ELÍPTICA Até agora descobrimos a função r=r(), de forma que sabemos qual será o tipo de curva descrita pelo ponto m porém, falta conhecermos qual a função que determina as variações de em função do tempo t, isto é, a função =(t). Vamos desvendar o mistério... Sabemos que para a elipse, em coordenadas polares, a posição do ponto de massa m está definida pela relação r(), porém não conhecemos a dependência dos parâmetros r e em função do tempo t. Vamos deduzi-las então:
d A 1 r 2 L A dt 2 2m
a velocidade areolar é:
portanto, após ter descrito um ângulo na trajetória, em um tempo t, o ponto m terá varrido a área A que será a resultante de integrarmos: A
t
t
t
L L L A d A A d t dt d t t 2 m 2 m 2 m 0 0 0 0 porém para termos os limites de integração em função de :
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d A 1 r 2 1 r 2 d A dt 2 2 dt dA 1 2 d = r dt 2 dt
ou seja e eliminando d t :
dA
1 2 r d 2
que agora podemos integrar
A
1 A d A r2 d 2 0 0
portanto
Substituindo r
a( 1 e 2 ) 1 e cos
L t m
=
Lt 2m
[11]
na integral acima e multiplicando por 2, temos:
r
2
d
a 2 (1 e 2 ) 2 0 (1 e cos ) 2 d
=
o
então
a (1 e ) 2
2
2
1
1 e cos
2
d
0
e sin 1 a (1 e ) 2 2 e 11 e cos e 1 2
2
2
1 d 0 1 e cos
a 2 ( 1 e 2 )2 e sin 1 d e 2 1 1 e cos 0 1 e cos
porém para a elipse e < 1 e2 < 1 logo a solução da
1
1 ecos d será: 0
1 0 1 e cos d
1 e arctan tan 2 2 1 e2 1 e 2
Logo
Lt a 2 ( 1 e 2 ) 2 m e 2 1
1 e 2 e sin arctan tan 2 2 1 e cos 2 1 e 1 e
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L t = - a 2 (1 e 2 m
1 e 2 e sin ) arctan tan 2 1 e2 1 e 1 e cos
[12]
Esta fórmula é muito bonita porém, o resultado obtido é o inverso que desejávamos, na verdade nós queríamos =(t) e acabamos obtendo t=f(). É fácil observar que despejar nos leva a uma equação muito complexa, ou seja, devemos encontrar outro método. Introduzimos agora uma quantidade auxiliar E denominada anomalia excêntrica, que cumpre a seguinte condição:
1 e tan E 2 tan 2 1 e
[12a]
que equivale a dizer que
1+ e = 2arctan tan E 2 1 e
então introduzindo a [12a] na [12], temos:
e s en L t - a 2 1 e 2 m 1 e cos
1 e2 E
[13]
entretanto se pode demonstrar que para a quantidade auxiliar E introduzida:
1 e2 sen E sen 1 e cos de forma que
sen E 1 e2
sen 1 e cos
substituindo esta última na [13] chegamos a:
e sen E L t a 2 1 e2 m 1 e2 1 e cos e sen E a 2 1 e2 E L 2 2 e sen E E t a 1 e 2 2 2 m 1 e 1 e 1 e Logo
L t a 2 1 e 2 E sen E m
[14]
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Vamos definir agora as constantes para o cálculo prático, como:
L 2ab 2a 2 1 e 2 constante = m T T para o planeta Terra T=Tt
[15]
e at= 1 ua (unidade astronômica),
logo para um planeta qualquer com T, a, temos (aplicando [10]) que:
a 3t
a3
3
Tt2
a 3t a 3 a 2 1 T TT TT2
T2
e substituindo a [16] na [15] obtemos:
L 2 1 e 2 a 2 a m TT
3
[16]
2
ou seja que a [14] fica:
L t a 2 1 e 2 E e sen E m 2 1 e 2 a 2 a TT 3
2a TT
2
3
2
t a 2 1 e 2 E e sen E
t E e sen E [17]
Esta última fórmula é básica, pois é a empregada no cálculo das efemérides.
As seguintes denominações são as usuais:
1+ e tan E 2 1 e
= anomalia verdadeira [radianos] = 2arctan
E = anomalia excêntrica =
2 arctan
a = distancia média ao sol [ua]
[18]
1 e tan 2 [radianos] 1 e
(unidades astronômicas)
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n = movimento diurno médio = n =k a
3
2
onde
2a TT
2
[radianos/dia]
k=constante de Gauss =
M = anomalia média = n t
-2 2 radianos ua 3 [18a] 365.256 dia
[19]
M = E - e sen (E) [radianos]
[20]
(fórmula de Kepler)
L ogo as fórmulas reduzem-se a: M=nt
e
M = E - e sen (E)
sendo t = tempo após passo pelo periélio, em dias. TT = ano trópico = 365.256374 dias
Cálculo da Anomalia Media M O processo de cálculo se reduz a determinar a anomalia média M [19], e de posse desta procedermos a calcular a anomalia excêntrica E que satisfaz a equação de Kepler [20], logo calculamos segundo a [18]. Com calculamos r , o que determina a posição do ponto m na órbita. A resolução da Equação de Kepler é realizada por iterações sucessivas, de forma que o algoritmo de cálculo é o seguinte: t = T-T0 onde T0 e a data da última passagem pelo periélio a = distância média ao sol Nota: Normalmente o tempo da passagem T0 está dado em dias Julianos JD, de forma que a data de calcula também está em dias julianos e o cálculo de t se reduz apenas a encontrar a diferença (em dias julianos) entre T e T0.
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O diagrama de fluxo do algoritmo é:
Vamos fazer um exemplo de aplicação: caso Júpiter a = 5.208174 ua ; e = 0.049284 T = 2450896.510556 dj =24 Março 1998 T0 = 2446966.84378 dj =24 Junho 1987 (periélio) t = 3929.666776 dj n = 0.00144728573606 M = n t = 5.687350672374 radianos ( =325.861190138) E=M= 5.687350672374 17
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E1=M+e senE= 5.659692503366 E1-E= -0.0276581690088 E=E1= 5.659692503366 E1=M+e senE=5.658575010 E1-E=-0.001117493 E=E1=5.658575010 E1=M+e senE=5.658530316 E1-E=-0.000044694 E=E1=5.688530316 E1=M+e senE=5.658528529 E1-E=-0.000001787 E=E1=5.658528529 2 tan E 2 e como senE = =-0.584818898 0 0 sen < 0 sen > 0 sen > 0 sen < 0 sen < 0
= 0 = 0 = 0 = 180 + 0 = 180 + 0 = 360 + 0
0 = 90 0 = 270 0 > 0 0 < 0 0 > 0 0 < 0
0 < < 90 90 < < 180 180 < < 270 270 < < 360
Também, na hora dos cálculos, devemos observar o seguinte: O movimento diurno médio n = k a-1.5 pode ser expressado tanto em [ radianos / dia ] como em [ / dia]. Ou seja, a constante de Gauss k, pode ser expressada em: k = 2 / 365.2564
[ radianos / dia ]
k = 360 / 365.2564 [ / dia ] A anomalia média M = n t poderá então estar expressada em [ radianos ] ou [ ]. Normalmente as tabelas ou efemérides proporcionam M em [ ]. Para o cálculo da Equação de Kepler, é obrigatório o emprego de M em [ radianos ], e o valor de E obtido também está em radianos. Se é desejado se pode converter E para [] e calcular os valores de seno, coseno e tangente; entretanto se E não estiver dentro de uma função trigonométrica, então E deverá ser tomada em radianos! Se a última passagem pelo periélio ocorreu há mais de um período do planeta, então o cômputo da anomalia média certamente dará um valor superior a 360 ou 2 radianos (6.2831853...). Neste caso é melhor reduzirmos a anomalia média para o valor fracionário de um giro completo. Expressando M em radianos ou graus sexagesimais, esto se reduz à seguinte fórmula: M M M calculo radianos IP 2 2 2
M M M calculo IP 360 360 360
onde IP representa a função que nos dá a parte inteira do argumento contido. Vejamos um exemplo: Se M = 9.28 radianos = 531.7048339, então Mcálculo{rad} = [ (9.28/2) - IP(9.28/2)]2 = [1.4769579 - 1]2 = = [0.4769579]2 = 2.9968147 rad Mcálculo {} = [ (531.7048339/360) - IP(531.7048339/360)]360 = [ 1.4769579 - 1]360= = [0.4769579] 360 = 171.7048339 logo é evidente que 2.9968147 radianos = 171.7048339
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7. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTANTE DE GAUSS, O MOVIMENTO DIURNO MÉDIO E A FÓRMULA DE KEPLER CONSTANTE DE GAUSS E MOVIMENTO DIURNO MÉDIO L Dada a equação [14] : t a 2 1 e2 E sen E , e como: m
M = E - sen(E) =
2 t T
Aelipse = ab = a 2 1 e 2 L (sendo At a área varrida até o instante t ) t = 2At m resulta que a equação [14] eqüivale a:
2A t
A elipse
M
[20a]
que encontramos foi a expressão do dobro da área orbital varrida em um tempo t desde o periélio. Por outro lado, se na eq. [20a] isolamos M obtemos a eq. [20aa], logo podemos deduzir a eq. [20aaa]:
At M 2 A elipse
[20aa]
t A t A elipse T
[20aaa]
At não é outra coisa Prestando atenção na equação [20aa] vemos que o quociente A elipse senão a expressão em forma de % da área varrida respeito da área total; porém, M é um ângulo dependente dp tempo t, de forma que o produto 2.% dá um ângulo proporcional à área varrida, ou seja ao tempo t. Isto faz pensar num movimento circular. Na eq. [20aaa] verificamos a proporcionalidade entre o tempo t do movimento circular e a área varrida At (pois a velocidade angular é constante na circunferência), ou seja, se falamos de um setor circular varrido em um tempo t igual a 25% do período T obtemos 25% da área do círculo, então o ângulo do setor será 25%.2 = /4 radianos ou 25%.360 = 90. Estas considerações levam a pensar que talvez M esteja relacionado com algum tipo de circunferência auxiliar; ou seja, a órbita e circular e a velocidade angular é constante. Quando tratarmos da Equação de Kepler veremos que esta idéia é absolutamente válida.
Analisemos agora as dimensões da constante L/m. O momento da quantidade de movimento m [L] tem a dimensão { m.kg }, a massa [m] ={ kg }, de forma que a dimensão do quociente s 2 {L/m} é {m /s}, que multiplicado pelo tempo t nos dá uma superfície. Isto resulta bastante claro se observamos o membro direito da equação [14], onde o único fator não adimensional é o semi-eixo maior da órbita a elevado ao quadrado. Ë claro que pouco interessa se a está em metros ou unidades astronômicas, a superfície será sempre {m2} ou {ua2}.
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Examinando agora a equação de Kepler, seja na sua forma dada pela equação [17], segundo 2 a 3 2 t E e sen E , ou na sua forma dada pela equação [20], a qual: TT segundo a qual: M = E - sen(E) , vemos que não existe fator dimensional, exceto o valor 2, que está expressado em radianos, ou como já vimos antes, em graus sexagesimais (não esquecer que para operar no lado direito da expressão devemos trabalhar em radianos!). É interessante entender o que significa a constante de Gauss:
L t a 2 1 e2 E sen E , com a [20]: n t = E - sen(E), m
Vamos igualar a eq. [14]:
para isto tomamos a eq. [14] e isolamos E - sen(E), de modo que agora temos: L E - sen(E) = 2 m 2 t a 1 e
comparando esta última com a eq. [20] chegamos a:
L m a 2 1 e2
t
=
L m a 2 1 e2
n =
n t
k a
=
3
2
t
ou seja:
=
2
porém da eq. [8 a]: 1 e f L
L2
m
2
GMS (1 e)f
então:
a
GM sm2
k a
2
[21]
deduzimos que :
L GMS (1+ e)f m
3
e como
(1 + e)f a (1 e2 )
L GMS a (1 + e 2 ) , de forma que introduzindo este valor na equação [21] temos: m
GM S 2 1 e
1 e2 a
2
a
3
2
=
n =
GM S =
k a
n =
GMS = k
3
2
k a
3
2
[22]
[23]
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22
3 4 2a 3 2 a por outro lado, da equação [10]: T deduzimos que GM S 4 2 de forma que temos: GM S T 2
3
a 2 , portanto a equação [22] GM S 2 T forma:
ou seja:
3
n
=
a
n
a
2
3
2
do movimento diurno médio fica da seguinte
GM S = a
GM S
3
3
2
a 2 2 T 2 T
= =
k a
3
2
2 3 2 a TT
[24]
3
do qual:
a 2 k GM S 2 T
[25]
portanto, uma maneira de encontrar k e utilizar os valores de a e T terrestres, de forma que se a = 1 ua, e T = TT, (atenção que para qualquer outro planeta, k se calcula pela [25]),então: k GMS
2 TT
[26]
tal como foi feito na [18a] quando introduzimos a constante de Gauss. Calculemos então o valor de k segundo a eq. [23], para isto devemos passar as unidades de [G] m3 m3 m3 ua 3 -11 ={ } para { }, ou seja que se G [ ] = 6.67 10 então: kg dia 2 kg s2 kg s2 kg s2 ua 3 m3 -11 G[ ] = 6.67 10 (1ua/1.495979 1011 m)3 (86400 s/dia)2 = kg dia 2 kg s2 ua 3 ua 3 -34 G[ ] = 1.4872 10 kg dia 2 kg dia 2
e como MS = 1.991 1030 kg então:
k=
GMS = 0.0172076 0.0172
o que concorda com o valor introduzido pela equação [26] pois: 2 = 2 / 365.2564 dia = 0.017202 k TT Resumindo: O movimento diurno médio (n) não é senão uma expressão da velocidade angular média do planeta ( ), que resulta de imaginar a sua órbita circular, de forma que 2 T . A anomalia média (M), dá a idéia do ângulo do setor circular varrido até o instante t, se a órbita fosse circular. A constante de Gauss (k) é um valor constante para o sistema solar, portanto de igual valor para todos os planetas. Digamos que k quantifica a “grandeza gravitacional” do sol, 22
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pois k = GMS , ou seja sua capacidade de influir gravitacionalmente sobre outras massas. Como dato interessante, esta “grandeza gravitacional”, multiplicada pela distância média do planeta ao sol (elevada a 1.5), nos dá o movimento diurno médio, ou seja como o planeta se comporta a essa distância do sol. A EQUAÇÃO DE KEPLER Quando resolvemos a equação [12], introduzimos o parâmetro E tal que se cumpria a relação 1 e dada pela equação [12a] : tan E 2 tan 2 . Resta perguntar agora o que a eq. [12a] 1 e significa.
Vamos dar uma olhada na Figura 6:
Figura 6
Nesta figura observamos o sol, dado pelo ponto S, a posição do planeta, dado pelo ponto P, na sua órbita elíptica de periélio SQ¸excentricidade e, e dimensões orbitais a e b. Agora traçamos uma órbita circular de raio a e centro O, que obviamente não coincide com S, nesta órbita circular temos um planeta imaginário, de idênticas caraterísticas a P, denominado P’. Este planeta P’ tem o mesmo período orbital T que P porém, movimenta-se com velocidade angular uniforme (já que a órbita é circular). Resulta evidente que a velocidade angular do planeta P’ vale 2/T, mas isto não é outra coisa senão o movimento diurno médio do planeta P.
A posição do planeta P em coordenadas polares de centro S está definida pela anomalia verdadeira (), e o raio vetor (r). A posição do planeta P em coordenadas polares de centro O (excêntrico respeito de S) está definida pela anomalia excêntrica (E), e o raio vetor (a). Vamos demonstrar agora a correspondência entre as posições de P e P’ tal como mostradas na Figura 6. Analisando a figura observamos que a componente horizontal do raio vetor a de P’, vale acosE. Este valor é igual à distância c + x, mas c = ae, e x = rcos. Lembrando que r a1 e2 vale (elipse com o centro de coordenadas polares centrado no foco direito), então 1 e cos a1 e2 cos podemos dizer que: . Após operarmos nesta igualdade a cos E = ae + 1 e cos podemos encontrar o valor de cosE, ou seja:
cos E =
e cos 1 e cos
[27]
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1 cos E Lembrando das funções trigonométricas que tan E 2 , podemos introduzir a 1 cos E equação [27] nesta última, de forma que:
1 cos E 1 e cos e cos tan E 2 1 cos E 1 e cos e cos mas
1 cos tan 2 assim: 1 cos
1 e1 cos 1 e 1 cos 1 e1 cos 1 e 1 cos
tan E 2
1 e tan 2 1 e
=
que é precisamente a equação [12a], tal como queríamos demonstrar. Agora sabemos o real significado do conceito anomalia excêntrica.
8. CÁLCULO DE ÓRBITAS NÃO ELÍPTICAS: ÓRBITAS PARABÓLICAS E HIPERBÓLICAS CÁLCULO DAS ÓRBITAS PARABÓLICAS Quando chegamos à equação [8aa] que nos dava a fórmula geral da cônica, continuamos nosso raciocínio assumindo que 0 < e < 1, logo, para chegar até a equação de Kepler, introduzimos o valor de r no cálculo da integral dada pela equação [11]. Para o caso das órbitas parabólicas, sabemos que e = 1, porém vamos refazer a integração da [11] considerando a equação da parábola (que resulta de introduzir e=1 na eq. [8aa]). Vejamos a Figura 7: a distância focal SQ do sol à passagem pelo periélio, foi chamada de f; a excentricidade da elipse vale e = 1, assim colocando estes dados na equação [8aa]: 2f 1 ef r , chegamos a equação da órbita parabólica: r . Agora, apenas por 1 cos 1 e cos uma questão de nomenclatura, denominamos à distância focal f de q, ou seja q = f. Portanto a equação da parábola é:
r
Agora vamos fazer a integração:
2q 1 cos
L 2A = t m
[28]
r
2
d , introduzindo o valor de r dado pela
o
eq. [28].
L t = m
r o
2
d =
4q 2
1 cos 0
2
1 1 d = 4q 2 tan 2 tan 3 2 6 2
1 = 2q 2 tan 2 tan 3 2 3 porém como
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L m
GMS
L m
GMS 2 q
1 ef e na parabola e 1 e f q resulta que:
então:
1
2
1 L t = 2q 2 tan 2 tan 3 2 m 3 1 1 GM S 2 q 2 t 2q 2 tan 2 tan 3 2 3
isolando agora o termo das tangentes:
1 3 tan 2 3 tan 2
1
2 q 2 GM S t 2 q2
GM S
q
3
2
2
t
ou seja que:
1 tan 2 tan 3 2 3
GM S
q
3
2
2
t
[29]
equação análoga a [17] no sentido que na sua resolução obtemos o valor de . Neste caso temos que resolver uma equação cúbica em tan(/2). Pode-se demonstrar que esta equação tem uma raiz real (a que nos interessa) e duas imaginárias. Existem bastantes métodos de resolução. Propomos o Método de Newton, que diz: Se x0 é um valor aproximado da raiz da função f(x)=0 então como aproximação mais exata se toma x1 x 0
f (x0 ) f (x0 )
Substituindo agora x1 por x0 obtemos uma melhor aproximação x2.
Logo, para nosso problema (resolução da equação [29]): Para facilitar os cálculos: multiplicamos a eq. [29] por três e chamamos a tan(/2) = E, ou seja a equação [29] passa agora a ser: E3 + 3E - M = 0 definimos M = n .t,
onde n = 3 GM S
q
3
2
2
3 k
q
3
2
2
k constante de Gauss
aplicamos o método de Newton, de forma que denominando E0 ao valor aproximado da raiz, o próximo valor será: E1 E 0
logo:
E1 E0
f (E 0 ) f (E 0 )
e como f ( E ) 0 f ( E ) E 3 3E M 0
E0 3 3E0 M 3E0 2 1
3E0 E0 2 1 E0 3 3E0 M 3E0 2 1
f ( E ) 3E 2 3 3E 2 1
3E30 3E0 E20 3E0 M 3E0 2 1
2E30 M
3E02 1
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E i 1 =
ou seja
2E 3i M
[29a]
3E 2i 1
Este valor será iterado até que f( Ei ) 0 , por exemplo até que f( Ei ) ≤ 10-8. A primeira aproximação, isto é E0 , vale E0 = 0 iteramos então de acordo ao seguinte algoritmo em QBASIC da Microsoft: 10 20 30 40 50 60 70
M = nt E=0 E1 = 2E3 + M / [3(E2 + 1)] IF E1 3 + 3E1 - M > 10-8 THEN E = E1 : GOTO 30 END IF = 2 . Atan ( E )
CÁLCULO DAS ÓRBITAS HIPERBÓLICAS
ae2 1 Neste caso se procede como no anterior, lembrando que se e > 1 então r pois 1 e cos segundo a definição na hipérbole, c > a f = c - a (1+e)f = (1+e)(e-1)a = a(e2-1), logo: L t = m
r d 2
=
o
L t = a 2 e 2 m
0
a 2 ( e 2 1 )2 d ( 1 e cos )2
e sen 1 2 1 2 2 e 1 e 11 e cos
0
d 1 e cos
então: e sen L 2 2 t = a e 1 m 1 e cos
e 1 tan 2 ln e2 1 e 1 tan 2 1
e2 1 [30] e 2 1
Vamos agora fazer algumas considerações a respeito das funções trigonométricas hiperbólicas, para isto tomamos o fator dentro do logaritmo natural na equação [30]:
e 1 tan 2
e 1 tan 2 e 2 1 e2 1
2 1 2 1
e 1 tan e 1 e 1 tan e 1
e se
e 1 tan 2 > 1 e+1
então temos que:
ln
2 1 2 Arctanh 2 1
e 1 tan e 1 e 1 tan e 1
e 1 tan 2 e 1
= 2 Arctanh tanh E 2 E 26
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logo chamando a
ln
resulta que:
e e e e
e -1 tan 2 tanh E 2 e +1
1 tan 2 1 1 E 1 tan 2 1 1
[31]
podemos agora calcular o valor de senh(E), ou seja:
2 2 tanh E 2 e 1 sen 2 e 1 cos 2 e2 1 sen senh E 2 1 e cos 1 e cos e 1 cos 1 tanh 2 E 2 2
logo se deduz que
sin 1 e cos
1 e2 1
senh E
[32]
assim, introduzindo as equações [31] e [32] na equação [30] obtemos: sen L 2 2 t = a e 1 e m 1 e cos
senh E L t = a 2 e 2 1 e 2 m e 1
e 1 tan 2 ln e2 1 e 1 tan 2 1
2 E a 2 e 1 1
L t a 2 e2 1 e senh E E m
e
2
1
e2 1
e2 1 e 2 1
e senh E E
[33]
lembrando agora que na equação geral das cônicas [8], o numerador representa o parâmetro p que vale (1+e)f, então, de acordo com a eq. [8a] obtemos, como principio geral para as órbitas cônicas: L GM s 1 e f m L GM s 1 e q m
e tinhamos feito f q entao
porém na definição inicial de hipérbole tínhamos visto que 1 e f 1 e q ae 2 1 , ou seja que:
27
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28 L GM s 1 e q GM s a e2 1 m L GM s e2 1a [34] m
de forma que introduzindo a eq. [34] na equação [33]: L t a2 m GM s
3
2
[33]
e 2 1e senh E E
e2 1 t a 2
a
GM s a
e 2 1 e senh E E
e senh E E
t
[35]
e como a = q / (e-1) para a hipérbole, então a eq. [35]: GM s a
GM s
3
q
3
2
e 1
e senhE E
t
2
3
2
t
= e senh E E
[35]
[36]
Equação parecida a obtida no cálculo das órbitas elípticas, neste caso a resolução da eq. [36] é idêntico ao da equação [17] ou [20], ou seja: E = e . senh(E) - M M = n.t 3
n= k
q
2
e 1
3
2
onde k GMS
De livre publicação desde que o autor seja mencionado, direitos reservados. Última revisão 29 junho 2016 – Rio de Janeiro, Brasil.
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Homines dum docent discunt. - Séneca o Moço (Córdoba 4 a.C.- Roma 65 d.C.)
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