Caminhos das políticas públicas para patrimônio cultural no Brasil
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Caminhos das políticas p˙blicas para patrimônio cultural no Brasil
Cleusa Maria Gomes Graebin Lucas Graeif (Unilasalle, Canoas, RS)
Pelo que respeita aos Quartéis que se pretendem mudar para o Palácio das duas Torres, obra do Conde Maurício de Nassau, em que os Governadores fazem a sua assistência, me lastimo muito que se haja de entregar ao uso violento e pouco cuidadoso dos soldados, que em pouco tempo reduzirão aquela fábrica a uma total dissolução, mas ainda me lastima mais que, com ela, se arruinará também uma memória que mudamente estava recomendando à posteridade as ilustres e famosas ações que obraram os Portugueses na Restauração dessa Capitania, [...] São livros que falam, sem que seja necessário lê-los [...] memória tão ilustre, paciência, porque esta mesma desgraça têm experimentado outros edifícios igualmente famosos; mas por nos pouparmos a despesa de dez ou doze mil cruzados, é cousa indigna que se saiba que, por um preço tão vil, nos exponhamos a que se sepulte, na ruína dessas quatro paredes, a glória de toda uma Nação [Trecho da carta enviada em 5 de abril de 1742 pelo Conde das Ga/veias ao Governador de Pernambuco, Luís Pereira Freire de Andrade] (BRASIL, 1980, p. 31).
Introdução Em nossas aulas de patrimônio
cultural na graduação
e na pós-gradua-
ção no Unilasalle Canoas, temos por hábito seguir a cronologia institucional das políticas de patrimônio
no Brasil e no mundo. Citamos autores como Françoi-
se Choay (2000), [oél Candau (2011) e Dominque Poulot (2011) para situar na França a gênese europeia do tratamento de monumentos e relíquias em termos de patrimônio
nacional; seguimos os passos de Maria Cecília Londres Fonseca
(1997),Reginaldo Gonçalves
(2002) e Márcia Chuva (2011) quando se trata de
indicar como se deu a apropriação
e transfiguração
trimônio nacional na realidade brasileira.
das noções
europeias de pa-
ronologia, que costuma estabelece e aceitamOS essa c _ r Se entendemos . ais de preservaçao (FONSECA, 1997· ." as políticas naciOn . . ' "fases herolCas para . de de seu caráter inslltuclOnal. O protago. ' é tamente em Vlrtu CHUVA,20Il, ) JUs HAN longo de quase oitenta anos é louvável . fi to comO o IP ao país cujOS processos de modernizaçã nísrnc de um lOS 1U fi rpreendente em um o e, de certa orma, su .' . ai estiveram pautados por um Estado or e de afirmação no cenáno IOternaciOn a ausente, ora instável, ora autoritário (RUBIM, 2007a). . I h OI'smoSdo IPHAN, nesse quadro, é celebrar a longa Confenr va or aos er duração de políticas p˙blicas. B mostrar a alunos descrentes com os rumos da política nacional neste início de século XXI que a governança país em que vivem não é necessariamente aleatória
oupautada
dos rumos do por interesses de
ocasião. É imprimir em pessoas que se encontram em um momento sua formação
ética e profissional como e sob quais condições
chave de
"ciclos políticos" 1
completos se estabelecem e se reproduzem ao longo das gerações. Por outro lado, somos pesquisadores além
de professores.
Isso significa
dizer que seguimos investigando premissas e criticando cronologias nais. Queremos inspirar nossos alunos, fazê-los dar crédito
à política,
institucioincuti-los
pensar reflexivamente no papel dos atores institucionais e, sobretudo, incliná-los ao engajamento no jogo de forças que constitui a realidade em que nos encontramos. Para isso, decidimos escrever este texto sobre políticas
p˙blicas e patrimô-
nio cultural no Brasil. Resgataremos algumas datas e proporemos Refletiremos sobre possíveis origens das práticas ção
de uma memória
de preservação
cronologias. e de celebra-
dita "nacional': Traremos algumas pistas sobre como essas
práticas se investem, em dados momentos, de um aparato jurídico-institucional que garante a sua duração
apesar das instabilidades
da ainda jovem rep˙blica
brasileira. Com vistas a esse objetivo, constituímos
nosso corpus com estudos já
1 Por ciclo político completo,entendemos o estabelecimento de políticas p˙blicas a partir de um dado problema coletivo ou social aonde se atendem a todas as etapas descntas por KlausFrey: "percepção e definição de problemas, agenda-seníng, elaboração de programas e decisão, implementação de políticas e, finalmente, a avaliação de políticas e a eventual correção da ação" (FREY,2000, p. 226).
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realizados e d riva da desco:CUlllentos sobre a temática
em questão. O que propomos não de-
virtude disso ;rta de fatos novos, mas de um arranjo conceitual particular. Em . ' Ollleçalll dimentn de Polín os o texto por definições: apresentaremos nosso entenllCas 'b' definição de polOt. pu licas e de ação cultural para, em seguida, propor uma llcas °b' mos duas linhas h' pu hcas para o patrimônio cultural. Em seguida, resgatalstoriog 'fi possíveis da gên ra cas que, até o momento, desenham as cronologias ese das polt . buscaremos arglllll Ihcas para o patrimônio cultural no Brasil. Por fim, ar rnônio se afirma e;nt que nossa definição de políticas p˙blicas para o patrino Bezerra de M
lllll Contexto de capitalismo tardio onde, como alerta Ulpiaeneses a di . ositivo por si" .' lverSldade cultural se apresenta como algo "bom e P I , servmdo co " da diferença cultural" (MENESES , 2012 , p. 37-38).mo mecanismo de contenção
o que entendemos
por"
1"
,
po IÍlcas publicas"
e por "patrimônio
cultural"
O que são políticas p˙blí icas:( Sã ao polít,icas . sociais? Culturais? Ambas? E como elas dialogam com a pr o bl ernanca da preservação de bens e práticas ditas "culturais" que são consideradas representativas . - E o conceito . de de uma naçao? o.
patrimônio
cultural, por sua vez: é uma ideia pacífica afirmar que cabe ao estado
preservá-lo?
Em que consiste esse patrimônio?
Em se tratando
de políticas
Estados Unidos o surgimento conceitual específico
p˙blicas, é ponto pacífico contextualizar nos
de um campo de estudos dedicado, com aparato
(FREY, 2000; SOUZA, 2006). Ali, deu-se ênfase ao papel
dos governos como produtores era produzido
Por que adjetivá-lo de "cultural"?
de políticas p˙blicas, diferenciando-se
do que
na Europa. O problema geral desses estudos costuma compreen-
der tanto o tratamento
da ordem ou estrutura institucional, quando o processo e
os conte˙dos concretos
das ações
de governo (FREY, 2000).
Souza (2006) explica a trajetória de políticas p˙blicas como ferramentas
da disciplina e como se deu a introdução de governo nos Estados Unidos por Ro-
bert McNamara em 1948, bem como indica os fundadores da área de estudos localizando-os no período
. a poIissernía do conceito
"[ 1
'" decisões
e análises
compreendido
entre os anos 1930 e 1960..Ai~da, atesta d fi içâo mais conhecida e a de que apontando que a e m ' 'bl' . l"cam responder às seguintes sobre política pu ica irnp I
65
• e diferença faz" (SOUZA, 2006, p. 24). • or que e qu -es: quem ganha o que, p ontribuições das abordagens do quest o enfatiza as c . 00 ) por outro lado, . líticos para o campo de IDvesti_ prey' (2 0 " de estilos po . it cionalismo e da anahse , es emergentes como o Brasil são neo- mst1 u I asos de pais _ da ciência política. Para e e, c d políticas p˙blicas, em particular gaçao abordagens as . ' uos para pensar novas .' - es de novOS grupos de IDteresse pro frc tes artlClpaÇO , ando se considera as crescen p lítico em estruturas políticas até qu .' _ do processO P? fragmentação e setonahzaçao , dos países do oeste europeu. Em á . como e o caso então relativamente est veis, 'I' odem ser definidas como as "con, as políticas pub rcas p todos os casos, porem, .d [or um governo Ipodem trazer para tribuições que certas estratégias escolhi as P 213) 'fi " (PREY 2000, p. . a solução de problemas especi cos ' . . - as políticas p˙blicas envolvem diversos Enquanto tema de mvestlgaçao, . . . - ( tendendo o governo como uma delas), incam os disciplinares, mstltUlçoes en , . ,. p . .deologias Toda política publica repercute em divíduos, interesses, ínteraçoes e 1 . . ., econômicos e políticos. Como Marcel Mauss (2011), termos culrurais, SOCiaiS, , dí e'um dos fatos sociais totais por excelência das sociedades ousanamos izer que capitalistas ocidentais, Se indicamos que as políticas p˙blicas são fatos sociais totais, é porque reverberam nas diferentes dimensões
da sociedade em que vivemos.
toda política p˙blica é necessariamente Cada uma dessas adjetivações e critérios de avaliação
social, cultural,
particulares. Uma política
A respeito dos movimentos
de avaliação
de constituição
programas
social volta-se para problemas
econômicos
trabalho e renda, sobretudo. Mas o que dizer das políticas
elas visam? Qual a sua agenda? Quais critérios
nem
ou política.
agendas,
ou invalidez. Uma política
ca, por sua vez, toma partido de problemas considerados ção,
econômica
carrega consigo finalidades,
ditos "sociais'; como analfabetismo, doença
Porém,
econômi- tributa-
culturais?
permitem
desse campo
O que
avaliá-las?
de estudos na
América Latina, Néstor Garcia Canclini (2005) traz discussões, questões teóricas e metodológicas relacio d . . . . . na as a movimentos sociais e políticas nacionais e transnaCIOnaISpara a cultura D fi . d lí . . . . e mn o po ítícas p˙blicas para a cultura, Canchm aponta para o conjunto de intervenções
realizadas pelo estado, as instituições
66
civis e os grupOS
COlllUO'
,
Itario aZer as ne s Organizados a fim de orientar o desenvolvimento simbólico, satisord cesSid d elO Ou tr a es culturais da população e obter consenso para um tipo de aosforlO açao social (CANCLINI, 2005, p. 78, tradução nossa). P ara Os fi ns d Estamos de acord o presente texto, essa definição não nos parece apropriada. f:
consensos em to o que as políticas p˙blicas tendem a favorecer a obtenção de ". rno da re _ , do conjunto" de . produçao da ordem social. Mas e imprecisa a proposta lnterven porque não está claro e Çoes realizadas pelos três agentes citados. Primeiro, as instituições
civis das~ que ~onsiste cada um desses agentes - como distinguir
E qual o papel dos h
e carater estatal? O que é uma instituição, nesses casos? c amados "s . ,. " .. d rupos comumtanos nesse espaço inter ou infragun o, em v' t d d ' é um sistema? Um Ir u. e a modalidade de conjunto de que se esta arranJo? Uma coleção arbitráriaj?
-institucional? tratando:
Se
O que dizer das ditas"
. necessidades culturais da população"? Ora, é justamente nesse ponto que as di ISCUssoes sobre políticas culturais abrasam. Como sugere Windhoff-Héritier (cit d I a o por FREY, 2000), é apenas quando um determinado problema é atribuído à bilí responsa 1 Idade de um governo que ele pode ser objeto de uma política p˙blica. No caso das "necessidades culturais", é preciso defini-las nos termos ser identificada tem cultura': produções
de problema
coletivo. Mas o que são elas? A cultura pode
tanto como a propriedade
"a burguesia
particulares,
passíveis
de transmissão
trata-se de algo que pode ser adquirido, sugerem diversos
(FRIEDMAN,
autores
e, ainda, sob um ponto
de vista semiótico,
de formas simbólicas,
um sistema
(GEERTZ, 1989,
de um indivíduo
ou coletivo ("fulano
tem cultura"), quanto como um conjunto de práticas e, por extensão,
que se opõe
e
de reprodução;
ao inato (natureza),
como
2004; OLIVEIRA, 2000; MINTZ, 2010); a cultura se apresenta como conjunto
cognitivo
que "governa o comportamentó'
p. 32).
Sob esses diferentes
pontos
de vista, como as "necessidades
,
culturais"
. ' id ' . bre a definição proposta por CancliPara que não se torne demasiado an a a crítica so do Dom Pedro Il intervi, - concreta' quan ni, pedimos que o leitor pense em u~a sltuaç,ao ti ~asao longo da segunda metade nhano sentido de orientar a formação de artJfices ear' s. de um conJ'unto de homens .' I pério Brasi l erro . d do Séc' ulo XIX com vistas a eqUIpar o m . in loco sem a necessIdade e de arqUItetura I, . t d aptosa projetar e executar obras e ar e e os (DURAND, 1989), tratar-s~-I~:nImportação de mão-de-obra ou de produtos acabad d das partes citadas (instltulçOes t~o.deuma política cultural? O fato de fal!ar uma o~e ~a:ategoria proposta? CIVIs e grupos comunitários) coloca ou nao em xeq
67
•
eiam-se as produções e prática 'blica? MaP s d' -se aos indivíduos que compõelll são identl ca smissão? In aga ? . ul passíveis de tran d ões lhes fazem falta. Observa-se o partic ares ráticas e pro uç . ,. ões quais dessas P 'fi como as formas simbólicas dispo_ as popuIaç fim de ven car comportamentodos grupOSa mportamentos? de seus co fi Ttam o governo níveis aci 1 blema "cultura", em termos de políticas fi '1 ente que o pro Percebemos aci rn . I A fim de avançarmos nessa definição - 't'l nte soluciOnáve . ' p˙blicas, nao e acr me Vamos definir o que entendemos POr . á' retornar um passO. talvez seja necess no ..,. tnco de política cultural", Teixeira Coe_ I No livro "DiCiOnanocn I açao cultura. _ I ' "conjunto de procedimentos, envolvendo lho sugere que a açao cultura e um , . . . . . e visam pôr em pratica os objetivos de uma recursos humanos e matenais. qu . , . ui I" (COELHO 2004, p. 32). Ainda segundo ao autor determinada polftica c tura' , as modalidades de ações culturais podem ser divididas em duas (segundo seus 'fi das em uma política pu
objetivos): A ação cultural de serviços é, antes, uma forma de animação cultural que lança mão das diferentesmodalidadesde relações p˙blicas, de propaganda ou de publicidade,com o objetivode vender tal livro, tal espetáculo de teatro, etc., ou de aproximardessesprodutos um p˙blico (ou clientela) pouco receptivo, por motivos econômicos ou outros. [....], A ação cultural de criação, ou ação cultural propriamentedita, propõe-se, diversamente, a fazer a ponte entre as pessoase a obrade culturaou arte para que, dessa obra, possam as pessoas retirar aquiloque lhespermitirá participar do universo cultural como um todo e aproximarem-se umas das outraspor meio da invenção de objetivos comuns (COELHO, 2004,p. 33,grifosnossos).
A distinção criação ações
estabelecida entre ação
cultural de serviços
e ação
proposta por Teixeira Coelho remete-nos à distinção racionais com relação
à fins e ações
em termos de ética da convicção
weberiana entre
racionais com relação
pensando com Norberto Bobbio, trata-se de uma definição
a valores. Ou,
da finalidade da ação
(política) e ética da responsabilidade
Ainda que nem sempre seja simples categorizar uma ação mos de ética de convicção
cultural de
(moral).
cultural em ter-
e ética de responsabilidade
(por exemplo: em que me-
dida é possível dizer de uma política de democratização
da leitura que se trata de
um programa de ações
voltadas a serviços
ou à criação?),
a distinção
relevante. E ela se torna ainda mais operativa se conjugada
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aos três
nos parece sistemas de
o ~ 6115 possíveis para as ações cul tUrals r raciocínio sociológico': São eles. p Opostospor Iean-Cl o . aude Passeronem "O Converter grupos ou o o conJuntod sagrados; Desenvolver a a sociedadeao b " expressão tê s ense se o rias ou populares"oPro au onollladas c rVlÇos culturaiscon, mover açõ lormases . fronteiras entre uma cultura d ~esculturaisde van u pontaneas,minoritá326-327). e ehte e a cultura"e g a~~acapazesde aboliras rn geral (PASSERON, 1995, po Por meio da definição de _ . açao cultural as 'o tura tornam-se mais evidentes. N'pohtJcas p˙blicas para a culo _ ao se trata exata o o culturais da populaçao, quaisquer que' mente de atmglr necessidades . sejam elas. ne a origem das mtervenções em agru ' m, tampouco, de localizar pamentos genér" o grupOScomunitários. À imagem das I' o ICOStais como o estado ou po ItJcas p˙blicas so o o • o fundamental é compreender o teor do bl ciais e economicas, o pro ema a ser resolvido. Neste caso o problema e a propna cultura, seja ela arte erudn (b o ' _ I a ens culturais consagrados), devanguarda (provocaçao, ampliação ou abolí - d f o içao e rontelras) ou as formas ou expressões ditas "populares" (autonomia Simbólica). r
,.
Como veremos ao longo deste trabalho , as polítícas puiblí icas para o pat n-o mônio cultural no Brasil tendem a contemplar de forma mais ou menos sistemática as duas primeiras dimensões
do problema cultura. Não há nada de novo
nesse horizonte: as artes erudita e de vanguarda são, por excelência, os temas favoritos dos patrimônios
nacionais e de suas narrativas heroicas. No caso parti-
cular brasileiro, como se sabe, essa expressão se dá através dos patrimônios turais coloniais de estilo barroco e modernista de inspiração SECA, 1997; GONÇALVES, pobre, as expressões
cul-
corbusiana (FON-
2002; CHUVA, 2011). Mas o que dizer do primo
ditas "populares", outrora denominadas folclore? É apenas
maisrecentemente, ao longo das duas ˙ltimas décadas do século XX, que ele será redescoberto por diferentes agentes locais, regionais, nacionais e internacionais, . o o mais espontânea e criaassummdo um protagomsmo exu b eran t e d e dOmensã 1 dora da humanidade.
Gêneses e cronologias das políticas p˙blicas para o patrimônio Brasil Para discutirmos
a trajetória
histórica
69
no
das políticas p˙blicas para patrimô-
_ t e as artes (erudita e de vanguarda) e '1 as oscilaçoes en r 1 '0 cultural no Bras e su os como fundamento as duas corren. m _ ulares (folclore), tomam _ as expressoespop b m demonstrar como se deu a genese agradas que usca tes historiográficas cons . • ío cultural no Brasil. São elas: ' . para o patnmon da construção de po Iltlcas _ . d d o contexto da formaçao do estado naO asso inicial teria se a o n , . ' . a) p . _ d I nruto Histonco e Geografico BrasIleiro '1 . m a cnaçao o ns I cional brasí erro, co, em 1838 (SCHWARCZ, 1989; GUIMA_ (IHGB) e do Arquivo NaciOnal, ambos S1994' SANDES,2000; FERNANDES,2010). RAES, 1988; ABREU, 1996; WILLIAM "
. . , do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico b) O pape I píoneiro e o Nacional criado em novembro de 1937, na gestão de Gustavo Capanema no Ministério da Educação
e Sa˙de, durante o Estado Novo (BRASIL, 1980).
A primeira corrente, segundo Fernandes (2010), coloca a gênese líticas p˙blicas para patrimônio
no contexto da formação
das po-
do estado nacional
quando se buscava evidenciar elementos socioculturais que auxiliariam a discutir e construir uma identidade nacional para a jovem nação. concorrido intelectuais abrigados nas cátedras do Colégio
Para tanto, teriam D. Pedro Il, no Insti-
tuto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e seus congêneres
nas Províncias;
nos Museus; nas Faculdades de Direito e nas de Medicina. Ali, segundo o autor, teriam sido formados os recursos humanos para a gestão do Império
e da Rep˙-
blica nos seus anos iniciais. O IHGB é entendido por essa historiografia como precursor da política de preservação tacam quanto a essa concepção: (2001).
de memória
Márcio
Em se tratando de memória
de Souza (2000) e José Álvaro M . , oises
nacional, o governo imperial, na Constituição
Política do Império do Brazil, previa a criação
de um arquivo p˙blico efetivado
a partir do Arquivo Nacional (CONSTITUIÇAo, to desse arquivo previa uma Seção
nacional. Dois autores se des-
Histórica
da família imperial, mapas e relações
1824, Art. 70).3
cias oficiais, notícias de descobertas de produtos de História tes concedidas a inventores, memórias 3
regulamen-
destinada a guardar documentos
estatísticas das Províncias,
logia e Botânica, notícias de acontecimentos
°
agradáveis
correspondênnatural, Minera-
ou desastrosos, paten-
e Planos relativos à história
do Império
Em 2011, pejo Decreton. 7.430, passou a integrar a estrutura do Ministério da Justiça.
70
"
1838, Art. 6
0
(REGULAMENTO, do imperial
brasileiro
colocou
Dessa maneira, segundo Fernandes,
).
para si a tarefa de construção
de uma memória
nacional, através da guarda dos registros escritos e iconográficos tassem a nossa história" (2006, p. 04), Da Europa são comuns nação.
para o Brasil procedia
aos seus cidadãos
O que se precisava
ter cultural
superior
ria nacional. utilidade
Não
preservar
(erudito),
que se referissem
para a instrução
em jogo é a construção
valorativos
comuns
representam
era o conjunto
por acaso, essa coleção
pedagógica
continua)
a ideia de a nação
e, sobretudo,
Não
como empreendimento do Brasil e de afirmação projeto
político
de uma nação
-se pessoalmente (AIBA),
criaram
começaram
nacional é isso: um bem colecomum, ou seja, de propriedade
na investigação
Império,
sobre o chamado
percebemos
da nação
O Imperador,
que se constitui de redescoberta como parte do
e ao fortalecimento
bolsas para pintores estudarem Foi a partir da sua intervenção
oficial brasileira. Pelas mãos
da monar-
o primeiro
entre 1850 que se
de Pedro Amé-
e Melo e Vitor Meireles de Lima, as representações
a ser impressas:
de
coesa e pautada por elementos
brasileira.
italianas.
as bases para a iconografia
rico de Figueiredo
da histó-
era considerada
de financiar os projetos da Academia Imperial
fornecendo
e 1880 em Paris e em cidades
anteriores
de D. Pedro 11 no movimento
que visava à unidade
quia, encarregou de Belas Artes
do Segundo
pessoal
da
de bens de "valor'; de cará-
a períodos
O patrimônio
é à toa que, ao nos aprofundarmos cultural"
guardar os bens que
p˙blica. O que estava (e, de certa forma,
tivo gerido pelo estado e definido como herança de todos os cidadãos.
"desenvolvimento
que documen-
a monumentalidade
de bens superiores
de uma nação
e consagrados.
....
"o esta-
do Brasil
foi o autor das telas A Batalha do Avaí
(1877) e O Grito do Ipiranga (1888); o segundo produziu A Primeira Missa no Brasil (1861), a Batalha Naval do Riachuelo e Passagem de Humaitá. VALHO, 1980; DURAND, Foi também
1989; SCHWARCZ,
pelas expensas
do Imperador
(Cf. CAR-
1999). que foi escrita a primeira
obra
hí istori áfi ca b rasr '1'eira, HI'stórl'a Geral do Brasil, de Francisco Adolfo Varnhaonogr gem (1854). Embora construindo a ídeia de um Brasil resultante da "civilização b " b Ih ai' d a partir de documentos na Torre do Tombo, em ranca, o tra a ore iza o Portugal,
é uma das mais importantes
.' documentais cromcas
71
sobre o Brasil como
tuguesa, d colonização por o o, o to do legado a dor do Instituto Histórico e Geo prodU de incentiva _ II foi, ainda, gran to pós_implantaçao e processo d d Do Pe ro 38 no contex o o e do Brasil.Criado em 18 HGB contoU com uma maioria de funda_ 0 gráfico d ional o I 01 b Iíd ão do esta o nac' (magistrados, rm ítares, urocratas) conso 1 aç ões no governo , . empenhando funç fil uma memona e uma Identidad dores des era forjar um per , "e da entidade I Ana Meira, o IHGB teve um papel O obietivo I _ a Como asslfia a . . róprias à naçao brasllelr . o' • cultural brasIleiro, segundo ROdrigo P ão do patnmomo importante na construç , efetivo" (MEIRA, 2008, p. 127). Junta_ A drade que era SoCiO Melo Franco de n ' p' cias teve importante papel no levanta_ êneres nas rovin , mente com seus cong _ h' tória e a geografia do país e, portanto, na d ntaçao sobre a IS mento de ocume _ íd dos como patrimônio documental (GUIcriação de acervoSque sao consi era o
o
o
o
o
o
o
o
MARÃES, 1988). d r o reflorestamento da Floresta da Tijuca COnInteressante, am a, nomea . . t do em vista a ameaça aos mananciais pela degradação 11 tratado por Do Ped ro ,en - d lantações de cana-de-aç˙car, café e chá, de forma sucesdo solo em funçao as p . d re'R ebouça s, em 1876' propôs a criação de reservas de matas tropicais, srva.An o
porém, isso ficou restrito ao Parque de São Paulo criado em 1896. Outras políticas alternativas eram apresentadas por filantropos particulares
e instituições
como o Museu do Exército (1864) e o Museu da Marinha (1868), ambos no Rio de Janeiro, o Museu Goeldi (1866) em Belém do Pará e o Museu Paulista (1895), Rubim (2007a; 2007b; 2010) e Calabre (2007) contestam essa historiografia afirmando que não houve uma institucionalização Estado em relação uma relação
e uma ação
efetivado
a políticas p˙blicas para a cultura. Calabre afirma que havia
entre o Estado e a cultura, mas que "a elaboração
o setor, ou seja, a preocupação
na preparação
e realização
de políticas para de ações
de maior
alcance, com um caráter perene, datam do século XX" (2007, p. 87) e ainda,que ações
não se configuram exatamente como políticas
França que em 1959 criou o Ministério
culturais. Dá o exemploda
de Assuntos Culturais
e somou ações
governamentais, de organismos em geral e de setores artísticos na construção do que é considerado com d ."'po o marco mternaclonal da institucionalização o c",,, da cultura. o
,
72
.....
Apesar dessa contestaçao, entendemos u _ Pedro II respondem adequadam t q e as açoes promovidas por D . en e ao problem . elações com a Identidade nacion I T a da cultura erudita e de Suas r ônio . a. ratam-se d ' . , trirn na medida em que pa t d e pOhhcas publicas para o par em a conVi _ rdem cultural a ser solucionado t ' . cçao de que há um problema de o a raVes da IOterv _ . ençao governamental. A memO'ria e a cultura nacionais p reclsavam de adm' . ção específicas. Aind a que se possa 'r IOIstração, de legislação e de fiscal iza ulturas autóct ones I populares as CrI tear. o desinteresse pela vanguarda OU por c o
. tratadas ao longo do remado
' necessidades da cultura erudita foram de D. Pedro 11.4
As duas vertentes historiográfi I' . '. cas ana isadas aqui discordam na gênese e das pnmelras interven - d d . na çoes o esta o que podem se caracterizar como "políticas p˙blicas", mas tendem a concordar nos períodos subsequentes. Cronologia
A partir de agora, as datas e eventos indicados são comuns às duas vertentes. A fim de facilitar memorial realizado Artístico
Nacional
a leitura, reproduzimos
em 1980 pela então e Fundação
para a proteção
do chamado
ocorreu durante
o período
Nacional
Pró-Memória
patrimônio denominado
a seguir as cronologias de um
Secretaria do Patrimônio histórico.
Histórico
e
que periodiza as ações No Quadro 1, traz-se o que
como "Antecedentes".
Quadro 1 : SPHAN - Antecedentes da efetivação da proteção do patrimônio histórico no Brasil Data 1742
Iniciativa André de Melo e Castro, Conde das Galveias,Vice-Reido Estadodo Brasil(17351749). Proteção do Palácio de Friburgo, popularmente chamado de Palácio das Torres (Recife). Foi demolido entre 1774 e 1787 (DONATO,1986). Criação
1818
do Museu Real, por D. João VI em 1818, para estimular os estudos de
botânica e zoologia no país.5
; ~ãO é porque as ações são (ou pareçam) de pequeno ou médio alcance do ponto de visa e um analista que não se pode falar de políticas p˙blicas para o patrimônio cultural ~ess~~aso, A primeira corrente historiográfica indica como a construção de uma nação r~Iielra ocupava o governo tanto quanto nos períodos heroicos comumente lembrados pe a segunda vertente historiográfica. Por outro lado, parece-nos inapropriado questio~~ o caráter perene das ações atribuídas a D. Pedro 11frente ao n˙mero de instituições . I 5 nadas F '. para preservação e difusão da memo'na. naCIOna. . OI Incorporado como Museu Nacional à Universidade do Bras!l em 1946 e atualmente . . d e Janeiro. . ( 2014) e st'a vinculado à Universidade Federal do Rio
73
6 M' . tro dos NegócioS (Gabinete de 1853); Senad r L . Pedreira do Couto Ferraz. )~n~snselheiro Extraordinário (1867) e Ordináro o d uI:mpério do Brasil (l~51-187~, p ovíncias para obter coleções epigráficas p 1O (1~71) Ordena aos presldentes .as t r das Obras p˙blicas da Corte para cuidar ~ra . . nal. i trui o D Ire or as a Biblioteca NaclO ; lOS tos quando de sua reparaçao. . . - s gravadas nos monumen .' . :-IOscnçoe h f, d Seção de Manuscntos da Biblioteca Nacional n . Alfredo do Valle Cabral, c ;5~) ~o percorrer o Espírito Santo, Bahia, Sergipe, A.I~. 1 meado em 1873 (ANAI~ R"' Grande do Norte, recolheu cerca de mil inscriçõ goas, Pernambuco, Parai a e ,10. es nos monumentos dessas ProvlOClas. . . _ L b P .dente da Sociedade Bras!lelra de Belas Artes. Solicita a Professor Bruno ~h~id:e:~nservador de Antiguidades Clássicas do Museu Nacio~ Professor Albe!tod 1 t' .eto de lei de defesa do patrimônio artístico nacional nal a elaboraçao e an eproj ,o qu~ não teve prosseguimento. _
1853
1887
1920
L . C dro representante de Pernambuco na Câmara dos Deputados. Apresenta p~i~ei;o p;ojeto de Lei que visava a organização e defesa dos monumentos históri. cos e artísticos do país. A proposta não foi aprovada.
1923
Augusto de Lima, representante de Min~. Gera~s na Cãmara dos Deputa~os. Ela· bora Projeto de Lei cujo objetiv~ er.a proibir a salda de obras de ~rte t~adlc.lOnaisdo país. Foi vetado por ser inconstltuclOnal e chocar-se com o Código ClVIl vigente.
1924
As iniciativas na proteção do patrimõnio cultural passam a ser tomadas pela esfera estadual. Minas Gerais organizou, em julho de 1925, comissão para tratar do assun. to. A Bahia organizou a defesa do acervo histórico e artístico do Estado através das leis estaduais n° 2.031 e 2.032, de 8 de agosto de 1927, regulamentadas pelo Decreto n0 5.339, de 6 de dezembro de 1927. Também foi criada a Inspetoria Estadual de Monumentos Nacionais, anexa à Diretoria do Arquivo P˙blico e Museu Nacional. Pernambuco, pela Lei estadual n° 1.918, de 24 de agosto de 1928, criava a Inspetoria Estadual de Monumentos Nacionais e um museu.
1924 a 1928
1930
Deputado José Wanderley de Araujo Pinho, representante da Bahia na Câmara dos Deputados. Apresentou ao Congresso Nacional novo Projeto de Lei sobre o assunto, tornado sem efeito pela ocorrência da Revolução de 1930 e a promulgação de nova Constituição.
1933
Promulgado o Decreto n- 22.928, tornando nacional.
1934
Decret~ n ° 24.7~5 aprovava novo regulamento para o Museu Histórico Nacional e.org~mzava serviço de proteçoã aos monumentos históricos e obras de arte tradicionais.
1934
A nova ~onsti~uiçã.o dedicou o capítulo II à educação e à cultura. No artigo 148dis· p.unha: ~abe.~ U~lão, aos Estados e aos Municípios favorecer e animar o desenvol· as crencias dvirnento . '. ' das artes , d as Ie t ras e di'a cu tura em geral proteger os objetos " oaí bem como' prestar assistenCla . . aoe tmteresse b Ih dhistó.rico e o patrlnmorno artís,.tico doo pais ra a a or intelectual" '
):;'''n''"",
f"'\ __
a cidade de Ouro Preto monumento
-
~
peios autores a partir de BRASIL, 1980,
6
°
Foi sócio fundador e presidiu o Instituto Histórico
CELOS, 1917).
74
e Geográfico
do Brasil (VASCON'
A partir dos dados arrolados no Quadro 1 percebe-se que as ações preendidas por D. Pedro 11 não tente historiográfica. servação
são levadas em conside~ação
No quadro, tudo leva a crer que as iniciativas para pre-
do patrimônio
no Brasil entre o século
século XX foram bastante tímidas, de 1930, não
expressavam
bens de interesse histórico intervenções
a organização
e artístico
XVIII e primeiras décadas pela preservação,
até o início
de um pensamento sobre os
nacionais. Talvez seja por isso que ações
fiquem à margem em algumas cronologias, como também
das que foram realizadas
do
e desconectadas. A esse respeito,
esporádicas
Coelho e Valva (2001) dizem que as manifestações da década
em-
pela segunda ver-
e
é o caso
pelo Marechal de Campo João de Deus Mena Barreto
na Igreja de São Miguel Arcanjo, nas Missões, em um de seus períodos no da então Província de São Pedro (MEIRA, 2008).
de gover-
Independentemente das omissões e silêncios, o consenso se estabelece em tom O dos anos 1920-1930 como sendo o período que inaugura das políticas p˙blicas para o patrimônio eru ditI a que estará
no Brasil. Nesse caso, porém,
não será apenas a cultu.ra
em foco, mas as maneiras pelas quais a civilização
, europeia,
Portuguesa se adaptou aos trópicos (ORTIZ, 1994). Trata-se do peno~~e . do d e sup eração dos evolucionismos positivistas da Rep˙blica Velha, vencidos ín,te Iec tu a lmente após a derrota do colonialismo europeu ao final da I Guerra Mundial e durante
o período
Nesse sentido,
é interessante
da cultura e da memória lação
de móveis
so país, segundo
entre guerras. notar que o barroco assume o protagonismo
nacionais
em um momento de interrupção
Avancini
período colonial brasileiro,
(1994), o estilo europeu ganha ares de esplendor no em particular
na Bahia, em Pernambuco, no Rio de
Janeiro e em Minas Gerais. Representação tou aos trópicos,
de circu-
de luxo entre o Brasil e a Europa (DURAND, 1989). Em nos-
o barroco
deantigas igrejas e edificações e industrial começam
maior de como a civilização
ficou amplamente
se adap-
conhecido por meio das aquisições
em um momento em que as burguesias comercial
a se desenvolver
no país (DURAND, 1989). Assim, não é
dese admirar que a cidade de Ouro Preto, em 1933, tenha sido considerada monumento nacional
e que as edificações
barroco tenham assumido, morialna consolidação
e elementos das artes plásticas
a partir dessa leitura de Mário
do Estado
e da identidade
75
em estilo
de Andrade, valor me-
nacional na década
de 1930 e
seguintes (AVANCINI, 1994). Com a Constituição de 1934, instaura-se
a noção id ded patrimônio para con. os como propriedad
juntos de bens culturais, ou seja, passam a ser consi era da nação,
de todos os seus cidadãos.
Fonseca (1997) en~ende que a política
culada a partir daí se desenvolve em torno da preservaçao, reíto da sociedade cívíl.' Nossas primeiras •
o patrImo
A
•
que
fi
h' d
cou con eci o como
ações
preservacionistas
d "d
ção
de patrimônio
simbolizando
privileg'
1""
laralll os d
e pe ra e ca ,pnnclpalmente
mo arquitetura barroca de Minas. Funari e Pelegrini a identidade
arti~
dever do Estado e d'1-
(2006) entendem
de uma coletividade,
essa c oncep_a portanto
bem p˙blico.
u ' III
O segundo
"SP
período indicado pelo memorial citado é deno . . , . _ " mInado HAN: o irn cio da proteçao. Trata-se da primeira fase heroica do SPH
cujas ações
AN,
são explicitadas. Quadro 2: SPHAN - Do início da proteção ao patrimônio histórico do Brasil (1937-1967) Iniciativa
Data
1936
GustavoCapanema, Ministro da Educação e Sa˙de. Mário de Andrade, Diretordo Departamento de Cultura da cidade de São Paulo (1935-1938). Mário de Andrade, por solicitação de Capanema, elabora Anteprojeto de lei para criar o Serviço do Patrimõnio Artístico Nacional (SPAN).
1936
Em abril foi criado, em caráter experimental, o Serviço do Patrimônio Histórico Nacional(SPHAN),junto ao Ministério da Educação e Sa˙de. Foi escolhido como diretor Rodrigo Melo Franco de Andrade.
1937
Lei n° 378, de 13 de janeiro de 1937, oficializa o Serviço do Patrimônio e Artístico Nacional.
1937
Decreto-lei n- 25, de 30 de novembro de 1937, define de que se constituía o patri-· mônio histórico e artístico nacional,
1940
Decreto-lei n- 2.809, de 23 de novembro de 1940, dispõe cação de donativos particulares pelo SPHAN
Histórico
sobre a aceitação
e apli-
.
7 Concepção que utiliza o modelo francês, desenvolvido de forma centralizado~~:r: planos e regulamentos que entende o patrimônio como estratégia para atender a ses políticos do Estado (FONSECA, 1997).
76
-
Promulgado 1940
o novo Código
Penal Brasileiro. em 7 de duembm
tulo Il, Capitulo IV, An. 165 e 166. o documento as oh; n0-:m constantes da legislação que prot~ia do p .. s.
estabelece
de 1940. No Ti-
5&l\C;ÕCS
o património
1941
Decreto-lei p˙blica.
no 3.365. de 21 de junho de 1941, sobre deseproprtaçõcs
1941
Decreto-lei
nO3.866, de 29 de novembro
mento
de bens do património
Nova Constituição 1946
ção
e a Cultura.
possuía
de tomba-
nacional.
documentos
normas para a Educa-
de valor histórico
e artístico,
naturais, as paisagens e os locais dotados de particular do poder p˙blico" (Art. 175).
n- 8.534, de 2 de janeiro de 1946, transformou
Decreto-lei
por utilidade
de 1941, sobre o cancelamento e artístico
um Capitulo (ll) que estabelecia
"As obras, monumentos,
hem como os monumentos beleza ficam sob a proteção 1946
histórico
plra infraçi\n
artisticc e nacíonel
do Património Histórico e Artlstlco vadot; Belo Horizonte e São Paulo.
nacional (OPHAN)
o SPHAN em Diretoria com sedes em Recife. Sal-
1946
Em 2 de janeiro
1961
Lei nO 3.924. de 26 de julho de 1961, dispunha sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. Esses ficavam sob i guarda c proteção do poder p˙blico.
1965
Lei nO 4.845.
de 19 de novembro
de arte e oficios
- °gamudo
de 1946 foi aprovado
produzidos
o Regimento
da
OPHAN.
de 1965. proibia a saída para o exterior. de obras
no pais até o fim do período
monárquico.
pelos autores a partir de BRASIL, 1980.
Esta etapa já é chamada de "heroíca" pelos autores, que afirmam ser avultado o envolvimento e o esforço para inventariar, salvaguardar, restaurar, controlar o comércio
dos bens culturais, processos de tombamento, entre outros,
com falta de pessoal especializado, recursos e problemas para o cumprimento da legislação.
Seu desenvolvimento deu-se em meio à implantação
nos quais foram impostos regimes de exceção,
de dois cenários
a saber, o Estado Novo (1937-
1945) e a Ditadura Militar iniciada em 1964. Percebe-se pelo Quadro 2 que no período de 30 anos, considerando-se o ano de 1967como marco temporal final dessa etapa, tendo em vista a Constituição madas diversas ações patrimônio
outorgada naquele ano, foram to-
governamentais em relação
ao que foi considerado como
do país.
Rubim (2010) reconhece que o período que teve Gustavo Capanema à frente do Ministério
da Educação
e Sa˙de proporcionou uma "atuação
77
sistemá-
.,
I .lação para o patrimônio histó( " Além da egls . . ICO cultura (p.04). I' lslações para o cinema, a radlodif . do estadona " ' ão de eg , u, tíca . nal houve a cnaç nstituição de inumeros organisll1 e artísticOnaclO '_ I ais etc. e a co ,. . Os s profissoescUtur fi que essas politicas cnaram um são, as artes,a 'o autor arma . "la . [ ]" (p. 04). porem, bmeteu aos seus mteresses, legit· culturais ." Estado que a su 1dinâmica cultural atrelad~ao . utilizando a cultura para conformar Urn mando o caráter autoritáno d~ regime e . ,. d ação e de BraSIl. imagmano e n ib ' , 't' '0 do regime, que se atn UI as respon_ -o do carater auton an A constataça . ult aI e integração identitária do país, não . íd d I desenvolVimentoc ur sabili a es pe o , D P dro 11durante seu reinado. Mais uma vez divergeda tradição mantida por . e , id ' h' 'tese de que não e tanto a perem ade, o perfil isso parece reforçar a nossa IpO ". bilid d destes identificarem as necessídades culturais da dos governantesou h a I I a e _ , . _" d fi ma intervenção ou açao e cultural ou se o conlunto populaçao que e nem se u . de intervenções e ações conformam uma política p˙bhca para a cultura ou para
o patrimônio. O que diverge nas correntes historiográficas
é a construção
do
caráter p˙blico do problema cultura. Enquanto em D. Pedro 11, o que nós temos é a primazia da arte erudita e da memória
branca, europeia e civilizatória, o
Estado Novo apresenta-se como um período de gestão ressa também pelas vanguardas e pelas expressões
da cultura que se inte-
populares. Naquele momen-
to, buscava-se tanto a conversão do conjunto da sociedade brasileira aos bense serviços culturais consagrados (barroco e modernismo) desenvolvimento das formas espontâneas entre o erudito e o popular.
quando se enfatizavao
(folclore) e da abolição
As bases para o caldeirão de culturas freyriano estão 1947 e 1964, o Movimento Folclórico
das fronteiras
dadas. Assim, entre
Brasileiro (MFB) se desenvolve. Pela pri-
meira vez,busca-se institucionalizar o folclore como referência
para a identidade
nacional brasileira. Conforme Vilhena (1997), procurava-se
'I nao -, so para o estu do, como também
c. ravoravs
criar um contexto O mo VI' mento para a sua proteção.
culminou com a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro instalada em 1958, . Iad a ao MEC com promessas de recursos financeiros para o seu funCl'onavincu mento, porém com pouco retorno do governo. A continuidad d C· e a ampanha vai se desdobrar
78
. d a Milidurante a Dita ur
.... rar, Porém,
nesse
tonalidades. meios
Os anos
as políticas
de chumbo
de comunicação
trações
regionais
conservação 2012).
uma
serão
de seus nova
Nesse
período,
compelidas próprios
a participar
patrimônios p˙blicas
por meio
compreendido
entre
Histórico
ganham
à vanguarda
1994). Ao mesmo
fase de políticas
do Patrimônio
para o patrimônio
prejudiciais
(ORTIZ,
pela capitalização econÔmica (HARVEY, 1989).
Secretaria
as seguintes
e municipais
p˙blicas
são
de massa
e promoção
Inicia-se
marcada imobiliária
pela
período,
e promovem tempo,
(PEREIRA,
para o patrimõnio
cultural,
e da especulação
1967 a 1979, o memorial e Artístico
Nacional
os
adminis-
da identificação,
culturais
do turismo
outras
elaborado
(SPHAN)
retrata
iniciativas:
Quadro
3: SPHAN
Patrimônio
- Políticas
Histórico
p˙blicas para o
e Artístico
Dala
(1967-1979)
Iniciativa Compromisso de Brasí. lia.. .D ocumento gera d o no I Encontro de Governadores para _ Preservaçao do Patnrnomo Histórico e Artístico Nacional. Era reconhecida a ne-
1970
cessidade da ação culturais.
de Estados e Municípios no que se referia à proteção
Deveriam
ser criados órgãos
dos bens
municipais e estaduais para tal, com seus
respectivos Conselhos Estaduais de Cultura, e cursos para formar recursos humanos especíalizados. Compromisso
de Salvador. Documento gerado no 11Encontros de Governadores
para Preservação
do Patrimônio
no que se referia à proteção. Indicavam-se 1971
urbanos.
Histórico
monumentos
arquitetônicos,
do Ministério
estadual; de legislação obras contassem
bens móveis,
documentos
com a orientação
conjuntos
e livros. Recomen-
da Cultura e de Secretarias ou Fundações
complementar;
no âmbito
que planos diretores e urbanos. projetos de
do lPHAN; fundos orçamentários
mentes, entre outros. Criação do Programa de Cidades Históricas nejamento
e natural do país.
paisagens, parques naturais, praias, acervos arqueológicos.
dava-se a criação
1973
e Artístico Nacional. Eram incluídos,
os bens de natureza arqueológica
e financia-
(PCH), no âmbito da Secretaria de Pla-
da Rep˙blica. para atender propostas de restauração
de monumentos
isolados. Lei n. 6.282, de 15 de dezembro de 1975, dispunha sobre o tombamento de bens no 1975 1976
IPHAN. Portaria n· 230,
d
e 26
d
e março
de 1976 cria o Regimento Interno do IPHAN. '
79
, 1979
1979
1979
Do ponto de vista dos gestores do SPHAN, o redirecionamento expressões culturais resulta de tensões vação
entre óticas
contrastantes
para as
sobre a preser-
e o tombamento: [...] a ameaça da destruição que pesava sobre os bens monumentais arquítetõnicos na época mesma da fundação do Iphan dez desses bens o centro de todas as preocupações, [...] verificou-se por fim como que hipertrofia dos setoresdedicados à conservação e restauração dos monumentos de pedra e cal [...] isto em detrimento não só da arquitetura popular autóctone, mas também à custada atrofia dos setores encarregados da preservação do patrimônio arqueológico, ,do patrimônio natural, dos arquivos históricos e iconográficos, do acervo etnográfico, entendido este em sentido lato e abrangendo as culturas das etnias indígenas, a arte popular e as técnicas artesanais (BRASIL, 1980, p. 26-27).
80
Para nós,
é evidente que
.
protagomslllo das expressõ es culturais é que Ocorre pela p o novo - de, .,._ ressao e !atores exogenos conslderavelS. Nao se trata, portanto, de Um mero reenquadramento conceitual. Precisa-se conside-
um fenômeno
rá-las,
ainda, tanto "no bojo do 'milagre econômico: configurando uma intensa e em um boom imobiliário no País" (GRAEBIN, GRAEFF e GRA-
urbanização
ClANO, 2014, p. 03), quanto no Contexto do desenvolvimento do turismo e no do consumo de cultura, sua produção e circulação, Nos finais dos anos 1970, a segunda grande crise do capitalismo se desenvolve em torno da oferta e demanda de combustíveis processos
acelerados
crescimento
demográfico
fósseis, bem como dos
e urbanização.
bem-estar social se colocam em xeque e uma nova expressão nômico
torna-se
rapidamente
°
na Grã-Bretanha. VEY, 1989). Não
hegemônico
Sua formulação
desenvolvimento
do liberalismo eco-
por meio de experiências
no Chile e
capital se urbaniza e as finanças se desterritorializam
por acaso, o Programa
de mudanças.
Os estados de
econômico
volvimento (CORREA
Cidades Históricas
se dá no âmbito no Brasil através
(HAR-
se inscreve nesse período
das tentativas de retomada do dos Planos Nacionais de Desen-
e FARIA, 2011). Como destacam os autores,
Vigorava então a ideologia da razão, da ciência e Estado (VILLAÇA, 1999, p. 183) (...l. O modelo de desenvolvimento perseguido era o de base urbano industrial, em que a cidade passa de bem de consumo para bem de produção (VILLAÇA, 1999, p. 200), ou seja, passa a produzir capital. No entanto, esse modelo gera os grandes aglomerados urbanos. Ao reproduzir o ambiente para produção do capital, a lógica preponderante era a que gerava economia para o setor industrial na época. As fases do processo de produção deveriam estar próximas espacialmente, incluindo o capital humano, resultando em uma escala cada vez maior de operações Além diversidade
(CORREA e FARIA, 201 I, p. 23). de problemas cultural
propriamente
como solução
esteira das novas formas
econômicos
e sociais, a emergência
para problemas de gestão
de expressão
artística
da
p˙blica se dá na
e de estilos de vida das tribos
ind˙stria e cultura se confundem ur b anas, Como sugere Ian Cham b ers (1985) , té t i as na geração dos baby-boomers. definitivamente na produção de gostos e es e 1C ,. . k ck dos jovens proletanos ingleses Ao chegarmos nos anos 1980, é tanto o pun ro
81
,
. d
que darão
o tom das novas forma d
reggaejamaicano
s a
e arnericanosquan o o - a promessa de formação-trabalho eríodo de recessao, -re_ cultura pop. Em um p td para uma nova geração de jovens qu _ _ ce mais fazer senti o ' e se produçao nao pare. é d s mass media e cuja cultura é uma "polír conhecem e se comunicam atrav s o ICa da metáfora" (HEBDIGE, 1988), Nesse mesmo contexto, a pressão pela liberalização
do setor cultural au-
menta. Os países líderes do General Agreement on Tariffs and Trade - GATT, e, posteriormente, da Organização transformação
de toda produção
Mundial do Comércio audiovisual planetária
(OMC) negociam a
em ind˙stria
nimento, sem privilegiar eventuais conte˙dos memoriais
do entrete_
ou identitários
nacio-
nais com vistas a proteger mercados internos (MUSITELLI, 2005). A UNESCO, por sua vez, traz à baila a noção
de exceção
cultural a fim de garantir
e serviços culturais não sejam tratados como mercadorias,
que bens na medida em que
veiculam conte˙dos, valores e modos de vida e, sobretudo,
porque são parte in-
tegrante da identidade cultural de uma sociedade, povo ou nação
(KAUA
RK,
2009).
Federal é promulgada
Assim, quando a nova Constituição pliação
do conceito de patrimônio
cultural não
política internacional que retomava a proteção da diversidade cultural e do desenvolvimento
em 1988, a am-
deixa de refletir a conjuntura das identidades
sustentável.
se "retroalimentarn" num contexto de manutenção
culturais através
São movimentos
e promoção
"culturas" existentes no mundo. O Quadro 4 indica algumas
que
das diferentes das relações
entre
eventos internacionais e leis promulgadas no Brasil desde 1981. Quadro 4: Panorama de grandes eventos e leis relacionadas à diversidade cultural no Brasil e no Mundo Data
Iniciativa
__,
-
1981
LeiFederal6.938, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, apresentao meioambientecomoobjetoespecífico de proteção.
1985
Declaração do México (ICOMOS).
1987
Relatório Our Common Future (UNESCO).
82
-
-
..--1988 r-
1989
r----
1989
1991 t-
1994 r-
Constituição
Federal (Art. 216 e 217 s b '. o re o patnmonio cultural brasileiro) Lei Federal n- 7.668 institu· F d _ Ia un açao Palmares. Queda do muro de Berlim. Recomendação
sobre a Salva
d guar a da Cultura Tradicional e Popular (UNESCO). Lei Federal 8 313 . P . . , cria o rograma NaCional de Apoio à Cultura (PRONAC). ˙ltimo encontro do GATT, em Marrakech (Marrocos).
1995
Criação
1995
Lei Estadual 12.040 de M' G . ' mas erais, estabelece o repasse de verbas do ICMS para restauro e preservação do patrimônio cultural de municípios.
1996
Criação do Programa Monumenta. Em 1999, assinam-se os primeiros empréstimos. Em 2000, começa a execução dos primeiros projetos.
1998
Lei 9.605 sobre crimes ambientais.
1999
Lei 9.795, que dispõe
2000
da OMC a partir do acordo de Marrakech.
sobre a Política Nacional de Educação
Ambiental.
Decreto 3.55 I, instituindo o Registro de bens culturais de natureza imaterial e criando o Programa Nacional do Patrimônio
2001
Projeto «Celebrações cional do Patrimõnio
2001
Declaração
2003
Gilberto Gil assume o Ministério
Cultural Imaterial.
e Saberes da Cultura Popular», que inaugura o Programa NaCultural Imaterial.
Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO). da Cultura no Brasil.
2003
Convenção
2004
Criação
2008
Declaração
2008
Carta dos Itinerários
2009
I Fórum
2009
Lei 11.906 cria o Instituto Brasileiro de Museus.
2009
PAC Cidades Históricas.
2010
b d 20 I O dispondo sobre o Plano Nacional de Cultura. Lei 12.343, de 2 de dezem ro e ,
2013
PAC 2 Cidades Históricas.
Fonte: elaboração
para a Salvaguarda do Patrimõnio do Departamento
do Patrimõnio
Cultural Imaterial.
Imaterial do IPHAN.
Espirito do Lugar (UNESCO). Culturais (ICOMOS).
Nacional do Patrimõnio
Cultural.
dos autores.
No Quadro
4, percebe-se
políticas p˙blicas para o patrimônio
ainda mais dois momentos fundamentais das cultural no Brasil: um primeiro, entre 1991
e 2002, e um segundo, que se inicia com a gestão Gilberto Gil no Ministério da Cultu ra. N O primeiro, instaura-se um mecenato lfistltuclOn . . . ai'iza d o, que retoma83
_..
..Ia anguarda. Inspirados nas pesquisas de artes eruditas e ~ v " rá o privilégiO peIas I b (2007' 2011), ousanamos dizer que eSSe b: 2010) e Ca a re ' Rubim (2007a; 2007 , . I' o econômico imposto por organismos i1 do neohbera 15m é o retlexo, no Bras , .' Nesse panorama. as expressões "popma_ . aíses penféncos. internacionais aos p I't'cas p˙blicas porque, por definição, não t da cena das po I I res" saem novamen e 1 os hegemônicos. Por outro lado, esse é . d lebradas pe os grup são pratica as ou ce. . d . ftuiçõeS bancárias como promotoras e finano eríodo de emergenCla as lOS I . p _ ul . Brasil: no Rio de Janeiro e em Sao Paulo ciadoras de intervençoes c turais no ' . _ I 'C ltural o Santander Cultural e o Centro Cultural surgem e Impoem-se o tau u ,
Banco do Brasil. No período
1991-2002, também
Criado por uma equipe técnica
se destaca o Programa
do IPHAN, conta com cooperação
UNESCO e com financiamentos do Banco Interamericano
turística do centro histórico
técnica
de revitaliza-
de Quito, no Equador. Essa observação
portante, pois permite uma correlação
com o Programa
da
de Desenvolvimento.
Segundo Pelegrini (2006), o programa inspirou-se na experiência ção
Monumenta.
Cidades
década de 1970 em termos de políticas p˙blicas para o patrimônio
é im-
Históricas
da
casadas com
políticas p˙blicas para o turismo cultural. Como sublinha Pelegríní, as iniciativasde revitalização de áreas degradadas das cidades assentadas apenas em "operações" destinadas a realçar a sua vida econômica e social. em geral, \;. saram somente à reutilização do patrimônio cultural ou dos recursos ambientais locais através da "terceírização" de seus usos. Esses procedimentos se limitaram a atrair investimentos e a proporcionar novos usos aos espaços. privilegiando a sua exploração econômica, por meio da manipulaçio da sua dinlmica turística (PELEGRJNI,2006.p. 133).
o segundo
momento que se percebe no Quadro 4 é o da institucionaliza-
ção da diversidade cultural como política de Estado. Essa nos parece a avaliação mais adequada das políticas p˙blicas para o patrimônio O exemplo maior desse ponto de vista é o Plano Nacional desde a aprovação a produção,
da lei 12.343, de 2 de dezembro
difusão e fruição
de bens e serviços
sobretudo, demanda um esforço nalização
de sistematizaçio.
no Brasil desde 200l de Cultura.
de 2010, o Plano encaminha
carregados
de valor si mbólico e,
descentralizaçio
das politicas p˙blicas (CALABRE. 2007; RUBIM. 2013),
84
Em vigor
e instituÓo'
o Plano
foi pensado, debatido e cOnstruído junto à sociedade civil e aos movimentos sociais. Pautou-se pela ótica da "tridimensionalidade da culturâ, isto é, seu caráter
simbólico,
econômico
.,.
e cidadão, Prevê metas tanto para equi-
pamentos culturais "tradicionais", como Museus, teatros, arquivos e bibliotecas, quanto para as expressões
da diversidade cultural. É por isso que, para nós, tra-
ta-se do principal documento atestando a multiplicidade de formas e expressões culturais como um fim em si mesmo das políticas p˙blicas para o patrimônio cultural no Brasil. Em contraste com as tendências patrimônio
anteriores das políticas p˙blicas para o
no Brasil, o enfoque nas expressões populares pode ser considerado
como novo. Renomeadas em termos de "diversidade cultural", essas expressões se apresentam como algo "bom e positivo por si",como já dissemos junto com Meneses (2012). Seu valor cultural não se apresenta necessariamente subjugado aos das culturas erudita ou de vanguarda. Apenas indicamos que, no âmbito das políticas p˙blicas para o patrimônio expressões
cultural, o PNC torna possível que essas
se desenvolvam com maior autonomia.
Por outro lado, esse aspecto "bom e positivo por si" tende a escamotear outras disputas políticas. No mote da diversidade e do relativismo cultural, as expressões
populares tornam-se uma moeda de troca universalmente aceita contra
os abusos dos "globalísmos
localizados" ainda que, nessa troca, corra o risco de
se apresentar mais como um localismo globalizado do que como um patrimônio comum (SANTOS, 2006). Sob esse ponto de vista, tornam-se um novo mecanismo de predileção
das políticas culturais ocidentais, o que pode desembocar em
proselitismos e dirigismos culturais específicos.
Conclusões Neste texto _ relativamente das políticas
curto, considerando a abrangência
p˙blicas para o patrimônio
tentes historiográficas
histórica
no Brasil - apoiamo-nos em duas ver-
a fim de construir um ponto de vista particular sobre o
tema. Não deixamos de louvar o protagonismo do SPHAN/IPHAN ao longo dos ˙ltimos setenta e sete anos. TampoucO rejeitamos as periodizações
85
heroicas das
, emissa de que as políticas culturais na ão no pais ou a pr . ., d )'ticas de preservaÇ it rismo e pelo dírígísmo e estado. O po 1 _ marcadas pelo autOTla _ América Latina sao leitura das intervençoes do Estado na (.. resentar uma re que buscamos fazer 01 a~ I E ara isso, apoiamo-nos em três maneiras atrimómo cultura. ,p área ou setor do p dita apoiar a cultura de vanguarda e dar típicas de fazê-lo: investir em cultura eru , vazão às expressões populares. I 'a ganha eventos e fatos novos. Se isso não Desde esse viés, nossa crono Ogl . . • . das duas vertentes hístoríográficas COnsagra_ d necessariamente a essencla . _ mu a I e podem contribuir nas discussões teóricas e das traz à tona algumas uzes qu _. , ,. d patrimônio e das açoes culturais. Como rnen, nos embates pohllCOSem torno o . . _ . . d - somos professores em busca de msprraçao para nossos cíonado na mtro uçao, tívá los a acreditar na política e a pensar em suas Conalunos. Queremos mo 1 , • . p . damos o exemplo e nos intrometemos nos mesmos nas sequenclas. ara ISSO, . relações de forças que definem o mundo em que VIvemos.
A guisa de conclusão,
ressaltamos que não deve causar surpresa o quanto
as cronologias são objeto de luta e de solidariedade
entre agentes políticos
de
diversas ordens (dirigentes, intelectuais, pesquisadores-militantes,
legisladores,
etc.), Para alguns, a "Cultura" é um meio para atingir determinados
fins (ética da
convicção).
Para outros, é um fim em si mesmo (ética
da responsabilidade).
Em
todos os casos, devemos perceber como a própria
formulação
blicas para o patrimônio
por parte desses agentes, das
depende da antecipação,
ditas "necessidades culturais da população"
Não no sentido de que a população
receba passivamente o que é discutido nas esferas políticas. porque a população
compõe-se
e decompõe-se
do e conformando os contextos históricos políticas se desenrolam.
das políticas p˙-
Mas, inversamente,
em grupos de interesse, formannos quais as lutas e solidariedades
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86
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