Campanha Eleitoral de 2015 em Portugal e a ausência de interação nas Redes Sociais da Internet

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Campanha Eleitoral de 2015 em Portugal e a ausência de interação nas Redes Sociais da Internet

Lucas Rohan

Artigo de conclusão da disciplina de Políticas e Estratégias do Audiovisual: A Migração para o Digital do Mestrado em Novas Mídias e Práticas Web

Janeiro, 2016

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Resumo Neste artigo analisamos a presença dos três principais partidos/coligações de Portugal nas redes sociais da Internet durante a campanha para as Eleições Legislativas de 2015 procurando um dos princípios básicos das campanhas on-line: a existência de interação. Percorremos as timelines de todas as redes utilizadas pelos concorrentes portugueses no período da campanha eleitoral, bem como seus sites, e apresentamos uma análise detalhada de como essas ferramentas foram entendidas e utilizadas. Ao final, com base na extensa bibliografia existente que comprova a necessidade de interatividade nessas novas ferramentas de comunicação, concluímos a inexistência de real interação entre os candidatos e os eleitores.

Palavras-chave Redes sociais; internet; política; eleições; interação.

Lucas Rohan, supported by the Erasmus Mundus Action 2 Programme of the European Union.

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Introdução Entre as novidades trazidas pela possibilidade de fazer campanha política na Internet – entre as quais figuram a não existência de limite de espaço, em caso de conteúdo em texto, e de tempo, em caso de vídeos e áudios – a mais impactante é a possibilidade de interação com o cibercidadão. Diferente dos meios tradicionais de comunicação, nos quais a mensagem é apenas transmitida e recebida, na Internet, além disso, é possível receber e dar retorno imediato dessa mensagem. Isso acontece de diversas formas, variando de acordo com o meio utilizado, mas a essência do uso das Novas Tecnologias da Informação (TI’s) nas campanhas eleitorais está ligada à possibilidade de existir uma troca entre o candidato e o cibercidadão. Em outras palavras, recorrendo às bases das teorias da comunicação, podemos considerar que nas campanhas políticas bem executadas na Internet o político não é apenas emissor de informação, mas também receptor. E o cidadão, no ambiente online, deixou de ser apenas receptor para também desempenhar papel de emissor. A comunicação é interativa quando há um alto grau de responsividade e reflexividade. Responsividade – quando o receptor (destinatário) assume o papel de emissor (remetente) e, de alguma forma, responde à fonte original da mensagem (StromerGalley, 2000). Esse processo de troca pode ser bem utilizado em uma campanha eleitoral e trazer benefícios para ambas as partes, mas o que vemos na maior parte dos casos é um uso marginalizado e, às vezes, falso dessas possibilidades de interação apenas para criar a sensação de que os cibercidadãos estão fazendo parte da campanha de determinado candidato, pois um político conectado é cool. O interesse do autor pela pesquisa nesse campo aumentou após uma experiência profissional ligada ao uso da Internet pela política. Entre 2012 e 2014, como assessor de imprensa do governador do Estado do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, tinha, entre as funções principais, a responsabilidade pela administração das redes deste político enquanto governante e também enquanto candidato, na campanha eleitoral de 2014. Genro é um político brasileiro com extenso histórico de incentivo à participação popular e cidadã em seus governos. Foi vice-prefeito da cidade

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de Porto Alegre, capital do Estado, quando foi instalado lá o Fórum Social Mundial e o pioneiro Orçamento Participativo. No Executivo Estadual, implantou o Gabinete Digital, uma ferramenta de incentivo da participação através das novas TI’s. Durante a campanha eleitoral de 2014, executamos dezenas de ações com ênfase na participação direta, como o uso da ferramenta Face to Face, do Facebook, através da qual os cibercidadãos fizeram centenas de perguntas diretamente ao político. Promovemos debates com transmissão on-line e participação aberta, além de incentivarmos o uso, por parte do governador, de seu perfil pessoal no Twitter para interagir com os cidadãos. Esse know how adquirido durante essa experiência profissional despertou neste autor o interesse pela análise de como políticos e partidos estão usando – ou não – essas mesmas ferramentas em outras partes do mundo. Por isso, ao desembarcar em Portugal pouco antes da campanha eleitoral para as Legislativas de 2015, estive sempre atento à presença dos candidatos locais nas redes sociais. Essa observação resultou na análise presente neste artigo. A escolha pelo foco na interatividade – ou na ausência dela – surgiu da verificação do uso marginal das potencialidades da Internet na realidade portuguesa.

Interatividade pós-Obama Temos bons exemplos do uso da interação on-line durante campanhas políticas, sobretudo após 2008, quando a campanha de Barack Obama na Internet se transformou em um divisor de águas nessa área. Não há dúvidas que depois do sucesso da estratégia adotada pela campanha norte-americana “há uma outra Web política”, como observa o professor Francisco Rui Cádima em artigo publicado em 2010 na revista Media&Jornalismo. “Não parece haver, pois, dúvida de que depois de Obama, em matéria de Internet e política, nada será como dantes”, pontua Cádima, indo ao encontro do pensamento dos profissionais da área de comunicação política e de boa parte da academia.

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Um dos “filhos” mais exitosos da campanha de Obama está na Espanha. O partido político Podemos, em 2015, experimentou grande sucesso no uso das redes sociais da Internet e das plataformas on-line dentro de sua campanha para as Eleições Legislativas de dezembro do mesmo ano, nas quais foi o terceiro mais votado. Esse sucesso, por exemplo, converteu o Podemos no partido mais seguido nas redes sociais em poucos meses, superando as agremiações partidárias clássicas como o Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Espanhol (PSOE). Fortemente inspirado em Obama, desde o seu slogan “Si, se puede”, que remete diretamente ao “Yes, we can” dos norte-americanos, o Podemos também usou, por exemplo, suas plataformas on-line para captar recursos para sua campanha, tal como Obama, e para dar o máximo de transparência possível às ações e aos gastos do partido. Cito aqui o exemplo do Podemos, mesmo sem aprofundar a análise, apenas para mostrar que o ambiente da Internet, sobretudo as redes sociais, está sendo muito bem utilizado em campanhas políticas na era pós-Obama. A referência ao caso espanhol, assim como à experiência profissional do autor citada anteriormente, se faz necessária para introduzir o objeto da análise desse artigo: o uso das ferramentas on-line, principalmente das redes sociais da Internet, na campanha eleitoral para as Eleições Legislativas de 2015 em Portugal pelos três principais concorrentes: a coligação Portugal à Frente (PSD/CDS), o Partido Socialista (PS) e o Bloco de Esquerda (BE). Após a análise de um grande número de publicações dos três concorrentes nas eleições portugueses, verifica-se um cenário totalmente diferente da referência Obama 2008, da exitosa campanha do Podemos na Espanha no ano passado e do cenário observado pelo autor in loco no Rio Grande do Sul. Uma das primeiras observações extraídas dessa análise foi a não existência de uma constância de presença nas redes sociais por parte dos concorrentes nas eleições portuguesas, exceto o Bloco de Esquerda. Algumas páginas nas redes sociais foram criadas apenas para a campanha e deixaram de ser atualizados após o fim da corrida eleitoral. Os perfis dos três partidos no Facebook, por exemplo, antes das duas semanas de campanha eleitoral, eram usados apenas para a publicação de álbuns de fotos de atividades partidárias. Ou seja, a rede que é baseada na interação entre usuários foi subutilizada pelos candidatos portugueses, num fenômeno conhecido da

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academia e já identificado, desde o final do século passado, por pesquisadores como o sociólogo espanhol Manuel Castells, que observava que os agentes públicos utilizavam a Internet como um simples quadro de avisos e não como uma ferramenta de natureza dialógica. Os dados analisados nesse artigo foram coletados, prioritariamente, no período de 20 de setembro de 2015 a 2 de outubro de 2015, estabelecido por lei como tempo oficial da campanha eleitoral pelo Mapa Calendário¹ da Comissão Nacional de Eleições (CNE). O período foi escolhido por ser tradicionalmente mais forte no sentido de debate político e, portanto, com tendência a se intensificar nas redes sociais, além de limitar a análise a um espaço de tempo com publicações concentradas. No entanto, não ignoramos o histórico dos três concorrentes nas redes, pois consideramos que é um elemento importante para entender o uso da Internet no caso português. São objetos desse estudo as publicações dos partidos políticos nas seguintes redes sociais da Internet: Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Flickr, Tumblr, WhatsApp. Antes de prosseguir na análise central, cabe aqui fazer duas considerações importantes sobre o contexto português. A primeira vem de um estudo do Eurostat², gabinete de estatísticas da União Europeia (EU) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) em novembro de 2014, que mostrou que os portugueses conectados são os que mais utilizam as redes sociais entre os países da Europa. De acordo com os dados, 65% dos portugueses têm Internet em casa e destes, 70% usam as redes sociais. O número é superior à média europeia de 57%. A pesquisa apontou também que 57% dos internautas costumam acessar a Internet fora de casa ou do trabalho e 48% já fazem isso a partir de dispositivos móveis. A segunda consideração diz respeito ao fato da manifestação política na Internet ser permitida pela legislação portuguesa. Apesar da Lei (10.º n.ºs 1, 2 e 3 Lei 72-A/2015) vetar, a partir da publicação do decreto que marca a data da eleição, a “propaganda política feita direta ou indiretamente através dos meios de publicidade comercial”, as “redes sociais e demais meios de expressão através da Internet” não entram nessa proibição. Assim, os concorrentes analisados tiveram um ambiente online totalmente livre para ser explorar durante a campanha eleitoral. ¹Consultado em 11/10/2015 em: http://www.cne.pt/sites/default/files/dl/ar-2015_mapacalendario_rev_a.pdf ² Consultado em 11/10/2015 em: http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/portugal-acima-da-mediada-ue-no-acesso-a-redes-sociais-online-1675356

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Desde a década de 90, autores se dedicam a identificar como essa nova forma de se comunicar baseada na mediação por computadores poderia afetar a participação política por parte dos cidadãos. Não há consenso. Enquanto alguns são entusiastas do uso das novas TI’s para melhorar e aumentar a participação, outros dizem que elas podem ser uma barreira entre representantes e representados. A pesquisadora norteamericana Jennifer Stromer-Galley cita, em seu artigo “Interação on-line e porque os candidatos a evitam”, um embate de opiniões que exemplifica essa divisão na realidade dos Estados Unidos no final do século passado. Em março de 1994, o então vice-presidente norte-americano Al Gore defendeu em um discurso público o uso das novas TI’s para criar uma ferramenta de compartilhamento global de informações entre governos e empresas. Para ele, segundo citado pela autora, isso “garantiria o funcionamento da democracia aumentando consideravelmente a participação dos cidadãos nos processos de decisão política”. A fala do vice-presidente foi questionada por James Brook e Iain Boal (autores de “Resisting the Virtual Life: The Culture and Politics of Information” publicado em 1995), para quem “máquinas entrepostas entre cidadãos e instituições governamentais não aumentariam, de forma alguma, a liberdade individual”. Esses dois autores, cita Stromer-Galley, defendem “resistir à vida virtual” argumentando que esse esquema acabaria despolitizando a administração da sociedade. Esse embate de opiniões citado no início do artigo sobre a interação on-line serve para demonstrar a forte divisão que ainda persiste na academia sobre o tema. Tomando um exemplo mais recente, as pesquisadoras Eva Anduiza, Marta Cantijoch e Aina Gallego, da Universitat Autònoma de Barcelona, também expõem diferentes opiniões sobre os possíveis efeitos do uso das TI’s como forma de aumentar a participação política no artigo intitulado “Political participation and the internet: a field essay“ (Participação política e internet: um estudo de campo). As pesquisadoras concluem que é evidente que a existência de um novo meio permite novas formas de participação política que não existiam anteriormente e que o impacto delas depende do nível em que os novos canais são utilizados. As acadêmicas espanholas argumentam que a exposição a grande quantidade de informações pela Internet pode produzir maior interesse na política e, dessa forma, favorecer o aumento da participação. Elas concluem que a Internet promove interesse na política em quem

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costuma acessar esse tipo de conteúdo, visto que nessa nova forma de obter informação o próprio usuário é responsável pela seleção dos conteúdos que irá consumir. No seguimento de seus estudos pioneiros sobre a influência das novas TI’s nos processos políticos, Castells (2003) detectou que a dimensão política estava sendo profundamente transformada, no processo que ele chamou de “co-evolução” da Internet e da sociedade. A Internet, diz Castells, “põe as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças. É por isso que o controle dessa ágora pública pelo povo talvez seja a questão política mais fundamental suscitada pelo seu desenvolvimento”. Ampliar as fontes de comunicação contribui de fato para a democratização, defende. Dentro dessas novas formas tecnológicas para a comunicação, temos experimentado nos últimos anos um boom do uso das redes sociais da Internet ao redor do mundo. Sites como Facebook, Twitter e, antigamente, o Orkut, captam boa parte da atenção do internauta. É através dessas redes que, atualmente, a maioria dos usuários ativos da Internet consome informação e, a partir daí, formam suas opiniões sobre variados temas. Hoje, em 2016, é muito comum estar em uma mesa de bar rodeado de amigos discutindo um determinado assunto, seja político ou não, e ouvir como introito de um argumento a frase “eu li no Facebook que...”. Se é assim, por óbvio concluímos que os políticos não poderiam ficar fora dessa. Faz parte da essência da atividade de uma pessoa que almeja cargos públicos conquistados a partir do voto direto ir ao encontro do cidadão e tentar convencê-lo de que suas ideias são boas e, assim conquistar seu voto. O problema – e é isso que discutimos aqui – é a forma como essas novas formas de comunicar são usadas. Basicamente, as redes sociais são um conjunto de dois elementos: atores e suas conexões. Elas são uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social e, segundo a pesquisadora brasileira Raquel Recuerdo, possuem elementos característicos. Os atores são representações dos atores sociais e as conexões não dependem prioritariamente de laços sociais pré-existentes entre os atores, mas, por exemplo, de uma aproximação por opiniões ou assuntos de interesse mútuo. A partir

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dessa definição, ficamos sabendo que não existe rede social sem interação. Dessa forma, se alguém pretende ser relevante ou usar as redes on-line de forma eficaz para atingir um objetivo, não pode entendê-las como apenas mais um meio para divulgar informações ignorando a extraordinária funcionalidade que está ligada à possibilidade de interação. A interatividade é uma das bases das redes sociais, tanto que é a principal responsável pelas transformações ocorridas ao longo dos anos nessas ferramentas. Os processos dinâmicos das redes são consequência direta dos processos de interação entre os atores (Recuerdo, 2008). São inegáveis os efeitos das interações sobre a estrutura de determinadas redes. A Internet oferece fortes possibilidades de respostas rápidas através das quais, se bem utilizadas, os cidadãos podem interferir na política. No entanto, a autora Stromer-Galley cita a cautelosa observação de Hacker e Todino (1996) que, se não houver disposição dos governantes a responder às demandas dos cidadãos, as iniciativas de participação serão reduzidas a sondagens com o objetivo de detectar mudanças nas opiniões e atitudes políticas. “Uma campanha ‘fechada’ é problemática, pois aqueles que pleiteiam um cargo de representação não estão dispostos a se tornarem disponíveis para interagir com aqueles que eles representarão. [...] É evidente que os candidatos estão usando seus websites de modo similar à utilização que fazem da televisão e do rádio, como uma ferramenta de comunicação unidirecional. A natureza bidirecional da Internet, portanto, revela a natureza fechada dessas campanhas.” (Stromer-Galley, 2000)

A conclusão da pesquisadora, que analisou o uso das novas tecnologias nas campanhas eleitorais dos Estados Unidos em 1996 (presidenciais) e 1998 (estaduais), é que os políticos fogem da interação on-line por três motivos básicos. O primeiro refere-se ao custo dessa operação. O segundo é que colocar em prática um processo de participação e interação real durante a campanha poderia criar uma sobrecarga de comunicação entre os candidatos e os eleitores e acabaria resultando na perda de controle sobre os ambientes de comunicação das campanhas. O terceiro motivo está relacionado à possibilidade de perda da ambiguidade das posições políticas dos candidatos, visto que o diálogo direto com os eleitores os forçaria a tomar posição em assuntos que, muitas vezes, eles preferem permanecer em cima do muro. A

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pesquisadora observou que, naquela época, os candidatos norte-americanos usaram suas plataformas on-line apenas para detalhar suas posições, aproveitando a não existência de limite de conteúdo, e para divulgar suas ações, feitos e propostas. “Os canais para a interação humana na Internet não são utilizados pelos candidatos por, ao menos, três razões: são onerosos para a campanha, os candidatos correm o risco de perder o controle sobre seus ambientes de comunicação e, consequentemente, eles deixam de preservar a ambiguidade de seus discursos.” (Stromer-Galley, 2000)

Passamos agora à análise crítica da presença dos três principais concorrentes portugueses nas Eleições Legislativas de 2015 na Internet. Apresentamos uma descrição detalhada, quantificada e qualificada sobre como eles usaram seus portais e suas redes sociais.

Portugal à Frente (PSD/CDS) O portal da coligação (Figura 1) concentrou todo o conteúdo produzido para Internet. Com design moderno, adaptado aos dispositivos móveis, o site chama à participação do internauta logo no cabeçalho com a mensagem “Dê sua opinião”. Apresenta como principais conteúdos o programa eleitoral, uma relação dos candidatos, uma sessão de notícias atualizada diariamente, uma página de vídeos compartilhada com o YouTube, um espaço de galerias de fotos do Facebook e links para todas as redes sociais usadas na campanha (Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Flickr). As redes Tumblr e WhatsApp não foram utilizadas. A página da coligação Portugal à Frente no Facebook (Figura 2) foi usada diariamente no período analisado, com média de três postagens por dia. Com mais de 35 mil curtidas, a rede já era usada pelo grupo político na pré-campanha eleitoral. No entanto, observa-se uma forte mudança de estratégia. Antes das duas semanas de campanha eleitoral, a página era usada prioritariamente para a publicação de álbuns de fotos das atividades de campanha da coligação. Tanto que esse tipo de publicação dominou a timeline na primeira semana analisada, quando a página já vinha com um histórico de uso na pré-campanha e um bom nível de comentários, curtidas e compartilhamentos. Entre 20 de setembro de 2015 a 2 de outubro de 2015,

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analisamos as 50 principais publicações da página. Destas, quase a metade (23) foram álbuns de fotos de atividades de campanha. A maior parte aparece na primeira metade da campanha. Após a segunda semana, as fotos foram dando lugar a postagens com vídeos e banners. Os vídeos eram usados com pouca frequência na pré-campanha, com destaque para trechos de discursos dos candidatos em eventos oficiais publicados no YouTube e divulgados pelo Facebook. Já durante a campanha, foram publicados 11 vídeos diretamente na timeline. A postagem mais relevante da página é o vídeo de encerramento da campanha eleitoral gravado por Passos Coelho (Figura 3). A mensagem de 30 segundos foi vista por 8500 pessoas, curtida por 1035 delas e compartilhada 153 vezes. A página, no entanto, não teve vídeo de abertura da campanha eleitoral. Entre as ações específicas para as redes, destaque para a criação de série de banners temáticos em 5 oportunidades. Foram publicados conteúdos variados, como uma lista de 10 coisas que a oposição não podia negar, uma série sobre ações para os jovens e outra específica para as mulheres, uma série turística chamada “Eu voto por Portugal” usando fotos do País e duas séries com dados econômicos. Outros banners de campanha isolados foram publicados em 8 oportunidades: um deles trazia a contagem regressiva para o dia da eleição, um chamava para o tempo de antena da coligação, um parabenizava os idosos pelo seu dia e 4 deles traziam frases de Passos Coelho e Paulo Portas. Outros três banners com a agenda da campanha foram publicados. O perfil criado pela equipe da coligação no Twitter (Figura 4) foi usado diariamente durante as duas semanas de campanha e também na pré-campanha eleitoral para transmitir eventos ao vivo e para a publicação de conteúdo combinado com as outras redes. Foram frequentes os tweets contendo algum link para a página web da coligação com streaming de evento ao vivo. Combinado à transmissão em vídeo, a equipe transcrevia trechos dos discursos ouvidos e publicá-los na rede. As hashtags #portugalàfrente e #somosmais foram usadas em todos os tweets.

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O perfil @PortugalAFrente foi constantemente alimentado com banners e publicações combinadas vindas do Facebook, do Instagram e do YouTube. Ao todo, o perfil contabiliza 1068 tweets, 2069 seguidores e segue 651 pessoas. Foram publicadas 458 fotos e vídeos diretamente na rede social. Não há registro de interação com os seguidores no período analisado. Os tweets do perfil apresentam algumas curtidas e poucos retweets (RTs) e respostas. Esse cenário demonstra que o perfil não foi capaz de envolver um grande número de pessoas e serviu apenas como informativo das atividades de campanha. Provavelmente o Twitter da coligação foi mais útil para os jornalistas que cobriram as eleições do que para os eleitores. O canal da coligação no YouTube (Figura 5) foi usado como repositório de trechos de discursos dos candidatos na maioria dos casos. A página acumula um total de 77443 visualizações desde sua criação em 5 de junho de 2015. A maioria dos vídeos analisados no período da campanha eleitoral não passa das 100 visualizações cada. Os programas produzidos para o tempo de antena gratuita na televisão foram disponibilizados no YouTube. Uma proposta de interação com o público foi criada a partir do Facebook e do YouTube. A ação “Pedro Passos Coelho responde às quartas” pretendia selecionar uma questão enviada por um eleitor pelo Facebook e responder através de vídeo no YouTube. Foram realizadas duas edições. A primeira, em 23 de setembro, contabiliza apenas 51 visualizações e a segunda, em 29 de setembro, 33. As respostas foram publicadas também no Facebook, o que provavelmente aumentou o alcance dos vídeos gravados por Passos Coelho exclusivamente para a Internet. Já no Facebook, a publicação de lançamento da ação de interação com o público rendeu 251 curtidas, 77 compartilhamentos e 49 comentários, a maioria deles perguntas ao candidato. A publicação deixou a maior parte das perguntas sem resposta. A proposta era direcionar a questão aos candidatos, mas, com exceção das escolhidas para resposta em vídeo, foram respondidas pela equipe do partido. Isso causa uma sensação de participação inválida para o internauta. Tradicionalmente em escritórios de campanhas eleitorais há questionamento sobre a validade da estratégia de participação, visto que nem sempre os candidatos dedicam tempo suficiente para

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responder um bom número de questões. Quem trabalha em campanha se questiona se é uma boa estratégia garantir a fidelidade dos poucos eleitores que tiveram suas perguntas respondidas e desagradar a ampla maioria que ou não foi respondida ou obteve retorno claramente impessoal. No mesmo dia em que a postagem anunciando a criação do espaço “Pedro Passos Coelho e Paulo Portas respondem no Facebook”, o usuário Ricardo Faria escreveu a seguinte questão: “Caro Dr. Passos Coelho.. Primeiro de tudo obrigado por não ter abandonado Portugal. Atualmente possuimos excelentes dados para explodir a nossa economia (petroleo de baixo custo, juros baixos, etc). A coligação possui medidas para lutar contra a subida do petroleo, juros,etc num futuro proximo? Quais? (sic)”. Como resposta, recebeu o seguinte texto da página “Portugal À Frente”: “Boa pergunta, Ricardo Faria! Obrigado. #somosmais” (Figura 6). O perfil da coligação Portugal à Frente no Instagram (Figura 7) possui conteúdo variado, incluindo pequenos vídeos de campanha, fotos de atividades dos candidatos, banner de agenda e quotes dos candidatos. A rede foi alimentada com constância e soma 258 publicações, 999 seguidores e segue um total de 745. Cada postagem tem, em média, menos de 100 curtidas. São poucos os comentários, mas eles aparecem nas últimas fotos publicadas pela equipe de campanha. Em uma foto que mostrava militantes esperando os candidatos Passos Coelho e Paulo Portas para a última atividade de campanha em Lisboa observa-se o comentário participativo de um eleitor que ficou sem resposta: “Esperem por mim”, escreveu o usuário @joaomatosrosa usando a hashtag #somosmais, utilizada pela equipe em todos as postagens no Instagram (Figura 8). O perfil na rede de fotografias Flickr (Figura 9) da coligação foi criado em junho de 2015 e apresenta um grande volume de imagens de todas as atividades dos candidatos. São, ao todo, 7841 fotos publicadas.

Partido Socialista (PS) O portal do Partido Socialista (Figura 10) concentrou todo o conteúdo de campanha produzido para a Internet. Com design moderno e adequado aos

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dispositivos móveis, o site convida o internauta a participar no cabeçalho com a mensagem “Junte-se a nós!”. Da escolha do endereço (costa2015.pt) à capa, o portal revela aposta na consolidação da imagem de António Costa. Apresenta logo na tela inicial uma segunda oferta de proximidade com o eleitor, convidando-o a acompanhar o “Diário de Campanha” do candidato nas redes sociais. Ao rolar a página para baixo, o internauta depara-se, pela ordem, com a sessão de notícias da campanha, na sequência estão as propostas do partido divididas por áreas temáticas (cultura, educação, habitação etc), depois surge uma caixa que mostra tweets com a hashtag #costa2015 propondo debate, uma relação dos candidatos e, por fim, a agenda diária de campanha. Nas redes sociais, o PS usou Facebook, Twitter, Tumblr, Flickr, Instagram e YouTube. Com 50 mil curtidas, a página CostaPS2015 (Figura 11) foi o carro-chefe da campanha do Partido Socialista nas redes sociais. Com uma média alta de comentários, compartilhamentos e curtidas, as postagens diárias mesclavam fotos, vídeos e peças de campanha. As publicações da página seguem o padrão do uso regular das hashtags #costa2015‬ ‪e #euconfio‬. O autor não encontrou registro de interação da página com os usuários e ação de rede participativa com o envolvimento do candidato. Um fato estranho visto que, aparentemente – pelo uso da imagem e do nome do candidato no perfil -, a página se propunha a ser menos oficial e mais pessoal. ‪ No período da campanha eleitoral, encontramos 108 publicações na página oficial Costa 2015 no Facebook, das quais quase a metade são vídeos. O levantamento revela o uso de vídeo publicado diretamente no Facebook em 52 postagens, sendo 5 vídeos do tempo de antena do partido, 28 vídeos gerais de campanha – imagens dos comícios, entrevistas de Costa na televisão – e 19 vídeos de uma ação de rede executada desde a pré-campanha de divulgação de depoimentos de personalidades em apoio ao candidato. Esses vídeos tiveram boa aceitação na página, obtendo os melhores índices de curtidas, compartilhamentos e número de comentários. O recorde no período analisado é do vídeo-depoimento de José Carlos Malato publicado no dia 28 de setembro: 32 mil visualizações, 1049 curtidas, 910 compartilhamentos, 81 comentários. Destaque também para a publicação do vídeo do tempo de antena do

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partido no mesmo dia, que teve 27 mil visualizações, 713 curtidas, 945 compartilhamentos e 66 comentários. A página de António Costa também publicou 4 vezes banners de agenda de campanha, todas na última semana de atividades. Foram criados também outros tipos de banners (5 ao todo) temáticos ou com frases do candidato. O perfil começou a usar, nos últimos dias de campanha, outro recurso com sucesso: a publicação de fotos de atividades de campanha acompanhadas de um pequeno texto. Diferente da publicação de álbum de fotos de atividades, o segundo tipo de postagem mais utilizado pela página (39 vezes no período), a publicação de foto única provoca sentimento de imediatismo e pessoalidade, pois aparenta que o candidato, assim como qualquer usuário normalmente faz, quer compartilhar com seus seguidores um momento pessoal e importante. As 8 postagens de foto única lograram boa aceitação, têm média de 1 mil curtidas cada e muitos comentários de apoio. Todas são de aglomerações de militantes antes de algum evento de campanha. A postagem recorde desse tipo foi feita no último dia de campanha, 2 de outubro, e mostra a descida do Chiado pelos militantes do partido socialista: 2067 curtidas e 1102 compartilhamentos (Figura 12). A equipe do Partido Socialista optou por utilizar o Twitter (Figura 13) com um perfil quase pessoal de António Costa. A frequência de tweets é baixa – dois, três por dia – e o conteúdo é pouco diverso. Foram apenas 30 tweets no período de campanha eleitoral, sendo 2 com fotos e os demais com frases do candidato seguidas da hashtag #costa2015. Com essa estratégia, o perfil do candidato obteve bons resultados apesar do baixo número de seguidores. Não há tweet que não tenha recebido um número plural de curtidas e retweets, no entanto também não há nenhuma interação registrada. São, em média, 10 retweets por postagem. Média elevada para um perfil que conta com apenas 105 tweets desde sua criação, segue 356 pessoas e é seguido por 1511. Uma foto tirada de celular e com pouca qualidade técnica da festa dos militantes do PS na descida do Chiado é o tweet mais relevante do período, contando com 43 retweets e 48 curtidas, além de 5 respostas de pessoas que se identificaram com o evento (“eu estive lá”, escreve @marcelino2) e observações favoráveis (o

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usuário @antoniolivais escreveu: “sem escolta policial nem seguranças para o protegerem. Que luxo. PS, PS, PS...”). Nenhuma das interações obteve resposta do perfil do candidato (Figuras 14 e 15). Assim como o Twitter, é possível observar que o Instagram (Figura 16) do candidato procurou proximidade com o público ao não ser usado para propaganda direta de campanha. Todas as postagens no período eleitoral são de fotografias do candidato em situações diversas. Observe-se aqui que são fotografias profissionais, tratadas e escolhidas com cuidado. Cada imagem, como é comum nessa rede social para facilitar a busca por fotos de um determinado tema, foi publicada acompanhada por várias hashtags ligadas ao candidato e ao local onde a foto foi feita. O perfil tem, ao todo, 181 publicações, 830 seguidores e segue 477 pessoas. Em média, cada publicação tem 90 curtidas. As publicações do Instagram foram compartilhadas também em álbum no Facebook. Uma foto publicada na última semana de campanha de uma atividade na Rua Augusta, em Lisboa, despertou interesse dos seguidores e teve mais comentários do que a média: foram 4, sendo todos positivos (Figura 17). Não há registro de interação com o internauta em nenhuma foto com comentários. A página oficial da campanha no YouTube (Figura 18) foi a mesma do Partido Socialista, utilizada desde 2007. Assim, ao total, a página tem 1361 inscritos e soma 643911 visualizações. Os conteúdos dos vídeos publicados nas duas semanas de campanha eleitoral mostram que não houve produção de material exclusivo para a Internet. É possível encontrar na pré-campanha uma série de 4 depoimentos de António Costa direcionado a categorias específicas (enfermeiros, bombeiros, encarregados de educação e professores) que obtiveram bons índices de audiência em comparação com o resto da página. Eles têm cerca de 3 mil visitas cada. No período da campanha foram publicados os tempos de antena do partido, vídeos de entrevistas de António Costa nas emissoras de televisão de Portugal e os mesmos vídeos-depoimentos publicados no Facebook. Esse material tem média de visualização baixa, cerca de 70 cada.

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Criado para a campanha eleitoral, a página da campanha de António Costa no Flickr (Figura 19) funcionou com repositório de fotografias das atividades. Foram 2252 fotos publicadas no período divididas em álbuns diários e temáticos. A campanha de António Costa publicou também um Tumblr (Figuras 20 e 21) com imagens do candidato. As publicações seguiram padrão de uso de fotos em preto e branco e 5 hashtags: #costa2015 #alternativadeconfianca #partidosocialista #ps #portugal.

Bloco de Esquerda O Bloco de Esquerda aproveitou seu know how nas redes para turbinar sua campanha eleitoral. O portal do partido (Figura 22) reunia notícias sobre a campanha e, já na parte superior, chama o internauta para três opções: conhecer as propostas eleitorais, acessar as redes sociais ou aderir ao Bloco. A campanha contou com o portal Esquerda.Net, anteriormente mantido pelo partido e já consolidado nas redes sociais. Dessa forma, as redes sociais oficiais da campanha do Bloco de Esquerda foram as já existentes redes (Facebook, Twitter, Flickr, Instagram e YouTube) do Esquerda.Net. Soma-se a essa divulgação oficial das atividades do partido a atuação constante de seus membros nas redes sociais. Catarina Martins, por exemplo, mantém uma página pessoal no Facebook com quase 25 mil curtidas, um perfil pessoal no Twitter com 12 mil seguidores e uma conta pessoal no Instagram com 635 seguidores. As redes pessoais da candidata exerceram papel fundamental na estratégia de redes sociais da campanha do Bloco de Esquerda. Entrando em campo com a experiência consolidada, a página Esquerda.Net (Figura 23) envolveu na campanha os seus 35 mil seguidores. Analiso 73 postagens feitas pela página entre os dias 20 de setembro e 2 de outubro de 2015. Desse total, a maior fatia é composta por links externos variados: são links que levam para o portal Esquerda.Net e trazem desde notícias relacionadas à campanha até artigos de opinião e 7 vezes a sessão especial “foto do dia”. Como acontece com os demais partidos, a página também publica muitos álbuns de fotos de atividades de campanha. Foram 18

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no período analisado, sendo esse tipo de publicação o terceiro mais utilizado. Os vídeos foram, depois dos links externos, o tipo de conteúdo utilizado com mais frequência pela página. Foram 20 no total, sendo 3 do tempo de antena do Bloco e 17 de atividades gerais de campanha, propostas de governo e depoimentos. No período mencionado, foram raros outros tipos de publicações. Houve a divulgação de 1 banner de campanha (um carta assinada por Catarina Martins) e 1 foto-legenda (do encerramento da campanha no Porto). Verifica-se que os vídeos do tempo de antena do Bloco de Esquerda obtiveram os melhores resultados de audiência (Figura 24). O último programa eleitoral, por exemplo, publicado no dia 2 de outubro, foi assistido 9200 vezes. Os comentários de internautas são raros nas postagens analisadas. Não há registro de interação da página com os seguidores. Além da página do Esquerda.Net, o perfil pessoal de Catarina Martins (figura 25) também foi peça central da campanha do Bloco de Esquerda nas redes. Com mais de 20 mil seguidores, a página da líder do partido interagiu com o Esquerda.Net durante toda a campanha compartilhando conteúdo. As publicações da página de Catarina Martins priorizam, além da interação com as demais redes da campanha, fotos de bastidores. Para isso, foi criado um álbum chamado “À margem da campanha #legislativas2015” que foi atualizado várias vezes com imagens capturadas pela fotógrafa Paulete Matos. Uma das mais curiosas foi publicada no dia 21 de setembro e mostra a candidata acompanhada por outras três pessoas assistindo ao noticiário em um celular no meio da rua. Catarina passou a campanha compartilhando dezenas de notícias que a citavam. Alguns vídeos de participações da candidata em programas de televisão também foram compartilhados nesse período. As postagens registram bom número de comentários, muitos deles marcando a candidata, mas não há interação com os seguidores. Uma das poucas postagens de campanha feitas diretamente no perfil de Catarina Martins foi feita no dia 1º de outubro, às vésperas das eleições. Um banner

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com a reprodução de uma carta assinada por ela e direcionada aos eleitores portugueses. Foram 420 compartilhamentos, 71 comentários e 773 curtidas. A capa da página também foi atualizada às vésperas da eleição com um banner do Bloco: “Faz a diferença, vota Bloco” diz a peça que destaca o rosto de Catarina. 1192 curtidas, 102 comentários e 188 shares. Assim como no Facebook, no Twitter (Figura 26) a estratégia do Bloco de Esquerda foi parecida. O já consolidado perfil do portal Esquerda.Net foi o carro-chefe de divulgação e o perfil pessoal de Catarina Martins serviu de propulsor dos conteúdos divulgados. Com 11400 mil seguidores e um histórico de 24 mil tweets publicados, o perfil @EsquerdaNet alternou suas publicações do noticiário internacional – com ênfase para a crise dos refugiados – com publicações sobre a campanha do Bloco de Esquerda. Foram publicados os tempos de antena do partido, reportagens sobre as atividades de Catarina Martins e dos demais candidatos e algumas fotos dos eventos. As publicações de campanha eram, em sua maioria, identificadas com as hashtags #Bloco2015, #Legislativas2015 e #Gentedeverdade. O perfil também publicou algumas vezes a agenda da candidata, chamamentos para comícios e atos de campanha, mas não ofereceu cobertura ao vivo dos eventos anunciados. O perfil de Catarina Martins (Figura 27) atuou na divulgação de conteúdos e da agenda de campanha do Bloco de Esquerda no Twitter. No período analisado, os tweets da candidata seguem um padrão: manchete acompanhada de link. Catarina publicou dezenas de reportagens do portal Esquerda.Net seguidas de link para acesso. Nota-se também que o perfil da candidata interagiu com os demais da campanha, compartilhando tweets do Esquerda.Net e de outros membros do Bloco de Esquerda. Os conteúdos do portal objeto de retweets da candidata são reportagens e artigos de opinião, enquanto os retweets de outros membros do partido são fotos de atividades externas de campanha. Não há registro de interação com os seguidores. Os tweets têm boa média de retweets e curtidas, mas poucas respostas. O único traço de pessoalidade no perfil são as publicações via Instagram. As legendas simples e diretas publicadas no Twitter em

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forma de tweet seguido do link para a foto são as que mais se afastam de publicações oficiais de campanha. Assim como no caso das outras redes sociais da campanha do Bloco de Esquerda, a conta do portal Esquerda.Net no Instagram (Figura 28) foi utilizada como conta oficial. Com 557 seguidores e 175 fotos, o perfil publicou, durante a campanha, trechos curtos dos programas de televisão do bloco. Imagens diversas da campanha eleitoral e banners de propaganda política também foram parte do conteúdo. O perfil pessoal de Catarina Martins no Instagram (Figura 29) foi um braço nãooficial da campanha. Com 647 seguidores e 211 publicações desde sua criação, a rede parece ter sido administrada pela própria candidata. Há fotografias pessoais, amadoras, de momentos particulares, sempre acompanhadas de legendas. Também há fotos de campanha nas quais a candidata é sempre personagem central. As publicações têm média de 40 curtidas e alguns comentários. Assim como nas demais redes, não há registro de interação. O perfil do Esquerda.Net no Flickr (Figura 30) foi utilizado na campanha eleitoral para publicação diária de imagens das atividades de campanha separadas por álbuns. A divisão foi feita por atividades, visto que também foram divulgadas outras atividades que não apenas aquelas das quais Catarina Martins participou.

Conclusão Apesar do consenso entre profissionais e acadêmicos sobre a importância da interatividade em ações nas redes sociais da Internet, o que vemos no uso destas pelos políticos há muitos anos é uma constante ausência desse processo de troca. Quando há, são ações isoladas que dificilmente fazem diferença nos programas de governo, nas propostas eleitorais ou nas decisões dos Executivos. Pesquisas conduzidas na década de 90, relatadas no artigo de Stromer-Galley, com os sites das campanhas de 1996 nos Estados Unidos já constavam que naquela época nenhuma das campanhas usava a Internet (na época, apenas sites) para promover discussões públicas com os cidadãos ou destes entre si.

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Uma análise do ciclo eleitoral português de 2009, um ano depois da significativa eleição de Barack Obama, revela que a interação na Internet já havia sigo negligenciada pelos partidos políticos naquela ocasião apesar da tentativa de aproximação ao método norte-americano com a contratação de profissionais que trabalharam na campanha de Obama. A análise de Francisco Rui Cádima observa que naquela eleição a interatividade a partir de plataformas temáticas, como fez Obama, praticamente não existiu, assim como o “efeito rede” não foi gerado. Uma situação muito similar com a que nos deparamos nessa campanha. Em 2015, houve uma tentativa de fazer as campanhas parecerem interativas, como as respostas em vídeo de Passos Coelho, os chamamentos para a participação dos eleitores nos portais das campanhas ou a presença pessoal de Catarina Martins nas redes, mas na verdade nenhuma das campanhas foi, de fato, participativa ou interativa. Tínhamos, em princípio, o objetivo de também entender os motivos dos coordenadores de comunicação das campanhas para essa ausência de interatividade. Pela experiência profissional, o autor se permite fazer algumas suposições: a falta de uma equipe ampla para responder aos eleitores nas redes pode ser um dos motivos; sendo um pouco mais pessimista, também essas iniciativas pouco interativas poderiam ser uma tentativa maquiar a campanha para parecer participativa com o objetivo de enganar o eleitor que se informa pela Internet; a ausência de vínculo entre as equipes que comandaram as redes sociais das campanhas e os militantes partidários, visto que é sabido que pelo menos a Coligação e o PS contrataram empresas para executar esse trabalho, também pode ter prejudicado a possibilidade de contato direto com o eleitor. São apenas suposições, pois a forma mais justa para identificar o motivo da ausência de interatividade seria ouvindo os responsáveis pelas campanhas dos três concorrentes, mas nenhum deles respondeu as diversas tentativas de contato deste pesquisador feitas por telefone, e-mail, redes sociais e formulários de contato nos sites dos partidos. A interação não foi o forte das campanhas eleitorais portuguesas em 2015 e, a julgar pelas tentativas de contato feitas por este pesquisador e ignoradas pela

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comunicação dos partidos, nunca será. Se a comunicação de um grupo partidário não dá atenção aos questionamentos de um jornalista-pesquisador feitos após a agitação do período eleitoral, como imaginar que poderiam responder as questões dos eleitores enviadas durante o turbulento processo de campanha política? Observamos, no caso português, uma presença on-line muito mais focada em preencher um espaço que hoje é praticamente obrigatório para a política – se os eleitores estão na Internet, os que querem ser eleitos também precisam estar lá – do que na construção de um espaço de diálogo e troca de informações. Os candidatos aqui, assim como muitos em outras partes do mundo, parecem entender a Internet como mais um meio para potencializar a divulgação de seus discursos prontos e não como uma oportunidade de fortalecer a representação dos cidadãos a partir de canais pelos quais eles podem expressar suas vontades e colaborar com propostas para um futuro governo.

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Referências bibliográficas ANDUIZA, Eva, CANTIJOCH, Marta; GALLEGO, Aina. Political participation and the Internet: A field essay. Information, Communication & Society. Barcelona: Universitat Autònoma de Barcelona. CÁDIMA, F. Rui (2013), “Política, Net e Cultura Participativa”, Media&Jornalismo. Lisboa. CASTELLS, Manuel (2003). A Galáxia Internet - Reflexões sobre Internet, Negócios e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. CASTELLS, Manuel (1999). A Sociedade em rede. 3ª Edição. V.1. São Paulo: Paz e Terra. MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida; SAMPAIO, Rafael Cardoso; AGGIO, Camilo (org), (2013). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA. RECUERDO, Raquel (2008), Redes sociais na Internet, Editora Sulina, Porto Alegre. STROMER-GALLEY, Jennifer (2013). Interação online e porque os candidates a evitam. In: MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida; SAMPAIO, Rafael Cardoso; AGGIO, Camilo (org). Do clique à urna: internet, redes sociais e eleições no Brasil. Salvador: EDUFBA.

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Figuras

Figura 1: Captura de tela em 11/10/2015 - http://www.portugalafrente.pt/

Figura 1: Captura de tela em 11/10/2015 - http://www.facebook.com/PortugalAFrente

Figura 2: Captura de tela em 11/10/2015 - http://www.facebook.com/PortugalAFrente

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Figura 3: Captura de tela em 11/10/2015 - https://twitter.com/portugalafrente

Figura 4: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.youtube.com/channel/UCfklLVCuRLsJxdoNccGejA/about

Figura 5: Captura de tela em 11/10/2015 https://www.facebook.com/PortugalAFrente/photos/a.372956249570049.1073741830.36440269042 5405/399776546888019/?type=3&comment_id=400075930191414&offset=0&total_comments=43&c omment_tracking={%22tn%22:%22R3%22}

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Figura 6: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/PortugalAFrente.pt

Figura 7: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/PortugalAFrente.pt

Figura 8: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.flickr.com/photos/portugalafrente

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Figura 9: Captura de tela em 11/10/2015 - http://costa2015.pt/

Figura 10: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.facebook.com/CostaPS2015

Figura 11: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.facebook.com/CostaPS2015

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Figura 12: Captura de tela em 11/10/2015 - https://twitter.com/costaps2015

Figura 13: Captura de tela em 10/11/2015 https://twitter.com/CostaPS2015/status/650001941687332864

Figura 14: Captura de tela em 10/11/2015 https://twitter.com/CostaPS2015/status/650001941687332864

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Figura 15: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/costaps2015/

Figura 16: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/p/8V_Vt9SSdE/?takenby=costaps2015

Figura 17: Captura de tela em 11/10/2015 https://www.youtube.com/user/partidosocialista/videos?view=0&flow=grid

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Figura 18: Captura de tela em 10/11/2015 - https://www.flickr.com/photos/134897868@N08

Figura 19: Captura de tela em 11/10/2015 - http://costaps2015.tumblr.com/

Figura 20: Captura de tela em 11/10/2015 - http://costaps2015.tumblr.com/

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Figura 21: Captura de tela em 11/10/2015 - http://www.bloco.org/

Figura 22: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.facebook.com/esquerda.net

Figura 23: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.facebook.com/esquerda.net

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Figura 24: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.facebook.com/catarinamartinsBE

Figura 25: Captura de tela em 11/10/2015 - https://twitter.com/EsquerdaNet

Figura 26: Captura de tela em 11/10/2015 - https://twitter.com/catarina_mart

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Figura 27: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/esquerda_net/

Figura 28: Captura de tela em 11/10/2015 - https://instagram.com/catarina_smartins/

Figura 29: Captura de tela em 11/10/2015 - https://www.flickr.com/photos/bloco_de_esquerda

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