Caracterização Ultra-Sonográfica Dos Tendões Flexores Em Eqüinos: Região Metacarpiana

June 8, 2017 | Autor: Karin Brass | Categoria: Ultrasound Imaging, Ultrasonography, Cross Section, Reference Value
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Arquivos da Faculdade de Veterinária. UFRGS. 29(2):131-138, 2001. ISSN 0101-5230

Recebido/Received: dez 2000

CARACTERIZAÇÃO ULTRA-SONOGRÁFICA DOS TENDÕES FLEXORES EM EQÜINOS: REGIÃO METACARPIANA

ULTRASONOGRAPHIC CHARACTERIZATION OF THE FLEXOR TENDONS IN HORSES: METACARPAL REGION

M. PASIN1, K.E. BRASS2, A.C. ROSAURO3, F.G. OLIVEIRA1, G.M. FIGUEIRÓ1, S.S. FIALHO4 & C.A.M. SILVA5

RESUMO

ABSTRACT

A ecogenicidade, forma, posição, delimitação, alinhamento das fibras e área transversal (AT) dos tendões flexores foram analisados por ultrasonografia em sete zonas da região palmar metacarpiana de sessenta e sete cavalos (21 de hipismo, 23 Puros Sangue de Corrida e 23 Crioulos). As imagens transversais dos tendões flexor digital superficial (TFDS), flexor digital profundo (TFDP) e ligamento acessório do TFDP (LATFDP) mostraram um arranjo de pontos de textura homogênea e as longitudinais o arranjo linear das fibras tendíneas. Foram observadas diferenças na AT entre os diversos tipos raciais reforçando a necessidade de se ter parâmetros de referência. Os cavalos de hipismo apresentaram as maiores médias de AT, seguidos dos PSC e Crioulos. Não houve diferença na AT dos tendões flexores e LATFDP quando se compararam as medidas entre membros esquerdo e direito, podendo a AT dos tendões do membro colateral servir como referência. A relação entre a AT do TFDS e TFDP apresentou variação menor entre raças do que as médias da AT destas estruturas, podendo tornar mais preciso o diagnóstico de alterações.

Sixty seven healthy horses (21 jumpers, 23 thoroughbreds and 23 criollo horses) underwent ultrasound investigation of their palmar metacarpal region. Echogenicity, shape, position, boundaries, fiber alignment and cross-sectional area of the superficial digital flexor tendon (SDFT), deep digital flexor tendon (DDFT) and accessory ligament of the DDFT (AL-DDFT) were assessed at 7 zones of the metacarpus (McIII). Cross-sectional ultrasound images of the SDFT, DDFT and AL-DDFT showed a fine arrangement of dots of homogeneous texture and longitudinal images showed the linear fiber arrangement. Differences found in the CSA of the flexor tendons between breeds indicate the need for reference values. Jumpers had higher mean CSA followed by thoroughbreds and criollos. No differences were found between colateral values so that they can be used for comparison. The relationship between CSA of the SDFT and the DDFT showed less variation between breeds than the CSA of the tendons and its use may turn diagnosis of size differences more precise.

Descritores: tendões flexores, ultra-sonografia, eqüinos.

Key words: flexor tendons, ultrasonography, horses.

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Médico Veterinário, aluno do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 2 Médico Veterinário, Doutor, Prof. Adj. do Departamento de Clínica de Grandes Animais (DCGA) da UFSM. Av. Roraima s/n. 97105-900 Santa Maria, RS. 3 Acadêmico em Medicina Veterinária da UFSM. 4 Médico Veterinário, Mestre. 5 Médico Veterinário, Doutor, Prof. Tit do DCGA da UFSM

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INTRODUÇÃO

idade variando entre dois e 22 anos, 27 machos e 40 fêmeas: 21 de raças utilizadas para hipismo (nove Hanoveranos, sete Brasileiros de Hipismo, e cinco mestiços), 23 Puros Sangue de Corrida (PSC) e 23 Crioulos. Destes, três de hipismo, todos os PSC e 20 dos cavalos Crioulos estavam em treinamento. Os demais não eram montados ou trabalhados há mais de um ano. Somente animais sem história ou evidência clínica de lesão tendínea na região palmar metacarpiana foram incluídos neste trabalho. O comprimento do metacarpo (McIII) foi medido do bordo distal do osso acessório do carpo até o ergot. A seguir foram demarcadas as zonas a serem examinadas. Estas foram identificadas de acordo com os critérios utilizados em cavalos PSC (Genovese et al., 1986): Zona IA: 0-4 cm distal ao osso acessório do carpo (DOAC); Zona IB, 4-8 cm DOAC; Zona IIA, 8-12 cm DOAC; Zona IIB, 12 -16 cm DOAC; Zona IIIA, 16-20 cm DOAC; Zona IIIB, 20-24 cm DOAC; Zona IIIC, 24-28 cm DOAC (Figura 1). Para que a imagem em cada zona correspondesse mais fielmente às previamente descritas em animais com McIII de diferentes tamanhos, foram utilizadas adaptações destas medidas: quando o comprimento do McIII excedia 30cm cada zona correspondia a 4,5 cm (total: 31,5 cm) e, quando media 26 cm ou menos cada zona correspondia a 3,7 cm.

Lesões de tendões e ligamentos são comuns no cavalo atleta, sendo a fadiga muscular considerada a principal causa das tendinites (Rooney & Genovese, 1981). Em cavalos de corrida a estrutura mais afetada é o tendão flexor digital superficial (TFDS), e a maioria das lesões ocorre nos membros anteriores (Reef et al., 1988). Os meios de diagnóstico mais utilizados para avaliar tendões e ligamentos são a inspeção e a palpação. Embora o exame clínico seja fundamental, a ultra-sonografia permite uma avaliação mais precisa e precoce das estruturas envolvidas (Hauser & Rantanen, 1983). A interpretação da imagem ultra-sonográfica de tendões e ligamentos leva em conta a ecogenicidade, o tamanho, a delimitação, a forma e a posição destas estruturas. Ao avaliar o tamanho, a determinação da área transversal (AT) aumenta a precisão do diagnóstico, especialmente nos casos mais sutis (Genovese et al.,1990). O conhecimento da anatomia ultrasonográfica (Denoix, 1994) e das variações, especialmente do tamanho, decorrentes da idade, raça (Hills, 1996) e porte dos animais (Smith et al., 1994), de características individuais e de treinamento (Gillis et al. 1993b, Pasin, 2000), aumenta a precisão e a confiabilidade das mensurações por ocasião da avaliação de alterações tendíneas sutis, crônicas ou em fase de resolução (Hills, 1996). O presente trabalho teve por objetivo caracterizar ultra-sonograficamente os tendões flexor digital superficial (TFDS) e flexor digital profundo (TFDP) e o ligamento acessório do TFDP (LATFDP) dos membros anteriores em cavalos de diferentes tipos raciais, a fim de se obter valores que possam servir como referência.

MATERIAL E MÉTODO Para o estudo ecográfico do TFDS, TFDP e LATFDP utilizou-se 67 cavalos com

Figura 1 – Demarcação das zonas examinadas com ultra-som na região metacarpiana (IA a IIIC).

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A avaliação ultra-sonográfica foi realizada com um aparelho de ultra-soma com transdutor mecânico multi-angular setorial de 7,5 MHz b em tempo real com um anteparo de silicone c acoplado. A superfície palmar metacarpiana foi examinada como um todo, identificando-se as estruturas observadas no sentido proximal a distal, produzindo-se secções transversais e longitudinais, conforme a orientação do transdutor. Posteriormente o TFDS, o TFDP e o LATFDP foram avaliados separadamente quanto a ecogenicidade, forma, posição, delimitação e AT. Foram obtidas, no centro de cada zona examinada, medidas da AT, com recursos do próprio aparelho de ultra-som. Em cada zona determinou-se a relação existente entre a AT do TFDS e a AT do TFDP (AT do TFDS: AT do TFDP). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com grupamentos contendo números diferentes de observações. Foi realizada estatística descritiva e análise de variância para a AT do TFDS, TFDP e LATFDP obtidos por ultra-sonografia, assim como para a relação entre a AT do TFDS e a AT do TFDP. Estes dados foram analisados separadamente por raça e, depois comparados. Foram utilizados teste “F” e teste “T” (Pdiff). A análise estatística do experimento foi realizada utilizando o pacote estatístico Statistical Analysis System – SAS (1990).

encontradas alterações que pudessem ser atribuídas a lesões no TFDS, TFDP, LATFDP, bainhas sinoviais e estruturas associadas. As imagens ecográficas transversais do TFDS e TFDP obtidas nas zonas examinadas (Figura 2) apresentaram uma textura bastante homogênea e características semelhantes às descritas por Reef (1998). Devido à sua grande densidade tecidual, o LATFDP é geralmente a estrutura mais ecogênica (Hauser & Rantanen, 1983), o TFDP é de ecogenicidade intermediária e o TFDS é o menos ecogênico (Gillis et al., 1993a). O músculo interósseo ou ligamento suspensor (LS) apresenta uma diversidade de tecidos na sua constituição, por isso apresentou uma textura mais irregular (Hauser et al., 1985). Nas imagens longitudinais, apesar de se estar usando um transdutor setorial, foi possível observar o arranjo linear das fibras tendíneas (Hauser et al., 1985). Para obtenção de imagens longitudinais, no entanto, o transdutor linear pareceu ser o mais apropriado (Rantanen & McKinnon, 1998). Não houve variação nestes parâmetros entre as raças examinadas. As imagens ultra-sonográficas transversais do TFDS, TFDP e LATFDP da região metacarpiana nas diferentes zonas podem ser observadas na Figura 2. Na Zona IA o TFDS e TFDP apresentaram forma ovalada. O LATFDS iniciou seu curso com forma retangular, sendo bastante amplo no sentido látero-medial. Outras estruturas observadas foram o canal cárpico e o LS, próximo à sua origem, que era difícil de ser delimitado por se encontrar junto ao McIII e entre os metacarpianos acessórios. Na Zona IB o TFDS apresentou o bordo lateral mais afilado e o medial mais arredondado. O TFDP permaneceu com forma ovalada. O LATFDP assumiu forma de lua crescente, acompanhando o contorno do TFDP. Observou-se a presença de líquido no interior da bainha cárpica. A partir da Zona IIA, o TFDS assumiu forma de meia-lua, tornando-se cada vez mais largo e delgado. O TFDP continuava

RESULTADOS E DISCUSSÃO O comprimento do McIII foi em média, 29,78 cm nos cavalos de hipismo, 28,79 cm nos cavalos PSC e 25,32 cm nos cavalos Crioulos. As adaptações feitas para a determinação das zonas em animais com comprimento de McIII tão diverso proporcionou uma demarcação adequada, embora não se tenha excluído totalmente uma variação no local em que foram tomadas as medidas. No exame ultra-sonográfico não foram

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a

b

c

d

e

f

g

Figura 2 - Imagens ultra-sonográficas do tendão flexor digital superficial (S), tendão flexor digital profundo (P) e ligamento acessório do tendão flexor digital profundo (LA) no membro anterior nas zonas IA (a), IB (b), IIA (c), IIB (d), IIIA (e), IIIB (f), IIIC (g).

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superfície palmar da articulação metacarpofalangiana. O TFDP, com forma elíptica, se encontrava sobre a superfície palmar dos ossos sesamóides proximais. O TFDS se apresentava bastante largo e delgado, envolvendo o TFDP. Nem sempre era possível identificar o ligamento anular palmar e a bainha digital, presentes nesta zona. O ligamento intersesamoideano podia ser visualizado em situação palmar à articulação metacarpo-falangiana. A Tabela 1 e a Figura 3 mostram as medidas da AT do TFDS, TFDP e LATFDP. Os valores médios encontrados no membro an-

apresentando forma ovalada e o LATFP forma de lua crescente, em torno do TFDP. Na Zona IIB o TFDS se apresentou em forma de meialua. O LATFDP se uniu ao TFDP, que apresentava forma ovalada. Nesta zona observou-se o início da divisão do LS em dois ramos. Na Zona IIIA o TFDS apresentou forma de meia-lua. O TFDP apresentou forma ovalada, sendo ainda possível distingüir as fibras do LATFDP. O LS dividiu-se em dois ramos. Na Zona IIIB o TFDS envolvia o TFDP, que se tornou elíptico. Também era possível observar os dois ramos do LS. A Zona IIIC corresponde à

Tabela 1 - Média da área transversal (mm2) do tendão flexor digital superficial (TFDS), tendão flexor digital profundo (TFDP), e ligamento acessório do tendão flexor digital profundo (LATFDP) nas sete zonas da região metacarpiana (IA a IIIC) de 21 cavalos de hipismo, 23 Puros Sangue de Corrida (PSC) e 23 Crioulos.

Zona

IA IB IIA IIB IIIA IIIB IIIC

Hipismo

(média ± desvio padrão) 114,73aa ± 3,06 109,60aa ± 2,60 104,87aa ± 2,69 108,21aa ± 2,85 116,12aa ± 3,11 119,16a ± 2,92 124,35 ± 3,25

(média ± desvio padrão) IA IB IIA IIB IIIA IIIB IIIC

IA IB IIA IIB

124,96aa ± 118,92aa ± 107,90aa ± 111,38aa ± 129,32aa ± 150,82a ± 177,64ab ±

3,64 3,22 3,20 3,11 3,63 4,75 5,84

(média ± desvio padrão) 106,78 ± 3,35 96,14b ± 2,86 86,82 ± 3,32 67,79 ± 2,57

Crioulos

PSC TFDS (média ± desvio padrão) 109,16aa ± 101,40bb ± 89,00b ± 95,57bb ± 97,70bb ± 111,12b ± 126,29 ±

2,92 2,49 2,57 2,72 2,97 2,79 3,11

TFDP (média ± desvio padrão) aa

120,95 ± 104,78bb ± 90,42bb ± 87,61bb ± 113,19bb ± 143,11ab ± 178,75a ±

3,47 3,07 3,06 2,97 3,46 4,53 5,42

LATFDP (média ± desvio padrão) 112,02 ± 105,86a ± 86,36 ± 71,08 ±

a,b,c

3,20 2,79 3,17 2,46

(média ± desvio padrão) 88,26bb ± 2,92 81,89cc ± 2,49 79,62c ± 2,57 80,75cc ± 2,72 95,07bb ± 2,97 111,65ab ± 2,79 124,54 ± 3,28

(média ± desvio padrão) 100,70bb ± 97,78bb ± 87,36bb ± 87,47bb ± 109,32bb ± 133,87b ± 162,58b ±

3,47 3,07 3,06 2,97 3,46 4,53 5,73

(média ± desvio padrão) 112,54 ± 104,08a ± 85,19 ± 72,41 ±

3,20 2,73 3,17 2,46

Valores com letras diferentes na mesma linha apresentam diferenças significativas entre raças (p
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