Caril de negócios, acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor

July 22, 2017 | Autor: Patrícia Araújo | Categoria: Psychology, Human Resource Management
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Caril de Negócios acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor

Patrícia Bento Araújo

PORTAL GESTÃO: www.portal-gestao.com

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Patrícia Bento Araújo Patrícia Araújo é Escritora, Consultora de RH e Formadora. Como escritora, colabora com diversas publicações, quer de cariz científico quer literárias. No campo literário, lançou um livro de Poesia denominado “Importunados – Poesia para Revoltados com o Mundo” (Bubok Editora) e dedica-se agora, essencialmente, à escrita de short-stories. Lançou o seu primeiro livro “Ser Psicólogo” (HM Editora), em 2011. Como formadora tem mais de 1500 horas de formação ministrada. É Psicóloga (Membro n.º 269 da Ordem dos Psicólogos Portugueses), Pós-graduada em Gestão de Empresas e Mestre em Psicologia Organizacional pela Universidade do Porto. Paralelamente é professora de Yoga (Federação Portuguesa de Yoga), exerce consultas de psicologia (orientação psicologia positiva-humanista), sendo também docente universitária.

© 2012 Bubok Publishing S.L. ISBN: 978-989-97592-1-3 Porto, Maio de 2012 Patrícia Bento Araújo: [email protected]

Respeite os direitos de autor. Cite esta obra da seguinte forma: Araújo, P. (2012). Caril de Negócios acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor. Apoio: Portal Gestão [www.portalgestao.com]. Bubok Publishing. Porto. [Versão Eletrónica]. Consultado em [Insira aqui a data em que fez download] e disponível em: http://paraujo.bubok.pt 4

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Ao Nuno Nogueira e à Ana Serafim, pela sua coragem em criar e impulsionar o PORTAL DE GESTÃO e por acreditarem em mim. Obrigado.

Dedico também este livro a todos os Leitores do PORTAL DE GESTÃO. Sem vocês, este livro não seria possível.

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ÍNDICE

CAPÍTULO I . ETIQUETA ORGANIZACIONAL 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9.

Etiqueta Organizacional_ Etiqueta Organizacional – “Não há amor como o primeiro”! “Com o meu vestido preto, nunca me comprometo” Caril de Negócios? Etiqueta Empresarial: “É uma mesa portuguesa, com certeza!” A Etiqueta e o fenómeno da “Bolha Pessoal” Pare, escute e olhe! A arte de bem conversar em ambiente de negócios Etiqueta para “tempos de crise” Como o telemóvel pode acabar com o seu negócio!

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CAPÍTULO II. EMPRESAS E NEGÓCIOS: CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 9. 8.

Criatividade nas Organizações: Mais vale tarde do que nunca! Mentoring: Relações Criativas nas empresas Indústrias Criativas Falta de tempo JÁ não é desculpa para não fazer formação: Viva o e-learning! Teletrabalho: Que Vantagens e Desvantagens? Empresas ecologicamente criativas “Entre marido e mulher, podem patrões meter a colher???” Estabilidade ou estagnação? Empreendedorismo de geração em geração…

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CAPÍTULO III. VOCÊ! MELHORE A SUA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL 1. Afinal…trabalhar para quê? 2. VIDA LEAN: Aplique o melhor modelo de Gestão à sua VIDA 3. Seja Voluntário 4. Ataque o mercado com “Cartas de motivação” 5. O Segredo das Cartas de motivação que conquistam empregos! 6. “Karoshi”: é possível matar-se a trabalhar 7. Tem a certeza que quer mesmo ser promovido? 8. 007- Agentes Secretos ao serviço das empresas! 9. Os “4 A’s” para se tornar um profissional de sucesso 10. Quer ser Teletrabalhador? 11. 21 Princípios essenciais de etiqueta em entrevistas de emprego 12. 20 Princípios essenciais de etiqueta para entrevistadores 13. Stress? Reduza a sua vida ao essencial! 14. Se você não arranja emprego, sorria! 15. Invista num PPR mas não esqueça do “PER”! 16. Novas Profissões! 17. Desemprego: AÇÃO ou PreocupAÇÃO? 18. Emprego: A “Técnica da Semente” e o FIO Vermelho do Destino! 19. Gerir o tempo no desemprego?! 20. Arranje trabalho já! 7

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Prefácio Este livro nada tem que ver com caril. Ou se calhar tem muito! Em primeiro lugar, eu sempre fui uma apaixonada por caril, desde a sua cor viva, passando pelo cheiro exótico até chegar ao gosto fabuloso que ele oferece a qualquer prato. Mas aí é que está: podemos fazer qualquer coisa com caril, que tudo se transformará rapidamente…em caril! O caril absorve todos os sabores de alimentos que lá colocamos e ultrapassa todos os outros condimentos que lá pomos. Não é maravilhoso? Por um lado, penso que é o que está a acontecer no mundo do trabalho. Passámos de uma sociedade centrada na família a uma sociedade centrada no trabalho. Somos absorvidos pelo trabalho e pela ambição desmesurada de acumular dinheiro. O trabalho e o dinheiro parece estar a transformar-se no nosso caril. Um outro caril do dia-a-dia é a “crise”: inundou todas as notícias, todas as conversas e anulou tudo o resto. Temos imensas outras coisas no nosso prato, mas só cheiramos caril. O mal não será nosso? Eu acredito que sim. Esta crise mundial, que as pessoas cismam em achar que e portuguesa, transformou todos os portugueses em economistas de café, opinativos e participativos (essa é a parte boa), mas negativos e facilmente manipuláveis (já ninguém vê o que é positivo e facilmente conseguem transformar qualquer coisa em culpa de alguém). Porém não foi por isso que dei este nome a este livro. Em 2009 iniciei a colaboração com o Portal de Gestão, como escritora convidada. Todos os capítulos que aqui encontra, estão lá publicados. Iniciei com temas da etiqueta organizacional, da gestão, da inovação e fui terminar (para já!) na gestão pessoal da carreira e nas novas abordagens perante a vida profissional e pessoal. Sobrevoando todos estes temas, fui misturando os meus conhecimentos científicos, com pitadas de opinião e salpicos de humor. Sempre de alguma forma conectada com os negócios, as organizações e as pessoas, fui acarilando tudo isto numa obra que obra compilo neste livro. Não almejo que sejam receitas (se não, teria chamado o livro de “Receitas e negócios” ou algo assim), mas sim uma misturada de temas, de leitura calma ou consulta ocasional. Espero que, em cada artigo possa refletir sobre a sua carreira ou a sua empresa, sobre o país e o mundo, sobre o passado e o presente e, quem sabe, que possa contribuir de alguma forma para a melhoria da sua vida! Patrícia Araújo 8

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"Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir." Paul Ambroise Ambroise Valery França 1871 / 1945 Poeta/Ensaísta/Crítico

CAPÍTULO I. ETIQUETA ORGANIZACIONAL 9

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1. Etiqueta Organizacional_ No mundo empresarial, tudo acontece a 200km/hora. Essa azáfama de telefonemas, emails, marcações, reuniões, lidar com colegas, fornecedores e clientes, atualizar-se nas novas tecnologias, frequentar formação, etc. poderá fazer com que esqueçamos (caso tenhamos aprendido!) algumas regras essenciais no quotidiano do trabalho. Todos corremos riscos de descurar algo fundamental: a etiqueta. Este é o primeiro de vários artigos dedicado à “Etiqueta nos negócios”. Ao longo destes artigos traremos à luz temas que costumam estar na penumbra: Comunicação, postura e comportamento,

relacionamento

entre

empresas,

relacionamento

interpessoal,

indumentária empresarial, reuniões, cooperação empresarial, ética e responsabilidade social, costumes internacionais, entre outros. O tema da etiqueta nos negócios é, neste momento, transversal a toda e qualquer organização e a todo e qualquer colaborador. Não há exceções! Qualquer setor ou área de atividade tem relações internas e externas. As organizações são sistemas abertos, são organismos vivos e, como tal, relacionam-se uns com outros, com a sociedade e com o contexto histórico-espacial. Este campo de atuação multidisciplinar aparece sob uma a panóplia de nomenclaturas. A expressão “Etiqueta nos negócios” parece realmente ser a mais comum, porém diversos autores utilizam outras expressões como, por exemplo, “Etiqueta Empresarial”, “Protocolo Empresarial”, “Etiqueta Profissional”, “Etiqueta Corporativa”, entre outros. Na minha opinião, nenhum dos termos é totalmente abrangente: a expressão que gosto de utilizar é “Etiqueta Organizacional”, uma vez que a etiqueta aplica-se a todas as organizações, sejam estas empresas ou não. Uma ONG, uma associação sem fins lucrativos ou uma instituição de ensino não são empresas, mas têm de usar e abusar da “Etiqueta Organizacional”, se não, poderão não atingir os seus objetivos. Ao ler este artigo, é provável que pense que já domina a etiqueta organizacional, pois no seu dia-a-dia não-profissional já usa a etiqueta ou, como diriam os nossos pais: as “boas maneiras”. As tais “Boas maneiras” são nos transmitidas pelas gerações anteriores desde o momento em que nascemos e é claro que qualquer um de nós poderá sentir que já sabe como atuar em sociedade e, logo, resta transferir essas competências já adquiridas para o contexto empresarial. Mas na realidade, não é assim tão simples. As boas maneiras que nos ensinaram em casa aplicam-se a relações altamente informais e poderão até ser disruptivas 10

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em contexto empresarial. A correr bem, partimos para o mundo do trabalho com “noções de boas maneiras” e com bom senso apurado na bagagem. Raro é o ensino, secundário, profissional ou até universitário que nos prepara para gerir os nossos próprios comportamentos e atitudes e, muito menos, que nos equipa com a consciência necessária para lidar com os outros em contexto organizacional. Presentemente, cada minuto em que estamos nesse contexto conta para a nossa carreira e, cada vez que nos apresentamos como colaboradores da nossa empresa estamos a representar a organização pela qual “vestimos a camisola”. Precisamos treinar-nos para pensar que a cada minuto que passa, estamos a ser avaliados e analisados e, consequentemente, precisamos treinar a forma como nos comportamos. Para começar a compreender a Etiqueta Organizacional, precisamos compreender o seu significado e um pouco da sua história. Porquê a denominação de “Etiqueta”, já pensou nisso!? Etiqueta não é aquele papelinho pendurado nas roupas ou colado em garrafas? Comecemos pela etimologia. Segundo o dicionário da língua portuguesa (Priberam, 2010), a palavra etiqueta significa “um conjunto de formas ou praxes cerimoniosas em uso na sociedade” e, em simultâneo, significa um “Impresso que identifica o conteúdo, as características ou a composição (em frasco, garrafas, etc.).” É interessante explorar o porquê desta sobreposição de significados na mesma palavra. Segundo Moreno (2010) a palavra etiqueta provem da língua francesa: etiquette, que designava, um pedaço de papel afixado em algo para identificar o seu conteúdo. Passou ser frequentemente usado na indústria têxtil, a partir do séc. XIX, figurando em cada peça de roupa a fim de identificar o seu fabricante. Durante o Absolutismo na França, a burguesia emergente começa a aproximar-se da aristocracia. Nessa altura, vigoravam regras rígidas dentro do palácio do rei e, para que essas normas de conduta no palácio não fossem infringidas era entregue aos visitantes um pedaço de papel — uma etiquette — para indicar qual a conduta adequada para cada ocasião. Daí a pouco tempo o vocábulo passou a designar um código de boas maneiras para a vida social. A aplicabilidade deste código de boas maneiras à vida organizacional parece bastante recente. Apesar de muitos conteúdos da etiqueta organizacional serem tão antigos como a vida em sociedade, as obras com essa exata denominação parecem ter surgido apenas por volta dos anos 90. A designação veio simplificar a abordagem e criar a possibilidade de qualquer pessoa ou organização ter acesso a estes conteúdos e aplicá-los no seu dia-a-dia. 11

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Resta definir “Etiqueta Organizacional” propriamente dita. Podemos defini-la como um conjunto de regras flexíveis, princípios e orientações a utilizar nas organizações em determinado país e em determinado contexto histórico. A etiqueta organizacional é, na realidade, uma série de recomendações de comportamentos socialmente aceites, aplicados e aprofundados para o contexto empresarial. Apesar de algumas dessas recomendações ou linhas orientadoras serem comuns a todos os colaboradores em todo mundo, algumas alteram-se de país para país (ou de cultura para cultura), adaptam-se à localização no tempo (hoje as regras não são as mesmas de há 20 anos atrás) e no espaço (dentro da organização, num almoço de negócios, etc.), podem variar também consoante o setor de atuação, ou pode variar de empresa para empresa, pois cada empresa tem a sua cultura organizacional que poderá incluir também aspetos de etiqueta organizacional recomendados aos colaboradores dessa mesma organização. Referencias Bibliográficas Dicionário da Língua Portuguesa. (2010). Disponível em http://www.priberam.pt Moreno, Cláudio. (2010). Etiqueta. Consultado em Março de 2010 e Retirado da página internet oficial do autor: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/

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2. Etiqueta Organizacional – “Não há amor como o primeiro”! A sabedoria popular costuma dizer que “não há amor como o primeiro”. Em psicologia, este efeito é conhecido como o “efeito de primazia” e foi constatado por investigadores da psicologia experimental em experiências de diversos tipos com seres humanos, levadas a cabo em laboratórios específicos. Daí que facilmente tenha sido aplicado a outras coisas como, por exemplo, às primeiras impressões. È comum lembrarmo-nos da primeira vez que conhecemos uma pessoa (o local, a situação, o que vestia, o que sobressaía, quer pela positiva quer pela negativa) e da ultima vez que estivemos com ela (já agora, a tendência a lembrar das últimas experiências, é chamado o “efeito de recência”), enquanto que as ocasiões em que nos encontramos com essa pessoa entre estas duas situações, tendem a misturar-se na nossa memória. Quando falamos de contactos, sejam pessoais ou profissionais, é costume dizer que "a primeira impressão é a que fica". Obviamente, devemos evitar julgar os outros apenas pelo que vestem ou usam naquele momento, mas claro que existe grande probabilidade desse momento nos marcar…para sempre. Quer seja uma entrevista de emprego, uma reunião, um encontro informal ou qualquer outra situação, é importantíssimo ter alguma consciência de como agimos para causar uma impressão positiva. Por esse motivo, neste segundo artigo na sequência de artigos sobre Etiqueta Organizacional, focamos as primeiras impressões. 1.O primeiro impacto: A imagem O primeiro impacto quando nos encontramos com alguém em contexto de negócios é a imagem da pessoa e boa parte dela é a indumentária. Aprofundaremos este assunto noutro artigo especialmente dedicado a este assunto. Resumidamente, devemos apresentar-nos devidamente limpos, ligeiramente perfumados e com uma indumentária idónea. Tenha a certeza que a sua roupa está limpa e bem engomada, com todos os botões e sem qualquer mancha (tudo isto é mais importante do que a marca da roupa que está a usar!). Acima de tudo, seja congruente e use algo com que se identifique: se tentar a toda a força encaixar-se noutro estilo que não seja harmonioso com a sua personalidade ou que usa só para “estar na moda”, isso vai notar-se mais cedo ou mais tarde. 2.Aperto de Mão ou Beijo na face 13

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Posteriormente, antes mesmo de falar, surge a comunicação não-verbal. Em grande parte das culturas mundiais o primeiro campo de contacto são as mãos. Na cultura Japonesa, por exemplo, não se usa o aperto de mão, pois os japoneses consideram que a energia pessoal flui num ponto no centro da mão, chamado o ponto “Ki” (“Chi para os chineses”). Os Japoneses curvam-se ao cumprimentar e devemos fazer o mesmo, com um ângulo de curvatura idêntico, pois a medida em que nos curvamos indica o grau de relacionamento entre nós. Se for alguém que consideramos num posto hierárquico bastante superior, podemos curvar-nos um pouco mais do que a pessoa. Ao usar o aperto de mão como cumprimento, nunca se deve esmagar a mão da pessoa ou simplesmente deixar a mão mole. Devemos também ter lavado as mãos antes e ter certeza de que não estão transpiradas, pois além de falta de educação, denunciam ansiedade. Tanto homens como mulheres devem arranjar as unhas. Elas devem ser devidamente cortadas e limadas. Unhas roídas passam a imagem de uma pessoa nervosa (a dependência de roer unhas denomina-se “onicofagia” e é uma psicopatologia). O aperto de mão deve ser firme e demonstrar que tem prazer em estar ali, com aquela pessoa. Uma opção ao aperto de mão, é o beijo na face. Na Rússia este é um cumprimento frequente. Porém, em Portugal, o beijo na face é permitido apenas a pessoas que já se conhecem há bastante tempo e é mais utilizado entre pessoas do sexo feminino. Por vezes é utilizado entre um homem e uma mulher, se se conhecem muito bem, mas deve ser ponderada a sua utilização. A utilização do beijo na face ou do aperto de mão pode mudar consoante o setor de atividade: em organizações relacionadas com moda ou televisão, é mais comum. 3.Que cheiro! A partir do momento que cumprimentamos o nosso interlocutor, estamos expostos. Iremos ficar, com certeza a cerca de um metro de distância e, por isso, os odores passam a ser partilhados! Quer homens, quer mulheres devem ter cuidado com perfumes que usam. Deixe o perfume forte e marcante para o fim-de-semana ou para momentos não profissionais. O perfume não deve permanecer no ambiente segundos após a sua saída. Ademais, algumas pessoas são alérgicas a perfumes (a alergia a flores é muito comum, e a maioria dos perfumes contêm extratos de flores ou plantas), daí que o ideal seja evitar fragrâncias fortes. 4.Os olhos são o espelho da Alma 14

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Um outro foco importantíssimo é o olhar. Mais uma vez, o saber popular avisa que “os olhos são o espelho da alma”. Olhar nos olhos da pessoa é sinal de assertividade e segurança. Não se deve desviar o olhar, correndo o risco de parecer tímido ou, por outro lado, olhar para o lado contrário pode demonstrar desinteresse pela pessoa com quem estamos. No caso das mulheres, cuidado com excessos de maquilhagem na zona dos olhos, pois vai fazer com que o interlocutor se centre mais na maquilhagem do que na expressividade. 5.“Say Cheese” Todos sabemos que sorrir é fundamental. Sorrir é educado e assertivo e mostra que está verdadeiramente motivado para estar ali. Não tente fingir um sorriso: um sorriso falso ou chamado “sorriso amarelo” nota-se facilmente. Um observador treinado sabe que quando o sorriso é falso, a zona dos olhos não acompanha o sorriso. Quando sorrimos verdadeiramente, surgem pequenas rídulas na margem dos olhos. Quando forçamos o sorriso, apenas mostramos os dentes e as maças do rosto elevam-se. Se tem dificuldades em sorrir verdadeiramente, pense durante segundos num momento em que esteve realmente feliz. Para sorrir bem, é necessário ter dentes cuidados: ir ao dentista regularmente, fazer uma limpeza e, claro, ter os dentes bem escovados. Se algum dia lhe aconteceu no primeiro encontro com uma pessoa, ela ter algo nos dentes, com certeza nunca mais se esqueceu! 6.Finalmente, a palavra Por fim, surgirá o cumprimento verbal inicial. Em contexto empresarial, este deverá ser claro e conciso. Algo como "Bom dia", "Boa tarde" ou "Boa noite" pode parecer parco, mas expressa simpatia e objetividade. Devemos tratar o nosso interlocutor formalmente, seja por “Senhor”, “Doutor” ou “Engenheiro” até que a pessoa toque nesse assunto. Se a pessoa não puxar pelo tema, poderemos fazê-lo nós, com bom senso. Claro que se trata de uma avaliação subjetiva, porém se ambos os interlocutores têm idade e formação aproximadas, pode sugerir “deixar cair os títulos”. Se a pessoa é mais velha, tem mais formação académica ou é superior hierárquico, devemos deixar a iniciativa para o outro interlocutor. 7.Bom Cartão, boa impressão! Já não há motivos para não ter um cartão pessoal para entregar a quer que seja! As desculpas “Acabaram os cartões ontem!” ou “Não tenho tido tempo para mandar fazer” ou “Estão neste momento no Gabinete” já não “colam” nos dias de hoje! Numa gráfica 15

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não são caros e se preferir pode fazê-los ao seu gosto numa impressora qualquer, comprando papel com gramagem superior. É ideal que a entrega do cartão seja feita no início do contacto, porém, há quem preferia utilizá-lo como mote de despedida. Opte por algo simples e elegante, com duas cores no máximo e coloque todos os seus contactos. Em alguns casos, pode querer fazer dois tipos de cartões: um com todos os contactos e outro apenas com os contactos que deseja dar a conhecer em determinada situação (por exemplo, apenas os contactos eletrónicos, ou apenas os contactos profissionais). Por último, invista num porta-cartões: é elegante, demonstra planeamento e cuidado e mantém os cartões longe de sítios onde se possam danificar.

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3. “Com o meu vestido preto, nunca me comprometo” Cada vez que saímos à rua, quer queiramos quer não, transmitimos algo aos outros apenas pela forma como vestimos1. “O vestuário é comunicação”, afirmou Umberto Eco na obra “A Psicologia do Vestir”. Como indivíduos, podemos vestir-nos da forma que mais nos agrada e apetece, graças a uma liberdade conquistada há algumas décadas. Relembremos que há apenas 40 anos existiam fortes restrições em Portugal quanto à forma de vestir, principalmente no que respeita às mulheres. Chegaram mesmo a existir documentos escritos e oficiais, prescrevendo o tipo de apresentação física e os comportamentos sociais a ser seguidos, por exemplo, por mulheres que exercessem função de professoras (Mónica, 1977). Além disso, sabemos que noutros países algumas restrições ainda existem como, por exemplo, em países de religião muçulmana é comum ser obrigatório (ou aconselhado, consoante a cultura) que as mulheres (mesmo em contexto empresarial) usem um lenço curto na cabeça (chamado hijab), ou um lenço comprido (chamado Chador), ou um tecido que cubra pés e que só permita ver os olhos (o Niqab) ou em casos extremos, uma vez que tapa todo o corpo e tapa também os olhos com uma rede, a atualmente famosa Burqa. Muitas vezes as proibições não estão escritas mas são socialmente partilhadas, ou seja, é socialmente aceite que todos se vistam de determinada forma e, logo, quem se veste diferente é considerado “desviante” e assim surge a pressão social. No mundo empresarial, isto também acontece, em parte. Existe realmente uma pressão social para um “vestir executivo”. Em alguns países (por exemplo, nos Estados Unidos) essa pressão chegou a um ponto tal que, para aliviar a tensão, foram criadas por exemplo, as “Casual Fridays”: um dia, por semana, a organização liberta a/o colaborador/a da obrigação de vestir formalmente! Sem cair em pressões limitadoras da liberdade pessoal, vamos refletir sobre o código de etiqueta de indumentária em vigor, ou seja, sobre o que é considerado adequado utilizar no quotidiano profissional. Limpeza, perfume agradável e não demasiado forte, roupas sem manchas e bem passada a ferro. Cabelos também bem lavados (brilhantes é sinal de saúde capilar), bem cortados, penteados e que nunca tapem os olhos. 1. A escolha da indumentária, quer em homens quer em mulheres deve ser adequada a cada ocasião. Avalie o tipo de compromisso que terá e depois escolha o conjunto adequado. 1 Para explorar mais sobre este assunto, poderá ler a famosa obra “Psicologia do Vestir” de Umberto Eco, Francesco Alberoni e Gillo Dorfles (Editora: Assírio & Alvim – Reedição 1989 Coleção: Arte e Produção)

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2. A roupa de um profissional deve ter um aspeto semelhante até ao final do dia, por isso, é importante dar preferência a tecidos que amarrotem pouco. Contudo, imprevistos acontecem a toda a hora. No caso das mulheres, devem ter sempre uma blusa ou camisola extra e no caso dos homens um blazer e uma gravata. Se não tem espaço no gabinete, pode deixá-los na mala do carro, devidamente dobrados num saco ou porta fatos. 3. Obviamente, o essencial são os fatos! Quer homens quer mulheres devem possuir pelo menos 3 a 4 fatos, preferencialmente de cores clássicas, como preto, cinzento, Bordeux. Em caso de não ser uma pessoa de fatos, pode ter vários Blazer clássicos que combinem com várias calças. Seja como for, os conjuntos devem ter poucos “rodriguinhos”, ter qualidade, cair bem no corpo, serem confortáveis e funcionais e ter colarinhos impecáveis. O colarinho enquadra o seu rosto, e é para o rosto que mais olhamos quando estamos a trabalhar com outras pessoas. 4. As mulheres devem evitar cair em modas excessivas, decotes, transparências, roupas demasiado justas ou excesso de acessórios (se vai sair socialmente a seguir ao horário de expediente, deixe alguns acessórios no carro ou na carteira para os momentos informais). As saias nunca devem cair acima dos joelhos, mas sim dois a três dedos abaixo. Deve-se ter precaução na qualidade e quantidade de maquilhagem. Devem também ter cuidado com as sandálias. As sandálias devem ser usadas por pessoas que tenham pés sem grandes “defeitos”… digamos! Por certo não queremos ser rotulados por causa de determinada característica dos nossos pés! 5. Os homens devem usar preferencialmente camisas de mangas compridas, dobradas (só em caso de calor) e deixar as de manga curta para momentos informais. O punho da camisa deve ficar dois dedos abaixo da manga do Blazer (mas não cair em cima da mão). As calças, devidamente vincadas devem cobrir o peito do pé e não tapar o salto do sapato. A gravata deve tocar o início da fivela do cinto e nunca deve ser usada dois dias seguidos. A gravata de cor única demonstra segurança e estabilidade. Há quem defenda que o pregador de gravata está “fora de moda”, mas quem gosta deve usar, desde que seja sóbrio (na realidade, é um objeto funcional porque, por vezes, as gravastes são acessórios sujeitos a acidentes, por exemplo, num jantar de negócios!). Em vez de usar camisa e gravata, podem optar pela camisola de gola alta, de uma única cor, por debaixo do blazer. Devem usar-se meias da cor do sapato ou das calças e de tamanho certo, de forma a que quando se sentar não se veja a pele da perna. Por mais incómodo que seja, a barba deve ser feita todos os dias. Se usar barba comprida ou bigode, deve fazer o contorno pelo menos dia sim, dia não. 18

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6. Há quem defenda que os Jeans são inadequados para o trabalho. Tudo depende da organização em que nos inserimos ou do tipo de encontro/reunião. Se o ambiente geral não é demasiado formal, podem ser usados, desde que devidamente equilibrados, com uma camisa/blusa e um blazer, seguindo todos os restantes conselhos. 7. Não se deve descurar os sapatos. Apesar de ser a zona para a qual existe menos probabilidade dos outros olharem, se os sapatos estiverem velhos, com saltos gastos ou mal engraxados, podem comprometer a sua imagem. 8. Nunca parta do princípio de que gastar um ou dois salários num fato ou num conjunto é bom! Existem realmente bons fatos de marcas caríssimas, mas que podem não lhe cair bem. Além disso, itens que ostentem a marca demasiado visível não são adequados para o ambiente profissional: podem denunciar ostentação e arrogância. 9. As pastas executivas, sejam de portátil ou outras, devem ser de boa qualidade e de cor escura. 10. Observe a forma como os seus colegas e superiores vestem, sem julgar. Sem ser escravo do Dress Code, tire algumas observações de forma a que nunca se sinta destoar. Se estiver totalmente sem ideias, observe várias revistas com fotografias de homens e mulheres de negócios e tire algumas ideias. Vestir é comunicar. Ao vestir de determinada forma está a comunicar que tipo de personalidade possui, por isso, esforce-se para que a sua indumentária esteja em harmonia com o profissional quer ser e não com o que quer parecer. Depois de interiorizar estes princípios, esforce-se por não julgar os outros apenas com base no que vestem, pois também não gostaria que o julgassem. Se acha que a pessoa não está a cumprir alguns princípios básicos e quer agir discretamente pode, por exemplo, reencaminhar este artigo a todos os seus colegas! Referências Bibliográficas Mónica, F. (1977). Educação e Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa. Presença

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4.

Caril de Negócios?

Cada vez mais empresas incentivam as refeições de negócios. Algumas reservam este privilégio apenas para alguns colaboradores e para clientes especiais, mas se a prática tem permanecido no tempo há tantas décadas (se não mesmo séculos!), então deve ter valor. Atualmente, estes encontros à mesa são encarados com naturalidade. Mas será que não vai desembocar num “sarrabulho de negócios”? Como em tudo, existem vantagens e desvantagens e reflexões a fazer. 1. Perda de tempo e dinheiro ou investimento? Com certeza há organizações que sentem que pagar almoços de negócios é um desperdício de dinheiro (e de tempo): depende mesmo da política e da experiência da empresa. Aparentemente, fechar negócio numa mesa numa sala de reuniões parece a mesmíssima coisa que fechar negócio num restaurante, mas na realidade não o é. Já veremos as vantagens e desvantagens. Todavia, existem organizações que sentem que se trata de um investimento. Por um lado se for um colaborador, este sentirá autonomia e confiança por parte da sua empresa, e valorizará a carreira desenvolvida. Pelo lado do cliente, sentir-se-á mais acolhido e “mimado”. Por último, a imagem da empresa sai reforçada, quer para clientes quer para a sociedade em geral (o “palavra passa palavra” é a meçlhor publicidade que uma organização pode ter). Poderá tornar-se um desperdício se o colaborador se “esquecer” que está naquela refeição de negócios para representar a empresa e não para se divertir à custa da empresa. Por isso, a organização deve ter algumas linhas orientadoras para despesas bem como controle, claro. Em última análise, a longo prazo parece ter-se tornado numa estratégia eficaz de captação e fidelização de clientes. 2. Vantagens e desvantagens? A grande vantagem é a informalidade. É mais fácil falar de assuntos de trabalho no ambiente descontraído de um restaurante. Numa refeição de negócios é possível avaliar o comportamento da pessoa/cliente/parceiro fora do ambiente profissional, e tentar inferir (com cuidado), algumas características personalísticas que poderão dar pistas para o tipo de cliente que se poderá tornar.

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A maior desvantagem é ser-se avaliado enquanto se come! Por outro lado, pode correr o risco de escolher um restaurante que não agrade ao convidado e, por exemplo, levá-lo a um rodízio

e

descobrir

na

hora

que

ele

é

vegetariano…

Existe também a óbvia falta de privacidade, o inevitável barulho que pode ser uma barreira na comunicação (e gerar até mal-entendidos) e o risco de ter “agentes” a tentar ouvir detalhes confidenciais de ambas as empresas (a “espionagem industrial” veio para ficar). Por outro lado, estará sempre a ser interrompido pelos empregados para fazer as escolhas. Por último, poderá encontrar a última pessoa que lhe convinha encontrar (um outro cliente que nunca foi convidado para um almoço de negócios, a ex-mulher/marido, a amigalhaço futebolístico, etc.) e isto poderá por em causa a sua imagem e a da empresa perante o seu convidado. 3. Pequeno-Almoço, almoço ou jantar O Pequeno-Almoço de negócios está a tornar-se bastante conceituado. É menos complicado escolher o local (café, restaurante, hotel ou mesmo na empresa, por ser fácil de servir), e costuma durar menos tempo que um almoço: no máximo 90 minutos (usualmente entre as 07h30/08h até às 09h). É mais rápido, não afeta o tanto horário de expediente e…é mais barato! Esse parece ter sido um motivo determinante para muitas empresas. O almoço deve durar no máximo 2 horas. Tem a vantagem de não interferir tanto com a vida privada dos convidados, são geralmente produtivos porque as pessoas ainda não estão tão cansados como num jantar (partindo do principio que trabalharam o dia todo). Todos os participantes devem ter cuidado de não escolher bebidas alcoólicas (ou beber pouco) e escolher uma refeição leve se vão retornar ao trabalho. O jantar nunca deverá ser a primeira vez que se leva um cliente a uma refeição de negócios, pois trata-se de algo mais formal e por outro lado, um pouco mais intimo. Embora o assunto predominante seja de cariz profissional, é uma excelente ocasião para se estreitar relacionamentos. É adequado falar um pouco de trivialidades, criar o ambiente (mais ou menos até ao momento em que chega o prato principal, depois pode-se entrar no negócio puro e duro). Mas é necessário ter extremo cuidado com temas polémicos (sexo, religião, política e futebol). Evite falar de assuntos pessoais, tentar ser muito engraçado e fazer piadas (principalmente estereotipadas! Isso pode mesmo causar a perda de um negócio).

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4. Como e quem Convidar Pode-se convidar clientes, parceiros, fornecedores e até novos colaboradores (como forma de acolhimento), etc. É de mau tom convidar superiores hierárquicos, principalmente para jantares caseiros, a não ser que esteja a retribuir uma jantar ou se já eram amigos de longa data antes de se tornarem chefe/subordinado. Em todos os casos, nunca convidar alguém sem motivo nenhum, seja que pessoa for. Poderá passar a imagem de “graxista” ou de esbanjador do orçamento da empresa. Durante o convite nunca esquecer de perguntar ao convidado se tem restrições alimentares ou preferências. Posteriormente, há que ter algumas atenções básicas:  Escolher um restaurante cómodo, calmo e reservar com antecedência; como anfitrião, sugira pelo menos duas opções de locais.  Em caso de, no último momento, não poder comparecer, nunca mande ninguém telefonar para a pessoa a dar o recado: ligar pessoalmente a desmarcar ou remarcar é imprescindível.  Apesar de poder parecer insignificante, a distribuição dos lugares é um fator importante neste tipo de refeições. O anfitrião cede sempre o melhor lugar (por exemplo, com vista para o mar, em vez de vista para a parede!). Dado que o anfitrião é o primeiro a chegar (sem falta!) e que é ele que indica os lugares dos convidados, se estiver neste papel reflita um pouco sobre as características das pessoas que vão participar nessa refeição. Esforce-se por criar harmonia, por exemplo: (i) Se alguém é estrangeiro, coloque ao seu lado alguém que fale a sua língua (ou pelo menos inglês, pois é realmente a “língua mais universal”); (ii) Pessoas extrovertidas devem ser estrategicamente colocadas para contribuir para a fluência da conversa; (iii) Alterne Homens e mulheres. Se houver um casal, os cônjuges devem ficar frente a frente; (iv) Alterne as pessoas tímidas com as conversadoras e as pessoas mais jovens com menos jovens (afinal, os opostos atraem-se!).  Durante a refeição não são adequados os comentários sobre preços de pratos. Nunca chame o empregado de “amigo”, “chefe”, “rapaz”, não estale os dedos, não assobie e não bata com um garfo no copo! Além disso, nunca se deve criticar empresa ou colegas de trabalho.

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 Como convidado, nunca peça para levar a esposa/marido. se chegar mais cedo, espere pelo anfitrião e não desarrume a mesa. Peça apenas água. Se estiver atrasado, deve ligar a avisar, pois atrasos de mais de 15 minutos não são apropriados. O convidado deve evitar escolher bebidas e pratos caros.  Como anfitrião, fique atento para possíveis sinais de finalização do convidado, como por exemplo, pousar o guardanapo, afastar-se da mesa, inquietação, olhar para o relógio, etc. Se, pelo contrário, a pessoa não demonstra pressa e é um potencial ou atual parceiro de negócios importante, saia da mesa por uns segundos e desmarque algum compromisso que tenha, se puder. A regra final é de ouro: É elevado carisma, sensibilidade e bom tom enviar um email personalizado (no próprio dia ou no dia seguinte) a agradecer a companhia dos convidados.

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5. Etiqueta Empresarial: “É uma mesa portuguesa, com certeza!” Já tivemos oportunidade de refletir sobre as vantagens e desvantagens das refeições de negócios. Agora, torna-se imperativo falar da etiqueta nessa mesa de negócios. Influenciados também pela nossa atitude de “à moda portuguesa”, parece que os empresários portugueses abraçaram esta prática de convidar clientes e parceiros para uma refeição de negócios. É um facto que Portugal é considerado um dos países com melhor gastronomia da Europa (quiçá do mundo!) e estranho seria se esta tradição não penetrasse o mundo das parcerias empresariais. Porém, as refeições de negócios são as que mais obrigam a um comportamento adequado, inteligente e ponderado e, por isso, a “Mesa portuguesa”, exige redobrada atenção...

1. À chegada Quem convida deve chegar sempre primeiro. Ao chegar, não estenda a mão para quem já estiver a comer: use apenas um cumprimento verbal. Sente-se e tome consciência da sua comunicação corporal. Esforce-se por ter gestos calmos, graciosos e elegantes. Se encontrar pessoas conhecidas, cumprimente-os de preferência acenando em vez de usar o aperto de mão (este só deve ser utilizado quando ambos têm as mãos lavadas). Não se demore no cumprimento. Diga apenas: “Olá, como vai?”, “Prazer em vê-lo!”, “Depois eu ligo para conversarmos!”. Se o restaurante não tiver bengaleiro, peça uma cadeira extra para pousar bolsas, casacos, etc. Não peça nada senão água, até que todos comecem a fazer as suas escolhas.

2. Sentar e Escolher Segure a cadeira firmemente e sente-se com um único movimento. Sente-se coma coluna ereta e com os braços junto ao corpo. Na cultura oriental é aceitável curvar-se sobre o prato. Caso o guardanapo seja de pano, coloque no colo na horizontal. Por falar em oriental, se escolheu um restaurante oriental, por exemplo, chinês ou japonês, deve saber comer com pauzinhos. Não que seja errado adotar os nossos talheres, mas fica sempre bem mostrar que sabe um pouco de cada cultura, principalmente se o convidado é dessa cultura. Caso o convidado corrija por exemplo a forma como manuseia os 24

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pauzinhos, aproveite para mostrar que quer aprender e peça conselhos (não se mostre arrogante). Os chamados “Pauzinhos” são normalmente feitos em madeira, bambu, marfim ou metal, e mais recentemente de plástico. São manuseados com a mão direita, entre o dedo polegar e os dedos anelar, médio e indicador, e servem para apanhar pedaços de comida ou empurrá-los diretamente da tigela para a boca. Segundo a Wikipedia, “a palavra em mandarim para os pauzinhos é 筷子 (kuàizi), em que o caracter 筷 significa "objetos de bambu para comer rapidamente". Sendo originários da China antiga foram no entanto profusamente utilizados em todo o leste asiático”. Nunca escolha o prato mais caro, caso seja o convidado. Não receie pedir esclarecimentos ao empregado sobre o menu (atenção para os conselhos de empregados insistentes: geralmente são pratos com pouca saída). Não chame o empregado com estalos de dedos, gritando ou chamando “chefe”. Pense duas vezes antes de pedir ou experimentar algo diferente, pois poderá meter-se em grandes alhadas! Se tal acontecer, observe os outros calmamente e vá replicando os seus movimentos discretamente. Se não bebe, não há problema em recusar bebidas alcoólicas. Explique aos anfitriões: “Obrigado(a), não bebo bebidas alcoólicas”. Se o emprego lhe serve uma bebida alcoólica, diga apenas “Não, obrigado”. Quando recusar, não coloque a mão no copo, basta apenas um dedo na borda do copo. Se bebe, peça o menos possível mas de preferência aguarde sempre que quem convidou peça as bebidas… Ter alguns conhecimentos sobre enologia pode ser uma mais-valia numa refeição de negócios. No couvert, as azeitonas devem ser comidas com os dedos e para retirar o caroço da boca devem ser usados os dedos também. Se estas vierem a enfeitar uma sala deve-se levar o garfo à boca e retirar com o garfo. O pão é partido com as mãos, nunca com a faca ou com a boca. Deve ser comido como entrada com manteiga, queijo ou patê e as migalhas devem cair dentro do prato. Muitas vezes as pessoas atrapalham-se e usam o pratinho à sua direita, ou seja, o do vizinho. O correto é utilizar o pratinho do pão que fica à sua esquerda. Não se penteie, maquie ou leve as mãos constantemente ao cabelo.

3. À mesa Não se engane na qualidade de copos: Fino e alto é uma flute de champagne, o maior é água ou sumo, o médio é de vinho tinto e o menor é de vinho branco. Saiba distinguir talheres de peixe de talheres de carne. 25

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Se a comida estiver quente, não assopre: aguarde que ela esfrie normalmente. Nunca comece a comer antes dos outros: espere que todos estejam servidos, e comecem juntos (e deve esforçar-se para que terminem todos juntos). Não se corta todo o alimento de uma só vez, corta-se em pedacinhos pequenos. Leve a colher de sopa á boa pela lateral, não faça barulho ao comer sopa nem vire o prato da mesma. Conserve os cotovelos junto ao corpo, sem apoiá-los na mesa durante a refeição. Antes de levar o copo à boca, passe o guardanapo pelos lábios mesmo que não sinta essa necessidade. Mastigue silenciosamente e de boca fechada e não gesticule com os talheres. A faca serve apenas para cortar e depois de usá-la, pouse-a prato com a serrilha voltada para si. Quando os pratos surgem bem decorados podemos pensar que as decorações não se comem, mas grande parte dos legumes e outros elementos decorados são mesmo para comer! Não se estique por cima da mesa para chegar a algo: peça aos outros convidados para fazer o favor de lhe passarem o que necessita.

4. Uma pausa? Preferencialmente, não se sai da mesa antes de terminada a refeição, exceto se for realmente inevitável. Se fizer uma pausa, para ir à casa de banho por exemplo, deve deixar os talheres em cima do prato em forma de acento circunflexo. Ao sair da mesa coloque o guardanapo em cima da toalha, à esquerda do prato. Não arraste a cadeira quando se levantar e coloque a cadeira no lugar sem arrastar. Se fizer uma pausa sem sair da mesa, por exemplo, para prestar atenção a alguma parte da conversa ou falar, se ficar com os talheres na mão, a ponta da faca e os dentes do garfo devem sempre apontar para baixo.

5. Finalizar Em princípio, todos conhecemos o código de comunicação que sinaliza que terminámos aquele prato: colocar os talheres sobre o prato, juntinhos, à direita, na posição do relógio das 15h00, o garfo com os dentes para cima e a faca com a lâmina voltada para nós próprios. Nunca se deve deixar os talheres cruzados, nem empurrar o prato para a frente quando se termina: deixe-o onde está.

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No final da sobremesa, os talheres devem ser postos no prato que vem por debaixo da taça pois não é adequado deixá-los dentro da taça. Caso não haja prato, a colher fica sobre a mesa mesmo, à direita da taça. Não palite os dentes em público (se é uma pessoa que tem essa necessidade, traga fio dental na carteira e vá ao W.C.); Em caso de brinde, o convidado deve tomar pelo menos um gole antes de pousar a taça. Deve-se brindar de preferência de pé. Se preferem brindar sentados, nunca se brinda com o cotovelo pousado na mesa (isto acontece por vezes por distração, quando por exemplo, há um discurso de brinde muito longo e o braço começa a cansar) Nunca se brinda com o copo vazio. Regra final: Quem convidou paga a conta. Não há exceções…mesmo para aqueles que pensam que as mulheres estão sempre dispensadas de pagar. Se você já conhece o convidado de contactos profissionais anteriores e ele insistir, não há problema se concordarem em dividir a conta. [Considerações quanto a Gorjetas: É internacionalmente de bom-tom deixar gorjeta em quase todos os países e em alguns a gorjeta já vem incluída na conta. Porém, em países como o Japão, por exemplo, dar gorjetas é um insulto. Na Áustria, Bahamas, Argentina, Guatemala, etc., a média de gorjetas ronda os 10 %. Em países como Samoa, Omã, Dinamarca, Singapura, Ilhas Fiji, Tailândia e Emirados unidos não é costume dar gorjeta. Outros países parecem ter tradição de ir até aos 15% como é o caso da Irlanda, México, Rússia e Canadá. Nos Estados Unidos a gorjeta pode ir até 20%! Em caso de dúvida, o melhor é fazer uma pesquisa detalhada antes de ir para o país em causa. Mesmo na internet encontra vários guias de viagens detalhados sobre este assunto.] Por último, é de evitar fazer reclamações sobre o serviço ou sobre os pratos em voz alta. Se for o caso, faça-as de forma discreta.

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6.

A Etiqueta e o fenómeno da “Bolha Pessoal”

Já alguma vez lhe aconteceu sentir-se invadido no seu espaço? Já sentiu que alguém se estava a aproximar em demasia de si? Alguém se debruçou sobre a sua secretária ocupando o seu “espaço pessoal”? Já refletiu se tem uma “bolha” muito pequena ou muito grande? Pois é, penso que todos nós, em certa altura nas nossas vidas já fomos confrontados com uma situação semelhante. Talvez no trabalho, talvez num encontro social ou até numa multidão como, por exemplo, um concerto ou um desfile na rua. É uma questão de etiqueta organizacional saber manter as distâncias interpessoais corretas para com os nossos interlocutores. Foi o autor Edward Hall2 em 1966 que foi pioneiro na reflexão científica sobre o tema do “espaço pessoal” ou distância interpessoal, ou se quisermos, em termos leigos, a nossa “bolha”. Após vários estudos empíricos, Hall conclui que as distâncias sociais eram mais ou menos regulares em todas as pessoas, mas posteriormente fez também estudos comparados em diferentes culturas e países. A “bolha” ou o espaço pessoal refere-se a uma área com limites invisíveis que cerca o corpo de cada um de nós, sendo o nosso território portátil. Essa noção psicológica do nosso espaço é óbvia para todos nós e quando essa “bolha” é invadida fisicamente, normalmente recorremos a técnicas para afastar esse intruso. Hall propôs quatro tipos de distâncias pessoais na interação humana: (1) Distância íntima, (2) Distância pessoal, (3) Distância social e (4) Distância pública. Os valores em centímetros abaixo apresentados são valores médios, pois cada pessoa tem a sua distância ideal, por isso, há pessoas que tê uma “bolha pequena” ou uma “bolha grande”. Contudo isso tem também relação direta com a cultura de cada país (que que sabemos, influi depois na cultural organizacional) A distância íntima (até aos cinquenta centímetros) é claramente uma distância de um compromisso. Um casal de namorados, pais e filhos ou grandes amigos costumam conviver a esta distância. Estamos completamente expostos: características do rosto, corpo, odor, temperatura, etc. Só deixamos entrar nesta zona pessoas por quem temos afetos e quando

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Para saber mais, poderá ler a obra original do autor: Hall, Edward T. (1966), A Dimensão Oculta, Lisboa: Relógio D'Água.

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esta distância é invadida usualmente as defendem-se com rigidez muscular, olhar penetrante. A distância pessoal (entre cinquenta centímetros e um metro e meio) não ocorre tanto em formato de bolha, pois exige mais comprimento para a frente do que para os lados ou para trás, pois é no “face a face” que nos sentimos mais invadidos. É a distância que utilizámos quando estamos no elevador com alguém, quando esperamos pelo metro ou numa sala de espera. Se nos sentirmos ameaçados temos tendência a afastarmo-nos um pouco, nem que discretamente. A distância social (entre um metro e meio e dois metros) é a mais comum em ambientes profissionais, mas é gerida pela pessoa consoante o estatuto das pessoas com que interage. Com chefias há tendência a aumentar o espaço, porém entre colegas de trabalho há tendência a não ser tão grande. A distância pública (mais de dois metros) é a que utilizamos para estar com desconhecidos e onde agimos mais formalmente. É também utilizada por oradores, ou personagens públicas ou oficiais. É através desta distância que podemos também perceber se nos sentimos bem em multidões ou não. Como já referimos, tudo depende de pessoa para pessoa. Por exemplo, há pessoas que não se sentem bem na distância pública e desenvolvem até fobia a falar em público. Por outro lado, há quem não se sinta bem com distâncias íntimos o que poderá indicar um medo de compromissos. A distância íntima ou até a pessoal podem ser condicionadas pelo sexo dos intervenientes. Por exemplo, duas colegas de trabalho mulheres podem aproximar-se mais do que uma colega do sexo feminino ou outro do sexo masculino. Este assunto está em alta nos últimos anos no meio empresarial, principalmente no que respeita ao assédio sexual no local de trabalho. Este assunto tem sido altamente debatido principalmente nos Estados Unidos que apresentam elevada taxa de assédio. A título de curiosidade, vejamos alguns estudos atuais. Por exemplo, em 2006, a Comissão sobre Igualdade de Oportunidades dos Estados Unidos recebeu 12.025 queixas de assédio sexual no local de trabalho, sendo que 15,4 % dessas queixas foram apresentadas por homens. Na União Europeia, entre 40 e 50 % das mulheres denunciaram no passado alguma forma de assédio sexual no local de trabalho. No outro lado do mundo, Comissão Australiana de Igualdade de Oportunidades em 2004, mostrou que são as mulheres jovens, solteiras ou divorciadas ou com status de emigrante que são mais vulneráveis ao assédio 29

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sexual, enquanto nos homens são os jovens, homossexuais e integrantes de minorias étnicas ou raciais que sofrem mais assédio. Outros estudos sobre o espaço pessoal mostraram que os homens respondem de modo mais negativo à invasão do espaço pessoal frontal, ao passo que as mulheres respondem mais negativamente às invasões do espaço pessoal provindas da lateral. Além da distância podemos observar ainda a orientação das pessoas. Duas pessoas que se conhecem há bastante tempo têm tendência a colocar-se lado a lado, enquanto que se existe numa relação de hierarquia, o superior tende a colocar-se frente ao subordinado. Todavia tudo pode variar de cultura para cultura. Podemos aplicar estes conhecimentos aos cumprimentos para tentar perceber o tipo de distâncias pessoais que podemos utilizar com pessoas estrangeiras. Por exemplo, no cumprimento inicial de alguém que acabamos de conhecer deve deixarse uma distância de cerca de dois braços. Em relações empresariais, os orientais sentem-se bem com cerca de 1 metro de distância, mas por exemplo, os árabes e asiáticos gostam de uma distância maior, enquanto que os latinos até gostam de uma distância menor. Na maioria dos países, costuma utilizar-se o aperto de mão ou dois beijos na face dependendo do grau de intimidade. Em África é mais comum o aperto de mão nos homens e dois beijos na face entre nas mulheres. Porém, no caso de se tratar de mulheres viúvas não se deve cumprimentar com beijo nem tocando, deve-se apenas acenar com a cabeça. Em alguns países da Ásia, os cumprimentos fazem-se unindo as próprias mãos. No Japão, país onde o espaço pessoal é muito valorizado, não se toca nos outros e saúda-se curvando a coluna. Entre árabes e também italianos, o cumprimento usual entre dois homens amigos é a troca de beijos na face. Na Índia o mais usual é unir as mãos e dizer “Namastê” pois abraços e beijos não são comuns entre mulheres. Homens árabes, indianos e também africanos que são amigos de longa data frequentemente andam de mãos dadas ou abraçados, pois isso é sinal de grande amizade. Os homens russos cumprimentam-se dando de 3 a 4 beijinhos na face. Os esquimós cumprimentam-se esfregando o nariz um no outro enquanto sorriem.

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Utilizar distâncias inadequadas em relações laborais pode gerar uma sensação de invasão, abuso e assédio se for usado menos distância do que a aconselhada e sensação de frieza ou indiferença se a distância for demasiado grande. Estes conceitos devem ser também aplicados à conceção e gestão do espaço dos colaboradores. As organizações devem refletir sobre a colocação de secretárias e da iluminação. Por exemplo os chamados “open spaces”, muito em voga ultimamente, enfatizam a comunicação entre colaboradores já que favorecem o contacto ocular, mas têm de ter em alguma consideração as distâncias pessoais, por exemplo, colocando divisórias. A poupança de espaço e colocação de secretárias demasiado próximas, pode criar a sensação de ausência de identidade e invasão aos colaboradores e isto poderá gerar conflitos no trabalho, insatisfação e menor produtividade. Se em vez do “open space”, o colaborador está em zona de trabalho fechada, isto representa um maior estatuto para quem lá trabalha. Daí o facto de se dar elevado valor às promoções que implicam passar a ter um “gabinete próprio”! É sinal de que a pessoa conquistou o “seu espaço” e por aqui conseguimos inferir o quanto valor tem para nós o espaço pessoal!

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7. Pare, escute e olhe! A arte de bem conversar em ambiente de negócios Em todos os momentos negócios há o chamado “momento morto”. É o momento que não é próprio para fazer negócios, mas sim para preparar o ambiente, dar o tom certo, conquistar o convidado (que pode ser um cliente ou parceiro) e saber “fazer sala”. Também se aplica como arte de finalização: no final de uma longa reunião, de negociações detalhadas ou outras situações, é necessário imprimir um ambiente informal. Noutras situações, por exemplo, numa fase inicial de uma entrevista de seleção, também se aplica a arte de conversar. Além de se aplicarem os princípios das técnicas da comunicação no trabalho, a arte de conversar envolve o interlocutor e oferece um pouco da nossa personalidade. Isto porém pode agir negativamente e o “feitiço pode virar-se contra o feiticeiro”. Todos pensamos que somos bons conversadores, mas nem sempre é assim… Sem querer podemos transformar uma oportunidade de negócios, num grande embaraço. Jonathan Swift (1667-1745), autor irlandês mais conhecido pela obra “As Viagens de Gulliver”, descreveu os dez pecados mortais contra a arte de bem conversar. 1 - A desatenção de quem ouve. 2 - O mau hábito de interromper e a de falar ao mesmo tempo. 3 - A precipitação de mostrar que se tem espírito ou cultura. 4 - A vontade de querer dominar a conversa e o assunto. 5 - Pedantismo. 6 - A falta de seguimento na conversa. 7 - O espírito de contradição. 8 - O vício de sempre querer fazer piadas. 9 - A falta de calma na apresentação de argumentos. 10 - Trazer a baila assuntos pessoais em detrimento dos de ordem geral. Reflita um pouco sobre cada um deles. Uma regra essencial é o “Pare, Escute e Olhe”. Pare uns segundos, reflita sobre quem é o seu interlocutor, escute-o ativamente, olhe profundamente para ele, não se distraia, deixese envolver realmente na conversa. Além disso, no campo empresarial, é importante saber sempre um pouco acerca do seu interlocutor: por exemplo, que desporto que pratica, qual o nome da esposa e dos filhos, a 32

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sua formação de base, que literatura, programas de televisão ou tipos de cinema prefere, etc. Nunca saiba muitos mais do que estes pormenores, pois pode estar a invadir a esfera privada. Há assuntos clássicos que servem como desbloqueadores ou “quebra-gelo”, por exemplo, assuntos da atualidade, como notícias de catástrofes recente, grandes campeonatos desportivos e o famoso cliché do tempo. Podem ser clichés, mas são menos arriscados quando conhecemos a pessoa há pouco tempo. Nunca subestime o valor de um bom cliché e só mais tarde, evolua para campos de conversa mais aprofundados. A sinceridade ou honestidade é uma característica muito estimada na sociedade atual. Todavia, em momentos de negócios, pode tornar-se o caminho mais rápido para se afundar. Pense bem antes de começar uma conversa com “para ser totalmente sincero e direto ….”. É bom guardar a sinceridade total para as relações interpessoais mais íntimas. Outro princípio importante: Por norma, evite usar o calão. Pode usar uma outra expressão para “testar” o interlocutor. Há pessoas para quem o uso de calão poderá significar uma certa simplicidade e humildade e poderá funcionar até como um desbloqueador de conversa. As gafes podem acontecer a qualquer pessoa. Por muito que tente evitá-las, poderá acontecer quando menos espera. Quando cometer uma gafe, tente deixá-la ficar no ar até desaparecer, pois quanto mais tentar corrigir, pior! Na pior das hipóteses pense calmamente uns segundos e tente fazer apenas uma observação (ponderada) para corrigir a gafe. Pessoas que dominam a arte de conversar são capazes de falar sobre muitos assuntos diferentes e são capazes de se mover habilmente em conversas sobre assuntos que não dominam, por exemplo, usando a tática de deixar o outro brilhar (tática muito relevante quando o interlocutor é um potencial ou atual cliente!). Bons conversadores sabem mudar o rumo da conversa discretamente, para jogar a seu favor. Principalmente em conversas de negócios, nunca se deve corrigir a gramática ou o vocabulário da outra pessoa, até conquistar mais a sua confiança. Bons conversadores envolvem todos os interlocutores na conversa, em vez de se dedicar apenas a uma pessoa e nunca recorrem ao boato ou coscuvilhice. Além disso, sabem dar e receber elogios de uma forma elegante (em vez criticar.) Porém, mesmo o melhor conversador do mundo não está livre de ter uma falha de memória. Já lhe aconteceu estar a olhar para a pessoa e de repente, não se lembrar do 33

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nome?! Nesta situação o melhor a fazer é deixar a pessoa falar o máximo de tempo possível enquanto tenta aceder à sua memória. Faça uma pergunta e deixe a pessoa responder até o nome da pessoa voltar à sua memória! Deve evitar a todo o custo pergunta: "Peço desculpa, esqueci-me do seu nome?". Para o interlocutor, isto representa uma grande falha, e pode representar desinteresse, desatenção e para uma pessoa um pouco mais extremista, até desrespeito. Aprenda a ler a comunicação não-verbal da pessoa para saber quando finalizar a conversa (por exemplo, a pessoa olha para longe de si, olha para o relógio ou para o telemóvel, movimenta-se bastante em vez de ter um olhar atento, etc.). Por último, surgem pequenos detalhes aos quais devemos dar atenção de vez em quando. O volume da voz, o tom de voz, a taxa de palavras por segundo, a sua eloquência, o sotaque, a riqueza vocabular. De preferência, vá treinando os seus dotes de conversador em ambientes onde se sinta seguro. Se não tem amigos com quem praticar e que sejam capazes de o criticar e ajudar a melhor, existem vários clubes com esse objetivo. Talvez

o

mais

conhecido

do

mundo

seja

o

Toastmasters

International

(www.toastmasters.org). Trata-se de um clube, onde as pessoas se reúnem para treinar as suas capacidades de comunicação, oratória, etc. É uma organização sem fins lucrativos que começou em 1924, na Califórnia e, atualmente existem centenas de clubes espalhados um pouco por todo o mundo incluindo Portugal (nomeadamente Porto e Braga). Para ir praticando, sozinho, algumas destas competências, nada melhor que uns exercícios caseiros! Exercícios para coordenar voz e articulação das palavras (Leia rapidamente, tentando não baralhar letras nem dizer a palavra de forma errada)

Exercício 1 O tempo pergunta ao tempo Quanto tempo o tempo tem. O tempo responde ao tempo Que o tempo tem tanto tempo Quanto tempo o tempo tem.

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Exercício 2 Um ninho de mafagafas Tinha seis mafagafinhos. Tinha também magafaças, maçagafas, maçafinhos, mafafagos, magaçafas, maçafagas, magafinhos. Isso além dos magafafos E dos magafagafinhos.

Exercício 3 Feijão, melão, pinhão, mamão. Meijão, malão, feinhão, pimão. Pijão, feilão, manhão, memão. Majão, pilão, menhão, feimão.

Exercícios para uma dicção mais perfeita - (repita três vezes cada frase sem se enganar). Exercício 1 Em rápido rapto, um rápido rato raptou três ratos sem deixar rasto. Exercício 2 As pedras pretas da pedreira de Pedro Pedreiras são os pedregulhos com que Pedro apedrejou três potras prenhas. Exercício 3 Em três pratos de trigo comem três tristes tigres.

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8.

Etiqueta para “tempos de crise”

Já sentiu que não há dia que não passe que não ouçamos a palavra crise? Faça essa experiência no seu dia-a-dia e eu aposto que ouvirá a palavra “crise” várias vezes ao dia! Ainda não lhe aconteceu estar no trânsito, à ida ou no regresso do trabalho e de repente sentir uma vontade incontrolável de desligar o rádio por já não conseguir ouvir mais as mesmas notícias? Tenho a sensação que só ouço falar de crise e recessão económica desde 2003! Eu sei, todos sabemos, não precisam de repetir! Longe vão os tempos em que ouvia as notícias na rádio calmamente e estas ajudavam-se a ultrapassar os engarrafamentos diários. Todos sabemos que a maior fase de recessão já foi ultrapassada (segundo alguns especialistas) e Portugal já se encontra em fase de recuperação, mas essa ideia para não entrar facilmente na nossa mente nem no nosso discurso diário. O tema da crise domina as conversas já há alguns anos. Aliás, já conquistou o estatuto de “cliché” garantido na conversação entre toda a gente. Acho que já nem conversas sobre o tempo garantem a mesma fluência no diálogo. Parece já ser possível discordar sobre o tempo, mas não sobre a crise. Para mim, como profissional do comportamento humano, a palavra crise tem outro significado, incutido a muito custo desde os tempos de faculdade. Erik Eriksson (1902-1994) foi o primeiro autor a criar uma teoria psicossocial que explica as várias fases pelas quais passa um ser humano ao longo de toda a sua vida. Ele foi discípulo de Sigmund Freud (1856-1939), que também concebeu uma teoria de estádios, porém esses estádios terminam na infância na perspetiva de Freud. Eriksson afastou-se bastante do seu professor: chamou de “Crises” às oito fases pelas quais todos os seres humanos passam. “Crise”, na perspetiva erikssoniana é um estádio que envolve um determinado conflito que tem de ser resolvido. Durante a nossa vida, teremos de resolver 8 grandes crises e cada um nós terá à escolha dois modos de lidar com essas crises: um modo adaptativo e outro modo inadaptativo. À medida que vamos resolvendo essas crises vamos crescendo como pessoas, definindo a nossa identidade e personalidade. Foi graças ao trabalho de Eriksson que a sociedade de hoje está mais atenta aos problemas que os “menos jovens” enfrentam, desde a “crise de meia-idade” até às dificuldades da velhice, que começa a merecer hoje a devida atenção.

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Por isso, espero que entendam a minha hesitação quando ouço falar daquela crise do dia-a-dia. Uma crise, para mim, continua a ser um conflito a ser resolvido, uma moeda de duas faces e uma oportunidade de crescimento, seja de um ser humano ou de um país. Mas então, ao nível da etiqueta organizacional…o que fazer com as conversas da crise? Resposta: Não queira ser o mensageiro de péssimas notícias todos os dias, sejam qual for a sua função. Pode utilizar o cliché da crise para quebrar o gelo numa conversa, pode abordar uma ou duas vezes o assunto, mas não massacre. Se tiver de falar de crise, opte por posições mais otimistas. Sim, eu sei que é difícil, como tudo na vida, como diz o povo. Como profissional, aproveite o seu saber da sua área de especialização para fornecer soluções aos outros, ao invés de debitar notícias e queixar-se sobre a crise. Faça um esforço por saber (e reter) factos positivos. Já reparou que se ouvir uma notícia muito negativa nunca mais a esquece, mas se ouvir algo positivo, parece esquecer-se mais depressa? Agora, tente reverter isso. As pessoas com quem falar vão, por certo, resistir, e vão referir mais novidades negativas. Porém, para a sua própria carreira e para a imagem da sua empresa, não deixe transparecer demasiado que a crise está a afetá-lo. Mostre aos outros que é capaz de manter uma atitude mental positiva, e à medida que vai fazendo esse esforço, essa atitude vai acabar por ganhar lugar no seu cérebro. Sim, o otimismo pode ser aprendido! Uma pessoa que dedicou quase toda a sua vida a ensinar o otimismo, foi o professor e investigador Martin Seligman (1942-), colaborador da Universidade da Pensilvânia, EUA. No início da sua carreira, Seligman realizou uma série de estudos com animais e desenvolveu a Teoria do Desânimo Aprendido (1975). Num dos estudos clássicos realizados com cães verificou-se que os animais previamente sujeitos a choques elétricos a que não conseguiam escapar tendiam subsequentemente a não fazer esforço para escapar de outros choques elétricos que era possível evitar. Só mais tarde foi comprovada a existência deste fenómeno também em humanos, quando se reúnem determinadas condições. Porém, Seligman3 acabou por reorientar os seus estudos para o que poderá parece o reverso da medalha - o Optimismo- tornando-se a maior autoridade no tema até ao dia de hoje.

3

Para saber sobre o trabalho de Martin Seligman, visite o site oficial em: http://www.authentichappiness.sas.upenn.edu

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Seligman define otimismo como a forma como as pessoas explicam a si próprias os seus sucessos e fracassos. Os otimistas atribuem um “fracasso” a alguma característica sua que pode ser mudada, para que possam vencer na próxima vez, enquanto que os pessimistas assumem e interiorizam a “culpa” pelo fracasso, atribuindo-a a uma característica que acham que não pode mudar. Para enquadramos o otimismo no contexto empresarial, vejamos um estudo de Seligman, realizado numa das mais bem-sucedidas seguradoras do mundo: a MetLife. Como sabemos, ser vendedor de seguros, é uma profissão exigente, ainda mais quando falamos em vender seguros de vida (por esse motivo, cerca de 75 % dos vendedores de seguros americanos desistem nos primeiros três anos). Seligman aplicou um teste psicológico que visava avaliar o nível de otimismo a todos os vendedores recém-recrutados. Descobriu que os novos vendedores que possuíam elevado nível de otimismo venderam 37 % mais seguros nos primeiros dois anos que os pessimistas. E no primeiro ano os pessimistas desistiram duas vezes mais que os otimistas. Penso que todos nós sabemos bem o poder do otimismo e da esperança, mas parece que temos um grande caminho a percorrer quando falamos de incorporar esse sentimento dentro de nós. Se a leitura deste artigo fizer com que pelo menos uma pessoa consiga fazer um esforço por lidar e falar da “crise” mais positivamente em próximas conversas, então já teria valido a pena.

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9. Como o telemóvel pode acabar com o seu negócio! Lembra-se do início do “boom” dos telemóveis? Longe vão os tempos em que andávamos pela rua e, de repente, riamos por ver alguém que parecia andar a falar sozinho! Pois é, esses tempos acabaram e, em 2009, já existiam mais telemóveis em Portugal … do que portugueses! De acordo com estimativas do setor os telemóveis são já utilizados por cerca de 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo. Desse total, mais de 500 milhões usam um aparelho que emite campos eletromagnéticos conhecido como Global System for Mobile Communications, ou seja, o GSM. Atualmente, já se descreveu a noção de “Nomofobia”, ou seja o medo incontrolável de ficar incontactável, seja por ficar sem bateria, sem rede ou sem saldo no telemóvel (Ferreira & Balsinha, 2010). Este problema foi batizado de “Nomofobia” através das palavras inglesas “No Mobile”, ou seja, sem telemóvel (funcional). Uma pesquisa feita Reino Unido constatou que 58% dos homens e 48% das mulheres já sofrem deste problema. Apesar de não ser considerado ainda uma fobia no termo psicopatológico da palavra (para isso teria de ser incluída no Dicionário de Saúde Mental [DSM]) muitos psicólogos e psiquiatras já acompanham clientes que convivem com esta realidade. Os telemóveis invadiram os negócios e, com este fenómeno, surgem as questões de ética e etiqueta. Há bem pouco tempo, a norma de etiqueta básica era: Desligue o telemóvel se está numa reunião, no cinema, no teatro, etc. Mas tudo se tornou mais complexo, à medida que o telemóvel se tornou um meio de comunicação essencial para o mundo dos negócios. Cada vez mais países estão a regulamentar o uso do telemóvel em diversos contextos (espaços públicos, condução automóvel, etc.). Um restaurante em Chicago (Estados Unidos da América) chegou ao extremo de afixar um cartaz que diz “restaurante livre de telemóveis” e qualquer pessoa que use um telemóvel é imediatamente convidado a sair. Apesar de lhe parecer a ferramenta mais importante para fazer negócios, pode também ser o caminho mais rápido para lhe destruir um negócio ou mesmo a sua carreira! Vejamos as regras essenciais de etiqueta do uso de telemóvel: 1. Use o seu telemóvel em público apenas quando absolutamente necessário. 2. Mantenha o telemóvel desligado ou em modo de vibrar em restaurantes, teatros, edifícios institucionais e governamentais e em encontros sociais 39

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3.

Desligue o telemóvel antes de entrar numa reunião. Se tem mesmo de o manter

ligado opte pelo modo de vibração e explique aos participantes o motivo pelo qual o vai manter ligado logo no início da reunião (por exemplo, “se me permitem, vou manter o meu telemóvel ligado, pois estou a aguardar uma chamada muito importante”). Este princípio aplica-se a qualquer cargo ou função, seja qual for a hierarquia: ninguém está dispensado. 4. Se a tal chamada importante surgir, peça licença e afaste-se um pouco da mesa de reuniões. Se as divisórias são de vidro poderá conversar fora da sala de reuniões. 5. De preferência, não atenda chamadas pessoais durante o horário de trabalho. 6. É inconsciente a tendência para aumentar o volume da voz, o que é totalmente desnecessário com a tecnologia de hoje em dia. Seja discreto e fale baixo, pois a conversa só interessa a quem está do outro lado da linha! 7. Principalmente em chamadas profissionais, assim que inicia o contacto, deve perguntar se aquele é um momento oportuno para conversar. 8. No ambiente profissional utilize o telemóvel apenas efetuar e receber chamadas. As funções de jogos, música e outras estão reservadas para os seus tempos livres. 9. A forma como atende o telemóvel (ou telefone) é determinante para a sua imagem e reputação profissional. È usualmente aconselhado atender a chamada entre o segundo e terceiro toque. Esforce-se sempre por usar de um tom de voz entusiasta e contente por receber aquela chamada. 10. Se possível, memorize no telemóvel os números das pessoas a quem quer causar boa impressão. Já há bastante tempo que não faz sentido atender e perguntar “Sim, quem fala?”. Nunca se esqueça com quem está a falar e trate sempre as pessoas pelo nome e título. 11. Se acha que se vai esquecer de algo, anote tudo. Para facilitar este processo, ande sempre com um pequeno bloco e caneta no bolso, ou então, assim que desligar a chamada coloque uma “lembrança/nota” na agenda do telemóvel. Em alguns modelos é possível gravar lembranças de voz, o que é bastante útil. 12. Se está a conduzir, pare o carro de lado para falar calmamente. Mesmo com auricular nunca estará concentrado plenamente na chamada e isso pode refletir-se facilmente para a pessoa que está do outro lado. 13. Evite usar os contactos de telemóveis de clientes ou parceiros de negócios para outros motivos que não motivos profissionais.

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14. Acidentes acontecem: Pegar num telemóvel de alguém sem querer por ser exatamente igual ao seu, pedir a alguém emprestado o telemóvel e ver, sem querer alguma informação, ligar para alguém com nome semelhante por engano, etc. Mantenha as mesmas regras de respeito pelo outro, confidencialidade e ética como noutra qualquer situação. 15. Quando não pode atender chamadas ou quando tem o telemóvel desligado, as mensagens seguem para a caixa de correio de voz, por isso, deve gravar a sua mensagem de voz personalizada. Mantenha a mensagem simples, clara mas eloquente (a exceção a esta regra existe apenas para profissionais do ramo criativo ou entretenimento: apesar de não se dispensar a eloquência, poderá usar efeitos sonos ou algum humor!). Identifique-se claramente e ofereça opções como, por exemplo, deixar mensagem, contactar mais tarde, contactar outro número ou enviar email para o seu correio eletrónico (e relembre o endereço!). Se realmente devolve as chamadas a quem lhe deixa mensagens diga isso, se não tem por hábito devolver chamadas, não diga! Se vai de férias ou vai estar ausente, atualize a mensagem de voz. E claro, nunca se esqueça de consultar o correio de voz. 16. Apesar de ainda polémicos, são muitos os estudos cientificos já alertaram para o efeito das ondas eletromagnéticas no cérebro, já que estas sobrecarregam a parte do córtex cerebral que fica mais próxima do equipamento. Sem querer assustá-lo, redigi um breve resumo de algumas das conclusões desses estudos: (a)O uso de telemóveis por adultos durante 10 anos ou mais duplica o risco do cancro de cérebro; (b) o uso do telemóveis antes de dormir provoca insónias, dores de cabeça e dificuldades de concentração; (c) a ação das ondas eletromagnéticas afetam as zonas do cérebro responsáveis pela coordenação e ativação do estado de stress, crucial para o funcionamento do sistema nervoso central em todas as situações; (d) regista-se aumento de ansiedade em jovens adolescentes; (e) pessoas que sofrem de doenças como a epilepsia podem ser mais afetadas; (f) mulheres grávidas que abusem do uso do telemóvel, poderão ter filhos com riscos acrescidos de problemas emocionais, dificuldades em relacionamento, desordens de atenção/hiperatividade e problemas comportamentais diversos; etc. 17. Lembre-se que o telemóvel foi criado para o servir e não o contrário. Não se deixe escravizar pela tecnologia… Referências Bibliográficas Ferreira, A. & Balsinha, J. (2010). Medo de ficar sem telemóvel já é uma doença. Diário de Notícias: 10

de

janeiro

de

2010.

Acedido

em

abril

de

2010

e

Disponível

jesuscandeias.blogspot.com/2010/01/dn-fobia-medo-de-ficar-sem-telemovel-ja.html 41

em

http://maria-

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"Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. Na verdade, o maior elogio que uma inovação pode receber é haver quem diga: isto é óbvio. Por Por que não pensei nisso antes?" Peter Drucker Aústria 1909/2005 Escritor, Consultor/Gestor/Professor

CAPÍTULO II. EMPRESAS E NEGÓCIOS: CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL 42

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1. Criatividade nas Organizações: Mais vale tarde do que nunca! Nos últimos anos, tem crescido nas ciências empresariais um forte interesse pela Criatividade. Procurando saberes diversos em variadas áreas científicas, os gestores preocupam-se cada vez mais em inovar e gerir as organizações com criatividade, para que essa criatividade aplicada se transforme numa vantagem competitiva. Mas então, poderemos pensar…só agora? Dantes não havia criatividade? Apareceu assim, de repente? Já diz a sabedoria popular que “A necessidade aguça o engenho”. Sempre existiram gestores preocupados em inovar nas empresas, preocupados em trazer práticas criativas, mesmo que não as chamassem por esse nome, fossem para fidelizar clientes ou estimular colaboradores ou para enfrentar organizações concorrentes. Atualmente, essa necessidade torna-se cada vez maior, daí que dediquemos uma série de artigos à criatividade aplicada à gestão. Mas antes de perceber a aplicabilidade deste campo nas organizações, há que explorar um pouco mais a criatividade por si só. A palavra criatividade, provem do latim creare, que significa criar, sair do nada, estabelecer relações até então não estabelecidas. A Nova Enciclopédia Portuguesa (1992) define-a como a “faculdade ou atributo de quem é criativo. Capacidade de criar coisas novas. Espírito inventivo, talento criador”Como quase todos os assuntos que se referem à alma humana, muitos filósofos já refletiram sobre a criatividade. Foi Platão que defendeu que a criatividade era um dom divino e seria uma inspiração enviada por um ser superior a apenas alguns seres humanos. E foi apenas por volta dos anos 50 do século XX que o constructo da criatividade começou a ser estudado cientificamente. Hoje em dia, o estudo da criatividade é bastante multidisciplinar. Estudos no campo das neurociências, da filosofia, da psicologia, do comportamento organizacional, do marketing e outros ramos do saber têm ajudado a fortalecer o interesse por esse fenómeno exclusivo do ser humano que é a capacidade de criar, inventar e inovar. Todavia, durante centenas de anos subsistiram diversos mitos sobre a criatividade. Numa primeira fase, como já dissemos, pensava-se que era algo que provinha de um ser superior, depois subsistiu a ideia de que era algo inato, que tem de nascer connosco e, portanto, acreditava-se que simplesmente não podia ser ensinada ou aprendida.

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Durante centenas de anos a criatividade foi abordada como apêndice da arte. Ser criativo era quase sinónimo de ser artista. Mas a criatividade é algo que existe em todos nós, é inerente ao ser humano, está guardada no fundo do nosso hemisfério direito (no caso de sermos dextros) e aguarda, num cantinho bem profundo, ser estimulada e abraçada pelo dono desse cérebro. Nos dias de hoje, no entanto, o hemisfério racional é muito mais enaltecido. Fazer raciocínios complexos é muito mais valorizado do que ser capaz de criar algo novo. Os investigadores atualmente acreditam fortemente que o potencial criativo tem início na infância. Quanto mais estimuladas são as crianças para desenvolverem esse potencial, mais criativas serão e quanto menos estimuladas, menos criativas serão na idade adulta. O que não quer dizer que, se não fomos crianças muito estimuladas estaremos condenados para o resto da vida a ser adultos pouco criativos. Podemos continuamente estimular o nosso potencial criativo. Um outro grande mito era achar que, para se ser criativo tinha de se ser inteligente. Foram os investigadores Wallach e Kogan que, depois de diversos estudos empíricos nos anos 60, provaram que esta era uma ilação errada. Em diversos estudos com crianças, concluíram a existência de diversas crianças criativas com baixo quociente intelectual e encontraram também crianças inteligentes que não eram criativas. A criatividade tem muito mais afinidade com a motivação de cada um do que propriamente com o quociente de inteligência. Aliás, como psicóloga posso mesmo afirmar que grande parte dos testes que medem (ou tentam medir!) o famoso QI, quase não têm nenhum conteúdo de avaliação da criatividade. No entanto, a cada minuto todos nós utilizamos pequenas doses de criatividade para a resolução de problemas no nosso dia-a-dia, porém raramente reconhecemos isso como potencial criativo. Um outro mito associado à criatividade é o de que, quem consegue ser muito criativo, consome substâncias. Talvez pelo facto da vida artística estar interligada com a boémia, este mito prevalece ainda. Na realidade, não é mentira que a criatividade possa ocorrer em estados alterados de consciência. Muitos escritores, pintores e outros profissionais da arte recorriam a substâncias lícitas ou ilícitas para obter inspiração, desde o álcool, a drogas naturais e drogas sintéticas. Mas hoje sabemos que o recurso a estas práticas, a longo prazo, poderá levar à destruição parcial ou total do potencial criativo.

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Muitas vezes, somos nós próprios o grande obstáculo à descoberta e estimulação da nossa criatividade, através do que alguns autores chamaram de “voz crítica”. Aquela “vozinha” que vem do fundo de nós e enfraquece a nossa confiança, afirmando que afinal não seremos capazes, que ninguém nos dá valor ou que a ideia que tivemos no passado foi apenas sorte e não potencial criativo! Se permitirmos que esta voz nos vença vezes demais, vamos nos tornando fechados e desconfiados, até que desacreditamos totalmente as nossas ideias. Algum tempo depois a insegurança será tal que deixaremos simplesmente de formular e apresentar novas ideias aos outros, o que acontece frequentemente nas organizações. Apesar das variadíssimas definições de criatividade, podemos simplificar definindo criatividade como a emergência de algo novo, único e original e se virmos por este prisma, isso é exatamente o que as empresas precisam. Podemos considerar dois tipos de criatividade: a individual e a coletiva. Apesar de muito interligadas, a individual é a expressão criativa de uma só pessoa, enquanto que a coletiva é a expressão do potencial criativo de um grupo de pessoas, que surge da sua interação e sinergia. Nos artigos sob o tema da Criatividade Aplicada à Gestão, poderemos abordar mais frequentemente a criatividade coletiva, porque grande parte das vezes as criações nascem de equipas de trabalho. O facto de, durante os anos 90, ter surgido a expressão “indústrias criativas” (que serão tema de próximos artigos), impulsionou ainda mais a atenção de todas as organizações para a criatividade. Além disso, a criatividade está altamente correlacionada com a inovação, que apesar de ser um tema mais explanado quando se fala de tecnologia, acabou por (felizmente!) invadir todo o espaço organizacional. As organizações começaram finalmente a perceber que a formação dos seus quadros, se não de todos os colaboradores, era quase “anticriativa”. A escola atual não promove a criatividade. Todos sabemos, infelizmente, que desde os primeiros anos escolares como alunos, aprendemos a repetir conceitos e verdades ditos “universais”, mas raramente nos oferecem a oportunidade de participar criativamente. É solução deste problema passa por práticas pedagógicas ativas como, por exemplo, a inovadora “PBL”, Problem Based Learning (como é o caso dos casos práticos, estudos de caso, investigação, trabalho de projeto, etc.), que sabemos que estimula a curiosidade e a criatividade.

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Face a esta constatação, começa a nascer uma forte necessidade das organizações de preencher esta lacuna e estimular a criatividade dos seus colaboradores e, por isso, dedicaremos

neste

Portal

alguns

artigos

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ao

aprofundamento

deste

assunto.

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2. Mentoring4: Relações Criativas nas empresas São muito populares as expressões como “o meu mestre”, “o meu guru” e “o meu mentor”. Desde sempre estas relações existiram em todos os contextos da nossa vida, no entanto, de há algumas décadas a esta parte parece que as palavras “mestre” ou “guru” estavam a ser reservadas a artes ocultas, religiosas ou filosofias alternativas de vida. Felizmente, essas relações estão a retornar e a ganhar cada vez mais espaço nas empresas e nas carreiras profissionais. O “Mentoring” ou se quisermos em Português a “Mentoria”, diz respeito a uma relação pessoal de desenvolvimento, em que uma das pessoas – a mais experiente - promove a evolução e desenvolvimento da pessoa menos experiente. O objetivo principal é motivar e inspirar o mentorado (ou seja o aprendiz ou pupilo), aumentar o seu potencial e também transmitir algum saber-fazer. Historicamente são muitos os sistemas clássicos de Mentoring como, por exemplo, a pederastia na Grécia, a adoção de um guru por um discípulo do Hinduísmo e Budismo, entre outros. Os franceses costumam utilizar a expressão "Protégé" (ou seja, o meu protegido). O termo Mentoring tem a sua origem na mitologia grega, mais concretamente na obra “Odisseia” de Homero. Quando o personagem Ulisses vai em viagem, pede a um sábio grego chamado Mentor que se ocupe da educação do seu filho. O conceito de mentor ou mentora entrou rapidamente na linguagem comum para simbolizar a pessoa estimada e culta que guia e aconselha uma pessoa jovem e menos experiente. O princípio do Mentoring existiu de forma bastante presente nas corporações de artes e profissões nos tempos medievais. Os artesãos frequentemente aceitavam jovens aprendizes que viviam e trabalhavam na sua oficina (muitas vezes na própria casa). Os aprendizes aprendiam a “arte” para um dia serem capazes de assumir o negócio e através deste sistema, as competências eram transmitidas de geração em geração, sem o risco de perder “segredos do negócio” para a concorrência. Este sistema simplista subsiste ainda hoje um pouco por todo o mundo em negócios familiares.

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Para descobrir mais sobre este assunto, é possível visitar os sites de alguns projetos de Mentoring em Portugal Projeto Mentor (www.anje.pt ): este projeto emparelha investidores (“Bussiness Angels”) com jovens empreendores, criando relações de Mentoring cm objetivo de criar parcerias empresariais de sucesso. Mentoring “Projeto De Mulher para Mulher” (http://redejovensigualdade.org.pt/dmpm1/Mentoring.html): baseado no projeto suíço “De Femme à Femme” , projeto de envergadura nacional visando formar e envolver politicamente as mulheres.

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Contudo, com a revolução industrial (iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII) surgiu a padronização do trabalho e da formação profissional e este tipo de relacionamento que caiu em desuso, contudo os princípios básicos sobreviveram. Podemos considerar que existe Mentoring informal e formal. No Mentoring informal, ambas as partes não estão consciente que se trata de uma relação de Mentoring, no entanto, retiram vantagens dessa relação. O Mentoring formal, por outro lado, refere-se a um processo estruturado apoiado pela organização (se for o caso) e dirigido a determinados colaboradores. Em programas formais de Mentoring, existem metas a atingir, horários, formação (para ambos os mentores e protegidos), e avaliação. É possível constatar três fases numa relação de Mentoring. Numa primeira fase, o mentorado prova ser digno e capaz de acompanhar o seu mentor, percebendo-se aqui, num curto espaço de tempo, se o “matching” é bem-sucedido. Numa segunda fase decorre então o processo de Mentoring (a fase mais longa) e num último momento decorre a fase de separação, na qual o mentorado demonstra ser autónomo. Pode ocorrer, como sabemos, o fenómeno de “o aluno suplantar o mestre”, o que aliás, pode ser uma das explicações para o facto desta estratégia ter sido um pouco esquecida, pois o mentor tem de ser alguém muito seguro de si próprio e sem sentimentos de competitividade. O processo “matching” que referimos tem de ser cuidadosamente pensado, de forma a evitar a criação de uma relação forçada e não-autêntica, que não trará os esperados frutos (pode até ser contraproducente). Isto significa que, ao emparelhar um mentor e um mentorado, tem de se ter em conta as suas características profissionais e pessoais bem como os seus projetos futuros dentro da organização. Além disso, deve ser um processo em que ambos ingressam de livre vontade. Como diz o ditado popular de Kuan-Tzu “Se deres um peixe a alguém, ele comerá uma vez; se o ensinares a pescar, comerá toda a vida” e com isto refletimos que o mentor não é um professor: ele não age como um transmissor de conhecimentos. Os mentores deverão então ser pessoas com experiência acumulada, de preferência com influência e contactos diversificados, voluntariosos e disponíveis, com empatia e assertividade para orientar o seu pupilo e acima de tudo com capacidade de promover a reflexão.

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O mentor tem de ter uma sensibilidade especial para os momentos de excelência para a aprendizagem que é costume chamar de "momentos ensináveis", ou seja, momentos ideais para expandir as potencialidades do pupilo. Muitas vezes ao pensar em Mentoring, podemos cair no erro de pensar no mentor como alguém mais velho e no mentorado como alguém mais jovem. Apesar de ser a situação mais frequente, pode acontecer o inverso. Por exemplo, um jovem colaborador que domina as novas tecnologias pode mentorar alguém mais velho da organizar que pouco ou nada sabe de tecnologia. É importantíssimo numa relação de mentoria, haver uma postura de humildade (de ambas as partes) e de querer não só transmitir sabedoria mas também recebê-la (há vantagens para ambos os papéis). Um projeto de Mentoring promove o desenvolvimento do mentorado como pessoa, apesar de grande parte das vezes o foco principal ser a carreira. O Mentoring está a ser atualmente bastante utilizado como estratégia de acolhimento e formação de novos colaboradores. À chegada à organização, os recém-recrutados são emparelhados com mentores. O projeto é estruturado de forma a que o novo colaborador se aproprie da cultura organizacional, das competências e do compromisso para com aquela organização. Alguns estudos consideraram que novos colaboradores que iniciam o envolvimento na organização através de programas de Mentoring têm duas vezes maior probabilidade de permanecer em seus empregos e ser “fiéis” à organização. De facto, trata-se de uma estratégia que se baseia um pouco na aprendizagem por modelagem, teoria criada pelo psicólogo Albert Bandura nos anos 60. Segundo Bandura, aprendemos por imitação e observação de modelos competentes a desempenhar ações que produzem resultados positivos. Quanto mais envolvidos estivermos com o mentor certo, mais admiração teremos e, logo, quereremos tornarmo-nos semelhantes a ele. Com isto se percebe facilmente a importância da escolha dos mentores, pois se escolhermos um mentor que não possua comportamentos-modelo para com a organização em causa, correremos o risco de perpetuar esses comportamentos. Todavia, o Mentoring pode ser adaptado a imensos outros contextos que não a uma organização. É uma estratégia com muito sucesso também em todos os níveis de educação, em pessoas à procura de emprego ou em reformulação da sua vida e da sua carreira, etc.

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3.Indústrias Criativas Já há algum tempo que tencionava escrever sobre as indústrias criativas e, de repente, uma notícia no Jornal de Noticias fez-me antecipar a reflexão sobre este assunto. Nessa notícia (uma excelente notícia para variar!), afirmava-se que as indústrias criativas estão em grande desenvolvimento no Norte de Portugal, estimando-se que existam na região norte cerca de 2823 empresas, dedicadas a 11 áreas de atividade, com um volume de negócios aproximado dos 815 milhões de euros (Lima, 2010). Um outro estudo realizado (apenas) no Norte de Portugal em 2008 pela Fundação de Serralves, como o apoio da Comissão de Coordenação para o Desenvolvimento da Região Norte (CCDR-N), concluiu que havia emprego nas indústrias criativas para cerca de 11 668 pessoas. Confesso que fiquei especialmente contente pelo Norte de Portugal (sou nortenha e logo, temos de ser um pouco “bairristas”!). Então, umas indústrias são criativas e outras não? Realmente todas as indústrias podem usar a competência de criatividade, porém a palavra-chave “Indústrias Criativas” surgiu para designar especificamente setores nos quais a criatividade é uma dimensão essencial do negócio (Bendassolli, Wood, Kirschbaum & Pina e Cunha, 2009). Outros autores definem de outra forma (Howkins, 2005 cit in ibidem): “é mais coerente restringir o termo ‘indústria criativa’ a uma indústria onde o trabalho intelectual é preponderante e onde o resultado alcançado é a propriedade intelectual”. Vejamos então um pouco da história. Em meados dos anos 40, autores alemães utilizaram pela primeira vez a noção de “indústrias culturais”, para caracterizar as atividades culturais que, apesar de não serem financiadas pelo sistema público, geravam empregos e riqueza para o país. Com a ascensão da tecnologia nos anos 90, a noção de “indústrias culturais” tornou-se insuficiente. O conceito de “Indústrias Criativas” surgiu na Austrália, no início da década de do século XX, porém foi na Inglaterra que ganhou maior impulso já que este país levou a cabo um estudo detalhado das atividades criativas e tem presentemente um Ministério das Indústrias Criativas (ibidem). Na ausência de um estudo detalhado adequado a Portugal e de forma a exemplificar que empresas são consideradas “Industrias criativas”, recorremos a esse mesmo estudo inglês. O governo inglês considera indústrias criativas as seguintes: publicidade, arquitetura, mercado 50

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de artes e antiguidades, artesanato, design, design de moda, cinema, software, softwares interativos para lazer, música, artes performativas, indústria editorial, rádio, TV, museus, galerias e as atividades relacionadas às tradições culturais. Ainda segundo os autores Bendassolli, Wood, Kirschbaum & Pina e Cunha (2009) podemos considerar que as indústrias criativas reúnem algumas características particulares. Em primeiro lugar, vivem essencialmente de criatividade. Em segundo lugar há lugar a uma valorização da arte pela arte. Em relação a este ponto é necessário refletir que nas industrias tradicionais dá-se mais valor à racionalidade, aos instrumentos e ao resultado final, enquanto que nas industrias criativas o foco principal esta nas conceções estéticas e artísticas. Como se poderá imaginar, isto pode originar situações conflituantes, foi estas industrias vivem entre querer mostrar essa arte mas, ao mesmo tempo, querer viver dessa arte (realizar capital) o que pode por vezes, não ser tarefa fácil. Em terceiro lugar, predomina hoje em dia nas indústrias criativas um forte uso de novas tecnologias, já que estas tiveram (e têm ainda) um papel importantíssimo na divulgação das criações. Hoje é possível uma pequena companhia de teatro ou artista divulgar as suas obras num nível semelhante a uma grande empresa. Em quarto e último lugar, surge uma característica que é de enorme valor e que muitas organizações inovadoras tentam também aplicar às indústrias tradicionais: o uso de equipas multidisciplinares e polivalentes. Se pensarmos na produção filme ou de uma peça de teatro facilmente conseguimos imaginar a quantidade de especialistas de diversas áreas que são necessários a uma produção destas. É relevante também refletir sobre o produto gerado pelas indústrias criativas. O que é produzido por estas indústrias criativas tem características específicas e muito diferentes dos produtos das indústrias tradicionais. Por um lado existe, uma variedade infinita do que pode ser criado e, se quisermos recriado. E mesmo um produto só, uma canção por exemplo, pode ser editada várias vezes em diferentes alguns e em diferentes versões. A diferenciação vertical é outra característica dos produtos das indústrias criativas. Os autores querem que os seus produtos atinjam prestígio no mercado, logo acaba por haver diferenciação vertical e os intermediários têm grande influência nestes produtos. Por exemplo, um crítico de arte pode criar pintores de sucesso e também “rotular” outros pintores de menos sucesso o que imediatamente diferencia o produto.

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A perenidade é a outra característica essencial. Os produtos criativos não morrem pelo seu consumo. Por exemplo, os direitos de autor sobre músicas e livros podem beneficiar os autores e seus herdeiros por muitos anos. Por último, os consumidores dos produtos das indústrias criativas são também distintos de outros. Todas as pessoas, à partida, necessitam de consumir agua e pão, mas nem todas as pessoas consomem produtos criativos. Esta grande explosão das indústrias criativas também só é possível há poucas décadas porque muitas pessoas já viram atendidas as suas necessidades básicas, como comer, beber e ter habitação. Só depois disto é que os indivíduos podem se “dar ao luxo” de ir ao cinema, ao teatro, comprar um CD ou comprar um livro! Não é fácil gerir uma organização que tem por base a criatividade criativo. Se pensarmos bem, nem sempre o que é produzido vai de encontro ao que o consumidor quer (lembremonos que fazem arte, pelo arte e não para colmatar lacunas detetadas no mercado como as industrias tradicionais) e, no fundo, as exigências dos consumidores são também elas ilimitadas! Porém, parece que Portugal tem o mercado criativo em grande evolução. Já em 2006, o Ministério da Cultura revelou que o setor cultural e criativo foi responsável por 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB), uma percentagem mais elevada que o contributo de indústrias tradicionais como, por exemplo, o têxtil. A cultura e a criatividade garantiam naquele ano 127 mil empregos em todo o país (2,6% do total nacional). As indústrias criativas fazem parte, também, das prioridades da União Europeia, que em 2004, no âmbito da Estratégia de Lisboa, as considerou essenciais para atrair investimento e dar aos países vantagens competitivas. Outros passos importante têm sido tomados em Portugal e que merecem louvor: em 2008 foi criado o Prémio Nacional de Indústrias Criativas, uma parceria entre a Fundação Serralves e a Unicer, que visa apoiar projetos estruturantes que podem representar valor acrescentado para a economia portuguesa. Por outro lado, na Fundação de Serralves existe também uma incubadora de empresas criativas que pretende potenciar o aparecimento de empresas nestas áreas. Em conclusão, depois desta breve reflexão sobre as indústrias criativas, é muito positivo ouvir uma notícia como esta nos dias de hoje. No meio de tantas notícias com teor negativo, há um setor em amplo crescimento em Portugal e, uma honra maior ainda, é o reconhecimento da criatividade (portuguesa) como grande motor deste desenvolvimento! 52

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Quem sabe se, com o tempo será possível eliminar o estereótipo de que “os artistas são todos pobres” e de que “a arte não põe pão na mesa”…

Referências Bibliográficas Bendassolli, P., Wood Jr., T, Kirschbaum, C. & Pina e Cunha, M. (2009). Indústrias Criativas: Definição, Limites e Possibilidades. RAE-Revista de Administração e Empresas. v. 49, n.º1, jan/mar Lima, A. (2010). Norte está a fomentar indústrias criativas. Jornal de Noticias.27 de abril. .Disponível em: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1553941

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4.Falta de tempo já não é desculpa para não frequentar formação: Viva o E-learning!5 Há uns dias trás, tive a oportunidade de frequentar um seminário da TecMinho, denominado “VI Conferência e-learning” organização pela TecMinho (Universidade do Minho). O leitor já teve a possibilidade de frequentar alguma formação em e-learning? Não? Então, está mesmo na hora. O formato de aprendizagem totalmente online tem vindo a ganhar força na formação, seja na formação profissional e orientada para o aperfeiçoamento contínuo, seja na formação inicial, por exemplo, nas universidades. Engana-se quem pensa que, por exemplo, a Universidade Aberta sempre funcionou por e-learning. Aqui temos de marcar uma grande diferença. Já há bastantes décadas que existe “formação à distância”, exemplo disso é a referida Universidade e ,por exemplo, os cursos que funcionam por envio de manuais para casa. Só recentemente se fala em “formação a distância”. Repare, “formação a distância”, sem acento no “a”. Pode parecer um preciosismo, mas a diferença é enorme. Na “formação à distância” em pessoas estavam mesmo à distância, os livros chegavam no correio, ocasionalmente agendavam-se encontros pessoais com professores ou tutores e, numa fase posterior, poderia realizar-se apoio/tutoria via telefone. Na “formação a distância” as pessoas poderão estar geograficamente distantes, porém estão online, no mesmo espaço, num espaço virtual. As plataformas desenvolvidas especificamente para e-learning vieram possibilitar este contacto no momento (sessões síncronas), num mesmo espaço virtual, de pessoas que se encontram a quilómetros de distância. O e-learning veio possibilitar a aprendizagem em qualquer sítio a qualquer momento, poupando custos aos formandos e economizando tempo. Devemos fazer ainda outra distinção: a diferença entre e-learning e b-learning. BLearning significa Blended-learning, ou seja, uma ação neste formato tem sessões presenciais e sessões online, daí ser “blended”, ou se preferirmos, uma ação mista. Obviamente, nada disto seria possível se não fosse pela evolução da tecnologia. Como diz José Bidarra (cit in Dias & Gomes, 2008), “redes de banda larga, potentes 5

Para consultar o site da conferência de e-learning, visite: http://www.tecminho.uminho.pt/shownews.php?id=213

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microprocessadores e a vasta capacidade de armazenamento levam a crer que existe um enorme potencial para aplicações multimédia interativas no ensino-aprendizagem em rede”. Há uns meses atrás participei na minha primeira ação de formação por e-learning, corretamente planeada e organizada. Estava, na altura, a trabalhar em Angola e a frequentei essa ação de formação (para renovação do CAP [Certificado de Aptidão Profissional] de formador) num instituto de formação em Braga e estava em rede com formandos de todo o país (por acaso, eu era a única que me encontrava fora de Portugal!). Já no passado havia frequentado outros formatos mais empobrecidos, mas agora finalmente é possível encontrar formações ricas, com metodologias variadas. Há alguns anos, as ações de elearning que frequentei limitavam-se à simples “aprendizagem solitária”: o formando descarregava uns manuais, estudava, e no final realizava uma sessão de avaliação online ou redigia um trabalho reflexivo final. Hoje em dia, podemos encontrar imensas atividades que podem ser desenvolvidas numa ação de formação via e-learning. Compilei uma pequena lista baseada na obra de Dias & Gomes (2008):  Equipas de projeto, com objetivo definido  Pesquisa de informação, guiada por objetivos  Debates de ideias síncrono (através de chat)  Debates de ideias assíncrono (através de fóruns de discussão)  Atividades programadas (assignments)  Videoconferências (Masterclass)  Audioconferências (Masterclass)  Geração de ideias (Brainstorming)  Comunidade de prática (Networking)  Resolução de problemas (PBL - Problem based Learning)  Simulação ou jogo (Game Based Learning)  Criação de um blog ou outro tipo de site (dirigido por objetivos)  Estudo de caso (com ou sem PBL)  Elaboração de um diário de aprendizagens  Elaboração de um relatório (estado da arte, experiência, etc.)  Preparação de uma análise crítica (de um livro, site, vídeo, etc)  Elaboração de um plano ou proposta de trabalho científico  Preparação de mapas conceptuais ou cognitivos  Organização e apresentação de um portefólio para avaliação. Muitos ainda são os resistentes, que lutam contra a aprendizagem através das tecnologias. Durante muito tempo a pedagogia e a tecnologia pareciam ser as grandes rivais deste novo tempo. Professores queixam-se constantemente que a tecnologia veio trazer aos 55

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alunos distração, formas avançadas de “copianço” e aprendizagem pouco fundamentada (digamos, uma espécie de cultura via wikipedia!). Porém, cabe a nós, seres humanos em constante adaptação, colocar a tecnologia ao serviço da pedagogia. Tanto para formandos como para formadores, os tempos mudaram. Não basta aos formandos sentarem-se na sala de formação e ficar lá “x” horas a ouvir e a realizar algumas dinâmicas. Não basta aos formadores preparem uma sessão. O e-learning incentiva ao contacto entre formandos e entre formador e formandos, a qualquer hora do dia. Apesar de nunca ter sido e-formadora (note-se que para tal, convém frequentar uma ação de formação especifica), como professora já criei um blogue de apoio às aulas que tem feito bastante sucesso junto dos alunos. Diminuem as filas para tirar fotocópias de elementos de estudo, poupa-se tempo e até se poupa o ambiente porque existe uma seleção mais atenta do que realmente é necessário imprimir. Desengane-se também quem pensa que frequentar ações de e-learning é mais fácil! Num estudo apresentado na conferência de e-learning, foi feita uma avaliação da satisfação dos alunos que frequentaram ações por e-learning. Curiosamente, envolviam-se tanto nos assuntos em debate que acabavam por passavam até mais tempo do que o programado para aquela ação de formação. As metodologias de avaliação também foram adaptadas a estas ações. Avaliações ponderadas são bastante comuns: por exemplo, realização de testes online, trabalhos finais e participação em fóruns de discussão poderão ser três elementos que compõem uma média para a nota final do formando. Se você é daquelas pessoas que está sempre a utilizar a desculpa do tempo para não se atualizar, essa desculpa acabou. Existem diversas empresas de formação (em Portugal e no estrangeiro) com ações em e-learning e b-learning, e algumas empresas só trabalham com formação por e-learning. Algumas universidades (incluindo a Universidade Aberta) já possuem plataformas de e-learning, sendo a mais comum a plataforma Moodle. Num outro nível, também já existem mestrados e pós-graduações diversas neste formato. Assim, pode gerir o seu tempo, realizar as tarefas de madrugada se preferir, poupar o seu carro e gasolina e até frequentar aulas de pijama! Experimente! Referências bibliográficas: Dias, A. & Gomes, M. Coord. (2008). E-conteúdos para e-formadores. TecMinho. Universidade do Minho. ISBN 978-972-8600-21-1

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5.Teletrabalho: Que Vantagens e Desvantagens? Em artigos anteriores, abordamos o tema do teletrabalho na perspetiva da grande inovação que representa para o mercado de trabalho atual. Contudo, como em tudo o resto, há duas faces para uma mesma moeda e é imperativo compreender que vantagens e desvantagens poderá representar esta nova forma de organização do trabalho, quer para teletrabalhadores quer para empregadores. Comecemos pelas vantagens. Na perspetiva do teletrabalhador, existe uma maior autonomia e gestão do tempo, a possibilidade de controlar o seu ritmo de trabalho e uma provável diminuição de estresse, já que não está “exposto” aos constrangimentos de um local de trabalho, chefias, etc. Uma boa gestão do seu tempo poderá inclusive trazer ao teletrabalhador mais tempo livre para investir noutros campos da sua vida, daí que se acredite que o teletrabalho poderá ser um grande contributo para uma melhor conciliação familiar e profissional. Por outro lado, dependendo da gestão pessoal de cada teletrabalhador, pode também ocorrer o inverso: Uma vez que o trabalho e a família partilham o mesmo espaço, poderá ocorrer alguma redução da qualidade de vida familiar. O trabalhador deve saber gerir esta situação e a família deve também concordar com esta modalidade já que pode influir diretamente na vida familiar. Do ponto de vista económico, o teletrabalho poderá representar também poupanças: redução de despesas em transportes, redução do desgaste do veículo próprio (indiretamente, pode contribuir até para a menor poluição ambiental!), e diminuição de gastos em despesas de alimentação. Dado que o teletrabalhador domina as tecnologias, poderá até conhecer pessoas de outros países e desenvolver os seus contactos profissionais, que num formato tradicional de trabalho dificilmente viria a contactar (já sabemos do cliché “vivo a vida de casa para o trabalho e do trabalho para casa”). No que concerne a desvantagens para o teletrabalhador, talvez a primeira desvantagem, que imediatamente nos “salta aos olhos” seja o isolamento social. O trabalhador sofrerá de alguma falta de interação social e poderá enfrentar até alguma solidão o que, a longo prazo, poderá causar eventuais impactos psicológicos (como, por exemplo, a depressão ou a incapacidade de se relacionar socialmente) Esta perda de competências sociais poderá até afetar negativamente a própria carreira da pessoa, pois 57

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quando tiver de regressar a um formato de trabalho tradicional, poderá ter grandes dificuldades de adaptação. Estreitamente relacionado com o isolamento social, surge o isolamento profissional: pode gerar-se uma insegurança profissional e uma diminuição do autoconceito de trabalho de si próprio, ou seja, sem feedback, o trabalhador poderá deixar de acreditar em si próprio. Ainda consequência do isolamento profissional, surge a ausência de contactos profissionais futuros, isto é, a pessoa não conhece pessoas novas no seu setor, o que poderá levar até a perder oportunidades de trabalho. Por outro lado, pode ocorrer uma diminuição da probabilidade de progressão na carreira ou redução das oportunidades profissionais. Como diz o povo “longe da vista, longe do coração”, e o teletrabalhador, afastado fisicamente do local onde a empresa labora, pode ser “esquecido” e consequentemente penalizado em eventuais promoções, na frequência de ações de formação, na atribuição de prémios, etc. Outras desvantagens emergem do facto de ser um modelo de trabalho recente. Por um lado, como abordamos noutro artigo, nem sempre existe contrato de trabalho, pois muitas empresas vêm esta modalidade como muito próxima do trabalho freelancer, o que poderá levar a condições precárias laborais. Caso exista um contrato de trabalho individual, como ainda há algumas lacunas legislativas, o trabalhador poderá ter mais dificuldades em efetuar reivindicações laborais, podendo mesmo não usufruir de todas regalias económicosociais. Por último, uma desvantagem que na minha opinião e experiência acontece bastante é o facto do teletrabalhador correr o risco de prolongar o tempo de trabalho diário, uma vez que poderá não fazer uma separação clara do tempo de trabalho e tempo de lazer. Isto poderá causar um aumento do estresse ocupacional e afetar bastante a vida familiar. Passamos agora a tentar vislumbrar algumas desvantagens e vantagens do ponto de vista das organizações. Neste formato de trabalho, poderá existir uma dificuldade em supervisionar o trabalho, por isso é necessário um planeamento mais atento ao implementar esta metodologia. Como noutras situações, podem acontecer o famoso fenómeno da “resistência à mudança”, tanto nos trabalhadores tradicionais como em teletrabalhadores, daí que seja imprescindível que o teletrabalhador concorde com esta metodologia. Os trabalhadores que permanecem no local de trabalho (se for o caso) podem sentir diferenças de tratamento, logo é imprescindível promover a igualdade. 58

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As organizações podem ter dificuldade em realizar um processo de seleção ideal, pois nem todos os trabalhadores tem esse perfil. Além doutras características, a disciplina e a gestão pessoal são aspetos que contribuem largamente para que o teletrabalhador consiga manter ou até mesmo melhorar a sua produtividade. Ao nível da cultura organizacional existirá mudança e é necessário que a empresa atualize e reforce até os seus valores e a sua missão, se não o fizer, poderá haver diminuição da coesão no seio da empresa. Grande parte das vezes, é à organização que são imputados os investimentos associados ao teletrabalho (infraestruturas necessárias num escritório em casa, ligação à internet, apoio técnico, configuração da plataforma informática da empresa, etc). Existem também riscos de quebra de confidencialidade acrescidos: com o trabalhador fora das instalações, o risco de uma fuga de informação, deliberada ou não, aumenta bastante. Em termos jurídicos existem condições específicas para o teletrabalho, o que implica que as organizações se atualizem neste assunto. Em Portugal o Código do Trabalho considera teletrabalho “a prestação laboral realizada com subordinação jurídica, habitualmente fora da empresa do empregador, e através do recurso a tecnologias de informação e de comunicação”. O contrato de trabalho deve conter tudo o que um contrato em trabalho tradicional já possui, com algumas adaptações: (a) identificação dos contraentes; (b) funções a desempenhar, com menção expressa do regime de teletrabalho; (c) duração do trabalho em regime de teletrabalho; (d) atividade antes exercida pelo teletrabalhador ou, não estando este vinculado ao empregador, aquela que exercerá aquando da cessação do trabalho em regime de teletrabalho, se for esse o caso; (d) propriedade dos instrumentos de trabalho a utilizar pelo teletrabalhador, bem como a entidade responsável pela respetiva instalação e manutenção e pelo pagamento das despesas inerentes; (e) identificação do estabelecimento ou departamento da empresa ao qual deve reportar o teletrabalhador bem como identificação do superior/interlocutor da empresa com o qual o teletrabalhador pode contactar; (f) e ainda outros assuntos, que poderão ser adendados como, por exemplo, volume de trabalho, localização do posto de teletrabalho; dever de apresentação na empresa; utilização de sistemas de controlo à distância; condições de acesso de representantes da empresa ao domicílio do teletrabalhador; condições de seguro; condições de alteração do contrato; etc. Uma vantagem para as empresas poderá ser o facto de utilizar o teletrabalho para dar resposta a condições específicas, por exemplo, um trabalhador portador de deficiência 59

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poderá

continuar

a

trabalhar

em

casa

ou

um

trabalhador

em

licença

de

maternidade/paternidade poderá rapidamente voltar ao trabalho “em casa” se tal lhe for proporcionado. Por outro lado, a empresa poderá poupar espaço físico, podendo até reduzir as instalações ou rentabilizá-las de outra forma. Por último, muitas são as empresas que encontraram neste formato, a possibilidade de contratar trabalhadores em qualquer parte do mundo e com isso, reduzir custos associados a remunerações. Só com o passar do tempo, poderemos analisar mais vantagens e desvantagens do teletrabalho, pois muitas outras irão, com certeza, surgir. Neste momento, na minha opinião, este formato parece estar a proporcionar mais oportunidades de trabalho, maior globalização e internacionalização das empresas e a possibilidade de flexibilização do trabalho.

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6.

Empresas ecologicamente criativas

A preocupação com o planeta já não é competência exclusiva das organizações humanitárias ou das empresas excessivamente poluidoras. Somos seres humanos a viver num local que muito breve não terá qualidade de vida. Muitos países são já líderes em reciclagem: O Japão reutiliza 50% do seu lixo sólido! Os Estados Unidos reciclam mais de um terço de seu lixo. A Suécia, a Dinamarca, a Noruega e a Alemanha têm já práticas de reciclagem de diversos tipos. Em Portugal, recicla-se apenas cerca 15% do lixo produzido, apesar da união Europeia ter estipulado a meta de 25%! Como pessoa, despertei bastante cedo para este problema. Logo nos primeiros anos de faculdade, estava rodeada de pessoas bastante sensíveis a questões ecológicas. Tive também a sorte de trabalhar numa empresa que servia diretamente estes propósitos através das estações de tratamento de águas (vulgarmente chamadas de Eta’s e Etar’s), e apesar de esta empresa já estar sensibilizada para estas temáticas, foi-me dada autonomia, por exemplo, para iniciar um programa interno de reciclagem de consumíveis. Fui construindo o meu percurso profissional deixando em todas as empresas uma pequena “pegada ecológica”. Talvez o princípio primordial seja o facto de todos podermos e devermos deixar essa pegada em todos os locais em que trabalhamos. Qualquer pessoa com preocupações ambientais deve ter ser presente 3 R's: Reduzir, Reutilizar e Reciclar! Nunca podemos pensar que uma só pessoa não fará a diferença, porque muitas vezes é mesmo uma pessoa que acaba por ser o trampolim para fazer a diferença! Claro que ser trampolim, pode não ser agradável. Provavelmente irá ouvir muitas afirmações como eu ouvi “Isso não vale a pena! Afinal os outros poluem, por isso não podemos fazer nada!”, “Para que te dás ao trabalho disso? É perda de tempo”, “O ecoponto é muito longe, dá muito trabalho…se eles querem reciclagem que coloque um ecoponto aqui ao lado!”, “és exagerada…não é o nosso papel que vai fazer a diferença no mundo inteiro!”, “O planeta ainda vai durar muitos anos…não é no meu tempo que a poluição vai matar ninguém”, etc, etc. Agora imagine ouvir isto todos os dias durante anos da sua vida! Mas o momento de sensibilização acaba por chegar, acredite! E as nossas pegadas ecológicas ficarão lá. Se acha que não tem essa obrigação para com o seu planeta, veja algumas curiosidades assustadoras: 61

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 - Cada pessoa produz cerca de 180 quilos de lixo por ano!  O papel e o papelão demoram de 3 a 6 meses a serem absorvidos. Uma pastilha elástica pode levar 5 anos!  As latas de refrigerantes demoram entre de 80 a 100 anos a ser absorvidas pelo ambiente. O plástico pode levar até 500 anos. Mas alguns tipos, simplesmente, não se decompõem.  O vidro fica um milhão de anos na natureza sem de decompor! Mas se reciclarmos…  Podemos salvar cerca de 20 árvores se reciclarmos uma tonelada de papel!  Podemos poupar 400 quilos de areia que se teria de retirar do solo para fabricar uma tonelada de vidro, simplesmente colocando o vidro no ecoponto!

O importante para as empresas é começar por algum lado e pensar que há sempre algo mais a fazer, há sempre evolução. Ser uma empresa ecológica faz parte da responsabilidade social das empresas portuguesas. Assim, vamos apresentar aqui uma Check List de práticas simples que todas as organizações podem levar a cabo no sentido de se tornarem ecologicamente sensíveis:

1.

Aproveite as horas de formação profissional anuais para os seus

colaboradores, para levar a cabo ações de sensibilização ambiental. Eles vão utilizá-los na empresa e provavelmente irão levar esse conhecimento para suas casas. Em vez de ações de formação clássicas, entre quatro paredes, pode optar por diversas quintas ecológicas ou de turismo rural. Em algumas há inclusivamente programas de contacto com a natureza orientados para empresas.

2.

Substitua lâmpadas normais por lâmpadas de poupança de energia (poupa o

ambiente e a na fatura de eletricidade). Curiosidade: substituir uma lâmpada normal por uma lâmpada florescente poupa 68 Kg de carbono por ano;

3.

Faça back-up de informação em CD ou procure empresas especializadas em

back ups profissionais. Não imprima todos os documentos e guarde no arquivo!

4.

Crie um programa de limpeza de arquivo antigo. Anualmente, contrate

colaboradores temporários ou contrate dentro da empresa colaboradores (com possibilidade de ganhar horas-extra) que se dediquem à eliminação e reciclagem de arquivos desatualizados. Documentos formais devem ser guardados 5 anos, mas tudo o 62

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resto pode ser reciclado. Não se esqueça de aproveitar o lado branco (de trás) de todas as folhas para papel de rascunho ou notas.

5.

Se tem muitos documentos confidenciais, invista numa máquina destruidora

de papel. Garante a confidencialidade e pode colocar o papel na reciclagem.

6.

Existem empresas especializadas em gestão de resíduos eletrónicos. Reúna

computadores e eletrodomésticos velhos ou avariados e entregue-os nessas empresas. (A título de exemplo, a empresa que eu uso tem sede na Póvoa de Varzim e chama-se “LBNCar: Gestão global de resíduos”: http://www.lnbcar.com)

7.

Muitas empresas já adotaram esta frase como a última linha de todos os seus

emails enviados “Antes de imprimir este e-mail pense bem se é necessário fazê-lo”. Pode parecer uma pequena coisa a fazer, porém irá causar alguma reflexão em quem recebe e nem que se poupe apenas uma folha de papel, já contribuímos.

8.

Procure opções de energias renováveis para a sua empresa. Aerogeradores,

painéis solares ou fotovoltaicos, aproveitamento de águas da chuva e muitas outras soluções, estão agora disponíveis, e muitos destes recursos têm até incentivos à compra e benefícios fiscais.

9.

Se a sua empresa tem jardins, incentive à poupança de água, regando

apenas quando já não há sol. Opte por candeeiros com células fotovoltaicas e programador horário: poupa na fatura de luz, não necessita recursos humanos para acender e desligar a luz, poupa em compra de lâmpadas, etc.

10.

À medida que vai substituindo materiais e equipamento, opte por soluções

amigas do ambiente: papel reciclado, torneiras com sensor de ativação (não usar água quente!), autoclismos com meia-carga, luzes no WC com sensor, fotocopiadores e outras máquinas com stand-by, etc.

11.

É um conselho óbvio, mas nunca é demais realçar: incentive à reciclagem.

Não chega incentivar verbalmente ou em documentos escritos, é necessário criar de imediato condições concretas: colocar mini-ecopontos por toda a empresa (para recolha seletiva). Neste caso é muito importante sensibilizar o pessoal da área de logística e limpeza. Se recorre a outsourcing para alguns destes serviços, selecione uma empresa com consciência ambiental! A corrente pode quebrar-se em vários momentos, e todos

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podem fazer reciclagem dentro da empresa, mas quem coloca os itens no lixo tem a decisão final!

12.

Escolha parceiros de negócios com preocupações ambientais. Poderão

até desenvolver projetos em conjunto. Uma ideia interessante é a realização de uma festa anual para todos os colaboradores e seus filhos menores de 12 anos, com animação e sensibilização ambiental. Este tipo de festa tem objetivos ambientais porém que se misturam com outras políticas de recursos humanos (convivência entre colaboradores, fidelização, aproximação das famílias, reforço/prémio anual pelo trabalho desenvolvido na empresa, etc.)

13.

Ao ter bar e/ou cantina na sua empresa, está a evitar que os

colaboradores tenham de se deslocar fora da empresa, poupando gasolina (diminui a poluição) e tempo útil dos colaboradores. Não se esqueça de sensibilizar o pessoal da cantina para a reciclagem.

14.

Incentive o car-sharing. O car-sharing está a ganhar força um pouco por

todo o mundo empresarial. Pode implementar um programa de Car-sharing com poucos recursos humanos e sem custos para a empresa. Alguém começa por fazer um mapa de todos os colaboradores e suas moradas, dinamiza umas reuniões, divulga uma lista para que as pessoas se inscrevam e já está! Para sensibilizar os colaboradores, nada melhor que apresentar números concretos, por exemplo quanto gasta em gasolina por mês! Redige-se um documento final em que todos assinam e concordam com o acordo (não esquecer da rotatividade dos carros, da divisão igualitária do valor gasto em gasolina, etc.). Em breve em vez de 10 carros para 10 pessoas, poderá conseguir que venham todas em 5 carros apenas: menor poluição, menos custo de gasolina e desgaste de carros para colaboradores, e boas práticas para a responsabilidade social da empresa!

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6

Para saber mais sobre os impactos ambientais, aconselho vivamente que vejam o filme documental “An Inconvenient Truth” de 2006, com Al Gore (antigo vice-presidente norte-americano) realizado por Davis Guggenheim: (http://www.imdb.com/title/tt0497116/)

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7.

“Entre marido e mulher, podem patrões meter a colher???”

Há alguns meses atrás recebi um pedido de participação numa investigação de doutoramento que questionava sobre este tema: Casais a trabalhar na mesma empresa. Abri o endereço eletrónico do questionário e descobri que eu correspondia aos critérios do estudo em questão. Um casal a trabalhar no mesmo local de trabalho, há mais de 6 meses consecutivos. De facto, durante mais de três anos vivi essa situação na primeira pessoa. No meu caso foi voluntária e conscientemente que optei por essa solução. No seu caso, poderá ser uma situação involuntária. O meu conselho principal é: se puder escolher, não queira trabalhar na mesma empresa do seu esposo/esposa! Manter uma relação conjugal nos dias de hoje não é fácil, porém, manter um emprego também não: juntar as duas opções pode transformar-se num pesadelo! Um casamento de sucesso tem como base uma relação amorosa, baseada na confiança e partilha. Uma relação de emprego, entre uma organização e um colaborador, tem, na sua base os mesmos princípios. Juntar os colaboradores na mesma organização cria uma espécie de triângulo amoroso complexo. Se um dos elementos do casal perder o emprego, e o outro continuar a trabalhar no antigo local, isso trará problemas conjugais. Se a organização falir, ambos perdem o emprego! Se casamento for afetado e terminar, voltará a trabalhar ao lado do seu/sua esposo/esposa, 40 horas por semana?! Foi numa perspetiva pessoal e subjetiva, por um lado, mas também de psicóloga organizacional, por outro, que procurei escrever aqui as cinco vantagens e cinco desvantagens de um casal trabalhar no mesmo local de trabalho. Vantagens 1- Em nenhuma outra situação irá sentir tanta partilha entre o casal. O casal conhece a organização, as pessoas e os problemas. Chegar a casa e conversar sobre tudo isso traz uma catarse inigualável e um sentimento de compreensão profunda. 2- Passar tempo em conjunto não é um problema. O casal sabe sempre onde se encontrar. O casal pode até aproveitar alguns momentos no trabalho para algumas “brincadeiras” inocentes a dois! 65

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3- A partilha de projetos e reconhecimento mútuo é enorme. A possibilidade de construir algo positivo no trabalho, além da relação, traz uma sensação de união. 4- Quando a organização enfrenta dificuldades, o casal luta em conjunto. Enfrentar adversidades é, por excelência, uma das melhores situações para manter o casal unido. 5- Em caso de despedimento, espera-se que a organização tenha em conta a situação de casal e, por exemplo, opte por despedir apenas um dos elementos. Desvantagens 1- A organização sabe que o casal é um casal e tem dificuldade em separar “as águas”. Vivi em primeira mão esta situação, sentido, por vezes, uma certa perda de individualidade. Ser tratado como “a esposa de” ou “o esposo de” pode não ser benéfico para a sua carreira. Muitas organizações, podem hesitar, por exemplo, em dar um aumento ou fazer outra qualquer reformulação, com receio de afetar o casal. O casal é muitas vezes tratado como casal, e não como dois colaboradores, duas pessoas únicas. 2- Quando se trabalha no mesmo local de trabalho, o tema de conversa predominante entre o casal, obviamente, é…trabalho! Nos primeiros tempos, tudo isso tem um cariz positivo e o casal entreajuda-se para atingir os objetivos, quer da organização quer do casal. Porém, falar sobre os mesmos temas esgota a relação (vivi isso na primeira pessoa, até à separação). 3- Passar 40 horas por semana ou mais ao lado do seu esposo/esposa, ao fim de alguns anos, torna-se desgastante. O risco de separação eleva-se. O nosso tempo deve ser dividido pelas várias áreas da nossa vida e, trabalhar ao lado do/a esposo/a acaba por limitar a nossa vida. 4- É difícil manter o mistério e o romance necessário a uma relação amorosa de sucesso. Todos os colegas de trabalho sabem da vida do casal. O casal sabe tudo sobre a vida profissional um do outro. Dar conselhos de mariado para mulher ou vice-versa deixa de ter o mesmo impacto do que os conselhos dados quando o casal trabalha em sítios diferentes, fornecendo assim uma perspetiva externa e “fresca”. 5- O risco de desemprego total do agregado familiar é muito maior. Tem acontecido bastante em Portugal, por exemplo, em caso de despedimentos coletivos. Toda a vida do casal cairá por terra, e mais uma vez, terão de enfrentar juntos a adversidade. Casais a trabalhar na mesma empresa não me parece, quer no ponto de vista pessoal quer da psicologia organizacional, um bom princípio. Aliás, existem já empresas, 66

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principalmente nos Estados Unidos da América que têm políticas rígidas quanto à contratação de casais ou, pior, quanto ao desenvolvimento de relações amorosas nos locais de trabalho. A experiência dos EUA relaciona-se, essencialmente, com a possibilidade de processos judiciais no âmbito do assédio sexual e até assédio moral. Existem empresas que obrigam já os colaboradores a assinar uma declaração em como não têm qualquer tipo de relacionamento amoroso ou conjugal com outro elemento daquela empresa. Outras, mais tolerantes, exigem a inclusão de uma cláusula no contrato de trabalho, em como a pessoa se compromete a informar a empresa, caso assuma uma relação amorosa ou conjugal com um colega de trabalho. Por fim, se você é gestor na sua empresa, procure evitar a contratação de casais. Este é um assunto muito mais complexo do que todos poderão pensar e, no sentido da eficiência e eficácia, quer da organização, quer do casamento em causa, aconselho seriamente a evitar!

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9.Estabilidade ou estagnação? Empreendedorismo de geração em geração… Recentemente, percebi que a minha avó, agora com 75 anos, afinal era uma empreendedora. Durante muitos e muitos anos, a geração anterior a mim chamava ao empreendedorismo “estabelecer-se”, esse calão, de certa forma carinhoso, exclusivo de uma época histórica particular. Há uma semana atrás, quando uma pessoa contou-se que alguém “se ia estabelecer”, e eu não percebi. Demorei alguns minutos a processar aquela gíria antiga, para pouco depois encontrar a expressão certa geracional num cantinho da minha mente: estabelecer-se era ser empreendedor. Claro que o empreendedorismo de hoje é muito mais complexo e vai além do simples “estabelecer-se por conta própria”. Abrir um negócio ou como diz o povo, “montar um estaminé” é apenas uma pequena componente de ser empreendedor. Há mais de trinta anos, a minha avó trabalhava num emprego que detestava, numa linha de produção de uma fábrica. O meu avô, através de contactos, começou a criar a ideia de abrir uma loja de “pronto-a-vestir”. Durante a minha infância e minha adolescência sempre ouvi a minha avó dizer, com um orgulho inchado mas honesto, que tinha um “pronto-a-vestir” e, essa sim, foi uma expressão que me ficou gravada. Já nem sei o que é que se chama, atualmente, a uma loja que vende roupa, mas sabia que o “pronto-a-vestir” advinha do “prêt-a-porter”. Numa altura histórica em que alfaiates e costureiras, desenhavam e criavam de raiz modelos originais, que exigiam criatividade, dedicação e tempo para chegar ao resultado final, “à medida”, o “pronto-a-vestir” revolucionou uma época. Forrar botões, forrar sapatos e carteiras, colocar tudo a fazer “pandan” era uma arte que se unia a colocar os “pinchos” certos nos lugares certos, para que tudo caísse perfeitamente no corpo daquela pessoa, única e irrepetível. “Estabelecer-se” não foi fácil. Ouvi muito anos as queixas, as dificuldades, as vendas que estavam a correr mal, ou o natal que vinha aí para que, finalmente, “se pudesse vender bem”! Numa altura em que a palavra empreendedorismo aparece quase todos os dias no meu ecrã ou nos meus ouvidos, dei por mim a pensar que EU não devia ter “veia do

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empreendedorismo” na minha família…e foi então que me lembrei que a minha avó se havia “estabelecido”… O debate se o empreendedorismo é inato ou desenvolvido continuará eternamente. Aliás, o debate em geral “influência do meio” versus “hereditariedade” é antigo e irresolúvel para já. Hoje em dia vivemos um mundo de extremos. Com apenas um historial de cerca de 200 anos, o contrato de emprego eliminou uma grande probabilidade de criarmos verdadeiros empreendedores em Portugal. Há dias, estava eu a visionar um destes debates horripilantes sobre o estado da legislação laboral (que, confesso, grande parte das vezes, evito) e, em certo momento, no meio da acesa discussão sobre indemnizações e despedimentos, o comentador (consultor altamente especializado e cheio de títulos) diz, meio engasgado, envergonhado e com um pequeno travo de orgulho “sim..não…eu não posso falar de mim porque …bem…eu sou trabalhador independente”. “Ah”, disse a jornalista num certo desabafo, a preparar-se para o “ataque” seguinte, contudo, com um tom de voz e um expressão fácil de admiração e de um certo respeito. Na minha tese de mestrado estudei isso: os trabalhadores que eu chamei de “trabalhadores independentes involuntários” (grande parte deles na situação de “falsos recibos

verdes”,

que

todos

com

certeza

conhecemos),

realmente

não

eram

empreendedores, nem o queriam ser, e, por isso, obviamente, não se sentiam felizes. E os trabalhadores independentes que realmente o querem ser? Existem? Estarão satisfeitos? Não estarão mais satisfeitos do que os contratados sem termo? Durante tantas gerações, não houve alternativa se não “estabelecer-se”. Não havia um mágico poderoso patrão, de quem as pessoas ficavam à espera para ser contratadas. Herdar o negócio de família era um grande orgulho e os irmãos, muitas vezes, lutavam por esse autêntico trono. Ninguém aguardava benefícios, não existiam subsídios e ninguém pensava “oh, não vale a pena trabalhar porque vou para o Subsídio!”. Numa reportagem recente, uns agricultores ingleses, julgo eu, foram afetados por uma tempestade que lhes arruinou as colheitas. O jornalista pergunta, naquele inglês britânico puro que eu admiro, se eles iam então recorrer a subsídios da união europeia. O agricultor, que a falar inglês britânico, nem parece corresponder ao meu estereótipo de agricultor, de

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pessoa simples e com vocabulário limitado, levantou uma sobrancelha e respondeu prontamente “no, of course not”. Muitos estudos recentes demonstram grande estress ocupacional. As pessoas estão estressadas com os seus empregos apesar de terem a estabilidade que tanto sonhavam! Não é estranho? Então será estabilidade ou estagnação? As pessoas possuem um forte desejo de mudança, porém, quando aparecem oportunidades, não sabem reagir. A mudança, atualmente, traduz-se simplesmente em um salário maior ou mas benefícios. Não estou, com esta afirmação a defender qualquer político ou política, entenda-se. Estou a tentar formar uma ideia clara, cronologicamente fundamentada, da personalidade de muitos trabalhadores atuais que, na minha teoria, passaram a procurar a estabilidade à sua volta em vez de dentro de si próprios. Se procurar a estabilidade dentro de si, dentro da sua personalidade, não terá de sentir a necessidade extrema de estabilidade no resto da vida laboral. Se o seu autoconceito laboral for elevado, nunca terá dúvidas que será capaz. Para terminar a história, a minha avó foi empreendedora 3 décadas e continua a sê-lo todos os dias. Porém, quando eu lhe digo que não tenho emprego e que me “estabeleci”, até ela fica, hoje em dia, um pouco preocupada e até espantada. E eu respondo-lhe “Então…não foi o que tu fizeste?”. Ela também levanta a sobrancelha e roda a cabeça para o lado e diz “Sim, é verdade…é…” O limite entre estabilidade e estagnação é ténue. Será que você é capaz de se posicionar?

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"Quem sabe concentrarconcentrar-se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa." "Sê a mudança que queres ver no mundo". Mahatma Gandhi Índia 1869/1948 Pensador/Político /Yogi

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CAPÍTULO III. VOCÊ! MELHORE A SUA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL

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1. Afinal…trabalhar para quê? Com certeza já reparou que dois minutos após o contacto outra pessoa, é inevitável que surjam as perguntas: “Como te chamas...” e “O que fazes...”. Há décadas que a profissão tem conquistado espaço nos componentes da nossa identidade e é difícil, senão impossível, estabelecer uma conversação sem referir o que fazemos profissionalmente. Apesar de muitos países defenderem já a diminuição da carga horária semanal de trabalho, Portugal situa-se ainda, em muitos casos, nas 40 horas, assim, trabalhamos cerca de 40 anos, durante 11 meses por ano…é só fazer as contas! Em quarenta anos de vida temos 350.000 horas para viver. 116.000 horas são reservadas ao sono (se dormir 8h/dia), só temos 30. 000 horas de férias (30 dias de férias por ano) e trabalhamos aproximadamente 70. 000 horas nesses quarenta anos! Isto o que significa que passamos mais tempo a trabalhar do que a descansar, a conviver com família e amigos ou a dedicarmo-nos a nós próprios! Mas como é que isto foi acontecer? Afinal, para quê trabalhar? Já pensou nisso? Talvez a sua primeira resposta impulsiva seja “para ganhar dinheiro”! Mas vamos conhecer um pouco da história do trabalho, para uma compreensão mais aprofundada do motivo pelo qual trabalhamos. Analisemos a palavra “trabalho”: esta deriva da palavra latina tripaliu (à letra “três paus”) que designava um aparelho para sujeitar os cavalos que não se deixavam ferrar (Priberam). O verbo tripaliare veio a significar também torturar em português. Parece que o significado de algo penoso e difícil tem andado sempre associado ao trabalho, porém os gregos possuíam outra palavra para designar “trabalho”: ergon, que designa uma criação ou obra de arte. Assim, podemos compreender que o termo trabalho tem, dois significados (Woleck, 2002): esforço, sofrimento (do grego “ponos”) e criação, obra de arte (do grego “ergon”). Aliás, mais tarde Karl Marx considerou o trabalho como a única fonte criadora da vida humana. Na antiguidade, o trabalho era considerado a atividade dos que perderam a liberdade, ou seja dos escravos, e considerava-se o ócio como uma virtude. Lembre-se que se não tivesse sido cultivado o ócio (como ausência de trabalho), não teríamos hoje grandes perspetivas da filosofia e grandes obras de literatura (que na altura, não era consideradas

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trabalho). Foi apenas com a ascensão da burguesia no século XIX que o ócio começou a ser condenado. No final da idade média o trabalho passou a incorporar algum sentido positivo e a ser encarado como uma ação criadora, um espaço de aplicação das capacidades humanas, acompanhado pela noção de empenho, de esforço para atingir determinado objetivo (Woleck, 2002). Por vezes esquecemos que muitas atividades que são trabalho (trabalho doméstico, jardinagem, estudar, etc.) não são consideradas emprego. Quando uma pessoa não tem emprego, muitas atividades de trabalho continuam, por exemplo, familiares, parentais, comunitárias, etc., e todas estas implicam determinados deveres e obrigações. “Emprego”, por seu turno, é a troca contratual, institucionalmente regulamentada, entre duas partes, em que uma vende, e a outra compra trabalho, normalmente por dinheiro, mas também poderá ser por bens ou serviços. O trabalho pode ser considerado como toda a atividade realizada, enquanto a relação jurídica de emprego, tem de ser contratualizada através de um “contrato de trabalho” (escrito ou oral). A palavra emprego surge na língua inglesa em 1400 e, até ao início do século XVIII, respeitava a uma determinada tarefa e nunca se referia a um papel ou a uma posição numa organização. Só a partir do século XIX, passou a ser entendida como o trabalho realizado nas fábricas ou nas burocracias das nações em fase de industrialização (Woleck, 2002). Aproveitemos para definir desemprego. Desemprego é definido como a falta de emprego (Priberam, s/d), enquanto que desempregado é definido como sem-emprego; desocupado (ibidem). O prefixo “des” faz-nos crer que se trata de uma pessoa que já teve emprego e que deixou de o ter, mas na realidade, na língua portuguesa, designa indefinidamente quem nunca o teve, pois não existe palavra para caracterizar “a pessoa que nunca teve relação de emprego”. A segunda definição de desempregado é “desocupado”, o que não está correto, pois ser desempregado não é estar desocupado ou não ter trabalho, já que muitas atividades de trabalho continuam. Introduzi recentemente (Araújo, 2009) um outro fenómeno: o Inemprego ou nãoemprego. Defino-o como a situação em que se encontra a pessoa que nunca teve uma relação jurídica de emprego (contrato de trabalho sem termo), seja porque sempre 74

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trabalhou em situações precárias (estágios, contratos a prazo, prestação de serviços [recibos verdes], bolsas de investigação, part-time, etc.), ou porque nunca trabalhou, ou já trabalhou precariamente mas está sem ocupação laboral no momento. Estima-se que existam milhares de inempregados em Portugal, que sem nunca parar de trabalhar, nunca tenham tido um emprego! Fizemos este breve percurso pela historio do trabalho e do emprego, para chegar à carreira. Etimologicamente, a carreira significava uma vereda, um caminho estreito e difícil de percorrer (ainda persiste hoje o significado de um “carreiro”, ou até no espanhol, uma “carretera”). Até há pouco tempo, esse significado estava meio adormecido, já que há algumas décadas encontrávamo-nos numa situação de quase “pleno-emprego”. Porém com a crise económica mundial esse significado parece ter regressado para ficar. Uma definição abrangente de carreira seria um conjunto de tarefas, papéis e desempenhos prováveis, que requerem certas aptidões, conhecimentos, capacidades, interesses e que produzem um conjunto de recompensas (Castro & Pego; 2000 cit in Araújo, 2009). Simplificando, a carreira é a soma de todas as nossas experiências de trabalho. Os autores Clarke e Critcher (cit in Araujo, 2009) esclarecem a importância do trabalho e defendem cinco necessidades são satisfeitas pelo emprego: (a) a estruturação do tempo, impondo um determinado grau de organização nos horários das pessoas; (b) a partilha de experiências, fora do contexto familiar, ou seja, a possibilidade de construir amizades e conhecimentos com outras pessoas que não fazem parte da família; (c) a união de indivíduos em torno de objetivos que ultrapassam os seus próprios, ou seja, a colaboração com outros para atingir fins que não atingiriam sozinhos; (d) a obtenção de status e identidade e, por último, (e) o reforço da sua atividade, isto é, sentir que o que faz “vale a pena” e contribuir para algo maior. Com esta perspetiva é possível perceber que não se trabalha apenas para ganhar dinheiro, apesar de essa ser a razão que, aparentemente, nos motiva mais. Estes esclarecimentos poderão fazê-lo perceber que o trabalho tem muitas mais funções do que simplesmente reunir capital financeiro. É ainda mais fácil chegar a essa conclusão se pensar em alguns dos efeitos negativos de não ter emprego (Araújo, 2009): ansiedade, sintomas psiquiátricos, diminuição da satisfação 75

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com a vida e da autoestima, agressividade, problemas conjugais, desânimo, desespero, apatia, perda de identidade, stress, sentimentos de falhanço, etc. Em conclusão, apesar de nem sempre termos plena consciência disso, o trabalho enriquece a nossa vida de diversas formas. Assim, em vez de ver o trabalho como sofrimento (ponos), encare-o como a sua criação (ergon), a sua oportunidade de criar algo na humanidade! Referências Bibliográficas Araújo, P. (2009). Os “Inempregáveis”: Estudos de caso sobre os impactos psicossociais do não emprego em licenciados portugueses. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/9523 Priberam. Dicionário da Língua Portuguesa Online. Acedido em 2008 e Disponível em http://www.priberam.pt/ Woleck, A. (2002). O Trabalho, a ocupação e o emprego. Uma perspetiva Histórica. Revista de Divulgação Tecnico-Científica do Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Acedido em fevereiro de 2009 e Disponível em: http://www.ea.ufrgs.br/graduacao/disciplinas/adm01156/CONCEITOSDETRABALHOEMPREGO.pdf

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2.

VIDA LEAN: Aplique o melhor modelo de Gestão à sua VIDA

Quer aplicar um dos modelos de gestão de empresas mais bem-sucedidas de sempre à sua Gestão Pessoal? Quer viver uma vida LEAN? Esta pode ser a solução para si. O Lean Thinking é um modelo de Gestão que tem origem nas filosofias Japoneses, nomeadamente com o fundador da Toyota, Toyoda Sakichi. Os investigadores Womack & Jones, depois de uma década de investigação sobre o êxito das empresas japoneses publicam o livro “Lean Thinking: Banish Waste and Create Wealth in Your Corporation” em 1996. À medida que fui aprofundando os meus conhecimentos sobre esta filosofia de gestão e desenvolvendo investigação sobre este assunto (Araújo, 2011), comecei a perceber rapidamente que já seguia muitos desses princípios na minha vida, quer como praticante, quer como instrutora de Yoga. O Yoga, também uma filosofia integral de vida, com mais de 5 mil anos, fundou muitos dos princípios que o Lean veio mais tarde apregoar. Mas o que lhe interessa essencialmente saber é: QUAIS são esses princípios básicos deste modelo de gestão de sucesso em todo o mundo e COMO posso aplica-los à minha vida? Vou expor-lhe rapidamente, com exemplos, 3 princípios essenciais do Lean Thinking:

PRINCIPIO UM: ELIMINAR o MUDA da sua vida Muda, significa, em Japonês, o Desperdício, ou qualquer atividade que é inútil ou não traz mais valia. O Desperdício ou Muda é toda a “atividade humana, recursos ou materiais, que fazem perder tempo, custam dinheiro e não contribuem para a satisfação” ou sucesso da pessoa ou empresa. Acredite! A sua vida está cheia de MUDA! Os ingleses também apelidam de Clutter, u seja, excesso de tralha, tempo desperdiçado, etc. Os desperdícios podem ser de muitos tipos: Coisas que não usa, tempo que desperdiça, mau planeamento (de viagens, tempo, etc.), investimento em relações que não lhe trazem satisfação, fazer algo por mera obrigatoriedade sem ver frutos, etc. Reanalise a sua vida e elimine o MUDA. O Que é MUDA para mm, poderá não ser para si. Tem de fazer uma análise muito pessoal, recorrendo a MEIOS VISUAIS (outro principio LEAN: Registe nenhuma folha todo o MUDA, e vá eliminando da sua vida. Afixe num local visível 77

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para si!) Este primeiro princípio é o essencial para o caminho de uma vida Lean. Deixe-me acrescentar um exemplo concreto, que uso nas consultas de Gestão Pessoal e produtividade com clientes, conteúdo este, específico da PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR: Aprenda a distinguir NECESSIDADE E DESEJO. Se você seguir constantemente desejos, terá uma vida cheia de MUDA. Se seguir as suas necessidades, terá uma VIDA LEAN. Muitas vezes, ouço clientes dizerem “Mas eu preciso mesmo de comprar umas calças…estou mesmo a precisar!”. “Ah, eu estou a precisar de uma plasma, a minha TV não presta ”. Analise: Você PRECISA ou você QUER? Se você precisa, é uma necessidade. Se você quer, é um desejo. Não há nada de errado com ter desejos e querer algo melhor na sua vida. Mas comece a criar consciência de que não é uma necessidade, mas sim um desejo, e começará a triar o Muda. Quando vai às compras ou quando estiver a analisar a sua vida e os seus MUDAS, pergunte-se a si próprio “Espera [respire fundo] isto é uma necessidade ou um desejo meu? ”. Depois, decida, se é um desejo, será o melhor momento (pessoal, familiar, económico, etc.) para o satisfazer? PRINCÍPIO DOIS: Viva o KAIZEN Kaizen, significa a melhoria contínua. As empresas cada vez mais optam por este princípio, combatendo a estagnação para melhorar a sua capacidade competitiva Em Portugal, em particular, é com pena que o digo, muitas empresas e alguns “cidadãos portugueses adormeceram à sombra do contrato de trabalho”. Sim, está na hora de pensar que você não é estanque. Cada dia que passa você muda, você reformula-se e até o seu sangue e o seu corpo se renova. De 7 em 7 Anos, todos nós seres humanos, temos basicamente um corpo novo. Resta você decidir que quer mudar para pior, igual ou melhor. Se incorporar o KAIZEN na sua vida, cada momento que viver, vive para se tornar ainda melhor. Melhor pessoa, melhor amigo, melhor filho, melhor pai, melhor colega de trabalho, melhor profissional. KAIZEN não é tornar-se melhor ou evoluir porque alguém o pressiona ou exige, mas porque você QUER, e você tem prazer em evoluir. Sim, poderão existir bloqueios e dificuldades, existirão com certeza momentos em que você diz ou pensa: “Não sou capaz, é muito difícil”, mas não seja duro consigo próprio. Permita-se evoluir calmamente! 78

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PRINCÍPIO TRÊS: APLIQUE a Técnica dos 5 “s” O Programa “5S” consiste basicamente em cinco palavras japonesas que começam com a letra S e que descrever as atividades que descrevem as atividades que se podem realizar para ajudá-lo no processo de eliminação de desperdício. (a) Seiri: Classificar os itens da sua vida (tempo, pessoas, atividades, coisas, etc.) necessários e desnecessários para posterior eliminação dos últimos; (b) Seiton: organizar o que é necessário e importante. “Um lugar para tudo e tudo no seu lugar”. Isto aplica-se à sua casa, ao trabalho e até às pessoas. Pode parecer frio da mina parte, classificar as pessoas da sua vida, mas é exatamente isso que nós fazemos inconscientemente…agora traga à sua consciência e coloque as pessoas no lugar certo na sua vida. (c) Seiso: Limpeza. Pode parecer simplista, mas limpar e arrumar são essenciais à saúde geral, quer física, familiar, psicológica, etc. Limpe a casa, arrume a mente. Limpe o seu espaço de trabalho, tenha uma agenda clara. (d) Seiketsu: Criar regras ou padrões baseados no sucesso dos primeiros “S” de forma a conseguir manter a qualidade que conseguiu. Defina as regras da sua vida. Escreva-as (MEIOS VISUAIS!), registando-as num local onde possa claramente ler, pelo menos todas as semanas. Defina regras para os seus filhos e partilhe com eles (por exemplo, colando no frigorifico). Nas empresas, muitas empresa afixam claramente as regas internas. (e) Shitsuke: criar disciplina para manter em funcionamento os quatro primeiros ‘Ss”. Por curiosidade, em inglês, a tradução é (a) Sort, (b) Straightcn, (c) Shine, (d) Standardize, por último, (e) Sustain. Pode não ser fácil começar a viver uma vida LEAN, no princípio. Parece que está a ABDICAR de coisas ou a perder coisas que havia conquistado. O Povo costuma dizer “Isso é descer de cavalo para burro”, quando de alguma forma parecemos perder algo. Você tem de comer por mudar esta mentalidade! Não há cavalos nem burros, nem ninguém perde ou ganha. Você decide eliminar o que é fútil e desnecessários. Com o tempo, tal como eu, verá que começará finalmente a dar valor a tudo o que é importante na vida. E nunca se esqueças as coisas importantes da vida são as que não se conseguem tocar…7 Referências Bibliográficas Araújo, P. (2011). “Universidades Lean?”: Contribuición para la reflexión para a reflexão. Revista de la Educación Superior Nº. 160, Vol. XL (4), Octubre/Diciembre, pp. 135-154.

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Para saber mais, consulte o meu artigo: http://www.4shared.com/office/AUBurixZ/Artigo_Rev_educ_superior_160.html

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3. Seja Voluntário O Voluntariado8 tem um papel fulcral na sociedade há bastantes séculos. Confrarias e associações diversas dedicaram-se durante séculos ao voluntariado religioso, ao resgate de prisioneiros e escravos, ao apoio aos carenciados e doentes, etc. A sociedade cada vez mais sensível às problemáticas sociais e face a isto, a ONU (Organização das Nações Unidas) fixou o dia 5 de dezembro como o «Dia Mundial do Voluntariado», considerando que o trabalho dos voluntários é uma importante contribuição para as atividades socioeconómicas em todas as partes do Mundo. Em Portugal, existem já diversas entidades dedicadas a este tema, nomeadamente o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV), entidade a quem compete desenvolver as ações indispensáveis à promoção, coordenação e qualificação do voluntariado (criada pelo Decreto-Lei n.º 389/99, de 30 de setembro). A palavra “Voluntariado” provém do Latim, da palavra vontade. O art.º 2.º da Lei n.º 71/98, de 3 de novembro, define-o como “o conjunto de ações de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas. Não são abrangidas pela presente Lei as atuações que, embora desinteressadas, tenham um caráter isolado e esporádico ou sejam determinadas por razões familiares, de amizade e de boa vizinhança”. Todavia, a noção de voluntariado está cada vez mais rica e alargada. Durante muito tempo o voluntariado foi pensado num nível altruísta, num dever ou obrigação para com o outro, muito próximo da noção de caridade. Porém, hoje em dia, observa-se uma feliz inversão: cada vez mais as pessoas que participam em organizações como trabalhadores voluntários sentem esta experiência como uma atividade que provoca bem-estar no voluntário, uma sensação de realização que muitas vezes não é obtida no campo profissional ou familiar. Cada vez mais, o voluntariado serve para colmatar lacunas nas duas partes envolvidas: quem precisa de ajuda é ajudado, e quem ajuda o outro, a ajuda-se a si mesmo também.

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Para pesquisas mais aprofundadas, visite estes sites http://juventude.gov.pt/Portal/Voluntariado/ ; http://www.bolsadovoluntariado.pt/

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portugueses:

http://www.voluntariado.pt/

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Para muitas pessoas, o que começou por ser trabalho voluntariado acabou por se tornar uma carreira e, muitas vezes, essa é uma expectativa de que inicia um projeto voluntario. Porém, transformar o voluntariado numa forma de trabalho remunerada poderá fazer com que perca a sua magia e os seus benefícios. A magia de se encontrar, de se descobrir como ser humano, de encontrar gratificação e felicidade. O Voluntariado sempre esteve correlacionado com as Organizações sem fins lucrativos, ideia que está a ver os seus últimos dias. Cada vez mais empresas estão a aderir a um novo tipo de formato: o Voluntariado Empresarial, englobado em iniciativas de Responsabilidade Social das Empresas. Por outro lado, cada vez mais países estão a adaptar o sistema judicial. Ao invés de condenar pessoas que cometeram crimes ou ilegalidades a penas de prisão ou de multa, condenam-nas a “serviço voluntário á comunidade”. Claro que, neste caso não existe um pleno voluntariado, pois isso implica sempre que a pessoa esteja envolvida no processo com total e plena vontade. Porém, além de ajudar a comunidade, a própria pessoa vai confrontar-se consigo própria e muitas vezes, este processo poderá provocar uma mudança nas atitudes. Para que isto funcionasse plenamente, seria necessário um acompanhamento reflexivo do “voluntário” forçado, para que este refletisse sobre a ilegalidade que cometeu e sobre a experiência de serviço à comunidade. Provavelmente, neste momento, estará a pensar: “mas, se for voluntário, isso faz parte da minha carreira?”. Na minha opinião, sim. Eu sou a favor da colocação de todas as experiências no CV. Aliás, Curriculum Vitae, significa a história da sua vida, o seu percurso e, eu pessoalmente, coloco todas as experiências de voluntariado no meu CV. Pode criar um espaço especial para essas experiências, ou colocá-lo normalmente na experiência. Apesar de não remunerada, são experiências de trabalho! Ao contrário do que se pensa, nem sempre o voluntariado é “grátis”. Não existe salário ou remuneração, mas em muitos casos existem pequenas bolsas para os voluntários, de forma a cobrir despesas básicas. Neste campo, falo por experiência própria: Há mais de 15 anos tive oportunidade de viver a minha primeira experiência num programa de voluntariado do Instituto Português da Juventude, através de uma associação juvenil. Tínhamos como objetivo promover iniciativas nessa associação, desde festas convívio de idosos e outras populações, sensibilização, promoção do desporto nos jovens, apoio

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administrativo, etc. Recebia na altura uma pequena bolsa que, bem gerida, pagava as minhas despesas de deslocação, alimentação e pessoais. Graças a esse primeiro contacto de voluntariado, acabei por participar noutros eventos, por exemplo, em intercâmbios educativos na Áustria e na Estónia, dirigir um jornal associativo e ser eleita para os corpos gerentes dessa associação, depois de frequentar uma ação de formação para dirigentes associativos. Engraçado é dizer que, enquanto estive no programa de voluntariado, recebia uma bolsa, depois participei muitos mais anos nessa associação como voluntária sem receber qualquer bolsa, mas com muito gosto! Essa experiência marcou-me como pessoa, alargou a minha rede de contactos, forneceu-me competências que eu não possuía bem como experiências inesquecíveis. Pondere se não seria bom experimentar. Existem muitos sites onde se pode inscrever e participar e muitos deles respeitam a disponibilidade horária dos voluntários. Escolha um projeto que lhe agrade. Se desejar poderá usar as suas competências profissionais, se achar melhor contribuir numa outra área isso será muito enriquecedor. É provável que pessoas mais materialista do seu círculo o julguem, por estar a fazer trabalho voluntário, pois ainda existe esse preconceito. E note que, deve dedicar-se a um trabalho voluntário se realmente o desejar e se tem condições para tal. O trabalho voluntário pode substituir em parte as vantagens de um emprego remunerado, mas não se aliste como voluntário enquanto estiver desempregado, ou pelo menos não faça voluntariado 40h por semana. Sou da opinião que só deve pensar em ser voluntário, quando tiver um posicionamento mental de alguma estabilidade. Por outro lado, nunca encare as pessoas que vai ajudar como “coitadinhos”: eles são seres humanos a precisar de apoio e ajuda naquele momento das suas vidas. Uma outra nota: Nem todo o voluntariado se dirige a seres humanos e ser voluntário em associações de proteção dos animais é também muito gratificante! Poderá ser surpreendido pelo facto de muitos programas de voluntariado terem listas de espera. É verdade! O campo da saúde parece ser um dos mais concorridos. Por exemplo, são vários os hospitais que têm um processo rigoroso na admissão de voluntários e cujas vagas estão sempre preenchidas. Se este tema lhe interessa, poderá participar nas conferências e workshops que são organizados todos os anos quando se comemora o Dia do Voluntario da Universidade do Porto.

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4. Ataque o mercado com “Cartas de motivação” Já todos nós tivemos de redigir uma carta para concorrer a um emprego. Durante muitos anos chamamos a essas cartas, as cartas de apresentação. Hoje em dia é costume chamarmos de “cartas de motivação”. Em primeiro lugar, porque soa francamente melhor! Em segundo lugar, porque o nosso objetivo não é somente apresentarmo-nos mas sim, desde logo, afirmar fortemente a nossa motivação para ingressar naquele cargo ou naquela empresa. Então, pergunta você…o que muda, além do nome? Podem parecer pequenas coisas, mas são de extrema importância. Vejamos de forma pragmática, alguns princípios: 1. Todos aqueles modelos que tem guardados no seu computador, que iniciam a carta por “Venho por este meio, responder ao seu anúncio xpto” devem ir já para uma pasta chamada “reciclagem”! 2. Por outro lado, por muito úteis que sejam outros modelos que tenha, evite sempre usar modelos. No mundo do trabalho queremos marcar pela diferença e usar modelos é um facilitismo e é ser igual a outros (a probabilidade de outras pessoas usarem exatamente o mesmo modelo é muito elevada…pense nisso!) 3. Repare: A carta é o elemento que chega primeiro ao alcance visual do recrutador, mesmo antes do CV. A carta de motivação vai permitir-lhe apresentar a candidatura, anexar o CV, descrever as suas motivações e habilitações profissionais e solicitar a realização de uma entrevista. A carta de motivação é o seu primeiro espaço de marketing pessoal! 4. Use papel A4 liso e branco e tinta preta para a impressão. Não use “macaquinhos” ou “rodriguinhos”, nem qualquer tipo de floreado. Utilize uma letra standard (Arial, Times New Roman ou semelhante), num tamanho entre 11 e 12 e texto devidamente justificado, com um espaçamento entre linhas de 1,5. 5. Uma “carta de apresentação”, de resposta a um anúncio, antigamente, teria apenas duas linhas. Uma carta de motivação pode ter 2 a 3 parágrafos. Deve evitar ao máximo utilizar mais de uma página. Se puder use apenas 75% de área útil de uma página, mantendo as margens em branco e o espaçamento agradável à leitura. Lembre-se que o recrutado poderá ter centenas de páginas para ler e se lhe aparecer uma carta sobrecarregada poderá causar uma péssima primeira impressão! A capacidade de síntese, o pragmatismo e uma visão clara são imprescindíveis e dizem muito acerca da pessoa em causa.

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6. O formalismo deve constar em qualquer tipo de carta. Não usar calão, formas gramaticais complexas ou expressões estrangeiras. Manter o “Exmo(a) Sr. (a)”, se possível personalizando a carta (com o título académico da pessoa, o cargo ou o nome). Obviamente, deve rever atentamente a carta e verificar se tem erros ortográficos (não acredite apenas no corretor ortográfico!). 7. Em resumo, uma carta de motivação de resposta a um anúncio de emprego, tem sempre de conter os seguintes elementos: (1) a identificação do candidato; (2) identificação do anúncio, data, fonte e respetiva referência; (3) Deve ser endereçada à pessoa certa e indicar como soube da vaga a que está a concorrer; (3) Deve demonstrar as suas motivações, qualificações, competências e aspirações para fundamentar a candidatura, (4) deve referenciar que o C.V. segue em anexo; (5) quase no final da carta, o candidato deve manifestar disponibilidade para a prestação de provas ou entrevistas, (6) Antes ou depois da assinatura, deve colocar-se a data e local onde está a redigir a carta e, por fim, (7), redige-se a despedida e a assinatura (elemento imprescindível e que deve ser sempre manuscrito!). 8. Os seus preciosos 2 a 3 parágrafos têm de dizer o mais importante sobre si próprio: o que tem feito, que sucesso tem tido e para onde quer levar a sua carreira. Ressalte os seus feitos e pontos fortes bem como duas ou três características pessoais marcantes (nunca minta!). Exponha as suas competências e motivações sem medo, dando à carta um tom positivo a seu respeito (nunca caia no erro de dizer “Estou mesmo muito motivado porque estou desempregado há muito tempo”!). Apresente argumentos diferenciais, ou seja, em que é que a empresa ganhar por contratar a si e não a outros! Se tiver espaço, apresente algumas das suas experiências anteriores e respetivos resultados (um exemplo “Em 2005, fui coordenador no Projeto “Subir na Vida” que obteve uma taxa de 90% de inserção profissional dos formandos”). 9. Principalmente em cartas de motivação espontâneas, deve mostrar algum conhecimento acerca da empresa (e/ou do setor) para a qual está a enviar a carta. Use apenas uma a duas linhas para este assunto, logo no início da carta. 10. Em vez de usar cartas em papel, poderá enviar a carta via e-mail. No caso das candidaturas espontâneas, há quem defenda que têm maior probabilidade de ir rapidamente para o lixo. A decisão é sua: com o e-mail poupa o ambiente e poupa alguns cêntimos mas usar a carta em papel não impede desta ir para o lixo na mesma. Tudo depende do tipo de empresa. Se se trata de uma empresa com site na internet e com

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endereços de e-mail bem sinalizados, penso que o mais acertado é enviar por email (se possível, pedindo confirmação da receção). 11. Se decidir usar então o correio eletrónico, coloque a referência do anúncio no assunto, para evitar extravios. A partir daqui pode agir de duas formas: ou coloca o texto da carta de motivação no e-mail ou faz um documento anexo em Word. Pessoalmente, prefiro a primeira opção, ou seja, inserir a carta no corpo do e-mail, enviando apenas o CV em Anexo, mas mantendo todos os elementos da carta já referidos acima. No caso de enviar por e-mail não poderá assinar a carta de forma manuscrita. Pode optar por colocar o seu nome a itálico para um “ar mais manuscrito”. Se utilizar a opção de anexar uma carta, poderá digitalizar a sua assinatura e colocá-la na carta, porém, neste caso, opte por transformar o documento num PDF (com as opções de segurança no máximo, permitindo apenas a impressão): desta forma não corre o risco da sua assinatura, que está em formato de imagem, mudar de sítio e, por outro lado, protege que alguém use a sua assinatura indevidamente (os crimes de roubo de identidade são muito frequentes!). 12. Existem ainda muitas empresas e consultoras de recrutamento e seleção que gostam de ver uma carta manuscrita. Apesar de não estar devidamente fundamentada cientificamente, alguns profissionais poderão até ter formação em Grafologia (arte que se dedica a correlacionar a escrita com a personalidade da pessoa). Se lhe for pedida a carta manuscrita, envie. Não pense que é apenas um capricho do recrutador, pois este pode ser considerado um fator eliminatório. Faça alguns testes sobre uma folha de linhas (para que as frases não surjam “tortas”) e depois redija a carta final numa folha A4 branca. No final, tem de aparecer um formato muito semelhante ao que surgiria se a carta fosse feita no computador, mantendo o espaço das margens vazio. Não tente falsear a sua letra em demasia, tente apenas escrever a carta calmamente. Como é óbvio, não utilize “desenhinhos” como, por exemplo “smiles” (:-)) ou corações nos “i”! Evite também abreviaturas ou “neologismos da internet”. 13. Se se considera uma pessoa criativa e divertida, poderá refletir isso na sua despedida, ao invés de optar pelo clássico “Melhores Cumprimentos” ou “Atentamente”. Por exemplo, se está a concorrer a uma empresa que opera no ramo ambiental, poderá despedir-se com “Saudações Ecológicas”. Sem cair em exageros, uma linha simpática poderá animar e recrutador e fazer com que não se esqueça de si!

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5. O Segredo das Cartas de motivação que conquistam empregos! Se você exercesse a profissão de Técnico/a de Recrutamento e Seleção, você perceberia o que é ler cartas de apresentação ou cartas de motivação sem graça, todo o dia, semanas a fio! Só assim você compreenderia como uma carta de motivação pode, em apenas 3 a 4 minutos, “Matar uma candidatura”! Vejamos os erros mais comuns de candidatos/as que o recrutador imediatamente coloca de lado: 1- Referir imediatamente que foi despedido. 2- Implorar por uma oportunidade. 3- Dizer que tem muitas contas para pagar e família para sustentar e, por isso, precisa de trabalhar urgentemente. 4- Utilizar palavras como “crise”, “dificuldades”, “privações”. 5- Cometer erros ortográficos. 6- Misturar tipos de letra ou, no geral, a apresentação da carta ser uma lástima (má formatação, desenhos e bonecos, manchas no papel, má impressão ou, no caso da carta manuscrita, letra nada legível)! 7- Discurso “monocórdico” e sem brilho ou que parece copiado de outra situação (por exemplo, “Venho por este meio candidatar-me a esta vaga, em resposta ao vosso anuncio….blá, blá, blá”)… Se em tempos este tipo de discurso era aceitável, esses tempos já lá vão. Nesses momentos, o mercado de emprego era vasto e procurava-se alguma formalidade, lealdade e um discurso quase aristocrático igual para todos. Hoje em dia os valores são outros: tudo é rápido e marcado pela diferença e criatividade. Se há 20 anos um discurso de “Implorar por uma oportunidade” podia fazer vacilar uma micro-empresa ou tocar o coração de um “patrão” de uma pequena cidade, hoje em dia, acontece exatamente o contrário. Por muito que nos custe aceitar, muitas vezes, implorar ou usar o discurso da crise, faz o recrutador pensar em certo tipo de características psicológicas daquele candidato: “se está mal e com dificuldades, deve ser uma pessoa com pouca capacidade de adaptação às mudanças, ou não soube fazer a sua gestão pessoal, ou foi despedido porque é um trabalhador que se deixou ultrapassar”….etc. etc. Esta não é a imagem que você quer passar e não deve ser a sua narrativa pessoal.

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Nas primeiras sessões de Coaching de Carreira com clientes meus, além de trabalhar a programação neurolinguística, assim que começamos a planear candidaturas (quando é esse o caso), revemos algumas características de uma carta de motivação: 1.Apresentação impecável. O mesmo tipo de letra em toda a carta. Margens mínimas de 2.5 pontos e tamanho de letra mínimo de 12. Sem manchas, sem falhas de impressão e com espaçamento que permita ao recrutador sublinhar e tirar notas entre as linhas (1.5 pontos é ideal). 2.Não use declinações verbais imperfeitas ou que criam dúvida. “Eu gostaria”, “eu queria”, “o que eu precisava”, “no fundo, vinha propor-lhe”, “eu aceitaria um salário de…”. Utilize as declinações certas e positivas: EU QUERO PROPOR. EU GOSTO DE…. EU ACEITO. Sempre no presente. 3.Evite usar quantificadores universais, ou seja, sempre, tudo, nunca, qualquer um. Particularize o seu caso e não se compare aos outros nem compare empresas ou setores. 4.Use palavras positivas. Evite a palavra Não. Para isto, leia a carta pelo menos duas vezes. Por vezes, estamos tão habituados ao discurso com teor negativo que só conseguimos detetar essas palavras negativas quando lemos a segunda ou terceira vez a carta. 5.Destaque a negrito duas ou três expressões que ache que o identificam e valorizam. Esta é a sua “Mission Statement”, ou seja, o que o diferencia dos outros, o seu valor. 6.Utilize palavras como: Desafio, Oportunidade, Crescimento, Inteligência, Versatilidade. Veja a diferença entre as duas frases abaixo: FRASE 1: Eu aceitaria um desafio, pois gostava de dar o meu melhor para esta oportunidade. FRASE 2: EU gosto de desafios, sou versátil e aceito oportunidades que me pareçam opções inteligentes. Apesar de dizerem coisas diferentes mas ligeiramente semelhantes, se ler ambas as frases em voz alta, verá que uma delas tem muito mais impacto positivo. Qual acha que é? 7.Assine sempre a carta. Mesmo que não seja a sua assinatura oficial (do banco, etc.), crie uma assinatura com “personalidade”, com variabilidade (duas grandes letras, por exemplo, dois sarrabiscos, alongamentos, etc.) ao invés de usar o seu nome escrito como se estivesse na escola. 88

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8.Não faça da carta um “apanhado” do que diz no CV. Aproveite para dizer exatamente o que não diz no CV. Por exemplo, você foi Diretor durante X tempo em X empresa: isso já esta no CV! Na carta, salte imediatamente para “Quando exerci funções de direção, geri uma equipa de 33 pessoas”. 9.Se trabalhou no estrangeiro, inclua na carta, a negrito. Se fala bem uma língua estrangeira realce na carta também. Cada vez mais se valoriza um colaborador versátil, multicultural. 10. Se está a concorrer a uma função ou empresa criativa, opte por juntar um Vídeo-CV. Pesquise na net exemplos de vídeo-cv impactantes e que realmente demonstram criatividade. Por outro lado, se é uma empresa criativa, tente inovar e mostrar que é criativo em todos os documentos (carta, Cv, etc.), não incluindo “macaquinhos”, mas sim, optanto por um discurso positivo, ativo e inovador, que até choque pela positiva o recrutador! Seja irreverente! Estes são alguns segredos. No fundo, você precisa de se atualizar constantemente sobre este assunto. Regularmente, procure informação na internet sobre cartas de motivação inovadoras e, em breve, encontrará o seu lugar ao Sol!!!

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6.“Karoshi”: é possível matar-se a trabalhar Cada um vivencia o seu trabalho no seu dia-a-dia à sua maneira. Uns fazem do trabalho apenas o instrumento para preencher a conta bancária, outros “até gostam” minimamente do que fazem afastando pequenos constrangimentos e depois existem os sortudos que adoram o que fazem e são pagos por isso! Independentemente destas categorias, há quem se deixe afetar pelo trabalho e há quem consiga sair do trabalho e viver a vida sem pensar mais nele. Há algumas décadas surgiu a noção de “stress” causado pelo trabalho. Desde aí, a palavra “stress” entrou no nosso vocabulário com um velocidade alucinante. Acho que não há nenhum trabalhador português que não saiba o que significa a palavra “stress”! Surgiu então a necessidade de traduzir este estrangeirismo para uma forma aceite pelos linguistas, e apesar de poder parecer estranha, a forma correta de escrever “stress” é: estresse (que passaremos a adotar). Vejamos o que indica o Novo Prontuário Ortográfico (Pinto, 2005:pág. 222):

“Stress” (do Inglês): estresse, tensão: Palavra de aparecimento recente que tem um conteúdo muito próprio, ligado à pressão ou tensão a que hoje em dia estamos submetidos. Cremos que é necessário oficializar o neologismo, que já é de uso corrente no Brasil

Com a evolução do conceito, caiu em desuso a expressão “estresse no emprego” ou outras semelhantes, e passou-se a utilizar a expressão correta de “estresse ocupacional”, pois algumas pessoas podem não ter emprego, ou trabalho remunerado (ex. Serem trabalhadores voluntários) e sofrerem igualmente de estresse ocupacional. O estresse ocupacional pode estar relacionado com fatores externos à pessoa (ex. más condições de trabalho), ou com fatores internos à pessoa e seu ambiente (ansiedade, problemas familiares, etc.) Em suma o estresse ocupacional surge quando surge uma diferença entre as exigências a que uma pessoa é submetida e os recursos dispõe para atingir essas exigências, o que poderá originar um desequilíbrio psicológico.

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Existem pessoas que desenvolvem competências de gestão do seu estresse e muitas vezes conseguem pô-lo a seu favor, fazendo com que o estresse melhore o seu desempenho, enfrentando essas situações como desafios a ultrapassar. Outras pessoas que não conseguem enfrentar este obstáculo acabam por desenvolver piores desempenhos no trabalho e até outras doenças (ex. dores de cabeça, dores lombares, ansiedade patológica, etc.) Também já há muitos anos que ouvimos a expressão americana “Workoholic”, ou seja uma pessoa que é viciada em trabalho (adaptação da “alcoholic”, que significa alcoólico). Depois de muito refletir, concluo que esta expressão não tem palavra equivalente na língua portuguesa. Porém, os “workoholics” são usualmente pessoas que gostam muito do trabalho que desenvolvem e acabam por menosprezar fortemente outras áreas das suas vidas. Talvez sempre tenham existido pessoas viciadas em trabalho, porém nesta nova época de grande competitividade e até ganância, o problema começa a agravar-se. Recentemente, um outro conceito começou a atravessar o mundo. Outra palavra que não tem equivalente na língua portuguesa: “Karoshi”, que em Japonês, significa “morte causada por excesso de trabalho”. Esta palavra apareceu pela primeira vez após a II Grande Guerra (Lima, 2008) durante a reconstrução do país. Em 1969 (altura em que era comum o dia de trabalho no Japão ter de 12 horas ou mais!) surgiu o primeiro caso de “karoshi” num trabalhador com menos de 30 anos que morreu de repente como consequência de um enfarte cerebral depois de ter estado mais de 40 dias consecutivos a trabalhar! Nos anos 80 colaboradores trabalhavam sob enorme estresse e começaram a morrer de forma imprevista e brusca nos seus postos de trabalho. Foi apenas nos anos 90 que alguns familiares de vítimas de Karoshi começaram a interpor ações judiciais e em consequência disso o governo criou legislação que penaliza empresas com jornadas de trabalho excessivas, porém, muitas delas continuam com a prática de 12 ou mais horas por dia, e muitas vezes, os trabalhadores não são remunerados! As estatísticas indicam que, em 2006, 355 trabalhadores adoeceram gravemente por sobrecarga de trabalho e cerca de 150 morreram. As indemnizações do governo para os parentes de uma vítima de “karoshi” podem chegar a 20 000 dólares por ano, enquanto que as empresas podem ter de avançar com uma compensação de um milhão de dólares. Como ecologista convicta (o meu carro é um híbrido!), senti uma enorme sensação de ironia e tristeza quando li que um trabalhador japonês chamado Uchino, morto por Karoshi, 91

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trabalhava no departamento responsável pela construção do Prius, o carro ecológico de (híbrido) da Toyota. O Japão é uma sociedade coletivista, marcado por características de sacrifício pessoal e trabalho pelo bem de todos e do país, e o que parece ser uma excelente qualidade…pode matar! Mas não se pense que é fenómeno exclusivo do Japão. Na Coreia, onde parece estar a emergir o mesmo problema também já existe palavra que para a morte por excesso de trabalho: “Gwarosa”. Os japoneses têm também uma outra expressão curiosa: “Gakurekibyo”, ou seja a “doença do diploma”. Neste caso, é aplicável aos jovens e ao seu esforço excessivo de obterem as melhores notas nos diplomas! Relatam-se consequências graves como por exemplo, obesidade, hipertensão ou excesso de colestrol. Resta refletir sobre Portugal. Haverá “Karoshi” em Portugal? Reparem que não falamos em morte por acidente de trabalho, mas por excesso de trabalho que leva a derrames, AVC’s e ataques cardíacos! Será que algum dia poderemos convencer o governo português que algumnas ataques cardíacos se deveram a “Karoshi”? Quanto ao “Gakurekibyo”, acredito realmente que este problema já existe em Portugal. A luta pelas médias de conclusão do ensino secundário para aumentar a cada dia. Por um lado, surgem jovens cada vez menos interessados em andar na escola e por outro, há pessoas a terminar o ensino secundário com média de 20 valores (o que no meu tempo, não existia!). Estaremos a construir uma sociedade obsessiva? Onde os números conta demasiado? Seja o número de horas que se trabalha seja a média que são impressa no diploma? Já há muito tempo que temos no nosso vocabulário a expressão “matar-se a trabalhar”…Alguém tem sugestões sobre qual seria uma boa palavra para “morte por excesso de trabalho” em português? Referências Bibliográficas Lima, R. (2008). Karoshi: a morte por excesso de horas extra. 09 de janeiro. Acedido em abril de 2010 e disponível em: http://www.srcoronado.com/smf/index.php?PHPSESSID=e9e3063c431543c2e8a0c6618f065550&topic= 8844.msg71105#msg71105 Pinto, J. (2005). Novo Prontuário Ortográfico.6ª Edição Revista. Lisboa: Plátano Editora

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7.Tem a certeza que quer mesmo ser promovido? Quando falamos de carreira, a expressão mais positiva que pensamos é “progredir na carreira”. Apesar de ser uma expressão muito utilizada em algumas profissões e pouco noutras, é geralmente aceite por todos de que o objetivo de alguém é subir na carreira, seja subir verticalmente, ou seja na hierarquia, seja subir no salário, ou ainda fazer uma reconversão profissional, mudando de função, mas que isso represente para a pessoa uma melhoria na carreira. Por vezes, ser promovido não é algo tão objetivo como pensamos, afinal, a sensação de ser promovido depende somente de quem a sente… Um dos piores momentos profissionais da minha vida decorreu quando fui promovida. Podem não acreditar mas é a mais pura verdade. Ao receber a notícia, um misto de orgulho e um medo terrível apoderou-se de mim. O medo é um alerta que temos dentro de nós e que não podemos desligar, podemos enfrentá-lo e saber lidar com ele mas nunca devemos colocá-lo de parte ou silenciá-lo. Quando falamos em promoção, quase todas as pessoas ficam com aquele brilhozinho nos olhos. Eu também devo ter ficado. E pronto, poderia ter ficado por aí. Tinha sido escolhida e isso, por si só, já era uma grande satisfação! Mas com promoções na carreira usualmente aparecem grandes responsabilidades. A minha vida pessoal quase desapareceu por completo. O meu “eu” deixou de ser um eu complexo, com família, amigos e tempos livres para se tornar apenas o meu eu profissional. A cada minuto do dia eu era um “robot profissional”, em constante agitação, fosse física ou mental. Aos 31 anos foi-me dada, em certa medida, carta-branca para gerir uma organização. Que honra e que grande susto! A variabilidade de trabalho era tal que tinha de estar constantemente a “resintonizarme” para o que iria fazer a seguir. Ainda por cima, era a altura ideal para colocar em prática todos os conhecimentos de gestão eficaz de equipas, gestão de conflitos, promoção de uma cultural organizacional, e todos aqueles conceitos e técnicas fantásticas que um profissional envolvido na gestão de pessoas sonha aplicar. E tudo isso derrubou-me de tal forma, que andava persistentemente em píncaros de stress. O mais estranho é que, aparentemente, percorremos toda a nossa vida profissional a trabalhar para aquele momento. Buscamos incessantemente aquele dia, aquela hora em que alguém nos dará a notícia de que somos nós os escolhidos, não é? E de repente, tudo isso cai por terra. O chamado “horário de trabalho” deixou de existir para mim: qualquer 93

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hora era hora de trabalho, a qualquer momento estava a criar novas iniciativas, a planear projetos, a reestruturar departamentos que não funcionavam exatamente como eu queria. Nunca nada estava bem. Talvez uma promoção seja a pior coisa que acontece a alguém com um traço perfecionista. No entanto, adorei a experiência, contudo quando o projeto (infelizmente) acabou, confesso que senti um certo alívio. Talvez não estivesse preparada para gerir as minhas emoções, o meu tempo e o meu estresse. Por isso, passo esta ideia para si, caro leitor: Pense bem se este é realmente o momento certo para uma promoção. Pode até continuar a querer essa tal promoção, mas analise calmamente se não existe o risco do “feitiço virar-se contra o feiticeiro” ou, se preferir, de “o tiro lhe sair pela culatra”. Vamos refletir um pouco sobre o que deve pesar na sua balança. Se é uma pessoa que tem um hobbie que o motiva bastante e ao qual dedica umas horas por semana, reflita como se sentirá se, de repente, ficar sem isso. Se valoriza muito os seus tempos livres com amigos, por exemplo, jantares e fins de semana em convívio, imagine o que seria não ter isso durante anos! Se é uma pessoa que gosta muito de desporto e tem esse hábito de longa data, imagine-se a não ter tempo para fazer desporto nenhum. Se tem família com a qual gosta de passar tempo de qualidade, faça a mesma reflexão. A conciliação familiar e profissional é uma questão recente que tem merecido muitos debates. Com carreiras cada vez mais competitivas, é cada vez mais difícil conciliar a vida familiar e profissional. Por exemplo, a média de idades dos casais quando decidem ter o seu primeiro filho subiu para os 29 anos, enquanto que há alguns anos rondava os 24/25 anos. Provavelmente deve estar a pensar…e o dinheiro? Ao ser promovido, irei ganhar mais. Pense se vale a pena e faça mesmo as contas. Aconteceu a uma pessoa que conheço ser promovida e ser aumentada. No fundo, as suas tarefas não mudaram muito, porém as suas responsabilidades aumentaram. Essa pessoa passou a sentir uma certa obrigação de ficar sempre mais um pouco de tempo além do horário de trabalho, por causa dessas obrigações. Porém, só no primeiro recibo de vencimento, reparou que a diferença no salário final era apenas de alguns euros. Porquê? Ao subir de salário subiu de escalão no IRS, e passou a ter de descontar mais por mês. Conclusão: promoção na carreira, mais horas de trabalho, mais responsabilidades e apenas mais uns euros por mês… Por outro lado, costumo dizer “Se não se sabe delegar, não se queira liderar”. Agora reflita sobre esta frase e sobre si próprio. 94

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Aqui ficam algumas perguntas que deve fazer a si próprio, com seriedade: Quais são realmente os seus objetivos a 3 ou 5 anos? O que significa para mim o trabalho e quais são, para mim, os critérios de ser uma pessoa com sucesso no trabalho? Quais são as atividades de trabalho ideais para me sentir motivado, independentemente de ser promovido? Qual é o perfil de pessoas com quem se sente mais “à vontade” e com quem gostaria de trabalhar? São essas as pessoas que vai encontrar se for promovido? Você é uma pessoa que gosta de desafios? Você consegue lidar bem com as dificuldades quotidianas? Você sente-se verdadeiramente capaz de liderar pessoas? Você consegue gerir e reduzir o seu estresse ocupacional? Sabe gerir bem o seu tempo? Pense no momento de maior stress profissional da sua vida. Pense mesmo. Tire uns segundos para analisar o ritmo do seu coração e o seu estado mental naquele momento. Agora imagine-se a viver nesse estado durante umas 40 a 50 horas por semana (para não dizer mais)! Com isto não quero soar demasiado pessimista. Se assim fosse, ninguém quereria ser promovido! O que quero alertar é que somos profissionais do século XXI, empurrados por uma certa pressão social a desejar o que toda a gente parece querer, quando nem sempre isso é o ideal para a nossa pessoa, para a nossa personalidade e para o nosso “eu” profissional. Sei que cada tipologia de trabalho tem características diferentes, mas tenho a sensação que nos dias de hoje poucas pessoas refletem realmente se valerá a pena uma promoção. O senso comum costuma dizer “quanto mais subir…maior será a queda”, por isso, vale a pena refletir se o que efetivamente quer é subir…

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8.007- Agentes Secretos ao serviço das empresas! É indiscutível a crescente necessidade das organizações apurarem o desempenho dos seus colaboradores. Novas formas de avaliação de desempenho e de levantamento de necessidades dos clientes surgem todos os anos. Numa perspetiva clássica e já um pouco ultrapassada, os colaboradores eram avaliados pelo seu superior hierárquico. Posteriormente surgiram perspetiva mais integradoras, que avaliam o colaborador a 360º à sua volta, recolhendo perspetivas de superiores, colegas de trabalho e clientes. As entrevistas e os questionários são as metodologias mais utilizadas. Atualmente, muitas empresas optaram por adicionar outros indicadores, incentivando ao trabalho por objetivos previamente definidos. Existem ainda outras ferramentas que as empresas utilizam para descobrir o que os seus clientes pensam, o que querem, o que os satisfaz ou insatisfaz, o que estariam dispostos a comprar mais ou menos, etc.! Porém, uma outra metodologia, que na minha opinião consegue integrar bastantes destas perspetivas, mas nem sempre aplicável a todos os ramos de negócio é a técnica dos clientes-mistério. Esta técnica consiste em contratar um cliente-mistério para fazer uma visita a um colaborador de determinada empresa. O profissional “cliente-mistério”, no meu ponto de vista, deve ter formação avançada em comunicação, uma elevada sensibilidade e ética, capacidade de se adaptar a diferentes situações, capacidade de trabalhar “à paisana”, gosto por visitar lojas de diversos tipos, curiosidade e criatividade, logo, este trabalho não é para qualquer pessoa. Foi em 2006 que me surgiu a oportunidade de trabalhar em avaliação de competências de colaboradores da banca, como cliente-mistério. Confesso que foi uma das experiências mais gratificantes da minha história profissional. Até hoje, manterei em segredo o ramo que avaliei e a empresa para quem trabalhei, por uma questão ética. Ser cliente-mistério não é um emprego, ainda! Na realidade, quase todos trabalham como freelancers (a recibos verdes) e são pagos por visita realizada, recebem em muitos casos algumas ajudas de custo. As deslocações são longas. No meu caso aceitei avaliações num raio de 100 km de minha casa! Reservava então um dia ou uma manhã para fazer as visitas.

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A formação inicial é usualmente ministrada pela empresa consultora sub-contratada. Não conheço casos das próprias empresas terem um departamento de recursos humanos que leve a cabo este tipo de avaliação, o que até é positivo, uma vez que a consultoria tem assim alguma autonomia e distanciamento. Depois o cliente-mistério tem de fazer as visitas e ter uma ótima memória para fazer um relatório detalhado daquela visita. Parte desse relatório consiste em preencher um questionário detalhado fornecido previamente que lista o perfil de competências que aqueles colaboradores deveriam apresentar (alguns exemplos de resposta “SIM/NÃO”: 1. O colaborador sorriu e convidou-o a sentar, 2. O colaborador perguntou o nome e tratou-o pelo nome durante todo o atendimento, 3. No final o colaborador agradeceu, levantou-se da cadeira e acompanhou-o à porta). Por outro lado, dependendo do ramo da empresa, o cliente-mistério terá de começar a perceber bastante dos produtos específicos que são vendidos, e perceber se o colaborador que está a ser avaliado demonstra conhecimentos aprofundados sobre eles e conseguem transmiti-los claramente ao cliente. Por último, é necessário fazer uma avaliação qualitativa, tirar pequenos apontamentos, registar comportamentos do colaborador durante o atendimento, etc. Tudo isto, tem de ser realizado depois da visita e longe da loja onde decorreu a visita. Todos estes questionários são depois enviados à consultora que conduz uma investigação, realizado a análise dos dados seja quantitativa e qualitativa. Alguns meses depois, o relatório é entregue à empresa. É importante refletir que isto influi diretamente na avaliação de desempenho dos colaboradores! Daí que seja da maior importância a formação ética de um cliente-mistério. Usualmente, os processos de recrutamento exigem licenciatura ou, no mínimo, 12.º ano e experiência profissional para ingressar na bolsa de clientes-mistério. Como todas as técnicas de avaliação, esta técnica apresenta algumas vantagens e desvantagens. Como vantagens temos: (1) a consultora externa permite distanciamento do processo de avaliação de desempenho; (2) deixa de se basear a avaliação de desempenho num superior hierárquico apenas, dando oportunidade de os clientes se pronunciarem, (3) Com o tempo, a empresa poderá até transformar os clientes-mistérios em clientes verdadeiros, se estes se sentirem acolhidos, (4) Com a análise qualitativa incluída no relatório, o cliente-mistério irá contribuir para a deteção de problemas, quer no atendimento quer nos produtos. Muitas vezes é este olhar fresco e externo que é capaz de 97

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constatá-los, ao invés da empresa, porque a empresa olha para si própria com algum viés e subjetividade; (5) uma técnica utilizada é também ir criando alguma rotatividade nos clientes-mistério, para que visitem sempre lojas novas, para que não sejam reconhecidos e para que não haja “vicio” (por exemplo, o cliente-mistério simpatizar com quem o atende, e tornar-se até amigo!) Quanto a desvantagens: (1) Os custos de um processo destes numa consultora poderão ser mais elevados do que um processo de avaliação de desempenho clássico; (2) é necessário investir na formação dos clientes-mistério e num bom recrutamento e seleção dos mesmos. Na minha opinião, a postura ética é o ponto essencial do perfil de competências de um cliente-mistério, porém é também um construto bastante difícil de apurar num processo de seleção. Os clientes-mistério têm de ser pessoas sérias e cumpridoras que não caiam em tentação de falsificar dados. Penso que qualquer profissional que possua uma licenciatura sabe os princípios da investigação científica, e esta investigação tem de seguir todos eles! Como perspetiva de carreira, quem sabe no futuro não haja possibilidades de integração de clientes-mistério em consultorias de recursos humanos. Como já disse, poderá não ser um trabalho para qualquer pessoa: a tensão de ter de mentir algumas vezes (por exemplo, dizer que não sabe nada daquele produto!), usar o seu carro e o seu computador para tudo, trabalhar em casa, a pressão de ter de memorizar informação e comportamentos para posteriormente preencher relatórios, a adrenalina e o rosto a suar ou a corar, conduzir todo o dia, etc. Por outro lado, penso que não há melhor designação para os clientes-mistério do que agentes secretos ao serviço das empresas, só que neste caso não têm licença para matar, mas sim licença para avaliar!

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9.Os “4 A’s” para se tornar um profissional de sucesso Recordam-se das piadas que nos contavam nos anos 90 sobre o melhor vendedor do mundo? Que o melhor vendedor do mundo vendia até a própria mãe? Que costumava-se sentar-se ao lado do Papá? Que conseguia vender um barco a quem entrava num supermercado com intenção de comprar apenas um elixir bucal? Essas piadas marcaram essa época para mim e assim, ao começar a escrever sobre promover-se a si próprio o que pensei foi: “Se eu fosse e melhor vendedora do mundo, conseguiria vender as minhas competências e capacidades muito facilmente”. Pois, mas não é preciso chegar a tanto. Numa altura em que quase todos os artigos que se publicam referem a grande competitividade nas carreiras das organizações atuais, é inevitável falar de como ganhar a vantagem face aos outros. Claro que a nossa sensação de sucesso ou fracasso é também relativa, pois o que significa para uma pessoa ser bem-sucedido pode não o ser para outra. O nosso sucesso mede-se diretamente pela medida em que acreditamos em nós próprios: é mesmo tão simples como isso. Não é fácil autopromover-se se não acreditar realmente nas suas capacidades. Como poderia ser fácil? Faça um exercício de marketing simples: Pense num prato gastronómico que deteste. Já pensou? Imaginemos, por exemplo, “Favas estufadas” (que é algo que pessoalmente não gosto). E agora, o exercício é: tente vendê-lo a um amigo, ou seja, tente convencê-lo a todo o custo que “Favas estufadas” é o seu prato preferido e que é ótimo! Difícil, não é? Pois é, isso também acontece consigo. Como é que você pode fazer com que os outros acreditem que você é um excelente profissional, se a aquela sua “voz crítica” continua a aparecer de vez em quando a dizer que há sempre alguém melhor que você? A lembrá-lo que você nunca fez isto ou aquilo muito bem e que, logo, não é merecedor de sucesso? A mudança tem de começar por si. Quando você decidir que merece algo, passará a merecê-lo. Numa primeira fase, comece por questões exteriores, já amplamente debatidas como é o caso do marketing pessoal: cuidados na indumentária, na linguagem corporal, na comunicação com os outros, na autoapresentação em geral. Depois, vem a tarefa mais difícil. O seu interior. Mudar as suas crenças mais íntimas pois são elas os seus grandes obstáculos. Tentar fazer os outros pensar que você é autoconfiante, ou seja, fingir que acredita em si próprio não vai funcionar, a não ser que já tenha um Óscar ou um globo de ouro na sua prateleira lá em casa! 99

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Depois de muito refletir a este respeito, no campo das ciências humanas, há quatro conceitos essenciais que acho que devemos estar conscientes e aos quais decidi chamar dos “4 A’s”: o autoconceito, a autoestima, a autoconfiança e a noção de autoeficácia. O autoconceito é a noção que temos de nós próprios. Neste caso, temos de focar a nossa atenção no autoconceito de trabalho. O nosso auto conceito vai sendo formado ao longo da nossa infância e depende também da cultura e da sociedade em que estamos inseridos. O autoconceito é, no fundo, um conjunto de ideias, crenças e imagens acerca de nós próprios e do que somos capazes. O autoconceito de trabalho é composto pelas ideias que temos acerca de nós próprios como profissionais, é o que forma o nosso “eu” profissional. Obviamente, se eu acho (componente psicológica) que sou incompetente e incapaz, vou agir (componente comportamental) dessa forma ou vou agir tentando constantemente ultrapassar o que acho que sou. A auto estima está interligada com o autoconceito, porém esta tem sempre uma componente afetiva, ou seja, gostar ou não gostar. A autoestima é o conjunto de crenças afetivas que temos acerca de nós próprios. Quanto mais “gostarmos” de nós próprios, melhor nos sentirmos connosco próprios. No entanto, ter uma autoestima elevada pode ser um traço de personalidade estável (que é o que mais interessa a todos nós) ou pode ser apenas algo passageiro. Muitas vezes, em momentos de sucesso profissional, sentimo-nos orgulhosos de nos próprios e a nossa autoestima sobe, porém, se esta autoestima for frágil, terá tendência a baixar. A autoconfiança é uma palavra mais conhecida por todos. Agir com verdadeira autoconfiança implica ter construído um bom autoconceito e uma elevada autoestima. Ter autoconfiança significa ter uma atitude positiva face às suas próprias capacidades e face ao seu desempenho. É a convicção de saber que se consegue levar uma tarefa a cabo e de fazêla bem. Por ultimo, um conceito mais invulgar, o de autoeficácia. Para Albert Bandura (1977), reputado autor da psicologia, o conceito da autoeficácia refere-se à avaliação que uma pessoa faz da sua capacidade de realizar uma determinada tarefa. Bandura defende que as pessoas que se percecionam como capazes de realizar uma determinada tarefa (ou seja, que possuem alta autoeficácia), fazem muito mais esforço para realizá-la, têm muito mais motivação para concluí-la e persevera mais tempo na sua realização do que outras pessoas com baixa autoeficácia.

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Bandura defendeu quatro fontes possíveis para a autoeficácia. A fonte mais importante é o próprio desempenho da pessoa nas tarefas em um determinado domínio (ex. se você realizou várias tarefas bem no trabalho, provavelmente irá incorporar este bom desempenho na sua autoavaliação como trabalhador, e logo, a sua autoeficácia no trabalho subirá). A autoeficácia também pode ser influenciada pela observação do desempenho de outras pessoas, que nos podem fazer refletir que poderíamos fazer algo melhor ou pior do que os outros. Uma outra fonte de autoeficácia é a persuasão verbal de outras pessoas, que podem nos convencer que somos ou não capazes de realizar algo e, por fim, os estados fisiológicos também pode afetar nossa autoeficácia (se nos sentimos ansiosos face a determinada tarefas, podemos correr o risco de concluir que nos sentimos assim porque não somos capazes de realizá-las, o que poderá sem sempre ser correto!). Note-se que estamos a falar de trabalho. Uma pessoa pode ter excelente autoconceito, autoestima, autoconfiança e julgar-se eficaz, por exemplo, como pai de família, e, no trabalho, ter os níveis de todos estes constructos bastante baixos! Em conclusão, o mais importante a reter, é que tem de acreditar em si próprio, com consciência que cada momento de trabalho vai ser processado por si e vai ser incluído no seu autoconceito, e você vai atribuir-lhe determinado valor (autoestima) e isso vai fazer com que passe a acreditar que é mais capaz ou menos capaz (sensação de autoeficácia). Para construir uma boa auto eficácia, tem de atribuir todos os seus sucessos a si próprio e deixar frases como “foi sorte de principiante” ou “aconteceu-me a mim, poderia acontecer a qualquer outro” de lado! E não se culpabilizar cada vez que acontece algo menos perfeito!

Referências Bibliográficas Bandura, A. (1997). Self-efficacy: The exercise of control. New York: W.H. Freeman

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10.Quer ser Teletrabalhador? Se pensarmos profundamente, pode parecer uma noção saída diretamente de um filme de ficção científica de há vinte anos trás: alguém está em casa, rodeado de monitores e tecnologias e aparelhos complicados, vestido de pijama e todo despenteado mas, na realidade, está a contactar diretamente com o seu “local” de trabalho. Afinal, veio a ser mesmo assim… Corria o mês de outubro do ano de 2003, quando se inaugurou o primeiro Telecentro em Portugal, mais concretamente em Vila do Conde. Criado no âmbito do Preamp (Plano Regional de Emprego para a Área Metropolitana do Porto), com objetivo de permitir a empresas, trabalhadores e estudantes a utilização das mais recentes tecnologias de informação. Todos os teletrabalhadores que não tinham possibilidade de montar um escritório em casa, passaram a ter o Telecentro. O telecentro está apenas disponível para pessoas com idade superior a 16 anos e facilita aos utilizadores a utilização de computadores, internet, impressoras, scanners, e plotter para impressão de grandes projetos. Alguns meses depois foi inaugurado o segundo Telecentro em Valongo. Curiosamente, trabalhei nos dois! Em 2003, fui formadora no Projeto Pêndulo e tive o meu primeiro contacto ativo com a temática do Teletrabalho, que desde essa data tem sido um tema constante na minha prática profissional. O Programa Pêndulo foi um projeto cofinanciado pela Iniciativa Comunitária EQUAL, e o seu principal objetivo consistia na dinamização de iniciativas que contribuíssem para a melhor conciliação da vida familiar com a vida profissional, através da promoção de novas formas de organização do trabalho com recurso às novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Apesar da excelente iniciativa, não foi um projeto fácil, e penso que apesar do grande sucesso na sensibilização de todos para as novas tecnologias, penso que não foram muitos os formandos a conseguir vingar no mercado de trabalho através do teletrabalho. Definir teletrabalho não é tarefa fácil, dada a variedade de experiências existentes no mundo. Abordaremos de forma simples o tema, definido como uma modalidade de trabalho com características próprias, que usualmente implica trabalhar à distância e utilizando as tecnologias.

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Há já bastantes décadas que existe trabalho à distância. Talvez até há séculos se pensarmos por exemplo, que há centenas de anos que muitos escritores redigiam os seus artigos e enviavam-nos por estafetas para o jornal ou boletim onde eram publicados! Consensualiza-se atualmente que teletrabalho implica que exista distância, ou seja, o teletrabalhador encontra-se num ponto geograficamente distinto do local para o qual o trabalho é realizado e que exista tecnologia, isto é, o recurso intensivo a meios informáticos e de telecomunicações para o suporte e/ou entrega de teletrabalho. Por outro lado, tem de existir

um

acordo

claro

e

contratado

entre

os

intervenientes

(teletrabalhador/empresa/cliente) que estabelece e regula as condições laborais (como) e as condições de trabalho (onde e quando) se desenvolve o teletrabalho. Nesse acordo ou contrato deve ser definido claramente a forma organizativa (a partir de casa do trabalhador, em centros de teletrabalho, escritórios satélite, etc.) e a modalidade (tempo inteiro, tempo parcial, ocasional ou sazonal). Não podemos induzir que ser teletrabalhador é ter um contrato de trabalho com determinada organização: talvez a expressão correta para esta situação fosse “teleemprego”, porém ainda não surgiu esta expressão. O teletrabalho é, no entanto, uma forma de organização do trabalho em grande crescimento nas últimas décadas! Durante alguns anos, houve algum ceticismo da parte das empresas (e creio que ainda há!), pois algumas chefias não conseguem se desvincular da ideia de “ver” as pessoas a “picar o ponto”. À medida que o planeamento do trabalho foi mudando para um “planeamento por objetivos” (ao invés de ser por horas de trabalho), esta metodologia foi ganhando pontos. Infelizmente, aconteceu também um efeito um pouco “perverso”: algumas organizações chegaram à conclusão que poderiam poupar bastante recursos económicos, contratando “freelancers” em regime de teletrabalho, sem qualquer contrato de trabalho (mas antes contrato de prestação de serviços) em que o próprio trabalhador arranja os seus meios de trabalho (computador, telefone, etc.) e, com isto, aumentou o trabalho precário. Na perspetiva das organizações, para implementar um projeto de teletrabalho com trabalhadores “da casa” não chega simplesmente oferecer um portátil. É necessário um projeto complexo, que identifique potenciais teletrabalhadores de sucesso, que preveja formação para os teletrabalhadores e os não-teletrabalhadores, bem como a identificação das tarefas que podem ser realizadas neste regime. 103

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Na perspetiva do teletrabalhador, é necessário hoje em dia dominar bastantes tecnologias, como o telefone e o telemóvel, os programas informáticos básicos e específicos da profissão, o Skype ou outras ferramentas de conversação em tempo real, etc. Por isso, ser teletrabalhador poderá não ser ideal para qualquer pessoa. Desde 2003 que acabei por ser teletrabalhadora em diversas modalidades, e neste momento, continuo a ser, na medida em que vos escrevo este artigo no conforto da minha casa! Depois de tantos anos, continuo a adorar trabalhar neste formato. Para ser teletrabalhador é necessário saber trabalhar bem sozinho, impor-se objetivos (e algum disciplina) a si próprio mas também saber impor-se alguns limites (por exemplo, fazer pequenos intervalos para descansar!). Por outro lado, existe a grande vantagem de gerir o seu próprio tempo e até de poder compatibilizar atividades de teletrabalho com atividades de trabalho tradicional. O Teletrabalho parece também ser uma das vias para combater a elevada taxa de desemprego em Portugal e noutros países, contudo, com o avanço rápido das tecnologias parecem ter surgido diversas “ironias do destino”: parecem existir muitas ofertas em teletrabalho para “freelancers”, mas a maior parte das pessoas querem empregos (contratos de trabalho)! Por outro lado, existem ofertas, mas nem todas as pessoas têm competências informáticas suficientes para se tornarem teletrabalhadores… Num próximo artigo, falaremos com detalhe das vantagens e desvantagens do teletrabalho para as organizações e para trabalhadores. Porém, se este artigo chamou a sua atenção, não deixe de pesquisar um pouco mais sobre este assunto ou até visitar alguns sites 9 da Europa, sejam de instituições ou de associações de teletrabalhadores .

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Sites a visitar Para saber mais: Telecentro de Vila do Conde: http://www.cm-viladoconde.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=37558 Telecentro de Valongo: http://telecentrovalongo.com/ Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Teletrabalho http://www.apdt.org The International Homeworkers Association: http://www.homeworkers.org/ The Canadian Telework Association http://www.ivc.ca/ Teleworkers Resource Web Page/Institute for Computer Based Learning:http://www.icbl.hw.ac.uk Telecommuting Jobs http://www.tjobs.com/ Telework Analytics http://www.teleworker.com/

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11.21 Princípios essenciais de etiqueta em entrevistas de emprego Não há fórmulas mágicas para conseguir um emprego ou se destacar pela positiva numa entrevista. Mas numa economia tão competitiva como a atual, quem está consciente das normas de etiqueta a utilizar num momento de entrevista de emprego pode ganhar uns pontos de vantagem. Neste artigo abordamos vinte princípios essenciais de etiqueta para que um entrevistador seja bem-sucedido numa entrevista: 1. Como já falamos em artigos anteriores, analise bem a roupa que irá usar, cumprindo todos os pressupostos que leu no artigo acima referido. Reflita se a escolha da roupa é adequada à organização para a qual está a concorrer. No setor da moda, teatro, publicidade e semelhantes deve usar algo criativo, enquanto no mundo corporativo deve cingir-se a algo sóbrio e idóneo. É costume nos jovens caírem em tentação de usar algo demasiado desportivo. 2. O seu CV chegou à entrevista antes de si. Prepare o CV conscientemente, fazendo pesquisa e tentando que o seu CV se destaque dos outros. Se optar por colocar fotografia, tenha especial cuidado para que seja uma fotografia agradável. 3. Nunca é demais reforçar: Nunca minta no CV! Aprenda a reformular ou a fazer a escolha certa de palavras. Em última instância pode omitir algumas coisas mas lembre-se “Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo” (provérbio popular)! Se omitiu algo, pode ser descoberto facilmente e, por isso, deve preparar de antemão uma explicação plausível (nunca diga “esqueci-me”, claro), e ao dar a explicação não pode hesitar (por exemplo, “como estive nessa empresa pouco tempo, achei não que não era muito relevante”, “como essa função não tinha relação com esta a que estou a concorrer, resolvi ter o cuidado de adaptar o meu CV antes de vos enviar a minha candidatura a esta função”, “Queria tornar o meu CV mais claro, ágil e conciso, e para isso tive de reduzir algumas partes”). 4. Não fume ou beba antes nem durante uma entrevista. Não vá a locais que tenham mau cheiro, por exemplo, uma praça de alimentação de um centro comercial (irá cheirar a “fritos” o tempo todo!) ou até uma perfumaria (irá misturar perfumes e pode ser uma má mistura). 105

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5. Chegue sempre um pouco antes da hora marcada (10 minutos é o ideal, pois se chegar cedo demais demonstra comportamento ansioso). Não se esqueça de fazer o trajeto uns dias antes, para não se perder. 6. Faça uma pesquisa sobre a organização, não só na página oficial da internet, como também em jornais e revistas online, pedindo opiniões a colegas e procurando na imprensa especializada (por exemplo, jornais de negócios, etc.). Se tal for possível, tente descobrir antecipadamente também um pouco sobre o(s) entrevistador (es) como, por exemplo, nome, grau académico e função na empresa: saber alguns destes detalhes poderá deixá-lo mais confiante e preparado. 7. Se encontrar outros entrevistados na sala de espera, converse mas não revele muito sobre si nem sobre o seu currículo. Tenha apenas uma conversa cordial. Nunca diga que está desesperado, ou que já foi a muitas entrevistas ou outros factos negativos. Nunca sabe com que está a conversar e não interessa nada que você seja o tema da entrevista seguinte! O mesmo se aplica a si: Não fale de outros candidatos durante a sua entrevista! Aliás, uma nova técnica em grandes organizações e quando se trata da abertura de vaga para cargos competitivos,

é

colocar

alguém

da

organização

a

observar

discretamente

os

comportamentos de quem aguarda pela entrevista, para depois conferenciar com o júri! Se na sala encontrar alguém muito conversador, não evite a conversa. Pelo contrário, tente inverter a conversa a seu favor, tentando descobrir se a pessoa sabe algo mais do que você acerca da vaga ou dos entrevistadores. 8. À entrada, pode iniciar por agradecer aquela oportunidade. Espere que o entrevistador lhe diga para se sentar e lhe indique o local adequado para o fazer. Usualmente, aguarda-se que o entrevistador estenda a mão para o aperto de mão, porém em profissões que exijam grande capacidade de comunicação, extroversão e criatividade, até é de bom tom iniciar o contacto (por exemplo, representantes de vendas, criativos, etc.). 9. Não coloque nada em cima da mesa do entrevistador: nem carteiras e pastas, nem cotovelos, nem mãos ou pés. Não olhe para o relógio, não masque pastilha elástica e evite ao máximo interromper o entrevistador. 10. Durante toda a entrevista esteja consciente da imagem que está a projetar. Eduque a voz, evite calão e se possível use algumas palavras eruditas ou termos próprios da vaga a que concorre. 11. Sente-se direito na cadeira, com as mãos colocadas nos apoios laterais da cadeira ou sobre os joelhos, evitando posturas demasiado rígidas. Evite gesticular demasiado, baixar a 106

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cabeça, apoiar a cabeça com a mão e tapar a boca, fixar os olhos na mesa ou cruzar os braços (postura defensiva e desconfiada). 12. Apesar de raro, pode acontecer que tenha de participar numa entrevista telefónica (é mais comum, por exemplo, quando se recruta alguém para trabalhar no estrangeiro), e neste caso a sua voz e todas as suas características (inclusive pausas e hesitações) são de grande importância. Se tiver um gravador, pode gravar um pouco da sua voz e ver se acha que está ideal (hoje em dia quase todos os portáteis e telemóveis têm essa funcionalidade: aproveite-a!) 13. Se possível treine a sua postura num espelho ou, melhor ainda, encontre um bom amigo (de preferência uma pessoa atenta a pormenores e crítica) que lhe faça uma entrevista fictícia. Um outro excelente exercício é tentar imaginar que somos um operador de câmara e que está a ver a sua entrevista numa televisão. Imagine a câmara a filmá-lo, imagine-se a si próprio e reflita se acha que está a causar impacto nos entrevistadores. 14. Mentalize-se que naquele momento você é um vendedor a representar-se a si próprio. O produto que irá vender são as suas qualidades, experiências, competências e a sua personalidade. 15. Se se tratar de uma entrevista de painel (com mais do que um entrevistador), não se assuste e não canalize o olhar para apenas um entrevistador. Distribua o olhar, a postura corporal e a resposta igualmente pelos vários entrevistadores. 16. É útil saber que existe um tipo de entrevista chamado “Entrevista de stress”. Não é muito comum porque exige bastante competência para o entrevistador. Este tipo de entrevista é mais utilizado em profissões cujo perfil profissional da pessoa a recrutar contenha competências de gestão de stress, lidar com a pressão e prazos e profissões que exigem concentração e elevada resistência ao cansaço (ex. controlador de tráfego, bolsa de valores, gestão de reclamações de clientes, etc.). Durante a entrevista de Stress o entrevistador pressiona o entrevistado de todas as formas possíveis, sempre formulando perguntas diretas e até insultuosas (por exemplo “Então você acha que é capaz de executar esta função, eu acho que não!”, “Acho que você não tem competências nenhumas!”, “Você foi despedido várias vezes não foi? Acho que você não é capaz de lidar com este cargo!”, etc.). Solução: mantenha-se calmo, pense que o entrevistador está a fazer isso para medir as suas competências de gestão de stress.

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17. Durante a entrevista deve demonstrar-se à vontade para discutir detalhadamente o seu CV e responder a todas as perguntas. Nunca é demais relembrar que tenha uma atitude positiva perante os entrevistadores e sobre si próprio (sem cair na arrogância). 18. Lembre-se que paralelamente aos elementos profissionais, estão a ser avaliadas outras competências: a capacidade de comunicação, a autoconfiança e o auto conceito laboral, a estabilidade emocional, a capacidade de compromisso com a empresa, a energia e criatividade, etc. 19. O salário costuma ser tema tabu para o entrevistado. Alguns autores acham que é um assunto que deve ser abordado pelo entrevistador. Se o entrevistado sentir que há realmente interesse em ser contratado, poderá abordar discretamente, perguntando se é possível saber mais detalhes sobre as condições de trabalho. 20. No encerramento da entrevistada, agradeça e cumprimente o entrevistador, dirigindose-lhe pelo seu nome e título académico. 21. Porém, no final de tudo nunca se esqueça de si próprio. Reflita, quase no final da entrevista, se aquela vaga realmente lhe parece interessante para si. Pode não corresponder aos seus interesses e se forçar a admissão pode até estar a perder outras oportunidades! Depois de terminar e sair, faça uma autoavaliação pessoal. Analise os seus pontos fortes e pontos a corrigir para futuras entrevistas.

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12.20 Princípios essenciais de etiqueta para entrevistadores Se você foi incumbido de fazer uma entrevista de seleção, tem uma árdua tarefa pela frente. Pode parecer fácil e simples, mas não é. Se foi nomeado para tal tarefa, deve ter alguma formação específica, mas se não a tem, apresse-se a inscrever-se numa formação urgentemente. Caso a empresa esteja a necessitar de um processo de recrutamento e seleção profissional é bom considerar a hipótese a sub-contratação de uma consultora externa. Porém, a entrevista de seleção é uma condição sine qua non do processo de seleção e logo não poderíamos deixar de enumerar os princípios essenciais para que você seja um entrevistador de sucesso. 1. Se possível, antes do processo de seleção iniciar define um exaustivo “Perfil de competências” para essa função. 2. Nunca inicie o processo de entrevistas, antes de uma atenta análise curricular. Cardoso (2001), aconselha a elaboração de uma grelha de pré-seleção, já que esta permitirá eliminar alguma subjetividade, sujeitando todos os candidatos aos mesmos critérios de avaliação. A grelha incide sobre a carta de candidatura e sobre o CV, e deverá ser baseada em questões fechadas, de resposta Sim ou Não, subdivididas nos seguintes pontos: (a) requisitos de base do perfil (escolaridade, experiência profissional, etc.); (b) Requisitos emergentes da análise da função (por exemplo, relações interpessoais, trabalho em equipa, competências especificas, motivações, etc.); (c) Aspetos Formais (apresentação da carta, ortografia correta, C.V. claro, explícito e bem estruturado, etc.); e, por último, (d) Questões Suscitadas e Classificação, onde se regista as dúvidas após a análise curricular, e se classifica a candidatura em (+), (+/-) e (-). 3. Depois das grelhas preenchidas irá decidir quem irá a entrevista. Usualmente são as candidaturas votadas com (+) mas em caso de escassez de candidatos, deverá aceitar também os votados com (+/-). Existem outros sistemas mas este é simples e eficaz. À medida que for apurando as suas competências como entrevistador poderá evoluir para outros sistemas. 4. Depois de apurar a lista de entrevistados, organize o seu dia, marcando horas certas para entrevistas, e reservando uns minutos para reler rapidamente o CV do candidato que irá entrar de seguida. Não se esqueça de marcar um intervalo para si próprio pelo menos de 109

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2 em 2 horas. Se não o fizer, estará mentalmente cansado e incapaz de ter um bom desempenho, o que prejudicará o processo. 5. Para realizar a entrevista escolha um espaço insonorizado, adequadamente iluminado onde não sejam permitidas interrupções. Não deixe documentos importantes e confidenciais na mesa. 6. Se for possível, tenha uma garrafa de água de 1.5 litros e copos, tanto para si como para o candidato (dependendo do orçamento que tiver, poderá também ter algumas bolachas e agua na sala de espera, o que dará uma melhor imagem à empresa). 7. Todas as regras de etiqueta para o comportamento humano se aplicam aqui: o entrevistador deve comparecer bem vestido, elegante, com postura idónea, não fumar nem beber álcool durante a entrevista e tratar o candidato elegantemente. Uma entrevista é um ato comunicacional com objetivos específicos, mas não se dispensam as características de um bom comunicador: ser claro, assertivo, com boa colocação de voz e equilibrado. 8. O entrevistador deve ir ao encontro” ao candidato, onde quer que ele esteja e acompanhá-lo à sala da entrevista. Deve tentar pôr à vontade o candidato (ajudar a tirar o casaco, falar do tempo, usar o humor, etc.) e esforçar-se por se dirigir ao candidato pelo nome próprio e título. 9. Dependendo do número de candidatos/as que tem para entrevistar num dia, a duração de cada entrevista pode ser adaptada. Todavia, uma entrevista de seleção nunca deve ter menos de 20 minutos, nem mais de uma hora. 10. Resumidamente, vejamos alguns momentos: (a) o entrevistador começa por identificar claramente a organização (tempo existência; volume de negócios; n.º de efetivos; localização, cultura organizacional, etc.) e apresentar-se como entrevistador (nome, formação e profissão e papel naquele processo de recrutamento e seleção; (b) explicita as fases anteriores do processo de seleção e breve resumo dos objetivos da entrevista; (c) de seguida, pede ao candidato uma breve descrição do seu percurso profissional. Ao averiguar estes antecedentes pessoais, também se exploram episódios concretos de trabalho (fáceis ou difíceis) que estejam diretamente relacionados com a função em avaliação, para saber como o candidato se integrou neles e como os resolveu; (d) O entrevistador poderá questionar sobre a filiação e respetivas profissões, atual residência e relações interpessoais, como amizades e relações amorosas (muito discretamente). A exploração destes campos tem como principal objetivo a avaliação da estabilidade emocional do indivíduo. Relembramos que é ilegal fazer questões demasiado pessoais ou discriminatórias (por 110

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exemplo, relacionados com sexo, raça ou religião, perguntar, quer a homens quer a mulheres, se está a pensar ter filhos, etc.); (e) depois é possível colocar algumas questões clássicas: “Se tivesse de referir algumas qualidades que valoriza em si, quais seriam?”e “Se tivesse de referir alguns defeitos, aqueles que sente que por vezes o prejudicam, quais seriam?”; “A curto-médio prazo, 5 ou 10 anos, como se imagina no futuro, a todos os níveis?” e “Tem algum sonho, não tanto um projeto, mas um sonho que gostaria de ver realizado?”; (f) Por fim, explicita-se ao candidato como decorrerá o resto do processo, quando seria emitido o parecer, e quando (e através de quem) ele poderá ter acesso aos resultados. O fecho da entrevista era realizado com os agradecimentos e as despedidas. 11. Um autor essencial para esta temática é Chiavenato (1985) que considera as seguintes fases na realização de uma entrevista: (a) constelação familiar; (b) história educacional; (c) experiência profissional; (d) aspirações e planos para o futuro; (e) condições físicas (mais requerido para algumas profissões como motorista, taxista, etc.); (d) fluência verbal; (e) segurança aparente; (f) auto julgamento; (g) situação financeira e (h) comportamento durante a entrevista. 12. O entrevistador deve explicitar claramente os termos e condições daquela vaga. Não é justo deixar questões pendentes. 13. Não é ético gravar entrevistas de seleção. Repare que mesmo que peça autorização ao entrevistado, ele estará sempre pressionado a dizer que sim, pois ele quer o emprego! 14. O entrevistador deve tirar notas discretamente. Esta é uma arte difícil de aprender: retirar o essencial e escrevê-lo rapidamente e em letra legível. Tirar notas em excesso quebram o andamento da entrevista. Relembre-se que cada segundo que perde a escrever está a perder informação sobre o comportamento do entrevistado. 15. Lembre-se sempre que as entrevistas são contaminadas pela perceção do entrevistador e pelo seu próprio estado emocional. Além disso, o estatuto e o poder associado ao entrevistador, juntamente com mensagens verbais e/ou não verbais que transmite, poderão ser o maior emissor de parasitas, gerando no candidato comportamentos como o mutismo, a tentativa de sedução ou cumplicidade, que poderão, também mascarar a sua verdadeira face (Cardoso, 2001:75). 16. O entrevistador deve reservar os momentos finais para dar oportunidade ao candidato de fazer perguntas adicionais. 17. Por outro lado, na conclusão/fecho da entrevista (Cardoso, 2001:114) sugere que se informe o candidato da sua performance durante a avaliação já que isto “constitui um 111

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feedback importante para o candidato, tanto a nível da sua candidatura atual como nas futuras” 18. Aqui apresentamos um breve exemplo de um guião de entrevista simplificado e bem elaborado:           

Em breves minutos, fale-me de si e da sua história. Que competências adquiriu ao longo do seu percurso profissional? Quais as atividades mais relevantes em que participou? Porque se candidatou a este emprego? Quais os seus projetos no curto e médio prazo? Quais os seus pontos fortes e menos fortes? Quais as razões porque devo contratá-lo? Quais as condições remuneratórias que pretende? O que significa para si o emprego ideal? Como ocupa os seus tempos livres? Como projeta a sua vida daqui a 5 anos?

19. Para alguns autores como Cardoso (2001) quase todos os elementos recolhidos através de avaliação psicológica, podem ser obtidos através de entrevistas individuais altamente estruturadas, baseadas em perfis de competências, análises de funções, etc. 20. Caso ache realmente necessário realizar provas de avaliação psicológica, apenas os profissionais inscritos na Ordem dos Psicólogos podem fazê-lo, pois são os únicos habilitados 10 para esse tipo de avaliação . Neste momento existem provas aferidas e validadas para

imensos construtos importantes como, por exemplo, capacidade verbal e matemática, liderança, otimismo, testes de aptidão específicos, testes de inteligência geral, concentração e resistência ao stress, provas de avaliação de características de personalidade, etc. Referências Bibliográficas Cardoso, A. (2001). Recrutamento e Seleção de Pessoal. Mafra: Lidel - Edições Técnicas, Lda. Chiavenato, I. (1985). Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Editora Atlas, S.A.

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Para saber mais Sobre profissionais credenciados para aplicação de provas psicológicas, visite o site oficial da Ordem dos Psicólogos Portugueses: http://www.ordemdospsicologos.pt/

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13. Stress? Reduza a sua vida ao essencial! Se existe algum segredo para viver bem e feliz é este: Reduza a sua vida ao essencial! Nos dias de hoje, o estresse é uma das maiores problemáticas que as pessoas enfrentam, principalmente o estresse ocupacional, vulgarmente denominado “estresse com o trabalho”. Esta distinção é ténue mas importante. Se você não trabalha ou não tem um emprego, isso não significa que não tem ocupações. Um pai ou uma mãe que passam o seu dia em casa, vivem o estresse das suas ocupações: cuidar dos filhos, ajudá-los nos trabalhos da escola, fazer o jantar, arrumar a casa, reparar eletrodomésticos avariados, pagar as contas, ir ao banco ou tratar de recados que todos nós conhecemos, são também ocupações que geram, digamos preocupações! (Reparem até, que a própria palavra preocupações, significa exatamente isso, as dificuldades em enfrentar as ocupações, se quisermos simplificar!). Atualmente, a sociedade rápida e consumista em que vivemos, “consome-nos” mais depressa do que nós conseguimos reagir à pressão. Há algumas décadas atrás, vivíamos numa sociedade centrada na família e, recentemente, passamos a viver numa sociedade centrada no trabalho e, na minha opinião, numa sociedade cada vez mais centrada no dinheiro e nos bens materiais. Esta minha opinião não é nova, partilho-a com dezenas ou centenas de pessoas que se têm dedicado à procura da felicidade, em geral, ou a linhas específicas como, por exemplo, religiões, movimentos ou filosofias, etc. Se você sente que o estresse está a consumir a sua vida, está na altura de reduzir a sua vida ao essencial. Este texto não é escrito apenas na perspetiva de psicóloga que sou, mas também de um ponto de vista da minha segunda carreira, a de instrutora de Yoga. Juntando estas duas perspetivas com a da gestão organizacional (pois se reduzir o seu stress individual, terá maior produtividade e mais elevados níveis de satisfação no seu trabalho), com o Coaching e com a minha experiência subjetiva, enumero aqui alguns passos que deverá tomar para reduzir a sua vida ao essencial.

1-

Pondere o que é para si essencial. Parece fácil mas não é. Um exercício

simples é olhar à sua volta, refletir e fazer uma lista. Pense assim “Se eu não

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tivesse ISTO, vivia bem? Fazia realmente falta?”. Assim chegará ao que é mesmo importante para si, no entanto, veja os pontos abaixo. 2-

Não acumule objetos de que não necessita ou dos quais não gosta.

Garagens atafulhadas com coisas velhas são “energias paradas”, passados mal resolvidos que o impedem de andar para a frente com a sua vida. Existem imensos sites na internet onde pode vender coisas usadas e realizar capital para comprar outra coisa que goste. 3-

Olhe para todos os seus armários com “olhos críticos”. Observe a

quantidade de roupa que possui, as peças de loiça, eletrodomésticos, etc. Pense na quantidades de coisas que tem, para as quais não tinha necessidade ou aplicação há 10 anos atrás! Livre-se delas ou venda-as. 4-

Repense as suas despesas mensais. Recentemente reduzi o meu pacote

de TV por cabo e acabei por pagar menos e encontrar mais tempo disponível para outras coisas (ler, fazer uma caminhada, etc.). Analise bem as suas faturas de eletricidade e outros serviços. Aproveite estes momentos para tomar decisões familiares e não individuais. As crianças devem ser envolvidas desde pequenas na educação financeira, permitindo com isto gerar participação e harmonia familiar e, ao mesmo tempo, promover aprendizagens. 5-

Quanto ao dinheiro, quer a falta quer o excesso, causa stress. O dinheiro

é um ACESSÓRIO que lhe permite viver. Não tenha dinheiro parado, nem em contas bancárias nem debaixo do colchão! Aplique-o. Gaste o essencial, poupe sempre uma parte e reserve um luxo por mês para si própria ou para a família toda. 6-

Seja solidário. Digo-lhe para poupar, mas também lhe digo para gastar.

Faz parte do bom Karma, ajudar os necessitados. Guarde o que puder para contribuir para quem precisa, nem que seja um euro por mês. 7-

Ginásios, cabeleireiros, depilações, lavagens de carros e outros gastos

supérfluos, guarde para ocasiões especiais. Procure um ginásio que não a penalize por não ir lá um mês. Faça caminhadas ao ar livre ou compre uma bicicleta para realmente percorrer as ruas! Claro que, se no ponto 1. Deste artigo, avaliou algum destes itens como essenciais, pode mantê-los, mas pelo menos, conclua, sozinha e depois de refletir, se são realmente essenciais.

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8-

Uma boa parte das pessoas gosta de acumular bens e dinheiro. Talvez

isso lhes traga de alguma forma, um conforto para lidar com as incertezas que enfrentamos na vida. Mas isso é adiar isso mesmo: a aprendizagem que todos temos de fazer que a vida é incerta e está sempre a mudar. 9-

Ande a pé. Conheço pessoas que se deslocam uns metros ou 1 km de

carro! Vá pelas escadas, vá a pé, estacione o carro longe da entrada do supermercado! Iremos agora abordar outras técnicas para reduzir a sua vida ao essencial. Se até aqui estivemos a falar de aspetos mais materiais, na segunda parte abordaremos aspetos psicológicos, sociais e laborais. Nesta segunda parte, iremos abordar questões mais centradas na sua disponibilidade mental, ambientes sociais e laborais. 1-

Elimine o excesso de notícias. É importante estar a par do que acontece

no país e no mundo, mas dou-lhe um conselho: COMANDE a sua própria vida. Não se deixe invadir por telejornais televisivos. Procure VOCÊ as notícias na internet ou na rádio ou na imprensa escrita (esta última é a que eu prefiro pessoalmente!). Quando eu era criança dizia-se, antes das refeições “vamos jantar. O ‘comer’ esta na mesa…vá acabou a televisão”. As pessoas demonstram hoje traços de personalidade realmente MASOQUISTAS! Queixam-se da vida mas querem ouvir mais e mais notícias de teor negativo. A comunicação social descobriu que é fácil “vender” notícias trágicas e dramáticas e, por isso, empurra-as pelos olhos dos telespectadores. 2-

Seja crítico. Se não consegue viver sem ver todas as notícias, pelo menos

reflita. Pense que a comunicação quer vender tempo de antena, logo, muitas vezes deturpa ou enaltece notícias para conseguir chamar a atenção. Não tome quaisquer decisões com base no que vê na televisão. 3-

Metade das complicações ou problemas que você sente na sua vida, são

gerados por si. Assim, reduzir a sua mente ao essencial é imprescindível. Não é fácil nem rápido. Centrar-se no presente é bastante complexo, porém, com o fluir da vida, irá cada vez mais aperceber-se que uma boa parte dos seus pensamentos dizem respeito ao futuro e ao passado, e não ao presente. Eliminar o “lixo” que popula as nossas mentes atualmente é o topo da prioridade de qualquer pessoa que realmente deseja ser feliz. Pode começar por pesquisar técnicas de meditação, 115

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aulas de yoga online ou se preferir, seguir à risca alguns dos conselhos da sua religião, pois grande parte dos princípios religiosos apelam à paz de espírito, à solidariedade e à busca pela harmonia. 4-

Elimine tudo o que é “tóxico” para si. Relações, hábitos, sítios, tudo.

Pode começar com coisas simples: por exemplo, há uma pessoa que você não suporta, mas sente algum tipo de obrigação moral de a “aturar”. Pondere se essa obrigação é real e se vale a pena sofrer com essa convivência. Se chegar à conclusão que não…corte imediatamente. Todas as relações que o fazem sentir mal consigo próprio, fazem-no exatamente sentir mal, PORQUE não é suposto estarem na sua vida. Deixe-as ir. 5-

No que respeita a relacionamentos, quer amorosos quer de amizade,

esta lei aplica-se claramente: A lei do menor esforço. Você não pode estar a fazer um esforço enorme para estar com determinada pessoa. As pessoas que o rodeiam influenciam fortemente a sua vida, muito mais do que você possa pensar. Rodeie-se de pessoas positivas. Elimine as pessoas pessimistas da sua vida. Elimine as pessoas materialistas, que só pensam em bens e dinheiro. Ainda voltando ao dinheiro (tema do artigo anterior), uma boa parte do dinheiro é gasto em ambientes sociais. Se você está numa fase de poupança, repense as saídas sociais, e substitua-as por convívios em casa de um amigo ou na sua. 6-

Livrar-se do stress é livrar-se de tudo o que é tóxico. Resta então falar

da sua situação laboral em concreto. Se o seu trabalho atual lhe causa stress, então procure alternativas imediatamente. Esqueça a crise ou tudo o resto que ouve nas notícias ou em rumores. Procure na mesma melhorar a sua vida laboral! Se o seu trabalho lhe causa stress, mas você acha que ainda há algo a fazer, então comece por si próprio. Não fique à espera que a sua entidade patronal faça algo. Você também faz parte do problema, está tudo na mesma equação! Algumas técnicas para reduzir o seu stress no trabalho são: (a) fazer pequenos intervalos durante o dia. Não precisa sair do seu lugar. Simplesmente pare, esvazie a sua mente e tente retornar ao que é essencial na sua vida. Pense nos seus filhos, no amor, em momentos que o relaxam; (b) muitas pessoas têm por habito colocar uma fotografia na secretaria ou no wall paper do computador. Esta é uma ótima ideia, se realmente parar para as fixar durante um minuto. Pode ser uma foto dos seus filhos, uma praia agradável, uma foto romântica, ou uma foto da casa dos 116

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seus sonhos ou de outro qualquer objetivo que quer atingir; (c) o corpo é responsável por uma boa parte do seu stress mental no trabalho. A ergonomia é a ciência que se dedica, em parte, a ajustar os postos de trabalho a posturas corporais humanas mais confortáveis. Analise o seu posto de trabalho e a sua postura, ponderando se a sua coluna, pescoço, mãos etc, estão em posições ergonómicas; (d) ao fim de longas horas de trabalho é essencial fazer exercícios de 11

alongamento ou yoga.

7-

Por fim, o Stress gerado pelas tecnologias. Pode parecer estranho para

alguns, já que as tecnologias parecem o milagre que veio salvar as nossas vidas. Mas pense bem: já sentiu que “tem de ir ver o seu email”? Já pensou que tem de ir ver o Facebook? TEM DE ir mesmo? Então, você pode estar dependente. AS teconologias são um acessório apenas. Não adira a demasiadas coisas, sites, promoções, logins, etc. o ua sua vida vai começar a ficar ais complicada ainda! Não permanece no facebook horas a fio, ou em qualquer outro site. Se você fica mais do que 10 a 15 minutos no mesmo site o use não consegue passar 2 ou 3 dias sem ir “à net”, então repense se isso não estará a ser tóxico para si. Depois deste segmento de dois artigos sobre reduzir a sua vida ao essencial, esperamos que pelo menos consiga dar pequenos passos neste sentido. Não se culpabilize se não conseguir abraçar várias “reduções”. Celebre as que conseguir. Aceite a sua mudança e congratule-se pelo primeiro passo: querer realmente viver uma vida mais simples! 11 Existem muitos sites na internet que poderá consultar para aprender alguns exercícios ideais para realizar no seu local de trabalho, um dos quais, donde retirei esta imagem, exemplificativa. Visite este link: http://3.bp.blogspot.com/_UVwTpt5TMw/TTTVLV0nseI/AAAAAAAAABA/idU386q_tMA/s1600/alongamento%2Btrabalho.jpg

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14. Se você não arranja emprego, sorria! Eu sei que ao ler o título deste artigo o leitor ficou imediatamente indignado! Mas talvez o ajude a começar a compreender o que lhe quero hoje aqui expor, se eu lhe disser que o título alternativo deste artigo era “Sorria … para arranjar emprego” O poder do sorriso nas nossas vidas é indiscutível. Existem milhares de investigações científicas, em múltiplas culturas, etnias e raças do mundo, em áreas do saber tão variadas como a neuroanatomia, a fisiologia, a psicologia e a antropologia, que estudaram a origem do sorriso, as interpretações e as reações dos outros ao sorriso, e muitos outros subtemas. O Sorriso é, por excelência, uma das primeiras formas de comunicação do bebé humano. Com pouco tempo de vida, qualquer bebé saudável comunica através do sorriso, mesmo que, muitas vezes, o sorriso seja involuntário. O sorriso é inato e até bebés que nascem cegos e que nunca viram um sorriso, conseguem sorrir! A nossa programação genética tem o sorriso na sua base de dados e, é por isso, que dou por mim a ficar muito preocupada com estudos recentemente revelados que concluíram que os portugueses sorriem cada vez menos. Aliás, mesmo na minha rede de contactos pessoais, ao escrever este artigo, dei por mim à procura de fotografias recentes de pessoas com quem me relaciono, nas quais essas pessoas estivessem a rir ou a sorrir e tive de ir procurar fotos com mais de 3 anos. Será que as pessoas se esqueceram do poder do sorriso? Será que pensam que não há motivos para sorrir?! Será que estamos a perder uma das formas mais básicas de comunicar connosco próprio e com os outros? Há quanto tempo você não sorri, sozinho, para si próprio no seu espelho? Tanto o sorriso como o riso pessoal são assinaturas de marca da nossa imagem e, por isso, temos de reconquistar esse poder. Segundo o Prof. Freitas-Magalhães, um psicólogo que se tem dedicado à investigação das expressões faciais nas últimas duas décadas, o sorriso tem dois componentes essenciais: a estrutura (conjunto de músculos necessários para sorrir) e a funcionalidade (utilidade prática do sorriso). A investigação revela três tipos de sorriso: o fechado, o superior e o largo, em contraste com a face neutra. Recentemente com o auxílio de ecógrafos a três dimensões até já é possível verificar o sorriso do feto. Não é pacífica, ainda, a explicação da função daquele sorriso.

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O Sorriso é uma das principais formas de criar vinculação, logo, como espera arranjar emprego, se você não sorri? A sua foto do seu Curriculum Vitae está a sorrir para o empregador? A foto que coloca nas redes sociais, tem o seu sorriso? Quando vai a entrevistas, você sorri? Se neste momento você está a pensar “Mas sorrir porquê?. Estou desempregado, sintome deprimido…não tenho motivos para sorrir…”. Então você é quem mais precisa de sorrir! A Risoterapia esforça-se por colocar as pessoas a sorrir, pois o sorriso, por si só, contribuiu para a recuperação de estados depressivos e fortalece os pensamentos positivos. Encare o seu ritual diário como equiparado a comer de forma saudável ou a ir ao ginásio ou até a ir às compras. Você não pode ser feliz, se sorrir. Não pense que vai encontrar um emprego fantástico e só depois poderá sorrir, porque é exatamente o contrário. Se você quer arranjar emprego, sorria. Sorria já, não deixe para amanha o que pode fazer hoje. Aqui vão alguns exercícios. Todos os dias olhe-se ao espelho. OU de manha ou à noite, fique um minuto da sua vida a observar o seu rosto e sorria forçadamente. Quando está em situações de espera, na fila de um supermercado ou de um serviço, reflita e recupere a sua consciência de sorrir. Introduza em si próprio este comando “Sempre que sentir os meus músculos a fazer cara neutra ou má, aí, vou imediatamente sorrir”. Depois de se programar desta forma, você vai abrir as portas das relações interpessoais. Se você faz yoga, meditação ou exercício físico, durante todos estas atividades sorria. Existe mesmo a meditação do sorriso: Sente-se calmamente, observando a sua respiração em silêncio e sorrindo com os lábios. À medida que vai acalmando o seu corpo, vá espalhando o sorriso por todo o corpo, meditando nas seguintes palavras “sorrio, o meu coração sorri, os meus pulmões sorriem, os meus músculos sorriem, os meus rins sorriem”, e assim por diante, até sentir que todos os seus órgãos e músculos sorriem… Por fim, incorpore o sorriso nas suas atividades diárias: cozinhar, arrumar a casa, tomar banho, etc, são momentos excelentes para intencionalizar o seu sorriso. Depois de fazer este percurso, o sorriso voltará a fazer parte de si. Quando se candidatar a um emprego sorria ao ler o anúncio, sorria ao enviar o CV e sorria na entrevista. Quando você acreditar que o sorriso é a chave para conseguir o seu emprego, esse emprego aparece para si! 119

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Iremos dedicar alguns artigos para que, passo-a-passo você largue o desemprego, se é isso que realmente você quer! 12 Na minha tese de mestrado, denominada “Os Inempregáveis” , tive a oportunidade de

desconstruir uma serie de ideias preconcebidas e mitos acerca do desemprego. Em termos científicos, a investigação no campo dos impactos do desemprego procura encontrar as estratégias de coping com o desemprego, ao invés de andar atrás das queixas rotineiras e clichés habituais que as pessoas parecem adorar calcar e mastigar todos os dias! (Por exemplo “Isto é uma desgraça”, “Está muito mau!”, “Ninguém me contrata”, etc.). Há uns meses atrás estava a dar uma aula, no ensino superior, e falei sobre os impactos positivos do desemprego. A maioria dos alunos ficou calado e com ar intrigado enquanto eu desenvolvia o assunto, mas um aluno sentiu uma necessidade incontrolável de falar, dizendo: “Como assim, professora? Positivos? Como assim?”

Até a morte tem impactos positivos! O universo equilibra-se, temos de morrer para dar lugar ao próximo…como é que o desemprego não havia de ter impactos positivos? Portanto, primeira tarefa que você tem a realizar é DESCONTRUIR algumas ideias que você tem acerca do desemprego! Grande parte das pessoas pensam que estão sem emprego por culpa de alguém, e procuram colocar essa responsabilidade em governos, patrões ou noutra pessoa qualquer. Aprenda desde já que as responsabilidades são partilhadas. Uma boa parte dos problemas associados ao desemprego estão relacionados com um DESJUSTE do mercado de trabalho. A modalidade de contrato de trabalho sem termo (o que vulgarmente chamamos de “ser dos quadros da empresa” ou “ser efetivo”) tem apenas 200 anos de história. Porém, parece que uma boa parte da humanidade gostou desta modalidade. Um dos desajustes e exatamente esse: você quer um emprego só, mas existem milhares de trabalhos à sua espera, ou até existem milhares de oportunidades de criar os seu próprio negócio e você não as consegue ver. Existe um ditado popular que eu gosto muito que diz: “Procure oportunidade e não a segurança. Um barco parado no porto, está seguro, mas ira apodrecer”. Um outro desajuste relaciona-se com as qualificações. Cada vez mais são procuradas pessoas com qualificações elevadas (12.º ano) e com especialização profissional.

12

Poderá fazer o download gratuito aberto.up.pt/bitstream/10216/23703/2/68009.pdf

da

versão

120

integral

da

Tese

neste

link:

http://repositorio-

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Depois, desconstrua outra ideia: a taxa de desemprego. A comunicação social, quando não tem outros assuntos a noticiar, adora ir remexer na taxa de desemprego, nem que esta tenha variado uma décima apenas. Vejamos: a taxa de desemprego, em média, em 2007 era de 8%, em 2009 era de 9,5%, em 2010 era de 10,8% e em 2011 esteve um pouco acima (FONTE: www.pordata.pt). Você tem de relativizar estas taxas! Em 2010, 526.382 de pessoas recebiam rendimentos sociais de inserção da segurança social portuguesa. Se juntarmos aos que recebem outros incentivos e aos que não querem trabalhar ou que tem trabalhos ilegais, a taxa de desemprego nunca será a que é noticiada. Não se deixe assustar por taxas, nem taxas de desemprego, nem taxas de outra coisa qualquer. Estes são meros indicadores estatísticos que não representam a realidade. Posso dizer-lhe que a situação é bem mais complexa e até lhe posso dar exemplos pessoais: durante muitos anos que não tive emprego, mantive-me inscrita nos centros de emprego e logo, fui contabilizada para as taxas! Nunca parei de trabalhar e sempre apareceram mais e mais trabalhos, que hoje apelidamos de precários. O limite entre precariedade e flexibilidade é ténue. No fundo, relaciona-se mais com a sua vontade do que com qualquer outra coisa. A verdade é que comecei por ser trabalhadora independente porque fui obrigada pelas ofertas que recebia. Mais tarde, presa a uma secretaria, a um salário mensal, a um horário e a uma hierarquia, percebi que não era nada disso que eu desejava para a minha carreira profissional e voltei a ser independente. Não feche portas nenhumas. Livre-se de preconceitos e ideais feitas. Nunca recuse uma oportunidade de trabalhar, seja em que formato for. Atualmente, tenho ouvido expressões do tipo “Nem vale a pena trabalhar, vou pagar muitos impostos”, “Mais vale estar a receber o subsídio e depois logo se vê”, “Oh, é muito longe, não vou andar todos os dias 100 km só para ir trabalhar” e isto demonstra que as pessoas realmente não querem trabalhar. Você não deve trabalhar para enriquecer, deve trabalhar para viver, e trabalho gera trabalho. Se você fica parado, só gerará estagnação na sua vida. Espero que com este artigo você comece a operar a mudança em si, enquanto ainda está desempregado. É você que tem de se abrir ao mundo, e construir o mercado de trabalho como você quer, mas para si, você tem de estar aberto às possibilidades que o mercado lhe trás! Termino lembrando uma citação muito importante sobre a qual gostaria que refletisse uns minutos: “Quando o trabalho é prazer, a vida e uma grande alegria. Quando o trabalho é um dever a vida é escravidão”. Máximo Gorki 121

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15. Invista num PPR mas não esqueça do “PER”! Durante as nossas vidas passam por nós milhares de pessoas. Entre familiares, família afastada, colegas de escola, colegas de trabalho e outros breves conhecimentos, não sente estranho quando pensa que, em média, só se encontra regularmente com 3 a 5 amigos? Nos últimos meses a quantidade notícias sobre idosos isolados que morrem sozinhos tem aumentado. Como sempre, a comunicação social dá atenção ao que vende e ao que choca os espectadores, porém, mesmo não sabendo se o número real de idosos abandonados, tem ou não aumentado, em todo o caso, a situação é preocupante! Muitos de nós já temos um PPR – Plano de Poupança Reforma, você tem? Se não tem, devia ter. Não há desculpas para não ter. Pequenos montantes por mês não custam nada a poupar. Durante toda a nossa vida como trabalhadores, de alguma forma ansiamos pelo descanso, por essas tais ferias que chegaram no fim de uma vida inteira de trabalho, a reforma! No entanto, é elevado o número de pessoas para quem a reforma é sinónimo de uma pequena morte. Ao fim de 40 ou mais anos a trabalhar, trabalhar passa a ser sinónimo de viver, sem que notemos. Vivemos a vida a correr, a ganhar dinheiro, a remodelar a casa, à procura de promoções, a correr pela vida fora e, quando chegarmos ao fim? O que acontece? Simplesmente, nada. A reforma traz a muitas pessoas um forte sentimento de inutilidade, pior do que o desemprego. Estar desempregado é (possivelmente) provisório, mas a reforma é um atestado de incapacidade. Não sou útil, já sou velho, ninguém me quer, agora já sou “burro”, são frases que, mesmo não ditas, existem na mente de reformados. E não se iluda, todos iremos chegar lá! Mahatma Gandhi costuma dizer que o desenvolvimento e evolução de uma sociedade se mede ela forma como esta trata as minorias e os mais frágeis. Todos seremos velhos, em breve! Mais 30 ou mas 50 não há grande diferença! Por isso, é durante a sua vida que tem de investir num PPR, mas não esquecer o seu PER! Considero o PER- Plano Emocional de Reforma, o seu plano de como irá ser a sua vida social, amorosa e familiar, quando o trabalho acabar!

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Numa sociedade extremamente centrada no trabalho, as pessoas descuram os amigos, os colegas e a família. Acham que tudo isso tem tempo, mais tarde. De repente, vêm-se sozinhos, aos 40, 50 ou mais anos de idade, sem uma companhia sequer. Isto pode acontecer a qualquer um de nos que não crie o PER. A quantidade de pessoas que eu conheço que cortou laços com algum familiar é imensa. Já para na falar na quantidade de pessoas eu se zangou com amigos por pequenas coisas. Se a relação era tóxica, fez bem em afastar-se, mas não afaste outras novas amizades! Passos para começar a criar o seu PER-Plano Emocional de Reforma: 1-

Em primeiro lugar, está você. Se você não gosta de si ou não se sente

bem sozinho, então você não está em harmonia. Procure ajuda já. 2-

Mantenha amizades. As amizades desfazem-se se você não mantiver

contacto. Ligue a antigos amigos, reate relações, enterre o passado. 3-

Manter amizades implica que você faça algo. Ouço, muitas vezes,

pessoas dizerem “oh, ele nunca mais ligou”. E você? Fez algo? Porque é que as pessoas ficam sempre à espera que os outros deem o primeiro passo? 4-

Lembre-se desta frase “VOCÊ VAI MORRER”. Pode parecer mórbido, eu

sei, e muitas pessoas não sabem aceitar a morte, preferindo adiar o assunto. Se você aceitar que vai morrer em vez de disfarçar o assunto, você começará a viver. Pense como quer que seja o seu fim. Quer ficar sozinho, sem ninguém? Como imagina o seu funeral…vazio ou cheio de amigos e família a honrá-lo? 5-

Pense na quantidade de familiares com os quais já não fala há anos.

Pense porquê. Lembra-se? Provavelmente já nem se lembra porque é que não fala com eles ou provavelmente, não existe nenhum motivo concreto! Tente reatar contactos pelo menos com um ou dois familiares, já! 6-

Use o facebook. Apesar de ter muitas desvantagens, tem essa vantagem.

Reencontre antigos amigos e contacte-os. Nunca pense que isso é perda de tempo! 7-

Tenha amigos próximos. Um ou dois amigos próximos são um elemento

saudável da vida humana. Alem da sua família, seu cônjuge e seus filhos, deve ter amigos. O ser Humano é um animal gregário, precisa viver em grupo. 8-

Grande parte das pessoas que sofrem de depressão, patologia que tem

crescido bastante em Portugal, não tem rede social de apoio, não fala, não tem alguém de confiança com quem se abrir e, logo, o isolamento e os pensamentos 123

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destrutivos começar a ganhar terreno. Investir no seu PER é viver uma vida saudável e prevenir psicopatologias. 9-

Ao longo da sua carreira teve muitos colegas de trabalho. Ficou amiga de

algum? Talvez não. Então pense nisso. EM cada colaboração, formação, emprego ou outra oportunidade de conhecer pessoas, tente pelo menos, manter contacto com uma pessoa. 10- Não faça este PER com as pessoas que aparecem. Você tem direito a ter pessoas que o fazem sentir bem e não a simplesmente acomodar-se a quem apareceu. Existem milhões de pessoas em Portugal, com certeza, encontrará um bom amigo. 11- Quando a sua reforma chegar, você tem de ter história em comum com estas pessoas. Relembrar “Os bons velhos tempos” é uma atividade ótima e feliz, desde que tenha vivido a sua vida sem arrependimentos e tenha aceitado que o passado passou. Revisitar momentos felizes faz-nos sorrir e reviver o sentimento de felicidade. Não reviste momentos infelizes ou miseráveis…simplesmente não tem qualquer utilidade, a não ser que queira reviver a miséria… 12- Associações, clubes e hobbies são atividades a manter toda a vida, para que na sua reforma possa continuar com esses entretenimentos.

Para avaliar se está no bom caminho a construir o seu Plano Emocional de Reforma, imagine um mealheiro gigante e contabilize: (1) quantos amigos estarão lá, neste momento? E daqui a 10 anos?; (2) quantos familiares próximos estarão vivos para conviver consigo quando você envelhecer; (3) quantos ex-colegas de trabalho tem para tomar um chã ou jogar um jogo de vez em quando?; (4) quantos hobbies tem? A quantos clubes ou associações pertence? Se o seu Plano Emocional de Reforma está fraco, comece já a investir nele. Lembre-se, o trabalhão acabará, a reforma chegará, e esse deve ser um momento de descanso e felicidade, e não de solidão de arrependimentos!

Boa sorte com o seu PER!

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16.Novas Profissões Uma das coisas que você tem obrigatoriamente de fazer enquanto (AINDA) está desempregado, é estar alerta e atento a tudo o que se passa a sua volta. Neste artigo, queremos chamar a sua atenção para as Novas Profissões. Como sabemos, o ser humano é “um animal de hábitos”, logo, muitas vezes as pessoas simplesmente ficam fortemente apegadas (às vezes até obsessivas), com a profissão ou função que exerceram no passado. O mercado, tal como você, está constantemente em evolução! Não é fácil interiorizar esta frase, mas você tem de se convencer de uma vez por todas que o passado não é presente! As novas tecnologias, as mudanças laborais e muitos outros fatores contribuem constantemente para a criação de novas vagas e, para que você as fique a conhecer facilmente, vamos enumerar, de forma rápida e fácil, algumas das Novas Profissões. Para isto, realizamos algumas pesquisas e consultamos o recentemente lançado Guia das Novas Funções 2012 da Michael Page. Este guia identificou 15 novas profissões em oito setores de atividade diferentes! Em suma, as profissões listadas neste guia são: (1) Atuário Especialista em Solvência II; (2) Restructuring Manager; (3) In House Lawyer; (4) Diretor/Coordenador de RH; (5) HR Business Partner; (6) Responsável de Formação; (7) Gestor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais; (8) Marketing Online Manager; (9) Community Manager; (10) Loyalty Program Manager; (11) Medical Manager; (12) Medical Scientific Liaison (MSL); (13) Diretor de Obras Internacional; (14) Diretor de Desenvolvimento de Negócio Internacional (15) Delivery Manager (Information Technology).

Então, vamos resumir rapidamente, para si, algumas das profissões de futuro: 1.

Diretor de obras internacional: O discurso da crise, deturpa a realidade. É muito

positivo descobrir que apesar da crise na construção civil, os recrutamentos da Michael Page para funções de engenharia dispararam 140% em 2011 face a 2010! Logo, a primeira função a referir é a de Diretor de obras internacional. Trata-se de um profissional responsável pela gestão de empreitadas da empresa fora de Portugal (Brasil, Angola, etc). Os/as candidatos/as devem ter perfil de ex-patriado, entre outras características, ser orientado para os resultados, competências linguísticas (dos países que vai gerir) e com grande 125

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capacidade de adaptação multicultural (como eu vivi e trabalhei em Angola 4 anos, sei que é bastante mais fácil dizer que realmente conseguir recrutar pessoas com estas características!). A formação de base deve ser em Engenharia civil com experiência mínima de cinco anos como diretor de obra no estrangeiro. A remuneração pode rondar os 60 a 80 mil euros/ano (aos quais se adiciona complementos pela expatriação, como por exemplo, habitação, viagens, etc.). 2. Gestor de Comunidades: Este colaborador irá gerir a marca das empresas online. Reporta ao diretor de marketing online (outra nova função) e é responsável pelo controlo e monitorização da imagem da empresa na Internet. Preferencialmente deve ter Licenciatura em Marketing, formação em plataformas online, fluência em inglês e abertura a novas tendências. A remuneração pode rondar os 35 a 45 mil euros por ano (pode ter também direito a retribuição variável). 3. Diretor/coordenador de Recursos Humanos. Este profissional deve ter experiência em relações laborais e conhecimento da legislação. Nos últimos dois anos, têm sido exigidas novas competências ao diretor de recursos humanos, nomeadamente no comando de negociações coletivas, demissões ou assessoria jurídica. A licenciatura em Gestão de Recursos Humanos ou similar, MBA ou pós-graduação na área, a experiência mínima de cinco anos, fluente em inglês, com conhecimento das leis laborais e do mercado de trabalho temporário, são competências essenciais. A remuneração oscila entre 65 e 75 mil euros por ano, dependendo da experiência e da indústria. 4. Diretor de reestruturação de dívidas: As equipas de reestruturação de dívida vão ser importantíssimas nos próximos anos, principalmente nas empresas da banca e setor financeiro. Com Licenciatura em Gestão e Administração de Empresas, em Economia ou até em Engenharia, estes profissionais devem ter também com pós-graduação em Finanças e experiência em áreas de risco de crédito. A remuneração pode variar entre60 mil e 80 mil euros (pode acrescer parte variável). 5. Advogado interno: Com a expansão internacional as empresas precisam cada vez mais de contratar advogados com alto grau de conhecimento do setor e da empresa. Este colaborador irá selecionar e coordenar as relações com sociedades de advogados. Deve ter Licenciatura em Direito, experiência em operações internacionais ou no exterior, excelentes conhecimentos de inglês e eventualmente de outras línguas e experiência de vários anos numa sociedade internacional. A remuneração pode variar entre 35 e 45 mil euros por ano.

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6. Loyalty program manager / Gestor de programas de fidelização de clientes: Cada vez mais retalhistas criam cartões de fidelização de clientes e a complexidade de alguns programas exige que haja alguém que faça um acompanhamento permanente. O loyalty program manager é uma figura essencial quando passamos a tentar conquistar a relação a longo prazo com os clientes. A posição requer uma forte capacidade de coordenação interdepartamental e sólidos conhecimentos de Marketing relacional. Considera-se ainda uma mais-valia, a detenção de bons conhecimentos na língua inglesa. A licenciatura em gestão e marketing é essencial e a remuneração varia entre 45 e 55 mil euros anuais.

7. Atuário especialista em Solvência II: A Diretiva de Solvência II - Diretiva 2009/138/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro de 2009, é dirigida aos seguros de vida e ao acesso à atividade de seguros e resseguros e ao seu exercício. O Atuário é uma função crítica na implementação dos objetivos estratégicos de uma seguradora ou corretora. Tem a responsabilidade técnica de mitigar financeiramente todos os riscos incluídos numa determinada apólice de seguro, através da análise estatística do levantamento histórico dos sinistros relevantes, pela tarifa que lhe é atribuída. Em Portugal, já existem licenciaturas orientadas especificamente para o Actuariado (Licenciatura em Matemática Aplicada às Ciências Atuariais ou Ramo das Ciências Atuariais), mas, por ser recente, também são requisitadas as Licenciaturas em Matemáticas Aplicadas às Ciências Económicas e Empresariais, em Estatística e Investigação Operacional e em Economia. A remuneração pode oscilar entre 30 a 45 mil euros por ano. Além das profissões acima referidas a produção de conteúdos para a internet continua em grande crescimento, bem como todas as profissões relacionadas com as Novas Tecnologias. É nossa opinião que as profissões ambientais irão crescer fortemente nos próximos anos. Com o envelhecimento da população portuguesa, cada vez é mais importante a abertura de mais lares de idosos e, para tal, são indispensáveis os profissionais de todos os níveis de formação nos ramos de Geriatria e gerontopsicologia. Procure você novas profissões! Explore os campos que estão em crescimento, ao invés de ficar a guardar candidaturas apenas da função que exercia no passado! Para Ler ou fazer o download integral gratuito do GUIA completo visite o link:http://www.michaelpage.pt/productsApp_pt/comunicacion/guia_novas_funcoes.pdf

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17.Desemprego: AÇÃO ou PreocupAÇÃO? TUDO o que você precisa de fazer enquanto ainda esta desempregado-Parte III Obviamente, se você está desempregado, fica preocupado. Todos compreendemos isso. Porém, o limite tem de ser delineado fortemente, quando a sua preocupação o leva à depressão, à baixa autoestima e, muitas vezes, à inação. Como diz Karen Horney “A preocupação deve levar-nos à ação e não a depressão”. Aliás, como vê pela própria palavra, a palavra AÇÃO, existe dentro da palavra preocupação! Portanto, preocupar-se, é fazer algo, é agir, é lançar-se urgentemente para a frente. Vejamos alguns passos importantes para conseguir fazer isto. 1-

Um dos aspetos essenciais que a investigação científica no campo do

desemprego demonstra, é um forte sentimento de inutilidade da parte dos desempregados. Você tem de urgentemente combater isso. Faça algo. Incentivese à ação. Não fique no sofá a lamentar-se que ninguém lhe dá emprego, esse comportamento não resolve, em nada, a sua situação. AGIR significa mexer-se, fazer algo. Inscreva-se num curso grátis, por exemplo. 2-

Uma outra forma de combater a inação, é fazer exercício. Coloque um

desafio a si próprio de realizar pelo menos uma caminhada por dia. Não precisa de ingressar no melhor ginásio da cidade! Saia à rua. Ao fazer isso, está fazer muito por si. Está a por o corpo em andamento, a manter a forma, a apanhar sol e ar fresco, a ver pessoas a rua, e quem sabe, a travar conhecimentos no café, na rua, etc. As vantagens de uma caminhada de 5 a 20 minutos por dia são imensas! Até o seu humor melhorará. Em cada caminhada que faz, imagine-se e visualize-se a conhecer alguém que lhe pode abrir portas. Passe para a sua consciência que cada pessoa com que cruza na sua vida inteira, terá um determinado papel. Todas, sem exceção! Por isso, ficar em casa faz com que não encontre pessoas e, logo, poderá estar a perder contactos e oportunidades! 3-

Encontrar uma atividade de voluntariado será ótimo para si. Dirija-se a

uma associação, perto da sua residência e procure uma forma de contribuir. Não se comprometa em demasia: 1 a 2 tardes por semana é o ideal, pois tem de manter algum tempo livre para fazer candidaturas e marcar entrevistas. 4-

O escritor Gustave Flaubert dizia “Talento significa uma enorme

paciência”. O próprio ato de estar desemprego, não é estar desocupado. Pelo 128

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contrário, estar desempregado é muito mais cansativo e trabalhoso! Mas a arte da Paciência é uma arte difícil. Entretanto, as suas funções são muitas. Reorganizar o seu CV, estar alerta, ler os jornais e revistas, pesquisar na internet (não só oportunidades de emprego, mas novas abordagens, cursos grátis, e tudo o que puder aprender de novo, sem investimento económico), manter-se ativo, arriscar ir pessoalmente a empresas, marcar entrevistas, etc. 5-

Mantenha uma BASE de DADOS de Candidaturas. Aproveite para fazer

disto a sua principal tarefa. Crie uma folha Excel onde deve listar, (a) todas as candidaturas que fez, (b) para onde enviou o CV (morada ou email); (c) função a que se candidatou, (d) coluna para colocar o feedback da candidatura, etc. Pode incluir todos os dados que quiser. Além disso, se você adaptou o seu CV devidamente, deve indicar na sua base de dados, que CV enviou, para evitar confusões. Você deve sempre ter um CV muito resumido e um CV muito detalhado, prontos a enviar. Depois pode ter Um CV para diferentes ramos/áreas de atividade a que se candidata, potenciando e realçando as funções que desempenhou que mais se adequam à vaga em causa. 6-

Internamente, você estará agitado e nervoso, mas externamente, os

desempregados tendem a ficar imóveis, quase congelados! Tem de se esforçar fortemente para não cair nessa imobilidade. Portanto, internamente você tem de se autoprogramar para a Ação. Você tem de dizer a si próprio “Tenho de agir”. “Não ficarei quieto”. “Com certeza existe algo a fazer, só tenho de descobrir o quê”.

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18.Emprego: A “Técnica da Semente” e o FIO Vermelho do Destino! TUDO o que você precisa de fazer enquanto ainda esta desempregado-Parte IV Posso garantir-lhe pessoalmente que esta técnica é infalível. Não existe melhor técnica para arranjar emprego do que a Técnica da Semente. Tenho-a utilizado ao longo de toda a minha carreira, e ainda ando a colher flores de sementes que plantei há vários anos! Vou guiá-lo, passo a passo, para que você, no final deste artigo perceba perfeitamente esta técnica que eu desenvolvi e denominei de “Técnica da Semente”, para que consiga aplicá-la a si próprio. 1. Imagine que a sua vida é um jardim e você é o seu jardineiro. Só você planta o seu jardim. Como é óbvio, não fique à espera que outra pessoa venha plantar o seu Jardim. Esta metáfora é ótima, exatamente por causa deste ponto em particular! Não se esqueça: Ninguém vem plantar o seu jardim! 2. Apesar de eu perceber pouco de jardinagem, é um facto de nem todas as sementes irão vingar. A morte é uma realidade. Há sementes que nunca germinarão. Mas é certo que, as mais fortes, sobreviverão ao excesso de sol, chuva, tempestades e outros obstáculos. 3. Agora imagine que, cada vez que você se cruza por alguém na sua vida, está plantar uma semente. Aqui, estamos a falar especificamente de relações laborais e procura de emprego, mas isto poderia ser aplicado a imensas outras áreas da sua vida. Atenção! Visualize isto já: Cada vez que encontrar alguém no seu caminho, você vai plantar uma semente. 4. O Que é uma semente com potencial para crescer? Uma semente é plantar na mente da pessoa com quem está a interagir, uma ideia de quem você é e do que você quer exatamente para a sua vida profissional. 5. O Que é uma semente que vai morrer quase de certeza? Uma semente que vai morrer na mente das pessoas é: entrar num discurso de crise, dizer que tudo lhe corre mal na vida, pedir por amor de Deus que o ajude porque está desempregado, chorar à frente da pessoa, mostrar-lhe as fotos dos filhos ou da família toda e contar o quão mal está a passar, contar detalhes sobre patrões anteriores, etc., etc. 6. Uma FRASE-CHAVE: A semente é plantada com intenção, mas sem expectativa. Diga às pessoas o que você quer, e não o que não quer. Diga que agora que está entre130

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empregos vai aproveitar para melhorar a sua formação, praticar algumas línguas ou competências informáticas, e outras ações positivas. Ao dizer isto, mostra à pessoa que você não é um desgraçado que toda a gente despede, você é uma pessoa que transformar crises em oportunidades! Mas a frase-chave diz também que não crie expectativas. As expectativas são a causa principal de todos os seus problemas! Não termine a conversa com “fico à tua espera, hã!”, “Estou a contar contigo para me ajudares”. Não vá para casa imaginar que aquela pessoa (a semente que você plantou hoje!), vai ser a sua salvação, porque ela conhece alguém, que conhece o não-sei-quantos, etc., etc. Isso já são as expectativas, que irão destruir o seu futuro. 7. Tente plantar pelo menos 1 a 2 sementes por semana. 8. IMPORTANTE: NÃO JULGUE, NÃO SEJA PRECONCEITUOSO, PLANTE A SEMENTE EM TODO O SEU JARDIM. O Jardim é todo seu. Não evite os cantinhos, plante ao sol e à sombra, plante aqui e ali. Traduzindo: não seja preconceituoso quando planta a semente. Uma pessoa que conhece num café, quando vai comprar pão, a sua empregada de casa, o carteiro, o diretor geral de uma empresa, pessoas que aparentemente você pode pensar que “não tem nada que ver com a sua área”, podem ser a MAIS forte Semente que você já plantou. 9. A Lenda do Fio vermelho do Destino. Para melhor clarificar a minha teoria da Técnica da Semente, quero apresentar-lhe a Lenda do Fio vermelho. Esta lenda japonesa diz que, todas as pessoas que se cruzam nesta vida, ficam unidas por um fio vermelho. Imagine um fiozito vermelho de lã, atado ao seu pé direito e conectado a todas as pessoas que tiveram um papel na sua vida. A Lenda diz que o Fio pode esticar milhares de quilómetros, estreitar, torcer, mas nunca se quebrará. Estaremos eternamente unidos pelo fio vermelho. Quando você planta uma semente, ela ficará para sempre à espera de uma oportunidade de florescer. Quando você menos esperar, alguém lhe vai ligar! 10.

A chave desta técnica é a paciência. Se você plantar muitas sementes, poderá

esperar menos tempo, mas todas as sementes demoram o seu tempo a germinar e florescer. Pratique a arte da paciência. Não pressione as pessoas onde plantou sementes. E acima de tudo, quando alguém lhe ligar com uma proposta, diga SIM. Sem dúvidas. Uma porta abrirá outras portas. Não entre em discursos do tipo “Não era bem isso que eu queria”, “Ah, não a recibos verdes não…”, “Ui, a proposta é para tão longe…”. Nada disso. Esforce-se por colher essa semente, pois a partir dessa, germinarão muitas mais pois você terá oportunidade de mostrar o seu melhor! 131

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19.Gerir o tempo no desemprego?! Sim, Você precisa de gerir o tempo no seu desemprego. O Poeta alemão Goethe, costumava afirma o seguinte “Quem é firme nos seus propósitos, molda o mundo a seu gosto”. Se você está firme em arranjar emprego vai arranjá-lo, não duvide. Se não arranja, talvez não esteja tão firme. O desemprego – ou entre empregos, como é mais correto chamar se você está realmente firme – é apenas uma situação na sua vida, não é você. Daí que a narrativa pessoal seja muito importante: você não É desemprego, você está desempregado. Não inclua o verbo ser, mas sim o verbo estar. Nas sessões de coaching de carreira que faço com os meus clientes, este é o primeiro passo. Depois, um dos aspetos mais importantes é a Gestão do Tempo. Nesta situação em que se encontra, é essencial tomar consciência da sua gestão do tempo porque: (1) em primeiro lugar, irá aprender mais uma competência nova para valorizar as suas candidaturas e para o seu próximo emprego; (2) em segundo lugar, porque o vai treinar para sentir menos efeitos dos impactos negativos do momento entre-empregos. Então vejamos os princípios ideias de Gestão do tempo para quem está desempregado: 1.Não deixe de formular objetivos. Os objetivos devem ser divididos em curto, médio e longo prazo. Além disso devem ser realistas, mas não tão realistas que sejam demasiado fáceis de atingir. Coloque-se desafios a si próprio todos os dias! 2.Mantenha uma agenda. Pode parecer estranho, mas a sua vida continua a precisar de ser gerida. Não se livre dos pequenos rituais que você mantinha quando estava a trabalhar. Escreva na sua agenda todos os seus compromissos de todos os tipos. 3.Gira o tempo do seu dia, distribuindo-o pelas diferentes áreas: pessoal, familiar, desportiva, profissional. Na área familiar, procure visitar parentes ou estar mais tempo com os seus filhos. Na área desportiva, inclua caminhadas ou algum tipo de exercício. Na área pessoal, procure estar sozinho uma hora por dia para refletir e delinear objetivos. Na área profissional, o seu trabalho principal é agora encontrar um novo emprego, por isso, dedique entre no mínimo 2 e no máximo 8 horas por dia para esta tarefa. 4.O tempo é relativo. O tempo é subjetivo. A forma como você distribui o seu tempo e como você fala sobre o tempo, influi na sua vida. Quando trabalhamos, usualmente, grande parte das pessoas utiliza discursos como “Não tenho tempo para nada”, “Agora já não dá tempo”, “o tempo passa tão a correr”. De repente, as mesmas pessoas desempregadas, mudam drasticamente a sua perceção do tempo: “Já estou há 132

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muito tempo à espera”, “já devia ter aparecido um emprego qualquer”, “tenho excesso de tempo e nada que fazer”. Evite estes dramatismos. O tempo é o mesmo e quando você é firme nos seus propósitos, como diz Goethe, você molda o mundo a seu gosto. 5.Dedique tempo suficiente na procura ativa de emprego, mas não com os mesmos métodos. Reserva um momento do dia para espalhar sementes (Leia o artigo anterior AQUI), dirija-se pessoalmente ao centro de emprego ou a uma empresa onde queira deixar o seu CV, vá à internet fazer pesquisa, leia o Jornal no café para verificar os classificados, etc. Como diz o povo, há bastante tempo “Nunca coloque todos os ovos na mesma cesta”, ou seja, para potenciar cada vez mais o surgimento do seu novo desafio profissional, tenha muitas cestas, com vários ovos! 6.Invista em si. Pelo menos 2 horas por dia, tem de se dedicar a aprender algo novo. Este aspeto é importantíssimo. Na sua agenda, sempre que ouvir alguém dizer algo que você não faz a mínima ideia o que é, registe! Podem ser empregos, novas funções, palavras que você não conhece ou tecnologias com as quais nunca trabalhou. Se você não cumprir este ponto, você está a ficar para trás e NÃO Arranjará emprego tão cedo. Feliz ou infelizmente o mercado de trabalho quer hoje pessoas atualizadas e curiosas perante a vida! 7.Atente ao seu discurso. Você só ficou livre 8 horas por dia! O seu dia continua a ter 24 horas e por mais longas que lhe possam parecer estas 8h que você estaria a trabalhar, elas são as mesmas 8h. E são exatamente as horas que você precisa para reformular objetivos, procurar emprego, espalhar sementes, realizar candidaturas organizadas e cm impacto, passar mais tempo com pessoas e passar mais tempo consigo próprio!

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20.Arranje trabalho já! O pleno emprego acabou. É verdade, não é emprego para todos. Mas há trabalho para todos, acredite. Então o que quero dizer com isto? É simples. Um emprego é um contrato de trabalho sem fim à vista. Se é isso que está à procura, é você que tem de mudar de uma vez. Há um desencontro na sociedade portuguesa: há empregos para determinadas profissões, que não coincidem com as competências de quem está sem emprego! Só existem empregos como você os conhece há cerca de 200 anos. Dantes, grande parte das pessoas tinham o seu próprio negócio. Hoje em dia, são tantas as variedades de organização do trabalho, que talvez você nem imagine! Assim, vamos arranjar trabalho para si: 1.

Adapte-se. Não parta do princípio que é o estado ou as instituições que são

obrigadas a arranjar-lhe trabalho. O trabalho é para si! Lute por ele e não desista. 2.

Não se encaixe numa “caixa”. Há um ditado inglês que diz “Think outside the box”,

ou seja, pense sempre para além da caixa. Isto significa que, quando você exerce determinada profissão ela mescla-se com a sua personalidade e você fecha-se numa caixinha, rotulando-se (ex. “eu sou secretária”, “eu sou assistente de escritório”, etc.) e esquece-se que pode desempenhar muito mais funções. Não negue oportunidades à partida. 3.

Consulte um especialista. No IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) e

nos serviços privados existem psicólogos ou conselheiros de orientação profissional que o podem ajudar na sua reconversão profissional. A reconversão profissional ajudá-lo-á a encontrar compatibilidade entre competências que possui de uma anterior profissão e que se ajustam a novas profissões que queira prosseguir. Neste processo terá oportunidade de realizar um balanço de competências, um portefólio de competências e, por fim, um bom Curriculum Vitae. 4.

Não coloque de lado a possibilidade do trabalho a tempo parcial ou até do

trabalho temporário. O trabalho temporário é, muitas vezes, um trampolim para um emprego. Procure empresas devidamente acreditadas: é necessário ter Alvará para ser uma empresa de trabalho temporário. Neste tipo de trabalho existem três partes: O trabalhador exerce funções numa determinada empresa (empresa “X”) mas possui um contrato a prazo 134

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com a empresa de trabalho temporário (empresa “Y”). É uma oportunidade ótima para novas aprendizagens e se se demonstrar um trabalhador competente, a empresa de trabalho temporário poderá arranjar-lhe muitos outros contratos. 5.

Reflita se não é capaz de criar o seu próprio emprego. Pode ser um pouco

assustador, mas existem profissionais que o podem aconselhar em diversas instituições e existem diversas organizações que o fazem gratuitamente em programas de apoio ao empreendedorismo. Além disso, existem programas específicos para isso, e um dos mais bem sucedidos de todos os tempos é o incentivo ao micro-crédito para criar o seu emprego. Inscreva-se num curso de empreendedorismo: mesmo que não chegue a criar o seu próprio emprego, essa formação tem a tendência para lhe abrir os horizontes. 6.

Não se assuste com os famosos “recibos verdes”. É verdade que o trabalho

independente ou o contrato de prestação de serviços, conhecido no senso comum como os “recibos verdes” (que nem são bem verdes) são situações precárias. Não terá direito a subsídios de férias ou subsídio de natal e outros benefícios sociais conquistados em Portugal há bastantes décadas. Mas pense antes nesta oportunidade como uma situação flexível, pois poderá despedir-se a qualquer momento que lhe surja outra oportunidade mais interessante. Ademais é uma oportunidade de manter-se ocupado e ganhar algum dinheiro e, muitas vezes, através dela conseguirá os contactos necessários para um emprego no futuro (até falo por experiência própria neste caso!). 7.

Caso semelhante acontece com o trabalho voluntário. É verdade que não ganhará

dinheiro, mas poderá escalar para um emprego. Apenas deve ter em atenção que nunca deve realizar voluntariado mais do que 8 a 10 horas por semana e, se possível, evite fazê-lo no âmbito do que considera ser a sua profissão principal. Esteja atento às promessas de ser integrado num emprego na organização: se lhe prometem isso mais do que 3 meses, na minha opinião, deve desistir ou diminuir a sua colaboração voluntária. Entretanto, criará contactos, sentir-se-á útil e ganhará novas competências (ao invés de ficar sentado em casa). 8.

“Aprende-se até morrer”. Nunca se julgue incapaz de aprender algo novo. Seja

paciente consigo próprio e permita-se experimentar. Inscreva-se em ações de formação: existem muitas gratuitas e algumas que até pagam pequenos subsídios. Aproveite para alargar (e manter) a sua rede de contactos. Vá trocando emails com conhecidos e nunca tenha vergonha de admitir que está “entre-empregos” ou à procura de novas oportunidades profissionais (evite a palavra desempregado, além de ter um teor mais negativo para os outros também o tem para si!) 135

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9.

Obviamente, leia todos os classificados de jornais e revistas que encontrar. Além

dos classificados, leia também outras notícias: esteja atento a empresas em expansão e funções que recentemente surgiram no mercado de trabalho (por exemplo, toda a panóplia de novas funções ligadas às energias renováveis). Se encontrou notícias sobre empresas em expansão, envie uma candidatura espontânea, referindo essa leitura que fez na sua carta de apresentação/motivação. 10.

Inscreva-se em todos os sites de emprego que encontrar e noutros sites (por

exemplo, o Linked In, o Facebook, etc.). Marque presença nesses sites. Alguns permitem até triar as ofertas e recebê-las diretamente no seu e-mail (mas não “feche” demasiado a busca, pois poderá perder oportunidades). Se não percebe muito de tecnologias, está mesmo na hora de se inscrever numa formação neste ramo. Não se deixe tornar obsoleto, pois também é seu dever atualizar-se e acompanhar as mudanças no mundo do trabalho. 11.

Vá a encontros, seminários e congressos da sua profissão ou de profissões

semelhantes. Muitos destes eventos têm um custo baixo e poderá passar o dia a conhecer pessoas e, claro, a atualizar conhecimentos. 12.

O teletrabalho chegou para ficar. Pode parecer invulgar no início, para quem

sempre trabalhou num determinado local de trabalho, agora ter de trabalhar na sua própria casa, mas esta nova forma de organização do trabalho tem diversas vantagens. Tenha cuidado com algumas ofertas que podem demonstrar-se “enganadoras” principalmente aquelas que pedem que você faça um investimento inicial. 13.

Aproveite oportunidades de realizar estágios profissionais. O plano nacional de

estágios do IEFP foi alargado para pessoas até aos 35 anos (esperemos que um dia alarguem ainda mais a faixa etária admissível!). Além disso, existem imensos outros programas de estágios, quer para a administração pública quer programas específicos de grande empresas. É possível realizar um estágio quer tenha o 12.º ano quer tenha uma licenciatura. Se não encontrar ofertas de estágio, você também pode pegar nas rédeas da situação: procure nos seus contactos pessoais se não conhecerá nenhuma empresa a quem possa propor essa oportunidade. 14.

Nunca é demais aconselhar para investir num bom Curriculum Vitae. Tenha

sempre três versões à mão: Um CV detalhado em português, um CV resumido (de preferência com 1 página) e um CV resumido em Inglês. O CV em inglês é mais adequado a quem procura empregos no estrangeiro, mas lembre-se que cada vez mais multinacionais

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estrangeiras se instalam em Portugal e, muitas vezes, quem vem fazer a prospeção e o recrutamento precisa CV’s em Inglês. 15.

No CV nunca menospreze os passatempos. Pode parecer-lhe estranho que se dê

tanta importância a isso, mas esses detalhes contribuem para a compreensão de si como pessoa e você não se divide em “pessoa” versus “trabalhador”! Uma pessoa sem passatempos indicia ao recrutador que se pode tratar de alguém sem iniciativa, sem criatividade, “pobre de espírito”, sem vida além do trabalho. 16.

Além disso, um passatempo pode transformar-se num emprego: nunca se esqueça

disso. Pense bem se não gostaria de transformar esse hobbie numa oportunidade de trabalho e faça pesquisas na internet sobre esse assunto. Caso decida concorrer a uma vaga, diga na sua carta que apesar de nunca ter realizado essa função de forma remunerada, já se dedica a essa área de trabalho há muitos anos nos seus tempos livres, o que demonstra o seu gosto e paixão por esse ramo. 17.

Envie candidaturas espontâneas bem elaboradas. Crie uma folha de Excel onde

controla as candidaturas que faz. Será terrível se alguém lhe telefonar e você já se recordar para onde enviou candidaturas. 18.

Esteja atento às iniciativas de promoção de emprego. Caso numa entrevista o

assunto venha à baila, fica sempre bem você mostrar conhecimentos sobre isto, por exemplo, indicando à empresa que tem vantagens em contratá-lo devido ao facto de ser desempregado, ou descontos dos impostos em caso de contratos específicos. Muitos pequenos empresários não estão a par destas iniciativas (visite o site governamental em: http://www.emprego2010.gov.pt/) 19.

Se puder, não se limite a Portugal. Existem muitas ofertas de emprego para o

estrangeiro e será sempre uma experiência única na sua vida. Mais uma vez, deve ter alguns cuidados como, por exemplo, pesquisar exaustivamente a empresa anunciante, questionar com detalhe sobre as condições de trabalho e nunca ir para o estrangeiro completamente desprevenido (por exemplo, levar telemóvel com roaming ativo, ter algum dinheiro na conta e levar um cartão Visa).

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Caril de Negócios acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor

Patrícia Bento Araújo

PORTAL GESTÃO: www.portal-gestao.com 138

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