Castra Oresbi: um assentamento militar romano na Serra do Marão? (video link)

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CASTRA ORESBI UM ASSENTAMENTO MILITAR ROMANO NA SERRA DO MARÃO?

João Fonte Maria João Correia Santos José Manuel Costa-García Catarina Isabel Sousa Gaspar Hugo Pires

1. Contextualização e Problemática

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DIAS, L.T. (1997). Tongobriga, IPPAR, Lisboa, pp.301 “O acampamento do Marão CASTRA ORESBI poderia ter servido como local de passagem temporária das forças de carácter móvel, já que as condições climatéricas durante o Inverno não permitiriam a permanência durante parte do ano. Está estrategicamente situado perto de minas de estanho e perto da via que atravessa o Marão. Este acampamento é identificado pela inscrição feita sobre um penedo situado junto do caminho, perto da eventual entrada. Um monte de escombros identifica o que seria uma torre de controle, de planta quadrangular, ou rectangular, localizada cerca de 300 metros antes do acampamento, em posição ideal para o controle de uma vasta área, bem situado sobre a via que lhe dava acesso desde a actual povoação da Granja. Identificado a partir do trabalho de prospecção feito em 1990 por António Baptista Lopes, enquanto arqueólogo em serviço no IPPC/IPPAR”. LOPES, A.B. (1998). A Serra do Marão; património arqueológico da sua reserva florestal, in Amarante Congresso Histórico’98 Actas – Património, Arte e Arqueologia, vol. 3, Câmara Municipal de Amarante, Amarante, pp. 385-302 “Estava implantado no sitio do Pedregal a sensivelmente 4 km, em linha recta, a Sudoeste do Monte Marão, em posição eminente, guardando visualmente larga extensão de estrada e o vale, é precedido por vestígios de desmoronamento de edificação, a “torre do diabo”, que aparenta ter tido planta quadrada. A inscrição é de fácil leitura, porque profundamente gravada e bem conservada. O nome ORESBI não tem paralelos na epigrafia; apenas, por enquanto, se conhece um OROBIVS (“Que vive na montanha”) em Villorobe, Burgos. Este “caminharia pela montanha”. Nada indica que a inscrição esteja truncada ou elidida, com abreviaturas. A área é sujeita a forte erosão, variando muitíssimo a morfologia do terreno, com grande movimentação de terras, sobretudo devido, além do acentuado declive, a incêndios que degradam a vegetação protectora, expondo o solo à violência das intempéries. A isso se deve a dificuldade em detectar os vestígios remanescentes deste importante sítio”.

(Lopes, 1998)

2. Metodologia

Prospecção

Fotogrametria – Structure from Motion

Fotografia Aérea Histórica

SPLAL 1945 RAF 1947 USAF 1958

Cartografia Militar Carta militar de Portugal 1:25 000, Continente, série M888, folha 114) PORTUGAL. Serviços Cartográficos do Exército, 1932-1959 - Santa Marta de Penaguião / Serviços Cartográficos do Exército ; trabalhos de campo Ten. tes Costa Junior, Lacerda Nunes e Alferes Fernando A. Martins ; des. Artur Valente ; des. lit. João Marques. - [Ed. 1]. - Escala 1:25 000, projecção de Gauss. - [Lisboa] : S.C.E., [1950]. - 1 mapa topográfico : color. ; 40 x 64 cm. - (Carta militar de Portugal 1:25 000. Continente, série M888 ; 114) PORTUGAL. Serviço Cartográfico do Exército, 1959-1993 Santa Marta de Penaguião / Serviço Cartográfico do Exército. - Ed. 2. - Escala 1:25 000, projecção de Gauss, elipsóide internacional, datum de Lisboa. - [Lisboa] : S.C.E., 1987. - 1 mapa topográfico : color. ; 40 x 64 cm. - (Carta militar de Portugal 1:25 000. Continente, série M888 ; 114) PORTUGAL. Instituto Geográfico do Exército, 1993- - Santa Marta de Penaguião / Instituto Geográfico do Exército. Ed. 3. - Escala 1:25 000, projecção de Gauss, elipsóide internacional, datum de Lisboa. - Lisboa : I.G.E., 1998. - 1 mapa topográfico : color. ; 40 x 64 cm. - (Carta militar de Portugal 1:25 000. Continente, série M888 ; 114)

3. Resultados da Análise Espacial

Torre do Diabo “No sítio do Pedregulhal existia uma antiga torre construída pelo diabo para chegar ao céu, e quando lhe faltava apenas uma pedra para lá chegar, retirou uma de baixo o que fez com que a torre caísse”, habitante da aldeia de Murgido (Amarante).

4. Uma misteriosa inscrição

· Morfologia e Localização do Penedo Epigrafado

• Monólito de granito porfiróide; • Forma grosseiramente tronco-cónica; • Inscrição gravada na face Oeste-Sudeste.

· Morfologia e Localização do Penedo Epigrafado • Controla o altiplano entre Penedo Ruivo e a Chorida; • Encruzilhada de duas importantes vias históricas.

• A inscrição encontra-se voltada justamente para o cruzamento das duas vias de passagem; • A sua localização não parece casual.

· Metodologia de Análise Epigráfica

1) Leitura epigráfica realizada através da observação direta da rocha.

· Metodologia de Análise Epigráfica

2) Documentação fotográfica (registro fotogramétrico).

· Metodologia de Análise Epigráfica

3) Obtenção de modelo fotogramétrico, MDS e ortofotografias.

· Metodologia de Análise Epigráfica

4) Obtenção do Modelo de Resíduo Morfológico (M.R.M.).

· Metodologia de Análise Epigráfica Modelo de Resíduo Morfológico (M.R.M.): • Permite detectar e contrastar as subtis irregularidades do suporte pétreo não observáveis a olho nu (elevado grau de erosão ou dissimuladas pela sua cor e textura). • O processo de restituição dos sulcos originais (do texto gravado), decorre em duas etapas: -

Medição do relevo da rocha nas zonas inscritas; Cálculo do M.R.M. (diferenças encontradas entre o “modelo predominante” do objeto e o modelo tridimensional original).

• A obtenção de imagens de grande resolução e o uso de máscaras de contraste permitem analisar os pormenores mais ínfimos dos resíduos de gravação. • Os resíduos de gravação são decalcados digitalmente pelo epigrafista, com recurso a um programa vectorial.

· Leitura Epigráfica A epígrafe encontra-se gravada numa zona claramente preparada para o efeito: a única zona do suporte alisada, que contrasta com a restante superfície da rocha, muito rugosa.

Variantes de leitura epigráfica:

CASTRA/ ORESBI (Dias, 1997: 301-302; Lopes, 2000: 291; Carvalho, 2008: 66-67; Martins, 2009: 127) CASTRA/ OREOBI(ensia?) (Redentor, 2016: 150)

As letras do que tradicionalmente se lê como Castra Oresbi foram profundamente gravadas e não colocam grandes problemas de leitura. Mas estão igualmente gravadas outras letras que, por serem ligeiramente mais superficiais, não são tão visíveis:

Est Castram Santi Oresbi

O substantivo castrum, -i na sua forma singular está documentado num período recuado da língua latina (“separação, o que serve para separar”), o que justifica a sua ligação ao verbo castrare (“separar, cortar”). No contexto alto-medieval, é relativamente frequente o uso da forma castrum na documentação referindo-se ou aos antigos castros ou a núcleos fortificados em altura da época. A polissemia e ambiguidade com que se usava os termos castrum e castellum dificulta, na realidade a sua adscrição a uma realidade arqueológica concreta (Gutiérrez González, 2002, 2014; Jiménez de Furundarena, 1994, 1995). Paralelos a esta inscrição é um documento proveniente de Valdoré, Leão, onde se lê castro Pelagii; ou uma epígrafe de Leão, onde se lê castrum Sancti Stephani (IHC 242).

A forma plural do substantivo castra, castrorum aparece no latim vulgar/latim tardio como um substantivo feminino singular da 1ª declinação castra, castrae . A forma castram só pode ser interpretada como o acusativo do singular de castra, castrae, remetendo a uma possível cronologia do séc. VII-VIII.

O facto de apenas parte da inscrição estar profundamente gravada, e que tem sido lida até agora como Castra Oresbi, parece sugerir uma contínua regravação da zona mais marcada, talvez por ter servido como marco territorial em épocas sucedâneas.

A proximidade entre a zona mineira do Teixo e a inscrição pode indicar que a mesma demarcava e/ou assinalava ou a área de exploração, e neste sentido, uma propriedade privada; ou uma povoação vinculada à sua exploração. Porém, o facto de estar escrito castram, no acusativo e não castrae no genitivo indica que a tradução mais correcta seria: “É propriedade de Santo Oresbio” ou “Pertence à demarcação de Santo Oresbio”

Localização das minas, a Norte e da inscrição, a Sul (C.M.P. 1/25000, f. 114).

5. CONCLUSÕES

· ARQUEOLOGIA • Área de povoamento marginal; • Não temos de momento evidência de nenhum acampamento militar, nem de nenhuma torre; • As atividades de mineração estão concentradas na área das Minas do Teixo.

· EPIGRAFIA • Os “castra oresbi” foram na realidade uma “castra”, uma possível propriedade de um desconhecido “Sanctus Oresbius”; • Um possível horizonte temporal: época tardo-antiga ou alto-medieval. • Qual é o povoamento associado a este horizonte?

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