CEAMA ACTAS DO SEMINÁRIO 2014, Outras fronteiras, a Arábia Feliz no século XVII

May 31, 2017 | Autor: Rui Carita | Categoria: Globalization, Arquitetura, Comercio Exterior
Share Embed


Descrição do Produto

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 222

ACTAS DO SEMINÁRIO 2014

CEAMA

Outras fronteiras: a costa oriental da Arábia Feliz nos inícios do séc. XVII Rui Carita*

INTRODUÇÃO Entre os inícios do século XVI e os meados do XVII, os portugueses construíram na região litoral do Golfo da Arábia uma série de estruturas fortificadas perenes, parte das quais ainda subsistente. Tratava-se de construir e ocupar uma “fronteira fortificada” de apoio ao comércio marítimo e às rotas de acesso ao Estado Português da Índia, assim como, de assumir um protagonismo militar na área, que foi, de certa forma, bastante efémero. O mesmo não aconteceu, no entanto, com essas estruturas, assim como toda uma complexa rede de interesses comerciais e culturais, que subsistem e são o cerne desta comunicação. A presença portuguesa nas costas da Arábia encontra-se muito pouco estudada e ultrapassa, de certa forma, o que se tem escrito. Infelizmente, quer a visão de um como do outro lado, para não escrever dos muitos lados em confronto naquelas vastas costas, é quase sempre parcelar, limitandose a seguir o que consta dos principais autores, mas muito raramente fruto de equipas conjuntas e multidisciplinares, quedando-se por trabalhos individuais e sem perspetiva de conjunto. A escassez de investigações arqueológicas, por exemplo, que quando ocorreu, não contou com a participação portuguesa e pouco publicou os resultados, a dificuldade de comunicação entre as atuais culturas, as barreiras da língua e da cultura, etc., tem dificultado todo esse trabalho. Acresce que algum isolamento entre as atuais culturas em causa também está longe de propiciar essa necessária colaboração. De um lado, entendem-se as construções portuguesas

Álbum de Vila Viçosa. Luís Teixeira, 1650 (c.)

como isoladas do seu contexto local, como se tal alguma vez tivesse sido possível, mas por outro, a historiografia portuguesa ainda se mantém “colonial” e, por regra geral, observa o outro lado como se ele quase não existisse e à luz da documentação que possui nos seus arquivos. “Sob as aparências de história indo-portuguesa, continuase, deste modo, a fazer, frequentemente, «história luso-portuguesa», tendo o Oriente como complemento circunstancial”, como escreveu em 2005, o historiador Luis Filipe Thomaz1. Uma imensa malha de construções de pedra e cal, no entanto, continua a subsistir ao longo das costas da Arábia e nas principais ilhas dessa área, embora muitas abandonadas há mais de 300 anos e permanecendo como mito na memória local. Aliás, estudiosos ingleses como George Percy Badger, nos comentários à versão inglesa da “História dos Imans e Seyyds do Oman”, editada em 1871, alertava para o facto de que todas as ruínas existentes na zona eram vistas pela opinião pública como se fossem “portuguesas”2, versão com que temos sido confrontados nas visitas efetuadas em 2012 e 2014, mesmo perante velhas torres de vigia islâmicas e a muitos quilómetros da costa. Nos últimos anos parece começar a tentar-se uma nova aproximação, processando-se contatos e visitas mútuas, alargando-se esses contatos ainda a uma larga rede informática, 1 “Keynote Adress”, in Indo-Portuguese Story – Proceedings’ of XI Internacional Seminar on Indo Portuguese History, Maurren and Canvete Publishers, Goa, 2005, p. 6. Cit. por João Mário Palla Lizardo, Vestígios da Expansão Portuguesa na Costa Oriental da Arábia – A documentação Histórica face aos Vestígios Arqueológicos, dissertação de mestrado em Arqueologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, setembro de 2013, p. 7. 2 George Percy Badger, History of the Imams and Seyyids of Oman by Salil-ibn-Razik, Hakluyt Society, Londres, 1871, p. 417.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 223

223

embora, em princípio, as principais velhas barreiras culturais se mantenham. No entanto, o já haver uma consciência das mesmas está a abrir caminho a uma colaboração na área da arqueologia, tendo como ponto de partida, no caso que vamos abordar, a prospeção na área do que se pensa ser a fortaleza de Corfacão, hoje Khor Fakkan, no emirado de Sharjah. O CONTEXTO HISTÓRICO Os primeiros contatos dos portugueses nesta área ter-se-iam iniciado em 1507, quando os navios de Afonso de Albuquerque começaram a frequentar os portos do Golfo Pérsico e tentaram apoderarse de Ormuz, o que só conseguiram em 1515 3. Os portugueses estabeleceram-se então em três pontos fulcrais de ação e coordenação, para além de Ormuz, em Mascate ou Muscat, em Omã, importante porto logo atacado em julho de 1507 e no Barhain, a partir de 1559, fortaleza ampliada a partir de 1561. Ao longo do século XVI e nas primeiras décadas do seguinte ocuparam de forma algo intermitente ainda um grande

número de pequenas povoações portuárias, vindo a constituir uma ampla rede de fortificações. Segundo a opinião de alguns dos militares portugueses à época, teria sido essa dispersão uma das responsáveis pelas sequentes dificuldades de manutenção da presença portuguesa. No entanto a corte de Lisboa e, depois, a de Madrid insistiram sempre na ampliação das fortalezas e, alguns governadores, também o fizeram, mais por questão de prestígio pessoal, que por razões estratégicas. Tal levou a que a as guarnições desta área fossem essencialmente preenchidas por capitães e soldados lascarins 4. 4

3 A fortaleza de Ormuz foi estudada ao longo de várias visitas e com rigorosos levantamentos planimétricos pelo arquiteto doutor João dos Santos de Sousa Campos, de que resultou a tese de doutoramento Arquitectura militar portuguesa no Golfo Pérsico: Ormuz, Keshm e Larak, orientada pelo doutor Pedro Dias, 2008 e defendida na Universidade de Coimbra, a 13 fev. 2009.

O termo lascarim é identificativo de militar mercenário, recrutado, em princípio, na Abissínia e pelo Oriente, que alguns historiadores identificam como sendo elementos de origem tâmil do atual Sri Lanka, onde o termo prevaleceu durante a ocupação holandesa e inglesa, inclusivamente até muito recentemente, como identificação dos soldados das guardas pessoais coloniais e, depois, aristocráticas locais. O termo advém do persa Lashkar, que significa exército. Os escritos portugueses fazem distinção entre lascarins, soldados de terra e laskar, que aparece como sinónimo de uma tripulação inteira de gente de mar. O termo aparece logo referido nos inícios do século XVI, como por Gaspar Correia, nas Lendas da Índia, em 1510 e nas cartas dos governadores da Torre do Tombo, em 1532, quando se refere que “no dito reino (de Ormuz) não haja homens de guerra, que se chamam lascarins, senão para serviço do rei”. D. João de Castro, em 1541, no Roteiro do Mar Roxo, p. 73, escreve que “é provérbio na Índia dizerem que o bom lascarim há-de ser abexim”, citando depois António Bocarro, 1635, nas Décadas da Ásia, XIII, p. 44, que muitas guarnições eram de “lascarins de gente preta”. Cits. de Sebastião Rodolfo Dalgado (1855-1922), Glossário Luso-Asiático, reimpressão da edição original de Coimbra, 1919-1921, Hamburgo, 1982, vol. I, pp. 516-517.

Atlas português da Asia, 1630

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 224

CEAMA

224

Álbum de Vila Viçosa. Luís Teixeira, 1650 (c.)

Lascarins

A guarnição de Mascate e das restantes praças, por exemplo, era essencialmente constituída por capitães e soldados lascarins, “300 lascarins mouros com 12 capitães”, pois os portugueses estavam quase todos ocupados na “armada do Estreito”. Estes homens eram “comummente das terras del-rei Mogostão (na Pérsia, hoje Irão), que foram d’el-rei de Ormuz, e outros, que chamam Batuchos, vassalos d’el-rei de Mocorão, que como todos estão hoje sujeitos ao Persa, não podendo sofrer a sua tirania, querem antes servir connosco”5. O interesse na costa oriental da Arábia assentava na necessidade de aguada e reabastecimento, mas também e essencialmente numa série de produtos que se comerciavam nestes portos. O problema da água foi fulcral em toda a instalação portuguesa, quase sempre muito escassa em toda esta área, o que associado às altas temperaturas tornava muito difícil a vida dos europeus. Se nas zonas mais baixas se conseguia razoáveis plantações, por exemplo, era “grande a infertilidade nas serranias de Mascate, onde se não colhe uma folha verde”6. Um dos principias produtos de comércio teriam sido os cavalos, referindo a documentação que os melhores eram os provenientes de Baçorá, mas comerciados também noutros portos, chegando a condicionar, inclusivamente a localização de algumas das feitorias fortificadas portuguesas. Nesta região comerciavam-se, sobretudo a partir de Ormuz, mas também de Mascate, tapetes, brocados e sedas, tal como joias e pérolas, então denominadas aljôfar, que ali

5 Cit. Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, ed. com estudo de Rui Carita, nota de abertura de José Veiga Simão (1929-2014) e introdução de Vasco Graça Moura (1942-2014), Ministério da Defesa e Inapa, Lisboa, 1999, pp. 55 e 55 v. 6 Ibidem, p. 57.

chegavam de outras origens, parte das quais, nas variantes da chamada “rota da seda”. Refere a documentação com os principais proventos de Mascate eram os cavalos e o tabaco, designação geral para vários tipos de plantas, que não a que conhecemos hoje como tal e proveniente da América. Os tapetes eram feitos noutros lugares, para além do Irão, o maior produtor, como na Turquia, no Curdistão, no norte da Índia e no Afeganistão. Com a abertura da Rota do Cabo o seu transporte tornou-se mais fácil e a sua divulgação na Europa atingiu níveis consideráveis, aparecendo representados de forma comum em inúmeras pinturas religiosas e profanas. A sua procura levou inclusivamente à manufatura de modelos para exportação, como os tapetes ditos “portugueses”, onde aparecem elementos embarcados vestidos à europeia 7. Em várias destas praças também se “pescavam” pérolas miúdas. Este período da presença portuguesa teria durado até 1616, ano marcado pela chegada dos ingleses, iniciando‐se aí uma curta fase de alguma concorrência, que terminaria logo em 1622 com a rendição da guarnição portuguesa de

7 Um desses tapetes, talvez da Pérsia, século XVII, período safávida, 1650 (c.), encontra-se no Museu Calouste Gulbenkian (Inv. T 99), Lisboa.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 225

225

Ormuz, então enviada para Mascate. Entretanto, também em 1602 já haviam sido os portugueses expulsos do Barhain pelas forças do Shah Abbas. Se numa primeira fase, a chegada dos navios portugueses fortemente artilhados não encontrara no mar oposição à sua altura, em terra a situação foi sempre difícil com o novo quadro dos grandes impérios continentais e dos pequenos poderes locais8. Desde o século XVI que tinham interesses mais ou menos diretos nesta região do Índico alguns dos grandes impérios continentais. O mais afastado, o império Ming chinês (1368‐1644), tinha, no geral, boas relações com os portugueses, mas em relação aos persas, então dirigidos pela dinastia Safávida do Shah Abbas I (1557-1571-1629), a situação era diferente. Pontualmente diferente era também a relação com o reino mogol islâmico de Akbar (1542-1556-1605), com altos e baixos, tal como com o reino hindu de Vijayanagara (o reino de Bisnagra dos escritos portugueses), no coração e sul do subcontinente indiano, em decadência desde 1565, face à derrota por uma força unida dos sultanatos do Decão, mas que se manteve até 1646. Acresce que toda a costa da Arábia ainda estava sujeita a um quinto poder, o império otomano, que se estendera ao Egipto e com possibilidades navais totalmente diferentes9. Na sua estratégia de implantação, os portugueses tiveram que lidar ainda com pequenos reinos, sultanatos e cidades mais pequenas, mas não despicientes, pois se tinham menos peso político e interesses estratégicos mais limitados, estavam decididos igualmente a disputar os rendimentos de um comércio marítimo que lhes dera sempre alguns benefícios. Acrescia ainda que as alianças estabelecidas entre os vários poderes estavam em contínua mutação e tal nem sempre era do conhecimento dos portugueses. Os ingleses, neste contexto, ou melhor, os navios da East Indian Company, tiveram um papel decisivo. Todas as opiniões concordam que, sem o apoio naval britânico, nunca os persas teriam conseguido recuperar Ormuz, como o fizeram em 1622, virando totalmente uma página da história daquela área geográfica. O comércio ganhou 8 Cf a este respeito o texto introdutório de Filipe Themudo Barata, “Golfo Pérsico” in Património de Origem Portuguesa no Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. 9 O célebre almirante e cartógrafo otomano Piri Reis (1465 ou 1470-1553) comandou uma expedição naval a partir do Egipto, que, a 26 fev. 1548, reconquistou Áden e outra expedição, em 1552, que saqueou Mascat, Ormuz e Bahrain.

Tapete persa dito português, 1640 (c.).

Ormuz, 2014.

então um novo fulgor, já não havendo especial interesse na presença militar territorial, como até então os portugueses haviam praticado e passando a prevalecer outro tipo de instalação mais flexível, aspeto igualmente praticado depois pelas companhias holandesas, embora e conforme os casos, se passasse também à instalação efetiva. O ponto de viragem política havia ocorrido a 8 de maio de 1621, quando Ruy Freire de Andrade, “general do mar de Ormuz e costa da Pérsia e

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 226

CEAMA

226

2 e 11 de fevereiro, obrigando a guarnição a render-se. A 20 de fevereiro, uma frota persa de mais de 3000 homens, com a ajuda de seis navios ingleses, cercava a fortaleza de Ormuz. Em 3 de maio, os portugueses entregaram-se e todos, cerca de 2000, foram enviados para Mascate, sendo a artilharia do forte capturada10. Após a queda de Ormuz, os portugueses estabeleceram a sua base em Mascate, tendo Rui Freire de Andrade ainda tentado e várias vezes, em 1623, 1624, 1625 e 1627, reconquistar a ilha de Ormuz pela força e, no último ano, pela via diplomática, mas que também fracassou. Em 1623, entretanto, Rui Freire reocupou o forte de Sohar que os persas haviam conquistado no ano anterior, e instalou uma guarnição em Caçapo (atual Khasab), na península de Moçandão (Musandam). Subsiste aí uma interessante fortaleza abaluartada, que deve ter sido iniciada por 1623, mas como os portugueses foram entretanto expulsos, voltou a ser reconstruída por 1650, mas igualmente com uma ocupação por curto lapso de tempo. Em 1631, ainda uma outra fortaleza foi construída em Julfar, zona estratégica de Moçandão que, durante a então pontual ocupação portuguesa, gozou de certa prosperidade como entreposto comercial regional. Entretanto, em setembro de 1633, Ruy Freire de Andrade falecia em Mascate, tendo o seu corpo sido sepultado na igreja de Santo Agostinho. Em 1643, os portugueses foram expulsos de Sohar e, em janeiro de 1650, de Mascate, a última base portuguesa na Arábia. A partir de 1661 o sultão de Omã ampliava a sua influência à costa africana, assediando Mombaça, embora a conquista do forte de Jesus

Cerco da nau de Gonçalo Pereira

Colubrina bastarda de Ormuz, 1578. Inscriçao colubrina de Ormuz

10

Arábia”, começara a reconstrução do forte de Queixome (Qeshm), pois já ali havia uma fortaleza, para poder colmatar os parcos recursos de água da ilha de Ormuz. A reocupação foi vista como um ato de hostilidade aberta ao xá da Pérsia que declarou guerra aos portugueses. A chegada de uma armada inglesa para carregamento de seda veio a fornecer a artilharia necessária para o ataque ao novo forte, efetuado entre

Uma serpentina ou colubrina bastarda de Ormuz, assinada por João Álvares e fundida em Lisboa, 1518 a 1524, foi oferecida aos portugueses pelo governador de Zanzibar, de onde veio em 1903, encontrando-se hoje no Museu Militar de Lisboa (Nº Inv. Artilharia R 17). Apresenta uma inscrição em árabe-persa, que diz: Durante o reinado que traz a felicidade, do soberano do universo e do século, Chalo Albas Sefevi (correspondente ao ano de 1031 da Hégira e 1622 do calendário Romano) Allak-Verdi-Khan, servidor dedicado do rei que é refúgio da Religião, com Kouli-Khan Beylergerg de Fars, de Lar e de Kouh Guiloye, fez gravar esta inscrição em memória da tomada da fortaleza de Ormuz. Apresentámos esta boca-de-fogo na exposição Tapeçarias de D. João de Castro, catálogo de exposição comissariada José Manuel Garcia, Maria Antónia Gentil Quina, Rafael Moreira, Rui Carita e Teresa Pacheco Pereira, CNCPD, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 1995, ficha de Rui Carita com elementos de Nuno Varela Rubim, n.º 33, p. 185.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 227

227

só viesse a ocorrer em dezembro de 1698, após mais de dois anos de cerco, que reduzira a guarnição ao capitão, nove homens e um religioso. Mau grado o testemunho quase sempre laudatório dos governadores e dos cronistas, parece seguro que a maior parte das obras de construção no Golfo de Omã, com raras exceções, foram progressivamente erguidas, reutilizando pontualmente estruturas locais11, embora nem sempre e, também, progressivamente abandonadas. Na segunda metade do século XVII a presença portuguesa era pontual na área e, nos finais, perfeitamente residual. As obras que restam apresentam alguma mistura de estilos, materiais e soluções construtivas, fruto não só da pontual ocupação, como da utilização de mão-de-obra local e da sua posterior reutilização, aspetos que levantam hoje os maiores problemas de análise. A fama destas construções foi enorme, pelo que, nas sucessivas reconstruções assumiram o mesmo tipo de forma e de volumes, o que se manteve até muito recentemente e ainda dificulta mais qualquer tipo de análise. No Oriente, o protagonismo de algumas obras foi da responsabilidade quase sempre dos governadores, nem sempre com projetos hoje estrategicamente compreensíveis, mas também dos mestres-de-obra encarregados da construção, onde a mão-de-obra e os materiais locais tiveram alguma importância. Resta acrescentar, que com a união ibérica, foram elaborados uma série de álbuns para enviar aos novos reis, mas que uma cuidada análise iconográfica deteta inúmeras fragilidades, sendo muitos dos desenhos, para além de feitos por diversos autores, copiados uns dos outros, não sendo fácil destrinçar decididamente qual teria sido o original e, inclusivamente, a veracidade e representatividade dos mesmos desenhos. Da análise dos cerca de vinte fortes e fortalezas levantados nesta área, e estamos somente a entrar em linha de conta com aqueles de que restam vestígios, a ocupação portuguesa foi essencialmente litoral 12. As fortificações foram levantadas em ilhas, na foz de rios, em penínsulas ou promontórios, em vaus fluviais e sempre viradas ao mar. Pretendia-se, assim, criar uma rede 11 Alguns historiadores defendem a construção quase sempre de obras de raiz, mas a observação das estruturas existentes e de acordo com o que se fez ao longo da expansão portuguesa, muitos foram os casos de reaproveitamento de estruturas locais, integradas então na nova construção, como aliás é patente nos álbuns de fortalezas produzidos nesses anos.

Álbum do Rio de Janeiro, Manuel Godinho de Erédia, 1610.

Mascate, 2010

de pontos fortificados, nem sempre guarnecidos por portugueses, constituindo uma raia ou fronteira entre o mar, entendido como português e a terra firme, onde raramente os portugueses se aventuravam, mas de que necessitavam para abastecimentos e comércio. Com a divulgação das estruturas abaluartadas, a maior parte destas construções assumiram progressivamente a forma de núcleos quadrangulares ou triangulares, englobando, por vezes, as estruturas anteriores nas novas muralhas, então rematados por baluartes semi-pentagonais, salvo se alcantiladas em promontórios, como no 12

O único caso de construção interior corresponde à fortaleza de Mada, hoje Madha, dada como levantada duas léguas para o interior de Khor Fakkan, “ao pé de uma serra, junto a uma ribeira muito fresca e de muitos palmares e árvores de fruto”, numa povoação de 300 vizinhos “que ajudam a defender a fortaleza”. Teria sido levantada em 1624 por Mateus de Seabra e por ordem Rui Freire de Andrade, tendo uma guarnição de um capitão lascarim e 30 soldados. Hoje levanta-se aí uma povoação de alguma importância e não parece restar vestígios da antiga construção.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 228

CEAMA

228

Álbum de São Julião da Barra, Erédia e outros, 1620 (c.). Álbum de Madrid, António Bocarro, 1634 (c.).

Museu Nacional de Oman, Manuel Tavares Bocarro, Macau, 1642. Corfacão, Erédia, São Julião da Barra, 1620 a 1630 (c.).

caso de Mascate, onde se tiveram de adaptar à base de implantação. Algumas destas estruturas, como as do Bahrain e de Mascate foram reconstruídas e/ou recuperadas e, pelo seu valor patrimonial, incluídas pela UNESCO na sua lista de bens e estruturas consideradas Património da Humanidade O PROJETO DE ARQUEOLOGIA PARA KHOR FAKKAN Nas décadas de 80 e 90 do século passado estudámos um álbum existente na biblioteca da fortaleza de São Julião da Barra, o Lyvro das Plantaformas das Fortalezas da Índia, conjunto, muito provavelmente recolhido pelo cartógrafo luso-malaio Manuel Godinho de Erédia13, ou Herédia e editado em 1999 em fac-simile. O álbum havia incorporado a exposição sobre arquitetura militar na Madeira na Fundação Calouste Gulbenkian, em 198214, passando a partir de então a ser requerido para outras exposições e optando o Ministério da Defesa Nacional por executar um fac-simile. Na sequência desse trabalho alargámos as pesquizas sobre Erédia, cujo álbum de 1610, em princípio, o primeiro, viemos a consultar no Rio de Janeiro e dadas as novas acessibilidades informáticas, viemos a colaborar com outras instituições, como ocorreu para a identificação das bocas-de-fogo de Manuel Tavares Bocarro15, hoje no museu de Omã, pedido que nos foi feito, em 2011, através do subdiretor do museu da Fundação Calouste Gulbenkian. Entretanto deslocou-se a Sharjah16 o investigador madeirense João Mário Palla Lizardo, na sua nova viagem de investigação conducente à finalização da dissertação de mestrado em Arqueologia na Universidade Nova, que haveria de ser defendida dois anos depois. Da troca de elementos então efetuada viemos a ser convidados para efetuar uma palestra em Sharjah, por ocasião do Festival Sharjah Heritage Days, Heart Sharjah, em maio de 2012, sobre as

13 Manuel Godinho de Erédia (1563-c. 1623), cartógrafo luso-malaio que foi educado pelos jesuítas, exercendo depois o ofício de cartógrafo e tendo sido assistente de João Baptista Cairati, ou Giovanni Battista Cairati (Milão, c. 1540; Goa 1596). Ainda como noviço, por 1579, era entendido como um bom pintor, tendo os missionários jesuítas que foram convidados para debater questões religiosas pelo imperador Akbar (1556-1605), levado para a corte de Fatehpur Sikri, algumas pinturas, entre as quais uma de Manuel Godinho de Erédia. Deixou as seguintes obras: álbum miscelânea, 1610 (c.), de que se desconhece a localização; Plantas de praças das conquistas de Portugal, feitas por ordem de Rui Lourenço de Távora, vizo-rei da India, 1610, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Discurso sobre a Província do Indostan chamada Mogûl ou Mogôr com declaração do Reino gozarate, e mais Reinos de seu destricto, 1611, Biblioteca Nacional de Portugal; Suma de Arvores e Plantas da India Intra Ganges, 1612, biblioteca da abadia de Tongerlo, na Bélgica, edição de J.G. Everaert, J.E. Mendes Ferrão e M. Cândida Liberato, prefácio de Luis Filipe F.R. Thomaz. Lisboa: CNCDP, 2001; Declaracam de Malaca e da India Meridional com Cathay, 1613; História do martírio de Luiz Monteiro Coutinho, 1615, Biblioteca Nacional de Portugal; Informação da Áurea Chersoneso ou Península, e das ilhas auríferas, carbúnculas e aromáticas e Lista das principais minas auríferas, alcançadas pela curiosidade de Manuel Godinho de Herédia, cosmógrafo indiano, publicados na segunda metade do século XIX por Antonio Lourenço Caminha; Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, 1620 (c.), Biblioteca de São Julião da Barra, já citado, edição facsimile de 1999; etc. 14 Arquitectura Militar na Madeira dos séculos XVI a XIX, catálogo de exposição com textos de Rui Carita e Álvaro Vieira Simões realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, Galeria das Exposições Temporárias, Fundação Calouste Gulbenkian, julho de 1982. 15 Manuel Tavares Bocarro (Goa, c. 1505-Macau, 1652), neto do fundidor Francisco Dias e filho de Pedro Dias Bocarro, mestre das Fundições de Goa, deve ter chegado a Macau em 1625, tendo sido o mais célebre fundidor do Oriente até 1652, fundindo inúmeras bocasde-fogo, sinos e estátuas. Talvez a mais célebre peça que lhe é atribuída é o “canhão sagrado”, Si Jagur, ou Senhor da Fertilidade, hoje património nacional da Indonésia e no Museu Nacional de Djakarta, que foi tomada aos portugueses em 1641, na conquista de Malaca pelos holandeses. A do Museu Nacional de Omã, em bronze dourado e finamente cinzelada, ostenta a legenda Viva El Rei Do Ioão 4º, Macao en Caza da Polvora, 1643. 16 Sharjah é um dos sete emirados que integram desde 1971 os Emirados Árabes Unidos, tendo assumido nos últimos anos um certo protagonismo cultural no quadro dos Emirados, com festivais e outras manifestações, sendo dado como o Emirado da Cultura. O emirado de Sharjah compreende a cidade de Sharjah (a sede do emirado e uma das mais populosas cidades da área), e outras pequenas vilas e enclaves, como Kalba (antiga Quelba dos portugueses), Dibba Al-Hisn (antiga Doba), o mini enclave de Madha (antiga Mada) e Khor Fakkan (antiga Corfação).

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 229

229

fortalezas portuguesas da Arábia, tendo nessa altura o departamento de cultura do emirado editado um opúsculo com as reproduções das plantas respeitantes à Arábia do álbum de Bocarro da biblioteca pública de Évora17. Os contatos mantiveram-se e, em março de 2014 fomos de novo convidados para um novo evento em Sharjah que, dadas condições meteorológicas adversas, foi adiado. Face ao contratempo, fomos convidados a visitar várias estações arqueológicas do emirado. As visitas às atuais povoações Kalba (antiga Quelba dos portugueses) e Dibba Al-Hisn (antiga Doba), hoje dividida entre o emirado de Sharjah e o sultanato de Omã, foram perfeitamente inconclusivas, não se registando nada do que poderiam ter sido as antigas fortalezas que os portugueses ali levantaram, se é que o fizeram. Através de fotografias aéreas também se havia analisado o que poderia ter sido antiga fortaleza interior de Madha (antiga Mada), mas que dado o desenvolvimento e a construção em toda a área, também nada parece poder detetar-se. Visitámos ainda a antiga área da fortaleza de Libidia ou Libédia, que deve corresponder hoje a Al Bidhiya, no sultanato de Fujairah, mas os resultados foram desanimadores. Os desenhos portugueses apresentam esta fortaleza sobre uma pequena baía, por vezes com inúmeros elementos locais montando camelos e perto de duas torres de vincadas características locais. Estas torres serviam de vigia e proteção de uma célebre mesquita ainda subsistente, datável da primeira metade do século XV, mas de que não encontrámos referências na documentação portuguesa. 17 Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental, António Bocarro, Goa, 1635, Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora (Inv. CXV-2-1), Portugal 18 Michelle Ziokolwski, “Excavations at Al-Bidiyya: new light on the Portuguese presence in the Emirates”, in Tribulus, Bulletin of the Emirates Natural History Group, out./inv. 1999, vol. 9, nº 2, pp. 19-21. Referência fornecida pelo mestre João Lizardo.

A área foi objeto de escavações arqueológicas, localizando-se dois muros de cerca de 60 metros, mas de muito débil técnica construtiva, de pedra não aparelhada e argamassada com barro 18. A localização, entretanto, afasta-se muito da que é dada pelos desenhos portugueses, pelo que, ou nunca chegou a ser construída, sendo os desenhos que conhecemos propostas nunca realizadas ou nada tem a ver com a construção portuguesa. O mesmo se não passou depois com Corfacão. A povoação de Corfacão, atual Khor Fakkan, já seria tributária dos portugueses desde 1515, quando se conquistou Ormuz, de que dependia. A fortaleza foi mandada levantada por Gaspar Pereira Leite, em 1620, por determinação de Rui Freire, na altura em que se tentava cimentar a presença portuguesa no acesso ao golfo Pérsico. De acordo com o desenho do álbum de Manuel Godinho de Erédia, de 1620 19, mas de outro autor, em princípio, depois repetido nos seguintes álbuns de fortalezas, teria uma forma triangular rematada por baluartes modernos, com os maiores muros com 26 metros. O interior da fortaleza teria uma torre artilhada e um poço, com o que parece ser a residência da guarda e do comandante, para poente, sendo guarnecida por um capitão e 24 soldados lascarins, que custavam anualmente 204$000, como refere a legenda 20. O relatório respeitante à viagem efetuada em 1666 pelo navio holandês “Meerkat” refere a existência, numa ponta da baía, a Norte, de uma fortaleza de forma triangular a que atribui origem portuguesa “cuja desoladora ruína ainda pode ser vista”21. Dois séculos depois, os relatórios ingleses já não mencionam nada22, embora o 19

Lyvro de Plata formas das Fortalezas da Índia de Manuel Godinho de Herédia, já citado, 1590 a 1625, fl. 59, a par com Quelba, página de 41,3 x 27,8 e desenho de Corfacão de 17,5 x 12,2 cm. 20 Três léguas de Quelba e doze de Soar está Corfacão na forma que se vê. Foi feita esta fortaleza por Gaspar Leite no ano de 1620 e é esta a primeira enseada em que surgem as armadas que vão de Mascate por ser abrigada de todos os ventos, donde fazem aguada; tão abundante é de água, cuja bondade é a melhor da Arábia. Preside esta fortaleza um capitão lascarim com 23 soldados. Despesa desta fortaleza com o capitão e soldados por ano, 204$400. 21 B. J. Slot, The Arabs of the Gulf, 1602-1784, Leideschendam, Leiden, 1993, p. 178, citação de João Lizardo, tese citada, p. 69. 22 Cif. comandante Charles Golding Constable (18211878), Khor Fakan Coast, 1858-1860, desenho à pena sobre papel German Hahnemuhle Etching Paper, 17,7 x 15,2 cm., Col. Heritage Charts, A704.

Corfacão, Bocarro, versão de Madrid, 1634 (c.).

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 230

CEAMA

230

cuidado das descrições dos holandeses no século XVII, em especial a tudo o que tivesse relação com os portugueses, ao cuidado dispensado pelos ingleses do século XIX, muito mais pragmático, seja totalmente diferente. Na área do antigo bairro dos pescadores, hoje parcialmente desmontado face à reformulação urbanística em curso de toda a área, a pouca distância da praia, veio a ser recentemente localizado o que parece ser um dos baluartes da antiga fortaleza portuguesa, com uma face de cerca de 11 metros de comprimento. As paredes são constituídas por blocos de pedra minimamente aparelhados e ligados por argamassa de cal. Com outro tipo de aparelho, insere-se na parte posterior desta estrutura uma pequena torre redonda, de 2,5 metros de diâmetro, de aparelho de pedra mais miúda e não aparelhada, ligada por simples argamassa de terra. A pouco mais de 20 metros de distância, as escavações recuperaram uma estrutura circular, de 6,5 metros de diâmetro, para a qual se pode colocar a hipótese de corresponder à torre redonda de tipologia local, que os desenhos do século XVII registam no centro do recinto fortificado, como proteção ao poço ou cisterna da antiga fortaleza. Parece ser o único caso desta área, salvo as grandes fortificações de Muscat, a antiga Mascate, a fortaleza de Caçapo, bastante reconstruída, que aliás não aparece representada nos álbuns do século XVII ou os complexos de Ormuz e do Bahrein, que parece ter subsistido e a merecer um urgente trabalho arqueológico conjunto. O trabalho poderá equacionar de imediato pistas de investigação muito interessantes e fazer cair parcialmente, por exemplo, o mito de que os portugueses construíam sempre obras de raiz. Ora tudo leva a crer que tinham processos construtivos totalmente diferentes, com um predomínio da construção em pedra aparelhada e cal, face a uma civilização mais vocacionada para a arquitetura de terra, mas tal não invalidou não só e quase sempre a reutilização de estruturas preexistentes, como até o recurso a mão-de-obra local. Para uma população excecionalmente restrita como era então a portuguesa, face ao imenso trabalho de construção efetuado, tal não foi possível sem recorrer à mão-de-obra e aos recursos locais. Não foi assim por acaso, que

23 A direção de Cultura e Informação de Sharjah encontra-se a ser dirigida por Mr. Abdulaziz Almusallam, tendo por arqueólogo principal o Dr. Eisa Abbas Yousif e sendo coordenador deste projeto o conservador Dr. Kamyar Kamyab.

grande parte destas fortificações, inclusivamente, eram guarnecidas por capitães lascarins e, provavelmente, algum recrutamento local. Encontra-se assim em projeto e estudo uma campanha de escavações arqueológicas a ser coordenada pela direção de cultura e informação do governo de Sharjah23 e levada a cabo por elementos do Instituto de Arqueologia e Paleo Ciências da Universidade Nova de Lisboa, com uma primeira campanha de prospeção apontada para os primeiros meses do ano de 2015, após o que será avaliada a situação dos trabalhos a desenvolver.

*RUI CARITA Rui Carita (1946;-) é coronel reformado e professor catedrático de Arte e Design da Universidade da Madeira, onde foi ViceReitor para a área de Projectos Científicos, tendo sido professor convidado da Universidade de Pisa, em Itália e assessor para a recuperação de património, na Universidade de Santa Catarina, no Brasil e, atualmente, do emirado de Sarjah, sendo membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e do de São Paulo, no Brasil, etc. Tem orientado teses de Mestrado e Doutoramento em universidades portuguesas, italianas, espanholas e marroquinas, áreas de Património Edificado, Arquitectura e Urbanismo, Arqueologia, e Artes Decorativas, tendo cerca de 50 livros e 200 catálogos, roteiros e comunicações editados em várias línguas.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 231

MINUTES OF THE SEMINAR 2014

Other frontiers: The coast of Arabia Felix in the early 17th century Rui Carita*

INTRODUCTION Between the late 16th century and the early 17th century, the Portuguese built, in the coastal area of the Arabian Gulf, a series of perennial fortified structures, part of which still live on today. The objective was to build a "fortified frontier" to support local trade and access routes to the Portuguese State of India, as well as to assume a military role in the area, which, in a way, was quite ephemeral. The same failed to happen, however, to such structures, as well as an entire complex network of commercial and cultural interests, which endured and are the main focus of this paper. The Portuguese presence in the Arabic coasts is understudied and somewhat surpasses what has been written. Unfortunately, both sides’ views, not to mention the many sides living in conflict in those vast coasts, it is almost always partial, limited to following what is indicated by the main authors, but very rarely the result of joint and multidisciplinary teams, being only individual works lacking an overall perspective. The lack of archaeological research, for example, that, when it indeed occurred did not count on the Portuguese participation and published its results quite sparsely, the difficulty of communication between the current cultures, the barriers of language and culture, etc., has hindered that work. Moreover, there is some isolation between the cultures being studied is far from providing the much needed collaboration. On the one hand, the Portuguese constructions are understood as being isolated from their local context, as if such could ever been possible, but on the other hand, Portuguese historiography is still quite “colonial” and, generally, still observes the other side as if it almost did not exist and in the light of the documentation on its archives. “Under the appearances of the Indo-Portuguese history, one often continues, therefore, to make «Luso-Portuguese history» and the East becomes as circumstantial complement” as the historian Luis Filipe Thomaz wrote in 20051. An immense fabric of constructions of stone and lime, however, still endures along the coasts of Arabia and the main islands in this area, though many abandoned over 300 years ago and remaining as myth in the memory of locals. In fact, English scholars like George Percy Badger, in comments to the English version of the History of Magnets and Seyyds of Oman, published in 1871, alerted to the fact that all existing ruins in the area were seen by the public as if they were “Portuguese”2, a version with which we have been confronted during the visits made in 2012 and 2014, even standing before old Islamic watchtowers and many miles off coast. 1

“Keynote Address”, in Indo-Portuguese Story – Proceedings’ of XI International Seminar on Indo Portuguese History, Maurren and Canvete Publishers, Goa, 2005, p. 6. Cit. por João Mário Palla Lizardo, Vestígios da Expansão Portuguesa na Costa Oriental da Arábia – A documentação Histórica face aos Vestígios Arqueológicos, Master’s Degree Dissertation, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, September 2013, p. 7. 2 George Percy Badger, History of the Imams and Seyyids of Oman by Salil-ibn-Razik, Hakluyt Society, London, 1871, p. 417.

In recent years, a new approach seems to be taking shape, including contacts and mutual visits, extending these contacts even further to a wide computer network, although, in principle, the main old cultural barriers remain. However, the awareness of such barriers is opening the way for cooperation in the field of archaeology, taking as a starting point, in the case that will be covered herein, the prospection in the area of what is thought to be the Corfacão fortress, today Khor Fakkan in the emirate of Sharjah. THE HISTORICAL CONTEXT The first contacts of the Portuguese in this area probably started in 1507, when the ships of Afonso de Albuquerque began to frequent the ports of the Persian Gulf and tried to take possession of Hormuz, which only happened in 1515. The Portuguese then settled in three key points of action and coordination, apart from Hormuz, in Muscat, in Oman, important port soon attacked in July 1507, and Bahrain, from 1559, a fortress expanded from 1561. Throughout the sixteenth century and the first decades of the next century, the Portuguese occupied, somewhat intermittently, a large number of small port towns, thus building a wide network of fortifications. In the opinion of some of the Portuguese military at the time, such dispersion would have been responsible for the sequent difficulties in the maintenance of the Portuguese presence. However, the court of Lisbon, and then of Madrid, always insisted on the expansion of the fortresses and some governors also, more for a matter of personal prestige than for strategic reasons. This caused the garrisons of the area to be essentially manned by captains and Lascar soldiers3. The garrison of Muscat and other places, for example, was primarily made up of captains and Lascar soldiers, “300 Lascars Moors with 12 captains”, because the Portuguese were almost all engaged in “the Army of the Strait”. These men were “commonly from the lands of the king of Moghistan (in Persia, now Iran), which belonged to the king of Hormuz, and others, called Batuchos, vassals of the king of Mocorão, which are 3 The term Lascar identifies a mercenary, recruited, in principle, in Abyssinia and throughout the East, which some historians identify as having a Tamil origin at the current Sri Lanka, where the term prevailed during the Dutch and British occupation, even until very recently, to identify the soldiers of the colonial personal bodyguards and then of local aristocratic. The term comes from the Persian word Lashkar, meaning army. The Portuguese writings make a distinction between lascarins, ground troops, and lascar, which is a synonym of the entire crew of seamen. The term appears immediately in the beginning of the 16th century, both by Gaspar Correia, in Lendas da Índia, in 1510, and by letters of the governors, at Torre do Tombo, in 1532, when stating that “in the so-called kingdom (of Hormuz) there are no soldiers, called lascarins, except for serving the king.” D. João de Castro, in 1541 and Roteiro do Mar Roxo, p. 73, writes that “in India there is a saying that good Lascars need to be Abyssinian,” citing after Antonio Bocarro, 1635, in Décadas da Ásia, XIII, p. 44, that many garrisons were of “Black lascars”. Cits. of Sebastião Rodolfo Dalgado (1855-1922), Glossário Luso-Asiático, reprinting of the original edition of Coimbra, 1919-1921, Hamburg, 1982, vol. I, pp. 516-517.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 232

CEAMA

232

today subjects of the Persian king, and, being unable to suffer his tyranny, prefer to serve with us”4. The interest in the eastern coast of the Arabia was based on the need for water and refuelling, but also and mainly for a series of products traded in these ports. The water problem was central across all Portuguese buildings, since it was often very scarce in this whole area, which, associated to high temperatures, made it a very difficult life for the Europeans. If the lower zones were able to have reasonable plantations, for example, was “the mountain ranges in Muscat are quite infertile, being impossible to harvest a green leaf”5. One of the main issues of trade would have been the horses; the documents refer that the best came from Basra, but were also traded in other ports, even conditioning the location of some of the Portuguese fortified trading posts. This region traded, mainly from Hormuz but also from Muscat, carpets, brocades and silks, as well as jewels and pearls, called aljôfar at the time, which arrived there from other sources, some of which through the variations of the “Silk Road”. The documentation refers, as main earnings of Muscat, horses and tobacco, general designation for various types of plants, different from the one we know today as such and coming from America. Carpets were made in other places, apart from Iran, the largest producer, as well as Turkey, Kurdistan, northern India and Afghanistan. With the opening of the Cape Route, transportation became easier and their dissemination through Europe reached considerable levels, appearing commonly represented in numerous religious and secular paintings. The demand even led to the manufacture of models for export, as the so-called “Portuguese” carpets, which feature characters on a boat, dressed in a European style. In several of these places also seed pearls were also “fished”. This period of the Portuguese presence would have lasted until 1616, a year marked by the arrival of the English, which initiated a short phase of some competition, which would soon end in 1622 with the surrender of the Portuguese garrison of Hormuz, then sent to Muscat. However, also in 1602, the Portuguese had already been expelled from Bahrain by the forces of Shah Abbas. If, on a first stage, the arrival of heavily armed Portuguese ships wasn’t met with proper opposition at sea, the situation in land was always difficult, with the new framework of the great continental empires and small local authorities6. Since the sixteenth century they had more or less direct interests in the Indian region, some of the great continental empires. The furthest, the Chinese Ming Empire (1368-1644), had, in general, good relations with the Portuguese, but the Persians, then directed by Shah Abbas I of the Safavid dynasty (1557-1571-1629), the situation was different. Occasionally different was also the relationship with the Islamic Mughal reign of Akbar (1542-1556-1605), with ups and downs, as with 4

Cit. Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, ed. with study by Rui Carita, foreword by José Veiga Simão (1929-2014) and introduction by Vasco Graça Moura (1942-2014), Ministry of Defence and Inapa, Lisbon, 1999, pp. 55 e 55 v. 5 Ibidem, p. 57. 6 In this regard, please see the introduction by Filipe Themudo Barata, “Golfo Pérsico” in Património de Origem Portuguesa no Mundo, Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

the Hindu kingdom of Vijayanagara (the Bisnagra kingdom of the Portuguese writings), in the heart and south of the subcontinent Indian, in decline since 1565, in the face of a defeat at the hands of a united force of the Deccan sultanates, but that endured until 1646. In addition, the entire coast of Arabia was still subject to a fifth power, the Ottoman Empire, which stretched to Egypt and with totally different naval possibilities7. In their implantation strategy, the Portuguese also had to deal with small kingdoms, sultanates and smaller, but not to be overlooked, towns, because although they had less political weight or more limited strategic interests, they were decided to also compete for the income of a maritime trade that had always given them some benefits. Moreover, the alliances between the various powers were continually changing and the Portuguese were not always aware of such. In this context, the English, or rather the East Indian Company, ships played a decisive role. All agree that, without the English naval support, the Persians would have never been able to recover Hormuz, as they did in 1622, completely turning a new page of the history of that geographic area. The trade then gained a new glow, without any special interest in the territorial military presence, as the Portuguese had been practicing and another type of building, more flexible, will begin to prevail, an aspect later also put into practice by the Dutch companies, although, when appropriate, buildings were also made permanent. The turning point had occurred on 8th May, 1621, when Ruy Freire de Andrade, “General of the sea of Hormuz and coast of Persia and Arabia”, began the reconstruction of Queixome (Qeshm) Fort, because there was already a fortress there, in order to overcame the scarce water resources of the island of Hormuz. The reoccupation was seen as an act of open hostility to the Shah of Persia, who declared war on the Portuguese. The arrival of a British fleet to load silk ended up providing the necessary artillery to the attack of the new fort, carried out between 2nd and 11th February, forcing the garrison to surrender. On 20th February, a Persian fleet of more than 3,000 men, with the help of six English ships, surrounded the fortress of Hormuz. On 3rd May, the Portuguese surrendered and all, about 2000, were sent to Muscat; the artillery of the fort was captured8. 7

The famous Ottoman admiral and cartographer Piri Reis (1465 or 1470-1553) commanded a naval expedition from Egypt that, on 26th February, 1548, regained Aden and another expedition in 1552, which sacked Mascat, Hormuz and Bahrain. 8 A culverin of Hormuz, signed by João Álvares and casted in Lisbon (1518-1524), was offered to the Portuguese by the Governor of Zanzibar, where it came from in 1903, today being at the Military Museum in Lisbon (Nº Inv. Artilharia R 17). It presents an inscription in Arabic-Persian, which reads: During the reign that brings happiness, of the sovereign of the universe and the century, Chalo Albas Sefevi (corresponding to the Hijrah year of 1031 and 1622 of the Roman calendar) Allak-Verdi-Khan, dedicated server of the king that is the haven of Religion, with KouliKhan Beylergerg of Fars, of Lar and of Kouh Guiloye, engraved this inscription in memory of the taking of the fortress of Hormuz. We’ve presented this fire piece in the exhibition Tapeçarias de D. João de Castro, catalogue of the exhibition commissioned by José Manuel Garcia, Maria Antónia Gentil Quina, Rafael Moreira, Rui Carita and Teresa Pacheco Pereira, CNCPD, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisbon, 1995, record by Rui Carita, with elements by Nuno Varela Rubim, no. 33, p. 185.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 233

233

After the fall of Hormuz, the Portuguese established their base in Muscat, with Rui Freire de Andrade trying, several times, in 1623, 1624, 1625 and 1627, to regain the island of Hormuz by force and, in the final year, using diplomacy, which also failed. In 1623, however, Rui Freire reoccupied the fort of Sohar that the Persians had overthrown in the previous year, and installed a garrison in Caçapo (current Khasab) in Moçandão (Musandam) Peninsula. An interesting bulwarked fortress still remains there, which was probably started by 1623, but since the Portuguese were expelled, it was again rebuilt by 1650, but also only occupied for a short period of time. In 1631, yet another fortress was built in Julfar, a strategic area of Musandam that, during the punctual Portuguese occupation, was quite prosperous as a regional trading centre. However, in September 1633, Ruy Freire de Andrade passed away in Muscat and his body was buried in the church of St. Augustine. In 1643, the Portuguese were expelled from Sohar and, in January 1650, Muscat, the last Portuguese base in the Arabia. From 1661, the Sultan of Oman broadened its influence to the African coast, harassing Mombasa, although the conquest of the fort of Jesus only came to happen in December 1698, after more than two years of siege, which had reduced the garrison to the captain, nine men and a religious. Despite the often laudatory testimony of chroniclers, it seems certain that most of these fortification works in the Gulf, with rare exceptions, were progressively built, reusing local structures9 and also, though not always, progressively abandoned. In the second half of the seventeenth century, the Portuguese presence was sporadic and, at the end, perfectly residual. The works left behind present some acculturation of styles, materials and constructive solutions, a consequence not only of the sporadic occupation, but also of the use of local labour and later reuse, aspects that today become the great problems for analysis. The fame of these buildings was enormous and reconstructions and reuses began by wanting to assume the same type of form and volumes, which endured until very recently and which make any analysis quite difficult. In the East, the role of some works was almost always the responsibility of the governors, not always with projects that can be understood today from a strategic point of view, but also of the master builders in charge of the construction, where local labour and materials had some importance. One needs to add that, with the Iberian Union, a series of albums were produced to send to the new kings, which on an immediate iconographic analysis reveal weaknesses and many of the designs, apart from having been made by several different authors (copied from each other), difficult the process of decisively interpret the original project and even the accuracy and representativeness of those designs. Of the analysis of the almost twenty forts and fortresses built in this area (and only including those that still have 9

Some historians almost always defend the construction of works from scratch, but the observation of existing structures and according to what was made throughout the Portuguese expansion prove that many are the cases of reuse of local structures, integrated in the new construction, as, in fact may be seen in the albums of fortresses produced during those years.

vestiges), the Portuguese occupation was essentially made at the coast10. Fortifications were built in islands, mouths of rivers, peninsulas or promontories, in river fords and always facing the sea. The aim was to thus create a network of fortified points, not always manned by Portuguese, creating a frontier or border between the sea, perceived as Portuguese, and the mainland, where the Portuguese rarely ventured, but which they needed to supply and trade. With the widespread of bulwarked structures, the majority of such constructions progressively took on the form of square or triangle-shaped cores, sometimes comprising advanced structures in the new walls, topped at the time by semi-pentagonal bulwarks, unless precipitously placed on headlands, as in the case of Muscat, where they had to adapt to the deployment base. Some of these structures, such as Bahrain and Muscat, were rebuilt and/or recovered and, for their heritage value, included by UNESCO on its list of assets and structures considered World Heritage. THE ARCHAEOLOGY PROJECT FOR KHOR FAKKAN In the 1980s and 1990s, one studied an album found at the library of the fortress of São Julião da Barra, o Lyvro das Plantaformas das Fortalezas da Índia, a set quite probably gathered by the Portuguese-Malayan cartographer Manuel Godinho de Erédia11, or Herédia, and published in 1999 in a fac-simile. The album been a part

10 The only case of interior construction corresponds to the fortress of Mada, today Madha, alledgedly built two leagues towards Khor Fakkan, “near a mountain range, near a fresh creak and many palm and fruit trees”, in a village of approximately 300 residents, “which help protect the fortress”. It was probably built in 1624 by Mateus de Seabra and by order of Rui Freire de Andrade, with a garrison of one Lascar captain and 30 soldiers. Today, it is a somewhat important village and there aren’t any vestiges of the old construction. 11 Manuel Godinho de Erédia (1563-c. 1623), PortugueseMalayan cartographer that was educated by the Jesuits, then working as a cartographer and assisting João Baptista Cairati, or Giovanni Battista Cairati (Milan, c. 1540; Goa 1596). Still as a novice, c. 1579, he was considered a good painter and the Jesuit missionaries that were invited to debate religious issues by the Emperor Akbar (1556-1605) took, to the court of Fatehpur Sikri, some paintings, among which one by Manuel Godinho de Erédia. He left the following works: miscellaneous album 1610 (c.), location unknown; Plantas de praças das conquistas de Portugal, feitas por ordem de Rui Lourenço de Távora, vizo-rei da India, 1610, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Discurso sobre a Província do Indostan chamada Mogûl ou Mogôr com declaração do Reino gozarate, e mais Reinos de seu destricto, 1611, Biblioteca Nacional de Portugal; Suma de Arvores e Plantas da India Intra Ganges, 1612, Library of the Abady of Tongerlo, Belgium, edited by J.G. Everaert, J.E. Mendes Ferrão and M. Cândida Liberato, foreword by Luis Filipe F.R. Thomaz. Lisbon: CNCDP, 2001; Declaracam de Malaca e da India Meridional com Cathay, 1613; História do martírio de Luiz Monteiro Coutinho, 1615, Biblioteca Nacional de Portugal; Informação da Áurea Chersoneso ou Península, e das ilhas auríferas, carbúnculas e aromáticas e Lista das principais minas auríferas, alcançadas pela curiosidade de Manuel Godinho de Herédia, cosmógrafo indiano, published in the second half of the nineteenth century by Antonio Lourenço Caminha; Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, 1620 (c.), Biblioteca de São Julião da Barra, already cited, 1999 fac-simile edition; etc.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 234

CEAMA

234

of the exhibition of military architecture in Madeira at Fundação Calouste Gulbenkian, in 1982, and began, afterwards, to be requested for other events, reason why the Ministry of Defence chose to publish a facsimile. Following this work, the research on Erédia was broadened, whose 1610 album, probably the first, one had the opportunity to read in Rio de Janeiro and, given the new accesses provided by computers, one came to collaborate with other institutions, as occurred for the identification of Manuel Tavares Bocarro’s artillery pieces12, today at the Museum of Oman, a request made in 2011 by the deputy director of the museum at the Fundação Calouste Gulbenkian. In the meantime, the Madeira’s researcher João Mário Palla Lizardo travelled to Sharjah13, in its new research trip leading to the completion of the master’s thesis in archaeology at Universidade Nova, which was to be defended two years later. The exchange of elements made at that time resulted in an invitation to deliver a conference in Sharjah, at the Sharjah Heritage Days Festival, Heart Sharjah, in May 2012 on the Portuguese fortresses of Arabia, and then the Emirate’s culture department published a booklet with reproductions of plants, relating to Arabia of Bocarro’s album of the Public Library of Évora14. The contacts were maintained and, in March 2014, we were again invited to a new event in Sharjah that, given the adverse weather, was postponed. Given the setback, there was the invitation to visit several archaeological sites in the Emirate. Visits to the current villages of Kalba (old Quelba of the Portuguese) and Dibba Al Hisn-(old Doba), now divided between the emirate of Sharjah and the Sultanate of Oman, were perfectly inconclusive without evidence of anything that could have been the old fortresses the Portuguese built there, if, in fact, they did. Through aerial photographs, one also examined what could have been the ancient fortress inside Madha (formerly Mada), but given the development and construction across the entire area, also nothing seems to be able to be detected. 12

Manuel Tavares Bocarro (Goa, c. 1505-Macao, 1652), grandson of founder Francisco Dias and son of Pedro Dias Bocarro, master of Fundições de Goa, probably arrived at Macao in 1625, becoming the most famous founder of the East until 1652, casting numerous fire pieces, bell and statues. His most famous piece is probably the “holy cannon”, Si Jagur, or Lord of Fertility, today national heritage of Indonesia and of National Museum of Jakarta, which was taken from the Portuguese in 1641, during the conquest of Malacca by the Dutch. The one of the National Museum of Oman, in golden bronze and finely carved, bears the caption “Long Live King D. João 4º, Macao, Gunpowder Magazine, 1643”. 13 Sharjah is one of seven emirates that make up the United Arab Emirates since 1971 and in recent years it has taken a certain cultural role in the Emirates, with festivals and other events, being understood as the Emirate of Culture. The emirate of Sharjah comprises the city of Sharjah (the seat of the emirate and one of the most populous cities of the area), and other small towns and enclaves such as Kalba (formerly the Portuguese Quelba), Dibba Al-Hisn (old Doba), the mini enclave of Madha (formerly Mada) and Khor Fakkan (formerly Corfação). 14 Livro das Plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do Estado da Índia Oriental, António Bocarro, Goa, 1635, Public Library and District Archive of Évora (Inv. CXV-2-1), Portugal

There was also a visit to the old area of the fortress of Libidia or Libédia, which should correspond today to Al Bidhiya, in the Sultanate of Fujairah, but the results were disappointing. The Portuguese drawings present this fortress on a small bay, sometimes with many local characters riding camels and near two towers with plenty of local characteristics. These towers served as lookout and protection of a famous mosque that still exists, datable to the first half of the fifteenth century, of which no reference could be found in the Portuguese documents. Archaeological excavations were carried out in the area, which located two walls of about 60 meters, but with very weak construction technique, in raw stone and mortared with clay15. The location, however, is quite deviated from the one given by the Portuguese drawings, which was not even built (and the drawings we know were proposals that were never built) or this has nothing to do with the Portuguese construction. The same did not apply to Corfacão. The village of Corfacão, currently Khor Fakkan, would be under Portuguese domination since 1515, when Hormuz was taken over, upon which the town depended. The construction of the fortress was ordered by Gaspar Pereira Leite, in 1620, by order of Rui Freire, when he was trying to cement the Portuguese presence in the access to the Persian Gulf. According to a drawing from the 1620’s Manuel Godinho de Erédia album, probably made by a different author and later repeated in the following books of fortresses, it had a triangular shape, completed with modern bulwarks, the largest wall being 26 meters. The interior of the fortress would have one artillery tower and a well, with what appears to be the residence of the guard and the captain, to the west, being manned by a captain and 24 Lascar soldiers, with the annual cost of 204$000, as stated in the caption16. The report referring to the trip made in 1666 by the Dutch ship “Meerkat” refers to the existence, at one end of the bay to the north, of a triangular fortress, which is attributed to the Portuguese, “the desolate ruin of which can still be seen”17. Two centuries later, British reports no longer mention it18, although the care of the Dutch descriptions in the seventeenth century, especially in all 15

Michelle Ziokolwski, “Excavations at Al-Bidiyya: new light on the Portuguese presence in the Emirates”, in Tribulus, Bulletin of the Emirates Natural History Group, out./inv. 1999, vol. 9, nº 2, pp. 19-21. Reference provided by João Lizardo. 16 Three leagues from Quelba and twelve from Soar, lies Corfacão in the shape observed. This fortress was made by Gaspar Leite in the year of 1620 and this is the first bay found by the armadas that come from Mascate, since it is sheltered from all winds, where they stock up in water; it is so abundant in water that it must be considered the kindest in Arabia. This fortress is presided by a Lascar captain with 23 soldiers. Expendes of this fortress with the captain and soldiers per year, 204$400. 17 B. J. Slot, The Arabs of the Gulf, 1602-1784, Leideschendam, Leiden, 1993, p. 178, quote by João Lizardo, abovementioned dissertation, p. 69. 18 Cif. Commander Charles Golding Constable (1821-1878), Khor Fakan Coast, 1858-1860, desenho à pena sobre papel German Hahnemuhle Etching Paper, 17,7 x 15,2 cm., Col. Heritage Charts, A704.

CEAMA Revista 12_Maquetación 1 14/07/15 08:35 Página 235

235

things related to the Portuguese, and the care given by the English in the nineteenth century, much more pragmatic, is completely different. In the old quarter of fishermen area, now partially disassembled in view of the urban being carried out throughout the whole area, quite near the beach, what appears to be one of the bulwarks of the old Portuguese fortress came to be recently located, with a face of approximately 11 meters in length. The walls consist of minimally-worked stone blocks and connected by lime mortar. With another type of work, a small round tower, 2.5m in diameter and smaller unworked stones, connected by simple earth mortar, is inserted in the posterior part of this structure. A little more than 20 meters away, the excavations recovered a circular structure, 6.5 meters in diameter, which may match the round tower, with a local typology, that the 17th-century drawings register at the centre the fortified enclosure, used as a protection for the well or cistern of the old fortress. It seems to be the only case in this area, except the great fortifications of Muscat, the old Muscat, the fortress of Caçapo, quite rebuilt, which incidentally does not appear represented in the seventeenth-century albums, or the complexes of Hormuz and Bahrain, which seems to have subsisted and which urgently need a joint archaeological work. The work may immediately assess very interesting research leads and may, for example, partially deconstruct the myth that the Portuguese would always build from scratch. Indeed, one has every reason to believe that they had completely different constructive processes, with a predominance of polished stone and lime, against a civilization more prone to earth architecture, but this does not invalidate the exclusive and often reuse of existing structures (even the use of local labour). For an exceptionally restricted population as were the Portuguese at that time, considering the immense construction work carried out, this was not possible without the use of local labour and local resources. It was not by chance that many of these fortifications, including, were manned by Lascar captains and probably some local recruits. Therefore, there is still the project and study for a campaign of archaeological excavations to be supervised by the Directorate of Culture and Information of the government of Sharjah19 and carried out by elements of the Instituto de Arqueologia e Paleo Ciências of Universidade Nova de Lisboa, with a first prospection campaign schedules for the first months of 2015, after which there will be the assessment of the works to be developed.

19

The Directorate of Culture and Information of Sharjah is currently being supervised by Mr. Abdulaziz Almusallam and its chief archaeologist is Dr. Eisa Abbas Yousif. Dr. Kamyar Kamyab, conservator, was responsible for this project.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.